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Cultura 09. Cultura

Saiba tudo que já foi cancelado na cultura por causa do coronavírus

Lollapalooza, Coachella e Broadway foram prejudicados devido à pandemia

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Brunna Lemos Fonte: www.folha.uol.com.br Em 14/05/20

A pandemia do novo coronavírus tem causado uma série de cancelamentos e suspensões de shows, festivais, peças e exposições ao redor do mundo. Confira abaixo os principais casos de artistas, museus e produtoras que cancelaram estreias, adiaram datas de eventos ou restringiram acesso a espaços culturais por causa da doença:

MÚSICA • Metallica na América do Sul:

A turnê sul-americana do Metallica foi transferida de abril para dezembro. A banda Greta Van Fleet continua confirmada como atração de abertura, mas o Metallica ainda não informou as novas datas e locais dos shows no continente. No Brasil, a banda tinha shows marcados em Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre.

• Coachella

meujornal.com.br

Coachella visto de cima

• Sonata Arctica: A banda finlandesa reagendou sua turnê pela América Latina, que aconteceria em abril, para novembro —em São Paulo, o show acontece no dia 15, na Audio.

• Casa Natura Musical (SP) • Glastonbury • Lollapalooza Brasil, Chile e Argentina

• José Carreras: O tenor José Carreras faria um show em 1º de maio no Allianz Parque Hall, em São Paulo, mas o evento foi adiado. • Alok: O DJ brasileiro Alok cancelou duas turnês que seriam realizadas em abril, na China, e na próxima semana, nos Estados Unidos.

• Lenine • Zeca Pagodinho

• Shows internacionais: Bob Dylan cancelou shows no Japão, que aconteceriam em abril em Tóquio e Osaka. Já o grupo Maroon 5 cancelou os dois últimos shows da turnê na América Latina. Faltando só quatro dias para começar uma turnê no Reino Unido, a banda de rock The Who também cancelou os shows no local. Já a banda Green Day adiou uma turnê na Ásia que tinha início marcado para 8 de março. E os sul-coreanos de k-pop BTS cancelaram sua agenda de shows e disseram que não era possível saber se haverá novas datas. capricho.abril.com.br

Membros do grupo BTS • Bandas internacionais no Bra

sil: Bandas e grupos como Backstreet Boys , McFly, Renaissance, Curved Air, Wu-Tang Clan, Dire Straits Legacy e Pussycat Dolls tiveram shows adiados no Brasil. tickx.com

Grupo americano Pussycat Dolls • South by Southwest • Festival Música em Trancoso

• Espaço das Américas: Shows e festivais previstos para março e abril no local foram adiados, entre eles: Zeca Pagodinho, Racionais, Chitãozinho & Xororó, Jorge & Matheus, Ivete Sangalo, Wesley Safadão, Alexandre Pires, Il Divo, Renaissance e Curved Air, Popload Gig e Reggae Live Station (com The Wailers, Chimarruts e Mato Seco).

• JazzNosFundos • Filarmônica de Nova York

www.wfmt.com

TEATRO E APRESENTAÇÕES • Broadway e Metropolitan • Carnegie Hall • Festival de Curitiba • Teatros municipais • Teatro Alfa • Teatro Vivo • Teatro Renaissance • MITsp • Prêmio Shell • Cirque du Soleil • Virada Cultural de São Paulo

CINEMA • Festival de Cannes

• Blockbusters: Os grandes lançamentos de Hollywood tiveram datas alteradas. Entre eles: “007: Sem Tempo para Morrer”, “Pedro Coelho 2: O Fugitivo”, “Um Lugar Silencioso: Parte 2”, “Trolls 2”, “Velozes e Furiosos 9”, “Mulan”, “Os Novos Mutantes”, “Espíritos Obscuros?”, “Espiral: O Legado de Jogos Mortais”, “O Chão Sob Meus Pés”, “Tel Aviv em Chamas” e “Honeyland”. A maioria desses títulos segue sem previsão de estreia.

legadodamarvel.com.br

Elenco de Os Novos Mutantes

• Estreias nacionais: Longa- -metragens como “A Menina que Matou os Pais” e “O Menino que Matou Meus Pais”, de Mauricio Eça, “Três Verões”, com

TELEVISÃO • Talk shows e seriados america

nos: As produções dos talk shows “The Tonight Show”, com Jimmy Fallon, e “Late Night”, com Seth Meyers, foram suspensas, segundo repórter do New York Times. Séries como “The Morning Show”, da Apple, e “Riverdale” suspenderam suas produções.

