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Música 19. Música
Música na quarentena: por que ela é tão importante?
Em entrevista à CRESCER, John Guillermo e Nando Guto, da School of Rock, falaram sobre os benefícios da música em tempos de distanciamento social
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Crédito: Alamy
Caroline Lopes Fonte: Revista Crescer Em 05/06/2020
Neste seu período de distanciamento social você já parou para pensar como a música tem papel importante para enfrentarmos momentos difíceis, como o que estamos vivendo hoje? E isso não se limita só aos adultos, as crianças também sentem a diferença. “Toda pessoa que tem algum contato com música — seja ouvindo, tocando um instrumento ou cantando —, tem a oportunidade de desenvolver importantes aspectos dos sentidos, como sensibilidade, concentração, paciência... E, nesse momento, especialmente, todos nós precisamos muito disso”, diz Nando Guto, diretor de negócios da School of Rock, — uma franquia da Filadélfia que já possui mais de 300 unidades abertas e em desenvolvimento e 40 mil alunos em diversos países . “A música está totalmente ligada à emoção. Nos protege da depressão e ansiedade”, complementou John Guillermo, diretor de desenvolvimento e negócios da empresa. Para Nando, não há um estilo musical específico, já que todas as músicas geram reações nas pessoas. “Para cada um de nós, isso pode funcionar de uma maneira diferente. Por exemplo, existem crianças que dormem escutando heavy metal e pessoas que ouvem músicas tristes para se sentirem melhores. O mais importante é ter contato com música sempre, sem moderação (risos), em qualquer horário”, aconselhou. “Nós usamos a música como ferramenta para o desenvolvimento pessoal. Nossa metodologia de ensino musical é baseada na prática, performance e experiência, e tem como proposta valores como atitude, respeito, confiança, responsabilidade, espírito de equipe”, explicam os profissionais. Logo de cara, dá para notar que a música vai além do prazer, do simplesmente “ouvir”. Na School of Rock, a cada seis meses, os alunos realizam um show de verdade. “Na preparação da apresentação, que chamamos de temporada, os alunos se socializam, desinibem e se divertem”, contam. Mas agora, com a pandemia, a escola, que possui alunos de diversas idades, precisou se adaptar. “Os alunos estão realizando as aulas aulas de guitarra, baixo, violão, canto, bateria e teclado por videoconferências em horários agendados e utilizando nosso aplicativo com os livros didáticos. Estão sendo ótimas ferramentas dos professores para dar continuidade no aprendizado musical de uma forma divertida e segura”, afirmam.
Com que idade começar?
Na School of Rock, alguns alunos começam cedo. “Nosso programa de iniciação musical é a partir dos 2 anos de idade. A música estabelece relação com as crianças entre o que se ouve e o que se produz, valorizando a interpretação com a possibilidade de criação de canções, melodias e ritmos utilizando o ambiente, instrumentos e sons corporais”, explica John Guillermo. Portanto, além de aprender a tocar um instrumento, os pequeno têm um impacto positivo nas capacidades cognitivas, sociais e emocionais.
#BlackOutTuesday: o dia em que a música parou nos Estados Unidos

Movimento mobilizou artistas contra o racismo, após ascen- são dos protestos nas ruas norte-americanas
Caroline Lopes Fonte: Folha de Pernambuco Em 05/06/2020
Desde o início do movimento “Black Lives Matter” - traduzido para “Vidas Negras Importam” -, em 2012, negros e negras da música têm usado seu poder na indústria cultural para mobilizar atenção à causas raciais. Com a ascensão dos protestos nas ruas após o assassinato de George Floyd, homem negro de 46 anos, empresas do setor fonográfico decidiram se mobilizar e, no dia 02 de junho, fizeram uma paralisação em solidariedade aos antirracistas. O ato, contudo, também gerou repercussão negativa entre alguns artistas afro-americanos, que acreditam que a ação não contribua efetivamente para a causa.
A paralização ficou marcada pelas hashtags #BlackLivesMatter e #BlackOutTuesday nas redes sociais. Imediatamente, tornou-se o fenômeno do dia e as postagens, a exemplo do Instagram, ficaram todas em quadrados pretos. Rihanna, Elton John e Cardi B, nos Estados Unidos, e Anitta, Camila Pitanga, Iza, Bruna Marquezine e Ludmilla, no Brasil, foram alguns que se posicionaram com as hashtags. Grandes gravadoras também pararam.
Entenda
A ideia surgiu das executivas da área Jamila Thomas e Brianna

