REVISTA ENCONTRO - Nº 27/28

Page 51

INFLUÊNCIA DO BRASIL NAS LITERATURAS AFRICANAS A literatura dos países africanos de língua portuguesa, profundamente marcada pela história, traz o passado com matriz de significado. O contato com o mundo ocidental deu-se sob forma de choque. Como o desenvolvimento, houve ruptura na cultura africana. Esse passado colonial, as lutas pela independência, aconteceram na complexa conjuntura dos anos de 1970. No entanto, a independência dos diversos países não deu conta do projeto utópico que os africanos tinham em mente. A influência do Brasil na literatura africana é inarredável. No entanto, no Brasil, houve uma passagem mais longa, da literatura portuguesa para a brasileira propriamente dita. Os autores brasileiros se apropriaram da língua do outro (a língua portuguesa) e construíram a sua própria literatura. É essa utopia que os escritores africanos perseguem. As relações de convivência Brasil-África no início foram traumáticas, por conta do tráfico de escravos vindos principalmente de Angola. Com o tempo, essas relações foram se modificando, revitalizadas pelos escritores africanos, que, desde o século passado até hoje , são unânimes em afirmar, quer em entrevistas, quer em depoimentos, a força do Brasil como matriz fundamental na formação identitária e na consciência nacionalista. Para a África lusófona, o Brasil foi um catalisador, influência intensificada no Arquipélago de Cabo Verde e no distante Moçambique. O primeiro livro de poesia em português, publicado por um africano no continente, é do escritor nascido em Bengala em meados do século 19, José da Silva Ferreira que viveu algum tempo no Brasil. No livro de Ferreira anotamos os primeiros sinais de segmento romântico, apego à terra, apreço pela natureza, sementes de uma consciência nacionalista que se intensifica com o tempo. Os poemas desse livro nos mostram a ligação com o nosso Gonçalves Dias. A literatura brasileira sempre foi muito lida na África. Escritores como Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Raquel de Queiroz, Érico Veríssimo e principalmente Jorge Amado. Muitos desses autores eram censurados pelos países africanos, mas chegavam, clandestinamente , aos leitores ansiosos por um mundo mais justo e mais livre. Em Amado, viam-se personagens que faziam parte do universo africano. A admiração pelos escritores brasileiros nessa época não se restringiam aos regionalistas, aos ficcionistas, estendia-se também à poesia. O lirismo de Manuel Bandeira apaixonava os escritores africanos e “PASÁRGADA,” de Manuel Bandeira, essa fantasia cantada em versos, tornou-se uma recorrência da poesia caboverdiana. A identificação com os brasileiros é também explicada pela língua, pela nossa raiz colonial, e alimentada pelos meios de comunicação. A Revista O Cruzeiro, consumida em países africanos, levava a nossa cultura e nossos costumes àquele povo. Nossa música popular e o nosso futebol os encantavam e os influenciavam. A literatura africana que fala o português é muito rica e tem escritores de valor reconhecido internacionalmente. Entre os mais conhecidos destaco Luandino e Pepetela, ambos angolanos. Nos anos 40, em torno da Revista Mensagem, temos os nomes Antonio Jacinto, Agostinho Neto, Viriato da Cruz. São famosos, nas diversas Áfricas e em várias épocas, Ruy Duarte de Carvalho, Agostinho Neto, Ana Paula Tavares, José Eduardo Agualusa. Nas margens do Índico: José Craveirinha, Eduardo White, Luís Carlos Patrakim.

51


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.