• Bafta TV LITERATURA • Biblioteca Nacional • Filpoços • Primavera Literária Brasileira • Seminário Internacional Arte, Palavra e Leitura – Por uma Educação Transformadora • Companhia das Letras • Feira do Livro de Londres • Feira do Livro de Bogotá • Feira do Livro de Madrid • Casas Literárias de São Paulo • Feira do Livro Infantil de Bolonha

Regina Casé, “No Gogó do Paulinho”, “De Perto Ela Não É Normal”, “Aos Olhos de Ernesto” e o documentário”Babenco — Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou” também receberão novas datas de estreia. • Festival É Tudo Verdade: As comemorações de 25 anos do É Tudo Verdade, principal festival de documentários do país, terão que ser parcialmente adiadas. Para não deixar os cinéfilos na mão, o festival promete ampliou a lista de filmes disponíveis online —antes, a programação já contemplava 15 títulos que seriam transmitidos pelo site do Itaú Cultural e no serviço de streaming da Spcine, o Spcine Play.

• Salas de cinema Cinemark, UCI, Cinépolis, Kinoplex e Cinesystem • CinemaCon (Las Vegas) • Mostra Tiradentes | SP • O Centenário - Fellini no Mundo • Multishow

• The Walking Dead: O episódio final da décima temporada da série, que seria especial, teve sua exibição adiada, pois não foi possível que se cumprissem as demandas de pós-produção. A temporada terminou no dia 5 de abril. Os outros oito episódios da temporada estarão disponíveis de graça no site da AMC.

ARTES PLÁSTICAS • Art Basel • ‘Campo Expandido’ • Espaços culturais públicos em SP • Bienal do Mercosul • CCBB • Instituto Casa Roberto Marinho • Casa Museu Ema Klabin • Centro Cultural Oi Futuro • Japan House • IMS Paulista • Itaú Cultural • Instituto de Arte Contemporânea (IAC) • Instituto Tomie Ohtake • Louvr e

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Museu Louvre, na França • MAC-USP • MAM-SP • MAM-RJ • Masp • MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York) • Museu do Prado e Reína Sofía • Museu Whitney • Tarsila do Amaral na Fábrica de Arte Marcos Amaro, em Itu • Da Vinci Experience e Suas Invenções • MuBE • Museu da Casa Brasileira • Museu Imperial • Parque Lage • Museu da Inconfidência • Calendário Pirelli MODA • Met Gala • São Paulo Fashion Week

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A jornada do vilão

O lugar dos vilões sempre foi à sombra dos heróis, até que eles raptaram os holofotes: entenda como o lado bom dos personagens maus ganhou o mundo

Brunna Lemos Fonte: www.super.abril.com.br Em 23/09/19

O Coringa nasceu para ser descartado. Quando o vilão surgiu pela primeira vez, em 1940, no quadrinho Batman #1, a ideia inicial dos roteiristas era matá-lo nas últimas páginas daquela edição. Até que fazia sentido: seus criadores achavam que um antagonista recorrente faria o Homem-Morcego parecer meio desleixado no combate ao crime. O palhaço teria batido as botas com uma facada no coração, não fosse o protesto de um dos editores da DC Comics, Whitney Ellsworth, que viu potencial no personagem. Por sorte, era ele que tinha a palavra final. Do contrário, o mundo jamais chegaria a ver HQs memoráveis, como A Piada Mortal (1988) – muito menos as atuações históricas de Jack Nicholson, Heath Ledger e, agora, Joaquin Phoenix, nas adaptações cinematográficas do vilão. Quase 80 anos depois da sua estreia, o Coringa é hoje um algoz consagrado, amado até. E esse é o caso de vários nomes da cultura contemporânea: Darth Vader, Hannibal, Walter White… A lista é grande e fácil de preencher. Mas não costumava ser assim. Antagonistas complexos e carismáticos só passaram a ser “mainstream” em narrativas

mais recentes. No passado, o papo era outro.

