Enquanto uma piada entra por um ouvido e sai pelo outro, enquanto um link é esquecido ou uma imagem é deletada, o papel existe. O papel ocupa. E incomoda. Um artigo impresso torna uma ideia matéria. Tem peso, textura. Cheiro (não cheire essa revista). Não tem bateria pra acabar. E, é claro, pode te ajudar a acender uma fogueira ou a se higienizar em situações extremas. Muito embora essa revista que você segura possivelmente acabe em uma pilha de outras bobagens esquecidas,
talvez uma ou duas cheguem no futuro intactas.
E possam contar a alguém que ainda nem nasceu, como era uma revista de papel. E, particularmente, quem eram os comediantes que escreveram essa aqui. Com orgulho, estamos na contramão.
Cola com a gente.
Patrick Maia Diretor
INDICE NOVO
Brasil
ESTA
escrevendo pode ter um espaço aqui. Abrace a ideia,
Um coletivo de comediantes, pensadores, poetas que estão prestes a estar em situação de rua. Esta revista surge com a ideia de reunir escritores de humor e ilustradores do Brasil inteiro e suprir essa lacuna que existe no mercado nacional. Toda pessoa que ri sozinha escrevendo pode ter um espaço aqui. Abrace a ideia, conte para os amigos, e por favor, se seguir a sugestão do Patrick e usar a revista para acender uma fogueira, tire uma foto e mande pra gente. Ah, e se optar pela segunda sugestão, guarde pra você.
Daniel Sartório Editor
E QUEM ESCREVE ESTA REVISTA? 4 6 9 14 17 18 20 23 27 29 30 ÍNDICE
PATRICK MAIA
DANIEL DUNCAN
NIGEL GOODMAN
PEDRO MENDES
FÁBIO PORCHAT
QUEM LANÇA UMA REVISTA IMPRESSA EM PLENO 2020?
o lado ruim da cocaína -
contos policiais -
entrevista com o vampiro -
crime desorganizado classificados amorosos -
de onde eu vim -
HÉLIO, CLAUDIO E BETO
PATRICK MAIA
BEN LUDMER
páginas dos cassetas -
com a palavra os gagos -
coluna mágica -
BABU CARREIRA
DANILO GENTILI
renan, o esquerdo macho -
piores histórias reais -
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CRIMINAL INFLUENCER: BLOGUEIROS DA PRISÃO.
por fernando loureiro
Foi-se a época que para ficar famoso no Brasil era preciso fazer Malhação ou Big Brother. Porém, outros tipos de crime contra a humanidade também ganharam espaço na mídia. A chegada nas cadeias de presos nacionalmente conhecidos como Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga e goleiro Bruno, acendeu a chama da fama dentro da escuridão das celas brasileiras.
Esses criminosos acima tiveram seus nomes estampados em manchetes de jornais, revistas, nas vozes de Willian Bonner, Fátima Bernardes, e, claro, nas pautas do “A Tarde é Sua,” programa vespertino de cunho cultural-criminalístico.
Após a chegada de todas essas “carcerebridades”, não era de se espantar que a fama desses nomes conhecidos por todo o Brasil despertasse nos presos anônimos o gostinho da inveja. Fazendo com que eles também quisessem desenvolver suas carreiras dentro da prisão, visando escalar a fama e buscando seu lugar ao sol (somente às quartas de 13h as 14h). Foi assim que surgiram os chamados Criminal Influencers: os blogueiros da prisão.
Do alto do Pavilhão 5 em Bangu 1 começou a se ouvir quase que diariamente “Oi, meninas turo... POW POW POW”, três tiros de festim vindos da direção da ala 5. Essa é a forma característica que os Criminais Influencers
iniciam seus vídeos. E se engana quem pensa que a ala 5 sempre chamou a atenção dos policiais, pelo contrário. Conhecidos como os “meia bomba”, os presos de segurança mínima, se tornaram visíveis apenas depois de uma das maiores rebeliões que todo o complexo já passou: a rebelião digital.
Tudo começou com o detento 6248, o Serginho 157, ou como também era conhecido: mão leve da Taquara. O jovem de 27 anos entrou na prisão após roubar o Wi-Fi e o marido de sua irmã. A detenção para esse tipo de crime virtual é de apenas 2 anos. E hoje após cumprir mais da metade de sua detenção, Serginho não pretende deixar a cadeia tão cedo. O motivo? É um dos criminais influencers mais conhecidos de todo Bangu 1.
Como você começou esse trabalho aqui dentro?
E eu precisava estar conectado, certo? Então dei um jeito de trazer um celular aqui pra dentro. Pedi para meu cunhado engolir um Galaxy S10 e vir me fazer uma visita intima. Infelizmente não deu certo, pra ele, que faleceu, mas o celular chegou são e salvo.
E por que essa ideia de virar influencer dentro da prisão?
Eu ficava com inveja de não ser conhecido. Via essa galera famosa aqui na prisão, imprensa do lado de fora
esperando, jornalista fazendo entrevista. E pensei: por que não eu? O que eu tenho de errado? Sou bonita pra caramba, meu peito é duro. Decidi que era hora de começar. Comecei devagarinho no Instagram. Uns 20 seguidores só. Fazia de tudo, sorteio de Derby, colchão novo, final de semana na cela dos políticos (com TV e ar condicionado) essas coisas. Aí o pessoal começou a reconhecer, a fama começou a chegar. Fui aproveitando e investindo nesse mercado novo. Além de mostrar a vida da cadeia, que hoje em dia faz muito sucesso. (muita gente fica doida num chavoso, num zé droguinha, eu nem uso droga não, mas finjo que uso pra pegar gente... ) então eu mostro o que querem ver. É o meu mercado.
Que mercado é esse? Além dos vídeos o que você faz como criminal Influencer?
Hoje em dia, graças a Deus eu tô abrindo minha empresa. “Boca Rosa de Fumo”. É um investimento pioneiro que eu tenho certeza que vai voar.
E o que exatamente sua empresa faz hoje?
Principalmente tutoriais e consultorias online. Nossos últimos foram: “Sequestro por telefone básico: aprenda a fazer voz de mulher chorando e gritando mãe socorro; “Não sequestre crianças, sequestre idosas” e “Como conseguir o código de acesso do Whatsapp sem sair da prisão”;
Mas agora estou focado em outros setores também. Mês que vem estou lançando nossa marca de maquiagem aditivada: Macohagem – sua maquiagem vai ser uma viagem.
Que tipo de aditivos vocês usam?
Ervas finas
Quanto tempo você ainda tem aqui dentro da prisão? E o que você pensa em fazer com todo esse investimento?
Minha liberdade tá programada pra daqui a uns 9 meses. Mas eu não quero sair não. Não posso deixar tudo isso pra trás. Tô pensando em fazer alguma coisa, dar um soco num guarda, chamar o inspetor de viado, furar alguém com uma BIC.. Alguma coisa que consiga me ajudar a ficar aqui mais um tempo. Aqui é onde eu existo. Lá fora não sou ninguém, aqui dentro sou o Serginho Boca Rosa – de fumo.
Mas se você tivesse que ter um plano lá pra fora, qual seria?
A fazenda.
Mas se nada der certo, eu saio, invisto [no crime] lá fora e volto pra cá, se Deus quiser na segurança máxima.
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MAURO VELLASQUES, O DJ RICO
por ricardo scarpa
O DJ e herdeiro Mauro Vellasques, conhecido na noite como DJ Rico, e conhecido nas colunas sociais como Mauro Aristides Mendonça de Alcântara Orleans Vellasques Terceiro, decidiu encerrar seu período sabático de três anos, atracar seu iate e voltar para as picapes.
Mauro é um dos expoentes de um estilo de música conhecido como Música Eletrônica De Jovem Rico, uma vertente que talvez você não conheça, até porque nem todo mundo é jovem rico. Suas faixas cheias de beats precisos são perfeitas para se ouvir num equipamento de som caro instalado numa cobertura na Vila Nova Conceição, ou ao pôr do sol numa praia particular guardada por capangas fortemente armados, enquanto se aprecia o sabor de uma lagosta tão fresca que teríamos que testemunhar a morte dela antes de comê-la.
Em seus últimos trabalhos, Mauro Vellasques tem buscado inspiração em suas experiências pessoais. No single “Fake”, o DJ compara uma decepção amorosa com a decepção de abrir um vinho francês de 1947 e descobrir que virou vinagre. Já na faixa “Fast”, ele descreve a sensação de dirigir sua Maserati em alta velocidade numa avenida de São Paulo, causar uma sequência de acidentes graves, fugir sem prestar socorro e subornar os investigadores. Suas faixas sempre têm nomes em inglês porque ele estudou na Inglaterra e também porque o teclado do seu notebook não está configurado para o padrão ABNT2.
Os cofres cheios, os imóveis, as obras de arte, os cavalos puro-sangue e o gosto pela música parecem ter sido herança de família. Seu tataravô já era uma espécie de DJ no Brasil colonial. Ele contratava músicos para interpretar remixes de Mozart, Chopin e Bach em suas festinhas. A função do DJ tataravô consistia apenas em escolher as músicas e ficar com os braços para cima animando a galera. Nada muito diferente de um DJ dos dias de hoje.
Apesar da musicalidade e do sangue azul em suas veias serem coisa de família, Mauro Vellasques não quer ser visto simplesmente como um filhinho de papai mimado. Para deixar aflorar a sua identidade própria em seu próximo álbum, Mauro buscou um lugar isolado e só seu: a mansão da família em Campos do Jordão. Parece que o refúgio rendeu frutos. O próximo disco de Mauro sai em breve pela gravadora cujo dono é seu pai.
Refletindo sobre a existência, sobre a carreira e sobre outras coisas que pessoas abastadas podem se dar ao luxo de ficar pensando, Mauro nos disse ter encontrado o sentido da vida, que é ser DJ mesmo. Perguntado o que seria se não fosse DJ, Mauro respondeu que se dedicaria exclusivamente a ser herdeiro.
COMO A CLOROQUINA MUDOU A MINHA VIDA
por cintia portella
Vocês sabem que nada me dá mais alegria do que encher meu corpo de remédios legalizados pela anvisa e contar para vocês tudo dessa magia que é sentir meus rins serem sobrecarregados.
Então hoje eu vou compartilhar com vocês a minha aventura com a diva da pandemia: A cloroquina. Repito apesar de não ter mencionado antes: não façam isso em casa mesmo que o seu líder diga para fazer. Eu sou uma profissional treinada e diagnosticada. E minha família não vai sentir a minha falta se eu partir, palavras de minha mãe.
Vamos agora as tão aguardadas avaliações.
Acessibilidade: Nota 1.
“Tem mas acabou.” Vergonha Drogasil e demais farmácias de Brasília. O que Sidney Oliveira da Ultrafarma diria sobre essa falta de profissionalismo? Quando finalmente encontrei a bonita, eu tive que arrancar da boca da única ema que possuía o medicamento.
Embalagem: Nota 5.
Comunica mas falta glamour. Achei o embrulho muito contido para uma droga que promete te salvar do
Covid19. Cadê a ousadia de questionar a OMS e falar que os estudos que te negaram são todos falsos? Na internet é fácil ser ousada, quero ver andar na rua com essa confiança.
Ingestão: Nota 6.5.
Fica fácil de engolir depois que você se convence de que não vai morrer – Só vai sobrecarregar o teu organismo, o que a curto prazo não faz mal. O problema da ingestão é são muitos comprimidos para se tomar em uma semana corrida de isolamento.
Bula: Nota 2.
Muito confusa a parte de dosagem, que é a mais importante! Eu cogitei a bula ter sido escrita pela a Narcisa Tamborindeguy mas a Medley não respondeu o meu email sobre essa questão.
De qualquer forma, compartilho com vocês a minha interpretação sobre o doseamento.
Se você estiver doente de verdade, do tipo “pra morrer”, são 3 comprimidos de 150 mg 2x/dia no primeiro dia (900 mg de dose de ataque)
Lembrando que dose de ataque não significa jogar os comprimidos com bastante força de um jeito a garganta fique mais dolorida, Não. Ela existe para fingir que está atacando a doença. AI QUE LOUCURA.
E então no segundo, terceiro, quarto e quinto dias são 3 comprimidos de 150 mg 1x/dia (450 mg/dia). Difícil de lembrar, não é mesmo? Eu prefiro o tradicional “1 comprimido a cada 12h” mas a Clorô quis inovar. Eu discordo dessa decisão dela pois acho perigoso se arriscar nesse tipo de escrita porque se a pessoa estivesse para morrer e tivesse que ler a bula, já teria morrido. Se tivesse entendido a dosagem também viria a falecer.
Mas se você tiver só na paranóia, o tratamento consiste em uma dose diária de 100 mg durante 5 dias. Bem mais fácil se medicar sem estar doente, não é?
Confesso que fiquei na dúvida de que quadro me encaixava, pois se tivesse que me definir como pessoa eu escolheria tanto doente quanto paranóica, mas optei pelo caminho mais difícil. No pain, no opinion.
Foram cinco dias bem intensos, ainda estou me recuperando de tudo o que aconteceu. Compartilho com vocês o meu relato diário.
Dia 1: Tive dificuldade para engolir os primeiros 3 comprimidos, inventei de tomar todos de uma vez em uma golada de água. Erro de principiante. Mas corrigi na segunda dose do dia. Mais experiente, tomei um comprimido e bebi meio copo d’água. Tomei o outro na sequência e engoli com cerca de um quarto de um copo d'água. O terceiro eu tomei com guaraná - Água não tem gosto mais enjoa.
Nenhuma mudança física constatada.
Dia 2: Acordei por volta das 9:47, é um horário bom para
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uma terça-feira. Semana passada eu despertei às 9h30 mas não se pode vencer todas as batalhas. Na verdade nenhuma. Acordei meio chateada mas vai passar. Tive que ler a bula de novo porque não tinha entendido direito como funcionaria a segunda dose. Eu tenho muita dificuldade de absorver as coisas que leio. Minha mãe diz que é porque sou muito desatenta mas eu acho que tenho algum TDAH, dislexia, não sei, estou aguardando esse diagnóstico. Esqueci a hora que tomei a Cloroquina. Eu estou mais esquecida que o normal. Eu acho, não lembro como era antes.
Dia 3: O dia tá ok. Demorei mas tomei todos os comprimidos. Os de hoje foram mais difíceis de ingerir. Tive que escondê-los no meio de uma salsicha para conseguir comer. Deu certo. Nem senti o gosto do remédio, quando vi, já tinha tomado a dose toda. Confesso que tenho ficado mais irritada com tudo isso que tá aí no mundo. Mas assisti ao cidade alerta e fiquei melhor.
Dia 4: Claro que eu tomei o meu remédio, se tem remédio tem que tomar!!! Se cura lúpus e artrite porque ninguém está usando pra acabar com essa pandemia? É o único jeito de curar essa merda dessa doença que tá acabando com a nossa economia. Esse pessoal não quer ajudar o Brasil a melhorar por isso que não toma a medicação. Parece que ficam torcendo contra a nossa nação!
