Colateral (willers family livro andy collins

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Copyright© 2017 Andy Collins Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob qualquer meio existente sem autorização por escrito dos editores. Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos de imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera conhecidência. Capa: Dri K. K Revisão: Alpha Books Criação de e-book: Olivia Nayara olivialivros@hotmail.com Este livro segue as regras da Nova Ortografia da Lingua Portuguesa.


Dedicatรณria Para todos que lutam por um sonho, Para todos que desistem de um sonho, Para todos que apenas mudam de sonho. Andy Collins.


Três horas e meia, foi esse o tempo que levei para chegar ao aeroporto de Los Angeles, depois que deixei Oliver na porta da Bree, em Bakersfield, não olhei para trás. Levei o carro até a locadora para devolver e fui direto para o aeroporto. Agora, estou tentando tirar a minha mochila de dentro do maldito compartimento de bagagem, que por mais incrível que pareça, deve ter encolhido durante o voo. — Precisa de ajuda, senhor? — A comissária de bordo parece se compadecer com a minha situação, no mínimo ridícula, ou está com medo que eu danifique alguma coisa. — Eu agradeço se você conseguir retirá-la. — Aponto


para minha mochila e em meros segundos, ela está segurando o objeto, antes emperrado, bem na minha frente. — Obrigado — digo sem acreditar naquilo. Que mochila filha da puta. — É apenas uma questão de jeito, senhor. Já estou acostumada. Por fim, ela me deseja uma boa estadia e vai ajudar outro pobre coitado que sofre do mesmo mal que eu. O avião já está praticamente vazio quando me dirijo até a porta. Ligo meu celular e é como se um espírito estivesse possuindo o aparelho. Ele começa a tremer. Sem parar. Mensagens piscam na tela incessantemente. Uma após a outra. Respiro fundo, eu sei que não vou ignorar meu trabalho por muito tempo. Mas qual é a desses caras que não sabem o significado da palavra férias? Três meses, foi o acordado. Noventa dias que serão gastos para obter minhas repostas. Rolo as mensagens em busca de uma especial. Helena sabia que eu viria, e me pediu para avisar quando chegasse. Confiro o endereço mais uma vez, ela mora em um apartamento na Bunker Hill, em Downtown. Centro de Los Angeles, é a cara dela. Caminho pelo aeroporto e vejo que ainda tenho tempo. O lugar está movimentado, mas sem Oliver por perto é mais fácil passar despercebido. Olho em volta para algumas lojas, uma em particular chama minha atenção.


É uma barbearia, toco no meu cabelo e sorrio. Há quanto tempo não o corto? — Hora de algumas mudanças, Jason — falo para mim mesmo e caminho em direção à barbearia. — Boa tarde, rapaz, veio fazer a barba? — Um senhor por volta dos cinquenta anos me cumprimenta na entrada. Olho para o espelho, sim, ela precisa ser aparada. — Quero aparar apenas um pouco, na verdade eu quero cortar o cabelo. — Tudo bem, não quer que tire muito, certo? — Na verdade, eu quero que raspe. — Todo? — O olhar que o senhor me dá é impagável. — Não todo, pode deixá-lo assim? — pego meu celular e mostro a foto de um corte moicano. O homem olha várias vezes para o meu cabelo e para a foto. — Eu posso fazer isso, mas você tem um ótimo cabelo, rapaz. Tem certeza disso? — Eu queria responderlhe que cansei do cara que vejo no espelho. Mas me contenho. — Eu tenho certeza absoluta. — Existem algumas instituições que podem comprálo, gostaria que embalasse e desse o endereço para você? Conseguiria um bom dinheiro. — Pode vendê-lo, eu não preciso do dinheiro. — O velho sorri e me mostra a cadeira. — Sou Herman, dono do lugar. — Jason. — Aperto sua mão e sorrimos.


Assim que ele me prepara, ouço o som da máquina sendo ligada. Fecho os olhos enquanto sinto meus cabelos caírem. E junto com eles, o velho Jason. Uma hora depois, meus cabelos foram cortados, minha barba aparada. E o que vejo no espelho me assusta. — Meu jovem, você está realmente assustador — diz senhor Herman. Eu apenas sorrio.


Atrasada! Como se isso fosse alguma novidade na minha vida. Mas em minha defesa, eu não tenho poderes para atrasar aviões. Tommy deve estar uma fera. Gemo quando olho mais uma vez o relógio. Aguardo minha bagagem na esteira, e como se o universo conspirasse contra, minha mala corde-rosa da Penélope Charmosa é a última a passar. Droga! Pego minha mala sem me lembrar do peso e quase a deixo cair. Que merda eu estava pensando quando enfiei tanta coisa dentro dela? Ah sim, precisava trazer o restante das minhas coisas da casa dos meus pais. Saio da área de desembarque e procuro algum local para conectar meu celular. Além do voo atrasar, meu celular morreu e eu não tinha uma bateria sobressalente. Eu até consigo ouvir a voz do Tommy na minha mente: você precisa comprar uma bateria sobressalente, Leah, ou um carregador portátil. Todo mundo tem isso. Bem, eu não sou todo mundo. Sento em uma cafeteria, ainda dentro do aeroporto, e consigo uma tomada para carregar o celular. Peço um café


enquanto espero-o dar algum sinal de vida. A luz acende, e eu consigo respirar. Quando termino o café, já estou preparada para o sermão de Tommy. Faço a ligação. — Desculpe, Tommy, meu voo atrasou e meu celular morreu — consigo dizer antes mesmo que ele diga o tradicional alô. — Eu sabia que seu voo ia atrasar, espertinha, deu no noticiário. — E eu sofri à toa? — Não lembrava que poderia ter saído no noticiário, mas acho que ameaças de bombas não devem ser comuns nos aeroportos de Seatlle. — Eu já desembarquei, onde você está? — Acabei de chegar e estou estacionando o carro. — Tudo bem, encontro você na entrada. — Até mais, Tink. Tento não sorrir com o apelido ridículo que ganhei há cinco anos. Foi quando o conheci, em uma festa de Halloween, eu estava fantasiada de Tinker Bell, e ele de Peter Pan, achamos a coincidência tão engraçada que não nos desgrudamos desde então. Pago o café e pego a mala, que é ainda mais ridícula do que o meu apelido, mas como foi Tommy que me deu de presente, eu não posso ferir seus sentimentos e dizer que não tenho mais idade para usá-la. Meu celular toca novamente, mas diferente da alegria que senti quando ouvi a voz de Tommy, o que sinto agora é


apenas… tristeza. — Leah? — Oi, mãe. — Você poderia ligar avisando que chegou bem, Leah Renard. — Meu celular poderia descarregar nesse exato momento, eu não me importaria. — Acabei de chegar, mamãe, e meu celular está com pouca bateria. — Sempre despreparada. — E me orgulho disso, mamãe. Estou indo para casa, depois nos falamos. — Ouço quando ela praticamente grita meu nome, mas não me contenho, e desligo o celular. E quando estou olhando para tela eu esbarro em alguém. Droga, meu celular cai no chão com o impacto. — Você não olha por onde anda? — falo para o cara que se abaixa para pegar meu aparelho. — Me desculpe, mas acho que você também estava bastante distraída. — Ele me entrega e eu gemo. Quebrado. — Mas que merda. — Ele quebrou agora? — Com certeza — falo sem acreditar, esse é o quê? O terceiro aparelho em dois meses? — Desculpe mesmo, eu pago pelo prejuízo. — Finalmente eu tiro olho do meu finado aparelho e olho para o rapaz, que eu preciso corrigir, não é um rapaz. É um homem, e dos grandes. Como se tivesse saído


direto de Guerra dos Tronos, com uma barba espessa, e um corte moicano. Uma camisa simples e um jeans desbotado. Sem tatuagens visíveis, o que é uma pena, seria a perfeição. — Não precisa. — Saio da minha análise do guerreiro da Casa Lannister1. — Eu insisto, eu deveria ter prestado atenção. — Acredite, não é a primeira vez que isso acontece comigo. Como dizem: “jamais deux sans trois” 2. — Então, eu espero que essa terceira vez seja a última. — Veremos. — Sorrio e guardo o aparelho moribundo. — Leah! — Ouço um grito alto e meu sorriso se alarga, Tommy. — Preciso ir, mais uma vez, me desculpe. Tem certeza que não quer que eu pague? — Ele pega novamente a carteira. — Certeza absoluta. — Ele sorri, e eu consigo visualizar todas as possibilidades para o uso da sua boca. E, caramba, a barba dele é loira, e ele tem cílios loiros!!! Que pessoa tem isso? Ele acena com a cabeça e vai em direção à saída do aeroporto, e a única coisa que fica é a visão da sua bunda naquele jeans. — Quem era aquele cara que estava conversando com você? — Tommy fala quando se aproxima.


— Ninguém especial. — Ele torce os lábios não acreditando na minha resposta. — Vamos, preciso passar em uma loja, meu celular espatifou. — Eu acabei de falar com você, como isso aconteceu? — Tommy encara meu celular, eu também me faço a mesma pergunta. — Uma longa história. Vamos, estou exausta. Tommy pega minha bagagem e vamos para o estacionamento, na saída vejo o Guerreiro Lannister, ele está falando com alguém no celular enquanto entra no táxi. Uma viagem que levaria no máximo meia hora se estendeu por três. Tommy tem um fraco por tecnologia e quando paramos no shopping para comprar um aparelho novo, eis que ele se encontrou no próprio paraíso particular. O que nos rendeu meu aparelho e um novo fone de ouvido para ele. — Eu odeio quando isso acontece — falo quando Tommy estaciona na garagem do nosso prédio. — Eu vou ter que configurar tudo novamente. — Não seja dramática, Tink, é só passar os dados do antigo aparelho para o novo, isso só leva alguns minutos. — E é por isso que você vai fazer isso para mim. — Coloco a sacola na mão dele assim que descemos do carro. — Você não tem jeito. — Mas você me ama, e ganhou fone de ouvido novo, não reclame.


Tommy sorri e nós entramos no elevador. Aperto o botão do décimo andar, e a coisa começa a se mover. — Como foi no banco? — pergunto casualmente. — Uma merda. — Ah Tommy! — meu coração se aperta. — Relaxa, Tink, eu não vou desistir. — Sorrio, eu sei que ele não vai desistir do seu sonho. Tommy é exatamente como eu. Persistente, porém, incrivelmente azarado, e como se um só não fosse o suficiente, o destino nos apresentou. Eu chamo isso de carma. O elevador abre e caminhamos em direção ao meu apartamento. Então, eu paro. Na verdade, eu congelo. Qual a probabilidade disso estar realmente acontecendo? Sentado no chão, em frente ao meu apartamento, está o Guerreiro Lannister, completamente alheio, distraído com o celular. — Está me seguindo? — eu falo e ele levanta o olhar. — Você está? — ele retorna a pergunta. Tommy olha para nós dois e logo sua expressão muda, e eu percebo que ele reconheceu o barbudo do aeroporto. — Está esperando alguém? — pergunto quando ele se levanta. — Uma amiga, mas não consigo falar com ela. — É amigo da Helena? — Tommy pergunta. — Posso dizer que sim. — Estranho.


— Por quê? — eu e o barbudo perguntamos ao mesmo tempo. — Você não parece o tipo de amigo da Helena. — Fico chocada com a resposta de Tommy, mas parece que o cara não se abala. — Eu imagino que não — ele diz. — Eu acho que você perdeu o seu tempo, Helena está viajando. — Eu sei, mas ela retornaria hoje, não? — ele pergunta parecendo confuso. — Ela precisou estender um pouco a viagem, algo sobre o trabalho — digo a ele. — Você a conhece? — Moro aqui. — Aponto para o apartamento que fica em frente. — A propósito, sou Leah. — Estendo minha mão. — Jason Willers — ele fala e apertamos as mãos. — E esse é Tommy. — Aponto para Tommy que parece estar fazendo uma busca mental. — Willers? De Oliver Willers? — Tommy fala e eu perco o ar. Puta merda. — Somos irmãos. — Jason sorri enquanto aperta a mão do Tommy. Puta merda dupla! — Bem, então eu acho que vou para um hotel. Obrigado pela informação.


Jason pega a sua mochila e de repente, eu tenho a pior ideia de toda a minha vida. — Espera! — Ele para. — Quanto custa mais ou menos o hotel? — O quê? — Tommy pergunta perplexo. — Quanto, mais ou menos, você pretende gastar? — Não sei, depende de quanto tempo vou ficar aqui, quinze dias, um mês. Eu não decidi. — Você é irmão de um dos maiores lutadores de boxe. Não vai ficar em um lugar de baixo nível — falo mais para mim do que para qualquer um. — O quê, uns dois mil por noite? — Basicamente isso. — Uau! — Tommy fala. E eu tenho que concordar, é um baita uau. — Tommy pode hospedar você pela metade do preço — digo antes que me arrependa. — O QUÊ? — Deus do céu, eu nunca vi os olhos do Tommy tão abertos. Puxo-o para um canto longe de Jason. — É uma boa ideia, você precisa de grana, e ele de um quarto. — Cruzo os braços. — Nós não conhecemos esse cara, Leah. — Olha, confia em mim, ok? Ele não parece uma má pessoa. — Eu não acredito nisso, Leah, é imprudente. — Ele é amigo da Helena, eu vou ligar para ela mais tarde e perguntar sobre ele. — Isso era uma grande


mentira, mas ele não precisava saber disso. O fato é, eu o conheço, apenas não o reconheci com todos esses músculos e cabelo moicano. Outro fato que não precisava ser mencionado. Eu estava muito ferrada. — Tudo bem, garanta que ele não é um psicopata que vai traficar meus órgãos e está tudo bem. — Voltamos na direção de Jason, que está encostado na parede nos observando. — Então, você topa? — Eu não quero incomodar, prefiro ficar em um hotel. — Não mesmo, eu penso. — Helena pode demorar, e se você precisa tanto falar com ela a ponto de estar sentado aí há mais de duas horas, é porque é importante. Tommy mora naquele apartamento. — Aponto em direção ao apartamento no fim do corredor — Você terá uma boa vantagem. Jason avalia a situação por alguns minutos, olha para Tommy e depois para mim. — Vocês não são… — Namorados? — interrompo sua pergunta — Somos grandes amigos, nada mais, digamos que ele gosta das mesmas coisas que eu. — Ela quis dizer que sou gay — Tommy fala dando de ombros. — Ele tem um bom quarto de hóspedes e lençóis de algodão egípcio. — Sorrio, Tommy morre de ciúmes


desses lençóis. — Tudo bem, eu fico. — Alguma exigência? — Não. — Perfeito. Agora se não se importam, estou atrasada para uma reunião. — Leah, e a ligação que você ficou de fazer? — Tommy pergunta aflito. — Meu celular está com você, quando voltar da reunião eu faço. Relaxe, Tommy, se ele matar você eu saberei, então posso chamar a polícia. Jason sorri, e eu me pego sorrindo de volta. Olho para o relógio e constato o de sempre. Atrasada. — Droga, meninos, eu preciso ir de verdade. Comportem-se. Pego minha mala da mão de Tommy e abro a porta do meu apartamento, basicamente atiro a porcaria lá dentro e fecho novamente. — Jason, uma pergunta. — Sim? — Como você entrou aqui? Quer dizer, há o porteiro e temos uma boa segurança. — Não é difícil encontrar um fã de boxe. — Ele pisca e segue seu caminho com Tommy. __________ 1 - Casa Lannister – Referência à Série Guerra dos Tronos.


2 - O que aconteceu duas vezes, provavelmente acontecerรก uma terceira vez.


Meu lado racional está gritando. Na verdade, berrando. Eu não deveria ter aceitado essa proposta, mas já estava cansado e furioso. Helena não me avisou que sua viagem seria estendida. E eu não havia reservado hotel. Que merda eu estava pensando? Que me hospedaria no apartamento dela? — Onde está sua mala? — A voz de Tommy desvia meus pensamentos. — Só trouxe isso. — Mostro a minha mochila. — Só espero que não tenha nenhuma arma aí dentro. — Ouço-o murmurar. — Eu não quero incomodar, Tommy, posso ir para um hotel — digo com sinceridade.


— Ouça, a Leah é como um tornado, inclusive se surgir algum que ainda não foi nomeado eu o batizaria de Leah. Ela é irresponsável, impulsiva, não conhece limites e muito menos o significado da palavra perigo. — Parece que você acabou de descrever o meu irmão. — Ótimo, então, você já saberá com quem está lidando. Não se deixe enganar pelo tamanho dela, o que ela tem de pequena, tem de maluca. Resumindo, ela não vai deixar você ir para um hotel. — Tudo bem. — Não diga que eu não avisei. Apesar de que eu acredito que a veremos pouco. — Por quê? — Trabalho. — Ele dá de ombros. — Venha, vou mostrar o apartamento. Tommy abre a porta e fico admirado com o local. O lugar não é pequeno, pelo contrário, é grande e confortável. Tem uma decoração clean, branco e cinza, algumas esculturas. Tudo elegante e caro. Eu conheço o caro. — Por aqui, seu quarto é o primeiro à esquerda — ele aponta para uma porta —, aqui é o banheiro, e lá no fundo fica o meu quarto. Não se preocupe, eu tenho um banheiro privativo. — Tudo bem. — Dentro do armário, têm roupas de cama limpas, você pode pegar. Só não pense que vai ficar com meus


lençóis. — Não preciso disso, Tommy, está tudo perfeito. Obrigado. — Tudo bem, contanto que você não me mate durante o sono. — Eu acho que quem está em desvantagem aqui sou eu. Vocês sabem quem eu sou, mas eu não faço ideia de quem são vocês. — Cruzo os braços e Tommy suspira. — Thomas Edward Halters — ele estende a mão novamente —, herdeiro dos Hotéis Halters e blá-blá-blá. — Eu acho que não preciso dizer meu nome novamente. — Sorrio e aperto sua mão. — E a Leah, ela é… — Meu celular toca e interrompe o discurso de Tommy. — Desculpe, é o meu irmão. — Tudo bem, vou tomar um banho agora, se precisar de alguma coisa me avise. — Ele sai do quarto e eu atendo o telefone. — Olá, Oliver. — Fecho a porta e sento na cama. — Já chegou a Los Angeles? — Sim, há algumas horas, na verdade. — Em que hotel você está? — Não estou em um hotel, estou hospedado com um amigo. — Não sabia que tinha amigos em Los Angeles. — Oliver parece confuso, sim, eu também não sabia que tinha amigos aqui.


— É uma longa história. Como está Bree? — Ainda relutante em ir morar comigo em Seattle. — Vocês acabaram de se reencontrar, Oliver, dê um tempo. Você não pode querer que ela largue tudo em vinte e quatro horas. — Um ano, Jason, esperei a porra de um ano inteiro para revê-la. Não precisamos pensar em mais nada. — Apenas vá com calma, ok? E a menina? Como ela reagiu a você? — Eu acho que tenho uma pequena grande fã. — Ouço-o sorrir e isso me anima. — Ela é linda, Jason, uma verdadeira princesa. — Então, irmão, é melhor não fazer nenhuma merda. — Eu não vou fazer. — Estou confiando nisso — digo sorrindo. — E a Helena? Vocês já se encontraram? — Ainda não, ela continua viajando, vou ter que esperar. — Ok, você sabe que estarei por aqui, certo? — Eu sei, mas eu preciso fazer isso sozinho. — Tudo bem, a gente se fala. — Tchau, Oliver. Desligo o telefone e deito na cama, eu não tinha percebido o quanto estava cansado, as horas no avião e as horas esperando no corredor começaram a cobrar seu preço. Tiro os sapatos e fecho os olhos. O sono é mais que bem-vindo.


Acordo atordoado, o quarto está tomado pela escuridão. Tateio a cama em busca do meu telefone e toco no aparelho para conseguir alguma iluminação. Instintivamente minha mão vai para o meu cabelo, agora inexistente, meus dedos vagam por uma cabeça praticamente careca. Sorrio com a lembrança. Não lembro a última vez que agi assim, apenas sendo eu mesmo, sem precisar tomar decisões, ou dar ordens. Sem ter que lidar com seguranças ou prostitutas. É verdade que desde que Bree foi embora, em Vegas, Oliver nunca mais dormiu com outra mulher. Cheguei a pensar que ele fosse enlouquecer, mas nunca tinha visto meu irmão tão focado. Ele tinha apenas dois objetivos, ganhar o campeonato novamente e reencontrar Bree. Eu fiz todo trabalho para encontrá-la, o que não foi tão difícil. Felizmente, ela forneceu o nome correto, e como eu fiz a transferência do dinheiro para sua conta, as coisas facilitaram bastante. Viajei uma vez para Bakersfield, sem o conhecimento do meu irmão, ele nunca me deixaria ir sozinho. Mas eu queria confirmar pessoalmente que aquele era o endereço correto. Não fiquei surpreso quando a vi saindo de mãos dadas com uma garotinha. Desde então, eu fiz o que achava correto, mantive uma distância segura, sem que elas percebessem, e sem que Oliver soubesse. Eu sabia que meu irmão se apaixonaria


pela garota assim que a visse, e que elas seriam dele. Eu apenas cuidei para que ficassem seguras até que ele chegasse até elas. Levanto e acendo a luz, o quarto é confortável e agora eu sei o motivo. Pego uma toalha no armário e uma roupa limpa na mochila. É óbvio que vou precisar comprar algumas coisas, mas ainda não é minha prioridade. Conversar com Helena é. Quando vou ao banheiro, o apartamento está em silêncio, não tenho certeza se Tommy está em casa, e não pretendo incomodar. Entro no box e ligo o chuveiro. Quando entro, a sensação é estranha. A água caindo pela minha cabeça raspada quase faz cócegas. Termino o banho e me seco, visto o jeans e vou até a cozinha tentar comer alguma coisa. Mas o apartamento não está mais em silêncio, há vozes vindo da sala. — Olá — Leah me cumprimenta assim que me vê. — Oi. — Está com fome? — Ela adivinhou meus pensamentos. — Muita. — Estávamos decidindo o que pedir. Você é um hóspede e não precisa comer a porcaria que o Tommy cozinha logo no seu primeiro dia. — Eu ouvi isso — Tommy grita da sala. — Vamos lá, ele está com os cardápios. Você pode


pegar essas taças? — Ela aponta para o balcão, há três taças de vinho, olho para sua mão e noto a garrafa. — Estão comemorando? — falo enquanto pego a taça. — Todos os dias devem ser comemorados — ela fala e segue para a sala. Tommy está sentado no chão olhando para a mesa de centro. Nela, há vários panfletos de restaurantes, ele parece indeciso. — Queria tanto um Italiano — ele lamenta com uma voz chorosa. — Então, peça um — Leah diz sentando do lado oposto a ele. — Eu não como carboidratos à noite, você sabe. — Eu sei de coisas muito piores que você come à noite — Leah diz, mas ele não se afeta — O que você prefere? Têm muitas opções aqui. Sento ao seu lado e olho as opções. Definitivamente, deixa qualquer pessoa confusa. Há chinês, japonês, italiano, mexicano, hamburguerias, comidas saudáveis. — Eu vou de carpaccio. — Jura? Você, tipo… — ela olha para o meu corpo, ainda estou somente de jeans e a toalha no pescoço. — Você não come muito? — Anos convivendo com um atleta, eu sei o que comer e a hora que posso comer. — Gostei desse cara — Tommy fala — Eu vou acompanhar você — diz ele e Leah bufa.


— Certo, podem me matar, então, vou acompanhar vocês, mas eu quero sobremesa e vocês pagam, eu me recuso a pagar por esse tipo de comida. Leah toma um gole do vinho e me estende a taça, Tommy começa a ligar para o restaurante para fazer os pedidos. — Então, você dormiu bem? — Dormi, obrigado. E a sua reunião, conseguiu chegar a tempo? — Eu sempre chego quando estou dirigindo. — Ela pisca. — Ela é louca — Tommy retorna à conversa. — Ele acha que eu sou louca e eu acho que ele precisa de um namorado novo. — Eu não preciso. — E eu não sou louca. — Ela sorri. — O que você faz? — pergunto para Leah. — Corro — ela responde e eu fico confuso por um momento. — Sou pilota. — Pilota? — Ela corre, é pilota, minha ficha cai. — Do tipo Stock Car ou motos? — Do tipo Fórmula 1. Seu sorriso é tão amplo, que sem perceber eu estou sorrindo também. Ela disse isso de uma maneira tão orgulhosa e natural. É contagiante. — Uau. Eu nunca conheci uma pilota. — É porque eu vou ser a primeira pilota da minha


equipe — ela fala de novo com orgulho. — Leah é pilota de testes, e agora parece que vai surgir alguma oportunidade e ela vai poder correr de verdade. — Isso é bom — digo. — Isso é um sonho, meu sonho, e eu estou quase alcançando. — Um brinde a isso. — Tommy levanta a taça — Apesar de que eu morro a cada corrida que ela participa. Eles sorriem e nós brindamos. A conversa flui para assuntos cotidianos, eles me perguntam algumas coisas sobre meu trabalho com Oliver, e Leah fala sobre o meu cabelo, ela menciona que não me reconheceu por causa dele, ou pela falta dele, no caso. — Eu cortei quando cheguei aqui. É uma longa história — falo sem entrar em detalhes, eu não preciso dizer que estou buscando algumas mudanças, não só na minha vida, mas em mim mesmo. Pouco tempo depois, nosso jantar chega. Uma briga é travada para ver quem paga a conta, nesse caso a briga é somente entre Tommy e eu, Leah manteve sua palavra de que não iria pagar. Acabo ganhando a discussão e pago a conta, é o mínimo que posso fazer, e voltamos nossa atenção para a refeição. Tommy me conta um pouco sobre o seu trabalho, ele é fotógrafo e disse que depois vai me mostrar o estúdio.