Ser ou não ser (vilão)?

Na Grécia Antiga, Aristóteles dizia que toda ficção (na época, chamada de poética) deve possuir algum tipo de antagonismo. Veja bem, ele não dizia “antagonista”. Para o filósofo, o papel do vilão não era essencial. Bastava que a história incluísse algum elemento de conflito: uma competição, um problema, uma catástrofe natural. Na literatura grega, não era tão fácil distinguir os personagens bons dos maus. “Os próprios heróis faziam atos bastante questionáveis”, lembra Mônica Faria, especialista em narrativas da UFPEL. É só pensar no caso de Zeus: o todo-poderoso do Olimpo traía, matava e punia o tempo todo. Seu filho, Hércules, apesar do status de mocinho, matou toda a sua família em um acesso de loucura. As histórias desse período ajudam a entender o conceito de antagonista. A palavra grega quer dizer “rival” ou “competidor”. Na prática, é um contraponto da história, que serve para enaltecer a missão do protagonista. Ele nem precisa ser uma figura maligna. Pode ser apenas alguém que deseja a mesma coisa que o personagem principal – e acaba entrando em conflito com ele por conta disso. O exemplo má

Coringa: vilão da DC Comics, arqui-inimigo do Batman, interpretado por Joaquin Phoenix em 2019

Darth Vader: nascido como Anakin Skywalker, se tornou um vilão lendário de Star Wars

ximo na cultura atual talvez seja Apollo Creed no primeiro filme da franquia Rocky Balboa (1976). Na Idade Média, começa a se consolidar a figura do vilão clássico. Aquele realmente MAU – o contraponto negativo para tudo que o herói tem de positivo. A consequência dessa dicotomia é tornar as histórias mais caricatas. Não há mistérios nas intenções dos personagens: elas são sempre só boas ou só ruins. Toda a narrativa acaba centrada no embate bem versus mal. A entidade que melhor promoveu esse “rebranding” da vilania foi justamente o cristianismo medieval, criador de um dos malvados favoritos do Ocidente: o diabo.

Entre anjos e demônios

Se alguém te pedisse para desenhar a figura do demônio, como ficaria o seu rabisco? Vou arriscar um palpite: o tinhoso seria vermelho, com chifres e um rabo. Aposto também que ele teria pés de bode e um tridente. Acertei? Você não está errado. Essa, afinal, é a figura consagrada do Diabo. “Ela começou a aparecer na Idade Média Central, entre os séculos 11 e 12”, conta o Edin

Abumanssur, professor de

Teologia e Ciências da Religião da PUC. Antes disso, o capeta era quase sempre retratado como uma figura humana. Satanás (que vem do hebraico e significa “adversário”) aparece na Bíblia como um oponente de

Deus, mas não há grandes detalhes sobre sua aparência.

A história de Lúcifer chega a mencionar que ele era lindo, como todo anjo. Mas a associação entre Lúcifer e Satanás só apareceu depois, como interpretação dos textos sagrados do cristianismo. “No Antigo Testamento, não há nada que deixe explícito que o Diabo é um anjo caído”, conta Abumanssur. Até na história de Adão e Eva, tirada do livro de Gênesis, não há menção ao demônio. A ideia de que ele assumiu a forma da serpente que convence o casal a comer o fruto proibido também é uma adição medieval. Ora, então como foi que o demônio ganhou esse visual nada atraente? A construção da figura do Diabo acontece quando a Igreja Católica expande sua influência pela Europa. Para conquistar fiéis, ela precisava de um inimigo que justificasse s u a