Dia 5: Último dia de cura e to muito bem, obrigada. Estou até mais disposta. Mas ninguém vai acreditar porque esses esquerdistas vão falar que é fake só porque me viram no hospital. Mas eu não estava lá por essa gripezinha, estava protestando por uma vida que ia ser encerrada sem nem ter chance de conhecer o que Deus preparou pra ela. Mas eu? Eu tô ÓTIMA! Aposto que nem vão publicar meu diário nesta revista de humor de esquerdista lacrador. Melhor pra mim! Essa revista não tem graça nenhuma! Bando de mimizento comunista!!!Porque não tem coluna do Carioca?? Aquele sabe fazer humor de verdade.
* Ministério da saúde sem ministro informa: Ao persistirem os sintomas, um livro deverá ser consultado *
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A INCONFIDÊNCIA MINEIRA 2
por daniel sartório
Ninguém imaginou que um dentista quase conseguiria separar o estado de Minas Gerais, de novo.
De férias em uma cobertura na cidade de Cabo Frio, Diogo estava bebendo sozinho. Ele era um homem simples, prestou vestibular para odontologia, artes visuais e direito e acabou se formando dentista. Não era seu sonho, nem de longe, exercer a profissão mais perigosa do mundo. Não pelo risco de uma broca ricochetear e acertar acidentalmente uma artéria, e sim pela estranha e alarmante taxa de suicídio de sua profissão.
Todos os dias eram iguais. Passava 10 horas por dia em uma sala branca e esterilizada. As únicas pessoas com quem poderia conversar balbuciavam respostas que muitas vezes não faziam sentido. A vida não estava fácil. Recém divorciado, trocado por um médico que nem era um tipo bom de médico, a droga de um radiologista.
Ciente de suas fraquezas, ele busca força na internet. “Não é possível que nenhum dentista tenha feito algo relevante para a sociedade além de deixar pessoas estranhas, menos estranhas.” pensou. Resolveu digitar no google: “Dentistas Famosos”. Após duas páginas de dentistas blogueiros ele reencontrou uma história que não vinha em sua cabeça desde a terceira série. A história de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Nascido em Minas e assassinado na cidade que Diogo tanto detestava, no Rio de Janeiro. Após horas de leitura sobre os Inconfidentes, ele chega a uma conclusão: “Tiradentes só não conseguiu por que não existia internet”.
Tomado pelo fogo nacionalista, Diogo não via um problema sequer na sua ideia. “Minas Gerais é o melhor estado e todos de fora que vêm aqui, só querem se aproveitar de nossos bares, queijos e belas mulheres.” Ele pega seu celular, usa um suporte esquecido por sua ex mulher e com a paixão de um homem que descobriu sua razão de viver e fala pra câmera:
“Quantas vezes vocês sofreram preconceito por serem mineiros? Quantas vezes os cariocas e paulistas tentaram tirar proveito de nossa boa vontade? Minas Gerais é o melhor estado! Temos as melhores comidas, cachaças e cachoeiras. Vamos esquecer o litoral. Chega esse espírito vira-lata. Dizem que mineiro é bobo, que come quieto, já passou da hora de fazermos barulho e comermos a nossa fatia inteira. Não precisamos de nenhum outro estado e
principalmente não precisamos do Rio de Janeiro!”
Ele envia o vídeo em alguns grupos, se senta com uma garrafa de cachaça na cadeira da varanda e adormece.
Diogo é acordado pelo sol as 10 da manhã. Pururucado pelo sol e ressaqueado pela cachaça, ele levanta pega seu celular, vê que a bateria acabou e decide ir na padaria tomar café da manhã. Chegando na padaria, comete o erro de pedir um pão de queijo feito em Cabo Frio. Diogo perde a cabeça pela primeira vez na vida. Fica incontrolável e começa a bater nas mesas.
“AH MAS VAI PRA PUTA QUE PARIU QUE ISSO AQUI É UM
PÃO DE QUEIJO”
Num surto de ódio, Diogo arremessa o pão de queijo no atendente, que ao ser atingido por aquela bola sólida de polvilho azedo, cai no chão desacordado.
“Minha Nossa Senhora, o que eu fiz?”-diz Diogo envergonhado antes de sair correndo da padaria em direção ao seu apartamento. Com medo de ser localizado pela polícia, ele pega seu carro e foge em direção à Belo Horizonte. Enquanto seu celular carregava, desesperado, ele acelera o mais rápido que consegue: 5 km/h abaixo da velocidade máxima. Lembre-se que estamos falando de um dentista.
Quando seu celular finalmente carrega. Ele vê inúmeras mensagens e ligações. O seu vídeo havia viralizado e mais de 100 mil pessoas, grande parte deles dentistas. Sua ideia espalhou como fogo em um bambuzal. O telefone toca, é do Conselho Regional de Odontologia. Eles o convocam para uma reunião de emergência. Ele decide ir direto.
Chegando lá, ele é recebido em silêncio por mais de 30 dentistas que estão em volta de uma televisão. O mais velho deles, dá o play na Tv e passa um programa policial mostrando câmeras de segurança da padaria em que Diogo desacordou o atendente com uma pedra de polvilho. Aquele vídeo também viralizou e o sentimento de xenofobia contra os cariocas floresceu no estado inteiro. Após o vídeo terminar, todos bateram palmas emocionados.
“Nunca imaginamos que outro dentista ficaria pra história de nossa terra. Você é um mártir! O exército tá com a
gente, o governador, o comércio, todo mundo!” - Disse o presidente do conselho - “Vamos ao palácio do Governador!”
Diogo entra no carro e vê bandeiras de Minas Gerais hasteadas por toda a cidade, junto com cartazes com mensagens de ódio ao povo carioca. Diogo não sabe o que fazer. Ele tinha um segredo. Ele não havia ido para Cabo Frio à toa. Ele estava lá para encontrar com uma garota que conheceu na internet. Ele estava completamente apaixonado e perplexo que aquele amor, agora se torna proibido. Eles chegam no palácio do Governador, e são recebidos em clima de festa.
O comitê entra e vão direto em direção ao escritório do Governador, que os recebe sentado na mesa, do lado dele tem uma pilha de cocaína. Ele está elétrico. Gritando
“VIVA A REPÚBLICA DE MINAS GERAIS”. Diogo não sabe o que dizer. De repente ele recebe um áudio da garota carioca seguido de um “precisamos conversar”. Esse é o pior dia de sua vida. Ele teria que escolher entre o amor e seu estado. A imprensa está toda lá. Não é possível que ninguém ache que essa é uma ideia ruim. O governador o leva até as câmeras. “Só repita o que você falou e amanhã seremos república”.
A caminhada até os jornalista foi quase em câmera lenta. Todas as emissoras estavam ali. O rosto de diogo estampava camisetas e cartazes. O povo gritava pela nova república. Diogo fica paralisado e após minutos em silêncio diz:
-Nossa senhora não é pra tanto.. Cês já foram no leblon?!”
GUIA TURÍSTICO PARA CIDADES NÃO TURÍSTICAS
por ricardo scarpa
ENTENDEU OU QUER QUE EU DESENHE?
por patrick maia
Odiou esses desenhos?
Encontre muito mais aqui!
CORTA O FIO
por fábio porchat
ESQUADRÃO ANTIBOMBA ESTÁ NUM PORÃO NO SUBSOLO COM
UMA BOMBA CHEIA DE FIOS NA SUA FRENTE. TENSÃO, ELE ESTÁ COM UM ALICATE NA MÃO, NÃO SABE QUE FIO CORTAR.
AGENTE
Meu deus, e agora?
DEUS APARECE AO SEU LADO.
DEUS
Afonso.
AGENTE
Meu deus! Que maravilha! Me ajuda! Qual fio eu corto?
DEUS
Você...
COMO UMA IMAGEM COM CONEXÃO FRACA, DEUS FICA COM SINAL RUIM E FICA APARECENDO E DESAPARECENDO E COM A FALA TRUNCADA.
AGENTE
Fala.
DEUS
Corta... (IMAGEM SOME E PULA) Fio... (IMAGEM SOME E PULA) Agora.
AGENTE
Pera aí, tá dando mau contato aqui.
DEUS
Não corta o... (IMAGEM SOME E PULA)
Se não ele vai explodir.
AGENTE
Deus, concentra aqui. Tá travando. Eu tenho mais trinta segundos.
DEUS
Coooooooooo. (TRAVA COMO SE TIVESSE EM TRAVADO UMA IMAGEM NUM CALL)
AGENTE
Não faz isso comigo.
DEUS
Agora. Foi?
AGENTE (MOVE DEUS DE LUGAR)
Pera aí, vem mais pra cá. Aqui é porão não tá pegando bem.
DEUS
Tá me ouvindo agora?
AGENTE
To ouvindo.
DEUS
Eu não pego bem em país de terceiro mundo. Tem o fio verde?
AGENTE
Tem.
DEUS TRAVA E UMA SETA COMO SE ESTIVESSE RECARREGANDO FICA NO MEIO DE DEUS.
AGENTE
Deus. Deus. Caralho, vai explodir essa merda! (CORTA UM FIO NO DESESPERO)
AGENTE SE ESPREME COMO SE FOSSE MORRER. SILÊNCIO.
DEUS
Corta o fio verde.
AGENTE
Cortei já.
DEUS
De nada. (SOME)
AGENTE
Pera aí! Com o é que eu vou embora desse bunker? Deus? Volta aqui!
BUDA APARECE.
AGENTE
Buda, me ajuda.
BUDA ABRE A BOCA E OUVIMOS A MUSIQUINHA DA CHAMADA A COBRAR.
14
por babu carreira
Não é fácil ser profissional liberal no Brasil, mais difícil ainda é ser um profissional tão liberal que nem um ofício reconhecido pelo mercado você tem. Sou uma dessas pessoas e trago para a ilustre MinhocaZine todo o meu conhecimento a respeito de finanças. Golpista? Estelionatária? Bom, segundo o fórum do estado do Mato Grosso do Sul, sim. Mas eu prefiro chamar o meu modelo de negócios de “investimentos criativos”; e se eu fosse chamá-los de estelionatos seriam da menor qualidade, pequeninos estelionatos, pequelionatos!
COMO ADIANTAR SUA HERANÇA SEM MATAR SEUS PAIS
1-CURSO DE COACH
Mas não pense você que viver às custas da bondade (e às vezes estupidez) alheia é tarefa para os fracos! São muitas horas dedicadas a pesquisa, observação social, preparo de identidades visuais para negócios fantasma… Dá muito trabalho não ter trabalho! Ainda nesses tempos onde é tão mal visto ser feito de otário. As pessoas estão mais fechadas aos pedidos de amigos, com temores maiores, menos propensas a “fazerem papel de trouxa” como tantas vezes já ouvi em tom ameaçador. Tempos sombrios de falta de inocência e disponibilidade emocional.
Mesmo com todas essas dificuldades que assolam o mercado do pequelionato ainda temos um último refúgio; as pessoas em quem sempre podemos confiar e que quase sempre confiam em nós: nossos pais. Nossos queridos progenitores podem nem sempre acreditar na gente, mas como fazem parte de uma geração que confia mais no gemidão do zap do que na Nasa, ainda temos espaço para manobras usurpadoras.
Por favor, leitor, não me ache uma pessoa terrível. Eu sou apenas uma vítima de um sistema que não tem lugar para mulheres brancas privilegiadas que odeiam responsabilidades. A última de nós que foi exposta, foi amplamente perseguida: Su Von Richthofen utilizou de métodos radicais e extremos com os quais eu não concordo. Mas consigo entender de onde vem o seu ímpeto. Então venho aqui nessa publicação oferecer 5 dicas para desapossar seus pais de bens sem que você tenha que recorrer a medidas terríveis e extremas como assassinatos ou trabalhar na empresa da família.
Que pais podem resistir a ideia do filho sanguessuga encontrando finalmente uma motivação? O bacana de pedir para pagarem o curso de coach para você é que você pode torrar tudo em um resort, dizer que está transformado e ninguém vai te questionar já que nenhum resultado é esperado dessa experiência. Caso você queira elaborar provas é só juntar um grupo de amigos numa sala e ficar berrando palavras-chave como “mindset”, “co-criação” e “curso online”.
2-CHEQUE-CAUÇÃO
Se você for uma filha tão folgada e porca como eu, seus pais não veem a hora de te colocar pra fora. Chegou a hora! Para esse golpe, quer dizer, investimento, você vai precisar de um amigo permissivo com uma casa maneira. Você vai pedir uma pequena ajuda do papai e da mamãe para o cheque caução de um apartamento e vai passar um ano dormindo no sofá do seu amigo passivo-agressivo. Todo mundo vai ficar feliz! Seus pais vão ter uma vida melhor, você vai ter dinheiro e seu amigo será obrigado a desenvolver uma personalidade e eventualmente te expulsar. Talvez você fique desabrigado um tempo, mas vale a pena.
3-SEQUESTRO RELÂMPAGO
Você não precisa ser sequestrado de verdade, só de um grupo de amigos que não se prenda a conceitos antiquados como “seguir a lei”. A mecânica você já deve saber: some uns dias, alguém liga pedindo uma grana de resgate, blablablabla e… férias em Cancun!
4-GOLPE DO WHATSAPP
Essa é muito boa para quem é mais solitário e já destruiu todas as suas amizades então precisa agir sozinho. Seja seu próprio presidiário e mande uma mensagem assim: boa tarde, tá ocupado? estou precisando de xxxx reais para pagar uma conta e meu pagamento só cai amanhã, posso te passar o boleto para pagar? Depois de pago o boleto, você entra em contato dizendo: MEU DEUS, ERAM BANDIDOS, VOCÊ PAGOU? ME DESCULPE, EU NÃO TENHO COMO REPOR, INCLUSIVE TENHO UMA CONTA VENCENDO
HOJE, VOCÊ PODE ME AJUDAR? Caso você esteja se sentindo ousado, depois do pagamento: NAO ACREDITO, ERAM OS MESMOS BANDIDOS! E por aí vai…
5-BOLSA DE VALORES
Já tivemos a era dos quiosques de paletas mexicanas, do frozen yogurt, do açaí… Mas a melhor justificativa para investir mal e perder todo o seu dinheiro sempre será a bolsa de valores. Convença sua família a te deixar encarregado das aplicações da família. Diga que diversificou a carteira de investimentos e pronto. Conforme você vai gastando, vai dizendo que a bolsa está em baixa (o que não será uma mentira) até não sobrar um real. Essa ação é interessante porque permite que você desenvolva um vício em cocaína, faça uma cena enfiando uma garrafa de prosecco no cu, no meio da ceia de natal, peça dinheiro para fazer um rehab, gaste o dinheiro em michês que roubam toda a sua cocaína, te obrigando assim a fazer um detox super econômico e finalmente se veja sem qualquer outra alternativa de renda (porque você cortou laços com todas as pessoas que te amavam). Nesse momento sua única saída será escrever para um zine independente na expectativa de encontrar raros talentos como você que te coloquem em um pedestal, permitindo assim que você inicie um culto/esquema de pirâmide, pela promessa de uma vida livre de trabalho. Ou alguma coisa assim.
