Entrevistas com Maciej Babinksi

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Entrevista 8

Eu senti, de repente, que tinha dado um passo muito além das minhas pernas. Eu não conseguia entender, e me sentia incapaz de reproduzir ou de continuar aquilo ali, e dest ruí. Eu estava também passando por um momento complicado, tinha acabado de conhecer a Fernande. Enfim, eu rasguei o trabalho, dest ruí. Sem ter feito nenhuma foto. Mas eu acho melhor mesmo não ter ficado com nenhuma imagem. Talvez ter dest ruído esse trabalho tenha feito com que eu continue buscando fazer bons trabalhos até hoje. Porque era um trabalho completo em si, absolutamente genial, e eu jamais seria capaz de fazer outro. Agora, é um momento de descontrole emocional quando você dest rói um trabalho. Quando você está vivendo intensamente um trabalho, pára e vai dormir, você não tem medo de estragar tudo no dia seguinte? O que o Picasso nos ensinou? Que você nunca termina um quadro, que você sempre pode voltar, sempre pode transformar, radicalmente ou minimamente. Quando eu era inseguro e jovem, eu tinha medo e deixava o trabalho sem terminar, sem me aprofundar. Hoje eu não tenho mais medo. Às vezes, guardar a coisa boa de um quadro implica só guardar um pedacinho, um pedacinho que pode segurar todo o resto que você vai colocar lá depois. Eu hoje não tenho medo de perder qualquer coisa num trabalho. É preciso ter coragem para mexer num quadro, mas afinal eu sou o olho, eu sou a mão. Que sacralidade é essa que a gente outorga a um quadro? Às vezes posso até perder um trabalho porque mexi e est raguei, mas eu mexo sim, sem dó. Vamos dizer que essa é a liberdade que eu conquistei. O que prejudica o artista é o dogma que ele mesmo se impõe. Dogma de procedimento, dogma estético, dogma para tudo. E ele mesmo se torna seu próprio escravo. Isso é típico do artista acadêmico. Vítima da própria neurose. A única regra para mim é usar a máxima liberdade em relação ao que eu faço. E cada vez que você volta numa pintura, é para você se desapegar do que você havia feito antes, não é para melhorar não. É sempre radical cada vez que você vai mexer num quadro. A Lídia já aprendeu a não comentar quadro nenhum meu antes de eu realmente terminar. Uma vez ela entrou no ateliê e se apaixonou por um trabalho que eu estava fazendo. Foi dormir e eu fiquei no ateliê. Na manhã seguinte, ela entrou lá e deu um pulo de susto, 195


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