Agyemang, propondo a interrupção dos negócios “para enfatizar o racismo e a desigualdade que existem da sala de reuniões à avenida”. Logo, outras organizações aceitaram e fizeram ações, como a cantora Rihanna, que parou a sua loja “Fenty”. Além da cantora, o Spotify interrompeu a transmissão durante nove minutos - tempo que durou o sufocamento de Floyd -, e estampou a página principal da plataforma com playlists de músicas de empoderamento negro, em capas escuras e com a identificação do Black Lives Matter. Embora tenha ganho grande repercussão, a movimentação também recebeu críticas. Por causa do grande número de postagens em preto, fotos com informações e links para doações aos movimentos desapareceram do feed das redes sociais. “Quando você analisa a hashtag #BlackLivesMatter, não há mais vídeos, informações úteis, recursos, documentação de injustiça, e sim filas de telas pretas”, alertou a cantora Kehlani no Instagram. Ideia que também foi compartilhada pelo rapper Lil Nas X. “Realmente acho que este é o momento de continuarmos com força. Não acho que o movimento tenha sido tão poderoso como antes. Não precisamos pará-lo sem publicar nada. Precisamos espalhar informações e torná-las mais fortes do que nunca”, acrescentou.
Adesão
Desde a última semana, artistas têm se mobilizado para ajudar o movimento antirracista. No geral, demonstram apoio pelas redes sociais, divulgando petições e criticando o presidente do país, Donald Trump, pela forma como vem reagindo aos protestos. Tinashe, Ariana Grande, Lauren Jauregui, Kali Uchis e Swae Lee são alguns dos cantores que romperam as redes e foram às ruas para apoiar as manifestações. Já Harry Styles e Katy Perry estão pagando advogados para as pessoas presas pelas polícias nos focos dos atos. Já o rapper e empresário Jay-Z decidiu usar seu poder de influência e ligou diretamente para o governador do estado do Minessotta, Tim Walz, para cobrar justiça sobre o caso de George Floyd. Na ocasião, ele chamou o procurador Keith Ellison, primeiro congressista negro e muçulmano dos Estados Unidos, para assumir o caso. “Hoje cedo, Walz disse que eu era um pai e um homem preto em sofrimento. Sim, sou humano, pai e um homem preto em sofrimento. E não sou o único”, disse o rapper. Jay é um dos artistas mais influentes da indústria e tem mobilizado ações junto à cantora Beyoncé, sua esposa, para defender os direitos dos afro-americanos nos últimos anos.
10 filmes que amantes da música
Nada como um bom filme sobre música! O gênero cinematográfico que já é bem
Caroline Lopes Fonte: Letras de Músicas Em 05/06/2020
Um filme sobre música não é, necessariamente, um musical. Hoje vamos falar dos filmes que tem a música como seu tema central, e não somente como parte da trilha sonora. Sejam filmes sobre artistas reais ou não, esses longas conseguem integrar a música dentro de um roteiro, dando luz a histórias incríveis e personagens marcantes que conseguem aquecer o coração de qualquer um, principalmente daqueles que se consideram amantes da música.
Separamos aqui 10 filmes sobre música de diferentes estilos para você ir colocando na sua lista.
Coco (2017)
Coco é uma animação incrível lançada pela parceria de sucesso entre a Pixar e a Disney em 2017. O filme é todo baseado no feriado de Dia de los Muertos, bastante tradicional no México, e conta a história de um garoto de 12 anos que é transportado para o mundo dos mortos de maneira acidental. Lá, ele precisa se encontrar com seu tataravô (que era músico) para pedir a ajuda dele para voltar ao mundo dos vivos. Coco foi um sucesso absoluto e levou até o Oscar de melhor animação e de melhor canção original com a música Remember Me.

Crédito: Disney
Nasce Uma Estrela (2018)
Outro filme sobre música super aclamado é Nasce Uma Estrela, que conta com Bradley Cooper e Lady Gaga como protagonistas. O longa conta a história de uma aspirante a artista que conhece um cantor famoso de forma inusitada, e ele topa ajudá-la a se tornar uma estrela. Um dos elementos mais marcantes do filme foi a música Shallow, que se popularizou no mundo todo e até versão em português ganhou.