importância, unificasse o povo em um continente descentralizado e, claro, enfraquecesse as outras religiões. A solução foi personificar tudo o que há de ruim na humanidade em um único ser. Dessa maneira, a Igreja legitimava sua existência. Deus combate o mal encarnado (o Diabo), e você chega a Deus por meio da igreja. Para tornar o vilão mais familiar, o Diabo ganhou adereços “emprestados” de outras crenças: o tridente veio de Netuno, da mitologia romana (ou Poseidon, para os gregos); os chifres, os pés de bode e o rabo são do deus grego Pã, e do deus celta Cernunno. “O medo é sempre o primeiro incentivo ao culto religioso”, escreve o alemão Paul Carus no livro The History of the Devil. Ele defende que a presença de uma divindade maligna é importante para o passado de quase toda religião. Os mitos e as narrativas religiosas faziam a sua parte distinguindo claramente o bem e o mal. E, como precisavam transmitir os valores cristãos, era comum que viessem acompanhados de uma moral da história – formato também emprestado dos gregos, ao estilo das fábulas esopianas da Antiguidade.

Uma única jornada

Os vilões sempre viveram à sombra do herói – e não só na ficção. É difícil encontrar informações confiáveis sobre a evolução do conceito de vilão ao longo do tempo. Até nos estudos acadêmicos ou literários, eles acabam como coadjuvantes. Mas é possível pinçar algumas coisas aqui e ali.

Loki: deus da trapaça e da travessura na Mitologia Nórdica e vilão amado da Marvel

O escritor Christopher Vogler é um dos poucos a ter se aprofundado na análise da vilania narrativa. Roteirista, ele trabalhou por décadas como consultor para estúdios de Hollywood, como Disney e Warner Bros. E, para estudar os vilões, Vogler começou pelo avesso: inspirou-se no antropólogo Joseph Campbell, criador do famoso conceito da “jornada do herói”. Aqui vai um rápido resumo: Campbell percebeu que todos os mitos, de certa maneira, possuem elementos que se repetem, ciclos pelos quais todo protagonista passa. Eles são divididos em etapas: “o chamado do herói para aventura” (em Star Wars, é o momento em que o pedido de socorro da Princesa Leia chega até Luke Skywalker), o “encontro com um mentor” (quando Neo conhece Morfeu em Matrix), e por aí vai. Vogler selecionou nas teorias de Campbell as estruturas que ele acreditava serem mais úteis na construção de uma narrativa. O resultado foi publicado em um guia, chamado A Jornada do Escritor. Lá, Vogler descreve diferentes arquétipos que um personagem pode assumir – todos eles representam alguma faceta da psicologia humana. Um dos arquétipos é, justamente, o da Sombra, que representa o nosso lado obscuro, nossos sentimentos reprimidos. Sua função principal é desafiar o herói. O vilão, portanto, é a sombra. Com a explosão da cultura pop, no século 20, vilões arquetípicos ganharam uma aura própria de carisma, mesmo quando eram a mais completa encarnação do mal (lembre-se do Darth Vader da trilogia original). Por quê? “Se gostamos dos vilões, é porque todos nós possuímos uma face sombria, ainda que não a expressemos”, diz Adriana Amaral, que coordena um grupo de pesquisa sobre cultura pop na Unisinos. “Nesses personagens imperfeitos, acabamos enxergando um pouco da nossa personalidade.”

Prazer, anti-herói

A indústria, que não é besta, percebeu isso, e passou a criar vilões heroicos (pense, agora, em Walter White, de Breaking Bad). Bom, se existe uma jornada do herói, deve existir uma jornada do vilão, certo? Sim e não: “Do ponto de vista do vilão, ele é o herói do seu próprio mito”, escreve Vogler. Isso chega a ser inescapável quando o protagonista é o próprio vilão. Não tem outra saída: como personagem principal, de um jeito ou de outro, ele vai acabar passando pela tal jornada. Até porque o público precisa, nesses casos, entender suas motivações, ambições e sentimentos, e como elas gradualmente moldaram a vilania dos seus atos. De alguma maneira, um vilão com jornada é um vilão justificado. Do contrário, ninguém vai comprar a história. Além do antagonista e do vilão, portanto, as narrativas contem

