MOÇAMBIQUE - CABO DELGADO DELGADO COLONIAL - Relatório sobre a Baía de Tunge e Rio Rovuma de 1888

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MOÇAMBIQUE

PARA A HISTÓRIA DE CABO DELGADO COLONIAL OBSERVAÇÕES NA BAÍA DE TUNGUE, NO CABO DELGADO E NO RIO ROVUMA, NO ANO DE 1888. UM BREVE RELATO Por Carlos Lopes Bento


MEMÓRIAS DE CABO DELGADO OBSERVAÇÕES NA BAÍA DE TUNGUE, NO CABO DELGADO E NO RIO ROVUMA, NO ANO DE 1888. UM BREVE RELATO Por Carlos Lopes Bento

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A baía de Tungue. Mapa de Henry O’Neill (parte). Fonte: SGL.

No último quartel do século XIX, o extremo norte da província de Cabo Delgado foi notícia devido ao regresso, em 23 de Fevereiro de 1887, pela força das armas, da baia de Tungue, ao território moçambicano há muito, ilegalmente, na posse do sultanato de Zanzibar. Depois deste acontecimento, houve a necessidade de conhecer, em pormenor, a realidade socioeconómica, agora, da responsabilidade da administração portuguesa, para que, de seguida, fossem tomadas as medidas político-administrativas adequadas, capazes de promover o seu progresso. Para tanto, o governo de Lisboa, coadjuvado pelo de Moçambique, determinou que se conhecessem: - As condições económicas e de segurança existentes desde da ocupação da dita baía, incluindo o estado do comércio de Tungue, causas da sua decadência e perpetivas de futuro desenvolvimento; - as geografias do Cabo Delgado e do rio Rovuma;

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- Antropólogo. Antigo funcionário da Administração Civil de Moçambique. Doutorado em História dos Factos Sociais, pelo ISCSP. Diretor da Sociedade de Geografia de Lisboa. 2 - Notícias do governo de Cabo Delgado, referentes a Outubro de 1882 indicam-nos que desembarcou, em visita à vila do Ibo, em 19 do mesmo mês, vindo do Cabo Delgado, o cônsul inglês, Henry O’Neill, que, no dia seguinte, seguiu para Moçambique.

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- os locais estratégicos para a implantação de fortificações indispensáveis à defesa não só à baia de Tungue mas também à região compreendida entre o Cabo Delgado e a margem direita do rio Rovuma, contra a invasão possível dos árabes do norte. Coube a responsabilidade desta investigação ao tenente coronel Cláudio Augusto Carneiro de Sousa e Faro, Inspetor das Obras Públicas em África. Os resultados da sua pesquisa foram expressos num Relatório, datado de 25 de Fevereiro de 1888, apresentado ao Governador Geral de Moçambique, conselheiro Augusto Castilho, publicado na folha oficial da Província.

Este Relatório, cuidadosamente elaborado e redigido, pelo rigor do seu conteúdo, deve merecer a atenção de todos os estudiosos que se debruçam sobre a Etnohistória de Cabo Delgado e de Moçambique. O relator chamou, preocupadamente, a atenção para a importância e complexidade dos assuntos a investigar, tanto os de então, como os de futuro:

Opinou ainda, desabridamente, sobre a qualidade e fiabilidade dos resultados finais apresentados, de investigações realizadas, nem sempre, por razões de vária natureza, de acordo com a realidade concreta observada:

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Quanto à apresentação dos resultados da sua investigação, o autor do Relatório escreveu:

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Alguns traços do Relatório: - Carateriza, geograficamente, a baia de Tungue e os seus esteiros:

- Contesta a existência do rio Meningane:

- Identifica a sede do comando militar e a residência do seu comandante edificada sobre as ruinas da casa habitada pelo delegado de ex.walli de Tungue, destruída pelo bombardeamento das tropas comandado pelo governador e Cor. Palma Velho. Chama a atenção para a falta de condições higiénicas da nova povoação de Palma. Nas terras altas, dá conta das machambas de alguns velhos árabes que viviam do amanho das terras em volta das suas palhotas, auxiliados nos seus trabalhos, por antigos escravos e possuíam pequenos palmares. E do fabrico de cal por processos primitivos, que os produções vendiam por baixos preços. - Referencia, na orla norte da baía, a cerca de 15 km do Cabo Delgado, uma povoação mais numerosa, junta a um extenso palmar: a antiga povoação de Kivia, onde os árabes comandados pelo ex-walli de Tungue ofereceram maior resistência à ocupação. Nela

