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ENTRE OS TOP DA PRODUÇÃO DE GENÉTICA E DE LEITE

MATÉRIA DE CAPA

Larissa Vieira

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Projeto de expansão do condomínio rural Canto Porto coloca a fazenda entre as principais produtoras de leite do País. E tudo isso com um rebanho Girolando

A tecnificação das fazendas leiteiras tem permitido um avanço impressionante no volume de leite produzido nas últimas décadas, principalmente nos grandes projetos pecuários. Como apontou o levantamento Top 100 2020 Milkpoint, a média diária de 20.796 litros registrada em 2019 é 217,8% maior que a registrada em 2001. No ranking, estão 19 propriedades que produzem leite com rebanho Girolando.

Uma delas é o condomínio rural Canto Porto, em Mogi Mirim/SP, que ocupa a 70ª posição do Top 100 2020, mas nos próximos anos deve subir várias posições. Está em andamento um projeto de expandir a produção em três vezes até 2024, saltando dos atuais 22 mil kg/ dia para 70 mil kg/dia. Hoje, são 833 vacas em lactação, dentro de um rebanho geral de 3.062 cabeças nas duas fazendas do grupo, Santo Antônio e São Francisco. Os animais em lactação são das composições raciais CCG 1/2HOL + 1/2GIR (67%), CCG 3/4HOL + 1/4GIR (30%), Girolando e CCG 7/8HOL + 1/8GIR (1%), além de Gir Leiteiro (2%).

Já são 32 anos atuando na pecuária leiteira, período em que as estratégias para consolidação do negócio foram mudando para atingir alta produção, mas com qualidade e rentabilidade. “Iniciamos com animais de outra raça e em sistema de free stall. A proposta era produzir leite tipo A, o que fizemos até o ano 2000. Depois, começamos os trabalhos para produção de embriões com a Invitro Brasil (atualmente ABS Global), que tem como um dos segmentos de atuação a comercialização de genética para produtores de todo o Brasil. Voltamos a produzir leite em 2009, quando passamos a

criar animais da raça Gir Leiteiro com o objetivo de produzir doadoras para o projeto. Fazendo a lactação desses animais e de animais da raça Girolando, que eram criados a pasto, vimos que a margem lucrativa do leite era bem interessante e resolvemos expandir o processo. Hoje, atuamos na comercialização de genética e produção de leite”, conta Thiago Nogueira Marcantonio, veterinário geral da Canto Porto.

Em termos de melhoramento genético, a fazenda tem utilizado várias ferramentas para chegar a um Girolando de alto valor. Entre elas está a genômica, assim como a pontuação das filhas. No rebanho Gir todos os animais são genotipados. No Girolando isso é feito em algumas matrizes em destaque e suas filhas, por conta do custo da ferramenta. “Avaliamos as filhas, para pontuar as mães, pois são os produtos que estamos comercializando. Devido à grande pontuação genômica das novilhas e bezerras, estamos preconizando a aspiração desses indivíduos para um maior avanço do melhoramento genético”, explica o médico veterinário.

Nos acasalamentos, a Canto Porto busca animais com pontuação alta em: produção leiteira, pernas e pés, força leiteira, saúde, fertilidade das filhas, fluxo de leite e temperamento. De acordo com Marcantonio, os últimos resultados mostram que o criatório está sempre melhorando de acordo com a categoria. As bezerras são as mais pontuadas do genoma, seguidas pelas novilhas, primíparas em lactação e doadoras secas.

Dentro do PMGG, a fazenda participa do Controle Leiteiro Oficial, cujos dados são utilizados na pontuação geral

Thiago Nogueira Marcantonio, veterinário geral da Canto Porto das matrizes. “E temos um critério interno de avaliação que pontua pernas e pés, fluxo de leite, morfologia produtiva, força leiteira e temperamento. O mais impactante na pontuação da matriz, são as pontuações de suas filhas sempre”, esclarece.

Esse sistema de seleção adotado tem garantido a confiança do mercado, elevando a procura pela genética Canto Porto. A fazenda comercializa embriões de doadoras das raças Girolando e Gir. A base para formação desse grupo veio de tradicionais criatórios, tais como: Calciolândia, Terra Vermelha, MB Agrícola, Campo Alegre e Fazendas do Basa. “Utilizamos sêmen sexado dos melhores touros Holandeses. Temos produzido animais Girolando de alta produção e matrizes doadoras de alta qualidade, uma genética indispensável para aqueles que buscam alta produção leiteira”, informa o médico veterinário da Canto Porto.

Segundo ele, o mercado de genética está aquecido e em franco crescimento. Atuando em três frentes (venda de animais puros, de sêmen e de embriões), o criatório estima que fechará 2020 com a comercialização de 4.500 a 5.000 embriões. “Para o ano que vem estimamos que haverá um incremento de 100% no volume vendido. A procura por embriões está bem expressiva”, informa. 2020 tem sido um ano de conquistas para a Canto Porto, com a valorização e reconhecimento de sua genética pelo mercado. De acordo com Thiago Nogueira Marcantonio, a propriedade obteve excelentes resultados no ranking Nacional Girolando, colocando 232 animais entre as Top 1000. Em 2018, a Canto Porto tinha 54 vacas no Top 1000 Girolando, ou seja, crescimento de aproximadamente 330%. Em 2020, das 20 primeiras vacas CCG 1/2 do ranking, 19 são da Canto Porto, sendo que as 10 primeiras posições dessa categoria são de animais da fazenda. “Ainda obtivemos o título de maior média de valor genético (categoria 400-800 animais) pelo terceiro ano consecutivo, e maior média de leite na mesma categoria pelo segundo ano consecutivo”, comemora.