Gollum: vilão de Senhor dos Anéis, antes chamado de Sméagol, se corrompeu pela ganância

porâneas trazem à tona uma terceira categoria: a do anti-herói, o verdadeiro reflexo invertido do herói tradicional. O novo Coringa se enquadra nesse grupo ao dar razões e raízes à loucura do palhaço. No início dos anos 2000, a franquia Star Wars tentou fazer a mesma coisa com Vader, com três longas dedicados à história de origem de Anakin Skywalker. A própria Disney fez apostas parecidas nos últimos anos: Malévola quebra a dicotomia tradicional dos contos de fadas e dá à vilã de Bela Adormecida uma jornada própria e até heroica. Até a Cruella, de 101 Dálmatas, vai ganhar um filme para chamar de seu em 2021. Difícil é imaginar que tipo de trauma horrendo ela vai precisar ganhar para justificar sua obsessão assassina com cachorrinhos. Talvez seja esse o grande apelo das narrativas dos anti-heróis – humanizá-los exige tanto talento narrativo que é impossível não acabar seduzido. E não tem problema nenhum com isso: pode torcer pelos vilões à vontade. Afinal, não há ninguém tão parecido com a gente quanto eles.

Snyder Cut: A nova versão de Liga da Justiça

Três anos após seu lançamento, o filme ganhará uma versão estendida para o streaming em 2021

Brunna Lemos Fonte: www. super.abril.com.br Em 21/05/20

Liga da Justiça estreou em 2017. Seguindo os eventos de Batman vs Superman, lançado no ano anterior, o filme marcou o encontro de alguns dos principais heróis da DC Comics: Mulher-Maravilha (Gal Gadot), Flash (Ezra Miller), Aquaman (Jason Momoa), Ciborgue (Ray Fisher) e, claro, Batman (Ben Affleck) e Superman (Henry Cavill). Mas ficou por isso mesmo. O filme recebeu críticas negativas e fracassou nas bilheterias: arrecadou US$ 657 milhões, pouco mais que o dobro do seu orçamento. O valor não é apenas abaixo do que filmes da Marvel costumam faturar, mas também dos próprios filmes da casa: Homem de Aço, de 2013, fez US$668 milhões. Liga da Justiça pode não ter sido um longa marcante, mas ele faz parte do que talvez seja uma das histórias mais curiosas do cinema nos últimos anos – e, provavelmente, mais interessante que o enredo do filme em si. Desde o seu lançamento, fãs argumentam que os defeitos de Liga da Justiça têm uma simples explicação: a versão que foi para o cinema não é a que o diretor, Zack Snyder, idealizou, e que, em algum lugar, existiria uma segunda versão. Esse novo corte, mais longo, sombrio e com ideias que foram descartadas do material final, ficou conhecido como “Snyder Cut”. Na última quarta (20), a Warner Bros. anunciou que uma nova versão de Liga da Justiça – o “Snyder Cut” – chegará às telinhas em 2021. Telinhas, e não telonas: o filme sairá no HBO Max, plataforma da streaming da empresa que deve estrear nos EUA no próximo dia 27. Ainda meio perdido nessa história? Abaixo, um resumo de tudo o que rolou até agora – e o que já se sabe dessa nova versão.

Criando um universo

Depois de dirigir filmes como 300 e Watchmen, duas adaptações de quadrinhos, Zack Snyder foi chamado para comandar Homem de Aço, que recontou a origem do Superman. O filme saiu em 2013 e, apesar das críticas mistas, foi bem na bilheteria. Isso permitiu que, naquele ano, a Warner anunciasse um ambicioso projeto: um filme do Superman enfrentando o Batman. Seria épico: o primeiro encontro dos grandes personagens da DC nas telonas. O anúncio, feito na San Diego Comic-Con, foi empolgante. Inicialmente previsto para 2015, Batman v Superman foi adiado para 2016. As expectativas para o filme eram altas: com Snyder na direção, o tom seguiria rumos sombrios e realistas – isto é, o máximo de realismo que uma história com superseres pode ter. Ele era extremamente importante para a Warner, pois seria base para a construção de um universo cinematográfico (assim como sua rival, a Marvel) e, consequentemente, para um futuro filme da Liga. O filme estreou, e fez US$ 873 milhões no mundo todo. Mas a recepção não foi como planejado: segundo o agregador Rotten Tomatoes, apenas 27% das críticas foram positivas. A partir daí, começou a rolar algo que se repetiria em Liga da Justiça – Snyder alegou que uma parte considerável do material do filme não foi para a versão final, prejudicando a história. De fato: a versão estendida, com 30 minutos a mais, amarra diversas pontas soltas do roteiro, e constrói melhor o ódio que os heróis sentem um pelo outro. Vale dizer que BvS e Liga não são os únicos filmes de Snyder que possuem uma versão do diretor: Madrugada dos Mortos, Sucker Punch e Watchmen também entram na lista.

