PARA A HISTÓRIA COLONIAL DE CABO DELGADO DESCRIÇÕES DA BAÍA DE PEMBA NO 3º QUARTEL DO SECULO XIX

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PARA A HISTÓRIA COLONIAL DE CABO DELGADO DESCRIÇÕES DA BAÍA DE PEMBA NO 3º QUARTEL DO SECULO XIX Referente ao dia 18 de Outubro 2014, DIA DA CIDADE DE PEMBA

Prof. Dr. CARLOS LOPES BENTO em Lisboa, Outubro de 2014 - © ForEver PEMBA 2014


PARA A HISTÓRIA COLONIAL DE CABO DELGADO DESCRIÇÕES DA BAÍA DE PEMBA NO 3º QUARTEL DO SECULO XIX Carlos Lopes Bento1 “…. A majestosa bahia de Pemba, destinada a ser, quando quizerem que o seja, o porto de uma rica e populosa cidade, …” J.Romero Como homenagem à cidade de Pemba e à sua pacífica e laboriosa população, venho, nas breves linhas que seguem, por fazerem parte do historial da Cidade, relembrar alguns dados históricos sobre a bela e grandiosa baía de Pemba.

A cidade e a sua baía. Foto do autor. 1973.

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-Antropólogo. Professor Universitário. Administrador dos concelhos dos Macondes, do Ibo e de Pemba, entre 1968 e 1974. Diretor Tesoureiro da S.G.L. Não se indicam, por razões de todos conhecida, as fontes documentais, em pormenor, que serviram para elaborar o texto apresentado. A primeira descrição pertence a de Jerónimo Romero, 2º tenente da Armada, Governador de Cabo Delgado, que no seu livro Memória Àcerca de Cabo Delgado, oferecido ao visconde Sá da Bamdeira, em Março de 1855, escreveu:

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População de Pemba, em dia de festa. Foto do autor. 1973.

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A segunda descrição coube ao major Pedro Francisco d’Ornelas Perry da Câmara, governador de Cabo Delgado, por duas vezes, em 1877-1880 e 1884-85, que, numa conferência na Sociedade Geografia de Lisboa, em 1886, afirmou : “…………………………………………………………………………………………………. . Desçamos à formosíssima baía de Pemba, onde os navios de maior tonelagem encontram um abrigo seguro. Esta baía em tempo teve uma guarnição militar na ponta de Miranembo logo à entrada, no território compreendido entre a praia e a lângua (terreno pantanoso) que cerca a baía, na extensão aproximadamente de 7 milhas. Para além desses terrenos alagadiços é que foi estabelecida a colónia denominada de Pemba, a qual teria prosperado se a ela tivesse presidido uma organização regular. Infelizmente, porém, foi mal administrada e hoje não existem dela outros vestígios além dos comentários que mais tarde serão um subsidio vergonhoso para a nossa historia colonial. A baía de Pemba pode tornar-se o porto mais importante das nossas possessões de Africa Oriental, porque não só a sua capacidade a recomenda como tal, mas a sua posição geográfica concorre para que ali se estabeleça um empório comercial e a sede do governo do distrito. De Pemba a Mêdo medeia apenas cinco dias de jornada para os carregadores, e por aqui se pode determinar a distância entre aqueles dois pontos, distância tão diminuta que valia a pena rasgar uma via de comunicação regular e cómoda que atraísse o comércio àquele ponto da costa, onde os produtos do interior encontrariam decerto fácil exportação. Feito isto, Pemba tornar-se-ia um mercado grandioso e os armadores de navios, atentas as circunstâncias favoráveis que se dão naquela baía, procurá-la-iam de preferência, pela facilidade de entrada, pelas condições de segurança e sobretudo pelas comodidades de carga e descarga. Mas previamente é necessário estabelecer ali uma delegação da alfândega, construir os edifícios precisos, nomear o pessoal indispensável e proceder a obras de fortificação, para que a propriedade de cada um tenha, na força publica, a garantia da inviolabilidade.”