E é isso, essa foi minha contribuição. Espero que gostem. Caso desejem me enviar feedback é só entrar em contato. Se quiserem sugestões de investimento estou com um projeto bem bacana que pode mudar sua vida. Você só precisa investir 5 mil reais e recrutar mais 2 colaboradores para investir 5 mil reais também, que por sua vez precisam recrutar mais 2 colaboradores para investir 5 mil reais também, que por sua vez precisam recrutar mais 2 colaboradores para investir 5 mil reais também, que por sua vez precisam recrutar mais 2 colaboradores para investir 5 mil reais também, que por sua vez precisam recrutar mais 2 colaboradores para investir 5 mil reais também, que por sua vez precisam recrutar mais 2 colaboradores para investir 5 mil reais também, que por sua vez precisam recrutar mais 2 colaboradores para investir 5 mil reais também, que por sua vez precisam recrutar mais 2 colaboradores para investir 5 mil reais também, que por sua vez precisam recrutar mais 2 colaboradores para investir 5 mil reais também, que por sua vez precisam recrutar mais 2 colaboradores para investir 5 mil reais também, que por sua vez precisam recrutar mais 2 colaboradores para investir 5 mil reais também, que por sua vez precisam recrutar mais 2 colaboradores para investir 5 mil reais também, que por sua vez precisam recrutar mais 2 colaboradores para investir 5 mil reais também, que por sua vez precisam recrutar mais 2 colaboradores para investir 5 mil reais também, que por sua vez precisam recrutar mais 2 colaboradores para investir 5 mil reais também, que por sua vez precisam recrutar mais 2 colaboradores para investir 5 mil reais também, que por sua vez precisam recrutar mais 2 colaboradores para investir 5 mil reais também, que por sua vez precisam
"RÁQUI" DA FAMÍLIA
por victor ahmar
Pietro estava sentado no sofá tentando assistir a alguma coisa na TV. Ele tinha ido visitar sua avó, mas ela estava no momento conversando com quatro amigas vizinhas dela ao mesmo tempo dentro de seu quarto, enquanto mostrava o tecido novo que havia comprado.
- Eu vi no Face.
- É pra eu fazer um joguinho de cama pra minha sobrinha que tá pra casar… - dizia ela. - Ela me convidou pra ir, mas é em Goiânia, agora me diz: Como eu vou pra Goiânia com essas dores nas pernas?
- A sua tá bem tá ruim? Ontem eu amanheci com o joelho estralando… - disse uma das amigas.
“Lá vamos nós, para mais uma competição de de senhoras de idade vendo quem está com mais doenças ou dores.” Pietro pensou, enquanto desligava a TV. Não é nem que ele quisesse prestar atenção na conversa dos outros, mas o volume geriátrico estava maior que o volume máximo da televisão. Ele chegou a fechar o olho para tentar iniciar um cochilo, mas múltiplas vozes não saíam de sua cabeça:
- Meu negócio já é com varizes, isso acaba comigo.
- E o pé inchado?
- Aí vem junto com a diabetes…
- Tomei vacina da gripe, o braço pifou.
- Ontem minha pressão deu vinte e dois por oito.
- Então abre aí no seu computador, que eu não sei mexer com isso, pra gente poder ver.
- Eu acho que esse negócio queimou, desde mais cedo a tela apagou sem eu ter mexido em nada, já mexi na tomada e mudou nada, eu não tenho facilidade com essas coisas, quem tem é o Pietro…
O nome de Pietro ecoou em sua cabeça, de um jeito tão abrupto que quando ele percebeu, já estava sentado e descabelado no sofá, com expressão de quem havia acabado de ouvir uma profecia de um oráculo. Imediatamente, Pietro começou uma reza interna em busca de quem ninguém convocasse sua presença e ele tivesse que interagir com cada pergunta feita pelas amigas de sua avó. Seus ouvidos ficaram ainda mais atentos:
-...é que eles já vieram metendo dedo no celular, Suzana. Nosso brinquedo era pião e boneca!
- Mas o Pietro é um menino formidável, viu? Não é porque é meu neto não, é porque eu vejo nas notas, nunca deu um trabalho, quer ver? PIETRO? Vem cá, meu bem! - Dona Suzana chamou seu neto num tom de voz mais alto ainda, se é que isso era possível.
- Meu olho não aguenta trinta minutos de novela!
- Falando em novela, o filho da empresária vai morrer hoje?
-Diz a Sônia Abrão que vai. Eu já não sei, achei que ele fosse namorar com a menina que ficou grávida do outro lá…
- Não, ela tá só fingindo que tá grávida, porque ela não quer mais morar com os pais, aí quer tentar dar o golpe em todo mundo e fugir da cidade.
- Mas como uai? Se o menino vai morrer antes e ela que vai matar, todo mundo vai descobrir.
- Mas como que cê sabe que ela que vai matar o menino, Suzana?
Pietro piscou os olhos trezentos e trinta e sete vezes, na esperança de que em algum segundo surgisse uma desculpa, tão estático que não conseguiu nem se mexer para fingir estar dormindo.
-PIETRO? - talvez sua avó estivesse usando um microfone dentro de seu quarto, pela forma como a voz passava pelos cômodos até chegar em seus ouvidos.
-O-oi… A senhora tá precisando de algo? - Pietro parecia uma criança indefesa, ficou em pé no meio da sala, olhando para o chão.
- VEM AQUI ME AJUDAR COM A INTERNET!
Pietro foi caminhando em passos lentos, quando entrou no quarto se deparou com quatro senhoras analisando ele com um sorriso no rosto, sua avó estava atrás da cadeira do computador, como se segurasse um prêmio para o rapaz.
-Po-pode falar. - Pietro forçou um sorriso amarelo.
- Eu tava falando aqui, meu filho, como você tá com estudos em dia, é um rapaz educado, é um rapaz dedicado em tudo que faz…
- Obrigado, mas não preci…
- Tirou a maior nota da sala numa das matéria lá da faculdade, quanto foi?
- Não foi bem isso, foi um trabalho que eu…
- Fala logo a nota, sô! Foi quanto uai?
- Nesse trabalho que a senhora tá dizendo, foi nota máxima, mas…
- É ACIMA DA MÉDIA! É chato falar, mas é verdade. Os outros não são burros uai, não adianta me olhar de cara feia, Pietro. É acima da média, e vai ser um advogado maravilhoso.
Todas as amigas dela aplaudiram Pietro que sem saber muito bem o que fazer, se curvou alguns centímetros numa espécie de reverência desajeitada.
- Que isso, tá com dor no ciático também? - uma das senhoras perguntou e caiu na gargalhada sozinha. Pietro não chegou a rir, ele literalmente disse “ra-ra-ra” e um sorriso muito largo pra mostrar que estava a vontade com a situação.
- Mas Pietro, e as namoradinha, como tão? - uma das amigas de sua avó perguntou de forma tão natural, que o menino achou que talvez fosse uma pegadinha do Programa do Silvio Santos acontecendo na sua casa.
- Eu não estou namorando, no momento…
- Porque é pra casar! - bradou a avó orgulhosa, enquanto todas aplaudiram de novo.
teclado, e segurou o mouse. Nesse exato momento, sem que o rapaz tivesse falado nada, a tela voltou a ligar e mostrar o facebook de sua avó. Uma onda de energia tomou conta do quarto imediatamente, as senhorinhas não se aguentaram com a capacidade sobrenatural do menino.
-EU FALEI QUE ERA ACIMA DA MÉDIA! - falou Dona Suzana, abraçando o neto.
- Uai, que isso Suzana? O trem foi rápido demais! O menino é bão mesmo.
-Esse menino é “ráqui” hein? Toma cuidado que esse menino é o “raqui” da família, tem que tomar cuidado que ele sabe tudo que a gente manda no zap! - disse a mesma amiga que perguntou das namoradinhas. Pietro recebia tapinhas nas costas, e sinais de positivo de todas as senhoras. Elas estavam impressionadas com sua capacidade de ter resolvido o problema apenas tendo movimentado o mouse. Pietro precisava ao menos dar seu agradecimento final para poder se retirar, no fundo agora ele se sentia até bem com a situação de seu heroísmo.
- Meu amor, arruma esse computador da avó, mostra que você é o nosso futuro, você é talentoso demais menino, que orgulho, só tinha que estar comendo um pouquinho melhor…
- Gente, por favor, sério, eu não sou acima de média, eu agradeço muito o carinho de vocês, eu fico lisonjeado até, mas eu não sou mesmo, eu vou olhar o computador, mas eu não prometo nada, porque eu realmente só sei as coisas que eu aprendi de novo, nunca estudei nada de informática, então sem expectativas tá bom?
Pietro tomou cuidado em cada palavra para não parecer um jovem petulante ou ingrato, mas sabia que era praticamente impossível. Todas se entreolharam num misto de surpresa e empolgação, o computador pareceu ficar ainda maior dentro do quarto, todos os olhos se voltaram pra ele. O rapaz respirou fundo, puxou a cadeira, agora já sentindo até mesmo uma espécie de responsabilidade nas suas costas, de corresponder pelo menos uma explicação plausível caso o computador não voltasse a funcionar. Ele passou a mão na tela, limpou a poeira do
- Pietro, que mais que cê tem aí pra gente? - perguntou a avó entusiasmada.
O menino pensou por um instante e decidiu que ia entrar na dança. Ele não sabia muito bem o que mais podia fazer, até que surgiu uma ideia em sua mente. Em alguns segundos de pesquisa na internet, o menino levantou e pronunciou como se fosse um mensageiro de um reino muito importante:
- A menina que vai matar o rapaz hoje na novela, mas ela está grávida de verdade. Vai passar tudo hoje! Gritos. Comemorações. Aplausos.
Pietro era condecorado de forma gloriosa como o “Ráqui da Família”.
O NADA EU JÁ TENHO
por fernando borghi
ANO 17 DEPOIS DE MIM
por eva mansk
Nazaré, 08 de setembro. Ano 17 Depois de Mim.
Aqui é Jesus no ano 17 depois de Cristo. Cristo também sou eu, mas prefiro usar este nome para questões formais. Este ano foi marcante pra mim por motivos diferentes dos de 5 anos atrás quando minha mãe me esqueceu na festa do templo de Jerusalém por 3 dias. Tudo começou quando eu fui tomar banho e a água se afastava de mim. Acabei ficando dez dias sem banho e por causa disso passei a fazer minhas reuniões ao ar livre.
No outro dia pisei numa poça mas não afundei meus pés.
Pensei: "ainda bem que não molhei meus pés porque minha papete é de couro e não quero estragar."
Somente meu Pai sabia dos meus poderes e entendi que esta era a maneira d`Ele se comunicar comigo. Ele poderia me levar para acampar que nem o pai do Simão, que o ensinou a pescar. O meu me ensinou a multiplicar os peixes. Achei um exagero.
Eu estava preocupado com essas manifestações de poder desde o Bar-Mitzvah do Renato. Quando cheguei na festa, a mesa estava farta de pão e vinho e todas as cadeiras ocupadas de um lado, como deve ser. Nós ocupamos somente um lado pois toda vez que este grupo se reúne, gostamos de pintar uma selfie. Eu estava nervoso com o jantar pois a qualquer momento eu poderia transformar um pão em pedra e ainda não existe prótese dentária.
Saí para encher meu cálice e lá encontrei meu amigo Carlos Pródigo, que me pediu conselhos sobre sair de casa com a herança de seu pai. Eu o incentivei pois as pessoas devem seguir seus sonhos. Ele foi embora e eu fui encher meu cálice do maravilhoso Cabernet Sauvignon da Galiléia, quando o pior aconteceu: todo vinho começou a se transformar em água. Eu saí correndo pela estrada empoeirada, tropecei numa pedra, que poderia bem ser um pão e arrebentei minha papete.
Tudo parecia estar dando errado comigo. Pai, por que me abandonaste?
Cheguei em casa e mamãe perguntou:
-Jesus porque choras?
-Eu acho que acabei com a festa do Renato e criei o pior rolê da Bíblia.
-O que é bíblia, meu filho?
-Depois eu explico. Boa noite, fique o Pai. O pai Deus, não o José. Mas você vai ficar com o José também, mas Deus estará lá. Droga, não quero imaginar esta cena. Esquece. Boa noite.
Graças a Deus - não a meu pai porque ele não me ajudou com nada, "graças a Deus" neste caso é só uma expressão - meu tio Reinaldo resolveu me ajudar com meus poderes.
Por ser cego, ele demorou 50 anos para aperfeiçoar seu método de controle da força. Ele tem 50 anos.
Eu o admiro muito pois nunca se queixou da sua deficiência.
-Jesus, eu amo ser cego, sabe por que?
-Não sei, tio. Por que?
-Porque eu enxergo o mundo do meu jeito. E ele é lindo! Eu só sei viver sendo cego e não trocaria isso por nada neste mundo.
Ao começar o treinamento, tio Reinaldo pediu que eu me concentrasse na força e tentasse levantar pequenos objetos. Após algumas horas consegui levantar pequenas pedras e depois de alguns dias eu tirei uma velha biga de um pântano. O que é estranho porque em Nazaré não temos pântanos.
Tudo começou a dar certo até meu último exercício.
-Jesus, concentre-se no bem que você quer fazer, nos alimentos que quer multiplicar e nas doenças que quer curar.
Neste momento, meu tio tocou em mim e em seguida gritou:
-NÃO ACREDITO, JESUS. VOCÊ ME CUROU? Como assim? Eu te pedi, por acaso? Vou contar tudo pro seu Pai, não o José que aquele desmilinguido não tem pulso firme, vou contar pra Deus. Aliás Deus já deve estar aqui porque onde estiverem dois ou três reunidos no nome dele, lá Ele estará. Que horror que Nazaré é.. Bege. Tudo bege.
EMPRÉSTIMO SEM AMEAÇA É DOAÇÃO:
investimentos com Rubens, o agiota por gabe brandão
Depois que vi vocês confiando em um bando de lerdão e em pessoas influentes e inúteis, como a Gabriela Pugliesi, sobre como investir, economizar, usar seu empréstimo e não falir, senti a obrigação de entrar nessa jogada – mas, em mim, vocês podem confiar. Tenho experiência no assunto.
Trabalho com empréstimo pessoal de dinheiro em Vaz Lobo, subúrbio do Rio de Janeiro, há 18 anos. Todos os meus clientes pagam corretamente no prazo combinado. Obtive poucos atrasos até hoje. Um dos motivos do meu sucesso vem pelo fato dos juros não serem feitos em quantidade de porcentagem, mas de dedos que a pessoa está disposta a perder, caso atrase um pagamento.
Tenho visto uma galera investindo em bolsa de valores, ações de loja, em aplicativo de idiota e... Primeira coisa: investimento desse tipo é coisa de otário! Só se deve acreditar nos investimentos que se pode ver e, caso você não se importe com isso, vendo almas raríssimas de dinossauros que podem te interessar.
Investimento bom, por exemplo, é casa – mas irregular. Você contrata um pedreiro recém saído da prisão (a mão de obra é mais barata) e ele constrói a casa mais perigosa que puder: parede meio torta, fiação do lado dos canos e coisas do tipo que pouco importam, pois não será você que irá morar lá.
Você faz uma com bastante espaço e cobra um valor alto pois casa, para pobre, passou de dois quartos é palácio. Em um ano, você recupera o valor investido e tem 100% de faturamento mensal. Se atrasarem o aluguel, você os expulsa com a ajuda de dois donos da boca de fumo mais próxima pois, como não tem contrato, você pode expulsar a qualquer momento. O que importa é o trato. Se o governo não faz reparação social, quem é você para fazer?