— Ele faz umas fotos diferentes — Leah diz. — Diferentes como? — pergunto curioso. — Depois ele vai te mostrar, espero que você não seja do tipo puritano. — Ela sorri travessa. Terminamos nosso jantar e Tommy coloca os pratos na lava-louça, Leah se despede avisando que precisa acordar cedo no dia seguinte, e eu vou para o meu quarto. Pego o celular e vejo que Oliver enviou uma mensagem, na verdade é uma foto. Ele está com Bree e Sky, estão sentados em um sofá. Como uma família. Mesmo tendo acordado há pouco tempo, o cansaço me atinge e eu apenas tiro jeans e me jogo na cama. Uma coisa eu não posso reclamar, Tommy tem uma excelente cama para os seus hóspedes.


Quinze anos, eu tinha essa idade quando fiquei nervosa assim durante um jantar. Mas meu nervosismo não foi devido a porcaria de comida que fui obrigada a comer, não. Jason estava apenas de jeans, e com uma toalha enrolada no pescoço. E, caramba, ele tem uma tatuagem, uma frase na verdade. O que já era perfeito, no meu conceito, não poderia ter ficado melhor. Conversamos um pouco sobre tudo, e sobre nada ao mesmo tempo. Ele não contou o motivo que o trouxe aqui, muito menos tocamos no nome de Helena, o que eu agradeci internamente. Ainda teria que falar com Tommy sobre isso. A reunião tinha sido melhor do que eu esperava, em breve seria a primeira pilota da equipe. Eu esperava por isso há anos, na verdade, minha estadia aqui é só por causa disso. Quando soube há alguns anos que a Tendance Car, mais conhecida como TC Racer, estava contratando piloto de testes, e que não tinham preferências de gênero, eu vi meu sonho praticamente gritando na minha cara.


E eu fiz tudo que podia para estar aqui. Não me arrependo, mas não é algo de que me orgulho. E agora, é como se a vida cobrasse o seu preço e dissesse: “Hey Leah, hora de acordar, criança, nem tudo é como você quer”. Olho para o teto e penso nas minhas possibilidades, e nenhum cenário é bom. Pego meu celular e envio uma mensagem para Helena. L -Quando você volta? A resposta é imediata, e fico surpresa. H -Ainda não sei, estou trabalhando, Leah. Dez dias? Quem sabe… L -Preciso falar com você. H – Quando eu voltar. L – Não! Precisa ser logo. H – QUANDO EU VOLTAR. Acho que ela tentou dizer: vai se foder, mas é educada demais para isso. Recado recebido, desliguei meu aparelho e, finalmente, me entreguei ao sono. Ou, quase isso, já que meus sonhos foram cheios de músculos e tatuagens. Depois de uma noite nada agradável, minha manhã começa com o pé esquerdo. Assim que saio do apartamento eu esbarro nele. Jason Willers e toda sua forma gigante, e por pouco, muito pouco, meu celular não vai para a terra dos moribundos. De novo. — Bom dia — ele me cumprimenta. — Com pressa?


— Jason sorri quando vê minha absoluta falta de jeito para trancar a porta. Que porra que esse homem tem que me deixa tão nervosa? Não pense nisso, Leah, apenas não pense, se for para listar os motivos, comece com o cabelo sexy e termine com seu velório. Porque ele vai te matar quando descobrir tudo, ou pelo menos, ele tem tamanho e força para fazer isso. — Na verdade — olho para o meu relógio —, eu ainda tenho algum tempo sobrando, pensei em ir tomar um café. — Não toma o seu café em casa? — Às vezes, hoje não acordei muito disposta. — Finalmente tranco a porta e solto um suspiro aliviado. — Então, você quer me acompanhar? — Eu… — Oh, se você tiver um compromisso, eu entendo. — Não, na verdade… ok, tudo bem, vamos tomar esse café. Jason vai ao meu lado durante todo trajeto, eu sou praticamente um minion ao seu lado. O que não é nada legal. Dez minutos depois entramos em uma delicatéssen, sentamos em uma mesa um pouco afastada e, de repente, o menu nunca foi tão interessante. Onde eu enfiei meu juízo quando o convidei para vir aqui? — Então, Leah, você é daqui mesmo?


— Não, sou de Seattle — falo naturalmente, não é segredo de onde eu venho. Mas ele franze o cenho. — Sério? — Sim. — Eu sou de lá também. Na verdade, moro lá ainda. — Eu sei. — Sabe? — Sua pergunta me deixa em maus lençóis. — Sim, todo mundo sabe sobre os irmãos Willers. — Sim, todos sabem — ele diz pensativo. Nosso belo momento constrangedor é interrompido pelos nossos pedidos. Jason não toca mais no assunto Seattle, eu fico aliviada. — Você já decidiu quanto tempo irá ficar na cidade? — pergunto. — Ainda não, quero conhecer um pouco, eu nunca fiquei tempo suficiente aqui para aproveitar. — Temos um turista, então? — Basicamente. E você, mora há quanto tempo aqui? — Não muito, três anos, eu acho. — Dou de ombros. — E você conhece a Helena todo esse tempo? — Bem mais tempo do que eu gostaria — resmungo. — Interessante. — Ele sorri. — Por quê? — Você não parece o tipo de amiga da Helena — ele repete as palavras de Tommy. — Isso é porque ela é uma vadia na maior parte do tempo. — O rosto dele se contrai. — Mas não somos


amigas íntimas, pelo menos. — Helena é uma pessoa complicada. — Acrescente egoísta e fútil. — Você realmente não gosta dela, não é? — ele pergunta sorrindo novamente. — Apenas não nos damos bem. Jason não força mais, e eu muito menos. Conversamos por mais alguns minutos quando me dou conta da hora. Atrasada! — Droga, eu tenho que ir. — Tudo bem. Eu preciso ir comprar algumas coisas. — Quer uma carona? Eu passo perto de algumas lojas bem legais. — Ok. Logo depois, estou com um Jason muito embasbacado olhando para o meu carro. Um Bugatti Veyron, o príncipe que ganhei quando completei vinte e um anos. Presente especial dos meus pais, o tipo de presente que se dá quando você quer compensar alguma coisa. E eles tinham muito para compensar. — Vamos dar um passeio Jason. — Eu sorrio. — Belo carro — ele diz quando entra. — Espere até baixar a capota. — Pisco e piso no acelerador. Dizer que Jason está nervoso é elogio, ele está apavorado. O bom nesse cara é que ele não deixa aparentar, o medo fica ali, nos seus olhos. Mas percebo ao


parar em frente ao shopping e encará-lo. — Você sabe mesmo como pilotar um carro. — Você ainda não viu nada. — Sorrio e nos despedimos. Jason entra no shopping enquanto eu fico ali, admirando a mesma coisa que a maioria das mulheres em volta. Ele era um homem para se respeitar, mesmo não parecendo em nada com o cara que vi nas fotos na internet. Aquele Jason era mais sério, vivia em ternos caros, cabelo comprido e barba bem feita. Esse cara que acabou de sair do meu carro é diferente, é selvagem, quase como alguém a ser domado. Alguém que faz minha pele esquentar, mesmo sabendo o quanto isso é errado.


O passeio até o shopping foi interessante. Para dizer o mínimo. Leah guiou o carro graciosamente, e ela nunca hesitava. Era como se o carro fizesse parte dela, uma parte muito sexy, que me deixou estranhamente excitado. Em alguns momentos, me peguei pensando em como seria vê-la em uma corrida de verdade. Um sorriso aparece no meu rosto com a lembrança. Já estava no shopping há alguns minutos, era como voltar no tempo. Já que desde quando Oliver começou a ter sucesso e a grana não era um problema, a maior parte das nossas roupas vinha de patrocinadores, ou era entregue em casa. Opções não eram problemas, e eu estava acostumado


à praticidade daqueles arranjos. Entrar em uma loja e olhar as araras, não é nada atraente. Mesmo com toda atenção das vendedoras. Três horas depois, eu havia comprado dois ternos — alguns hábitos nunca morrem —, quatro camisas e dois jeans. Os ternos precisavam de alguns ajustes, e fiquei de buscar depois. Quando estou procurando algum local para almoçar, meu celular toca. Fico confuso quando olho o visor. É a Helena. — Oi, Helena. — Jason, desculpe por não estar aí, mas surgiu um trabalho novo e… — E você não pôde me avisar do atraso. — Estou avisando agora, não seja rude. — Você não conhece meu lado rude, Helena, não me tente. — Estou em Paris, ainda não sei quando volto, mas aviso você assim que souber. Você está em Seattle? — Não, estou em Los Angeles, vou ficar aqui até você voltar. — Eu aviso você quando voltar, Jason, não precisa parar a sua vida. — Eu parei a minha vida no dia que você disse que estava grávida e depois sumiu, Helena — falo com rancor. — Eu… sinto muito, Jason, nós vamos conversar quando eu voltar.


— Com certeza nós vamos. Você não vai fugir dessa vez, Helena. — Não espero uma resposta. Desligo a chamada e sento no banco mais próximo. Isso é uma bagunça fodida. Passo a mão na cabeça, tentando organizar meus pensamentos. Dessa vez, eu vou conseguir o quê vim buscar. Almoço sozinho, meus pensamentos são minha única companhia em meio a um restaurante lotado. Poucas pessoas me notam, Los Angeles com sua mágica Hollywoodiana faz isso com você, torna invisível os mais chamativos. Meu visual é a última coisa que preocupa as pessoas aqui. Pego o tablet que comprei e configuro minha conta. Nunca pensei que férias pudessem ser tão monótonas. Penso em ligar para Oliver, apenas para ter algo para passar o tempo, mas eu sei como ele reagiria e, então, esqueço a ideia. Minha única alternativa é voltar para o apartamento do Tommy. Quando chego ao prédio, meu primeiro pensamento é sobre Leah. Será que ela já voltou? Abro a porta e encontro Tommy sentado na sala, com o notebook na mesinha de centro. — Você não tem um escritório ou algo assim? — Aqui é o meu “algo assim” — ele diz sem tirar os olhos da tela. — Vou pegar uma bebida, posso?


— Fique à vontade, você está pagando. — Tommy sorri e vou até a geladeira pensando por que aceitei isso, já que poderia muito bem ter ficado em um hotel. — O que está fazendo? — pergunto enquanto tomo um gole de água. — Apenas editando algumas fotos. — Ele vira a tela e me mostra o trabalho. Se ele esperava choque, acho que falhou. As fotos são de mulheres nuas, mas nada vulgares, são sensuais. As poses e a luz cobrem algumas partes, deixando-as apenas para imaginação. — Você faz um excelente trabalho, Tommy — digo com sinceridade. — Pena que meus pais não concordem com você — ele diz e vejo seu sorriso sumir. — Eu sei o que é não ser aprovado pelos pais. Sei o que é ser julgado e ter que dançar conforme a banda toca. — Do que está falando? Você é gay por acaso? — ele pergunta divertido. — Não, mas tive que safar meu irmão de algumas surras por desobedecer às regras. Criei uma certa paranoia com horários. — Você é paranoico com horários, e a Leah desconhece a palavra pontualidade. Vocês formariam um belo par. — Ele se levanta e vai até a geladeira, volta em seguida com duas cervejas. — Obrigado — agradeço e pego a minha garrafa. —


Vocês dois são amigos há muito tempo? — Um pouco, nos conhecemos em uma festa à fantasia — ele parece se divertir com a lembrança —, mas nossa amizade aumentou quando fui deserdado. — Você foi deserdado? — pergunto incrédulo. — Ah sim, esse lugar — ele balança as mãos em círculo —, foi um presente da minha mãe para o filho não ficar totalmente sem teto. — Entendo. — E a Leah? Aquela menina é uma raridade. — Ele bebe um pouco mais e senta ao meu lado no sofá. Quantas ele já bebeu? — Ela me ajudou sem que eu soubesse, arrumou alguns trabalhos aleatórios como fotógrafo. — Ela parece ser especial. — E ela é. Quando eu descobri, ela me mandou ir se foder e disse para lidar com isso. Eu amo aquela garota como a uma irmã. — Tommy encosta a cabeça no sofá parecendo cansado. — Ela parece gostar de você também — digo com sinceridade. Pelo pouco que vi dos dois juntos, o amor entre eles é mútuo. — Sim, do jeito maluco dela, ela ama. Leah não é de abraços e beijos, ela é o tipo de mulher que dorme com os caras, mas nunca acorda com eles. Se é que você me entende. E eu entendo, eu vivi isso em primeira mão com Oliver. Caralho, eu mesmo era assim. E que cara hoje em


dia não é?


Meu dia no autódromo foi excelente, meu tempo na pista foi um dos melhores e eu sabia que não havia piloto que pudesse me superar. Meu único obstáculo são alguns idiotas da diretoria que ainda vivem no século passado e acham que lugar de mulher não é atrás de um volante. Danem-se eles, estúpidos que não devem nem saber como trocar de marcha. Gabriel está com um sorriso radiante quando entro no box e começo a abrir meu macacão. — Bela corrida, Leah. — Obrigada. — Pego uma garrafa de água. — A diretoria e os investidores estão encantados com seu desempenho. — Eu apenas sorrio e continuo bebendo água. É claro que estão encantados, venho trabalhando duro para isso. — Que tal sairmos hoje para comemorar? — Comemorar? Há alguma coisa para comemorar? — Coloco a garrafa em cima da bancada, olho em volta e ninguém parece prestar atenção na nossa conversa.


Gabriel é o coordenador de equipes, e antes disso, tivemos um lance. Que começava e terminava em sexo. Em todos os locais possíveis. — Com você, sempre há algo para comemorar Leah. — Seus olhos vagam pelo meu corpo, e fixam no meu decote. Meu macacão aberto revela meu top, meu peito brilha com suor devido à corrida, e eu sei que isso o deixa excitado. Homens… — Você está ultrapassando os limites aqui, coordenador — enfatizo sua posição. — Pensei que estivéssemos em uma pista de corrida. Aqui é dever ultrapassar os limites, baby. — Ele pisca e sai sorrindo. Eu não me contenho e uma gargalhada me escapa. Droga, eu amo o meu trabalho. Arrumo minhas coisas e vou para casa. Meu apartamento está uma bagunça e ainda nem consegui desfazer minhas malas. Tremo só de pensar na roupa suja que me espera. Já é tarde quando finalmente guardo a mala vazia dentro do closet. Sento na a cama e pego a caixa com fotos que trouxe da casa dos meus pais. São minhas melhores lembranças, memórias que são insubstituíveis. — Por que as pessoas mudam tanto? — falo sozinha segurando uma fotografia, nela estão meus pais, eu e minha irmã. Uma família sorridente, que hoje não passa de


quatro estranhos. Meu celular apita me avisando de uma mensagem, é Tommy. Peter Pan: Tink, festinha do pijama, topa? Eu: Passo. Peter Pan: Por queeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeê? Eu: Apenas cansada, dia longo. Peter Pan: Jason e eu já tomamos algumas cervejas, acho bom vc levantar essa bunda cansada antes que eu conte o que vc guarda na gaveta ;) Eu: Golpe baixo, estou indo. Peter Pan: Esperando. Guardo as fotos novamente na caixa e vou para o apartamento do Tommy. Mal chego à porta e consigo ouvir música e risos. Ótimo, já estão bêbados. — Tink! Bem-vinda. — Tommy faz uma reverência e eu sorrio — Você leva a sério essa coisa de festa do pijama, não? Ele aponta para a minha roupa, um short de dormir e uma regata. Ótimo. — Eu disse que estava cansada. — Aqui. — Tommy me entrega uma cerveja — Jason foi ao banheiro, não deve demorar. — O que vocês estão fazendo? — Sento no sofá tomando um gole da cerveja. — Basicamente, jogando conversa fora. Você sabia que ele tem paranoia com horários? — Ele sorri. — E


você tem problemas em cumprir horários, seria uma dupla perfeita. Assim que Tommy termina seu monólogo, Jason entra na sala. E nossa, Los Angeles deve estar no centro do aquecimento Global, porque, de repente, a sala esquentou uns dez graus. Jason sorri quando me vê e ergue a sua cerveja, eu faço a mesma coisa. Tento manter meus pensamentos coerentes, enquanto observo-o ir até a geladeira pegar outra garrafa. Eu me sinto dentro de uma propaganda de cerveja, mas em vez de mulheres seminuas, é um cara seminu. Não que Jason estivesse com pouca roupa, ele está de Jeans e uma camiseta cinza. Mas algo dentro da minha mente só consegue vê-lo sem camisa. Imediatamente eu olho para a garrafa na minha mão e culpo a cerveja. Pensamentos pervertidos? Culpem a Budweiser. — Quantas mais será que ele aguenta? — Jason pergunta ao se sentar ao meu lado. Olho para Tommy e percebo que provavelmente ele já passou dos limites. — Com certeza nem uma a mais. — Meu amigo está com a cabeça encostada no sofá, olhos fechados, sussurrando algo sobre unicórnios. É um bêbado fofinho. — Estão bebendo há muito tempo? — Não muito.


— E o passeio no shopping, produtivo? — Eu odeio aquilo. — Jason sorri. — Já nem me lembrava da última vez que entrei em uma loja para fazer compras. — Eu posso imaginar. — E você? — Dia cansativo, mas perfeito. Você conseguiu falar com a Helena? — pergunto curiosa. — Sim, ela me ligou mais cedo. — Ela disse quando volta? — Não, ela está em Paris e ainda não tem uma data para voltar. Paris? Isso é uma surpresa. — Tudo bem para você? — Eu vim aqui em busca de algumas respostas, Leah, e não vou sair sem elas. — seu tom é sério, e meu peito aperta. Eu tenho certeza que poderia dar essas respostas. — Eu espero que ela não demore. — Eu também. — Bebemos o resto da nossa cerveja em silêncio. — Qual o lance do Tommy? — Jason pergunta de repente. — Playboy, rico e gay. Resumindo, não é do tipo que o papai dele queria para assumir os negócios. — Dou de ombros. — E você? — Seu olhar é intenso, droga, ele está


realmente interessado. — Patricinha rebelde e desbocada. — Dou meu melhor sorriso. — E? — ele instiga. — Como Tommy, não era a filha que meus pais gostavam de exibir. — Às vezes, os pais podem ser uma droga — ele fala com conhecimento de causa. — Principalmente, se eles forem como os meus — falo erguendo a garrafa, Jason faz o mesmo gesto e brindamos. — Como está o seu irmão? — Ajeito as pernas no sofá para ficar mais confortável, Tommy continua de olhos fechados balbuciando sobre unicórnios, só que agora eles voam. — Oliver está curtindo umas férias em família — ele responde e seu sorriso se alarga. — Então, você está de férias também? — Basicamente, mas já comprei um tablet e conectei minha conta, é uma questão de dias, senão horas, para começar a trabalhar novamente. — Sério? — Sim, sério. — Precisamos mudar isso então, você não pode trabalhar nas suas férias. — O que você sugere? — Vou pensar em algo. — Eu sorrio e viro para olhar


Tommy, sua cabeça está pendurada em um ângulo nada confortável. Acho que seus unicórnios voadores acabaram de tombar. — Você me ajuda? — Aponto para Tommy. Jason coloca nossas garrafas na cozinha e volta para me ajudar com Tommy. O cara parece pesar uma tonelada, mas Jason ergue-o do sofá com facilidade. Ahh… eu vou virar a noite assistindo Guerra dos Tronos, certeza. Cada um segurando de um lado, levamos Tommy para o quarto. Retiro seus sapatos quando o deitamos na cama. Então eu o cubro. — Não acha melhor tirar as roupas dele? — Nem pensar, prefiro manter meus pensamentos puros em relação ao meu amigo. Jason ri e em seguida saímos do quarto. Ajudo a organizar a bagunça que fizeram antes de eu chegar, aliás, desconfio ter sido convidada apenas para isso, porque no segundo que cheguei, Tommy apagou. — Tem certeza que não quer ficar mais um pouco? — Jason pergunta me acompanhando até a porta. Não é tarde, mas se tomar mais uma cerveja eu não vou me responsabilizar pelos meus atos. Culpa da Budweiser. — Tenho, amanhã preciso estar cedo na pista de corrida. — Você sabe de alguma academia aqui por perto? — Pensando em malhar? — Ele sorri.


— Apenas para distrair a mente. — Amanhã passo o endereço para o celular do Tommy. — Beijo seu rosto e vou em direção à porta. — Leah? — Viro e ele está atrás de mim — Aqui. — Jason pega o celular da minha mão. — Qual a senha? — Calma, garoto, a gente mal se conhece e você quer a senha do meu celular? Assim, sem um beijo primeiro? — Meu sorriso morre quando termino a piada. Jason me dá um sorriso torto e mortalmente sexy. Pego meu celular da mão dele e tremendo digito a senha. — Aqui. — Entrego e ele digita algo, ainda sorrindo. — Você pode enviar o endereço direto para o meu aparelho agora. — Ele me entrega e segura minha mão mais tempo do que o necessário. — Vou lembrar disso. — E o beijo? Como fica? — ele pergunta e eu congelo. — Estou brincando com você, Leah. — Jason sorri e eu fico completamente sem graça. Quando um cara já me deixou sem graça? Culpa da Budweiser. Nós nos despedimos e vou em direção ao meu apartamento, quando abro a porta, não consigo resistir, olho para a porta do apartamento do Tommy e Jason está ali, encostado no batente com os braços cruzados e com a droga do sorriso sexy. Eu preciso de mais uma bebida, e sexo, e uns dois


episĂłdios de Guerra dos Tronos, nĂŁo necessariamente nesta ordem.


O som dos meus punhos batendo contra o saco ecoa na sala. Leah me enviou cedo o endereço da academia. Não consegui disfarçar o sorriso quando vi sua mensagem. Uma simples mensagem com o endereço e um boa sorte no final. Simples e direta. Eu gosto disso. Também não consegui conter a minha excitação com nosso pequeno flerte de ontem. Porra, há quanto tempo eu não faço isso? Apenas flertar com uma mulher? Pessoas como eu não flertam mais, basta apenas um olhar, um gesto, e a mágica acontece. Mas com Leah, é tudo diferente. Ela não parece deslumbrada, suas perguntas são reais, sobre família, amigos e não como funciona na indústria do


entretenimento. E isso é bom, é bom pra caralho. No fim da tarde, quando termino o treino, pego o celular e retorno a ligação do Oliver. Meu irmão me ligou cinco vezes nas últimas duas horas. — Alguma urgência? — digo assim que ele atende. — Preciso que você converse com a Bree. — Ele é direto. — Sério, Oliver? O que houve? — Pego a toalha e enxugo o rosto. — Sabe o que eu amo na Bree, Jason? A teimosia dela, sério, eu nunca conheci uma mulher tão obstinada. — E qual é o problema? — Ela está determinada a não ir morar comigo — ele diz em tom de derrota. — Oliver, você tem quase três meses pela frente, ela vai ceder. — Não, ela não vai. E eu estou tentando levar as coisas devagar aqui, mas você sabe que ir devagar nunca foi o meu forte. — Quando ele fala essas palavras minha mente vai para Leah. — Dê tempo, Oliver, você acabou de chegar até ela. — Preciso que você me faça um favor assim que possível. — O quê? — Providencie a papelada da Sky, quero registrá-la como minha filha. — Suas palavras não me surpreendem. — Tudo bem, posso ver isso. A Bree concorda?


— Ela vai. — Oliver… — Eu vou devagar, Jason, estou dando a minha palavra, mas gostaria que você adiantasse isso, quando ela aceitar, basta assinarmos a papelada. — Tudo bem. — Elas são minhas, irmão, e eu não vou deixar que ninguém faça qualquer mal às minhas meninas. — Eu sei disso. Você quer mais alguma coisa? — Apenas que você fale com ela quando chegar a hora. — Percebo um sorriso na voz dele. — Preciso desligar agora, Sky está aqui e vamos treinar. — Você vai o quê? — pergunto surpreso. — Eu disse que tenho uma pequena grande fã — Oliver fala sorrindo — Até mais, irmão. Desligo o telefone e vou tomar uma ducha. Oliver consegue me deixar maluco apenas com um telefonema. Definitivamente, ele não conhece o termo ir devagar. Nem a Leah, as palavras do Tommy me vêm à mente. Um tornado. Impulsiva. Não conhece limites. De repente, estou me tocando no chuveiro pensando nas formas de fazê-la conhecer alguns limites. Minha libertação vem rápido, mas não o suficiente. Apenas a lembrança me faz ficar duro novamente. Não tenho tempo para isso, termino o banho e volto para o


apartamento. É início da noite quando chego, estou com duas sacolas de comida, mandei um texto para Tommy avisando que levaria o jantar. Ele agradeceu e pediu para guardar na geladeira, ele ficaria fora até tarde trabalhando em um ensaio. Quando o elevador para no nosso andar, o que eu vejo me deixa perplexo. Leah está na porta do apartamento dela, agarrada a um cara. Ela está usando um vestido solto que dá amplo acesso às mãos dele. Suas pernas estão em volta da cintura dele e as bocas estão coladas. É estranho, e excitante. Tento passar despercebido, mas é quase impossível, já que tenho que passar bem na frente deles para poder chegar até o apartamento do Tommy. Quando eu estou passando, os olhos dela abrem e encontram os meus. Eu não consigo seguir, nossos olhos travam uma batalha e sinto uma vontade insana de retirar as mãos dele do corpo dela e substituir pelas minhas. O cara não percebe a minha presença, ou está tão envolvido que não está ligando para plateia. Isso me irrita. Ouço o gemido dela quando ele pressiona-a com mais força contra a porta, os olhos dela não fecham, estão focados em mim. Decido sair antes que ele me note e a situação fique constrangedora. Ou, o mais provável, antes que eu a retire


dos braços dele. Largo a comida em cima do balcão da cozinha e vou para o meu quarto. Uma chuveirada talvez consiga me acalmar. Olho para o meu jeans e a ereção é evidente. Foda! Porra de banho nenhum vai me acalmar. Retiro a roupa e ligo o som do celular, fecho os olhos e penso em Leah. O brilho dos seus olhos quando me viu. O som do gemido dela, não era para aquele babaca, ela gemeu olhando nos meus olhos. Estou me masturbando quando sinto a presença dela no meu quarto. Ela não precisa falar nada, o perfume dela entregou a sua presença. Eu abro os olhos e vejo-a me encarando.