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visualizam-se ruinas de antigas casas, de pedra e cal, entre as quais de um fortim e de uma mesquita. De um e outro lado do dito palmar encontrava-se a povoação de Tungue, cujos habitantes viviam do amanho da terra e da indústria da pesca, habitando “ umas choças de formas as mais caprichosas e fantásticas, muito distanciadas uma das outras, situadas no meio de extensas plantações de mandioca, milho, feijão e outros legumes”; - Descreve a penosa viagem para o Cabo Delgado:

- No Cabo Delgado verifica o local escolhido para a colocação do farol, que estava desmatado, sugerindo-se avançar mais 300 metros para uma ponta mais saliente, que permitiria maiores horizontes para NO. E sugere-se a abertura de um caminho, com cerca 2 metros de largura, que ligasse Tungue ao Cabo Delgado, que serviria para o transporte, por terra, do farol a instalar numa elegante e vistosa torre. Ressalta a vantagem deste farol tanto para a navegação como para o comércio:

- Mostra a não existência, por parte do Sultanado de Zanzibar, de qualquer influência ou dependência nas povoações Mbuezi, Keonga e margem direita do Rovuma, sendo a mudança dos comerciantes árabes, os mais audazes e turbulentos, para Mekindane e Lindi,

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devido ao facto não poderem continuar com as suas extorsões e prepotências e ainda por não existirem casas comerciais em Palma, Tungue, Mbuezi, Keonga e margem do Rovuma; - a preferência dos comerciantes do sertão que trariam marfim, borracha e outros produtos ricos, por qualquer ponto do baía de Tungue, desde que “lhe oferecesse igual facilidade e certeza de troca pelas fazendas e artigos de comércio”; - Visita, na companhia do comandante militar e do capitão mor de Tungue, ao rio Rovuma, a bordo da canhoneira Douro3:

- Geografia das baías de Quionga e de Rovuma:

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- O comandante militar de Tungué, informou, em Janeiro de 1888, “que em 18, entrou a canhoneira Douro conduzindo o Ex.mo tenente coronel da África Ocidental, C.A.C. de Sousa Faro que visitou a povoação de Palma, Tungue, Cabo Delgado e o rio Rovuma.”

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- Tomada de providências contra qualquer manifestação hostil das populações das margens do rio: a utilização de um escaler tripulado com marinheiros de confiança e a subida do rio:

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- Contato, fora das expectativas, com populações sob o domínio do Sultanato:

- Dificuldades acrescidas à medida que se navegava para montante:

- Regresso, com descida atribulada:

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- Destaca falta de dados estatísticos e de outros estudos, indispensáveis para o desenvolvimento sócioeconomico da região:

- a falta de definição da fronteira da parte norte do território e a satisfação das suas principais necessidades:

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- Enumeração das principais necessidades de defesa a satisfazer:

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- Sobre o desenvolvimento de uma política comercial diversa, que exigia uma administração local sensata e prudente:

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- Necessidade de alterar da agricultura itinerante e de queimada praticadas e as consequências socioeconómicas daí resultantes:

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Presentemente, o espaço geográfico, referenciado neste pequeno trabalho de divulgação, voltou a ser notícia dos órgãos mundiais de comunicação social, mas agora por causa da riqueza, em hidrocarbonetos, aí descobertos. É de justiça recordar, que a soberania do território moçambicano até ao rio Rovuma se deveu aos sacrifícios e redobrados esforços desenvolvidos pela administração e seus agentes locais, que, então, governavam Moçambique, tendo em vista o desenvolvimento socioeconomico do distrito de Cabo Delgado. Aqui deixo mais alguns factos sociais, que entendidos e analisados, no seu contexto próprio, ajudarão a construir a verdadeira História de Moçambique. Pesquisou e escreveu o texto: Carlos Lopes Bento. Fonte: Boletim Oficial de Moçambique. Monte de Caparica/Almada, 16 de Abril de 2014.

© Carlos Lopes Bento / ForEver PEMBA 2014 Editado por Jaime Luis Gabão / Abril de 2014

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