Os bastidores de Liga

A produção de Liga da Justiça foi conturbada. Embora todos os atores tivessem retornado para interpretar seus papéis, a Warner, depois da recepção de BvS, olhava a direção de Snyder com insegurança. Em janeiro de 2017, o diretor entregou uma versão bruta, com quatro horas de material – e você achando que as três horas de Vingadores: Ultimato já eram muita coisa. A Warner, em contrapartida, queria que o filme tivesse duas horas de duração. Snyder entregou uma primeira versão, com 2h20min – mas é claro que, com esse corte, vários ajustes ainda precisariam ser feitos. Mas seu trabalho foi interrompido por uma triste notícia: a morte de sua filha, Autumm. Com isso, Snyder se afastou da produção. Para terminar o filme, a Warner chamou Joss Whedon – o diretor por trás dos dois primeiros Vingadores. Os produtores apostavam que o humor e os diálogos de Whedon, que deram certo na Marvel, poderiam, de alguma forma, consertar o que estava dando errado no universo da DC. Segundo o New York Times, Whedon criou 80 novas páginas de roteiro para o filme. Ele adicionou momentos para a Mulher-Maravilha, Lois Lane (Amy Adams) e Martha Kent (Diane Lane), a mãe do Super. Em contrapartida, redu

ziu o tempo de tela do Flash e do Ciborgue, além de cortar a personagem da atriz Kiersey Clemons, que viveria o par romântico de Miller. Mas as refilmagens mais controversas envolvem o Superman. Na época, Henry Cavill estava rodando outro filme, Missão Impossível: Efeito Fallout, e graças a uma cláusula de contrato, ele não poderia tirar o bigode. Solução: a equipe de Liga da Justiça o removeu digitalmente – mas o resultado não é dos melhores (além de ter custado US$ 25 milhões).

cdn.gamer-network.net

Henry Cavill atuando de bigode O que vem a seguir?

Assim que o filme foi lançado, fãs do mundo todo iniciaram a campanha #ReleaseTheSnyderCut (“Liberem o Corte do Snyder”, em inglês). A Warner recebeu centenas de mensagens, e 180 mil pessoas assinaram uma petição pela versão estendida. O movimento chegou até os telões da Times Square, em Nova York, durante a Comic-Con que acontece na cidade. Além do público, Snyder e os atores também alimentaram a campanha – que acabou virando praticamente um meme. Ben Affleck, Gal Gadot…Na última segunda (18), Jason Momoa, em plena quarentena, gravou um vídeo implorando pelo corte do diretor, dizendo que estava mais do que na hora disso acontecer – e não é que ele acertou? Segundo o Hollywood Reporter, as conversas entre Snyder, sua esposa, Deborah (que é produtora de cinema) e o presidente da Warner, Toby Emmerich, começaram em novembro de 2019. Zack e Deborah planejaram uma exibição do material, em preto e branco, para alguns executivos da Warner, do HBO Max e da DC na casa do casal na Califórnia. Até agora, pouco se sabe sobre o projeto. A Warner dará entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões para que Snyder finalize a produção – que pode ser lançada na íntegra, com quatro horas de duração, ou dividida em uma série com seis episódios. “A melhor parte disso é que podemos explorar esses personagens de maneiras que você não consegue em uma versão mais curta”, disse Snyder ao