— Gabriel, pare! — Afasto Gabriel com as mãos. Ele para e me olha confuso. — O que foi? — Estou ofegante, mas não do tipo excitada, parece que não consigo respirar. Abaixo as pernas e alinho o vestido. Gabriel se afasta ainda confuso. — Apenas não é uma boa hora — digo a primeira coisa que me vem à cabeça. — O que você quer dizer? Leah, estávamos indo muito bem agora pouco. — Eu sei, mas não me sinto bem — digo esticando o braço tentando manter uma distância. Droga, por que está difícil respirar? — Tudo bem — ele levanta os braços em rendição —, quando você se decidir, sabe onde me encontrar. Ele vai embora e eu fico parada na porta do meu apartamento olhando para o final do corredor. Para a porta do Tommy, a mesma porta em que Jason acabou de entrar, depois de me pegar aos amassos com Gabriel. Droga. Tento ajeitar o cabelo e a roupa, tiro os sapatos e vou para o apartamento do Tommy. Aparentemente, Jason é


como meu amigo, e não tranca a maldita porta. Entro no apartamento e vou até o quarto dele. O lugar está em silêncio, mas há uma música, e um gemido vindo do cômodo. Jesus, com certeza são gemidos. Eu sei que deveria ir embora, e eu sei o que vou encontrar quando abrir a porta. Mas Deus me ajude se eu não quero ver. O olhar que ele me deu, era tão cheio de luxúria. Nenhum homem olhou para mim com tanta intensidade. E agora, eu estava envergonhada e sentia que precisava me desculpar. Assim que toco na maçaneta ouço outro gemido, dessa vez mais grave. O som penetra nos meus ouvidos e aperto as coxas. Caramba, eu chegaria ao orgasmo apenas ouvindo-o gemer. O pouco juízo que tenho me abandona quando ele geme novamente, então eu estou dentro do quarto, observando a cena mais erótica de toda minha vida. Jason está deitado na cama, há somente duas luzes acesas, o que deixa o cômodo mais sensual. Ele está gemendo ofegante, e está se tocando. — Se você não vai participar, essa é a hora de sair. — Sua voz grossa causa arrepios na minha espinha. Ela me pega de surpresa. — Eu… eu… — Nada sai, não sei se estou mais nervosa por ser pega observando, ou por estar


observando. Jason levanta da cama e meus olhos vão direto para o seu pau. Grande, grosso, e muito, muito duro. E ele ainda está se tocando. — O quê, Leah? O que você veio fazer aqui? — Eu vim… — Meu Deus do céu, cadê as palavras quando preciso usá-las? Se eu já estava hipnotizada olhando suas mãos, definitivamente, me perdi quando olhei em seus olhos. — Você veio buscar algo que aquele babaca não te deu? — Ele se aproxima e me encurrala na parede. — Vim pedir desculpas — consigo dizer. — Pelo quê? Por me excitar? — ele fala e olha para sua mão, os movimentos suaves e constantes fazem meu pulso acelerar. — Não seja grosseiro. — Quer saber como eu posso foder você, Leah? — Ele para de se masturbar e suas mãos vão para a parede. Uma de cada lado da minha cabeça. Forçando-me a encontrar o seu olhar. — Ele não fodeu você direito, não foi? — Ele pressiona a sua ereção e eu choramingo. — Diga, Leah, o que exatamente você veio fazer aqui? — ele fala e passa a língua na minha orelha. Meu corpo reage. — Boa menina — ele diz quando inclino meu corpo encostando meus seios no peito dele. Meu vestido é fino,


e meus mamilos estão duros, é claro que ele sente. — Quero ouvir as palavras, Leah, o que você veio fazer aqui? Ele pressiona mais uma vez, sua boca agora no meu pescoço. Eu não consigo respirar novamente, mas dessa vez, eu não quero respirar. — Eu vim ver você. — Minha voz é um sussurro. — Você já viu, e ainda está aqui. Por que, Leah? — O cara é a porra de um jogador. — Agora eu quero você. — Entro no jogo. — E você me quer para fazer o quê? — As mãos dele vão para as minhas coxas, eu gemo e deixo cair os sapatos que estavam na minha mão. Eu nem lembrava que estava segurando-os. — Eu quero que você me foda — consigo sussurrar. Suas mãos param e ele me olha, seu olhar é intenso, ele procura por algum tipo de hesitação. Mas não vai encontrar. Satisfeito com o que vê, Jason sorri. Seus dedos exploram devagar a carne das minhas coxas, indo direto para a calcinha. — Você não irá precisar disso. — Ele começa a baixar a peça. Lentamente, minha calcinha faz o percurso até o chão. Os dedos dele brincam com a minha pele, sobem novamente. Ele faz isso algumas vezes, me provocando. Está me


deixando cada vez mais excitada. Estou em pé, com o corpo pressionado à parede, usando apenas um vestido. E estou diante de um homem exuberante e completamente nu, que substituiu os dedos pela língua. — Você vai me matar. — Sinto seu sorriso, Jason beija cada pedaço da minha perna. Ele está ajoelhado e dá beijos preguiçosos. Quem diria que eu ficaria excitada com um cara beijando meu joelho? Mas então, ele não é como qualquer cara. Jason Willers, literalmente, está fodendo minha mente agora, e eu estou implorando internamente para ele foder o meu corpo. O tempo para, sinto apenas seus lábios tocando a minha pele. Se não fosse pela parede me ancorando, eu já estaria no chão. Jason não tem pressa, ele abre um pouco as minhas pernas e tem livre acesso à parte interna da coxa. É nesse momento que sinto sua língua. Usando os dedos, ele pressiona meu clitóris, esfregando em círculos lentos, enquanto sua língua explora. Meus joelhos começam a ceder quando sinto um orgasmo se formando. Minhas mãos seguram seu ombro com força, e meu quadril encontra um ritmo. Jason não para, e no momento que ele morde meu clitóris e a dor começa a surgir, eu explodo em um orgasmo intenso, gritando o nome dele.


— Minha vez. — Jason levanta e vejo sua boca ainda úmida por causa do meu orgasmo. Ele tira meu vestido com facilidade, jogando para longe. — Quero você montando meu pau. — Ele segura meu rosto com as mãos — Me mostre o quão rápido você consegue me levar, Leah. Meu nome soa como música nesse momento. Jason me ergue e caminha até a cama, sou como um brinquedo nos braços dele. Ele me deita na cama em seguida vai até a cômoda pegar um preservativo. Jason abre a embalagem, sem nem ao menos tirar os olhos dos meus. Não é que eu esteja envergonhada, mas estar nua na cama dele é algo que jamais poderia imaginar. E o olhar dele em mim é tão intenso e feroz, que eu não tenho certeza se amanhã estarei arrependida ou implorando por mais. — Venha aqui. — Jason deita ao meu lado e puxa o meu corpo para cima do dele. Abro minhas pernas enquanto ele segura seu pau, guiando para dentro da minha boceta. Assim como ele, eu não tenho pressa, devagar eu vou tomando-o, centímetro por centímetro, até que me sinto totalmente preenchida. — Porra, Leah. — Eu abro os olhos e minha visão fica turva. Jason segura meu rosto e une nossas bocas, ao mesmo tempo, seu quadril dá um impulso para cima. Ele me penetra profundamente. Eu o sinto inteiro


dentro de mim. Meu gemido é o combustível para ele intensificar nosso beijo. Ele estoca mais três vezes e eu assumo o ritmo. Rápido, assim como ele pediu. Nosso beijo é quebrado quando ele joga a cabeça para trás. Gemendo a cada vez que ele entra. Jason fecha os olhos e seus lábios ficam entreabertos. Suas mãos nas minhas coxas seguindo meu ritmo. Meu prazer aumenta quando percebo que ele vai gozar. Seu corpo tensiona e o meu o segue. Gozamos juntos, em perfeita sincronia. — Você tinha razão — ele fala ainda de olhos fechados. Meu corpo ainda descansa em cima dele, e minha mão traça as letras da tatuagem esculpida no seu peito. — Sobre? — pergunto sem me mover. — Você sabe ficar no comando. — Não consigo conter a risada. Jason também sorri me abraçando e beijando minha cabeça. — Preciso ir ao banheiro. Eu me movo devagar, seu pau sai de dentro de mim lentamente, assim como entrou. Seus olhos estão focados nos meus novamente. Eu nunca me senti tão ligada a alguém como agora. Quando eu saio de cima, eu vejo quando ele suspira fechando os olhos. Jason levanta, em seguida vai ao banheiro, eu o espero terminar e aproveito para colocar as ideias em ordem. — E agora? — pergunto para mim mesma.


Sexo casual é o que eu faço, nunca foi problema. Mas, eu também nunca tinha feito sexo com Jason antes. — Desligue esses pensamentos, Leah — Jason diz assim que entra no quarto novamente. — Quem disse que estou pensando? — As rugas na sua testa — ele deita ao meu lado —, não precisa pensar sobre isso. — O que você quer dizer? — Eu quero dizer — ele toca meu seio —, que você não precisa surtar com isso. — Eu não sou mulher que surta com sexo, Jason. — Alguma coisa está preocupando você. — Sim, muitas coisas, mas não o sexo, definitivamente não o sexo. — Levanto da cama e começo a pegar minhas roupas, Jason continua me olhando. — Você pode dormir aqui — ele fala, seus braços dobrados embaixo da cabeça, ele não se deu ao trabalho de se cobrir. — O convite é tentador, mas eu ronco. — Coloco o vestido. — Acho que vai precisar disso. — Ele mostra a calcinha que está na mão dele, ele levanta e caminha na minha direção, sorri e fica de joelhos. — O que… — não termino de falar, Jason está colocando a minha calcinha. Ele ergue meu pé com cuidado, e em poucos e tortuosos segundos minha calcinha está no lugar e seus olhos estão nos meus.


— Foi um prazer, Leah. — Jason beija meu queixo. — Boa noite, Jason. — Boa noite, Leah. — Abro a porta do quarto e quando saio, ele me diz: — Eu não me importaria com seus roncos, só para você saber. Seu sorriso é radiante. — Eu não ronco. Só para você saber. — Pisco e saio do apartamento antes que fique tentada, ainda mais, a passar a noite com Jason.


Ouço quando ela fecha a porta do apartamento, respiro fundo e vou para a cama. O cheiro dela está em todo lugar, nos lençóis, no travesseiro. Porra, o quarto todo está tomado pelo perfume dela. Não esperava que ela viesse até aqui, não depois do que eu vi. Ela largou o cara e veio até aqui? Se eu fosse um homem de dar nota para o sexo, esse entraria para o nível dos não classificáveis. A pilota doce e espevitada sabe mesmo como comandar na cama. A maneira que ela me fodeu. Porra! A mulher, definitivamente, sabia o que estava fazendo. E agora eu me encontrava deitado na cama, com meus pensamentos em cada curva daquele corpo. Respiro fundo antes de fechar os olhos e cair em um sono agitado.


Acordo com um som alto, na verdade uma música alta e vozes agitadas. Pego a primeira calça jeans que encontro e logo vou até a cozinha. Cruzo os braços e encosto na parede. Leah e Tommy estão cantando animados preparando o café da manhã. I’m tired of trying to be normal I’m always overthinking I’m driving myself crazy3 Não posso deixar de sorrir, a música é a cara deles. Alguns segundos passam até que Leah nota a minha presença, ela quase deixa cair os ovos que está segurando. — Jason! — Ela pula colocando a mão no peito. — Desculpe, mas não queria atrapalhar a performance. Música excelente, por sinal. — Meu Deus, não acordamos você, acordamos? — Tommy pergunta e logo depois volta sua atenção para o fogão. Meus olhos não saem da pequena mulher que está na minha frente. — Não — minto, mas Leah percebe e sorri. — E por que tanta animação a essa hora? — pergunto e me aproximo dela. — Estamos comemorando — Leah responde entregando os ovos para Tommy. — Vocês sempre estão comemorando. — Tommy conseguiu um contrato para um ensaio em


uma grande revista de moda. — O orgulho é nítido na voz dela. — Leah tem uma mania estranha de comemorar tudo — Tommy fala. — Tudo não, somente as notícias boas. — Seu sorriso ilumina a cozinha. — Esse tipo de coisa não acontece sempre, ou seja, qualquer notícia boa deve ser comemorada. — Mês passado ela fez uma festa porque cinco gatos abandonados foram adotados — Tommy fala enquanto cozinha. — Como eu disse, notícias boas precisam ser comemoradas. Aqui, Jason, você pode arrumar a mesa? — Ela me entrega alguns pratos e eu pego de bom grado. Leah age naturalmente durante todo o café “comemorativo”, conversando comigo e Tommy, ela não hesita em nenhum momento. É como se a noite passada nunca tivesse existido. E se não fosse o perfume dela ainda em meus lençóis, provavelmente, eu pensaria ter sido um sonho. Depois que Tommy vai para o quarto, ajudo Leah com a louça. Ela está usando uma regata e um short jeans que deixam todos os meus músculos tensos. Sem contar a outra parte do meu corpo que está começando a querer ficar rígida. — Vai ficar me ignorando? — pergunto quando termino de guardar os pratos.


— Não estou ignorando você, estávamos conversando agora pouco. — Não estou falando sobre isso. — E do que você está falando especificamente? — Ela enxuga as mãos e sorri. — Que tal sobre como meu pau estava enterrado profundamente em você ontem? — Seus olhos se alargam e eu me aproximo — Ou, que tal sobre como seus gemidos fizeram minha mente se perder e eu nem sequer consegui lembrar o meu nome? — Suas costas batem no balcão da pia. — Jason — meu nome sai como um aviso, que eu ignoro. — Nervosa? — pergunto. — Eu nunca fico nervosa — ela responde impertinente e minha mão vai para o peito dela, seu coração bate freneticamente. — Seu coração está acelerado. — Ele sempre está. — Seu olhar é atrevido. — Deixe-me reformular então — minha mão desce para seu short e abro o botão, em seguida o zíper desce. Minha mão vai para dentro da calcinha dela. — Desculpe, não era nervosismo, excitação? — Porra! — ela fala quando encosta a cabeça no meu peito e eu enfio um dedo dentro dela. — Excitada, com certeza. — Seus dedos apertam meu braço, e ouço seus gemidos baixos. Não vou além, retiro


meu dedo e levo até minha boca, ouço seu gemido em resposta. — Ainda vai fingir que não aconteceu nada, Leah? — Começo a fechar o botão do short dela. — Você não é um homem com quem eu arriscaria fingir alguma coisa, Jason — ela diz tentando alinhar o cabelo. — Mas? — Eu sentia que tinha um mas. — Não está certo. — Ela se afasta — O que aconteceu foi maravilhoso, mas não vai se repetir, Jason. — Poderia ter se repetido, nesse exato momento. — Eu sei, mas… — Somos adultos, Leah e até onde eu sei, solteiros. — E a Helena? — ela solta me pegando de surpresa. — O que tem ela? Vim aqui para ter uma conversa com ela, e é o que vou ter. — Jason, tem muita coisa que você… — Crianças, estou indo trabalhar. — Tommy entra na cozinha como um furacão — Alguém morreu? — Ele olha para Leah e depois me encara. — Não — falamos juntos. — Nossa, já estão falando juntos, que meigo. Me acompanha, Tink? — Tudo bem. — Vai passar o dia em casa? — Tommy pergunta. — Não sei, talvez eu trabalhe um pouco, as coisas estão começando a ficar entediantes. Tommy sorri com cautela e Leah não me olha, eles


saem do apartamento e em seguida ligo o tablet e verifico meus e-mails. Trabalho foi o que sempre me manteve focado, e agora nĂŁo seria diferente. __________ 3 - Estou cansado de tentar ser normal; sempre estou pensando demais; estou me deixando louco.


Tommy praticamente me arrasta para fora de casa, minha cabeça ainda está nas palavras de Jason, então eu saio aos tropeções. — É impressão minha ou senti uma certa tensão ali na cozinha? — ele pergunta enquanto espera o elevador. — É impressão minha ou você quer dar uma de casamenteiro? — Cruzo os braços aguardando sua resposta. — Impressão sua, Tink. — A expressão dele nem vacila, bastardo. — Você mente muito mal, Tommy. — E você esconde a sua atração muito mal, Tink, os dois fazem isso mal, para falar a verdade. — Do que você está falando? — Do jeito que você praticamente come ele com os olhos cada vez que ele aparece, ou do jeito carinhoso que ele te olha quando você está contando alguma coisa. Ping. O barulho do elevador me assusta, e Tommy apenas sorri antes de entrar na maldita coisa e me dar apenas um aceno com a mão.


Droga, será que as minhas encaradas são tão evidentes assim? Toda droga de mulher olha para ele da mesma forma, por que diabos eu seria diferente? Puxo meu celular do bolso e envio uma mensagem para Helena, é oficial, eu preciso saber quando ela volta e não vou aceitar uma enrolação como resposta. Envio a mensagem e vou para o meu apartamento. Há uma lista de artigos que preciso estudar e algumas informações sobre modificações que serão feitas no carro, e desde que meu treino de hoje foi transferido para amanhã, resta apenas ficar aqui trabalhando, ou encarando a porta do vizinho. Agir como uma psicopata nunca foi tão atraente. Ao meio-dia minha campainha toca, prendo o cabelo e vou até a porta. Minha surpresa é evidente quando olho para o meu visitante. — Gabriel — falo dando passagem, ele está segurando duas sacolas que parecem ser de algum restaurante. Meu estômago protesta com a visão, me lembrando que eu comi apenas o café da manhã. — Trouxe seu almoço — ele diz beijando meu rosto. — Não precisava. — Não me diga que já comeu? — Não comi, mas você não precisava trazer a comida, Gabriel. — Eu sei, mas precisava falar com você hoje, depois do que aconteceu ontem. — Culpa é uma cadela.


— Você já comeu? — Tento desviar o assunto e pego as sacolas. — Não, pensei que poderíamos almoçar juntos. — Seu sorriso é enorme. — Tudo bem. — Sorrio, mesmo que esteja rezando para que esse almoço dure somente o tempo necessário. Arrumo tudo na mesa e logo estamos comendo. Falar com Gabriel sempre foi fácil, temos os mesmos gostos, trabalhamos na mesma empresa, somos ambiciosos, e perfeitos na cama. Isso, até eu ter dormido com Jason. A maneira que fiquei excitada mais cedo, a forma com que ele me abordou na cozinha. O cara sabia como usar as palavras e ele testou meu raciocínio. Mas não é somente isso que me atrai, sua personalidade é singular. Um homem e um menino, brigando para ver quem fica no comando. E ao longo desses dias, seu lado menino prevaleceu, nas nossas conversas, na carona até o shopping, nada do Jason de ternos, nada do cara sério que sempre aparecia ao lado do irmão. Ele soube como esconder bem esse lado, e principalmente, nem um vestígio daquele Jason que namorou a Helena. — Você ouviu o que eu disse? — Gabriel chama minha atenção, terminamos almoço e estamos no sofá, ele estava explicando sobre as modificações nos novos motores, ou algo do tipo. — Desculpe, Gabriel, eu não estou me sentindo bem.


— Não acha melhor procurar um médico? — Seu tom é preocupado. — Não precisa, somente um descanso e vou estar nova, eu não dormi bem a noite passada, só isso. — Eu não menti, depois que saí do quarto do Jason, eu não consegui fechar os olhos. Seu olhar, seus beijos, seu toque. Era tudo tão vívido na minha mente, minha pele queimava apenas com a lembrança. — Você parece estar distraída. — Eu sei, mas vou descansar, prometo que amanhã estarei nova para o treino. — Tudo bem, essa é minha deixa para ir embora, então. — Gabriel, desculpe. — Não precisa se desculpar, Leah. Apenas descanse, e amanhã faça o seu trabalho. — Eu farei. — Eu o acompanho até o elevador, e quando as portas abrem, um Jason bastante suado me olha com curiosidade. Merda. — Boa tarde — Gabriel o cumprimenta. — Boa tarde. — Nos vemos amanhã? — Gabriel segura minha mão, eu apenas concordo com a cabeça e ele faz algo que me deixa sem chão. Gabriel beija minha boca, na frente do Jason.


Ele se afasta e entra no elevador, as portas fecham e ficamos apenas Jason e eu no corredor. Jason me olha e começa a caminhar para o apartamento do Tommy. Sua bermuda de treino e tênis me dizem que ele estava na academia. Isso e a camisa molhada de suor que gruda em cada músculo, deixando evidente aquilo que eu tanto gosto de admirar. — Jason, espera. — Ele para no meio do caminho. — Eu… você não vai falar nada? — pergunto intrigada, ele apenas me encara sério. — Não somos nada um do outro, Leah, não preciso falar nada. — Ai. — Eu sei, mas desculpe por isso. — Você não precisa se desculpar, Leah, mas se ele não sabe como foder você direito, não serei eu a fazer isso. — Agora você está sendo grosseiro. — Apenas realista. — Tudo bem, eu não deveria ter vindo falar com você. Viro com a intenção de voltar para o meu apartamento quando sinto sua mão segurar meu braço. — Qual é a sua, Leah? — ele é direto. — Qual é a minha? — O que você quer? Quer transar comigo e depois fingir que nada aconteceu, depois foder com o amigo no seu apartamento? — Jason, eu não transei com Gabriel.


— Ele não parecia muito convencido disso. — E nem você, pelo visto. — Eu não vou ser seu brinquedo das horas vagas, Leah. — Sua voz é rude e ele solta meu braço. Jason vai para o apartamento e bate a porta em seguida. Posso jurar que sinto o chão tremer com o impacto da porta.


Tento ignorar a raiva que senti quando vi aquele cara beijando a boca dela, uma boca que algumas horas atrás estava bem envolvida com a minha. Não sou do tipo sentimental, ou que explode por qualquer coisa, mas vê-la ali, sendo beijada por outro fez meus pensamentos mais loucos virem à tona. Mas quem diabos era ele afinal? Abro a geladeira em busca de uma garrafa com água, minha sede aumentou bastante desde que tive que engolir o que vi. Não gosto de competir, isso sempre foi coisa do Oliver, mas nunca estive em uma situação dessas. Para ser sincero, eu sempre estive do lado oposto. Eu era como a


Leah. Isso explica porque a maioria das mulheres me odeia, incluindo Helena. Ser tratado como um nada não é agradável, é a porra da coisa mais amarga que eu já experimentei. Deixo a garrafa em cima do balcão e saio novamente, eu sei que devo um pedido de desculpas pela forma como a tratei, e sei muito bem como fazer isso. Toco a campainha algumas vezes, cinco para ser exato. E quando penso que ela deve ter saído, a porta se abre e uma Leah com o cabelo molhado segurando uma toalha me olha assustada. — Aconteceu alguma coisa? — Ela olha para fora de um lado para o outro. — Eu preciso me desculpar com você — sou direto. — E precisava violentar minha campainha? Eu tinha acabado de entrar no banho. — fala irritada. — Vai me deixar entrar ou pretende que eu me desculpe aqui mesmo no corredor? — Ela me encara e olha em volta do apartamento, depois de parecer satisfeita com o que vê, ela se afasta e eu entro fechando a porta em seguida. — Tire a toalha — falo e ela franze a testa. — Você disse que ia se desculpar, basta falar a palavra mágica, não preciso ficar nua. — Ela cruza os braços me desafiando, eu adoro isso. Seu apartamento é grande, mas em termos de


decoração, é como se um furacão tivesse passado por aqui. Pilhas de revistas em cima da mesa de centro, alguns quadros da Frida Kahlo, gravuras de algumas mulheres importantes da história. Leah tem uma personalidade forte, e isso fica evidente pela sua sala, mesmo com a confusão de cores, tem certo charme. Mal posso esperar para ver o quarto. — Já que você não quer começar, tudo bem. — Começo retirando minha camisa e vejo quando ela segura sua toalha com mais força. — Seria legal você nos levar para o quarto, a não ser que você não se importe em usar a sala. Leah pisca algumas vezes, vira e vai em direção ao que eu acho que seja o quarto, eu a sigo tão próximo quanto consigo, sem tocar nela. — Aqui, senhor, o quarto. — Ela aponta para o cômodo. E diferente da confusão da sala, seu quarto é mais clean, as fotos na parede chamam minha atenção. São três grandes fotografias, em uma ela está dentro do carro de corrida, na outra está ao lado do carro segurando o capacete, e na seguinte, apenas o seu perfil olhando para a pista. — São lindas. — Olho impressionado. — Tommy — ela diz simplesmente como se isso fosse o suficiente para justificar tanta perfeição. Sem perceber, estou tocando a foto do perfil, seus lábios, seus olhos. Em todas, ela não olha para a câmera,


eu tenho certeza que ela não sabia que estava sendo fotografada. — Você é linda, Leah — digo sem tirar os olhos da fotografia. — Obrigada. — Ela parece constrangida, saio do meu transe e observo a figura real. Ela está ao meu lado, ainda segurando a toalha, mas não com a mesma força de antes. — Ainda vai segurar a toalha? — E se eu quiser mantê-la? — Não vou insistir, eu quero se você quiser. — Mesmo sabendo que é errado? — A não ser que aquele cara seja o seu namorado, não vejo nada de errado com o que vamos fazer agora. — Ele não é meu namorado. — Bom. Então? — Jason, vamos manter isso no quarto, ok? Eu não sei lidar com crises de ciúmes. — Sua resposta me faz sorrir. — Não era crise de ciúmes, Leah. — Não era? — Nem de longe — chego mais perto dela e abro a toalha —, mas, eu não sou tolo, muito menos gosto de dividir. — Egoísta, então? — Tento me concentrar no que ela diz, mas seus seios são chamativos demais para eu formar qualquer resposta coerente. — Talvez. — Passo o dedo ao redor do mamilo, Leah não tira os olhos dos meus, e eu me concentro nas reações


do corpo dela. Seu mamilo enrijece ao meu toque, fazendo meu pau se contorcer. Se ele falasse, provavelmente estaria implorando pela mão dela ao seu redor, ou a boca. Ah… com certeza a boca. — O que houve com aquele cara descontraído? — Seu sorriso é travesso. — Ah ele está aqui, mas ele também adorou transar com você. — Meu dedo passeia pelo espaço entre os seios dela. — E ele quer repetir isso. — Por quanto tempo? — O tempo que quisermos. Agora, vá para a cama. Leah obedece e eu praticamente rosno em resposta. Tiro os tênis e short em seguida, eu ainda estou suado do treino, mas pela forma como seus olhos percorrem meu corpo, ela parece não se importar. — Vire de costas. — Ela apenas ergue uma sobrancelha, mas não fala nada. Toco meu pau com a visão da bunda dela empinada, sua cabeça encostada no travesseiro. — Você tem noção das coisas que estão passando pela minha cabeça agora, Leah? — Espero que sejam quais as posições que você irá me comer, Jason. Jesus, eu amo essa boca suja. — Ah querida, eu só espero que você não tenha nada programado para o resto da tarde.