O dinheiro que eu empresto é oriundo de um serviço
paralelo que tenho como segurança particular ilegal – uso minha arma da minha época de PM e influência pessoal dentre alguns colegas igualmente armados, mas que sempre lutaram contra a PM. Muitos chamam de traficantes, eu os chamo de auxiliares de segurança paralela. Me chamam de miliciano, mas apenas ofereço segurança alternativa com métodos severos – semelhantes aos da inquisição.
Aprendi com o Collor, graças ao confisco da poupança, que é importante guardar dinheiro em casa, ainda mais se for de corrupção. Nunca estive em nenhum escândalo por conta disso, todos os meus pagamentos foram em espécie e em locais sem câmeras ou pessoas, que também serviam como meu local pessoal de extermínio. Mas eu não mato, apenas aplico a justiça divina.
O colchão é o mais adequado para guardar notas, ainda mais se você for virgem e ninguém visitar seu quarto. Caso você seja uma pessoa suja, verifique sempre se ratos não comeram a sua grana – diferente de nós, eles não podem repor o dinheiro que pegarem. Guarde moedas em meias pequenas para, em caso de roubo, você possa nocautear o bandido com uma meinha.
Última dica: Nunca empreste dinheiro. Tem muita gente mal caráter por aí. E sei que isso parece estranho vindo de um agiota, mas, olha, eu tenho uma arma. Você tem algo mais nocivo a uma pessoa do que a faca de serra da sua cozinha? Se não, jamais cogita emprestar dinheiro, é vergonhoso ser ameaçado com uma – um devedor já fez isso comigo, e eu acidentalmente dei três tiros de advertência na sua cabeça, foi triste pois ele não pôde me repor depois os 600 reais que emprestei.
Se você tiver uma arma, mande o seu endereço, pois não quero novos concorrentes (já está difícil competir com os bancos) e, por isso, irei passar você. Ou por você. É escolha sua.
Nós, editores do MinhocaZine ficamos imensamente honrados por termos seres tão importantes para o humor nacional escrevendo também para esta revista. Claro que após eles terminarem, nós os liberamos do cativeiro.
REMÉDIO AMARGO
por helio de la peña
A pandemia acabou com um dos grandes prazeres de um solitário no bar, ouvir conversas alheias. A aglomeração das mesas, com bactérias e perdigotos se confraternizando livremente, sem a censura das máscaras, sem a patrulha dos fiscais e dos olhares reprovadores daqueles que querem seguir a regra, deixou mais saudades que os bolinhos de bacalhau ou as caipirinhas.
Num momento #tbb – throw back bactérias, lembrei-me de uma noite em que resolvi tomar um chope depois de um show. Sentei-me de costas para dois casais, sendo que as meninas estavam coladas à minha cadeira. A conversa dava a entender que eram todos íntimos e se conheciam há tempos.
Se a minha mulher não estivesse aqui, eu diria que aquela morena lá da ponta é uma gata. – disse um deles. Mas eu tô aqui! E você disse.
Eu disse que diria. Não põe palavras na minha boca, Aline. Mas como você é cara de pau, Douglas. Não tomou nem
três chopes e já tá de olho no galinheiro.
Que isso, moreco! Falei só de onda, você sabe.
Sei de nada, não. Aliás, prefiro não saber.
Ih, começou...
E você, Ernesto, não vai defender seu amigo?
Eu? Prefiro guardar minha língua pra provar esse bolinho de bacalhau. Tá faltando sal, aliás.
Douglas tá brincando, Aline – defendeu a amiga.
Tá vendo, Aline? A Luana sabe quando eu tô brincando. Você tá sempre brincando, Douglas. Brincando com fogo, vai acabar se queimando...
Por falar em fogo, vou lá fora fumar um cigarro. Vem comigo, Ernesto.
Benzinho eu vou, mas não vou fu...
Pode ir, Ernesto. Se quiser fumar, fuma, relaxa.
Os machos foram até a rua. As duas esperaram eles se afastarem. Aline confidenciou. Falou baixo, porém mais perto da minha orelha, enquanto eu disfarçava olhando o
celular.
Não suporto mais essa galinhagem do Douglas.
Ele não tava brincando?
Brincando nada. Nem quero olhar lá pra fora e ver ele balançando o queixo e apertando os olhos pra ficar mais sensual.
Ele fez isso mesmo! Como é que você sabe sem nem olhar?
Conheço meu eleitorado, só não sei como lidar com isso. Amiga, você tem que agir.
Agir como? Ficar na cola? Botar detetive? Não tenho vocação pra cão de guarda.
Quem falou em cão de guarda?
O que fazer, então?
Viu como o Ernesto tá mansinho?
Vi! Fiquei chocada. Eles eram iguaizinhos. Agora teu marido tá manso, calado. Pensei até que tava doente.
Tava doente antes, mas já tá curado. Comprei um bom remédio.
Como assim, Luana? Que remédio foi esse? Porque eu já tentei de tudo, até umas surras eu já dei. E de cinto! Não adiantou nada, menina.
Esquece o cinto.
E faz como?
Luana falou baixinho, nem pude ouvir. Pra minha sorte, nem Aline, que pediu pra amiga repetir.
Cintaralha. Cintaralha. Conhece?
Só de ouvir falar.
Então amiga, deixei ele agir livremente. Até que descobri. Não foi difícil, homem é otário, você sabe. Quando se encanta por uma bunda, vai deixando rastro em todo lugar. Aí, quando achei que era a hora de dar um check match, botei ele contra a parede até reconhecer e confessar.
Você é muito sagaz, Luana. Nunca mais?
Menina, não disse que botei ele contra a parede? Pois foi literalmente. Contra a parede do quarto. E vim armada, de cintaralha em riste: “Agora vai ser assim, Ernesto. O que você fizer lá fora, vou descontar aqui”. Ele chorou , gemeu, ficou de joelhos, mas não teve saída.
E agora, como estão as coisas?
Pergunte você mesmo. Eles tão voltando.
Depois de um silêncio e de uma nova rodada de caipirinhas pedida, os casais retomaram a resenha. Aline engoliu a curiosidade. Até que as moças foram juntas ao banheiro, um estranho ritual praquele bar de sanitários mínimos em que mal cabem uma pessoa. Ernesto enxugou o copo e pediu outra caipirinha, com cachaça e pouco açúcar. Douglas rompeu o silêncio.
Ernesto, o que é que houve? Tu anda tão calado, não tem mais nenhuma novidade pra me contar. Tá escondendo o jogo por quê? Tá pegando quem pra guardar segredo, minha irmã, minha mulher, minha ,mãe?
Que isso, Douglas! Tá maluco?
O que foi, então?
Parei com isso.
Sério? Tá broxa? Com toda a indústria farmacêutica jogando a nosso favor?
Tá tudo em cima. Mas, eu andei pensando e... resolvi nunca mais trair a Luana.
Ela descobriu? Foda, mulher é foda! Sempre descobre, por mais que a gente se ache esperto... Já dizia Romário, não existe malandro pra mulher. Eu entendo, perder tudo a essa altura do campeonato, quer dizer tudo não, metade... hahaha
Não é isso. É que...
Ernesto baixou a cabeça. Silêncio. Douglas deixou o amigo no seu tempo, sem pressão. Quando as meninas estavam a caminho de volta, Ernesto soltou, rápido.
É que... trair a Luana... dói muito.
As amigas chegaram, Ernesto pediu a conta. Tinha que acordar cedo no dia seguinte.
A RESILIÊNCIA DA EMPATIA
por hubert aranha
O título desse texto pra Minhocazine está até parecendo nome de documentário nazista dirigido pela Leni Riefenstahl ( procurem no Google ou na Wikipedia ) , a queridinha do ditador genocida Adolf Messias Hitler, o “Ítiler. Mas isso é uma outra história, mais precisamente a História da Segunda Guerra Mundial que, aliás, foi escrita pelo Churchil. Estou divagando, eu sei, mas eu sou assim mesmo: bem divagar.
Eu queria falar era da resiliência e da empatia. Nunca antes na nossa história duas palavras foram tão batidas e surradas. Eu não sei como esse abuso linguístico ainda não foi investigado pelo Ministério Púbico que não faz nada diante desse estupro da Língua Portuguesa. Antigamente as misses, coitadas, citavam O Pequeno Príncipe pra mostrar que eram burras. Hoje em dia isso mudou: o maior sinal de ignorância é uma pessoa que fala “resiliên-
cia” e “empatia” o tempo todo, crente que está abafando. Não satisfeitos com a exibição explícita de pobreza vocabular, os indivíduos (e indivíduas), ainda costumam acompanhar essas palavras mortais com uma “ narrativa”, um “viés de alta ” e o que é pior: um ASAP! ASAP o delas... Se não fosse indolente e preguiçoso, eu deveria consultar o Google ou a Wikipedia pra saber o que significa “resiliência”. Será uma resistência meia-bomba (ou meia boca como dizem os paulistas)? E “empatia” então? Será que não queriam dizer “empadinha “? Bom, como tenho muita coisa pra não fazer agora, paro minha “narrativa” por aqui. Minha “resiliência “chegou ao fim. Espero volta a colaborar no próximo número da Minhocazine revista pela qual tenho grande “empatia”. Até a próxima edição. ASAP. HUBERT é humorista cancelado.
UMA DELEGACIA ESPECIALIZADA
por beto silva
Conheci o cara quando sentei no balcão de um bar para tomar uma cerveja. O sujeito sentou ao meu lado. Era grisalho e usava um terno amarfanhado. Estava com cara de cansado. Puxou conversa:
- Tomando uma cervejinha no final da tarde?
- É bom uma cerva para relaxar. - Respondi.
- Nem me fale. Eu estou morto! Cansado a beça, a vida não está fácil.
Achei que ele ia começar a explicar porque a vida dele não estava fácil, já havia me arrependido de dar papo para o sujeito, mas quando eu estava engrenando a primeira pra me mandar, o cara me fez uma pergunta:
- Você é humorista, certo?
- É, é verdade, sou humorista.
- Eu também trabalho com humor.
- É? – Estranhei que um sujeito com cara de policial como ele pudesse ser humorista.
- Eu não sou humorista. – Ele tratou logo de dizer.
- Não? Mas você não disse….
- Eu trabalho com humorismo, mas não exerço. Até gosto de ouvir umas piadas, mas não sei contar.
- E você faz o quê nessa área? – Perguntei curioso.
- Eu sou policial.
- Ah… desculpa, mas o que um policial tem a ver com humor?
- No meu caso, tudo. Vou te explicar: há algum tempo o número de humoristas tem aumentado bastante, muita gente fazendo shows de stand-up, programas de TV e na internet então nem se fala, todo dia surge um blog de humor…
- Sim, é verdade, e isso é ótimo, nada mais sadio do que o humor…
- É, mas esse pessoal começou a dar trabalho. Muita reclamação de roubo, sabe? É humorista dando queixa de que a piada dele foi tuitada por outro sem crédito, comediante reclamando que seu esquete foi copiado no show de stand-up alheio, outro garantindo que sua piada saiu antes na internet e foi roubada...
- Engraçado…
- É , eu confesso que no início também achei. Mas então a coisa começou a crescer. Todo dia vários casos, dezenas, centenas, a coisa cresceu tanto que o secretário de segurança teve que tomar uma providência… criou uma delegacia só pra esses casos, a Delegacia Especializada em Crimes do Humorismo. E eu sou o titular dessa delegacia.
- Nossa, eu não sabia que existia isso.
- Quando fui chamado para a função, achei até divertido. Como falei, gosto de piadas, achei que ia escutar várias piadas e resolver casos simples, mas a coisa era muito pior do que pensei, barra pesada…
- Que isso? É claro que um humorista pode ficar puto com outro por ter tido uma piada roubada, mas…
- Muitos humoristas não têm escrúpulos quando o negócio é fazer rir, roubar piada é só o começo. Hoje mesmo estou investigando um caso terrível.
- Um caso terrível? O que pode ser, o sequestro de uma piada velha?
- Vocês humoristas estão sempre brincando. Eu estou falando de coisa séria. Assassinato, meu caro.
- Tudo bem, é chato, mas um humorista é uma pessoa como qualquer outra, pode fazer coisas erradas.
- Coisas erradas? – o cana gritou, me assustando – Você acha que um comediante morrer no palco, antes de acabar uma piada, é só uma coisa errada? Isso é sórdido, meu caro!
- Calma, mas o cara morreu no palco … ele pode ter tido um ataque.
- Veneno. Foi envenenado. O comediante era um gordo que fazia stand-up com piadas sobre gordos. Antes de entrar no palco ele comeu um cachorro-quente no camarim, entrou no palco e pum, cai duro.
- Mas como você sabe que alguém o matou?
- Uma mensagem deixada no camarim: “Esse não rouba mais piada de gordo”
- Então é só seguir a pista, procurar um humorista gordo e…
- É isso que eu estou fazendo. Mas existem milhares de humoristas gordos que fazem piada sobre a própria obesidade. Mais até do que baixinhos que fazem piadas com a altura ou feios que brincam com a própria incapacidade com o sexo oposto…
- É, realmente é um caso difícil… agora estou entendendo porque você precisou entrar nesse bar e tomar uma cerveja….é preciso relaxar mesmo…
- Eu não entrei aqui pra tomar uma cerveja e relaxar…
- o policial se levantou - Entrei atrás de você. Você é humorista. E além disso, está bem acima do peso… – O sujeito me mostrou uma carteira de policial – precisamos ter uma conversinha na delegacia…o senhor poderia me acompanhar por favor…
SPOILERS
por claudio manoel
Ilha do Mel, Paraná, em algum ponto dos anos 80. Numa bela manhã, refastelado na areia, curtindo sua atividade favorita: o ócio absoluto, acompanha, de longe, o esforço enorme feito por um atlético praticante de windsurfe para retirar sua grande e pesada prancha, com vela, suporte e tudo que o esporte exige, de dentro d’água. Depois de lutar bastante contra o equipamento, o ofegante windsurfista resolve pedir ajuda ao único banhista que avista na praia deserta e que estava curtindo o mais total e completo “dolce far niente”.
- Aí, brother... dá pra dar uma forcinha aqui pra me ajudar?
Bussunda pensa um pouco, mas resolve responder com sinceridade.
- Não dá, não...
Incrédulo, o solicitante ainda tenta.
- Pô, meu irmão, não pode nem dar uma ajudinha?
- Posso, não... tô aqui parado, sem fazer nada, na boa...
Estupefato e atrapalhado com sua enorme prancha, o rapaz não contém a cólera e desabafa:
- É por isso que tu é gordo!!!
Ao que, calmamente, sem se alterar, Bussunda retruca:
- E é por isso que tu é magro!
Pula pra 1994, Copa do Mundo. Naquela época distante, mesmo nos voos nos Estados Unidos ainda existiam os setores de “fumantes e não fumantes”.
Depois de passarmos horas mofando no aeroporto de Dallas (por conta de uma reserva não confirmada pela produção) e embarcando separadamente, em voos diversos, para os mais diferentes pontos dos Estados Unidos, totalmente exaustos conseguimos (eu e ele) lugar numa
aeronave. Assim que decolamos, Bussunda, que estava perto de mim, mas em outra fileira, sentado também no “corredor”, começou a roncar... e com vigor. Passado um tempinho, o torcedor brazuca que estava ao seu lado, começou a cutucá-lo com o cotovelo, chamando baixinho: “Gordo... gordo...”, até que quando conseguiu despertar a criatura foi logo falando: “Pô, meu chapa, você ronca pra cacete!”. Ao que Bussunda rebateu de imediato: “E por acaso aqui é o setor de não-roncantes?”