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A terceira e última descrição é pertença do explorador, major Alexandre Alberto da Rocha Serpa Pinto, cônsul geral de em Zanzibar, chefe da Expedição Científica Pinheiro Chagas, que, com base na observação direta dos factos realizada no inicio do ano de 1885, nos oferece uma valiosa descrição no Relatório de Viagem de Moçambique ao Ibo,:

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“RELATÓRIO Ill e Ex.mo Sr.—Devia esta expedição, de que tive a honra de ser encarregado, procurar um caminho fácil e seguro entre o litoral das possessões portuguesas e o Lago Nyassa, caminho prático para grandes caravanas, que servisse de via comercial entre a Europa e aquele grande centro de trafico africano. …………………………………………………………………………………………………….. De Necubure seguiu a expedição ao Samuco e dali ao Lúrio lutando com grande falta de de alimento, mas não muito incomodada ainda pela chuva.—Foi na margem sul do Lurio que as grandes chuvas se declararam com toda a força.—No dia imediato ao da chegada da expedição, o rio Lúrio subiu o seu nivel de 2 metros numa largura de três mil metros.— Os aguaceiros eram medonhos chegando a cair em l hora, 68 centímetros de água, e tão violentos os ventos que uma noite a própria barraca dos chefes da expedição voou pelos ares, no meio de terrível borrasca. As trovoadas surgiam de todos os pontos do horizonte, e havia horas inteiras de iluminação continua pelos raios, com incessante estalar de trovões.— Pensei um momento em esperar no Lúrio o fim das chuvas para prosseguir no meu caminhar na volta do bom tempo, assustado em expor a expedição a tão violentos trabalhos como são os de viagem por meio de tormentas semelhantes, mas isso trazia graves inconvenientes no futuro, pois que me faria perder mais de um mês de bom tempo na viagem para o interior, e encontrando um poderoso auxiliar no guarda marinha Cardoso resolvi atravessar o Lúrio e seguir ao N. apesar do tudo.— Levou três dias a passagem do Lúrio, sem outro recurso mais do que duas pequenas embarcações em péssimo estado.— Os cavalos e o gado passaram a nado fazendo o guarda marinha Cardoso verdadeiros prodígios de habilidade e dedicação para que não sofrêssemos a menor perda.— Passado que foi esse grande obstáculo seguiu a expedição com energia para o Norte, debaixo sempre das mais rudes intempéries e alcançou a baía de Pemba tendo passado muitos rios tornados caudais pelas grandes chuvas. — De Pemba a Quissanga foi a mais rude jornada que se possa imaginar, e não dá para tanto a imaginação, nem quem o sentiu o pode descrever que mais do que é dado sofrer-se, sofremos nós.— Dez dias passados dentro de lama e água, caminhando submersos já até á cinta, já até ao peito, sem roupa enxuta para mudar e sem ocasião de a mudar se a houvesse, sem lenha nem lugar para cozinhar, vivendo na água e sob torrenciais aguaceiros, tal foi o nosso viver nos últimos dez dias desta fadigosa viagem. Chegamos finalmente, à Quissanga sem ter perdido nem um homem, nem uma carga, mas amparando muitos doentes, no dia.” Sobre baía de Pemba, Serpa Pinto, que observou, atenta e sistematicamente, escreveu:

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Com os dados recolhidos, elaborou uma carta geográfica-À Volta de Pemba- que, com outras feitas em viagem, de 1884 a 1885, ofereceu ao secretário Geral da Sociedade de Geografia de Lisboa Luciano Cordeiro, em Julho de 1887:

Fonte: Biblioteca da SGL. Reservados

O sonho de Jerónimo Romero de ver “a majestosa bahia de Pemba, destinada a ser, quando quizerem que o seja, o porto de uma rica e populosa cidade”, começaria a concretizar-se, a partir de 1898, data em a sede do distrito de Cabo Delgado passou da ilha do Ibo para Pemba. A nova povoação cresceu e de vila passou a cidade. Com o seu porto será breve uma das cidades mais importantes de Moçambique.

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Referente ao dia 18 de Outubro 2014 - DIA DA CIDADE DE PEMBA Autor – Prof. Dr. CARLOS LOPES BENTO em Lisboa, Outubro de 2014 © ForEver PEMBA 2014

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