
10 minute read
Eletrolítico: ferramenta essencial no combate a diarreias
SANIDADE
Luciano Prímola de Melo Consultor de Serviços Técnicos de Bovinos de Leite na Agroceres Multimix
Advertisement

Eletrolítico: ferramenta essencial no combate a diarreias

Fornecimento de eletrolítico pode ser junto ao leite ou água
A criação de bezerras é uma fase de grande importância na atividade leiteira, pois o sucesso ou insucesso impactará diretamente na disponibilidade de animais de reposição. Também é uma fase de grandes desafi os e, dentre eles, a sanidade tem grande relevância, com grande impacto em desempenho e mortalidade. Apesar de assustadoras, taxas de mortalidade superiores a 10% em bezerras ocorrem com frequência, embora não devam. Com a mortalidade, além da perda econômica direta do que já foi investido na bezerra, há uma perda econômica indireta, de impacto fi nanceiro muito maior, em razão de no futuro não haver uma novilha disponível para comercialização, ou uma vaca em lactação para ocupar uma estrutura ociosa.
Ao adentrarmos na questão sanitária das bezerras em aleitamento e analisarmos as causas de morbidade e mortalidade, encontramos como grande vilã a diarreia. Esse rótulo a ela é dado por ser a doença de maior incidência, correspondendo a aproximadamente 40% das doenças que ocorrem nessa fase, representando mais de 30% das mortes (Urie et al., 2018).
As diarreias são causadas principalmente por patógenos, havendo uma grande variedade de espécies de vírus, bactérias e protozoários. Independentemente da causa e do mecanismo de ação, há dois fatos muito importantes. A membrana celular das células intestinais será afetada, comprometendo os mecanismos de controle da entrada e saída de eletrólitos, glicose, bicarbonato e água. Outro fato é que, como ferramenta de tratamento, o fornecimento de solução eletrolítica oral, também conhecida como eletrolítico, propicia grandes benefícios.
Impactos da diarreia
Os impactos diretos da diarreia no organismo da bezerra são vários, podendo ser destacados: - Menor absorção e maior perda de eletrólitos, principalmente Na+, K+ e Cl-; - Maior perda de bicarbonato; - Ocorrência de acidose metabólica; - Menor absorção de glicose; - Maior perda de água; - Desidratação; - Inapetência; - Balanço energético negativo.
A associação das alterações e suas consequências resultarão em menor desempenho e aumento de mortalidade.
Eletrolíticos
Os eletrolíticos surgem justamente como recurso para corrigir os desequilíbrios causados pela diarreia. Isso se dá pois são fonte de eletrólitos, que repõem o défi cit gerado pela maior per-
da e menor absorção, fornecem agente alcalinizante para correção da acidose metabólica, disponibilizam energia para suprir o déficit energético causado pela menor absorção de glicose, menor consumo e menor digestão, além de potencialmente possibilitarem maior ingestão de água.
Apesar da recomendação de utilização ser quase unânime, a grande questão é o que avaliar na composição de um eletrolítico. Vários fatores são considerados, como: concentração de Na+, K+ e Cl-, teor de energia, razão entre Na+ e glicose, osmolaridade, diferença de íons fortes (SID) e agente alcalinizante. Independentemente do que está sendo avaliado, em eletrolítico não existe “quanto mais melhor”, e sim o ponto chave é o equilíbrio.
Variáveis de Composição