Crédito: ImDb
Bohemian Rhapsody (2018)
Bohemian Rhapsody é um filme de 2018 que conta sobre parte da trajetória da banda Queen com enfoque em seu vocalista, Freddie Mercury. Quem gosta do Queen com certeza vai se divertir e se emocionar com o longa. A atuação de Rami Malek, que representou Freddie no filme, foi tão boa que ele ganhou o prêmio de melhor ator no Oscar de 2019.

Crédito: ImDb
Whiplash (2014)
Whiplash retrata a relação entre um estudante de bateria para jazz e seu instrutor duro e exigente, que está a procura de músicos para a banda da escola. O longa recebeu diversos elogios, tanto pelas suas atuações quanto pela parte técnica!

Mesmo Se Nada Der Certo (2013)
Mesmo Se Nada Der Certo é estrelado por Keira Knightley, Mark Ruffalo e Adam Levine em sua estreia como ator. É um filme sobre uma cantora e compositora que é descoberta por um produtor, em um bar, e os dois resolvem produzir, juntos, um álbum ao vivo por diversos cantos da cidade de Nova York. Detalhe: Lost Stars é a canção principal do filme e concorreu até ao Oscar em 2015.

Crédito: Getty Images
Quase Famosos (2000)
Quase Famosos é um filme do ano 2000, mas retrata a cena do rock dos anos 70. Conta a história de um rapaz de 15 anos que consegue um emprego para fazer uma matéria como jornalista para a revista Rolling Stone e, por isso, passa a ter que acompanhar de perto a turnê da banda de rock Stillwater. A trilha sonora é composta por di
não podem deixar de assistir
popular nos Estados Unidos vem crescendo cada vez mais por aqui também.
versos ícones do rock, como The Who, The Beach Boys, Led Zeppelin e David Bowie.

Crédito: FilmGrab
Escola De Rock (2003)
Escola De Rock é uma comédia infantil (mas ótima para todas as idades!) estrelada por Jack Black, que faz o papel de um músico que se disfarça de professor substituto da quinta série. Ao ver o potencial dos alunos para a música, ele resolve montar uma banda com os meninos da sala. Com uma trilha cheia de clássicos do rock, vamos destacar aqui uma música original para o filme chamada Zach’s Song, que é interpretada pelas crianças do lado do personagem de Jack Black. Crédito: ImDb
Letra e Música (2007)
A comédia romântica Letra e Música é bem divertida e recomendada para quem gosta de um filme leve e descontraído! Basicamente, o longa retrata um artista que está em decadência após ter tido fama passageira com sua banda. De forma inusitada, ele descobre que a garota que foi contratada para regar suas plantas temporariamente é uma ótima letrista e, juntos, eles compõem uma música chamada Way Back Into Love, que tem tudo para ser um sucesso.

Crédito: ImDb
Dirty Dancing (1987)
Pra quem não conhece, Dirty Dancing conta a história de Baby, uma moça que está passando as férias com a família em um hotel e que, um dia, descobre que os funcionários do estabelecimento se reúnem para dançar e se divertir. Ela vai até o local onde ocorrem essas reuniões e acaba conhecendo Johnny, o instrutor de dança, e eles se apaixonam. Dirty Dancing conta com a música (I’ve Had) The Time Of My Life em sua trilha sonora, que acabou ficando muito famosa por causa do filme. Crédito: ImDb
O Som Do Coração (2007)
O Som Do Coração é um drama emocionante sobre um menino com incrível talento musical que foge do orfanato para procurar seus pais e acaba se encontrando com um “empresário” de meninos que tocam nas ruas, interpretado por Robin Williams. O garoto afirma ouvir música em todos os lugares, mesmo que na sua cabeça, e diz que a música vai fazê-lo encontrar seus pais nova



mente.
Spotify lança ‘Modo Festa’ para ouvir músicas em grupo à distância
Caroline Lopes Fonte: Folha de São Paulo Em 10/06/2020
Para quem sempre quis fazer sessões musicais com a família ou amigos, o Spotify está introduzindo este exato recurso. Com nome de Sessões em Grupo, a novidade está disponível para Android e iOS, para usuários premium. A empresa tem trabalhado nesta função há um tempo, e mesmo ela sendo liberada de forma limitada, é algo interessante para aliviar as tensões da vida de quarentena.
Como funciona? O usuário pode iniciar uma sessão tocando no botão que utilizaria para transmitir as músicas para outros dispositivos. A outra pessoa que vai participar da sessão deve fazer o mesmo processo. Um QR code será gerado para cada usuário, que deve escanear o código do outro. Uma vez que as duas partes estejam conectadas, elas compartilharão da mesma playlist. Será possível adicionar, remover, trocar a ordem das músicas ou pular faixas à vontade. As músicas podem ainda ser transmitidas para um auto-falante ou monitor inteligente, como seria feito normalmente. Para sair da sessão, basta voltar ao mesmo local e tocar no botão para interromper o compartilhamento.
Impactos e transformações no indivíduo, coletivo e sistema da indústria música