Eu me posiciono de joelhos na cama, e seguro seus quadris, Leah empina ainda mais o corpo quando sente meu pau brincando com seu clitóris. Eu ainda não coloquei a camisinha, então, a sensação de sentir a pele dela é indescritível. — Isso é algum tipo de tortura? — ela pergunta gemendo como uma gata. Meu pau esfrega na sua entrada, ela já está excitada o suficiente, o que torna isso bem mais fácil. — Garanto a você que estou sofrendo muito mais aqui. — Pare de sofrer, então — sua voz sai rouca e tira o pouco de controle que eu ainda tinha. Seguro o cabelo dela, elevando seu corpo; ela também está de joelhos na cama, eu a posiciono com o corpo colado na cabeceira. — Preservativo? — pergunto olhando em volta, eu não tenho nenhuma escondida na roupa da academia. — Gaveta. — Ela aponta para o criado-mudo ao lado da cama e eu a encontro facilmente. Quando o preservativo está no lugar, meu peito pressiona suas costas e ela ofega, ela é mais baixa do que eu, mesmo assim estou determinado a não mudar de posição. Entro nela por trás, segurando seu cabelo com uma das mãos, seu seio com a outra. A cada estocada ela geme mais alto, e a cada estocada eu sei que penetro mais fundo. — Diga se estiver sendo demais. — Mordo sua orelha


e ouço mais um gemido. Então, eu não me seguro, meu aperto no seu cabelo fica mais forte e minhas estocadas mais rápidas, Leah grita quando aperto seu seio na minha mão. Ela acompanha o ritmo e entro cada vez mais fundo. As mãos dela segurando a cabeceira da cama mantêm nosso equilíbrio. Meu corpo está irracional, sem freio. — Puta merda — falo, mas tenho certeza que ela não me ouve, porque eu sinto seus músculos apertarem em volta do meu pau. — Grite meu nome — ordeno quando começo a acelerar mais o ritmo. O corpo dela se eleva um pouco na última estocada eu gozo ouvindo-a gritar meu nome. Envolvo um braço na sua cintura, e sento na cama com ela no meu colo, e eu ainda estou dentro dela. Meu peito está suado e grudento, isso é irrelevante, pois as costas dela estão grudadas nele, e nossa respiração está na mesma sintonia. Leah não fala nada, mas sua cabeça está encostada no meu ombro. — Tudo bem aí? — Uhum — é só o que ela diz, seus olhos estão fechados. — Esperava ganhar mais do que um uhum. — Tiro o cabelo que está grudado na sua testa. — Quando eu conseguir formar alguma frase eu falo. — Seus olhos ainda estão fechados e percebo o quanto ela é atraente.


— Já disse que você é linda? — Uhum. — Ela sorri. Beijo o topo da sua cabeça. — Hora do banho? — Acho que vou precisar de ajuda. — Sorrio e ajudoa a se levantar. — O banheiro é ali. — Ela aponta para uma porta, vou até lá e retiro o preservativo jogando no lixo em seguida. Volto para o quarto e a encontro esparramada na cama. É uma bela visão, deitada abraçada a um travesseiro, sua bunda à mostra para minha apreciação. Eu sempre apreciei mulheres com curvas, e Leah é a perfeição, pequena e com curvas tão perigosas quanto as que ela deve correr. E isso para um homem é uma perdição. — Ei moça, que tal um banho? — Toco no seu cabelo e ela apenas geme em resposta.


Estou sendo carregada para o banheiro por Jason Willers. Um Jason Willers nu, diga-se de passagem. E isso é tão bom, é o céu, para falar a verdade. Devo ter cochilado quando ele foi ao banheiro, porque a última coisa que me lembro é ele me chamando para um banho, minha resposta foi algo como: dane-se o banho, mas acho que minha boca e meu cérebro estavam desconectados e o que saiu foram apenas gemidos. Parece ser a única coisa que Jason consegue arrancar de mim, gemidos, muitos deles. E talvez alguns gritos. Nada do que saía sobre ele na mídia poderia ser verdade, o contido, sério e responsável dos irmãos Willers era um puta pervertido na cama. Ele faz meu mundo tremer. E o que acabou de acontecer? — Sexo — ele responde a minha pergunta enquanto lava meu cabelo. Sim, estamos dentro da minha banheira, e Jason está sentado atrás de mim, e lavando meus cabelos. Então, percebo que minha pergunta saiu em voz alta. — Desculpe. — Sorrio com a gafe.


— Não há nada demais em gostar do que acabamos de fazer, Leah. — Não foi isso que eu quis dizer. — Gemo quando seus dedos massageiam meu couro cabeludo. — Mas age como se fôssemos ser flagrados pelo seu pai com uma pistola a qualquer momento. — Acredite, meu pai pouco se importa com quem eu transo. — Eu não acredito nisso. — Ah sim, a filha rebelde, lembra? Eu contei isso. — Sinto seu corpo ficar tenso. — Ok, mudança de assunto, o que você vai fazer amanhã? — O que eu tenho feito desde quando eu cheguei? — Nada? — pergunto. — Exatamente. — Sua afirmação faz uma pontada de culpa se instalar no meu peito, Jason está aqui esperando para falar com Helena, apenas isso. — O que você acha de sairmos mais tarde? — ele pergunta me pegando de surpresa. — Não dá, tenho treino amanhã cedo. — Minha alegria se esvai. — E por que você quer saber sobre os meus planos para amanhã? — Pretendia convidar você para ir assistir ao treino. — Pretendia? — Ele para de massagear e nos reorganizamos na banheira. Ela não é muito grande, mas, pelo menos, não ficamos desconfortáveis.


— Gostaria? — pergunto indecisa, estamos de frente um para o outro e a Leah corajosa resolveu dar lugar para a Leah indecisa. De onde saiu essa mulher? E por que ela tem vontade que ele a veja correr? — Eu não tenho nada melhor para fazer, então. — Ele dá de ombros. — Nossa, você é ótimo em motivar pessoas. — Jogo um pouco de espuma nele. — Estou brincando, irei com prazer. Meu sorriso se expande e a indecisa Leah dá lugar para uma Leah ansiosa. E eu não gosto nenhum pouco dessas novas Leahs. O que era para ser somente um momento de sexo, se estende até o meio da noite. Jason e eu acabamos dormindo pelo resto da tarde e pedimos pizza para o jantar. Conversar com ele dá a impressão de que todos os problemas viram fumaça. Seu sorriso e a forma apaixonada com que ele fala do trabalho e do irmão só provam o quanto ele é especial. Quando ele vai embora, finalmente fico com meus pensamentos. Pela forma carinhosa que ele mencionou Oliver e a possível cunhada Bree, Helena não conseguiu destruir a relação dos dois. Ele também não tocou no nome dela, o que na verdade não me surpreende. Jason quase nunca toca no nome da Helena.


Com a lembrança do nome dela, pego meu celular e verifico as mensagens, ela não me respondeu a última, mas visualizou. A vaca e a sua mania irritante de responder só quando tem vontade. Eu deveria ter dado uns bons socos nela quando tive oportunidade. Quando, enfim, fecho os olhos, percebo que minha vida foi de: quero passar no teste para piloto, para: quero passar mais tempo com Jason Willers. Acordo às cinco da manhã, meu corpo ainda está dolorido do sexo de ontem. Antes de ir embora, Jason me garantiu mais um orgasmo e me prometeu que estaria hoje no treino. Ele iria com Tommy e me encontrariam lá. Às oito em ponto, já estava no box para o início de uma reunião. Gabriel estava lá, e me tratou como de costume. Aqui éramos colegas de trabalho, e não misturávamos as coisas. — Espero que você dê o seu melhor hoje, Leah — ele diz quando finalizamos. — Eu vou dar. — Alguns patrocinadores assistirão, é uma boa chance para você. Caso não consiga a vaga de piloto, ainda pode colher bons frutos. — Eu vou conseguir essa vaga, Gabriel — falo fechando meu macacão. — Eu sei que vai. Essa é minha garota. — Ele sorri e me entrega o capacete.


Quando estou colocando, meu sorriso se expande, e vejo Jason e Tommy, eles estão próximos, e não sei por quanto tempo estão esperando. — Garota dele? — Tommy diz com desdém quando Gabriel se afasta. — É só uma maneira de falar, Tommy, não precisa fazer drama. — Não estou fazendo drama, apenas não gosto do Gabriel. — Sim, isso não é nenhuma novidade, Tommy na verdade odeia Gabe, e acho que está diminuindo esse ódio por educação, já que Jason está aqui. Ele não para de me olhar desde o momento que percebo sua presença. Não menciona Gabriel. Mas seus olhos, ah, eles dizem tudo. — Que bom que veio. — Sou sincera, ele se aproxima e em vez de falar, Jason me beija. Não é um beijo possessivo, ou depravado. É um beijo suave, gentil. Um beijo que diz que ele está aqui. Meu coração desmorona com esse beijo. — Acho que alguém vai ter que rever o significado da palavra minha — Tommy diz sorrindo e olha na direção de Gabe. Jason apenas pisca e sai do box com Tommy, olho em volta e todos estão me encarando. As mulheres sorriem feito bobas, os caras fingem que não viram nada, mas Gabriel, não há confusão nos seus olhos, há entendimento. Coloco o capacete e vou para a pista, ignoro a


presença de Jason e tento tirá-lo dos meus pensamentos. Mesmo que meus lábios ainda estejam quentes por causa do beijo, minha concentração está toda na pista. É apenas um treino, mas meu coração diz que vai ser muito mais do que isso. Trinta voltas, esse é o total de hoje. E eu chego em primeiro lugar. Minha equipe está vibrando, até mesmo Gabriel. Quando paro o carro ele é o primeiro que vem me parabenizar. — Ah garota, essa vai ser a nossa temporada. — Suas palavras me fazem sorrir. É exatamente isso que eu quero. — Esse é o plano — respondo entregando meu capacete. — Então, aquele cara é o motivo de você ter me parado na outra noite? — Gabriel pergunta quando andamos para o box. — Gabe, Jason é meu amigo. — Ele me olha, em seguida olha para onde Tommy e Jason estão. — Melhores amigos pelo que eu vi. — Fico sem saber como responder, logo somos cercados por toda equipe. Só consigo me desvencilhar de todos uma hora depois, Gabriel fica conversando com alguns patrocinadores, que estão bastante impressionados com meu desempenho, mas minha vontade é chegar a Tommy e Jason. Encontro os dois conversando em uma lanchonete. — Olha só, os senhores saudáveis estão no fast food?


— zombo puxando uma cadeira. — Tink, você foi perfeita. Quase me matou do coração, mas foi perfeita — Tommy fala entre uma mordida e outra. — Obrigada. — Ele tem razão, não tinha ninguém melhor do que você naquela pista, Leah. — Jason pega minha mão e a beija. — É para isso que estou aqui — digo, mas toda minha alegria se esvai quando o conhecimento de tudo que eu fiz me atinge. Tudo o que eu sempre quis foi essa chance, e não medi as consequências para conseguir. Certo e errado? Não para mim, não para alcançar meu sonho. E agora, Jason me olha orgulhoso, sua mão segurando a minha com firmeza, e eu estou me sentindo um lixo. Disfarço ao máximo meu mal-estar, Tommy é uma excelente distração, ele tagarela o tempo todo com Jason, e isso me tira do centro da conversa. Helena me enviou uma mensagem mais cedo, mas eu ignorei, mesmo assim ainda não é hora de responder. Se a vadia mimada pode me ignorar, eu também posso. — Jason, e Helena? Tem falado com ela? Pensando no diabo. Penso comigo mesma quando Tommy faz a pergunta para Jason, estamos indo para o estacionamento, Tommy e Jason vieram de táxi, então vamos todos juntos no meu carro.


— Falei com ela ontem à noite. — Isso chama minha atenção. — Que horas? — a pergunta sai antes que eu possa impedir, Jason saiu tarde da minha casa, foi depois disso que ele falou com ela? Qual era a porra do fuso horário em Paris mesmo? — Logo depois que saí do seu apartamento. — Ótimo, isso chama a atenção do Tommy. — Vocês estão se pegando escondido? — Não — falamos ao mesmo tempo. — Já falei que isso é fofo, não é? — Tommy sorri. — Não estamos nos pegando — digo para ele. — Estamos aproveitando o tempo — Jason diz e me olha, ele espera que eu responda alguma coisa, mas decido não falar nada, ignoro as piadas de Tommy durante o trajeto, Jason também, já que fica o tempo todo no celular. Meu volante e a música nos alto-falantes são bemvindos. — Quais são os planos? — pergunto para Tommy e Jason quando estaciono o carro. — Sou todo seu, Tink — Tommy responde. — Tenho trabalho para fazer, chegaram alguns contratos novos e Oliver quer que eu dê uma olhada antes — Jason fala enquanto esperamos o elevador. Uma parte de mim fica decepcionada, outra parte deseja ficar a sós com Tommy. — Tudo bem, nos vemos no almoço? — pergunto


distraída. — Conte com isso. — Jason beija meus lábios antes de seguir para o apartamento do Tommy, é como se do nada fôssemos um casal. — Rápido demais? — Tommy fala exatamente o que estou pensando. — Talvez — minto. — Ah Tink, você pode enganar qualquer um, mas eu sei que você quer fugir para as montanhas. — Não quero fugir. — Abro a porta do meu apartamento. — Então, por que você está com essa cara de dor de barriga? Eu sei que você não consegue ficar muito tempo no mesmo ambiente do cara com quem está saindo. Você vai para cama com eles, e logo em seguida os despacha. — Não é nada disso, Tommy, Jason é diferente. — Diferente? Eu preciso me sentar? — Como meu amigo é dramático. — Vem, eu preciso contar algumas coisas. Tommy me olha assustado, eu sei que ele acha que estou com receio dessa atitude repentina do Jason, na verdade, eu estou um pouco, mas não é isso que me apavora. Meu objetivo sempre foi muito bem traçado, e ter um relacionamento nunca esteve nos planos, Gabriel sabe disso, por isso é fácil de lidar, e eu sei que Jason só está aqui de passagem, mas eu sinto que não será uma estadia


tranquila. A tempestade está chegando, e ela tem um nome: Helena. É a merda do efeito colateral. — Então, o que você tem de tão assustador para contar? — Tommy está sentado confortavelmente no sofá. — Jason ainda não sabe que Helena e eu somos irmãs. — Eu meio que já tinha percebido isso, Tink, mas e daí? Metade do seu círculo de amizade não sabe, vocês duas não são as melhores amigas. — Jason foi namorado da Helena, Tommy. — Isso também é meio óbvio, o cara está aqui esse tempo todo esperando-a voltar. Ou é um ex, ou um traficante cobrando alguma dívida. Prefiro sempre pensar na primeira opção. — Não consigo conter o sorriso. — Ele é o pai do filho dela. — Vejo os olhos do meu amigo se alargarem, muito. Ele pisca algumas vezes e eu sei o que ele está tentando fazer. — Onde você quer chegar com isso, Leah? — Ele vai ficar uma fera quando souber quem eu sou — digo derrotada. — E vai ficar ainda mais quando souber o que eu fiz, Tommy. — E o quê, exatamente, você fez? Olho para o meu amigo por alguns segundos, meu celular vibra avisando que tenho uma chamada. Olho o visor e o nome da Helena é o que aparece na tela. Deixo o telefone de lado e decido falar tudo que estou escondendo.


Tommy é meu melhor amigo, mas ninguém além da minha família sabe o que realmente aconteceu. Meia hora depois eu tenho um Tommy muito calado, duas chamadas perdidas da Helena, e um monte de vergonha acumulada. — Ele vai ficar uma fera com você — meu amigo diz. — Porra, eu estou uma fera com você, Tink. — Eu sei, Tommy, me desculpe. — Isso é… — engulo em seco — baixo. Muito baixo, Leah. — Tommy tem razão, e agora eu nem consigo olhar em seus olhos. — Eu agarrei a primeira chance que eu tive, Tommy. — Tento me defender — Era meu sonho. — Eu sei, ninguém melhor do que eu sabe o que é correr atrás de um sonho, Leah, mas o que você fez, é repugnante. — Sei disso. — Cruzo minhas mãos com nervosismo. — Mas, eu sou seu amigo e a última pessoa que poderia te julgar. Só que você tem que contar para o Jason, sabe disso, não é? — Eu sei. — Tem que contar tudo, Leah, não só que você é a irmã da Helena. — Ela não vai dizer nada. — Ela não vai, mas você sim. Prometa que você vai contar para ele? — Tommy… — gemo.


— Prometa, Tink. Aquele cara é um homem bom, e eu sei que ele gosta de você, e você também gosta dele, ou não estaria tão arrasada só com o simples pensamento de ele descobrir tudo. — Ele é… diferente, acho. — Como? — Diferente do tipo que eu tive vontade de vê-lo acordar — conto para Tommy o que está me incomodando. Na primeira noite em que transamos, senti algo novo. Vontade de dormir com alguém. Eu queria me enrolar nos braços do Jason até adormecer. Queria sentir sua respiração acalmar até que ele pegasse no sono. Eu queria observá-lo abrir os olhos ao acordar. Eu queria mais do que uma noite com Jason Willers. — Eu preciso de um tempo — digo para Tommy, estou deitada no sofá com a cabeça no colo dele. — Aproveite enquanto a vaca da sua irmã ainda está viajando, mas converse com ele antes dela chegar. Você sabe que a versão dela vai deixar muito livro do Nicholas Sparks no chinelo. — Vou fazer isso, obrigada por me ouvir, Tommy. — Abraço suas pernas. — Sempre aqui, Leah. Tommy continua afagando meus cabelos e eu esqueço meus problemas por alguns minutos.


Desde que consigo me lembrar, sempre adorei esportes. Oliver e eu costumávamos assistir a muitos jogos, mas corridas de carro, eu nunca tinha presenciado ao vivo. E porra, foi emocionante. O barulho dos carros na pista, a velocidade com que passavam, não era possível distingui-los. Completamente diferente do que assistimos na TV. Ver Leah correr foi apenas a cereja no topo do bolo. Ela estava linda e gostosa demais naquele macacão. Não consegui conter a vontade de beijá-la. E eu, provavelmente, não vou conseguir conter o desejo de pedir que ela use aquele uniforme quando estivermos no


quarto. Enquanto ela e Tommy estão no apartamento dela, vou para o meu quarto para ler alguns contratos novos do Oliver. Meu irmão tem um agente, mas tudo passa por mim, mesmo que Oliver dê a palavra final, ele sempre me ouve. Ele é meu ídolo, mas eu sou o seu braço direito. E por ele ser meu ídolo, estou sentado há algumas horas relendo sobre uma proposta de contrato com uma famosa marca esportiva. É um contrato vitalício, algo raro hoje em dia, dado somente para atletas de ponta. Meu peito infla de tanto orgulho. Esse é o meu irmão, foi para isso que ele treinou. Todo foco, disciplina, ele é um exemplo a ser seguido no boxe. Mesmo com alguns tropeços, sua carreira é nada menos que brilhante. — Ei, cara, como estão as coisas? — pergunto assim que ele atende. — Acho que você pode me chamar de expert em desenhos animados com pôneis — ele diz, e consigo ouvir uma risada ao fundo. Bree, eu suponho. — Você pediu isso, agora aguenta, papai. — Não estou reclamando. — Eu sei que não está. Ouça, estou com o contrato daquela marca esportiva aqui. — O vitalício? — Sim, esse mesmo.


— O que você achou? — Sinceramente? Regras demais, Oliver. — Eu sei — ele diz, era um excelente contrato, mas vinha amarrado a tantas cláusulas que não tenho certeza se Oliver poderia cumprir. — A não ser que você esteja disposto a virar um monge. Talvez funcione. — Em breve eu serei um cara casado e com uma filha, isso deve ser melhor que um monge. — Casado? Você a pediu em casamento? — pergunto curioso. — Ainda não. Mas vou pedir, ela vai aceitar, fim da luta. — Nunca duvidei da sua persistência. — Deixo o contrato na cama e vou até a cozinha. — E você? Como estão as coisas? — Tudo bem. — Minha voz sai mais animada do que eu gostaria. — Pela animação você já conversou com a Helena — ele não pergunta. — Não, ela ainda não voltou. — Então, você está saindo com alguém? — Você vai dar uma de pai agora? — Eu sou seu irmão mais velho, em algum momento eu preciso assumir as rédeas. — Oliver, você não consegue controlar nem o seu saldo bancário.


— Tem razão, mas ainda posso derrubar você, irmãozinho. Sorrio para sua ameaça, Oliver tenta descobrir quem é a mulher que estou saindo, mas não consegue muita coisa, a não ser a profissão. E assim como eu, ele fica impressionado. Conversamos mais sobre o contrato, e decidimos resolver quando eu voltar para casa. Quando desligo, noto uma mensagem de Tommy avisando que pediram o almoço e que estão me esperando. Agradeço por isso, meu estômago ronca com a menção de comida. Tomo uma chuveirada rápida e logo estou no apartamento da Leah. Nosso almoço é tranquilo, acompanhado de muita conversa, principalmente da parte do Tommy, o cara parece ser uma máquina de produzir assunto. É interminável. Oliver iria detestá-lo, penso. Leah está um pouco distante. Sorri quando necessário, responde quando solicitada, mas seus olhos não estão como antes. Não vejo aquele brilho, que é praticamente sua marca registrada. — Você não quer me acompanhar em uma sessão no final da tarde? — Tommy pergunta. Eu olho para Leah e imediatamente sei a resposta. — Acho que vou ficar por aqui. — Por aqui, você quer dizer aqui — ele aponta para o chão —, ou por aqui no meu apartamento? — sua pergunta


me faz sorrir. — Responde você, Leah. — pergunto para Leah. — Eu? — ela responde assustada. — Nossa, era muito melhor quando vocês se pegavam escondido. Vou indo. Tommy se despede e Leah começa a tirar os pratos. Ela não fala nada e isso me incomoda. — Qual o problema? — Pego meu prato e levo para pia. — Apenas cansada. — Quer que eu vá embora? — Não — ela não hesita — Topa assistir a um filme? — mesmo sem o brilho nos olhos eu sei que seu convite é sincero. — Tudo bem. Ajudo Leah com a louça e em seguida vamos para o quarto. Ela ajusta a TV e deita ao meu lado na cama. — Eu tenho direito de escolha? — pergunto quando ela começa a passar pela lista de filmes. — Acho que não, minha casa, minha cama, minha TV. — Isso pode ter volta, sabia? — E como você pretende fazer isso? — ela me desafia. — Convidando você para minha casa. — Sua casa? Em Seattle? — Sim, você pode ir me visitar, não existe nenhuma lei que proíba isso.


— Eu… — Leah, é só um convite. Se você quiser me visitar um dia, eu vou receber você. — Eu sei disso. — Não parece, você ficou branca. — É só o cansaço — ela se justifica, mas eu não acredito. Ela coloca em um filme de ação, que tenho certeza que foi escolhido de forma aleatória, estendo meu braço trazendo seu corpo mais para perto. Não demora muito para que ela esteja praticamente com o corpo grudado ao meu. As pernas dela estão entrelaçadas nas minhas, sua cabeça está descansando no meu peito, e seu braço me envolve. É meio apertado, mas é uma sensação maravilhosa, uma sensação que eu nunca tive vontade de ter. Adormeço no meio do filme e quando acordo, Leah está na mesma posição. Saio da cama devagar para não acordá-la e vou até o banheiro. Quando saio olho meu celular e uma mensagem me chama a atenção. Helena: Acho que vou chegar antes do previsto. Helena: Você ainda está em Los Angeles? Helena: Mando uma mensagem assim que souber melhor sobre a data. Respondo em seguida.


Jason: Ainda em LA, aguardo a sua mensagem. — Você não se desliga nunca desse celular? — A voz de Leah me assusta. — Era Helena. — O que ela queria? — Apenas dizer que vai voltar antes do previsto. — Certo. — Você vai me dizer qual é o problema? — Sento na cama. — Você topa ir comigo a um lugar? — ela muda de assunto. — E nesse lugar você vai me contar por que está assim? — Você não vai desistir, não é? — Não até ver o que eu tanto gosto. — E o que seria isso? — Seus olhos brilhando. Leah sorri, dessa vez um sorriso de verdade. Ele dá vida ao seu rosto. — Você tem meia hora para trocar de roupa e me encontrar no estacionamento, Jason Willers. — A senhorita é quem manda. Beijo sua boca. Ela corresponde de imediato. Sua mão na minha nuca, pressionando o suficiente para me manter ali. — Meia hora — ela fala quebrando nosso beijo. — Eu vou terminar o que eu comecei.


— Eu nunca duvidaria disso — ela diz antes de eu fechar a porta do quarto. Como combinado, em meia hora estou encostado no carro na garagem esperando a Leah, para variar, ela ainda atrasa dez minutos. — Porque você estipula um horário se não vai cumprir? — Aponto para o relógio assim que ela aparece na garagem. — Desculpe, estava em uma ligação com a minha mãe. — Momento tenso? — Todos os momentos com a minha família são tensos, nada que eu já não esteja acostumada. E seu irmão? Tem falado com ele? — Leah destrava as portas. — Falei com ele mais cedo, está bastante ocupado com a nova função de pai. — Deve ser interessante. — Ela liga o carro. — Oliver merece esse momento. — E você? Não merece? — Leah vira o rosto e me olha. — Eu não sei, mas estou determinado a descobrir. Ela não fala mais nada, o som é ligado e logo estamos na rua. Leah não fala durante todo o trajeto, porém, logo eu reconheço. — O que vamos fazer aqui? — Você já gritou, Jason? — Que tipo de pergunta é essa? Claro que já. — Leah estaciona o carro e desliga o motor.