Como exemplos das variáveis de composição correlacionadas ao equilíbrio, temos: - Concentração de Na+ baixa não atende ao déficit, por outro lado, se fornecida excessiva quantidade, grande volume de água pode ser atraído para o lúmen intestinal, agravando um quadro de diarreia; - Outra situação está correlacionada à energia. Baixa concentração não supre o déficit energético, porém se a concentração for muito alta, a osmolaridade ultrapassa o limite superior, aumentando o risco de empanzinamento, além de impossibilitar o fornecimento de leite; - Fornecimento de alta quantidade de Cl- reduz o SID, comprometendo o controle da acidose metabólica.
Wenge-Dangschat et al. (2020) avaliaram o uso de eletrolíticos em bezerras com diarreia. Foi avaliado o fornecimento apenas de leite, de leite com eletrolítico preparado em água ou de eletrolítico preparado em leite. O eletrolítico preparado em água resultou em maior volume plasmático; já o preparado em leite melhorou a osmolaridade plasmática e foi efetivo em corrigir a acidose metabólica. Ambas as formas de administração foram efetivas em aumentar a concentração sanguínea de Na+.
Doré et al. (2019) comparam o uso de eletrolítico oral e fluidoterapia intravenosa e subcutânea. O eletrolítico apresentou maior eficiência na correção da acidose metabólica e no aumento da concentração de glicose no sangue. Os resultados encontrados reforçam os benefícios do uso de eletrolíticos.
Eletrolítico em Leite
Mesmo sendo claro o quanto a diarreia tem impacto negativo e o quanto o eletrolítico tem papel fundamental na recuperação das bezerras, muitas vezes o eletrolítico não é utilizado por dificuldades de adequação ao manejo e à mão de obra da fazenda. Isso ocorre, principalmente, quando o eletrolítico requer a utilização exclusiva com diluição em água, o que obriga que a oferta do produto seja realizada de duas a seis horas após o fornecimento do leite. A diluição em água traz o benefício da maior hidratação, porém a utilização de um eletrolítico que também possa ser fornecido junto ao leite, ou sucedâneo, tem como vantagem a maior aplicabilidade e flexibilidade de uso, garantindo a reposição de eletrólitos, correção da acidose metabólica e fornecimento de energia a um maior número de bezerras.
Além do papel preventivo, o uso de um eletrolítico que seja flexível para atender às particularidades de manejo de cada fazenda, possibilita seu emprego em ampla escala. Também permite que seja equilibrado e produzido com adequados ingredientes e, quando associado à detecção e ação precoce nos quadros de diarreia, certamente refletirá em superação dos desafios com maior sucesso. Como resultado, obteremos bezerras com maior desempenho, menor taxa de mortalidade, contribuindo para o sucesso econômico da fazenda.
Referências
DORÉ, V. et al. Comparison of oral, intravenous, and subcutaneous fluid therapy for resuscitation of calves with diarrhea. Journal of dairy science, v. 102, n. 12, p. 11337-11348, 2019.
URIE, N. J. et al. Preweaned heifer management on US dairy operations: Part V. Factors associated with morbidity and mortality in preweaned dairy heifer calves. Journal of dairy science, v. 101, n. 10, p. 9229-9244, 2018.
WENGE-DANGSCHAT, J. et al. Changes in fluid and acid-base status of diarrheic calves on different oral rehydration regimens. Journal of dairy science, v. 103, n. 11, p. 10446-10458, 2020.

