“Podeis contar comigo…”

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19 de Dezembro de 2012

Arquivo dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua As melhores imagens da sua História

O Pai da Fanfarra

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enhor Presidente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua escrevo-lhe estas linhas com o objetivo de colaborar na sua obra de pesquisa histórica sobre os nossos bombeiros, obra que vem sendo complementada pelo muito que já fez em prol do seu patrimônio cada vez mais rico, quer material quer socialmente. Esta narrativa corresponde á vida de um amigo, bombeiro, de nome António Jacinto Dias, o fundador da nossa Fanfarra, também conhecido pelo “homem do campo do Sport Clube da Régua”. Natural de Fontelas, António Dias viveu a sua juventude no Peso da Régua. Ingressou no comércio, na firma Viúva Luís Vicente e Rodrigues, onde eu também me iniciei em abril de 1941. Foi para mim um conselheiro e um exemplo, pelo seu comportamento, quer profissional quer pessoal. Ficámos amigos. Pouco depois de casar com a querida “Mariazinha”, António Dias, já com fama profissional, foi convidado para ir trabalhar para uma das melhores lojas de Sá da Bandeira, no Porto, a Casa Omega, onde se destacou pela sua postura e saber. Após doze anos, regressou à sua terra para fundar, com seu irmão José

galochas das majorettes – através da Sapataria Porto. Nos primeiros ensaios, ainda veio um maestro de Vila Real, mas depressa António Dias tomou as rédeas do grupo e a Fanfarra dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua galgou o distrito e começou a ser convidada para variadas festas, ganhando fama e prestígio. Só a falta de saúde lhe veio toldar a felicidade que então sentia. Vítima de uma doença que acabaria por ser fatal, esteve cerca de dois anos em tratamento, acompanhado pelo seu médico – Doutor Adelino Adolfo do Hospital de S. João do Porto – que se deslocava periodicamente à Régua para lhe ministrar um remédio que na altura vinha da América. O pai da nossa Fanfarra morreu nos meus braços, no dia que havíamos planeado fazer um passeio a Chaves, por seu especial desejo.

Dias, os Armazéns do Mercado, uma inovação, na época, para a Régua. Cidadão ativo construiu a sua casa e a sua vida ao serviço da comunidade e tornou-se depressa conhecido pelo “homem do campo”, em prol dos seus trabalhos de voluntariado no campo do Sport Clube. É em 1977 que surge a oportunidade de eu lhe manifestar o meu apreço e

O seu funeral confirmou a homenagem merecida de todos os seus amigos e conterrâneos. A presença dos nossos bombeiros e especialmente dos elementos da Fanfarra foi um momento inesquecível de emoções e homenagem verdadeiramente sentida. Aqui quero deixar a minha gratidão ao amigo e também ao homem que serviu a sua terra com dignidade e amor. Ele ficará sempre na memória dos nossos Bombeiros como o “Pai da Fanfarra”. Porto, 30 de Outubro de 2012 António Bernardo Pereira ( Antigo Presidente da Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros do Peso da Régua)

admiração convidando-o para fazer parte da minha direção, nos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua. Mostrou-se desde logo interessado em criar uma fanfarra e, após a recolha de informações necessárias para o efeito (apoio dos Bombeiros de Coimbrões, em Vila nova de Gaia), conseguimos realizar o seu sonho. Ele próprio arranjou um donativo – as

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epois de madura reflexão, ponderando as responsabilidades que hoje assumo no pleno exercício da minha liberdade, queria expôrvos com clareza as razões da minha determinação. Em primeiro lugar, notamos que a nosso mundo vive obcecado em salvar o homem, e, no entanto, as guerras, as enfermidades, a poluição, alcoolismo, as drogas, as dissensões políticosociais provocam o medo da aniquilação total do ser humano e grassam pelo universo de portas franqueadas. A razão de tudo isso, creio eu, é que o homem não reflecte suficientemente a qualidade do seu ser. Assoberbamonos demasiado com o ter, com os votos e com os números e esquecemo-nos

de ponderar, numa estrutura de personalidade, os dons que Deus nos deu. O orgulho e a vaidade humana continuam a espezinhar e a destruir o homem, para salvar a humanidade... Esta trágica realidade levou-me à consciência da minha própria condição humana. Ponderei os valores que meus pais, professores, amigos e esta sociedade reguense me apresentaram e organizei-os numa hierarquia que me permite sentir-me homem no meio dos homens, com brio da honestidade de ser aquilo que sou. Depois, verifico que todo o nosso ser está voltado para fora de nós, para o universo e para os outros, numa expressão de serviço que dá a razão de qualidade de ser a nós mesmos.

Entre o belo e o feio, entre verdade e a mentira, entre o amor e ódio, só é verdadeiramente livre e humano quem opta pelo belo, verdadeiro, justo e favorável ao homem ou ao serviço do homem. Ora, no meio de nós uma organização humanitária de voluntariado que tem como lema “ vida por vida” representa orgulhosamente a esperança de todos nós para um mundo melhor, onde a dignidade humana seja o primado de todo o viver. Por isso, aceitei pertencer ao Corpo de Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, convicto da minha capacidade de ser mais humano para todos os que possam ser nesta terra mais

humanos também. Tenho a certeza de que se todos morremos um pouco para os nossos interesses pessoais, os nossos orgulhos, as nossas vaidades, seremos um sinal de salvação para todos: apagaremos labaredas de um fogo real para acalentarmos tranquilidade e paz em todos os reguenses; salvaremos bens e vidas humanas revelando a gratuidade do nosso amor, para rasgarmos sorrisos nos nossos lares; promoveremos o bem sem olhar a quem, para que desabroche uma eterna chama de amor no coração de todos os homens. Aprendendo a morrer para mim, estou certo de dar a vida aos outros com mais alegria, mais esperança,

SEMANÁRIO INDEPENDENTE DEFENSOR DO ALTO DOURO

mais harmonia e Paz, e estou seguro de realizar o único e válido ideal de humanidade que a todos vós desejo, num abraço amigo que já conheceis, mas que sem vós também não faz sentido. Por isso conto convosco, porque podeis contar comigo. Pedro da Conceição Ferreira Pinto 2º Comandante os BV da Régua (de 18/01/79 a 9/02/1990) Nota: Discurso da cerimónia de posse, proferido no Salão Nobre do Quartel Delfim Ferreira, no dia 3 de Fevereiro de 1979, perante o Presidente da Direcção Dr. Aires de Querubim de Menezes e o Comandante Carlos Cardoso.

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