Prefácio Quem não conhece o nome de Marco Polo? Ele é célebre em todos os continentes, e centenas de empresas, hotéis e ruas têm o seu nome. O Livro das Maravilhas do Mundo, de sua autoria, é o primeiro relato de viagem a ter desencadeado tantas reações apaixonadas e a ter suscitado tanta inveja, dando um novo fôlego à noção de viagem. Colombo chegou a levar consigo um exemplar quando realizou a sua primeira travessia do Atlântico. Falar de viagens e de viajantes implica muitas vezes evocar o nome de Polo, considerado o maior de todos os viajantes. No entanto, o que fez verdadeiramente Marco Polo? A resposta a esta pergunta afigura-se simples. Ele é o primeiro viajante ocidental a chegar à China! Asserção, contudo, absolutamente falsa. O seu próprio pai, na companhia do tio, já se tinha deslocado à corte do Grande Khan e regressado. Outros mercadores e emissários talvez já o tivessem feito anteriormente, numa Rota da Seda ainda bastante ativa. De igual modo, não foi Marco Polo a redigir o seu famoso livro, pois ditou-o a Rusticiano de Pisa, que deixou necessariamente a sua marca de escritor. Livro que, aliás, provocou controvérsia assim que foi publicado. O relato era demasiado extraordinário, demasiado rico em peripécias para ser verosímil. Mais parecia um livro de aventuras imaginadas do que o relato credível de um viajante. Assim, o famoso Polo não passaria de um impostor, um dotado inventor de um périplo nunca realizado. Uma controvérsia que, ainda hoje, está longe de estar fechada. Especialistas, historiadores e viajantes confrontam-se no campo da ciência, baseados em arquivos e em realidades geográficas, para determinar se Polo fez verdadeiramente tal viagem. Para alguns, tudo aponta para a mentira; para outros, tudo demonstra que disse a verdade… Qual será a verdade acerca deste homem, que se defendia dizendo «Não cheguei a relatar metade das maravilhas que pude observar»? Justificará ele a sua presença nesta coleção dedicada aos descobridores, ou deveria figurar numa coleção de ficção histórica? Sem ter mais provas do que os outros, e depois de ter passado muito tempo no campo dos céticos, hoje penso que Polo merece estar ao lado dos grandes exploradores do nosso mundo. O extraordinário não é raro na história dos descobridores e, embora fossem perigosas, as viagens não deixavam de ser perfeitamente possíveis. Tendo partido adolescente e mercador, os seus talentos de observador e a sua curiosidade fizeram dele um explorador. E se, afinal, não tivesse realizado tal viagem? No fim de contas, pouco importa. O seu relato constitui-se como uma fonte de inspiração para dezenas de expedições posteriores. Até hoje persiste o costume de se fazer «o caminho de Marco Polo»… Uma forma de nos lembrar que a exploração começa muitas vezes por partir disso: do imaginário que forjamos e do nosso desejo de o comprovar. CHRISTIAN CLOT Da Sociedade dos Exploradores Franceses
Título original Marco Polo — 1. Le garçon qui vit ses rêves Autores Éric Adam, Christian Clot, Didier Convard e Fabio Bono © Éditions Glénat, Adam, Colt, Convard e Bono, 2013 Todos os direitos reservados Tradução Tiago Marques Revisão Elisabete Lucas Fotocomposição Gradiva Impressão e acabamento ACD PRINT, S. A. Reservados os direitos para Portugal por Gradiva Publicações, S. A. Rua Almeida e Sousa, 21 – r/c esq. — 1399-041 Lisboa Telef. 21 393 37 60 — Fax 21 395 34 71 geral@gradiva.mail.pt 1.a edição junho de 2022 Depósito legal 499 823/2022 ISBN 978-989-785-148-3
Editor GUILHERME VALENTE
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