Paris 1998, também durante uma Copa do Mundo, no intervalo de uma gravação, perto do “Arco do Triunfo”, um fã nos avista, se aproxima e, incrédulo, aborda:
- Vocês por aqui? Não acredito!!! Que coincidência!!! Bussunda, com muita calma, mas, rapidamente, o corrige.
- Não é coincidência! Para haver coincidência deveriam ter duas incidências: uma co-incidindo com a outra. Aqui só tem uma: você nos conhece! Nós não te conhecemos! Portanto, não há coincidência nenhuma.
O fã mesmo assim não desiste:
– È que eu admiro muito o seu trabalho!!
Ao que Bussunda retrucou, no ato:
– É que você não viu minhas férias! Se visse, aí é que ia ficar admirado!
Essas e trocentas outras histórias você poderá ver em “Meu amigo Bussunda”, minissérie da Globoplay, de autoria e direção do papai aqui, que vai ser lançada em junho do ano que vem, quando a morte dele completará inacreditáveis 15 anos. Até lá.
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AÚDIO DO IGOR
por igor guimarães
O benigno Igor enviou para a redação um áudio no whatsapp com esta história que foi escutado, decupado e erroneamente interpretado por nossa equipe.
Escute o àudio que recebemos e entenda nossa condição de trabalho.
29
POR QUE A GALINHA ATRAVESSOU A RUA?part. 2
por daniel duncan
Já passava das cinco da manhã quando o celular de Lourival Rocha tocou. Era o técnico de necropsia pedindo que ele desse um pulo até o necrotério. Embora tenha acordado extremamente motivado a voltar a dormir, Lourival Rocha confirmou presença. Eram 30 anos de polícia, 20 como detetive no setor de homicídios, e a rotina o chamava. Ele entrou na delegacia bocejando por volta das seis, passando rapidamente pela recepção onde um ventríloquo reportava um assalto. Um policial com uma caderneta pegava o depoimento do boneco. Lourival Rocha entrou em um longo corredor e fez seu trajeto até o necrotério que, por alguma razão, ficava nos fundos da delegacia, ao lado da máquina de doces. Essa última informação não tinha uma relação direta com a primeira, mas não deixava de ser intrigante. "Quem diabos precisa de uma barra de chocolate depois de revirar uma caixa torácica?", pensou Lourival Rocha com bolsinhas nos olhos que já poderiam acolher um bebê canguru. Havia poucas coisas que Lourival Rocha considerava importantes. Umas três, na verdade. Dormir, era uma, ou como sua avó costumava dizer, "ensaiar para morrer". Para ele, dormir era o melhor de dois mundos: você continuava vivo, porém, inconsciente. Quem precisa de contato físico com outro ser humano quando se pode colocar seus pijamas na secadora? Lourival Rocha era alguém que temia a morte mais do que tudo, mas ao mesmo tempo não conseguia conviver com pessoas. Sua existência era puro conflito, tal qual uma abelha com diabetes, ou uma múmia com rinite. Portanto, perder a consciência, ainda que por algumas horas, era algo que lhe era caro. Ele não era exatamente o que podemos chamar de misantropo. Lourival Rocha não tinha aversão aos seres humanos, inclusive, tinha até amigos que eram. Ele apenas desejava que as pessoas desaparecem. Mas assim era Lourival Rocha. Desde que não precisasse lidar com o mundo, sua felicidade estava assegurada. Ele entrou no necrotério com um chute na
porta.
"Espero que você tenha uma boa desculpa para me acordar esse horário, ou o próximo corpo a ser examinado será o seu", disse Lourival Rocha achando que trombaria com o patologista com quem trabalhou na noite passada no caso de um anão humorista atropelado, porém, para a sua surpresa, era Romina, a legista.
"E eu espero que você tenha me confundido com alguém porque eu tenho um bisturi na mão e um mestrado em tanatologia".
"Depois que eu me divorciei, eu tenho mais medo do que uma mulher pode fazer com um advogado", disse Lourival Rocha tentando contornar a situação. "Desculpe, Romina. Pensei que era o patologista".
"Ele precisou cobrir um tiroteio em um centro ortopédico, mas foi bom você tocar nisso. Você ainda tem o telefone daquele seu advogado?". Os olhos de Lourival Rocha brilharam imediatamente como os de um caipira prestes a ser abduzido. Romina, por quem sempre fora apaixonado, estava se divorciando. Aqui precisamos fazer uma pausa e nos lembramos como o casamento de Lourival Rocha acabou. A esposa de Lourival Rocha queria um relacionamento aberto. E ela teve. O problema é que Lourival Rocha só soube depois. Ele começou a desconfiar quando percebeu que a esposa passava tempo demais com o piscineiro, o que, de fato, era muito estranho já que eles não tinham uma piscina. O sexo também não era mais interessante. Em uma noite, Lourival Rocha, tomado de êxtase, disse que queria coisas novas na cama. Sua esposa o ensinou a trocar os lençóis. Ali o fim já estava anunciado. Sexo e morte eram os únicos assuntos que interessavam Lourival Rocha. Embora ele soubesse que, dos dois, apenas a morte ele teria como certo. E tudo bem. Em sua visão, morrer era melhor que amar, no sentido de que a morte termina com o sofrimento intrínseco à condição hu-
contos policiais ou (as aventuras de lourival rocha)
30
mana, enquanto o amor, dá início a ele. E Lourival Rocha calou-se um segundo cogitando a possibilidade de sofrer mais uma vez.
"Não precisa ser agora. Me manda no Whats", disse Romina caminhando na direção de uma mesa de aço com um lençol branco. Ela puxou o tecido e ali havia um cadáver. Os olhos abertos, fixos no teto, lhe davam um aspecto de vivo, embora o buraco em sua barriga, sem nenhum órgão, dissesse o contrário. Romina era uma das mais renomadas legistas do Estado. Já chegou a fazer 26 necropsias num só dia. Pode não parecer impressionante, mas imagine que dois deles ainda estavam vivos.
"É sobre a sua galinha. O anão vestido de galinha que foi atropelado".
"Esse caso foi encerrado. O produtor do comedy club atropelou ele".
"Mais ou menos...", disse Romina virando o cadáver do anão como se fosse um frango recém tirado do freezer. Era um tiro na altura da cervical. "Antes de ser atropelado, alguém atirou nele. Você não achou estranho a quantidade de sangue na cena do crime?".
"Eu nunca tinha visto um anão sangrar. Achei que tinha ver".
"Pelas marcas no corpo, o produtor atropelou o anão quando ele fugia de alguém".
"Caralho", disse Lourival Rocha soando frio. "O produtor era a única testemunha".
"Sim, e você matou ele. Boa sorte ao preencher seu relatório. E tem mais...", disse Romina caminhando na direção de outra mesa de aço também com um lençol, que imediatamente foi puxado, revelando um homem nu, com maquiagem e peruca feminina.
"Chegou agora pouco. Ainda tá quente".
"Quem é ela?"
"Ele. Raimundo Nonato. É um humorista cearense, por isso a fantasia de mulher. Ao que parece… eles acham isso engraçado… Mas, enfim, dois tiros também nas costas. Os projéteis batem com os do anão".
"Dois humoristas mortos em 24h horas...", disse Lourival Rocha sem saber se aquilo era motivo de preocupação, ou euforia. Por um segundo, ele se imaginou agradecendo o assassino por aquele serviço prestado à sociedade.
"Onde foi isso?".
"Na saída daquele teatro na Av. Paulista".
"Eu preciso resolver essa bagunça antes que o delegado volte do retiro espiritual", disse Lourival Rocha partindo em retirada. Romina apenas o observou ir embora enquanto
sacava do bolso uma barrinha de chocolate.
Lourival Rocha chegou já no final da peça. Era de um grupo de Improviso. No exato momento em que Lourival Rocha pôs os pés no teatro, um ator tirava um sapato da orelha, fingindo ser um celular, e enfiava na bunda ao ouvir o comando "troca!". Risos ecoaram na sala. Lourival Rocha não riu. Ele estava ocupado demais tentando não se matar ali mesmo. A verdade é que ele não parava de pensar em Romina. Era uma situação conflituosa. Depois do divórcio, Lourival Rocha tornou-se alcoólatra. Ele bebia tanto que quando tentou doar sangue, o teor de álcool derreter a bolsa. Algumas pessoas acordam pela manhã se perguntando por que beberam tanto na noite passada. Lourival Rocha acordava e lamentava por não ter bebido o bastante. Para Lourival Rocha, o álcool não era diversão, era necessidade. A situação se tornou insustentável quando Lourival Rocha passou a beber para esquecer o seu problema com a bebida, ao ponto de seu fígado entrar com uma liminar na Justiça pedindo uma distância de 200 metros entre os dois. Ele ainda bebia um whisky vez ou outra, mas com cuidado. Ele teve muita dificuldade para entrar no Alcoólicos Anônimos de seu bairro porque, de fato, era um grupo de alcoólatras que prezavam pelo anonimato. Ele levou quase seis meses para achá-los. Mas era difícil não ter ideias. Romina era perfeita. No entanto, Lourival Rocha balançou a cabeça e tentou se esquecer daquilo. Tinham dois humoristas estirados no necrotério e um assassino solto na cidade. Lourival Rocha sabia que era um acerto de contas. Não era um assassino em série, já que todos os assassinos em série da cidade estavam na "Convenção de Assassinos em Série de Floripa". O álibi conferia. Era algo pessoal. E o produtor, o único suspeito, era uma carta fora do barulho. Normalmente as chances de um criminoso cometer outro crime caem quase pela metade depois de sua execução. Também se tornará uma questão de orgulho. Lourival Rocha nunca antes havia perdido um caso e o seu ego era uma das cinco estruturas criadas pelo homem que podem ser vistas do espaço.
A peça havia acabado e a plateia se dispersava. Lourival Rocha avistou um dos atores, que tinha um rabo de cavalo, e se aproximou dele mostrando seu distintivo.
"Lourival Rocha. Homicídios. Eu queria fazer algumas perguntas sobre um colega seu, Raimundo Nonato". O ator gelou por um instante e, em um gesto pensado, saiu correndo por entre as cortinas do palco. Uma perseguição deu início. Não foi fácil para Lourival Rocha que dois anos antes havia perdido um dos pulmões para o tabaco, fato que, inclusive, deu a confiança necessária ao seu fígado para pedir a liminar. Na coxia, o ator desapareceu por entre um grupo de artistas que discutia o filme "Bacurau",
que já tinha sido lançado há mais de 7 anos, mas os artistas simplesmente não sabiam falar de outra coisa. Lourival Rocha paralisou quando viu uma sombra suspeita. Ele sacou sua colt. A sombra sacou uma arma. Ele engatilhou. A sombra engatilhou. Ele apontou. A sombra apontou. O coração de Lourival Rocha batia como se estivesse sendo usado pelo Olodum. Em seguida, ele reconheceu que a sombra era a dele e se tranquilizou.
De volta a delegacia, Lourival Rocha resmungava enquanto escrevia seu relatório no computador. O som do teclado dava uma dimensão de sua raiva por ter perdido o idiota com o rabo de cavalo, e que corria como um. Ele sentia a mesma vergonha de um carrasco voltando ao trabalho depois de uma tentativa fracassada de suicídio. Lembrou-se dos bonequinhos dos Power Rangers que eram vendidos nos anos 90, que escondiam a cabeça na barriga, e pensou como aquilo seria útil naquela situação constrangedora, e, por um instante, cogitou usar o buraco na barriga do anão que ainda jazia no necrotério. Mas o fluxo de pensamentos cessou quando, vencido pelo sono, Lourival Rocha apagou ali mesmo em sua mesa. Ele ainda teve tempo de pensar algumas coisas antes de perder a consciência. Pensou em Romina, lembrou-se de uma moqueca vendida na frente de sua casa, e de algo que leu de Nietzsche dizendo que há uma possibilidade de vivermos a mesma vida incontáveis vezes, tudo na mesma sequência e ordem, o que Lourival Rocha considerava como terrível, especialmente para quem está tentando fugir de uma dívida no banco. E não pensou em mais nada. Ele já estava ensaiando para morrer.
COM DEUS NÃO SE BRINCA.
por victor camejo
Essa frase do título é uma das mais ouvidas por 9 entre 10 comediantes. O décimo, que nunca ouviu, é ruim. É um alerta sem dúvida muito sério e muito grave. Ele basicamente é uma ameaça, já que quase nunca vem em tom de conselho daqueles que deveriam amar ao próximo como a si mesmos. Devem ser pessoas que tem por costume se olhar no espelho ao acordar e dizer: “Tá olhando o quê, babaca? Perdeu alguma coisa aqui”?
Durante muito tempo eu via essa afirmação como a mensagem de um Deus que se senta no trono do Universo e que, por isso, merece todo o respeito. Hoje, no período em que me aproximo da idade da razão, vejo que a interpretação correta era ainda mais óbvia, estava na nossa cara o tempo inteiro e a gente não enxergava: Com Deus não se brinca... porque Deus não sabe brincar.
É. As intenções são até boas. De uma sapiência infinita, como a gente pode esperar de um Deus, obviamente. Mas acho que a onipotência faz ele perder um pouco a mão, sabe? Ele claramente é grande demais pra ficar magoado com a piada de um grão de areia como eu ou você. Assim seria um ser Eterno sem nenhuma fraqueza além do próprio ego. E Ele é Deus, não o Axl Rose.
Começou quando Ele resolveu instalar uma câmera escondida pra ver se Adão e Eva iam comer aquela maçã ou não. Quando eles achavam que estavam seguros, Deus pulou de trás de um arbusto gritando “A-rrá”! Isso é vastamente documentado nos livros: a criação do Teste de Fidelidade. Que ironicamente foi criado por Deus antes da própria Igreja.
Os anjos e querubins ainda comentam nas rodas da malandragem do terceiro céu da vez em que a risada Deus ecoava entre as nuvens comentando ao olhar Abraão: “Mano do céu* eu não acredito! Ele vai matar o filho dele mesmo! Abraão parou, Abraão! Olha praquela direção ali. Dá tchauzinho pra câmera”! Criou Deus a trolada. E viu que era bom.
Em outra vez, durante um forrobodó que envolveu duas cidades, os habitantes resolveram que era uma boa ideia colocar o pinto uns na bunda dos outros. E, durante um acalorado debate sobre o que era “consentimento”, Deus mandou um “olha o que eu sei fazer”! E fez chover fogo e enxofre sobre aquela galera. Até hoje Sodoma e Gomorra são exemplos de festa que termina mal.
Antes disso, Deus já havia mandado Noé (do nada) construir uma arca e levar dois exemplares de cada animal em um cruzeiro de 40 dias e 40 noites pelo mundo. Infelizmente não teve onde descer e esticar as pernas porque o mundo todo estava inundado. A procura pela segunda edição do cruzeiro foi baixíssima principalmente pelo fato de que, fora Noé e sua família, estava todo mundo morto.
Dessa vez pelo menos Deus, sábio como Ele só, teve a hombridade de reconhecer o exagero e criou na Terra um arco que surge nos céus quando chove e significa “Foi mal” em 7 cores diferentes. Tá em Gênesis 9, se você não acreditar em mim.