Crédito: Getty Images
Caroline Lopes Fonte: Música e Mercado Em 05/06/2020
Invisível aos olhos humanos. Aloja-se dentro de nós, ataca nossa fonte de oxigênio. Confunde a nós mesmos fazendo nossas células reproduzirem aquilo que nos faz mal. A reaçã o do corpo em tentativa de defesa agrava a situaçã o, o que faz nós próprios nos atacarmos e piorarmos a situaçã o. Atinge a todos sem ver cor de pele, dinheiro no banco ou crenças. Consequência dos nossos hábitos, das nossas relaçõ es com os outros e com a natureza e do sistema exploratório que criamos para viver em todos os sentidos e níveis. Um vírus e/ou o próprio ser humano? Parece que a natureza biológica da crise tem muito a nos dizer sobre nós mesmos e o caminho que trilhamos até aqui.
“A falta de empatia talvez resida em querer de graça a única coisa que tais artistas têm a nos oferecer: seus shows, suas vozes e suas cançõ es.” Renato Gonçalves
O Covid-19 assola nosso planeta há apenas alguns meses, mas seus danos e consequências já são sem precedentes. Pessoas do mundo inteiro e praticamente todas as indústrias sentem grande impacto e turbulência (a economia criativa e a indústria da música que o digam). As reflexões começam a acontecer e possivelmente ficarão para o resto de nossas vidas. O “normal” (que já não era tão “normal” assim, convenhamos) já não existe mais e assim abre-se espaço para algo novo. É momento de reflexão e transformaçã o porque do jeito que estava não dá mais para ser. Para quem ainda não estava claro isso, o Covid veio escancarar. Que mundo queremos viver? Como queremos nos relacionar com as outras pessoas, a natureza, trabalho, estudos, vida e nós mesmos? Como nossos hábitos afetam as nossas vidas individual, coletiva e sistemicamente? O que é realmente essencial nas nossas vidas e qual real valor damos a elas? Não só na teoria, mas principalmente na prática. Não consigo pensar nos impactos do Coronavírus na indústria da música separados desses olhares e questionamentos. Já são milhares de cancelamentos de eventos e shows com previsão de prejuízo de dezenas de bilhões de dólares para o ecossistema no mundo inteiro. Só no Brasil são mais de 8000 eventos afetados e um prejuízo estimado de mais de 480 milhões de reais segundo pesquisa da DATA SIM (dados referentes às 536 empresas que responderam a pesquisa), com projeçõ es estatísticas que chegam em um prejuízo estimado das “MEIs da Música ao Vivo” de 3 bilhões de reais impactando cerca de 1 milhão de profissionais (considerando as 62 mil MEIs registradas no Ministério da Fazenda como empresas de Produçã o, Sonorizaçã o e Iluminaçã o). Nós artistas nos vemos de uma hora para outra sem sua principal fonte de renda, os shows, sem previsão
clara de volta e nesse meio tempo tendo que se reinventar e desdobrar para conseguir pagar as contas e manter um mínimo de saúde mental.
O público se vê em quarentena dentro de casa, começam a mudar seus hábitos, não conseguem ficar sem música ou outras formas de arte nem um dia sequer, mas será que estão realmente pensando no trabalho e valor de todos os artistas e profissionais envolvidos? O poder público não se preocupa muito pelo silêncio e letargia em que encontra-se. A vulnerabilidade, as lacunas, as desigualdades e processos que precisam melhorar de nossas profissões e ecossistemas criativos estão escancaradas. Vejo este ciclo como oportunidade para amadurecermos, colaborarmos e criarmos mais, sair das nossas zonas de conforto para expandirmos como pessoas, profissionais e sistemas criativos. Como nossos recursos disponíveis no momento são no ambiente digital para darmos aulas, workshops, fazermos lives, produzirmos músicas e vídeos, torna-se fundamental finalmente estudarmos a fundo como funcionam as plataformas de streaming, as agregadoras digitais, as mídias sociais, as editoras musicais, os direitos autorais, as coletoras de direitos autorais, o ECAD (Escritório Central de Arrecadaçã o de Direitos Autorais) e todo o fluxo da cadeia de valor da música gravada. Assim, entenderemos como trabalhar melhor para termos mais retorno de desenvolvimento de público e financeiro também, evoluindo nossa relaçã o e trabalho com pontos do ecossistema que nós artistas geralmente temos dificuldades