Na parte comercial os números também são animadores. No leilão realizado neste ano houve recorde anual de preço do Girolando. “Estamos mais contentes ainda com os compradores, que levaram animais de grande valor genético e com certeza vão trabalhar muito bem essas matrizes e contribuir para o melhoramento genético nacional. A genética Canto Porto tem se tornado cada vez mais expressiva nos resultados, fruto de um trabalho sério e comprometimento de toda a equipe”, finaliza Thiago Marcantonio.

MATÉRIA DE CAPA

Larissa Vieira

Genética de alta performance em qualquer região

Vacas Estância São Bento

A grande adaptabilidade da raça Girolando às adversidades climáticas permitiu à Estância São Bento colocar em prática um projeto de produção de genética e de leite altamente rentável e de qualidade

Goiás está entre os estados de melhor desempenho na pecuária, seja ela de leite ou de corte, e também na agricultura, com uma das maiores produções de grãos do País. Além da vocação para o agro, os investimentos nas mais modernas tecnologias ajudaram a dar um salto na quantidade e na qualidade dos alimentos produzidos. No caso da pecuária leiteira, isso inclui utilizar uma genética capaz de dar resultado mesmo em áreas de altas temperaturas, como no município de Campinorte, interior de Goiás. O criador Adauto Luís Caumo, da Estância São Bento, viveu essa realidade. Quando iniciou na atividade, em 2007, utilizava uma raça de alta produção, mas que não era adaptada ao clima do Estado. Com isso, a criação das bezerras era muito difícil e ele viu os custos com sanidade e outros itens aumentarem, tornando o negócio pouco rentável. “Em 2015, decidi bus-

car por animais mais rústicos e bem adaptados à região. E o Girolando logo se mostrou ser o gado ideal para a fazenda. Todos os índices zootécnicos melhoraram, sem perder em nada na produção. Reduzimos os casos de morte de bezerras, de doenças e de descarte das vacas, além da queda nos custos de produção”, lembra Adauto.

Hoje, o rebanho da Estância São Bento é formado por 90% de animais Girolando, sendo várias composições raciais, dentre elas CCG 3/4, CCG 1/2, CCG 1/4, além do Girolando propriamente dito. São 700 cabeças no total e cerca de 270 vacas em lactação. Isso garante produção diária de 10 mil kg/leite, em sistema de três ordenhas.

A formação do rebanho começou com a aquisição de embriões CCG 3/4, composição maior até hoje dentro do plantel. A genética foi multiplicada por meio de biotecnologias como a FIV, utilizada em larga escala e chega a corresponder a 98% dos nascimentos. Participante do PMGG, utilizando ferramentas como Controle Leiteiro e genoma, a propriedade trabalha com uma forte pressão de seleção. “Se a fêmea não emprenha em até 300 dias, é descartada. Já nos acasalamentos valorizamos características como qualidade do úbere e vida produtiva, dentre outras. Só usamos touros que sejam muito equilibrados, tanto Holandês quanto Girolando CCG 3/4”, explica o criador.

No último Controle Leiteiro aferido, a média de produção das CCG

Adauto Caumo comanda a Estância São Bento 1/2 foi de 41,5 kg/leite, das CCG 3/4 foi de 38 kg/leite e das CCG 5/8 foi de 33,4 kg/leite. Foram controladas 167 fêmeas.

Na Estância São Bento são produzidas 400 prenhezes por ano. Uma parte fica na fazenda para repor o plantel e cerca de 150 prenhezes são comercializadas. A venda de novilhas fica em torno de 250 exemplares ao ano. “O mercado está muito aquecido. Vendemos muita novilha prenha, bezerra e bezerro para a região de Goiás e também em leilões, que têm alcançado boas médias”, informa Adauto.

E não é só na parte de comercialização de genética que o Girolando vem se mostrando atrativo. A rusticidade da raça levou à melhoria da qualidade do leite produzido. O índice de gordura está em 4% e o CCS (controle de células somáticas) está dentro do nível exigido. “A saúde do Girolando é um grande diferencial. São animais que resistem muito bem às altas temperaturas de Goiás, mantendo produção alta e sem apresentar recorrentes problemas sanitários. Até nos índices reprodutivos, com o uso da FIV, tivemos aumento”, diz o pecuarista. Segundo ele, a taxa de prenhez é de 37% e 47% de concepção.

Na Estância São Bento, as fêmeas são desafiadas logo cedo, quando chegam a 14 meses, desde que atinjam o peso mínimo de 380kg. Com isso, as primíparas estão conseguindo parir com 580kg. E na ordenha o resultado também é animador. Com produção em confinamento, a Estância São Bento conta com sistema de compost barn. A média de leite produzido por vaca gira em torno de 38kg/dia. “Os custos ficaram mais caros em 2020, mas o Girolando está nos permitindo atingir maior rentabilidade, por ser menos exigente e mais saudável”, ressalta Adauto.

Novilhas em confinamento na Estância São Bento

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