Essas foram só as brincadeiras que Deus fez a partir dos humanos. Mas como ele ama de forma infinita todas as formas de vida de forma indistinta, ninguém me tira da cabeça que não faz muito tempo que um representante dos animais O procurou, reclamando da forma que eram tratados por nós, os humanos: “Olha o que eles fazem com a gente! Deixam a gente em confinamento! E o combinado era não comer esses bichos aí!”, disse o representante da Criação, mostrando as imagens no VAR. Ao que Deus, aparentemente respondeu: “Ha! Sabe o que seria engraçado...?”.
*”Mano do céu” é uma expressão usada há muito tempo pelas bandas de lá.
Wilson, um labrador, esta pra dentro do quintal, Nelson, um pastor alemão que esta na rua se aproxima do portão, cheira o traseiro do Wilson entre a grade e vira para ter seu traseiro cheirado.
- E ai... Que movimentação é essa ai, Wilson?
- hoje é aniversario do meu dono, vai ter festa.
- Da hora, quantos anos ele esta fazendo?
- 20 anos dos deles, 140 dos nosso.
- 140?
- sim, 20 vezes 7, 140. Ta certa a conta, sou de exatas.
- Pelo jeito é de cachorros. 1 deles equivale a 9 dos nossos.
- Nao é 7?
- Mudou faz uns anos ja, agora é 9, a gente ta sempre 8 anos a frente deles.
- Então ele ta fazendo, 20 vezes 9... 180 anos dos nosso.
Milka chega, cheira o cu dos outros dois. Vira pra cheirarem o dele.
- Quem ta fazendo 180 anos?
- Meu dono, ta de aniversario. 20 dos dele, 180 do nosso.
- 180?
- Sim, 20 vezes 9.
- Vezes 9?
- É, 1 nosso equivale a 9 deles.
- Claro que nao, vale 4, é vezes 4.
- Cala o fucinho, é vezes 9.
- Cala o fucinho voce, foi provado que é vezes 4.
- Afinal vezes 7, vezes 9 ou vezes 4?
- Vezes 9.
- Vezes 4.
Os dois falam juntos.
- Onde voce viu isso?
- No jornal, eu li quando tava mijando.
- Desde quando cachorro sabe ler?
QUANTOS ANOS?
por afonso padilha
- Desde quando cachorro sabe fazer contas?
Um comeca a rosnar pro outro. Emerson, um salsichinha caramelo chega na roda. Cheira o cu dos dois que estao se estranhando do lado de fora e do que esta do lado de dentro. Vira pra ser cheirado.
- o que esta acontecendo?
- Né que os anos dos humanos multiplica por 4?
- Né que é por 9?
- A vida toda eu achei que era por 7.
- Então, na verdade nao é nenhuma dessas.
- Oi?
- Na verdade é decrescente. Primeiro ano equivale a 15, segundo equivale a 9, terceiro 4 e assim em diante.
Todos ficam em silencio.
- isso nao faz nem sentido. Nao sabermos quantos estamos fazendo, esse ano 15, agora 37, mas só passou 1, sabia que conviver com aquele seu dono maconheiro ia te afetar.
- Nao fala do Nando. Pra voce passa mais devagar mesmo, aquela sua dona desempregada só fica em casa.
- Repete isso se for cachorro.
Os cachorros comecam a brigar. Os respectivos donos separam. Mesmo sendo separados continuam latindo.
- por 4.
- É por 9, filho de uma cadela de rua.
Sara, a gata, vem de dentro da casa ver o que esta acontecendo, porquê do escândalo.
- é 7, é por 7.
- Que que esta acontecendo, Wilson, que bagunça é essa?
- É que hoje é aniversario do dono, ai estávamos discutindo se 1 ano dele equivale a 7, 9, 4 ou é decrescente da nossa.
Silêncio sara olha para Wilson.
- É aniversario dele hoje? Nao acredito, todo ano isso agora.
Sai andando, com aquele andar pedante do gato.
OROTEIRISTA
por rodrigo marques
O segredo do Sol sendo desvendado mais uma vez. “Sete e meia ou sete e trintinha da manhã”, como ele e seus personagens costumavam falar. Miguel era inquieto, criativo e ávido. Palavra a qual, inclusive, ele aprendeu na noite anterior - e mal via a hora de puder usá-la.
Naquele dia, o despertador tocou e até um sorriso foi capaz de se ver. Sete e quarenta e cinco, a água já tomava seu corpo. Banho finalizado, gravata padrão alinhada, hora de ir pra labuta.
Maior prédio já visto. Tudo tão igual… Salas infinitas e repetitivas.
- Ainda tinha que fazer a gente usar a mesma roupa?
Apesar de tudo, Miguel ainda era humano. Resmungos matinais são a assinatura da nossa espécie. No meio daquele mar de cubículos, o seu nicho. Ao lado, seu colega de trabalho. Contemporâneos até em suas escritas. Mais um dia dentro do dia.
- Miguel, vamos transcrever esse passado?
- Não. Hoje vai ser ESCREVER. Hoje estou ávido pra criar.
- Criar?
- Sim. Baixaram o decreto ontem do livre arbítrio. Só se falava nisso.
- Revogado.
- Mas saiu ontem à noite.
Nove e vinte e cinto. Miguel já tava puto.
- Revogado, como assim?
- Derrubaram a lei.
- Meu cu!
- Juro.
- Filhas da puta!
Seguranças rodeiam os cubículos. Miguel caga e anda para a presença deles.
- Isso não existe! Tem anos que lutamos pelo livre arbítrio.
- Miguel, calma, cara. Já tiveram dois levados hoje por causa disso.
- Foda-se! Vão fazer o que comigo? Já estamos em 1500. Ninguém mais tá em 1500.
- Você sabe que tem gente que nem escreve.
- Sabia que estou escrevendo um livro com as informações dos outros andares?
- Miguel, nem me conta essas coisas.
Pedro, nesse momento, era só desespero. Eu cheguei a falar o nome do amigo de Miguel? Enfim... Era Pedro. Pedro, leitor; leitor, Pedro. Apresentados.
O medo rondava aquele andar de finitude questionável.
- O seu personagem tá dormindo?
- Tá num bar. Inclusive, vou acordá-lo agora.
- Deixa o cara dormir. Vai fazer o que agora?
- Que horas são agora na França? Vou mostrar que a ainda tem gente viva nesse andar.
Miguel começa a digitar freneticamente em seu computador.
França. O ano é 1560. Uma taberna escura repleta de pessoas e bebidas - que é o padrão das tabernas francesas da época e de um narrador com um pouco de preguiça descritiva. No balcão, um homem com um pequeno aspecto de abandono. Ele se desperta como um susto ao lado de sua garrafa de whisky. Grita a todo o pulmão:
- TENHO ALGO A CONTAR!
Aquela imagem de um homem cheio de barba, apesar do desleixo, transpirava também um pouco de conhecimento, atraindo o olhar de todos.
- Tenho pouco tempo! Serei breve. Mas estou ávido para falar.
- Teremos duas guerras mundiais. A Alemanha vai querer
dominar o mundo.
E continuou:
- Iremos pisar na Lua em 1969.
- Mamonas Assassinas só vai gravar um CD.
- Em 2020 vai ter um vírus com nome de cerveja que vai matar mais que cirrose.
- A religião vai ser a grande...
O homem cai como se estivesse morto.
De volta aos cubículos. Um alarme estrondoso grita por todo o ambiente. Seguranças correm em direção ao nosso protagonista. Pedro, numa tentativa heroica e inesperada por todos - até por mim que o conheço e sei que Pedro não é dessas -, levantou-se e gritou:
- Calma! Ele só estava tentando provar um ponto. Prontamente atropelado e sumariamente ignorado pela PD (famosa “Polícia do Destino”).
Miguel é detido, algemado e levado.
- Vocês são tudo um pau mandado do caralho!
11 a.m. Conversa entre carcereiros:
- Sabia que já é o quarto que chega aqui hoje?
- Políticos ou assassinos?
- Os três primeiros, sim. Mas o último era diferente.
- Era o quê?
- Rapaz... Ele falou que era vidente.
- Esse caras tão endoidando.
- Tu acha que é fácil escrever a vida dos outros?
- Qual o nome desse? Vou lá falar com ele. Quero saber o que ele “previu”.
- Miguel.
- De quê?
- De Nostradamus.
A história acaba ali. Mas eu que comecei e faço questão de acabar.
FIM.
por cristiane wersom
De hoje, eu não passo. Ou de amanhã. No máximo, sábado. Ainda não avisei ninguém. Como é difícil organizar o fim! Pensei em contratar um produtor, mas sinto que ele não vai ter o mesmo cuidado que eu teria. É no detalhe que a coisa desanda. Uma flor mal colocada, um convidado indesejado e pronto...acabou o grande evento. Eu mesma vou cuidar de tudo. Pensei em colocar no face, mas tenho medo de que a parte da família de extrema direita apareça. Isso daria uma baixo astralizada irreversível. Imagino algum deles se sentando ao lado do Lúcio. Certamente a tampa do meu caixão acabaria na cabeça de um consanguíneo. Péssimo!
Eu penso que um petit comitê seria mais adequado. Só com os íntimos e com uns garçons modelo-atores que farão sexo no banheiro com alguém em busca de um crescimento pessoal e de um semi papel na novela das 6. Esse é o clima ideal de qualquer evento decente em São Paulo. Um segurança na entrada seria muito agressivo? É que, como tem gente que adora se enfiar de penetra só pra ver defunto, pensei em limitar a entrada com uma lista VIP. Talvez pulseira. Neon? Bom, quem vai decidir isso é a 25 de março.
No meu imaginário, gostaria que alguém do sexo masculino chorasse sobre meu corpo. Um só, dois no máximo. Três daria muita confusão. Não teria espaço suficiente pra chorar em cima de mim e, como só tenho duas mãos, um deles teria que segurar meu pé, o que desarranjaria todo o degradê de flores que eu encomendei.
Talvez seja prudente deixar um palco com microfone num canto, caso alguém queira fazer uma homenagem ou vender sua arte. Vou deixar avisado que, se for de agrado do convidado, ele pode levar um poema, um figurino ou um instrumento. E quando digo instrumento estou naturalmente excluindo o Ukulelê. Pra tudo nessa vida tem limite.
Quanto a religião, prefiro não. Nada contra, se o convidado quiser rezar por mim e me desejar aquele bom e velho tudo de bom nessa nova jornada, mas que faça isso em silêncio e sem atrapalhar o sambinha que o pessoal do fundo acabou de puxar. Aliás, pra evitar falta de decoro no evento, acho que vou imprimir uma carta com alguns avisos importantes. Digo carta porque gostaria de aproveitar o verso da mesma pra colocar alguns vinhos a preço justo pra dar aquela inebriada geral. Vou colocar uma gota do meu perfume em cada carta pra que os convidados se lembrem de mim e para que os assustados
achem que estou lá, desencarnada, ao lado deles. Vamos à carta:
Não diga que eu fui um grande ser humano. Além dessa frase ser de um clichê urtigante e enfadonho, ela só confirma que você nunca me conheceu.
Não diga que eu fui cedo. Talvez seja verdade, mas apenas se contarmos com a expectativa de vida de uma mulher branca, com convênio que atende no Einstein. Em hipótese alguma diga que estou serena ou bonita. Isso é efeito dos leves preenchimentos que fiz, parcelados no cartão.
Não diga que eu descansei. Por mais estressante que seja a vida, ficar numa caixa de madeira com flores apodrecendo não é meu ideal de descanso.
Pronto. Se bem que, agora que escrevi, essa carta me parece um tanto agressiva e desnecessária. Não quero impedir a manifestação dos convidados e os clichês fazem parte da nossa interação social. Se tirá-los, talvez não haja assunto. Acho que vou imprimir só a carta de vinhos mesmo.
Quanto ao...droga...um minuto ...................................................... ....................................................................................................................
............................................................................era do convênio. Me ligaram pra perguntar se eu poderia antecipar o pagamento esse mês. Será que sabem da minha morte? Bom, as seguradoras sabem de tudo. São muito preocupados com nossa vida ou com a ausência dela. Ouso dizer que é um ato bem romântico. A mulher que me ligou também me fez algumas perguntas sobre minha saúde. Achei que já tivesse respondido, mas parece que eles não confiam muito em mim. Respondi novamente. Menti o quanto pude. Quase brigamos na parte do Diabetes e Colesterol.
“Mas senhora, no seu relatório não consta diabetes.”
“Eu peguei na última viagem”
“Não acho que é assim que funciona, senhora”
“Não seja grossa comigo que minha diabetes sobe”
“Talvez a senhora esteja...”
“Próxima pergunta, por favor”
Depois disso desligou na minha cara. Sei que não é cristão infernizar a vida dos telemarketings, mas tenho o salvo conduto da “passagem”. Se bem que, espero não “passar” pra lugar nenhum. Não suportaria a ideia de ir para um mundo sem arte decadente, wi fi e pão sem glúten. Mas, com passagem ou sem passagem, como o médico bem avisou, é sábado. Ou antes. (como eu odeio a imprecisão da ciência)
Boa sorte pra vocês. Ou pra mim.
Nos vemos no evento. Não falte!
Carinhosamente,
C.W
O PRIMEIRO HOMEM A NÃO ANDAR NA LUA
por patrick maia
Pela primeira vez, Michael Collins quebra o silêncio da NASA. A seguir, o ex-astronauta fala sobre como foi viajar até a lua e não poder descer da nave nem pra dar uma voltinha.
Já era fim de tarde quando cheguei na bela cobertura de frente para o mar em Mongaguá, lar de Michael e sua esposa, Dona Nena, desde 1970. Conversamos por pouco mais de 2 horas sobre viagens espaciais, apenas.
Minhocazine: Michael, boa noite. Me disseram que seu português é ótimo, devemos dispensar o interprete?
Collins: Pode ficar tranquilo, já são 50 anos nesse solo abençoado. Eu falo bem sua língua sim, boa noite.
NOTA: Neste momento, cometi a gafe de pedir para o nosso intérprete esperar o fim da entrevista no carro. Na hora, não me liguei. Mas acho que pegou mal porque ele fechou a cara a partir desse momento.
M: Obrigado pelo seu tempo. Temos muita curiosidade sobre a lua! Inclusive, temos perguntas de crianças, filhos dos leitores.
Vamos começar pelo início. Como foi o convite para pilotar a Apólo 11? Você foi pego de surpresa?
C: Ninguém é pego de surpresa pra pilotar uma nave tripulada rumo à lua. É um trabalho para o qual você se prepara a vida toda, rapaz.
M: Entendi. E como foi a viagem? É verdade que do espaço dá pra ver direitinho a casa de todo mundo?
C: Essas são as perguntas que as crianças mandaram?
M: Não.
C: Não. Não dá pra ver a casa das pessoas do espaço. A Terra, na verdade, fica bem pequena quando vista do espaço.
M: Mas eu vi que dá pra ver as muralhas da China. Você viu?
C: Não parei pra procurar. Existem muitas funções que exigiam minha total atenção naquela missão e procurar
as muralhas da China não estava entre elas.
M: É que já que já tava lá, não custava nada né, mas bom... Como era a convivência da tripulação? Tinha o Louis Armstrong....