— Estou perguntando se você já gritou, não um grito qualquer, mas aquele grito que vem do fundo da sua garganta, o tipo de grito que serve para extravasar. Seus medos, desejos, frustrações. Esse tipo de grito. — Acho que não. — Ela abre a porta do carro e eu a sigo — O que vamos fazer aqui? — Eu vou fazer você gritar, Jason. Leah aponta para um carro que está parado na entrada da pista. Não é o carro que ela corre, é um modelo parecido com o da Stock Car, com dois lugares. Merda. — Isso é alguma piada? Você vai nos matar. — Confia em mim, ok? Eu não acreditei nas palavras que saíram da minha boca logo em seguida, creio que até ela duvidou. Mas, aqui estou, sentado no banco do carona de um carro de corrida, com uma pista à nossa disposição, exceto por um detalhe. Está escuro, apenas o farol do carro ilumina o trajeto. Mesmo assim, aquele olhar determinado é suficiente para me fazer confiar. — Pronto? — Ela sorri. — Não? — respondo e seu sorriso se amplia. O motor começa a surgir para vida, Leah ajusta o farol, passa a marcha do carro e logo ele está se movendo. Corrigindo, o carro está voando. No sentido literal da palavra. 100, 110, 240 km/h… Estamos rápidos demais, o chão


parece ter sumido, e eu não sei como ela consegue dirigir com tão pouca luz. Então, quando ela faz a terceira curva, seu objetivo é alcançado. Estou gritando. Em plenos pulmões. Pânico, alívio, raiva, frustração. Tudo saindo em forma de estrondo. É tão estranho, minha vida era fácil, simples. Era só seguir as regras, e agora eu estou em um carro com uma mulher, que é quase uma estranha, gritando tudo que está acumulado dentro de mim. Raiva do meu pai. Raiva da Helena. Raiva do meu irmão. Sentimentos que eu julgava superados, mas não. Eles estavam escondidos, prontos para me sufocar. — Tudo bem com você? — Leah me olha apreensiva, ela completa duas voltas e agora estamos no meio do trajeto do que seria a terceira volta. — Acho que nunca estive melhor. — Isso é bom. Viro o rosto para olhar em seus olhos, ela me olha com tanta intensidade que não resisto, libero o cinto e seguro seu rosto com as duas mãos. — Leah, você me fez gritar. — Eu sou boa nisso. — Não, você não está entendendo. Eu realmente gritei. — Era essa a intenção, não era? — Seus olhos


brilham divertidos. Ah, o brilho, aquela faísca está lá. — Estamos sozinhos aqui? — pergunto sem tirar as mãos do seu rosto. — Sim. — Então, vai ser a minha vez de fazer você gritar. Saia do carro. — Ela obedece, suas mãos tremem quando ela tenta liberar o cinto de segurança e eu ajudo. — Você sabe que o capô está quente, não é? — Olho o carro e avalio as minhas possibilidades. — Sempre temos a lateral. —Leah sorri e pressiono-a na porta. — Você não deveria ter vindo com esse jeans. — Começo abrindo sua calça, ela sorri com a cena. — E você também. Tiro seu tênis, o jeans e a calcinha e jogo dentro do carro, ela me ajuda retirando a blusa, e fica apenas de sutiã. Ajoelho na sua frente, pego uma perna e coloco sobre meu ombro. — Apoie-se. — Leah se apoia na lateral do carro e eu começo a lambê-la. Ela geme alto quando minha língua toca seu clitóris. O vazio da pista faz com que o som do seu gemido fique mais alto, e isso me excita. A cada toque da minha língua o corpo dela responde, seu quadril movimenta devagar, implorando por algo a mais. Enfio um dedo ao mesmo tempo em que minha língua trabalha, ela vai ficando cada vez mais molhada, e eu praticamente posso beber cada gota que vem dela. Leah


geme e rebola devagar, meu dedo entra e sai no mesmo ritmo da minha língua e quando sei que ela está chegando perto, eu paro. Retiro sua perna do meu ombro e pego um preservativo na carteira, não tenho tempo para tirar a roupa, abro meu jeans descendo apenas o suficiente. — A camisa, tira, Jason. — Coloco o preservativo e obedeço, eu sei que ela quer me tocar e eu deixo, aproximando meu corpo do dela. Leah passa a mão pelo meu abdômen, ela explora meus mamilos, testando minhas reações, meu pau pulsa cada vez que ela arranha. — Vire-se. — Ela vira e se empina. Eu a penetro com força. Leah grita, e um sorriso surge no meu rosto. — Minha vez de fazer você gritar — falo no ouvido dela. — Jason… — O quê? — Saio do corpo dela. — Faça-me gritar. — Será um prazer. Seguro sua bunda com as mãos e ajusto o ângulo. Entro nela sem pressa, devagar e quando ela começa a rebolar, eu faço o que ela me pediu. Leah grita cada vez que eu a penetro, uma, duas, três vezes. Cada vez mais forte que a outra, cada grito maior que o outro, até que o grito dela se une ao meu e estamos gozando juntos no meio


de uma pista de corrida escura. — Você fica linda depois de um orgasmo. — Beijo seu rosto depois de ajudá-la a se vestir. — E você está adorando ter sido a causa dele. — Eu não vou mentir. — Pisco para ela e dou a volta no carro. Dessa vez eu vou no banco do motorista, Leah diz que perdeu temporariamente as habilidades de andar, o que me faz rir ainda mais. Deixamos o veículo no mesmo lugar, em seguida vamos para o apartamento. Ela me deixa dirigir o carro, depois de muita insistência, mas relaxa quando percebe que seu carro está em boas mãos. — Você quer que eu peça nosso jantar? — pergunto quando chegamos ao prédio. — Qual a chance de você pedir um hambúrguer? — Zero. — Droga. — Ela faz bico. — Mas deixo você pedir uma sobremesa. — Pisco e saímos do carro. — Nossa, você deveria me carregar, sabia? Acho que descobri músculos inexistentes no meu corpo. — Será um prazer senhorita. — Pego-a e jogo por cima do ombro, Leah grita e bate nas minhas costas. — Você não poderia me carregar de um jeito mais delicado? — Ela começa a rir. — Você não é delicada. — Bato na sua bunda e ela protesta.


Ainda estou com ela no ombro quando entramos no elevador. Uma senhora entra e Leah não consegue se conter, ela sorri histericamente quando a senhora sugere que não temos mais idade para esse tipo de brincadeira. — Ai meu Deus, Jason — ela fala com dificuldade. — Quieta, mulher, sou eu que mando. — Bato novamente na bunda dela. — Aiiii. Isso doeu sabia? — Ela bate na minha mão. — Leah, se continuar me batendo assim, prometo que amanhã vou levar seu café na cama, porque você não vai nem conseguir sair dela. Leah explode em uma risada, a porta do elevador se abre, então eu vou em direção ao apartamento dela. Quando estou chegando perto, eu congelo. Na minha frente, há uma mulher fechando a porta do apartamento da frente do da Leah, o apartamento da Helena. E quando ela vira e nos vê, meu estômago revira. Ela me olha da cabeça aos pés. — Jason, você vai me pôr no chão? — Leah pergunta ainda sorrindo. — Jason? — a mulher pergunta. — Helena — não estou perguntando, ela pode estar um pouco mudada, mas nunca seria incapaz de reconhecêla. Sinto o corpo da Leah enrijecer e a coloco no chão, ela tira o cabelo do rosto e olha para Helena.


— Leah? — Helena parece confusa. — Isso é algum tipo de piada? Alguma vingança idiota? Olho por olho? — Do que você está falando? — pergunto. — De você, Jason, com a minha irmã. — Helena cruza os braços e eu perco a fala.


Jason me coloca no chão e eu mal posso acreditar nos meus olhos. Quando éramos crianças, Helena sempre foi minha heroína. Minha irmã sempre foi a garota popular que todos amavam. Meus pais estavam orgulhosos, ela estava brilhando em sua carreira de modelo, e logo seria uma esposa troféu de um herdeiro milionário, filho de algum dos sócios do meu pai. Foi para isso que fomos criadas, as filhas perfeitas. Pena que eu nunca quis ser assim. Jason fica atônito, e eu não devia estar muito diferente. Helena está bem ali, na nossa frente, nos encarando, como se não fôssemos dignos da sua atenção. — Jason, eu… — Acho melhor não falar nada agora Leah — ele me interrompe. — Precisamos conversar. — Sim — ele vira e me encara —, mas antes eu vou fazer aquilo que estou esperando faz um bom tempo. Ele vira e olha para a minha irmã, ela está de tirar o fôlego, sua postura não vacila nenhum instante, o que não é novidade.


— Antes que você me acuse de alguma coisa, Jason, eu acabei de chegar — ela se defende. — Vamos acabar logo com isso. — Jason se afasta e vai na direção dela. — Falamos depois, Leah — Helena fala e abre a porta para Jason entrar. Ele nem olha para trás, e isso dói mais do que eu imaginava. Helena entra logo em seguida e eu fico sozinha no corredor. Sem mais ter a quem recorrer, pego o celular e ligo para Tommy. — Oi, Tink — ele atende e sua alegria, pela primeira vez, não me atinge. — Tommy… eu… — Começo a chorar — Ah merda, estou chegando. Desligo o telefone e vou para o meu apartamento, não consigo olhar para onde eles entraram, dói demais saber que no final, é com ela que ele quer ficar. Que cara não ia querer isso? Ela foi namorada dele, eles têm um passado juntos, e eu sou apenas a irmã mais nova e mentirosa. Estou sentada no sofá quando Tommy chega, ele não fala nada, apenas senta ao meu lado e me abraça. E nesse momento, um abraço é tudo que eu preciso. Minutos, ou talvez horas passam, e eu ainda não tive coragem de abrir a boca, estou deitada no sofá quando Tommy traz uma caneca com café. — Como ele reagiu? — ele pergunta assim que pego a caneca da sua mão.


— Eu não tive tempo de contar, Helena chegou. — Você sabe que ela só vai contar o que for conveniente, Leah, você vai ter que contar tudo. — Eu sei, Tommy, e também sei que ele não vai me perdoar. — Você não pode afirmar isso. — Eu vi a raiva nos olhos dele, e não era raiva da Helena, era raiva de mim. — Tomo um pouco do café. — Eles estão no apartamento dela? — Sim, e não tenho ideia do que está acontecendo. — Você precisa deixá-lo resolver as coisas com ela primeiro, só depois ele terá cabeça para conversar com você, Leah. — Eu estraguei tudo com ele, Tommy. — Não estragou, Tink, eu não conheço um ser humano melhor do que você, Jason seria burro demais se não visse isso. — Meu amigo pega minha mão e aperta com carinho. Ficamos em silêncio enquanto eu penso nos poucos momentos em que meu coração acelerou sem que eu estivesse em uma pista de corrida. Jason Willers entrou na minha vida por acaso, ou por uma enorme ironia do destino. Ainda não tivemos a chance de nos conhecer realmente, nossos gostos, as coisas que fazem com que as pessoas sintam-se confortáveis umas com as outras. Mas eu não precisei conhecer seus pais, ou saber de onde ele veio, nem que


comida ele gostava. Jason tem algo que poucos homens têm, seus olhos transmitem confiança. Seu abraço conforta e traz segurança. Seu beijo é um convite para o paraíso. É como se ele dissesse: eu sou o perigo, mas você estará segura. É confuso, mas era uma aventura que eu estava disposta a arriscar. E ao vê-lo entrar no apartamento dela, sem nem ao menos me olhar, algo em mim se quebrou, e eu não tinha certeza se poderia ser consertado. Não por qualquer pessoa. Nunca havia questionado minhas escolhas, não até conhecê-lo pessoalmente. É claro que eu já o tinha visto por fotos, afinal, quem nesse país não sabe quem é Jason Willers? O irmão do grande lutador Oliver Willers. Mas, eu o conhecia como todas as outras pessoas, conhecia o irmão que a mídia mostrava, conhecia o cara que fez minha irmã tomar uma decisão idiota. Helena me contou sobre a noite que o flagrou com duas mulheres em uma festa, ela me disse que havia dormido com Oliver naquele dia. Jason foi atrás dela algumas vezes, mas ela não conseguia perdoá-lo, eu também desconfiava que ela não conseguia se perdoar. Mas minha irmã era egoísta demais, ela nunca assumia sua culpa. Quando ela descobriu a gravidez, foi um choque. Eu vi o pânico em seus olhos quando olhamos juntas para o


teste. Eu sabia que nossos pais tinham todos os defeitos do mundo, mas jamais renegariam uma criança. Então, eu tive a ideia que sei que se tornou a minha ruína. — Tink? — Tommy fala e eu acordo. — Está tudo bem? — Sim, que horas são? — pergunto para o meu amigo. — Duas da manhã — ele fala desolado. — Droga, Tommy, desculpe te segurar aqui. — Sento no sofá e arrumo o cabelo, meu amigo estava sentado no mesmo lugar e eu dormi no seu colo. — Não se preocupe com isso, ok? Não é como se eu tivesse algo melhor para fazer. — Ele tenta sorrir. — Ele ainda está lá? — pergunto receosa. — Acredito que sim. Não ouvi nenhum barulho de porta abrindo. — Eles têm muito sobre o que conversar — falo derrotada. — É melhor você ir descansar. — Levanto e Tommy me segue. — Não quer mesmo que eu fique aqui? — Não, Tommy, eu agradeço, mas vou esperar tudo se acalmar e depois vou conversar com Jason. — Tudo bem, eu aviso quando ele chegar a casa. — Obrigada. — Abraço meu amigo e fecho a porta. Não sem antes olhar para a porta da frente. Droga, Jason, você colocou minha vida em ponto morto.


Eu queria bater em alguém. Pela primeira vez em anos eu realmente queria bater em alguém. Não por causa da presença da Helena, mas saber que ela e Leah eram irmãs, essa informação era a única coisa que eu não estava preparado para ouvir. — Já faz meia hora que você está sentado nesse sofá, Jason, e não falou nada. Helena fala e eu a encaro, ela está sentada em uma poltrona a minha frente, eu estava com tanta raiva que preferi ficar calado, tentando absorver o que ouvi lá fora, tentando não correr para o apartamento da frente e gritar com Leah por ter me enganado. Eu sempre soube onde estava me metendo, sempre fui


o cara responsável que não se envolvia em algo que não conhecia. Pesquisava sobre as pessoas, não confiava cegamente. Leah me enganou, e eu estou me sentindo um idiota. — Por que você nunca me disse que tinha uma irmã? — pergunto. — Então, vocês dois estão transando mesmo! — não era uma pergunta. — O que eu tenho com a Leah não é da porra da sua conta, Helena. — Essa vingança idiota não vai mudar nada do que aconteceu, Jason. — Eu não estou tentando me vingar de você, caso você não tenha percebido eu nem ao menos sabia que ela era sua irmã — digo com desdém. — A última vez que eu soube que foi imprudente foi quando estava com duas mulheres no seu quarto — ela joga de volta. Eu levanto do sofá e vou até a sua poltrona, me inclino colocando os braços um de cada lado, prendendo-a. — Aquilo foi imprudente, e para sua informação foi mais recorrente do que você pode imaginar. — Você é nojento. — E você é desprezível, o que nos coloca no mesmo nível. — Afaste-se — ela ordena e eu volto para o sofá. — O que você quer? — Helena pergunta.


— A verdade — digo simplesmente. — Eu não tive o bebê. — Por que me contou, já que pretendia não seguir com a gravidez? — Eu queria fazer você sofrer. Satisfeito? — Ela sai da poltrona — Eu queria que o grande Jason Willers tivesse o coração partido assim como eu tive quando vi você com aquelas mulheres. — Jura? Seu coração quebrou tanto que você dormiu logo em seguida com o meu irmão? — Eu também estava de pé. — Eu odeio vocês dois por isso. — Você está nos culpando por ter sido uma vadia? — Você não entende, não é? Tudo em vocês é tão perfeito — ela agita suas mãos no ar —, os incríveis irmãos Willers. — Onde você quer chegar? — Em mim! — ela gritou — Eu me odiei a cada minuto depois que saí do quarto do Oliver. Odiei tanto que mal conseguia encarar você quando foi me procurar. E vocês fizeram isso comigo. — Oliver não forçou você. — Mas também não me parou. Paro para absorver suas palavras, e a consciência de que ela está certa me abala. Helena não está totalmente errada nisso, Oliver e eu somos tão culpados quanto. Sem perceber, meus braços a envolvem e ela chora.


— Eu não sabia quem era o pai — ela fala entre soluços. — Não importa. — Tiro o cabelo do seu rosto, sua maquiagem está toda borrada — Vamos deixar isso no passado, ok? — Me perdoe, Jason, eu sei que eu deveria ter conversado com você, mas estava com tanto medo. — Eu sei. — E sabia, Helena nunca mentiu sobre o que ela queria ser, sua carreira de modelo sempre foi o que importou. — Eu também te devo desculpas. — Beijo o topo da sua cabeça. Caminho com ela até o sofá e sentamos. Helena me abraça e eu retribuo. Ela parece uma criança frágil. Eu nunca a vi assim. — Estou sujando toda sua blusa — ela diz sorrindo, enxugando as lágrimas em seguida. — Não importa. — Onde você está hospedado? — ela se recompõe. — No apartamento do Tommy. — Thomas? No final do corredor? — ela pergunta espantada. — Sim, no final do corredor. — Não sabia que vocês se conheciam. — Nós não nos conhecíamos. — Leah? — Eu concordo com a cabeça — Jason, sobre ela… — Eu vou conversar com a Leah, quando for a hora.


Agora as coisas precisam se resolver entre nós dois, Helena. — Eu só peço para você escutá-la quando ela for se explicar, ok? — Eu vou. — Você mudou bastante. — Ela passa a mão no meu rosto. — Isso é ruim? — ela sorri. — Mudar faz parte da nossa evolução, não é? — E há quem diga que você é fútil. — Ela sorri com a minha observação. — Você fazendo piadas é mais estranho do que seu novo corte de cabelo. — Eu posso concordar com isso. Helena sorri, em seguida pede licença para ir lavar o rosto. Enquanto ela sai, sinto meu coração ficar mais leve. Como se um peso de anos tivesse saído das minhas costas, mesmo ela não sabendo de quem era o bebê, é uma perda que ainda me machuca, todos temos direito de escolha, e ela me privou disso. — Eu não tinha muita coisa no armário, mas fiz um chá para nós dois. — Ela traz duas xícaras e eu aceito. Pelas próximas horas ficamos conversando, ela me conta como está indo sua carreira e diz que logo irá para Tóquio, e que provavelmente passará um ano por lá. Eu fico orgulhoso em ver o quão longe ela chegou. — Eu cheguei a ver algumas lutas do Oliver — ela


diz. — Ao vivo? — pergunto curioso. — Sim, eu vi algumas lutas daquele torneio em Vegas. Estava fazendo um trabalho para uma revista quando vi vocês no Hotel. — E não pensou em dizer um oi? — Não seria prudente, não naquela época. — Ela sorri. — Oliver me contou durante aquele torneio sobre o que aconteceu com vocês. — Ele é um bom homem, Jason, nunca duvide disso. Hoje eu vejo tudo o que aconteceu e acho que todos nós tivemos nossa parcela de culpa. — O tempo fez bem a você, sabia? — As meninas crescem, Jason. — Ela deixa a xícara de chá na mesinha e se aproxima — E você? Como você está? — No momento? De férias. — Não foi isso que eu perguntei. — Ela se agacha na minha frente e passa a mão na minha perna, subindo até chegar ao meu peito — Como você está aqui? Essa pergunta me pega de surpresa e fico sem saber o que responder. — As revistas só falam que finalmente o lutador foi nocauteado. Fotos do Oliver com uma mulher e uma criança estão fazendo a festa dos tabloides. Então, me diga, e você?


— Helena — meu tom é de advertência, seguro seu pulso. — Me diga, Jason, se eu beijasse você agora, eu seria retribuída? — Não — a negativa sai tão rápido da minha boca que me assusta. Helena está bem à minha frente, com um sorriso nos lábios. Ela é a mulher que eu amei durante anos. E, agora, que estamos sozinhos eu só consigo sentir simpatia. — Eu esperava que dissesse isso. — Ela levanta e se senta ao meu lado — Não machuque a minha irmã, Jason Willers, ou eu vou machucar você. — Ela aponta para o meu peito. — Então, vocês duas não se odeiam? — pergunto. — Nós somos irmãs, podemos nos odiar, mas não gostamos de ver a outra sofrer. Estou errada? Não, ela não estava. Mesmo com toda raiva que senti do Oliver na época eu não o odiei, ele é meu irmão e eu sempre farei o possível para vê-lo feliz. — Ela mentiu, Helena — meu tom é amargo. — Todos mentimos em algum momento, Jason, às vezes para nos proteger, às vezes para proteger quem amamos. — Não é tão simples. — Você tem ideia de quanto tempo as pessoas perdem complicando as coisas? — Agora você falou como a Leah.


— Está no nosso DNA. Acostume-se com isso. — Certo, então agora o jogo virou e você está me dando conselhos amorosos. — Para usá-los com a minha irmã. — E pensar que você era uma cadela egoísta. — Eu ainda sou, mas amo a minha irmã, e já amei você. Sorrimos, como sempre Helena não deixa de me surpreender. Seu amor pela irmã superou qualquer expectativa. Ela estava mudada, com certeza, mas não a sua postura imponente ou sua aparência, mas a forma carinhosa que falava sobre Leah. Eu nunca vi Helena se preocupar com alguém, mais do que consigo mesma. E isso é uma verdadeira surpresa. Ficamos conversando por muito tempo, conheci mais sobre Leah Renard em uma noite do que em todo o período que passamos juntos. Helena me contou histórias da infância delas, e como ficaram distantes com o tempo, cada uma com seus sonhos e desejos. Cada uma com sua personalidade. Enquanto Helena era tudo que os pais esperavam, Leah era praticamente responsável por todos os cabelos brancos deles. Quando, finalmente, nos despedimos, o sol já está surgindo. Helena abre a porta do apartamento e nós olhamos para a porta da Leah. — Se eu a conheço bem, ela não dormiu a noite toda.


— Ela me olha — Quando estiver pronto vá até ela, Jason. — Obrigado pela conversa — é o que consigo dizer. Helena me abraça e beijo a sua cabeça. Ainda estamos abraçados quando um barulho chama nossa atenção, Tommy está saindo do apartamento dele com uma bandeja na mão. — Ora, ora se não é Thomas — Helena diz. Tommy nos olha com espanto, mas logo se recompõe. — Cuidado para não morder a própria língua, Helena, morrer envenenada não deve ser legal — ele diz. — Um dia, Thomas, eu mordo você — ela fala, em seguida sorri para mim. — Eu acho que vou descansar agora, nossa noite foi longa. Ela pisca e entra. Eu não sei o motivo, mas algo me diz que essa rixa deles vai muito além do que aparenta. — Noite longa, hein? — ele diz parando em frente à porta da Leah. — Eu vou dormir, até mais. — Você pode, pelo menos, me ajudar a abrir a porta? — Ele aponta para a porta e olha para suas mãos. Ele está segurando uma bandeja com o que parece ser o café da manhã. — Leah tem treino daqui a algumas horas, eu vou forçá-la a comer algo — ele justifica. Eu não falo nada, abro a porta sem olhar para dentro, em seguida vou direto para o meu quarto.


Acordo logo depois do meio-dia, ainda vestido com a roupa da noite anterior. Tiro tudo e vou para o chuveiro, eu preciso tomar algumas decisões, mas para isso tenho que sair desse apartamento. Tommy não está em casa, o que torna tudo bem mais fácil. Preencho um cheque com o valor das diárias do hotel que eu pretendia me hospedar. Em seguida, escrevo um bilhete explicando minha saída e agradecendo por tudo, e deixo o meu cartão. Eu nunca fui um cara de fugir, mas eu sei que Tommy tornaria isso um pouco difícil, principalmente quando ele visse o valor do cheque, que foi o equivalente a três meses de hospedagem. Mando uma mensagem para o celular da Helena informando onde vou me hospedar, em seguida para Oliver. Chamo um táxi quando chego à recepção, e logo em seguida estou a caminho do Hilton. Quando me instalo na suíte, Oliver me liga. — Vi sua mensagem, por que foi para um hotel? — ele pergunta preocupado. — Conversei ontem com a Helena. — E aí? Como foi? — Acho que você precisa ligar para ela. — Pego um copo com suco e vou até a varanda. — Eu? — ele parece confuso. — Você deve um pedido de desculpas para ela


também, Oliver. — Tá de brincadeira. — Não, acredite, eu estou tão surpreso quanto você, mas ela está bem mudada e nós conversamos bastante. — Ela disse de quem era o bebê? — Ela não tem certeza. — Besteira. — Oliver… — Jason, você acreditou mesmo em tudo que ela disse? — Passamos a noite conversando, e sim, eu acreditei. — Vocês não transaram? — Pelo amor de Deus, Oliver, o que você pensa que eu sou? — Até um tempo atrás era o cara que amava a mulher com quem passou a noite conversando. — Eu estava enganado quanto a isso também — eu admito. — Uau. — Acho que precisávamos apenas conversar, deixar tudo esclarecido. — É a pilota, então? — Talvez, mas essa é uma questão que eu não quero falar agora. — Droga, você é cheio de segredos. — Ligue para ela assim que possível, ok? Você também vai se sentir melhor.


— Certo. Você pretende ficar por quanto tempo? — Eu não sei. — E não sabia, ainda tinha muitas coisas para resolver, e havia uma voz lá no fundo que me dizia que eu deveria ficar. — Ok, mas a Bree quer que você venha, vamos passar um tempo juntos aqui antes de ir para Seattle. — Ela já aceitou? — Quase lá. Ei, fale aqui com uma pessoa. — Ouço o telefone ser passado para alguém. — Alô? — uma voz de menina ocupa o lugar da voz do meu irmão. — Oi — eu digo sorrindo. — Você é meu tio Jason? — ela pergunta receosa. — Sim, e você é a minha sobrinha Sky. — Como você sabe? — ela pergunta aflita. — Porque ninguém mais me chama de tio Jason. — Jura? — Juro, como você está? — Feliz. — Sinto que ela está sorrindo, e em seguida Oliver está novamente na linha. — Bree a chamou para o banho, ela é uma graça não é? — Preciosa — respondo sinceramente. — Eu estou feliz, irmão, pela primeira vez eu sinto que não falta mais nada na minha vida. — Eu fico feliz por isso. — E eu quero isso para você, seja lá o que aconteceu com a sua pilota, se você sentir por ela algo parecido com o que eu sinto pela Bree, você não vai perdê-la.