e pouco conhecimento. Além disso, passamos a ter mais clareza e consciência das dinâmicas saudáveis e exploratórias de nosso sistema, suas práticas, processos, estruturas e agentes. Por exemplo os problemas de baixa remuneraçã o e processos complexos do ambiente digital da música que trazem dificuldades e muitas vezes pouco retorno, ou os muitos contratos exploratórios que ainda circulam entre artistas e outros agentes da indústria. Podemos, inclusive, passar a perceber mais a influência desse sistema e seus jogos de poder na maneira como ouvimos e percebemos a música e os artistas atualmente. Entender que reflexos, hábitos e ideias nos alimentam e condicionam muita vezes sem nem nos darmos conta. Mas aí encontra-se a oportunidade de estudarmos, aprendermos e refletirmos para transformar e melhorar coletivamente na direçã o de um ecossistema mais justo, equilibrado e próspero para todos. O que seria isso exatamente eu não sei, mas aí é que está, vamos pensar e fazer juntos! Quando falo de fazermos juntos penso em outro impacto importante que podemos aproveitar dessa crise, o desenvolvimento de nossa consciência de classe artística para nos unirmos e lutarmos por políticas públicas e uma valorizaçã o realmente sistêmica das artes e dos artistas. Os dados mostram a relevância não só social, cultural, histórica, mas também política e econômica da música. Países como Inglaterra, Alemanha, Holanda são exemplos de como é relevante e impactante esse tipo de tratamento e açõ es para/com as artes, a música e os artistas. Suas políticas públicas, órgãos governamentais focados no mercado da música e todas as açõ es que estão fazendo nessa crise para arrecadar fundos de emergência para a economia criativa como um todo, em suporte a nós artistas, produtoras e empresas do setor, são referências. Uma real transformaçã o estrutural passa pela valorizaçã o, organizaçã o e açã o do poder público de forma horizontal. “A diversidade de áreas de atuaçã o das empresas e o enorme percentual de fornecedores e terceirizados implicados na cadeia produtiva da música demonstram que a organizaçã o produtiva é complexa e requer medidas diversificadas, amplas e estruturantes, pensadas coletivamente, e que não se restrinjam a segmentos específicos da extensa cadeia produtiva da música. (…) No Brasil a falta de uma entidade de âmbito nacional que dialogue com todos os segmentos produtivos, somada à fragilidade institucional das instâncias governamentais, têm impedido que açõ es sistêmicas e efetivas sejam encaminhadas com a urgência necessária” - Data Sim, 2020. Em meio a tantos impactos, reflexões, questionamentos e pontos a serem trabalhados, também percebo o público como fundamental para completar as transformaçõ es. Sem artista e sem público não existe o mercado da música. Logo, os amantes, ouvintes e consumidores de música também precisam refletir nessa crise sobre como relacionam-se conosco, nossos trabalhos e as diversas formas de trocas que acontecem. Não é só uma questão de valor material, mas também de percepçã o real de todos os outros valores como humano, social, cultural, político e até nutricional da música (sim, a música tem diversos efeitos terapêuticos e medicinais comprovados por diversas pesquisas científicas). Será que temos a real percepçã o de valor e de tudo o que envolve o trabalho de um artista?
Uma música gravada, um vídeo lançado? Será que realmente demonstramos na prática e estamos dispostos a retribuir das mais diversas formas todo o valor de tudo o que envolvem ou estamos acomodados, automatizados, nas facilidades e condiçõ es impostas pelo sistema e seus grandes agentes como Spotify e Youtube da vida? Como esses grandes agentes, o sistema e as condiçõ es que criam e impõem moldam a maneira que me relaciono com a arte e os artistas? “A alienaçã o do consumo e da produçã o musical se dá tanto na ideia de que o streaming no YouTube é gratuito, sem ter em vista que, no fundo, espectadores também trabalham para a ferramenta quando visualizam o conteúdo e ao fornecerem seus dados para a comercializaçã o de anúncios publicitários, quanto na percepçã o de que se está remunerando de forma justa os músicos e artistas ao se pagar o ínfimo a uma plataforma