Poema a Porto Amélia

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Terra que também é minha porque nela chorei de solidão, chorei amigos que foram mortos sem razão e nela joguei sem deserções o xadrez da vida; vi crianças de olhos esbugalhados pelo espanto e homens hipnotizados pelo minuto seguinte.

Ó terra excitada pelos batuques das gentes negras, sons perdidos na cumplicidade das tembas! Eu te lembro deste continente que se chama Europa, meto o poema numa carta e pergunto quantos selos leva, sem selos a palavra escrita não salta mares, deito-a num saco de correio azul – azul como o teu céu e espero, meu AMIGO, que me respondas do outro lado. Seria bom – ó terra dos ecos nocturnos! – voltar às tuas manhãs de luz, aos teus entardeceres como quem fecha os olhos para sonhar, perder-me nas picadas de fins ignorados e ouvir o eco do meu grito, aliviar o meu alvoroço oprimido e poder dizer: «Viva a vida!».

- M. Nogueira Borges* – Porto, Junho/1970


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