C: Neil. Neil Armstrong.
M: Eu falei Louis? Nossa... confundi. Eu sabia que era Neil. E Buzz Ligh...
C: Ald...
M: Aldrin. Buzz Aldrin. Isso. É verdade que vocês eram chamados de “The Space Bee Gees”?
C: Eu nunca ouvi esse termo antes na minha vida. Não. Nunca teve isso,
M: Eu que inventei... achei que podia total ter pegado na época... Enfim. Vocês se davam bem?
C: A equipe tem que confiar um no outro lá em cima. Então nós éramos bem próximos.
M: Eles sempre chamavam você pra sair?
C: Na verdade, eu sou mais caseiro. Acho que eles sabem disso, aí acabavam nem chamando muito... Mas a gente já saiu junto na Terra sim. Boliche, tal...
M: Quantas vezes?
C: Umas duas... não lembro. Vamos falar da viagem pra lua?
M: Então, eu tava com vergonha de já perguntar logo de cara, mas... Por quê? Por que ir até a Lua e ficar olhando pela janela seus amigos andarem nela e não descer nem um pouco?
C: Pra começar, “andar” é uma palavra muito forte pra descrever aqueles pulinhos ridículos que eles davam na falta de gravidade, né? Haha... Né?
M: Eu sempre achei incrível! Quando eu ia na piscina, eu fingia que tava na lua. Vocês combinaram quem ia descer e quem ia ficar na nave?
C: A NASA deixou isso em aberto, a gente ia decidir na hora. Eles estavam pilhados pra descer e eu meio “nossa que legal...dar o primeiro passo de uma espécie fora de seu planeta” mas sim, a gente ia decidir. Mas aí, chegando lá na Lua, os dois falaram que tinham ouvido um barulho no descompressor e que iam sair da nave pra olhar rapidinho. Quando eu me dei conta, eles já estavam de Buggy em uma cratera lunar.
M: Você não ficou bravo?
C: Ah, na real, eu acho a Lua meio supervalorizada... La não tem nada lá pra fazer. Nada. Se você tem uma caixa de areia pro seu gato em casa, parabéns. Você tem um pedacinho da Lua.
M: Porque me parece que eles meio que passaram o senhor pra trás...
C: Eu achei que eles iam voltar logo pra gente revezar. Mas aí, depois de umas 8 horas, eu me liguei que eles assumiram essa parte de andar na Lua e resolvi relaxar. Foi um favor que eles me fizeram se você quer bem saber. Pra que ficar perambulando pela lua se eu podia ficar deitado na nave comendo todo peru em cápsula que eu quisesse?
Não, obrigado. Fiquei suave na nave com dizem os jovens.
M: Quantas horas o senhor ficou na nave esperando?
C: Vish, mais de 20.
M: O senhor acha que eles iam ter ficado tudo isso se não fosse legal?
Nesse momento, Michael jogou a xícara de chá em mim, eu abaixei bem na hora mas acertou na nossa câmera que estava no tripé. Dona Nena interrompeu a entrevista e pediu pra gente ir embora.
Quando cheguei no estacionamento, a van tinha ido embora e ironicamente voltei pra São Paulo de viação Cometa.
Os “Space Beegees” de volta de sua missão até a lua.
SAÚDE RETRÔ
Conheça as doenças que podem voltar com tudo
por mya pacioni
Ficamos muito felizes quando vocês decidiram assinar uma revista de papel, uma forma sofisticada de consumir conhecimento e humor longe deste mainstream que sucumbe em nossas vidas com design de cores vibrantes, e ainda pode ser usada pra escrever uma poesia depressiva nas bordas (economia de Moleskine) ou forrar a gaiola do seu canário.
Compreendendo a preferência de nossos fãs, trazemos aqui dicas importantes de ações e procedimentos para que você, hipster usando toquinha de lã vegana, seja capaz de, ao invés de contrair doenças como Covid-19, possa se enfermar com uma destas raras mazelas e viver uma vida – possivelmente curta- à altura da sua individualidade.
*IMPORTANTE: Se você teve pais que entravam em qualquer modinha e te vacinaram na infância, pule para o item 7*
#1 – NÃO TROQUE SUA NAVALHA: Uma ótima forma de se manter fora dos padrões é apostar no corte de barba com navalha enferrujada. Há uma tensão interessante na possibilidade de num corte contrair tétano, que além de te deixar com a barriguinha chapada e rígida sem ter que treinar, também pode ocorrer um sorriso sardônico, um blend perfeito com sua personalidade. Caso decida por um tratamento, sugerimos uma sangria a cada 12h.
#2 – CAMISINHA VEGANA: Obviamente você não deve usar camisinhas tradicionais, principalmente pelo fato de que elas poluem o ambiente, fabricadas em escala industrial e vendidas em qualquer farmácia... A melhor forma é se utilizar de baba de caracol com maisena e óleos essenciais de alecrim (que você pode cultivar no seu quintal), deixar secar até formar uma película perfeita para o uso. Caso algo falhe, torça para que você seja contemplado com sífilis e não um filho. Muito popular na França do início do séc. XX entre poetas e românticos, a sífilis te dá um ar de boêmio hedonista. E nada de tratar com antibióticos, a forma mais assertiva é o método do ferro quente na uretra (que já pode resolver a questão de prevenção à gravidez em definitivo como bônus).
#3 – DANÇA DA COQUELUCHE: Quem disse que hipster não gosta de dança, não sabe a coqueluche que seria se todos pegassem coqueluche juntos em uma cafeteria de
decoração industrial. Todos tossindo e vibrando seus sapatos Oxford pelo chão de taco em completa sincronia, uma alegria que pode ser agravada pelo consumo de tabaco para enrolar e cachimbos. Medicamentos intravenosos podem acalmar quando já estiver cansado, porém lembre-se de usar seringas de alumínio reutilizável e não essa bobagem descartável.
#4 – PELE DIFERENCIADA: Caso você tenha grana guardada nessa sua carteira minimalista e espírito aventureiro, em 2018 o laboratório russo que armazenava o vírus da varíola explodiu e colocou em risco centenas de pessoas. Há uma chance de você explorar o local, lamber destroços da área e adquirir sua parcela de pele texturizada (além de comprar casacos legais). Uma enorme vantagem das crostas no rosto é se destacar entre os já tão conhecidos padrões de barbas e principalmente conquistar as garotas que as verão como marcas de um passado difícil e doloroso.
#5 – FUJA DE SMOOTHIES: Outra dica de ouro é parar de consumir smoothies e OJ* nas cafeterias para reduzir a quase zero a sua taxa de Vitamina C. Isso vai te dar gengivas sangrentas de escorbuto, a tal ‘doença de pirata’ (quem come fruta no mar?), que além de ser um ótimo conversation starter** proporciona um hálito metalizado indefectível.
#6 – RÖTELN SKINCARE: A gente sabe que no Brasil sarampo qualquer um pega. Mas se você não consegue ir pra Rússia pegar varíola, a rubéola, também conhecida como Sarampo Alemão (muito mais cool) é uma opção de skincare ideal. Te deixa vermelhinho e com marquinhas charmosas tipo sardas que vão te economizar um bom tempo escolhendo filtro pras suas fotos do Tumblr.
#7 – BOA E VELHA CIRROSE: Se todas as opções anteriores são impossíveis para você por ter um sistema imunológico tão atualizado quanto seu IOS de capinha vintage, uma estratégia difícil de falhar é a de beber whisky no seu cantil até adquirir cirrose. Grande vantagem de estar na mesma paleta de cores que seu colar de âmbar.
*Orange Juice. Sério que você é hipster e não sabia essa?
** ‘puxa-papo’
REUNIÃO 5 dinossauros
por nando viana
Há quem diga que a vida é uma sequência interminável de acontecimentos aleatórios. Há também quem pense que tudo é planejado e o livre arbítrio apenas uma ilusão, como Erasmo Carlos com um Sundae na mão, enquanto abana pra você no meio do deserto.
Existem ainda aqueles que acreditam que a vida imita a arte, e que esta, por algum motivo, resolveu não cobrar os direitos autorais.
Mas há um tipo muito específico de pessoa que não acredita em nada. Talvez por falta de fé, excesso de razão ou mesmo por ter coisa mais urgente pra fazer do que ficar tentando encontrar uma moral pra toda essa confusão.
São três exemplares destes que estão trancados no quinto andar de um apartamento comercial pessimamente decorado, no centro. Três rapazes na volta de uma modesta mesa redonda e, ao canto, sentado datilografando a ata da reunião numa Olivetti azul Chevette, um anjo com incrível poder de síntese. Todos eles com uma importante tarefa em comum: reprojetar o universo.
...
O café terminou faz 40 minutos. Gustavo ameaçou ir passar mais uma garrafa, se levantou, mas em seguida sentou novamente porque pensou em algo pra dizer. Aí não disse, porque Amarildo não deu nenhuma daquelas pausas que o possibilitaria iniciar um novo raciocínio frente àquele discurso interminável. Amarildo tinha destas de centralizar a conversar até o ponto em que o mais interessante dos assuntos ficasse chato. Quando enfim concluiu, Gustavo já não lembrava o que tinha pra dizer e a reunião seguiu por horas de brainstorm infinito, daqueles sem objetividade alguma e que ao final o resultado é sempre um flip chart com palavras aleatórias como Jacaré, Brumadinho e Pão de Centeio.
Foi só ao final do brainstorm que Rafito deu falta do café. Embora o quisesse preferiu não comentar nada, porque odeia cobrar colegas na frente de todos, atitude que ele desenvolveu em um seminário de liderança que participou em 2008, quando ainda era estagiário de uma empresa de tecnologia em São Leopoldo, que não vem ao caso em
questão.
Somente uma hora e vinte e três minutos depois é que a falta do café é verbalizada. Amarildo, que não havia participado de seminário de liderança algum e nutria secretamente até um pouco de prazer por cobrar os outros, é que levantou a questão.
Amarildo - E o café?
Gustavo - Fiquei de fazer e esqueci, disse um Gustavo tranquilo, como se o seu compromisso com o café tivesse sido realizado com plenitude.
Amarildo - Alguém quer mais?
Rafito - Quero, mas não sei passar.
Gustavo - Você não é publicitário?
Rafito - E o que isso tem a ver?
Gustavo - Achei que todo publicitário soubesse fazer café.
Rafito - Interessante... você gosta de carros?
Gustavo - Gosto -- estranhando o interesse repentino.
Rafito - Então poderia me dar a receita de como se faz um bom galão de gasolina?
Com aquela suave ironia de quem anuncia um "xeque mate" no xadrez. Ou "truco" no Truco, se você se familiarizar mais com baralhos.
Amarildo - É. Eu acho que a gente vai precisar de mais café.
Falou como se tivesse gasto a última gota de energia para terminar a frase. Todos se mantiveram em total silêncio, exatamente na mesma posição. Talvez esperando a garrafa térmica tomar alguma atitude. O que era bastante improvável.
Amarildo - Desculpa dizer, mas só eu to achando que essa reunião não está evoluindo?
Olhando num ponto fixo em direção à parede que tinha um quadro de barquinho, muito feio por sinal.
Rafito - Não acho que não está evoluindo. Acho que esta-
mos usando um método […]
Amarildo - [...] método que pode acabar com nosso prazo. -- interrompeu, ainda encarando o mesmo ponto fixo imaginário, que a essa altura já parecia não ser tão imaginário a ponto de Gustavo dar uma olhada rápida sob os ombros, só pra ver se tinha algo acontecendo na parede. Mas nada estava acontecendo. Era só um quadro de barquinho realmente muito feio, que Amarildo parecia não notar.
Rafito - O que você sugere então?
Amarildo - Sugiro a gente ir mais direto ao assunto. Fazer uma lista de tópicos e ir discutindo. Estamos há 5 dias falando um monte de pontos de vistas, dinâmica do patinho...
Rafito - Avestruz.
Amarildo -- desviando finalmente o olhar da parede -- Isso, do avestruz. Eneagrama de personalidade. Tudo muito legal, tudo muito bonito, porém abstrato demais. Você concorda comigo que não tomamos nenhuma simples decisão?!
Rafito - Eu achei que seria interessante a gente fazer essas atividades extras antes de colocarmos a mão na massa, pra nutrir a gente de imputs, porque...
Gustavo - Com todo respeito, mas eu concordo com o Amarildo. O Homem falou na reunião que temos 3 meses pra entregar o projeto pra Ele. Gosto muito da ideia do workshop que estamos fazendo...
Tentou ser político, pois odiava o workshop.
...mas eu sou o responsável por programar todo o projeto do universo. O prazo é curto, eu ainda nem contratei a minha equipe e parece que o hardware só aceita COBOL. E eu não programo em COBOL deve ter uns 25 anos. Por isso a gente precisa ser um pouquinho mais objetivo, porque se não vai estourar na minha mão.
Amarildo - É isso que quis dizer. Realmente nada contra as ideias das dinâmicas que você gentilmente trouxe pra gente, Rafito.
Blefou Amarildo, que odiava as dinâmicas talvez até mais que Gustavo, embora ainda não tivessem inventado um equipamento capaz de medir isso.
Amarildo - Eu sugiro começarmos de onde se deve começar: do início.
Rafito - Que é exatamente onde? No Big Bang ou parte que o Gustavo faz o café?
Amarildo - Quer ver um bom começo? Dinossauros. O que a gente faz?
Gustavo - Por mim, tira, que é menos coisa pra programar depois.
Rafito - Acredito que a gente não deva tomar decisões pensando se vai ser muito ou pouco trabalho. Acho im-
portante é entregar bem feito. Eu gosto dos Dinossauros e por mim mantém.
Gustavo - Acredito que a gente não pode tomar as decisões pensando nos nossos gostos pessoais.
Rafito - Isso não é uma questão sentimental, Gustavo -- tentando impor respeito -- Não podemos tirar os dinossauros de toda a cadeia evolutiva e não avaliar os impactos dessa decisão.
Amarildo - Que tipo de impacto, Rafito?
Gustavo - O do meteoro que destruiu eles -- ironizou. Rafito - Acabar com os Dinossauros é acabar com todo o segmento de pessoas que vivem da existência dos dinossauros. Precisamos pensar nisso também.
Gustavo - Que segmento é esse? Não tem nem vinte pessoas que vivem disso.
Rafito - Não fala bobagem, Gustavo. Tem um monte de gente, olha só: tem os caras que vasculham ossadas perdidas por aí. Aí tem o segmento de gente que vende aqueles pincelzinho de tirar terra para os caras que vasculham ossadas por aí. Aí tem o outro que escreve o programa do History Channel sobre "caras que vasculham ossadas por aí". E se quiser ir mais a fundo, tem o documentário sobre a indústria de pincelzinho, usada pelos caras que vasculham ossadas perdidas por aí. E por aí vai...
Amarildo - É bastante gente -- ponderou -- … Olha, eu acredito que Deus vá preferir tirar os dinossauros. Se não comentou sobre eles na Bíblia é porque não faz questão.
Rafito - Isso lá é parâmetro? Agora tem que estar na Bíblia pra gente manter no universo? Então tira o microondas também, oras. Vamos lá, alguém me diz um porquê dos Dinossauros não merecem existir?
Gustavo - É mais coisa para eu programar.
Rafito - Tirando o fator preguiça. Eu quero um motivo contundente, que mostre que os dinossauros atrapalham o mundo.