Hollywood Reporter. “O retorno desse filme nesse formato e duração, é um movimento corajoso e sem precedentes”. Fora isso, há rumores de que o “novo” Liga da Justiça terá a aparição do vilão Darkseid, dublado pelo ator Ray Porter (que comemorou o anúncio do Snyder Cut com uma foto do seu personagem). Mas ninguém sabe se será possível refilmar cenas envolvendo o Batman, já que Ben Affleck desistiu do papel. A notícia também reacendeu outro movimento: #ReleaseTheAyerCut, que pede para que a Warner libere a versão original de Esquadrão Suicida que o diretor, David Ayer, defende ser melhor do que a que foi para os cinemas. As chances, no entanto, são mínimas. Por que? Bom, você já viu Esquadrão Suicida? Pois é. Se você não confia que essa nova versão de Liga da Justiça será melhor – e ainda torce o nariz para toda essa história – saiba que, pelo menos, alguns fãs estão felizes: nesta quinta (21), alguém pagou um avião para sobrevoar os estúdios da Warner com um cartaz agradecendo pela decisão.

A Liga da Justiça

Série Brooklyn Nine-nine, da NBC

Por que as séries de comédia deixaram de usar a trilha de risadas? Entenda por quê as risadas de fundo, conhecidas como claques, têm sido cada vez menos usadas em sitcoms

Brunna Lemos anos atrás passou a aparecer cada Fonte: www.super.abril.com.br vez menos, sobretudo depois que Em 23/05/20 The Big Bang Theory, uma popuMother. O que essas três séries lar sitcom que usava trilha de riFriends, Seinfeld, How I Met Your entender por quê. sadas, terminou, em 2019. Vamos têm em comum? “Todas são sobre A ascensão… um grupo de amigos vivendo em Antes da criação do rádio e da Nova York”, você vai dizer. É vertelevisão, quem estava à procura dade, mas há outra semelhança: de entretenimento só tinha uma elas utilizam uma trilha de risadas, opção: sair de casa. E parte da extambém conhecida como “claque”. periência dos espetáculos ao vivo As claques existem há décadas, e estava na relação dos artistas com são um recurso constante para dea reação do público: a tensão, os zenas de sitcoms – uma abreviação suspiros, as palmas – e as risadas. para situation comedy (“coméQuando o rádio se popularizou, os dia de situação”, em inglês), que é produtores queriam que seus procomo se denomina esse gênero. gramas transmitissem para quem Mas o que era regra até alguns estivesse em casa a sensação de estar em um programa ao vivo. Foi aí que tiveram a observatoriodocinema.uol.com.br ideia das risadas de fundo. O primeiro programa a utilizar isso foi o Bing Crosby RaCena da série The Big Bang Theory, da CBS dio Show, nos anos 1940. Um mini-documentário do site Cheddar, que fala sobre o surgimento das claques, recorda que as primeiras risadas foram gravadas pelo produtor Jack Mullin, que as pegou de um show do comediante Bob Burns. Burns divertiu a plateia com suas piadas, mas, pelo teor delas, o show não poderia ser transmitido na rádio. Mullin, então, reaproveitou as risadas e, à pedido de um roteirista, inseriu-as em um outro show de comédia (que, segundo ele, nem era tão engraçado assim). Por sua vez, o uso da trilha na televisão surgiu de uma necessidade técnica. Nos primórdios da TV, os programas de comédia eram gravados com uma única câmera. Para dar mais dinamismo aos shows, as cenas eram reencenadas sempre que câmera mudava de lugar – era o único jeito de um mesmo momento ser gravado em ângulos diferentes. Só que havia um problema: com uma cena gravada três vezes, as risadas da plateia ficavam inconstantes: ora eram estridentes, ora mais tímidas. Além disso, era muito difícil controlar pessoas rindo por tempo demais ou em momentos errados. Quem percebeu o problema foi Charley Douglass, um engenheiro de som da CBS, uma emissora dos EUA. No final da década de 1940, ele desenvolveu uma técnica que ficou conhecida como “sweetening” (algo como “suavização”, em inglês): quando as risadas da pla

