JUVENTUDE
Eu montei um totem de mim mesma. Preciso dos óculos para enxergar, mas também para me esconder um pouco porque a juventude não está mais ali. Eu levo uma hora e meia pra montar essa cara. Vou ao salão semanalmente e os demais dias me arrumo sozinha em casa.
JOVENS
O chato é que eles querem tudo imediatamente. Isso tira a curtição da coisa. Eles recebem tudo pronto. Por causa da velocidade dos novos tempos, não conhecem o tempo de maturação, o tempo da espera para que as coisas sejam feitas da melhor maneira.
o banqueiro Robert Hefley Blocker. Em 64, nasceu Consuelo e, em 66, Alessandra. Em 1970, a família mudou-se para o Rio de Janeiro e, enquanto o apartamento não ficava pronto, eles moraram no Copacabana Palace. Foram onze anos de casamento até que o marquês italiano Giulio Cattaneo surge e tudo vira de cabeça para baixo. “Fui viver o amor da minha vida”. Michele, pai de Costanza, indignado, a deserdou. “Foi complicado. Tive que começar de novo. Meu pai achava que eu não tinha juízo. Mas quer saber… foi bom pra mim”. Costanza ficou sem as filhas, deixou a tecelagem e começou a trabalhar na editora Abril. “Eu não sabia escrever uma frase. Tive que aprender”, conta sobre o começo da carreira na Claudia. “Eu fui rejeitada pelas jornalistas, que me chamavam de dondoca”. Mas lá ela atuou com maestria por 20 anos no comando da revista. Em 1987, deixou a editora, pois seu pai estava doente e ela precisava voltar para a fábrica da família. Passou a escrever uma coluna na Folha de S. Paulo e em 1991 começou na Vogue, onde está até hoje. “Eu trabalhei no período mais legal. Tínhamos influência. O impresso viveu o auge junto com a expansão da indústria da confecção”, rememora. “Vamos lá… Quais foram as marcas que começaram a fazer moda nos anos 80? As de jeans. Zoomp, Forum, Company, Yes Brazil. Foi a era do índigo e a indústria têxtil ganhou muito dinheiro”. Mas se Costanza estava no auge de sua relação com a moda, o pior chegaria em seguida. Giulio morre de enfarte em 1990. Vem a depressão, e dois anos depois a descoberta do câncer de mama – pela primeira vez. “Ele foi meu
MILLENNIALS
Eu sou fascinada com comportamento. E me interessa muito essa geração que nasceu após a internet. Eles têm uma mentalidade diferente e buscam roupas e objetos que lhes proporcionem uma nova experiência.
BRASIL
Minha terra é o Brasil, tanto que nunca pensei em mudar. Eu devo tudo ao Brasil. Você acha que eu seria toda essa coisa se eu estivesse na Itália? Claro que não. O Brasil é de uma generosidade extraordinária.
único amor. Até hoje”. Em 1995, ela conhece o jornalista e produtor Nelson Motta. Vivem um romance à distância, entre Nova York e São Paulo. Casam-se em 1999, no Harlem, mas em 2001 encerram a relação. “Eu parei por aí, né?”, diz. “Eu vivo em perpétua lua de mel comigo mesma. A vida inteira foi assim”, responde quando pergunto se ela se sente sozinha. Os netos nasceram nessa época. Hoje, Cosimo, 23, e Allegra, 20. Ele estuda Administração com foco em luxo. E ela, cinema para internet. “O estudo dos meus netos é por minha conta. Um em Londres e outro nos Estados Unidos. É o legado que deixarei pra eles. Você sabe que sou melhor avó do que fui mãe, né?”. Um pouquinho do que sabe e muito do que ensina foi parar em livros que se tornaram best-sellers. Em 1999 ela lança Essencial, reeditado recentemente pelas filhas, e em 2009, Confidencial. Em 2008, o reconhecimento: condecorada “Commendatore dell’Ordine della Stella” pelo governo italiano como uma de suas cidadãs ilustres. A primeira década do século para Costanza caminhou calmamente. “Eu sou uma das poucas pessoas no País que têm a experiência de ter a oportunidade de ver tudo até hoje. Quando eu cheguei ao Brasil tinha telefone à manivela. Hoje eu tenho dois celulares e dois iPads”. E eu pergunto: 'por que dois de cada?'. Ela responde: “porque eu sou uma anta tecnológica e não sei fazer duas coisas ao mesmo tempo. Tipo falar e procurar algo”. A morte de dona Gabriella, em 2010, foi outro baque para Costanza. “Eu sabia que ela estava velhinha, e tal, mas conversando com meu psicanalista, vi que a causa de tudo era porque não havia mais ninguém atrás de mim. Isso
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