Revista PARAR Review - Edição 14

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Edição 14 | Julho de 2018

os corredores de um dos principais aeroportos do Brasil, o Aeroporto de Congonhas, parecemos formigas trombando uns com os outros. Ainda não existe uma faixa para quem quer andar devagar e outro mais rápido, ainda não existe uma faixa para ir e para vir, ainda sinto que estamos nos deslocando mal, mesmo quando usamos nossas próprias pernas. O fato é que o ser humano tende a só sair da sua zona de conforto por necessidade. Nós não enxergamos a exigência da mudança quando tudo funciona relativamente bem. Só levamos em consideração novas opções quando somos forçados a repensar a forma como estamos fazendo as coisas. O Brasil parou por uma greve organizada pelos caminhoneiros: faltou combustível, as ruas ficaram desertas, porém prazerosas, e os postos de abastecimento fechados - era hora de repensar nossa forma de sair do lugar. Para muitos, a solução foi mudar a forma de condução do seu próprio carro, tudo para economizar o combustível que sobrava. Eu dirigia na maior cautela possível, aplicando todos os conhecimentos possíveis de direção defensiva para fazer aquele resto de combustível ainda render muito. O trânsito estava harmonioso, poucos carros e todos com uma direção super segura. A performance era a bola da vez e chegar ao ponto B era uma consequência. Para outros, porém, foi preciso se reorganizar e encontrar novas maneiras de se mover. A bicicleta, parada na garagem a tanto tempo, tornou-se uma opção importante de locomoção, além da atividade física: na Avenida Faria Lima, em São Paulo, mais de 33 mil bikes circularam pelas ciclovias de um dos mais importantes centros financeiros e comerciais da cidade. Descobrir novos trajetos para chegar ao trabalho também funcionava. Fazer a pé o caminho feito há tanto tempo dentro de um carro parecia fazer nascer uma nova cidade. Durante minha caminhada até o trabalho, descobri os gaps de infraestrutura para pedestres e ciclistas, descobri novos estabelecimentos comerciais, cruzei com

pessoas que não imaginava encontrar, peguei carona com pessoas que não conhecia e percebi que sabemos muito pouco sobre os outros. Aproveitei para voltar do trabalho fazendo um cooper, minha atividade favorita e, de quebra, contemplar a cidade de uma forma diferente, como era na década de 80. Mudar o jeito de se locomover é, também, mudar a forma que vivemos e experimentamos nossa cidade e as pessoas que vivem ao nosso redor - é preciso viver o caminho. Experimentei com maior ênfase o home office, que pode ser um aliado incrível para driblar a dificuldade de deslocamento e as longas distâncias - ainda que a tradição de “bater o ponto” nas empresas fale mais alto na maioria das vezes, uma reconstrução da mentalidade poderia tornar esse hábito possível. Os paulistanos, por exemplo, gastam cerca de um mês por ano parados no trânsito: imagine quanto tempo as empresas poderiam devolvê-los se oferecessem a opção de trabalhar sem precisar se deslocar. Mais que novas opções de deslocamento, ter propósito como combustível é essencial: sua força de vontade para mudar precisa ser mais forte que qualquer outro obstáculo - é preciso querer sair do lugar. Repensar nossa própria mobilidade e o jeito que nos locomovemos é essencial para fazer com que o mundo funcione de uma maneira melhor e é essa a maior meta do PARAR: alcançar a mudança repensando nossas alternativas, através da inovação. Mas, será que precisamos esperar a crise chegar (e ficar) para mudarmos nosso mindset?

RICARDO IMPERATRIZ

Mais que novas opções de deslocamento, ter propósito como combustível é essencial: sua força de vontade para mudar precisa ser mais forte que qualquer outro obstáculo é preciso querer sair do lugar.

*ERRATA - Diferente do que foi colocado na matéria “Lugar de mulher é…”, publicada na última edição da revista PARAR Review Magazine, a Prof. Cláudia Ribeiro atua no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) e não na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

institutoparar.com.br

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