teia não fossem adequadas, bastava inserir trilhas previamente gravadas no lugar, suavizando-as. A solução agradou os produtores e, na década seguinte, a coisa evoluiu: Douglass criou a Laff Box, uma caixa de risadas (laff é uma versão propositalmente errada de laugh, que significa “risada” em português). O equipamento era pesado, tinha quase um metro de altura e 32 bobinas que continham, cada uma, dez tipos de risadas gravadas. No total, Douglass tinha 320 tipos de risadas, e usava um painel cheio de botões para escolhê-las: tinha risadas de homens, mulheres, jovens, idosos e por aí vai. O primeiro programa de TV a usá-la foi o The Hank McCune Show, em 1950. O show nem tinha plateia ao vivo – as risadas saíam todas da caixa. A Laff Box foi um grande sucesso – e por essa razão, Douglass mantinha o seu funcionamento em absoluto segredo. Depois de registrar a patente da máquina, quase ninguém além dele e de sua família sabia como operá-la. Tanto que, quando um estúdio solicitava o uso da caixa, Charley ia pessoalmente com ela para trabalhar junto com os produtores. Nos anos 1960 (época de séries como A Feiticeira e Jeannie é um Gênio), o uso das claques se popularizou cada vez mais. Mesmo com o passar dos anos, séries gravadas com múltiplas câmeras (o que teoricamente resolveria o problema da inconsistência das risadas) mantiveram o recurso. Em Friends, por exemplo, os atores continuavam a cena, mesmo que a reação da plateia se estendesse demais: eles sabiam que, na pós-produção, tudo seria suavizado. E não há nada de errado nisso. Um estudo britânico mostrou que claques podem deixar piadas mais engraçadas. Afinal, elas podem ter dois efeitos principais: a de convencer alguém a começar a rir, numa espécie

One Day at a Time, sitcom da Netflix

de contágio ou “efeito manada”, ou servir como uma espécie de permissão – como quando alguém aguarda a reação de outras pessoas até romper em uma risada. Mas há um porém. Com a trilha de risadas, é mais difícil que a série saia do formato padrão de um episódio de sitcom, em que os diálogos, via de regra, servem de escada para uma punchline – aquela frase de efeito, que encerra uma piada. Programas que usam a claque ficam estranhos quando esse recurso é retirado.

…E a queda

A explicação para a longevidade da “risadas enlatadas” é simples: os programas faziam sucesso, e o fracasso de séries dos anos 1970 que se aventuraram a não usá-las só reforçaram a tese de que fazer comédia sem claques era inviável. Isso só começou a mudar com duas séries da HBO: Dream On, que estreou em 1990, e The Larry Sanders Show, de 1992. Ambas não usavam claques e, apesar da descrença inicial, foram um sucesso – o que abriu caminho que para outros programas seguissem sem risadas, como Curb Your Enthusiasm (2000), Malcolm (2000) e Scrubs (2001). Sem a necessidade de uma plateia, as séries puderam explorar novas técnicas (como voltar a usar apenas uma câmera) e cenários. Sem as risadas, os roteiristas tinham mais liberdade para inovar o formato, deixando o humor acontecer por conta das características e desenvolvimento dos personagens – e não necessariamente pelas punchlines. Essas séries provaram que era possível fazer comédia sem as claques, e não demorou para que outras sitcoms seguissem essa tendência: Arrested Development, The Office, 30 Rock, Parks and Recreation, Community, Brooklyn Nine-Nine… A resposta para o sumiço das risadas pode estar também na maneira como as novas audiências consomem entretenimento. Mike Royce, (que usa fundo de risadas), diz que talvez as pessoas não gostem mais que um programa diga a elas o que sentir – ou qual o momento adequado para rir. Seja como for, não há certo ou errado nessa história. As sitcoms com trilha de risadas continuarão a existir – e, mesmo que não existam, reassistir um episódio de Seinfeld ou de Friends continuará hilário. Se a série te faz rir, isso é o que importa.

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