— Não sei se é a mesma coisa — digo e encosto na sacada, a vista é linda e começo a admirar o pôr do sol. — A primeira vez que transei com a Bree, foi como se o meu corpo estivesse sendo consumido por chamas, e a cada vez que os lábios dela encostavam nos meus, as chamas se acalmavam. Quando ela foi embora naquela noite, meu coração não se partiu, porque eu sabia que iria encontrá-la novamente, e eu estava determinado a mover céu e terra para isso. — Eu sei. — O que você não sabe, irmão, é que eu sempre soube que você cuidou delas por mim, enquanto eu mantinha meu foco nas lutas, você cuidou dos dois amores da minha vida, eu agradeço a você por isso. — Como você soube? — Meu irmão sorri. — Não importa, mas agora, Jason Willers, está na hora de cuidar de si mesmo. — Está falando como um irmão mais velho. — Eu sou seu irmão mais velho. — E é meu melhor amigo — falo e olho novamente o horizonte. — A gente se vê em breve, irmão. Desligo o telefone e fico admirando a vista. Oliver tem razão, cuidei por tanto tempo dele, mantive os olhos até na Bree e na Sky. Por isso que ele sempre esteve tão tranquilo, ele sabia que eu estava cuidando delas. Bastardo.


Nenhuma ressaca do mundo pode ser comparada a uma noite mal dormida, não que eu tivesse ido a uma festa, mas passar uma noite revirando pensamentos que variavam entre pedir perdão ajoelhada, e Jason chutando minha bunda, era no mínimo esgotante. Assim que o dia amanheceu, Tommy trouxe meu café da manhã, eu já estava preparada para ir ao treino, mas ele não deixou que eu saísse antes de comer. Não perguntei pelo Jason, mas sabia que algo estava errado. Tommy estava agindo como uma mamãe galinha ao meu redor. Quando saí para trabalhar, não olhei para a porta da frente, mesmo que minha vontade fosse esmurrar a porta e tirar Jason da cama da Helena, eu sabia que não tinha esse direito. No treino, eu estava totalmente desconcentrada, forçando algumas paradas e fazendo meu pior tempo. — O que há com você? — Gabriel pergunta através do sistema de comunicação. Eu ainda estou na pista. — Nada, vou me concentrar. — Pare o carro na próxima volta, Leah.


— Não, eu vou me concentrar. — Isso é uma ordem, Leah Renard. Termino a volta e paro o carro. Gabriel não me olha com cara de bons amigos. Droga. — O que houve ali? — Ele aponta para pista. — Apenas um dia ruim, Gabriel. — Eu quase não reconheci você na pista, Leah. — Eu não me reconheci, está bem? — grito chamando atenção de todos, passo a mão no cabelo tentando colocar em ordem a bagunça do meu dia. — Você tem duas semanas para voltar a ser você mesma — Gabriel rosna e sai em seguida. Ele está falando do teste, o dia em que o piloto principal vai ser escolhido. Eu tremo diante das possibilidades. E algo que eu nunca senti antes vem à tona. Medo. Medo de não conseguir a vaga. Medo que Jason não me perdoe. Medo de ser o fracasso que meus pais sempre disseram que eu ia ser. Volto para casa somente no fim da tarde, acompanhei o treino do restante dos pilotos, todos foram muito melhores do que eu. Assim que tomo banho, alguém bate na minha porta. Quando atendo, qualquer vestígio de alegria se esvai. Helena está parada na minha frente. — Não vai me deixar entrar? — ela pergunta.


— Não tenho escolha. — Afasto para que ela possa entrar. — Não vou demorar — ela fala e senta no sofá. — Fique à vontade — falo com desdém. — Que tal pararmos com essa animosidade, para começar? — Desculpe, não estou em um bom dia. — O que você tem com Jason? — ela é direta. — Nada. — Eu não acho isso. Não pela forma que eu vi você rindo na noite passada. — Ouça, se quer me dizer para sair do seu caminho diga de uma vez, eu não tenho nada com Jason, pelo menos nada que chegue perto do que vocês tiveram. — Ele gosta de você — ela diz. — Acredito que não. — Não depois de saber que menti, penso. — Por que você acha que eu quero ficar com ele, Leah? — Não quer? — Fico confusa. — Quando você parar de me atacar e começar a me escutar, talvez enxergue o que está bem na sua frente. — Do que você está falando? — Eu não quero ficar com ele, Leah, eu não amo o Jason. — Mas… — Mas… Você, como sempre, tira conclusões


precipitadas, nós tivemos algo no passado, mas já acabou, e você sabe muito bem disso. Os irmãos Willers não me fizeram muito bem. — Ela sorri contida. — Eu pensei… — Pensou errado. — Pare de me interromper — digo irritada. — Então, pare de ser idiota. — Helena levanta e eu faço o mesmo — Ouça, eu sei que não fui muito legal nesses últimos tempos. — Adicione anos. — Que seja, mas você é minha irmã, e eu amo você. Jason e eu conversamos e deixamos nosso passado onde ele deve ficar, no passado. — E? — E, eu não contei nada sobre o que aconteceu, Jason só sabe o que precisa saber, Leah, não estrague o que vocês podem ter. Eu sei que você gosta dele, e ele gosta de você. — Eu não posso esconder isso dele. — A decisão é sua, apenas saiba que eu só quero a sua felicidade. — Quem é você? E o que fez com a minha irmã? — Ei! Estou apenas tentando consertar algumas coisas, ok? Não sou uma cadela completa. — Tommy pode discordar. — Se você pensa que vou pedir desculpas por ter dormido com o namorado dele, está enganada. Tommy não


merecia aquele cara. — Tommy não era bom o suficiente para ele? — Não, ele não era bom o suficiente para o Tommy. Helena dá de ombros e em seguida me abraça, eu ainda estou tentando assimilar tudo que ela falou. — Eu vou em breve para o Japão, que tal passarmos um tempo juntas? — Seu tempo quer dizer muitas idas para salões de belezas? — Sim! — ela responde eufórica, eu gemo — Pode convidar o Thomas, mas eu não vou pedir desculpas. — Vou tentar organizar meu tempo, minhas manhãs estão todas ocupadas durante duas semanas, o teste está se aproximando. — Você vai conseguir a vaga, Leah. Eu acredito em você. — Não percebo quando uma lágrima cai. Ela nunca tinha dito isso antes. — Não gosto dessa sua versão — digo enxugando uma lágrima. — Está vendo? Eu tento ser legal, mas as pessoas não colaboram. Sorrimos, Helena passa a noite comigo, ela me conta que irá para o Japão antes do meu teste, mas diz que vai estar pensando em mim, seus olhos brilham quando ela menciona um modelo japonês que ela conheceu, ele vai ser seu anfitrião durante a sua estadia lá. Só então eu percebo, ela não está interessada no


Jason, minha irmã está apaixonada por outra pessoa. Nós nos despedimos à noite, e pela primeira vez em muito tempo eu sinto que vou sentir a sua falta. Na manhã seguinte, meu despertador é substituído pela voz de Tommy. — Finalmente, você abriu os olhos. — Ele parece impaciente. — Nossa, alguém morreu? — Eu, do coração. — Ele mostra um cheque. — Puta merda. — Esfrego os olhos para focar melhor, Tommy está em cima da minha cama segurando um cheque de valor exorbitante bem na minha cara. Mas quando eu olho a assinatura, meu peito dói, e entendo o que aquilo quer dizer. Jason foi embora. Lágrimas começam a cair antes mesmo que eu perceba, e logo meu amigo esquece o cheque e começa a me consolar. — Não sei o que fazer, rasgo? — ele pergunta quando me recomponho. — Não, ele só deixou isso? — Tommy mostra o bilhete e o cartão com os contatos do Jason, nele tem o endereço anotado na parte do trás. — Esse valor é muito alto — Tommy fala chocado. — Se ele deu para você, é porque quer que você fique com esse dinheiro. — Não sei — Tommy fala indeciso.


Pego meu celular e ligo para Helena, ela não demora a atender. — Eu estava dormindo, Leah. — Essa é a minha irmãzinha. — Jason foi embora e deixou um cheque em um valor muito alto para o Tommy. Ele não sabe o que fazer. — Coloque no viva-voz. — Eu obedeço. — Tommy, seu acordo com ele era que ele ia pagar a hospedagem, certo? Então, pare com esse mimimi e aceite a grana. Jason pode pagar, acredite, isso não é nada perto de quanto ele costuma gastar. — Ouviu? — falo para Tommy e ele torce a boca. — Posso voltar a dormir? — Helena pergunta — Ah, Tommy, pare de agir como um babaca, aquele drogado por quem você imaginava estar apaixonado ia te levar para o fundo do poço. De nada. Ela desliga e deixa Tommy e eu olhando atônitos para o celular. — Sua irmã sabe como fazer uma saída dramática — ele diz — Mas, eu vou aceitar a sugestão, você sabe o que essa grana significa, não sabe? — Adeus bancos? Olá estúdio? — digo e um sorriso surge no rosto do meu amigo. Olho para o cheque novamente, ciente de que Jason sabia que Tommy estava precisando dessa grana, não era segredo que meu amigo estava tentando um empréstimo para abrir um estúdio.


Como não me apaixonar por ele? — Você está apaixonada pelo Jason? — Tommy pergunta, merda. — Pensei em voz alta, só isso. — Engraçado, você nunca tinha pensando em voz alta. — Tommy sorri. — Vou ligar para ele e agradecer o cheque, o que acha? — Acho que seria o correto. — Tudo bem. — Ele pega o celular. — NÃO! — grito e tomo o aparelho dele. — O que foi? — Faça isso quando estiver fora daqui, ok? — E por quê? — Porque eu não sei se aguento saber que ele não perguntou por mim, ok? E eu tenho treino daqui a pouco, meu tempo está uma merda e… — Ok, já entendi. — Obrigada. — Nossa, ele atropelou você, não foi? — E como. Meu amigo sorri, e vou para o banheiro. Não demora para eu estar no carro indo em direção ao autódromo. A conversa com Helena me deixou mais leve, mas ainda assim, eu estava apreensiva quanto a Jason. Estaciono o carro na minha vaga habitual, e vejo o carro de Gabriel se aproximar. Aguardo enquanto ele estaciona, em seguida ele me nota.


— Tudo bem com você? — Ele está preocupado. — Melhorando. — Eu sei do que você é capaz de fazer, garota, e sei que não era você ontem. — Desculpe, Gabe, isso não vai se repetir. — Eu acredito nisso. Agora, vamos, temos um recorde para bater. Ele coloca o braço em meu ombro e relaxo. Caminhamos juntos até o box, e sigo para o vestiário. Lá, tiro meu jeans e visto algo mais confortável. Uma legging de ginástica, é o que eu geralmente uso embaixo do macacão para treinar, e um top. Quando estou vestindo o macacão, ouço uma batida na porta. — Sim? — Abro e minha respiração para. Jason está me encarando, seu braço apoiado no batente, ele me olha sem dizer nada. Afasto dando passagem, e ele tranca a porta quando passa. — Jason, eu vou entrar na pista em alguns minutos, podemos conversar mais tarde se quiser, mas agora eu realmente não tenho tempo — falo angustiada, na verdade, eu não sei se entraria na pista se ele me pedisse o contrário. — Eu não falei nada. — Hã? — não entendo. — Eu disse que não falei nada, Leah, não disse uma


palavra e você começou a tagarelar sobre conversar. — Não foi para isso que veio aqui? — Ainda não, mas eu precisava de uma coisa antes de conversarmos. — O quê? — pergunto ansiosa. — Ver você nesse macacão. — Jason olha mais uma vez, em seguida ele sai. O baque na porta me assusta, trazendo maus pensamentos de volta para realidade. Que tipo de encontro foi esse? Se eu pensava que estaria relaxada para o treino, minha tranquilidade foi junto com Jason. Merda, é isso, o cara consegue me desestabilizar das maneiras mais bizarras possíveis. Vou para pista e faço o possível para ser eu mesma, Gabriel está visivelmente desgostoso com meu desempenho, eu não fui tão mal quanto ontem, mas ele sabe que eu posso ser mais. Eu sei disso também. Na saída, Jason está encostado no meu carro, eu me assusto ao vê-lo. — Você foi ótima — ele diz quando me aproximo. — Acredite, aquilo não chega nem perto de ótima. — A amargura na minha voz é perceptível. — Você é boa no que faz, Leah, não duvide disso. — Eu sei que eu sou boa, ok? É por isso que eu estou aqui, foi por isso que eu fiz tudo o que fiz, Jason, para estar no lugar que eu estou hoje, e agora… — um trovão


me assusta — agora estou jogando tudo isso pela janela. — Do que você está falando? — Jason me questiona, eu estava praticamente gritando no meio do estacionamento, mas um trovão soa e eu me encolho. — Fui eu que dei a ideia para a Helena tirar o bebê — digo de uma vez e a chuva começa a cair. E é mais do que bem-vinda, pois eu começo a chorar em seguida. — Você o quê? — ele me encara. — Fui eu, ok? Eu vi no desespero dela uma oportunidade de conseguir vir para cá, eu aproveitei, me aproveitei de um momento frágil da minha irmã. Fui eu que a levei ao médico, mas ela não queria que o nome dela ficasse nos registros, então usamos o meu nome, em troca, ela me ajudou a conseguir um apartamento aqui e me livrar dos questionamentos dos nossos pais. — Você a chantageou? — Sim, droga. Sim — grito. — Deus, isso é… — Repugnante? Eu sei — me aproximo dele —, eu sabia que nossos pais jamais permitiriam que ela tirasse o bebê, eu plantei a ideia na cabeça dela, Jason, me desculpe. Falo entre lágrimas e ele se afasta, a chuva que cai não é suficiente para esconder a raiva em seu rosto. Ele me olha com desprezo, e vai embora sem olhar para trás. Entro no carro e choro até a tempestade passar, tenho certeza que ele nunca irá me perdoar. Aquele olhar me


atormentará pelo resto da vida. *** Duas semanas passaram desde a última vez que o vi, pessoalmente, é claro. Jason estampou a manchete de algumas revistas. Não era segredo que um dos irmãos Willers estava na cidade, e quando ele é visto constantemente na companhia de uma famosa modelo, BUM, temos material de primeira página. Helena praticamente se mudou para o hotel que ele estava hospedado. Passar mais tempo juntas? Esquece, meu tempo estava comprometido com as pistas de corrida e o dela, bem, o dela estava com Jason, segundo a revista que eu estava segurando no momento. — Ah Tink, lendo essa porcaria de novo? — Tommy pega a revista da minha mão. — Uau, eles ficam bem juntos. Eu lanço um olhar mortal e meu amigo se encolhe. Mas não deixa de ser verdade, a foto foi feita por algum paparazzi e pega os dois sorrindo na varanda de uma suíte. Jason está usando apenas bermuda e Helena, um biquíni. — Eu tenho que me arrumar. — Saio do sofá e vou em direção ao quarto, hoje é meu grande dia e eu não vou deixar que nada o estrague. — Sua irmã viaja hoje? — Tommy grita. — Não faço ideia — respondo, mas eu fazia, Helena me enviou um texto me desejando boa sorte e avisando


que já estava no aeroporto. Termino de me vestir e encontro Tommy a postos, ele sorri e beija meu rosto. — Eu amo você, Tink, e eu sei que você vai arrasar — ele diz e suas palavras me acalmam. — É para isso que estou aqui, não é? — eu digo — Valeu a pena? — Tommy pergunta e eu penso um pouco. — É o que eu vou descobrir quando passar pela bandeira quadriculada. Fecho a porta e vamos para o autódromo. Mesmo para um teste, hoje parece um dia de evento, há muitas pessoas no lugar, e todos estão alvoroçados. — Chegou a minha pilota favorita. — Gabriel me abraça. — Cabeça no lugar? — Ele segura meu rosto com as duas mãos. — Nunca — eu sorrio. — Essa é a minha garota. Vá trocar de roupa, estamos apenas esperando você. Gabriel beija meu rosto e vou em direção ao vestiário. Lá eu me lembro da última vez que vi Jason, eu não me permiti pensar nele durante esses dias, na verdade eu não pensei nesse dia do vestiário, particularmente. Era como um capítulo na minha vida que havia encerrado, minha consciência estava pesada pelos meus atos, mas não por omiti-los dele, e isso era um alívio. Fecho meu macacão e olho para porta, é hora de fazer


tudo valer a pena.


Eu vomitei, assim que pus os pés na suíte do hotel, corri para o banheiro e vomitei. Já não me lembrava da última vez que fiz isso. Mas eu não consegui impedir. Todas as palavras da Leah vinham na minha cabeça e a cada vez eu vomitava com mais força. Quando consegui me recompor, tomei um banho quente e caí na cama, ainda incrédulo. Eu conseguiria esquecer isso? Conseguiria perdoar? Eu poderia estar com meu filho em meus braços, se não fossem suas ideias egoístas. Mesmo Helena não tendo certeza, um filho ou sobrinho, não importava, uma criança é sempre uma bênção. A doce, sincera e imprudente Leah Renard, não era


mais do que uma chantagista que passou por cima de tudo para conseguir o que queria. Deus, e pensar que fui lá porque queria vê-la. Abraçála e passar a noite com ela. Que grande idiota estou me saindo. Vou até o bar e pego uma garrafa de cerveja, estou tão enfurecido que não consigo me concentrar em mais nada, a não ser entorpecer meu cérebro e tentar esquecer tudo que ela me disse. Às duas da manhã, eu já tinha esgotado as cervejas do bar, e estava vasculhando o Google. Fazendo algo que deveria ter feito desde quando a conheci. Leah era conhecida no mundo das corridas, e mesmo que tivesse olhado na internet, nada ali remetia ao seu parentesco com Helena, nem o mesmo sobrenome elas usam. São poucas fotos que ela parece acompanhada, o cara que vi com ela na outra noite parece ser sua companhia mais constante. — Foda-se. — Fecho o laptop. Deito novamente e fecho os olhos, as imagens que me vêm à mente são as fotos que vi no quarto dela. Tão jovem, cheia de vida. Perfeita. Apago em seguida e sonho com ela usando o macacão de corrida. Acordo com o som do meu celular, minha cabeça lateja no ritmo da música, e logo me arrependo de tê-la colocado como toque.


— Alô? — minha voz arranha na minha garganta. — Jason? — Olho no visor e vejo que é Tommy. — Oi, desculpe, atendi sem olhar. — Sua voz está um trapo. — Me diga uma novidade. — Passo a mão na cabeça. — Ouça, liguei para te agradecer. O cheque que você deixou vai me ajudar de uma forma que você nem imagina. — Eu fico feliz que você não tenha rasgado. — Ah, eu pensei nisso, acredite. Alguém me convenceu do contrário. — Que bom — digo sem muito entusiasmo, porque sei quem foi que o convenceu. — Ouça, se você quiser voltar e ficar aqui, por mim tudo bem, você sabe que é um amigo. — Agora está convencido de que não vou te matar? — Cara, você tem que admitir que é bem assustador. Mas era uma boa visão nesse apartamento solitário. — Obrigado, Tommy, mas eu preciso ficar só por enquanto. Mas se quiser me visitar eu estou hospedado no Hilton. — Uau. Que bom que não se hospedou em nenhum hotel da minha família, eu juro que não ia visitá-lo. Eu sorrio, conversamos por mais um tempo e logo Tommy me diz que precisa ir trabalhar. Os dias passam voando, minha rotina passou a ser conversar com Oliver e Sky pelo Skype, e as visitas de Helena, que praticamente passou a maior parte do tempo


aqui. Saímos juntos para alguns restaurantes, boates. Basicamente, estávamos nos divertindo. Tommy se juntou a nós em uma noite, mas eu acho que era para se certificar do tipo de relacionamento que eu estava tendo com Helena. Diferente do que estava saindo nas revistas, Helena e eu éramos amigos, ela apenas sorria quando lia as matérias e dizia que logo todos esqueceriam. Esse era o mundo do entretenimento e já estávamos acostumados. — Prometa que irá vê-la correr hoje? — ela me pergunta quando a deixo no aeroporto. — Não posso prometer isso. — Jason, passei esses dias todos com você, eu sei que está morrendo de vontade de vê-la. — Você passou a me conhecer desde quando? — Não se engane, Jason. Hoje é um dia especial para ela. — Um dia que ela conseguiu graças a uma chantagem — falo ressentido. — Você sabe que eu teria feito, mesmo que ela não tivesse dado a ideia, não sabe? Ela apenas foi mais rápida. — Helena… — Jason, eu nunca quis ser mãe, eu não teria o bebê, é um fato. Eu tomei a decisão. Ela beija meu rosto e segue para a sala de embarque.


Antes que eu perceba, estou pegando um táxi e indo direto para o autódromo. Assim que o táxi para meu celular toca. Olho na tela e vejo o nome de Tommy, ele deve estar aqui. — Acabei de chegar ao autódromo, onde você está? — Na ambulância. — O quê? — Estou a caminho do hospital, Jason, a Helena está com você? — ele pergunta aflito. — Não, ela já embarcou, aconteceu alguma coisa com você? — Não, Jason, foi com a Leah. — Eu paro de andar. — Ela sofreu um acidente grave e estamos indo para o hospital. — Merda. — Olho em volta e percebo o alvoroço, há mais duas ambulâncias no local — Qual hospital? Tommy fica de me enviar o endereço por mensagem, noto que o táxi que vim ainda não saiu, eu corro para ele e entro novamente. Passo apressado o endereço que Tommy enviou e peço para que ele corra. Quando chego ao hospital, encontro Tommy na recepção. Ele está enxugando o rosto e levanta assim que me vê. — Graças a Deus você veio. Não tenho o número dos pais dela, e não consegui falar com a Helena. — Como ela está? — Nada bem, ela foi levada inconsciente. — Tommy


parece arrasado, sento ao seu lado tentando formar algum pensamento coerente. — O que aconteceu? — Um carro que estava na frente perdeu o controle, Leah não conseguiu desviar, ela bateu nele em cheio. — Olho para o seu rosto e vejo as lágrimas rolarem. — Não sei o que fazer — ele diz derrotado. — Vamos esperar. Helena está no avião, não vamos entrar em contato com os pais dela antes de saber exatamente como ela está. Mantenho o controle, e por mais de uma hora ficamos sozinhos na sala de espera. Uma enfermeira entra apenas para avisar que Leah irá passar por uma cirurgia, e como não há ninguém da família, eu me responsabilizo e assino toda a papelada. Tommy está devastado e mal consegue se levantar, o cara que estava com ela na outra noite chega e acabo conhecendo como seu coordenador de equipe, ele e mais um homem ficam conosco esperando por notícias. Oito horas depois um médico aparece. — Boa noite, quem é da família da Senhorita Renard? — Todos nós nos entreolhamos e Tommy me empurra. — A irmã dela está viajando e não conseguimos contato com os pais. — E você é? — Ele é o namorado dela — Tommy diz ao meu lado. — E eu sou o melhor amigo, e seu vizinho.


— Somos da equipe de corrida dela — Gabriel fala em seguida. — Certo, vou ser breve. A cirurgia não teve intercorrências, o braço precisou ser imobilizado, mas a fratura da perna era o que mais nos preocupava. — Fratura na perna? — Sim, ela teve uma fratura exposta, abaixo do joelho, por isso a cirurgia demorou tanto, mas usamos alguns pinos e logo ela estará nova. — Ela vai poder correr? — Gabriel pergunta, eu poderia socá-lo agora. — Ela vai poder dirigir normalmente, no momento ela está sedada, e vou mantê-la assim até o inchaço na cabeça diminuir. — Coma induzido? — questiono. — Sim, coma induzido. — Devemos nos preocupar? — Nossa prioridade era a perna, ela perdeu muito sangue, e ainda havia outras lesões, pelos exames não há nada de grave na cabeça, exceto o inchaço, mas preciso manter o corpo e a mente dela calmos para reduzi-lo, e só assim poderemos analisar a extensão da lesão. — Tudo bem. — Ela será transferida agora, mais tarde um de vocês poderá vê-la, mas apenas de longe — o médico diz e sai da sala, eu o sigo. — Doutor?


— Pois não. — As acomodações, eu quero saber se ela está tendo o melhor tratamento disponível. — Senhor, sua namorada está tendo o melhor tratamento da cidade. A equipe para qual ela trabalha garante isso. Dito isso ele se vai, volto para a sala de espera e sento ao lado de Tommy. Ele me informa que Gabriel e o outro cara já saíram, mas ficaram de voltar amanhã. — Se você quiser, pode ir descansar, eu não vou sair daqui — ele diz. — Eu sei que não vai, eu também não vou, Tommy. — Obrigado por estar aqui, Jason. — Eu não poderia estar em outro lugar — digo com sinceridade. Passamos a noite na sala de espera, Tommy que foi vê-la quando ela foi transferida para UTI, ela ia passar a noite lá. Ele voltou arrasado, afirmando que nunca mais queria ver a amiga dele daquele jeito. Deixo uma mensagem para Helena informando o que ocorreu, e o que o médico disse, prometi deixá-la informada, e assim que amanhece, ligo para o meu irmão. — Preciso de você — digo assim que ele atende. — Estarei no próximo voo. Oliver desliga e eu saio da sala. Tommy está dormindo no sofá e eu vou até a porta da UTI, uma enfermeira me para assim que me vê.