que, na prática, repassa muito pouco aos seus artistas por cada play. O músico, se for depender da faixa que grava ou da composiçã o que elabora, não sobrevive financeiramente” – Renato Gonçalves, “A valorizaçã o da música e a desvalorizaçã o do músico”, 2020. Temos que tomar cuidado com essa onda enorme e fora do normal de conteúdos gratuitos em lives, músicas, vídeos e com nossa sensibilizaçã o pela crise para não acabar colocando os artistas e seus trabalhos num lugar exclusivamente de altruísmo e doaçã o. Para não acabar julgando-os e, sem empatia nenhuma, desconsiderar todos os esforços, tempo, energia e recursos para estarmos onde estamos e fazer o que fazemos enquanto artistas. “Fazer música, nesta crise humanitária, converteu-se em um sinal de altruísmo, de doaçã o. O artista que não quiser/puder entrar nessa onda de shows gratuitos pode até mesmo ser considerado pouco empático à situaçã o — leitura, inclusive, que já podemos observar em comentários direcionados a determinados artistas nas redes sociais. Essa cobrança e até mesmo queixa que têm assolado alguns artistas mostra que o público, muitas vezes, está alheio a tudo o que pode envolver o fazer música ao vivo e online, como direitos autorais, cinegrafistas, editores, qualidade de equipamentos de imagem e som etc. A falta de empatia, para usar o termo do momento, talvez resida em querer de graça a única coisa que tais artistas têm a nos oferecer: seus shows, suas vozes e suas cançõ es.” - Renato Gonçalves, 2020. A arte e os artistas alimentam e sustentam a humanidade das pessoas, são as partes mais humanas de nós e algumas das mais afetadas por toda essa crise. Vejo isso como símbolo da grande vulnerabilidade de nossa humanidade pelo nível de desenvolvimento da consciência que nos encontramos enquanto espécie humana. Quanto tempo você aguentaria ficar sem ouvir uma música, ler um livro, contemplar uma fotografia, pintura, desenho, dança, escultura, assistir um filme ou uma série? Que olhar temos para as artes e os artistas? Nossas açõ es estão alinhadas com esses olhares? Demonstramos na prática o que sentimos por eles ou ficamos só no discurso? Desenvolvendo o paralelo: que olhar temos para a nossa humanidade, para nós mesmos? Quais são nossos valores, virtudes e essências da vida? Nossas açõ es estão alinhadas com esses olhares para si, o outro e o coletivo? Vivemos aquilo que dizemos que somos, ou estamos enganando a nós mesmos?
Beyoncé fala sobre movimentos antirracismo e sexismo na música em mensagem a jovens
Caroline Lopes Fonte: Folha de São Paulo Em 10/06/2020
Beyoncé, 38, enviou uma mensagem neste domingo (7) para a geração de formandos 2020, em um discurso no qual destacou o movimento Black Lives Matter e afirmou haver sexismo na indústria musical. Ela também elogiou os que trabalham por mudanças. A estrela estava entre as personalidades convidadas para participar da cerimônia virtual do YouTube, chamada Dear Class of 2020 (“Querida Turma de 2020”). Vocês chegaram aqui no meio de uma crise global, uma pandemia racial e uma expressão mundial de indignação pelo assassinato sem sentido de mais um ser humano negro desarmado”, afirmou a artista, que tem três filhos. “E mesmo assim vocês conseguiram. Estamos muito orgulhosos de vocês”. Beyoncé se referia aos protestos contra o racismo que acontecem nos Estados Unidos, com milhares de pessoas nas ruas para denunciar a brutalidade policial e a supremacia branca sistêmica. “Obrigado por usar sua voz coletiva para que o mundo saiba que as Vidas dos Negros Importam”, disse a cantora. A artista também denunciou o persistente sexismo na indústria da música. “Como mulher, eu não vi modelos femininos suficientes tendo a oportunidade de fazer o que sabia que tinha que fazer”, relatou. ”Para dirigir minha gravadora e administrar minha empresa, administrar minhas turnês, isto significava ser dona. Dona das minhas fitas masters, dona do meu coração, dona do meu futuro e dona da minha própria história, completou”. Beyoncé concluiu a mensagem com um recado aos que se sentem marginalizados: “Sua homossexualidade é linda, sua negritude é linda, sua compaixão, seu entendimento”. “Sua luta por pessoas que podem ser diferentes de você é linda”.