SANIDADE
Raquel Maria Cury Rodrigues, Zootecnista pela Unesp de Botucatu e Especialista em Gestão da Produção pela Ufscar
Mastite subclínica e o seu impacto silencioso nas fazendas leiteiras

Não somente por meio de livros é possível constatar que a mastite subclínica (MSC) impacta negativamente em vários aspectos nas fazendas leiteiras. A própria prática prova isso, ainda mais quando o produtor é adepto e utiliza os dados, índices zootécnicos e outras ferramentas como aliados na rotina e na resolução de confl itos.
Vale lembrar que a MSC é prevalente entre os quadros de mastite nas fazendas, em 90 a 95% dos casos, e os agentes causadores podem ser divididos em contagiosos e ambientais.
Segundo banco de dados da OnFarm, uma em cada três vacas com MSC apresentam um patógeno contagioso e eles têm grande importância na ocorrência da doença. Por via de curiosidade, informações extraídas de 1.178 rebanhos de OnFarmers (produtores que utilizam o sistema OnFarm de cultura na fazenda) apontam que os patógenos contagiosos representam 34% dos casos positivos de MSC. É interessante destacar que esses produtores estão distribuídos em 20 estados brasileiros e o número de amostras de MSC analisadas totalizou 50 mil.
Em um quadro de MSC, as células somáticas, que são compostas por leucócitos, migram do sangue ao úbere para auxiliar no combate da infecção, situação que permite que a sua contagem (CCS) seja ponto-chave no monitoramento do processo infl amatório da glândula mamária.
Alta CCS e perdas na produção de leite
Em um experimento realizado nos Estados Unidos a redução na produção de leite na lactação total foi de 155kg para primíparas e de 455kg para multíparas. Vale pontuar que uma piora na saúde do úbere é esperada em multíparas no decorrer da lactação e isso ocorre pela exposição prévia aos patógenos causadores de mastite que podem resultar em danos permanentes na glândula mamária das vacas. Isso faz com que as perdas de produção também sejam sentidas nas lactações seguintes, comprometendo a produção total dos animais. Hand e colaboradores (2012) ao estudarem 2.835 rebanhos observaram que quanto maior era a contagem de células somáticas dos animais, maior era a perda de produção de leite. Vacas primíparas com CCS individual de 200 mil cél/mL deixaram de produzir 1,8% de leite/dia e vacas multíparas com a mesma contagem de células somáticas deixaram de produzir 2,5% de leite/dia. Já as vacas primíparas e multíparas com CCS individual de 2 milhões cél/mL deixaram de produzir 7,6 e 10,9% de
leite/dia, respectivamente.
Além da perda na produção de leite, os prejuízos advêm do risco da evolução da mastite subclínica para quadros clínicos; comprometimento permanente do tecido mamário; penalidades sofridas no pagamento do leite; descarte prematuro de vacas; despesas com médico veterinário e tratamentos, entre outros.
A forma e a frequência de realização e a organização dos dados provenientes da CCS e do California Mastitis Test (CMT) são fundamentais para gerar informações úteis aos técnicos e proprietários no intuito de inferir sobre a real situação da fazenda. Esses dados, de acordo com o Índice Ideagri de Leite Brasileiro (IILB), referência sobre qualidade e eficiência produtiva da pecuária leiteira nacional, por consequência, podem auxiliar na correta tomada de decisão e na resolução dos problemas eventualmente enfrentados.
Impacto na reprodução das vacas leiteiras
Como a infecção estimula o sistema imunológico da vaca, a doença também acaba acarretando piora no desempenho reprodutivo e são inúmeros os estudos que observaram que, em comparação com vacas não infectadas, a probabilidade de concepção das fêmeas foi reduzida quando elas foram diagnosticadas com MSC, principalmente quando os casos são crônicos.
Já foi demonstrado, por exemplo, que a elevação de CCS antes e depois da inseminação artificial (IA) está associada à piora no desempenho reprodutivo e à probabilidade da IA resultar em prenhez pode ser reduzida em 18% em vacas com CCS entre 200.000 e 399.000 células/ml. Essa probabilidade de prenhez é reduzida mais ainda - em quase 26% - quando a CCS supera 399.000 células/ml. Isso comprova que a intensidade da inflamação está associada à maior redução da fertilidade.
Os mecanismos pelos quais a mastite subclínica pode afetar a fertilidade de vacas leiteiras ainda não estão bem elucidados. Entre os possíveis fatores são descritos: falha na ovulação e menor produção de estradiol, menor manifestação de estro, maior produção de prostaglandina (PGF2α), aumento da temperatura corporal e liberação de moléculas que podem afetar o óvulo e o embrião.
Foi possível concluir em uma outra pesquisa que os agentes causadores de mastite e a alta CCS exercem efeito deletério sobre a fertilidade de vacas leiteiras receptoras de embrião. Diferente de outros trabalhos, neste, a MSC foi avaliada também com base no isolamento dos patógenos por meio da cultura microbiológica; assim, a presença das bactérias causadoras de MSC reduziu a prenhez por transferência de embrião (P/TE).
Animais com isolamento positivo de agentes causadores de mastite tiveram menor prenhez por transferência de embrião aos 31 e aos 66 dias em relação ao controle. O presente estudo mostrou ainda que a CCS alta também tem impacto negativo sobre a fertilidade, pois as vacas que apresentaram CCS maior que 400.000 céls/ml tiveram a P/TE reduzida em 25,5%.
Cultura microbiológica na fazenda
A cultura microbiológica na fazenda pode ser uma grande aliada no combate e controle da mastite, pois ela é capaz de identificar as fontes de infecção das bactérias e selecionar as vacas que real-

Eletrolítico: ferramenta essencial no combate a diarreias