— Senhor, não pode entrar aqui. — Desculpe, eu só queria saber como ela está. — Qual a paciente? — Ela olha os prontuários que estão na sua mão. — Renard. Leah Renard. — Ela procura as pastas até que encontra. — A senhorita Renard está sedada, mas passou a noite bem, sem alterações. — Eu posso vê-la? — Meus olhos devem estar suplicantes, ela hesita um pouco. — Apenas por alguns segundos, e da janela, não pode entrar, ok? — Tudo bem. Ela me leva até outra sala, lá eu consigo ver a cama através do vidro. Uma perna está um pouco suspensa, e engessada. Há gesso também no braço, e tubos, muitos tubos. Meu estômago revira com a visão. Eu mal a reconheço. Encosto a testa no vidro e pela primeira vez desde o ocorrido eu me permito chorar. — Senhor, precisa ir agora. — A enfermeira me olha com pena. — Obrigado. Enxugo as lágrimas e saio. Passo pela sala de espera e não paro. Sinto uma vontade insana de esmurrar alguma coisa, eu preciso de ar. Lá fora o sol me cumprimenta, e eu praguejo. Será que


isso é destino? Justo agora que eu achei que poderia viver algo bom eu posso perdê-la? Sento na escada que dá acesso à rua e olho para os carros, eu nunca precisei tanto do meu irmão como agora. Preciso de alguém para me manter são. — Você a viu, não foi? — Tommy pergunta quando senta ao meu lado. — Vi — é o que consigo responder, ele não fala mais nada e ficamos ali apenas sentados olhando para a rua. — Sabe por que ela queria ser pilota? — Tommy me tira da inércia. — Não — respondo, minha relação com ela foi breve, nunca tivemos conversas tão pessoais. — Diversão. — Foco minha atenção nele. — Ela achava divertido, sempre dizia que uma pessoa sã jamais faria isso. — Tommy sorri. — Eu nunca conheci alguém como ela, sabe? Eu confiaria minha vida a ela. — Eu também, nunca conheci ninguém igual. — Olho para frente e paramos de falar. Começo a relembrar as poucas vezes que estivemos juntos, foram os momentos mais intensos da minha vida. Quando fecho os olhos, consigo ouvir suas risadas, sentir seu cheiro. A maneira que ela sempre se atrasava, ou a forma como dispensou meu dinheiro quando quebrei o telefone dela. Leah é especial em muitas maneiras, e eu estava mais do que disposto a conhecer cada uma delas.


Durante a manhã o quadro dela continua estável. Estamos almoçando no restaurante do hospital quando recebo uma mensagem de Oliver, ele já está aqui. Não demora muito para o barulho habitual começar, pessoas começam a olhar para a entrada e eu sorrio, lá está meu irmão segurando a mão da mulher que ele ama. Bree sorri assim que me vê, eles vêm em nossa direção e eu levanto para cumprimentá-los, Tommy percebe a chegada deles e quase não consegue conter o espanto. — Como você está? — ele diz quando me abraça. — Segurando. — Oliver me abraça mais uma vez e em seguida abraço a minha cunhada. — Senti a sua falta — Bree fala. — Espero que você esteja cuidando bem dele. — Aponto para meu irmão. — Ele é um pouco difícil de lidar. — Ela pisca e sorri em seguida. — Deixe-me apresentar vocês. Oliver, Bree este é Tommy, um amigo meu e da Leah. — É um prazer conhecê-lo. — Bree é a primeira a cumprimentá-lo, em seguida é a vez de Oliver. — O prazer é meu, estávamos almoçando, nos acompanham? — Tommy pergunta apontando para a mesa, Oliver explica que almoçaram no caminho, mas sentam-se conosco. — Já estamos instalados no mesmo hotel que você


está hospedado, eu trouxe algumas coisas que achei que poderia precisar. — Oliver passa uma mochila e agradeço, eu realmente preciso de roupas limpas. — Você poderia ir para casa, Tommy, trocar de roupa e descansar um pouco — falo para Tommy e ele pensa na proposta. — Não quero deixá-la. — Eu não vou sair daqui — digo. — E nós vamos ficar aqui também, descanse, ela vai precisar de você — Bree fala e Tommy finalmente concorda. Terminamos a refeição e vamos para sala de espera. Tommy me avisa que logo estará de volta e, em seguida, ele sai. — Qual é o real estado dela? — Oliver pergunta. — Ainda não sei, ao que tudo indica ela está estável, mas os médicos preferem que ela fique dormindo até o inchaço da cabeça diminuir. — E a família? — Bree senta ao meu lado. — Deixei uma mensagem na caixa de mensagens da Helena, ela vai se encarregar de avisar os pais. — O que a Helena tem a ver com isso? — Oliver está confuso. — Elas são irmãs. — Oh caralho! — Ele passa a mão no rosto — Em que confusão você se meteu? — Oliver pergunta, então eu começo a contar tudo para eles.


Bree e Oliver me escutam com atenção, em nenhum momento eles me interrompem, o que é um alívio. Contar tudo que aconteceu, a conversa que tive com Helena e as confissões da Leah, está me fazendo bem, como se um peso saísse das minhas costas. — Cara, eu pensei que eu me metia em confusão. — Oliver coloca a mão no meu ombro. — O que o seu irmão quer dizer, é que vamos ficar aqui com você. — Bree sorri. — Obrigado. A família dela não está aqui e vocês foram as primeiras pessoas que pensei. — Você gosta dessa garota então?! — A pergunta do meu irmão sai mais como uma exclamação. — Podemos dizer que sim. — Homens — Bree bufa. — E como está a Sky? Ela veio? — Sky está com a Liv. Não seria prudente trazê-la. Mas ela está ansiosa para conhecer você — Bree fala e eu vejo o sorriso do meu irmão. — Nossa, eu nunca mais quero vê-la chorar daquele jeito. — Oliver passa a mão no rosto. — Ela é uma criança, ela sempre vai fazer isso quando sairmos sem ela. — O que aconteceu? — pergunto. Bree me explica que quando estavam arrumando as coisas Sky pediu para vir, como não podia ela chorou agarrada ao Oliver e pediu para que ele voltasse logo, na verdade, ela o fez


prometer que nunca ia deixá-la. — É por isso que ainda estou pensando na proposta do seu irmão, Sky é uma criança, eu não quero que uma decisão impulsiva a afete. — Impulsiva? — Oliver levanta. — Eu esperei um ano para ficar com você, Bree, isso não é nada impulsivo. — Ele abaixa e beija seu rosto. — Vocês são minhas, as duas, e eu não vou abrir mão de vocês, nunca. Observo a interação dos dois, meu irmão está diferente do cara ansioso que deixei na porta da Bree há alguns dias, dias que parecem uma eternidade. Pouco tempo depois, somos interrompidos pela enfermeira, ela informa sobre o quadro de Leah e nós continuamos à espera. À noite, eu já começo a sentir o cansaço, Oliver manda Bree voltar para o hotel, e ela promete voltar assim que amanhecer. Assim que ela vai embora, vamos juntos para a cafeteria. — Então, essa coisa toda entre você e essa garota, é sério? — ele pergunta quando eu entrego dois cafés. — Eu não sei. — Mas você está aqui, certo? — concordo — E não pretende sair até vê-la bem? — Exatamente. — E depois? — Depois o quê? — minha pergunta o faz sorrir. — Voltamos ao trabalho daqui uns dois meses, até lá


eu acredito que ela estará bem, e vocês, como vão ficar? — Eu ainda não pensei nisso, Oliver, a única coisa que tenho em mente é vê-la abrir os olhos. — Então, eu tenho razão. — Sobre o quê? — Você gosta dela, mais do que gostaria. Ele sorri e toma o café, olho para minha xícara e começo a pensar no que realmente eu sinto por ela. Há pouco tempo eu acreditava que meu coração era da Helena, será mesmo que eu gosto da Leah? — Isso te sufoca, não é? — Do que você está falando? — Meu irmão está começando a me irritar. — Não saber o que você sente, eu sei exatamente o que é isso. Você não consegue acreditar, por que aconteceu tudo muito rápido, não é? — Quase isso. — Foi assim comigo e com a Bree. Ouça, Jason, eu não sou o cara ideal para dar conselhos aqui. — Jura? — Escute, babaca. — Ele coloca as duas mãos em cima da mesa e me encara, seu olhar é sério. — O que eu quero dizer é que sei que você está assustado, mas se posso te dar um conselho, seria para ignorar o que te assusta, quem sabe assim vocês teriam uma chance. — Entendi. — E perdoe a garota, as pessoas fazem coisas


estúpidas o tempo todo, somos prova disso. Penso nas suas palavras por um momento, esquecer o que me assusta, ok, perdoar? Minha prioridade é vê-la bem, o que virá depois eu ainda não sei. Uma semana depois e eu ainda não saí do hospital. Tommy, Oliver e Bree estão se revezando para me fazer companhia. Quando recebeu o recado, Helena praticamente surtou, conversamos por um longo tempo e expliquei que nada me faria sair daqui, então eu a mantinha atualizada. Seus pais foram um caso à parte, Helena só conseguiu falar com eles alguns dias depois e mesmo assim, seria melhor nem ter falado. Eles estavam em um cruzeiro pelo Atlântico e pelo que pareceu, muito felizes em apenas receber as notícias por telefone. Eles são patéticos. Leah havia sido transferida para um quarto, o que facilitou muito. Mesmo com todas as broncas médicas, o quarto nunca ficava vazio, e às vezes todos nós estávamos juntos. O que deixava as enfermeiras nada felizes. — Falei com o médico lá fora, ele disse que diminuiu a medicação é verdade? — Oliver pergunta quando abre a porta, ele e Bree entram no quarto. Deixo um livro que estava lendo de lado. — Sim, ela vai começar a acordar em breve. — Olho para Leah, ainda há alguns hematomas nos braços, mas seu semblante não está tão ruim. Há mais cor nas suas bochechas e pelo que a enfermeira me disse, a cirurgia na


perna está cicatrizando muito bem. — Ótimo, porque nós vamos sair um pouco. — Oliver, eu não vou sair daqui. — Vai sim, você não saiu desse hospital nenhum dia, você está medonho, Jason, nós vamos sair um pouco. — Não se preocupe, eu vou ficar aqui com ela — Bree me tranquiliza. Olho para Leah, e em seguida vou até o banheiro. Porra, eu estou realmente medonho, meu cabelo está todo desordenado, minha barba grande demais. — Para onde vamos? — pergunto quando volto para o quarto. — Primeiro a uma barbearia, depois para a academia. — Academia? — Sim, eu fiz algumas ligações, temos um ringue esperando por nós, irmãozinho. Pronto para levar uns socos? Oliver lança um olhar divertido. Ah, dar uns socos é tudo que eu preciso nesse momento.


Minha cabeça dói. Não me lembro da última vez que senti uma dor semelhante, parece que bebi demais e agora nem consigo me mexer. Meu corpo está tão pesado, tento abrir os olhos, mas nada. Por que meu corpo não me obedece? Ouço uma voz feminina, um pouco longe, mas acho que está falando com uma criança. Pelo tom, ela está feliz. Tento me acalmar e me concentrar, sinto minhas pálpebras tremerem um pouco, e devagar eu consigo abrilas. Minha garganta está seca, e quando tento falar, acho que sai mais parecido com um grunhido. — Oh Deus, você acordou? — é a voz da mulher, agora não está tão longe. Meus olhos abrem devagar e o local parece um pouco escuro. — Onde estou? — consigo dizer. — Oh Meu Deus, ele vai ficar tão feliz — a mulher fala novamente. — Eu vou chamar a enfermeira. Ouço quando ela se afasta, tento virar o pescoço, mas há algo nele, estou imóvel e não consigo me mexer. — Senhorita Renard? — outra mulher fala agora, ela


está bem próxima. — Sim. — Minha garganta dói. — Feche os olhos, por favor, nós vamos acender as luzes e isso pode incomodá-la um pouco — eu obedeço — Agora, devagar, abra-os novamente. Novamente eu obedeço, pisco várias vezes para tentar focar a visão. — Bem-vinda de volta, senhorita Renard. — Uma mulher, que eu acredito ser uma enfermeira, está sorrindo. — O que aconteceu? — A senhorita sofreu um acidente, eu vou tirar isso do seu pescoço, logo um médico estará aqui. A enfermeira me ajuda com o aparelho no pescoço, e ajusta a cama inclinando mais um pouco. É quando eu percebo que estou com um braço e uma perna imobilizados. — Puta merda — falo sem pensar — Foi um grande susto que você nos deu. — Dessa vez escuto a mesma voz que ouvi ao acordar. A mulher se aproxima e sorri. — Eu sou Bree. Ela toca no meu braço e eu fico confusa, eu não conheço essa mulher. — Sou amiga do Jason. — Ela perece perceber a minha confusão. — Jason? — Ah droga, você não lembra dele? — Seus olhos se alargam.


— Não, quer dizer sim, eu lembro. — Minha cabeça dói novamente. — Aqui, senhorita, tome um pouco de água. — A enfermeira segura um copo com um canudo e aos poucos minha garganta vai melhorando. Não demora para que o quarto encha de pessoas, médicos, enfermeiros, todos estão aqui para verificar meu estado. Respondo algumas perguntas de praxe, nome, data de nascimento, se eu me lembro do que aconteceu. Aos poucos minha memória vai retornando e eu percebo que não estava sonhando. A batida, o som do metal rasgando, os gritos que ouvi, nada daquilo foi sonho. Ao ver meu nervosismo, o médico orienta a enfermeira para me sedar. E quando meus olhos começam a fechar, eu o vejo entrar no quarto. Jason corre em minha direção, mas eu já não consigo manter meus olhos abertos. *** — O que houve? — abro os olhos e Jason está sentado ao meu lado. — Oi para você também. — Ele passa o dedo pelo meu rosto. — Você está bonito. — Ele sorri. — Você nos dá um baita susto e é isso que tem a dizer?


— Eu pensei que era tudo um sonho — sou sincera. — Já eu, achei que fosse um pesadelo. — Jason aperta minha mão. — Como está se sentindo? — Meu corpo está um pouco dolorido e minha cabeça dói. — Os médicos disseram que você poderia se sentir assim. — Por quanto tempo eu vou ficar usando isso? — Aponto para o meu braço e em seguida para minha perna, ela estava um pouco suspensa, e havia um enorme curativo que ia do joelho até quase o pé. — O gesso? Poucos dias. — E a minha perna? — Essa já vai precisar de mais cuidados. — Ele olha para perna. — Ah droga, isso ai é uma cicatriz não é? — Olho assustada, eu odeio cicatriz, não por questão de estética, mas me dá angústia só por olhar. — Um cirurgião plástico cuidou disso, a cicatriz será mínima, prometo. — Jason toca meu rosto mais uma vez. — É muito bom ver você de novo. — Eu fiquei fora tanto tempo assim? — Tempo suficiente para me deixar maluco. — Aperto a mão dele mais uma vez e quando vou falar algo, a porta abre. — Ai meu Deus, Tink! — Tommy entra segurando um grande buquê de flores.


— Tommy — sorrio. Meu amigo praticamente se joga em cima de mim. — Desculpe, está tudo bem? — eu concordo com a cabeça — Nunca mais faça isso, mocinha! Está me ouvindo? Sinceramente, não tenho maturidade para lidar com isso de novo. — Eu vou me comportar — digo enxugando suas lágrimas. — Já avisamos Helena que você acordou, ela pediu que independentemente da hora, ela queria falar com você — meu amigo diz. — Eu vou falar com ela. Jason liga para Helena e conversamos um tempo, ela me conta sobre meus pais, o que não é nenhuma novidade, mas eu peço para avisá-los sobre a minha melhora, definitivamente, não estou com humor para falar com eles. Mas, o que realmente me surpreende, é ver Oliver e a namorada/ esposa no meu quarto. A mulher que conheci quando acordei era Bree, ela se apresentou como namorada do Oliver que, imediatamente, tratou de corrigila e disse que ela devia se acostumar com a ideia de ser sua esposa. Resolvi chamá-la apenas de Bree. Jason me deu um tempo a sós com Tommy, e foi então que meu amigo começou a me atualizar de tudo, era isso que eu amava em Tommy, ele me conhecia tão bem e sabia que eu odiava rodeios. Todos me tratavam como se eu fosse uma criança. Ele


não poupava detalhes, inclusive contando que Jason não saiu do hospital, nenhum dia. Essa foi a melhor de todas as informações. — Acho que vou parar, você parece cansada — Tommy me analisa. — Acho que foram muitas informações. — Dou um sorriso fraco. — Jason vai querer me matar se souber que cansei você. — Eu não sei o que pensar sobre isso. — Você nunca foi boa em pensar, Tink, é melhor fazer aquilo que você é realmente boa. — O que seria isso? — Seja rápida — ele sorri. Três dias depois o gesso do meu braço é retirado, minha alta ainda não foi dada, mas de acordo com a enfermeira, será em poucos dias. Jason não saiu do meu quarto, mesmo com Bree se oferecendo para ficar comigo durante a noite, ele não aceitou. E isso me enchia de medo, nosso tempo juntos, quando eu estava acordada, se resumia a conversas triviais e alguns filmes. A maior parte do tempo eu dormia, mas sempre com a mão dele segurando a minha. Em nenhum momento falamos sobre o que aconteceu da última vez que nos vimos. — Conversei com seu médico hoje — Jason fala, já faz dez dias que estou acordada. — Dependendo do


resultado dos últimos exames, ele vai te dar alta. — Jura? — não consigo conter minha empolgação. — Sim, se tudo correr bem você vai para casa. Como se sente? — Ele se senta na borda da cama. — Eu poderia sair correndo de tão feliz. — Você não pode forçar a perna. — Mas você sempre pode me carregar. — Ele para e me olha. Nesses dez dias Jason foi carinhoso, atencioso, sempre ao meu lado. Mas não passava disso, nenhum carinho a mais, nenhum beijo. Éramos amigos, apenas isso. — Obrigada por ficar comigo, Jason, eu sei que você tem as suas coisas e… — Não pense que você sabe de alguma coisa, Leah — seu tom não foi grosseiro. — Eu fiquei aqui porque não suportava ficar longe. Pisco quando sinto uma lágrima caindo. — Eu fiquei aqui porque queria ver você bem. — E agora? Agora que estou bem? — Eu vou levá-la para casa, e vou cuidar de você. — Suas palavras atingem meu coração como uma faca. Na manhã seguinte, estou sendo empurrada em uma cadeira de rodas, segurando um enorme buquê de flores, e vários balões coloridos. Cortesia do Tommy. Oliver alugou um SUV para que pudesse se locomover na cidade, ele ainda não havia ido embora e Jason disse


que seu irmão estava tendo uma espécie de lua de mel adiantada. — Pronta para ir para casa? — Jason pergunta quando abre a porta do SUV. — Como nunca estive. — Ele me carrega e me ajuda a sentar no banco do passageiro. Em seguida guarda nossas coisas e todas as tralhas que Tommy mandou. — Ele tem alguma fixação por balões? — Jason rosna quando guarda o último. Meia hora depois Jason está estacionando o carro, ele abre a porta e parece apreensivo. — Acho que eu deveria preparar você. — Para o quê? — Tommy e eu tivemos uma pequena discussão. — Sobre? — Fico apreensiva, raramente meu amigo discute com alguém. — Ele queria dar uma festa de boas-vindas. — E? — E eu quero ficar a sós com você. Tudo bem? Eu não respondo, mas a minha cabeça concorda no mesmo instante. Desde que acordei, não tivemos um tempo de qualidade a sós, o quarto vivia cheio de pessoas, ou eu dormia. Como ele informou, meu apartamento está vazio, um perfume de limpeza paira no ar, e tudo está impecavelmente organizado. — Uau, quem mora aqui? — falo quando ele me


coloca no sofá. — Bree me ajudou com isso, contratamos algumas pessoas para deixar tudo organizado. — Nossa, obrigada. — Eu fico impressionada. — Quer ir para o quarto? — Ainda não. — Jason assente. — Não se preocupe, nossa paz não vai durar muito, Tommy deve chegar a qualquer minuto. Oliver e Bree vão passar aqui mais tarde. — Jason. — Ele se aproxima — Obrigada por tudo. — Não precisa me agradecer. — Ele ajoelha e passa o dedo no meu joelho machucado. — Você não precisava fazer tudo isso. — Precisava sim. — Por quê? — Porque você é importante para mim, Leah. — Jason toca meu rosto. — Eu estava com saudade de ver esse brilho nos seus olhos. — Eu estava com saudades de você me tocando assim. — Fecho os olhos absorvendo seu toque. — Você me perdoa? — minha voz sai fraca. — Abra os olhos. — Eu obedeço — Eu não gosto de mentiras, Leah, chantagem. — Me desculpe. — Ouça — ele coloca um dedo na minha boca, fazendo com que eu me cale —, eu fiquei destruído os dias que você estava em coma, e quando a Bree me ligou


informando que você tinha acordado meu coração quase saiu pela boca. Não foi apenas porque eu estava feliz, Leah, meu coração quase explodiu porque ele voltou a bater, e bateu com uma força que me assustou. Era tudo por você, para você. — Eu não sei o que dizer. — Diga que vai me deixar cuidar de você, diga que vamos viver um dia de cada vez. — Um dia de cada vez — concordo. — Sem mais mentiras? — Não tem mais segredos, Jason. — E, principalmente, sem outros caras. — Seu olhar se prende no meu e não contenho o sorriso. — Sim, senhor “novo affair da supermodelo”. — Então, você estava lendo as revistas? — Algumas — confesso. — Sem mentiras, Leah. — Ok, li todas, cada maldita página, satisfeito? — Jason mal deixa que eu termine de falar, ele segura meu rosto com força e pressiona os lábios nos meus. Ele me beija até perder o fôlego, sua língua massageando a minha, é o beijo mais intenso que já tive. Minha mão vai direto para sua camisa, quero tanto sentir a sua pele. — Sua perna — ele consegue falar, mas não interrompe o beijo. — Você vai ser cuidadoso. — Beijo seu pescoço.


— Eu não vou. — Ele morde minha orelha e eu grito. — Confio em você. — Não deveria. Jason para e analisa meu corpo, ele olha para o sofá e me ajuda a deitar. Eu tiro a camisa, e meu sutiã chama a sua atenção. — Rosa? — Eu tenho que preservar alguma pureza. — Inclino para retirar a peça. — Deixe. — Jason me para. Sua atenção vai para o meu short jeans, ele abre o botão com cuidado e retira a peça, ele não encosta no local da cirurgia. — Tem certeza que está bem? — Não sinto dor. — O que é verdade, os medicamentos ainda estavam fazendo efeito. Jason ajoelha no chão e passa a mão na minha boceta, eu fecho os olhos absorvendo todas as sensações que os dedos dele me provocam. Ele pega minha mão e coloca um dedo na boca, ele chupa meu dedo ao mesmo tempo que faz movimentos circulares no meu clitóris. O que eu disse sobre dor? Porra, estou sentindo muita dor, uma dor latejante, crescente. É a melhor dor do mundo. — Ai! — grito quando ele morde meu dedo. Grito novamente quando a boca dele assume o lugar das mãos, porra. Isso é o céu. Estou deitada no sofá com um cara fazendo sexo oral em mim.


E não qualquer cara, Jason, o único que ocupou meus pensamentos nos últimos dias. A mão dele aperta meu seio por cima do sutiã, eu arfo. É demais, ele aperta com força suficiente para fazer meu corpo estremecer, e quando ele enfia a língua dentro de mim, eu tremo de verdade. Meu corpo está lutando para ter o melhor orgasmo da minha vida. Protesto quando ele para, mas Jason não presta atenção ao que sai da minha boca, ele olha para os meus seios, praticamente pulando do sutiã. — Merda — falo quando ele segura a peça com as duas mãos, uma de cada lado. E depois ele parte no meio, o barulho do tecido rasgando faz os olhos dele brilharem. E em dois puxões, eu tenho menos um sutiã no meu guarda-roupa. — Eu vou chupá-los tão bem, Leah, que você não vai querer outra coisa — sua voz está tão grossa, como se ele estivesse dopado. Jason cumpre o que promete, sua boca devora cada seio, com uma fome que parece insaciável. Ele morde, chupa, lambe. A cada ação, meu corpo reage, então ele enfia um dedo na minha boceta. É o céu, e quando ele enfia o segundo, eu gozo, tão forte, tão intensamente. Cada palavrão, cada gemido, tudo para ele, por causa dele. Jason Willers era uma droga viciante, e ele tinha


razão, eu não quero mais nada além da boca dele nos meus seios.


Depois de quase enlouquecer com a Leah no sofá da sala, eu a levei para o quarto e a obriguei a descansar. Fiz a limpeza nos seus ferimentos, e a vesti com algo confortável. Ela sorriu quando a deixei sem calcinha, justificando que assim eu poderia chegar até ela a qualquer momento. Pedi para Oliver fechar minha conta no hotel, e trazer as minhas coisas para o apartamento da Leah. Tommy era uma presença constante, e fazia companhia para Leah quando eu não estava. Oliver e eu criamos uma rotina, treinávamos juntos todas as manhãs. E depois ele corria para o hotel para ficar com Bree e Sky. Sim, meu irmão não aguentou a


saudade e mandou trazer a menina, que era uma luz no meio de toda essa confusão. Sky era tão pequena quanto curiosa, e meu irmão estava dominado pela garotinha de cabelos cacheados. Todos os dias, Helena e Leah conversavam, eu preferi manter a distância e não me envolver no relacionamento das duas. Inevitavelmente, ela também falou com seus pais. Uma conversa fria que a fez chorar até dormir. Leah andava com a ajuda de uma muleta, ela era determinada e seguia todas as recomendações, estava ansiosa para se recuperar. Já eu, estava nervoso com o fim das minhas férias. — O que você acha de levarmos Sky ao cinema hoje? — ela pergunta passando a mão no meu peito, desde que ela voltou não transamos, não de verdade. Meu pau dói com vontade de estar dentro dela, mas ainda tenho medo de machucá-la, nossa criatividade tem feito horas extras. — Acha que não vai ser muito cansativo? — Jason, eu já estou bem, minha perna está cada vez melhor, juro que não entendo todo esse seu medo. Você não ouviu o que o fisioterapeuta falou? — Ele falou alguma coisa? — digo fechando a cara. O fato é que odeio o fisioterapeuta dela, foi o Gabriel que o contratou e o cara toca nas pernas dela mais do que eu acredito que seja necessário. — Está com ciúmes?