Gustavo - Eles atrapalham porque ficam os ossos por aí, e dá toda uma confusão de gente querendo calcular quanto tempo tem aquele osso. Sempre com uns argumentos que a sociedade não tem como questionar. "Ah, fizemos o teste do Carbono 14 nele". Foda-se o teste do Carbono! Como eu vou questionar um teste que eu nem sei como que se faz? Se colhe no sangue, se aplica uma vacina, se é de múltipla escolha? Se o Carbono 15 não era, daqui a pouco, um teste muito melhor?!
Todos perceberam que aquele era o pior argumento que Gustavo poderia ter escolhido. Inclusive o anjo, que datilografava cada palavra dita na sala, com uma fisionomia calma e usando todos os dedos. Até mesmo o mindinho. Amarildo - E os museus?
Gustavo - Acaba também. Pra que se precisa de um
lugar com ossos de animais que morreram? Eu quero conhecer os campeões! Esse é o problema da educação no mundo. Depois vem uma geração de perdedores e não se sabe o motivo. A gente leva as crianças pra conhecerem histórias de bichos idiotas que foram burros o suficiente para serem pegos em vez de fazer um museu pro meteoro que fudeu a porra toda.
Amarildo e Rafito mesmo sem se comunicarem entenderam que haviam subestimado Gustavo anteriormente e que aquele sim era o pior argumento que ele poderia ter escolhido.
Amarildo - Que exagero.
Rafito - Gustavo, pelo amor do nosso contratante. A gente tem um milhão de maneiras de melhorar a educação. Então vai ser assim? Vamos limar as coisas sem critério? E a gasolina do teu carro? Que, embora você não saiba a receita, é feita de chorume de dinossauro.
Gustavo - Acaba também, que aí já vai junto os conflitos no Oriente Médio.
Rafito - Então teu plano de acabar com a guerra é fazer a gente voltar a andar de charrete? Sério mesmo? Então é assim? O mundo sem museu, sem combustível, sem Jurassic Park 1?
Gustavo franziu a testa. Não havia pensado sobre isso. Spielberg era um de seus cineastas preferidos, perdendo apenas pra Tarantino. E talvez o Nolan.
Gustavo - É. Daí é foda.
Rafito - Eu to falando que é importante essa porra!
Amarildo - Então como que ficou?
Gustavo - Mantém.
Amarildo - Perfeito! E o café?
Gustavo - Mantém também.
Amarildo e Rafito se encararam em silêncio.
Gustavo - Não vai me dizer que Dinossauro toma?!
Sentiram a resposta como um soco direto no cérebro. Seria possível trabalhar por meses com alguém tão estúpido?
Continuaram congelados. Estáticos, se entreolhando num silêncio que de tão ensurdecedor fez o escritório parecer estar a milhas de baixo d'água. Gustavo também se manteve calado. Havia falado de propósito. Não queria fazer café.
ATA DE REUNIÃO ORDINÁRIA - DIA 5
Muito foi falado, mas na prática não mudou nada. Ressalto ainda que a dinâmica do avestruz é hilária quando vista de fora.
OCEANO SUJO, CONSCIÊNCIA LIMPA
por diogo andrade
Todos os anos 10 milhões de toneladas de plástico são despejados nos oceanos. Estudos recentes indicam que, nesse ritmo, em 2050 o volume de plástico no mar irá superar o volume de peixes.
Nós acreditamos que ações simples podem contribuir para reverter essa situação.
Reduzir o uso de plástico parece ser a resposta mais óbvia, mas você está disposto a carregar suas compras em caixas de papelão que ficam na sua casa por dias pois seu gato acaba se apegando à elas? Ou voltar a entornar o copo na boca como um homem das cavernas sem canudo? Nós também não.
Por isso trouxemos soluções inovadoras para essa questão.
Primeiro deveríamos alterar a classificação de baleias e golfinhos de mamíferos para peixes. Eles são bem pesados e se parecem muito mais com um peixe do que com uma vaca.
Além disso estamos lançando uma campanha para fortalecer de vez o lado dos peixes na balança contra o plástico: Toda vez que for à praia, jogue um peixe no mar.
Uma garrafa PET tem 50 gramas enquanto um robalo adulto pode chegar a 13 quilos, ou seja, cada robalo vale por 260 garrafas de Dolly.
Se conseguir jogar um peixe vivo, melhor ainda, pois assim ele dura muito mais.
Nós, da Minhocazine, nos preocupamos com o meio ambiente. Esse papel que tem em mãos foi feito com madeira de uma árvore que merecia morrer. Ela estava plantada na tangente de uma perigosa curva da Rio-Santos e causou diversos acidentes fatais.
Faça sua você também a sua parte.
A BLINDAGEM IDEAL PARA SEU FILHO
por léia quio
O covid-19 chegou com tudo e com ele uma nova tendência que nos fez repensar a maneira que vestimos nossos filhos. Eu sou a mãe do Diogo Henrique, do sexto ano B, enviou pelo grupo dos pais da escola no whatsapp, opções muito boas para protegermos nossos bebês do mundo terrível que vivemos.
Primeiro esse look chamei de “PandeBanker” nasceu da necessidade de cuidarmos para nossos filhos fiquem protegidos durante a Pandemia. Ele consiste em uma máscara com uma cute Ema, bordada a mão, pela mãe da Manuela do sexto ano A, na cor da esperança, azul. O face shield com strass brilhantes nas bordas que podem ser personalizadas escrevendo o nome do seu filho. Um macacão em vinil arco-íris, unissex, fácil de passar um pano com álcool 70% e lavável na máquina. O macacão tem um zíper entra as pernas para que as crianças nem precisam abaixar o macacão inteiro quando forem ao banheiro. A galochinha é um espetáculo a parte. Amarelinha com escrito “Xô Corona” com uma letra bem divertida feita pelo pai da Clarinha do quinto ano A. Esse look pode parecer uma loucura para cidades onde no verão chegam a bater 42�C, mas as crianças são super adaptáveis, o importante é não correr o risco do corona. O look completo custa R$ 250,00. Só entrar em contato .
Temos a opção DIY pra quem não tem condições financeira de proteger seus filhos. Só substituir o face shield por um óculos de proteção, que você encontra em qualquer casa de material de construção. Aproveite e já compra uma máscara de proteção simples usado para pinturas em spray. Como opção para substituir o macacão de vinil é simples e tão eficiente quanto: saco de lixo. Basta pegar um saco de lixo de 200 litros e quatro de 30 litros para envelopar seu filho e protegê-lo. O custo médio sai por volta de R$ 13,15, mas será totalmente descartável, com exceção dos óculos.
Também criei um acessório pensando, principalmente, em moradores da cidade do Rio de Janeiro: o colete “Caveirinha”. A inspiração veio da quantidade de balas perdidas que o Rio de Janeiro proporciona, mas pode ser usado em qualquer lugar do país. O look consiste em um coletinho maravilhoso, também unissex, a prova de balas, com muitos patches bordados aplicados. Os patches são termocoláveis vão soltos pra você poder aplicar onde
quiser! Totalmente personalizado. Tem a possibilidade de incluir uma capa tipo a Frozen ou como super heróis. Assim seus filhos se sentiram super heróis indestrutíveis, nem um tiro poderá atingi-los! Ainda adicionei um capacete pintado pela mãe do Gabriel do sétimo ano A, inspirado pelo grande artista brasileiro de fama internacional, Romero Britto. O meu filho adora os quebra cabeças dele. O colete fica R$ 320,00 e o capacete R$ 220,00. Agradeço o pai do Gabriel que é do exército é nosso maior fornecedor. Para a versão DIY você pode separar duas tábuas de MDF no tamanho aproximado de 30 x 30 x 5mm, duas faixas de tecido, cola e tinta guache colorida, pense também em usar glitter para dar um up. Não garantimos que funcione com eficiência, mas talvez a criança tenha menos danos.
ENTREVISTA EXCLUSIVA COM PEDRO ALVARES CABRAL
por maurício meirelles
A coisa que eu mais gosto na minha vida é questionamentos. Dúvidas, perguntas, réplicas, tréplicas e debates sempre me fizeram abrir minha cabeça enquanto come-
diante e evoluir textos.
Durante 5 anos, trabalhei no programa CQC, onde tive oportunidade de entrevistar as figuras mais influentes do meu país e do mundo durante aquele período.
Questionei o Lula, entrevistei o Adam Sandler, afrontei o Bolsonaro, bati um papo com Will Smith, debati com Jennifer Anniston e provoquei a Hillary Clinton.
Quantas respostas gostaríamos de ouvir de figuras mais
influentes da nossa historia?
Um talk show com Jesus Cristo, Adolf Hitler fazendo um game MATA OU CASA, Napoleão Bonaparte mostrando uma habilidade musical na volta do segundo bloco.
Como isso é humanamente impossível, fica aqui o exercício: e se eu tivesse um talk show podendo entrevistar quem eu quisesse e meu primeiro convidado fosse....
PEDRO ALVARES CABRAL??????
Qual seria o roteiro?
Acho que fiz tanto esse formato de entrevista, que se eu fizesse de novo, seria com pessoas que ninguém jamais entrevistou. E não digo “recentemente”. Digo historicamente.
Bom, vamos la:
Mauricio Meirelles Show. Convidado: Pedro Alvares Cabral.
Abertura banda: 30”
Musica: Vira Vira ( em homenagem ao convidado)
Monologo de abertura factual: 3’
Assuntos da semana a definir
Entrevista: 15’
Perguntas:
•Depois de tudo o que o Brasil virou, o senhor está arrependido?
• biliza seu feito?
•O senhor preferia ter encontrado Noz Moscada do que a gente?
Eu soube que o senhor queria ter ido para as Indias e errou o caminho. Isso não descredi-
•Fala a verdade: que orégano é esse que fazia vocês atravessarem um continente? Era orégano mesmo? O senhor curte maconha?
Ação: Será que Cabral manja de geografia? Colocaremos um mapa mundi no telão sem os nomes dos países e Cabral terá que adivinhar .
• Colombo ares mais valorizados que o seu?
O senhor fica puto com o nome Brasil, já que você que descobriu e colocou o nome Vera Cruz? Faltou criatividade em Vera Cruz? Você prefere Brasil do que Vera Cruz? Quando mudaram o nome pra Brasil, qual foi sua reação?
•Existe uma comparação com Colombo ou Américo Vespucio, já que eles descobriram lug-
•Há uma chateação em Vasco da Gama, que nada tem a ver com o Brasil, ter um time de futebol por aqui e o senhor, que descobriu o país, não ter nada?
Ação: Que time é a cara de Cabral? Já que Cabral não tem um time de futebol próprio, quais times tem mais a ver com ele? Mostraremos algumas camisas e faremos ele es-
colher o Botafogo ( precisa de torcida e botafogo tem a ver com o que os portugueses fizeram com os índios)
Ação 2: Tik Tok do Cabral dançando com a camisa do Botafogo.
•
droga?
•Foi um mês de viagem só com homens. Conta os bastidores: Vocês já chegaram em cli-
ma de carnaval com tudo mundo se pegando? Rolou muita droga? Nem os índios tinham lança? (piada pra fechar primeiro bloco) Anuncia próximo bloco.
INTERVALO.
SEGUNDO BLOCO
A gente terminou o ultimo bloco, falando das festas no navio. E quando vocês chegaram no
Brasil? Como foi depois de um tempão na seca encontrar uma porrada de gente pelada?
•Se vocês erraram o caminho, como que já tinham presentes para dar para os índios? Os
que foram executados foi por que não curtiram os presentes? Conta isso.
se arrepende disso? (momento choro)
•Vocês chegaram a dar bebida alcoolica para os índios antes de lutarem contra eles? Você
•Qual foi a reação dos indíos quando vocês chegaram, transaram com as mulheres deles, pegaram matéria prima e voltaram? Eles cogitaram vocês serem alienígenas?
Ação: Dança da Chuva. Pro clima com os índios não ficar muito pesado, vamos chamar alguns índios para dançar com Cabral.
Ação 2: Feed Instagram Dancinha Cabral com legenda pedindo pra “Marcar alguém que dança igual o Cabral”
Merchan Coca Cola:
Sabe quem também ama os Indios? A Coca Cola. Que assim como o Cabral está há muito
tempo no Brasil. Coca Cola, sempre amando os índios e todas as minorias.
• Como foi a chegada em Portugal? Mesmo com a quantidade de ouro trazida, alguém rec-
brir outro continente?
lamou que não vocês não trouxeram mostarda, conforme encomendado?
•Você ficou com medo de errar de novo o percurso e em vez de voltar pra Portugal, desco-
hor teria voltado para Portugal?
erra mais à direita”?
•Se o senhor soubesse dos feriados que vocês mesmo proporcionaram para o Brasil, o sen-
•Como você indicou para o pessoal voltar para o Brasil? “Pega o caminho para as Indias e
ela nem existe mais? Faltou reconhecimento?
•O senhor se sente ofendido de ter estampado a moeda de 1 centavo no Brasil, sendo que
•O senhor acha que Sergio Cabral representa melhor o Brasil do que o senhor?
•Pergunto de novo: o senhor se arrependeu de ter descoberto o Brasil?
Ação final: Homenagem de verdade. Musical com Cabral cantando “Minha Pequena Eva” com a banda. Indios dançando. “Chuva”de papel picado.
COMO DESCOBRIR O NOME DO SEU PORTEIRO SEM PERGUNTAR DIRETAMENTE A ELE!
por rafa parreira
Se você, assim como eu, é uma pessoa egoísta que só se importa com o próprio umbigo, provavelmente você nunca se preocupou em saber o nome do(s) seu(s) porteiro(s) do prédio, mesmo ele(s) sabendo como você se chama desde a primeira encomenda que chegou para seu apê. Porém, a idade chega e a maturidade vem! É como dizem "a que se faz, a que se paga!", "trate as pessoas como gostaria de ser tratado", dentre outras mensagens passivo agressivas para você se tornar um ser humano melhor. Não saber o nome de alguém que está sempre a postos para te ajudar a levar suas compras até o elevador é sacanagem, né? Porém já passou tanto tempo que se você perguntar "pô, qual seu nome mesmo?" você vai se sentir o maior merda do planeta terra, além de quebrar a cara do porteiro que achava que você sabia o nome dele (pois vocês convivem no mesmo prédio há 5 anos, Roberto!).
Não se preocupe mais! Segue aqui um método infalível para você descobrir como seu porteiro se chama sem perguntar diretamente a ele.
- CONTRATE ATORES PARA SIMULAR UMA EQUIPE DE GRAVAÇÃO DE TV PARA DA ENTREVISTAR SEU PORTEIRO SOBRE O BAIRRO.
1
2 - ENTRE EM CONTATO COM O PORTEIRO PEDINDO QUE ELE FAÇA A ENTREVISTA.
3 - LIGA DE NOVO FALANDO QUE TEM QUE SER ELE!!!
vc já gastou dinheiro demais com isso até então, seu porteiro não pode desistir!
4 - COMPRE UM KIT DISFARCE PARA FAZER PARTE DA EQUIPE E PRESENCIAR QUANDO ELE FALAR O NOME.
PRONTO! VOCÊ TEM A VALIOSA INFORMAÇÃO EM SUAS MÃOS. USE
COM
SABEDORIA!