— Não, ele apenas passa tempo demais com as mãos nas suas pernas. — Beijo sua cabeça. — Jason? — seu tom é receoso. — Hum? — Faz amor comigo? — Afasto seu corpo para olhar seu rosto, seus olhos sempre tão decididos parecem incertos, ansiosos. Mulheres já me pediram para fodê-las, transar, fazer sexo. Mas nenhuma delas havia falado dessa forma. E eu nunca poderia imaginar que ouviria esse pedido sair da boca da Leah. — Feche os olhos. Leah obedece e meus dedos vão para o seu rosto, contornando cada centímetro dele, ela tem um rosto tão delicado, é impressionante. As fotos penduradas no seu quarto mostram exatamente o que ela é. Uma mulher forte, mas que precisa ser cuidada. Começo a beijar seu rosto, seu nariz, as bochechas. Minhas mãos a seguram com carinho, e vão para sua nuca, massageio até ouvir um gemido, baixo, apreciativo. — Jason. — Suas unhas cravam nas minhas costas quando pairo em cima dela, estou mantendo meu controle no limite por dois motivos: eu não quero machucá-la, e eu, definitivamente, quero fazer amor com ela. — Mantenha seus olhos fechados, ok? Imagina que estamos em uma dança e deixe-me conduzi-la. Ela concorda com a cabeça, e sinto seu corpo


relaxando embaixo do meu. A camisa de algodão que ela está usando vai até o joelho, e mesmo não tendo nada de atraente, apenas a visão dela embaixo de mim, confiante, faz o meu pau pulsar. Saio de cima e retiro a camisa, a minha boxer vai logo em seguida, eu vou idolatrar cada centímetro do corpo dela e quero sentir todos os momentos. Ao toque das minhas mãos, sinto seu corpo mais quente, posso sentir o cheiro da sua excitação. Não tem nada mais atraente do que uma mulher excitada. O arrepio que eu vi no corpo dela me deixa à beira de perder o controle, sua boceta inchada apenas esperando, e eu nem havia chegado nela. Leah era gostosa demais para que eu deixasse passar algum centímetro daquele corpo. E cada vez que minha boca o explora, meu nome sai da boca dela entre gemidos roucos e desconexos. — Eu não estou disposto a sair dessa cama para pegar um preservativo — falo enquanto beijo seu pescoço. — Eu não pretendo deixar você sair. — Uma pílula do dia seguinte, tudo bem? — É a única coisa que eu consigo pensar, sei que ela não está tomando nenhum remédio. — Tudo bem. — Ela vira o rosto beijando meu pescoço. — Me deixe cuidar de você — gemo em resposta ao seu ataque.


— Vamos cuidar um do outro. — A resposta dela tira qualquer pensamento coerente da minha cabeça. — Abra as pernas. — Eu ajudo com a perna machucada afastando-a e a outra eu dobro para que fique inclinada. — Me dê um motivo para não lamber sua boceta agora. — Eu não quero a sua boca, Jason. — Seu pedido é uma ordem. Seguro meu pau e guio até estar completamente dentro dela. Eu já tive muitas mulheres na vida, mas nada se compara a estar dentro dela, fazer amor com ela. — Tente não mexer a perna. — Leah assente e eu começo a movimentar, é lento, e tão torturante que quando a minha boca encontra a dela, eu perco o controle. Meu quadril ganha força, impulsiono cada vez mais forte até que ela morde meus lábios e estamos gozando juntos. Saio de cima dela e tento controlar a respiração, a mão dela segura a minha e quando a olho, ela está com os olhos ainda fechados. — Leah? — Hum — ela resmunga. — Eu vou sentir sua falta — falo e vejo seus olhos abrirem, nós evitamos falar sobre a minha partida. Leah disse que odiava despedidas, que seria muito melhor ela acordar e não me ver mais em casa. Ela se sentiria mais confortável.


Mas eu não estava confortável com isso, muito menos sabendo que minha partida seria amanhã. — Sempre teremos os aviões não é? — ela soa incerta. — Eu vou fazer funcionar — falo, mas também com insegurança. A verdade é que é preciso muito mais do que de dinheiro para manter um relacionamento à distância, e eu não tinha certeza se estávamos na mesma página. — Está me pedindo em namoro, Jason Willers? — Você correria para longe se eu estivesse? — Não, minha perna não deixaria. — Ela sorri. — Um dia de cada vez? — Um dia de cada vez. — Beijo seus lábios e ela fecha os olhos.


Um dia de cada vez. Foi com essa frase que adormeci depois que fizemos amor, e com essa frase que vivemos durante esses meses. Um dia de cada vez, uma esperança de cada vez, um coração partido de cada vez. Eu prometi a Jason que não mentiria mais, eu não cumpri essa promessa. Menti para ele quando disse que não gostava de despedidas, o que eu queria realmente dizer era: não vá embora. Eu sabia que as malas dele estavam prontas e que ele partiria amanhã, eu o ouvi algumas vezes ao telefone tentando adiar a partida, e isso só fez o meu coração quebrar mais. A vida dele estava em Seattle e a minha aqui, o quão injusto era isso? Gabriel havia me enviado uma mensagem avisando que gostaria de conversar comigo. Não tivemos muito contato depois do acidente, mas pelo que eu sabia o piloto ainda não havia sido escolhido, e isso era um pouco de luz no meio da escuridão que seria a minha vida sem meu Guerreiro Lannister. Quando acordo, é fim da manhã. O cheiro vindo da


cozinha faz meu estômago roncar. Descobri os talentos culinários do Jason logo que ele se mudou para cá. Tommy reclamou e disse que ele deveria ter feito isso também quando estava no apartamento dele. A verdade era que ele estava me mimando, não só com orgasmos de perder o fôlego, mas com comida e boa conversa. Eu ainda não sabia qual era a sua cor favorita, ou se ele gostava de animais. Mas nos divertíamos com filmes de todos os gêneros, mesmo os romances, quando ele sempre questionava tudo. Eu amava esses momentos, quando ríamos como loucos. E quando ele sorria, Deus, meu coração pulsava tão forte, que se eu já não o tivesse testado na pista de corrida, eu poderia sofrer um ataque cardíaco. — Você é atraído pelo cheiro da comida? — falo para Tommy quando entro na cozinha. Minha perna ainda não está cem por cento, mas a melhora é visível e algumas vezes já consigo andar sem a ajuda da muleta. — Falou a garota que engordou uns dez quilos. — Ele aponta para minha direção. — Não seja invejoso, Thomas. Foram só uns três quilos. — Olho para o meu corpo, droga, provavelmente Tommy tem razão. — Adoro as suas curvas. — Jason beija meu pescoço e Tommy abafa uma risada, ok, ele carinhosamente acabou de confirmar o que Tommy disse.


— Odeio vocês dois. — Jason puxa a cadeira e me sento, a mesa já está posta e tudo parece delicioso. Nosso almoço não é diferente dos outros dias, Tommy nos mantém atualizados sobre o seu estúdio, Jason sorri orgulhoso e sempre auxilia Tommy nas questões burocráticas. À tarde, nós desistimos do cinema e Jason mais uma vez me leva ao paraíso. Não sei se é por estarmos praticamente nos despedindo, mas seus toques estão mais carinhosos, quase melancólicos. E quando a noite cai e o vejo cair no sono, eu choro. Acordo com um hálito quente no meu pescoço, Jason está me beijando e sussurrando como eu sou linda. — Acorda, dorminhoca. — Ele beija minha clavícula. Estou nua debaixo dos lençóis, mas noto que ele não. — Qual o motivo de estar vestido? — Abro os olhos e vejo que ele está arrumado. — Fiz o seu café, não achei que seria legal andar nu pela sua cozinha. — Eu não vejo problemas. — Dou de ombros e ele pega a bandeja. — Você é uma pervertida. — Jason traz a bandeja e coloca na minha frente, cubro os seios com o lençol e olho para o café. — Uau, você se superou. — Ele pega uma flor que está dentro de um copo e coloca no meu cabelo. — Você merece isso, que alguém se supere cada vez


que for te agradar. — Engulo o nó que surge na minha garganta, eu não deixei de notar que ele mencionou alguém, e não ele. — Obrigada. — Vou encontrar com Oliver agora, mas logo estarei de volta, ok? — Tudo bem. — Eu relaxo um pouco, sei que ele não vai se despedir, mas não iria embora dizendo que vai voltar logo, iria? Jason sai e eu tomo o café, uma hora depois eu consigo me vestir e estou abrindo a porta para Gabriel. — Gabe! — Ele me abraça. — Você está ótima. — Seus olhos percorrem meu corpo e eu bato em seu ombro. — Olhos para cima, Gabriel. — Ele sorri. — Vem, preciso conversar com você. — Andamos até o sofá. — O que tem de tão urgente? — Você sabe que a vaga de piloto ainda não foi preenchida, certo? — Meu coração dispara. — Sei. — E você sabe por quê? — Não faço ideia. — Eles querem você, Leah — puta merda. — Eu consegui? — pergunto perplexa. — Sim, garota, eles estão ansiosos pelo seu retorno às pistas. — Tapo a boca com as mãos para evitar um grito


de surpresa, mas quando olho para a porta, Jason está me encarando tão surpreso quanto eu. — Jason! — Ele me olha por mais um minuto, fecha a porta e vai embora. — O que deu nele? — Gabriel pergunta. — Ele foi embora — a afirmação sai da minha boca e tem o gosto amargo. Eu sei que Jason ouviu sobre a minha volta para as pistas de corrida, e eu sei que essa foi a forma dele dizer que não vamos funcionar. *** Droga, eram três horas da tarde e eu estava mancando na porcaria de uma sala de espera. — Tommy, você tem certeza? — pergunto pela décima vez, meu amigo me passou todas as coordenadas, que segundo ele estão corretas. — Tink, eu tenho certeza, o avião sai às três e meia. — E se ele pegou outro? — Ele não pegou, falei com ele mais cedo e ele me confirmou. — Não estou vendo nenhum deles aqui. — Não era possível, o aeroporto não estava tão cheio assim e é claro que um lutador do tamanho do Oliver não passaria despercebido. — Já tentou os celulares? — Caixa postal, todos eles — falo desanimada. — Droga, Tink. — Vou até o balcão de informação, mando notícias.


Pego minha mochila e minha muleta e saio da sala de espera, vou até o guichê da companhia aérea tentar obter alguma resposta. — Pelo amor de Deus, basta me informar se eles estarão nesse voo — grito com a atendente. — Senhora, como informei nas três vezes anteriores, não podemos passar esse tipo de informação. — Quanto? — pergunto. — Não se trata disso, senhora. — Senhorita! — berro — Desculpe, eu estou nervosa. — Sinto muito, senhorita, mas não posso ajudá-la. Saio do balcão e noto uma comoção na entrada da sala de espera, algumas pessoas com celulares na mão, seguranças e, entre eles, Oliver com Sky no colo, e Jason e Bree logo atrás. Deixo cair a muleta e corro em direção a eles. Irresponsavelmente, eu corro em direção a eles.


Estamos sendo escoltados para a sala de espera, Oliver está uma fera comigo por estar atrasado. Fora o fato de estarmos em um voo comercial, coisa que ele detesta, Sky ficou assustada com a aglomeração de pessoas. — Eu poderia matar você por isso — ele resmunga. — Você também poderia ter confirmado o jatinho — falo na defensiva. Eu fiquei de confirmar o aluguel do jatinho, mas pela primeira vez eu me distraí e meu trabalho acabou em segundo plano. Leah era uma excelente distração, para dizer o mínimo, e só em pensar nela meu rosto se contorce. Nosso tempo juntos foi muito mais do que eu poderia


imaginar, o sorriso dela, a voz, a maneira que ela adorava ver TV. Ela era muito mais que luxúria, era um pacote de boas sensações que tinha sexo como bônus. O melhor sexo. — Poderia ao menos ligar a droga do celular? — Oliver xinga novamente. — Onde você estava? — Fui até o apartamento da Leah, para me despedir — minha voz sai baixa e meu irmão me olha. Ele ajusta Sky em seu colo e vai na frente, sinto a mão de Bree no meu ombro. — Você liga para ela assim que chegarmos — minha cunhada me tranquiliza. Eu sei que vou ligar, mesmo contra a minha vontade, a raiva que senti quando vi a felicidade em seus olhos com a possibilidade de voltar a correr. Eu não sei se isso vai passar. O som da angústia na voz dela quando saí de lá ainda está nítido na minha cabeça. — Jason! — ouço novamente a sua voz, mas quando penso que estou alucinando olho para Bree, ela parou e agora tá olhando para trás. — Merda. — Vejo Leah correndo entre a multidão, praticamente sendo esmagada no meio de tanta gente. Corro na sua direção, tentando afastar as pessoas para lhe dar passagem, ela está sem a droga da muleta e está com uma careta de dor. — Atrasado! — ela grita batendo no meu peito.


— Do que você está falando? — Seguro seus pulsos, ela está me socando descontroladamente. — Você. Está. Atrasado. — Olho atônito — Você nunca se atrasa, Jason. Leah puxa os pulsos e enxuga as lágrimas que caem pelo seu rosto. — Eu tenho um motivo para ter me atrasado. — Minhas mãos vão para o seu rosto. — Eu fui me despedir de você. — Eu odeio despedidas — ela funga. — Você está mentindo. — Certo, eu odeio a ideia de me despedir de você, ok? Satisfeito? — Ela cruza os braços. — Muito, e agora? Veio se despedir? — Não. — Ela pega a mochila que estava pendurada no seu ombro e joga em cima de mim. — O que é isso? — Minhas coisas, eu vou com você — ela fala como se não fosse nada demais. — Você o quê? — Você é surdo, Jason? — Todo mundo no aeroporto está nos observando. — Eu vou com você, entendeu? — Leah, não faça isso, sua carreira é aqui, e… — Não, eu não aceitei a vaga. — Você não aceitou? — Jason — ela suspira — Antes de conhecer você, quando eu imaginava meu futuro, era cheio de carros,


primeiros lugares, chuva de champanhe. Mas, agora? — respiro fundo — Quando eu olho para o meu futuro eu vejo você. Vejo o seu sorriso, seus questionamentos infundados sobre os filmes de romance, seus ternos caros. Você, Jason, é com você que eu quero estar quando olho para o meu futuro. Ela para de falar e olha ao redor, ela não havia notado que éramos o centro das atenções. — Pode repetir isso? — Foda-se você. — Ela sorri. Coloco a mochila dela no chão e seguro na sua cintura. — O que acha de ser carregada para dentro do avião? — digo olhando em seus olhos. — Eu não tenho passagem. — Ela começa a rir. — Tem um jato particular esperando por nós. — Oliver aparece — Mexam suas bundas, pombinhos. Pego Leah no colo e, entre aplausos de uma plateia muito animada, eu sussurro em seu ouvido. — Um dia de cada vez? — Um dia de cada vez. — Ela sorri. — E para sempre — ela acrescenta.


— Você está cavando um buraco no chão — meu irmão fala ajustando o terno. — Como se eu ligasse para a porra de um buraco. — Abro o botão do colarinho, essa porcaria de gravata vai me sufocar. — Pare com isso, Oliver, você não está indo para um julgamento. Jason estava certo, eu não estava indo para um julgamento, estava apenas caminhando para a porra do “Até que a morte os separe”, não que isso tivesse alguma importância, mas eu jamais abriria mão de ver as minhas duas meninas caminhando até o altar. — Elas estão atrasadas — falo novamente.


— Toda noiva se atrasa — Jason justifica. — Principalmente se Leah estiver junto. — O sorriso do meu irmão se alarga ao mencioná-la. Quando saímos de Los Angeles, Leah veio a reboque, com uma mochila na mão a garota deixou para trás a carreira, os amigos, e seus sonhos, pelo meu irmão, e ela não se arrependeu. Dois meses depois que chegamos em Seattle, eles anunciaram a gravidez, Jason ficou em êxtase e Leah extremamente assustada. Mas, meu irmão sempre mantinha tudo sob controle, inclusive o temperamento dela. Com a gravidez minha cunhada se transformou em uma explosão hormonal, e formávamos uma bela dupla. Jason e eu resolvemos investir em outros ramos, eu sabia que não poderia lutar para sempre, então ficamos de olho no ramo automobilístico. E como presente de aniversário, Leah ganhou a sociedade em uma equipe de Fórmula 1. Além de excelente pilota, ela se saiu muito bem nos bastidores. Meu irmão estava orgulhoso. Do passado, a única coisa que meu irmão fez questão de manter foi o carro dela, ele comprou escondido quando Tommy vendeu, na mesma época que vendeu o apartamento, e depois a presenteou. Leah queria matá-lo e beijá-lo ao mesmo tempo. E mesmo depois de todas as juras e ameaças de morte que ela proferiu quando estava dando à luz ao Jace, ela ama


Jason com tudo que tem. E meu irmão a ama igualmente. — Não se preocupe, Tommy enviou uma mensagem, elas já devem estar chegando — a voz de Jason soa despreocupada. — Será que ela desistiu? — pergunto nervoso. Porra, eu odiava esse nervosismo. A última vez que fiquei nervoso assim foi quando recebi os exames. Bree e eu estávamos tentando ter um filho, foi ano passado e como eu não era paciente fomos ao médico para saber o que havia de errado. O problema era simples, na verdade. O problema era eu. Eu era estéril. Incapaz de ter filhos. Foi como uma avalanche, e se ela não estivesse ao meu lado eu não saberia o que fazer. Quando dei a notícia ao Jason, nós choramos. Choramos pelo filho que agora ele tinha certeza que perdeu, choramos pelos filhos que eu sabia que nunca poderia ter. — Sabe, é engraçado ver você nervoso desse jeito, mesmo depois desse tempo todo, com todas as suas explosões, Bree disse que sim não foi? — a voz de Jason me desperta das minhas lembranças. — Eu lutei muito por esse maldito sim. — Sei disso, e como sempre, você foi o campeão. — Ele bate no meu ombro — Relaxa, Oliver, elas já estão aqui.


Jason aponta para a porta da igreja, os burburinhos dos convidados param e Tommy entra segurando Jace, eu sei que as minhas meninas já estão aí. — Ei, campeão. — Pego Jace das mãos do Tommy — Quando aquela porta abrir você vai me prometer que vai proteger a nossa princesinha — ele balbucia alguma coisa, ele mal consegue falar papai e mamãe. — O tio Oliver vai te ensinar a nocautear qualquer marmanjo que se aproximar da nossa Sky. Beijo a testa dele e entrego para Jason. Quando a música de entrada começa a tocar, meu coração acelera. Minhas mãos começam a tremer e eu tenho certeza que vou desmaiar. — Relaxa Oliver, é um casamento. Vejo Leah entrando ao lado de Liv, elas são as damas de honra, em seguida, Sky entra sorridente, com uma cesta na mão, jogando pétalas de rosas. Assim que ela me vê, todo ensaio é esquecido, Sky corre em minha direção e pula em meus braços, beijo seu rosto e olho para frente. Bree está entrando, eu nunca a vi tão linda. Seu sorriso, a entrada lenta, sem hesitar, sem olhar para os lados. Ela olha apenas em minha direção, e nesse momento eu respondo ao Jason. — Não é um simples casamento, é a minha luta final. O meu nocaute.


Vocês conseguem definir a palavra amor? Aos sete anos, minha professora do primário nos deu essa tarefa, como se fosse algo fácil, na verdade, à época foi fácil. Aos sete anos o amor era simples, algo que sentia praticamente por todos a minha volta. Mas na minha definição, somente uma pessoa me vinha à mente. Sky, minha prima, que era quase cinco anos mais velha, e que ao meu ver, era a definição perfeita de amor. Aos sete anos era isso que eu pensava, e prestes a fazer vinte, não havia mudado. Aos dezoito anos eu a beijei pela primeira vez, foi quando ela estava prestes a entrar na sua primeira luta


oficial. Sky era a melhor lutadora que eu conhecia, era destemida, curiosa e orgulhosa demais. Não foi o meu primeiro beijo, mas foi o único que importou. Desde então, ela passou a me tratar como um irmão mais novo, sempre me colocando no meu lugar. Mas o adolescente cresceu, e agora está mais do que determinado a provar que o meu lugar é ao lado dela, na cama dela. Estou sentado no sofá da casa do meu tio, ele viajou com a tia Bree e pediu para que eu ficasse aqui, fazendo companhia para Sky, mesmo que ela tenha vinte quatro anos, ele ainda a trata como uma criança, e ela detesta. Mas só resta esperar, já que o apartamento dela ainda não ficou pronto. Culpa do destino, ou do meu tio Oliver que está adiando ao máximo a partida dela. Mudo novamente o canal da TV, nada ali me agrada, então eu ouço o barulho de chaves, e risadas. — Merda! — xingo baixinho, eu sei que ela não está sozinha. — Ei, Jace — ela fala quando me vê sentado no sofá, ela tenta esconder a surpresa, mas acho que já esperava por isso. — Oi. — Olho para ela e ignoro o babaca com a mão no seu ombro. — E aí, irmãozinho. — O idiota tem a coragem de me chamar de irmão.


— Max — cuspo o nome dele como se fosse um palavrão e volto minha atenção para a TV. — Estaremos lá em cima — o bastardo fala puxando Sky, ela me lança um olhar e eu procuro me conter. Tento me concentrar no que está passando na TV, olho até para a droga do meu celular, qualquer coisa para evitar pensar que ela está na cama com aquele merda. Dez minutos depois, estou subindo os degraus. De dois em dois. — Sky. — Soco a porta. — Sky — chamo mais uma vez. — O que foi? — Ela abre a porta ao mesmo tempo que abaixa blusa, merda, o pouco de pele que vejo é suficiente. — Sem caras — digo olhando para o bastardo deitado na cama dela. — O quê? — Sem caras, essas são as regras. — Não me trate como uma criança, Jace Willers — ela enfatiza o meu sobrenome, ela sempre faz isso, para me lembrar que somos primos, mas eu também jogo baixo. — São as regras do seu pai, ou seria padrasto? Sky Willers. — Vejo a fúria surgir nos olhos dela. É isso aí. — Saia, Max — ela diz ainda me encarando. — Vou estar na festa, sabe onde me encontrar. — Ele pega a camisa e passa pela porta. — A gente se vê, irmãozinho.


— Idiota — praguejo. — Não tanto quanto você. Qual é a sua, Jace? — Ela entra no quarto e eu entro em seguida. — Eu não vou ficar lá em baixo calado enquanto um cara fode com a minha garota. — Sua garota? Eu não sou sua garota, Jace, somos primos, acorda! — Não temos o mesmo sangue, por que você não aceita isso de uma vez? — Eu sou a filha do Oliver, seu tio, Jace. — Ela coloca o dedo acusatoriamente no meu peito. Eu sei que ela detesta quando eu digo que não temos o mesmo sangue, mas esse maldito parentesco parece ser a única coisa que a afasta de mim. — Quando você vai assumir o que sente por mim? — Não força, Jace. — Não fuja, Sky. — Ela cai na cama e eu subo em cima dela. — Você não faria isso! — Passo a mão no seu rosto, em seguida minha boca faz aquilo que eu sempre desejei, eu a beijo, com o amor que eu guardei durante todos esses anos. Nada nesse mundo poderia se comparar ao que eu estou sentindo agora. — Seja minha, Sky. — Beijo seu pescoço e ela geme — Eu sempre fui seu, ninguém me teve como você tem, meu coração e meu corpo têm só uma dona. Beijo seu pescoço e minha mão vai para a barra da


sua camisa. — Jace — ela me para — Você é virgem? Droga. Certamente ela não foi a primeira garota que eu beijei, mas seria a primeira que eu iria transar. Eu nunca passei de alguns amassos, e na faculdade acredito que há uma aposta que diz que sou gay. Quando na verdade, meu corpo só quer uma pessoa. — Isso importa? — Passo a mão no seu rosto. — Saia do meu quarto. — Sky… — Agora, Jace. Saia agora. Seu tom deixa claro que ela não vai ceder, ela poderia me derrubar com um soco se quisesse, eu me levanto atordoado. — Não vou fazer nada que você não queira. Dito isso, eu saio do quarto batendo a porta e me xingando mentalmente. Meia hora depois, estou sentado novamente no sofá da sala quando escuto seus passos na escada, ela nem ao menos me olha ao sair de casa. Peço uma pizza e sintonizo em um jogo, parecia até estar interessante, mas o barulho do meu celular me distrai. — Jace! — Quase derrubo a fatia da minha mão quando escuto a voz dela, é Sky e ela está chorando. — Onde você está? — entre soluços ela me passa o


endereço, não fica muito longe, por isso, nem retiro o carro da garagem, e corro até lá. É uma casa que fica a poucos quarteirões da casa dela, e pelo visto está acontecendo uma grande festa. Entro sem me importar com quem está aqui, bebidas e cigarro, são as únicas coisas que consigo identificar nesse mar de pessoas entorpecidas. Encontro Sky sentada na escada, os olhos vermelhos. Ela está tremendo segurando o celular na mão, a alça do vestido está rasgada. — Eu vou matá-lo. — Passo por ela e subo as escadas, sinto que ela vem correndo tentando me conter. — Não, Jace, apenas vamos embora. — Viro e a encosto na parede, dou uma boa olhada nela novamente. — Eu. Vou. Matá-lo. Começo a abrir as portas dos quartos, uma por uma, até encontrar quem eu quero, e eu não demoro. Na terceira porta encontro o bastardo sentado na cama, sem camisa e com as calças abertas. — Como você quer morrer, Max? — pergunto e ele me olha, seu olhar me diz que ele está drogado o suficiente, e isso me importa? Porra nenhuma, eu vou arrancar o pau dele fora. Então eu começo. Parto para cima dele socando com tanta força que sinto seus ossos estalarem a cada batida do meu punho. Um, dois, três.


Eu não paro, até ouvir o grito dela e a polícia me algemando.


Agradecimentos Aos meus amigos, poucos, loucos e insubstituíveis. À minha família, que me apoia, mesmo quando não sabe do que se trata. Aos leitores, essa série só existe por causa de vocês. Obrigada a todos.


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