diretor: José Alberto soares
Quadrimestral | Set.-Dez. 2024
Ano 12 | Número 36 | 3 euros www.justnews.pt

AnA
LuísA AreiA, vice-presidente dA spOMMF:
diretor: José Alberto soares
Quadrimestral | Set.-Dez. 2024
Ano 12 | Número 36 | 3 euros www.justnews.pt
AnA
LuísA AreiA, vice-presidente dA spOMMF:
* Beyfortus® é indicado para a prevenção de doença das vias respiratórias inferiores causada pelo RSV em: i) recém-nascidos e lactentes durante a sua primeira época do RSV; ii) crianças até aos 24 meses de idade que permanecem vulneráveis a doença grave pelo RSV durante a sua segunda época do RSV.1
Beyfortus® deve ser utilizado de acordo com as recomendações oficiais.1
Contraindicações: hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes.1
** Beyfortus® proporciona pelo menos 5 meses de proteção contra a doença do trato respiratório inferior causada pelo RSV, com base em dados clínicos e farmacocinéticos.1
† Para lactentes durante a sua primeira época do RSV, a dose recomendada é uma dose única de 50 mg para lactentes com peso corporal <5 kg e uma dose única de 100 mg para lactentes com peso corporal ≥5 kg, administrada por via intramuscular. Para crianças que permanecem vulneráveis a doença grave pelo RSV durante a sua segunda época do RSV, a dose recomendada é uma dose única de 200 mg administrada sob a forma de duas injeções intramusculares (2 x 100 mg). Para crianças submetidas a cirurgia cardíaca com bypass cardiopulmonar, pode ser administrada uma dose adicional logo que se verifique estabilização da criança após cirurgia, para garantir níveis séricos adequados de nirsevimab.1 Consulte
Informações essenciais compatíveis com o Resumo das Características do Medicamento
Este medicamento está sujeito a monitorização adicional. Isto irá permitir a rápida identificação de nova informação de segurança. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas. Para saber como notificar reações adversas, ver secção “Efeitos Indesejáveis”. Nome do medicamento Beyfortus 50 mg solução injetável em seringa pré-cheia e Beyfortus 100 mg solução injetável em seringa pré-cheia. Composição Qualitativa e Quantitativa Cada seringa pré-cheia contém 50 mg de nirsevimab em 0,5 ml (100 mg/ml) e 100 mg de nirsevimab em 1 ml (100 mg/ml), respetivamente. Nirsevimab é um anticorpo monoclonal humano imunoglobulina G1 kappa (IgG1к) produzido em células de ovário de hamster Chinês (CHO) por tecnologia de ADN recombinante. Lista completa de excipientes, ver secção 6.1 do RCM completo. Forma Farmacêutica Solução injetável (injetável). Solução transparente a opalescente, incolor a amarela, pH 6,0. Indicações terapêuticas Beyfortus é indicado para a prevenção de doença das vias respiratórias inferiores causada pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR), em: i. Recém-nascidos e lactentes durante a sua primeira época do VSR. ii. Crianças até aos 24 meses de idade que permanecem vulneráveis a doença grave pelo VSR durante a sua segunda época do VSR (ver secção 5.1 do RCM completo). Beyfortus deve ser utilizado de acordo com as recomendações oficiais. Posologia e modo de administração Posologia: Lactentes durante a sua primeira época do VSR - A dose recomendada é uma dose única de 50 mg administrados por via intramuscular para lactentes com peso corporal <5 kg e uma dose única de 100 mg administrados por via intramuscular para lactentes com peso corporal ≥5 kg. Beyfortus deve ser administrado desde o nascimento em lactentes nascidos durante a época do VSR. Para outros nascidos fora da época, Beyfortus deve ser administrado idealmente antes da época do VSR. Para outros nascidos fora da época, Beyfortus deve ser administrado idealmente antes da época do VSR. A posologia em lactentes com um peso corporal entre 1,0 kg a <1,6 kg é baseada em extrapolação, não existem dados clínicos disponíveis. Prevê-se que a exposição em lactentes com <1 kg produza exposições mais elevadas do que naqueles que pesam mais. Devem ser considerados cuidadosamente os benefícios
o Resumo das Características do Medicamento para obter informações completas sobre a dosagem nesta circunstância.
‡ Com base nos resultados de dois ensaios multicêntricos aleatorizados, em dupla ocultação e controlados por placebo.3 O endpoint primário foi a incidência de ITRI medicamente assistida (incluindo hospitalização), causada por RSV confirmado por RT-PCR. Eficácia demonstrada até 150 dias após a administração.1–3
– Ensaio de fase 2b: A população do estudo incluiu 1453 crianças grande prematuras e prematuras moderadas (IG ≥ 29 e < 35 semanas) que entravam na sua primeira época de RSV. As crianças receberam uma dose única intramuscular de 50 mg de Beyfortus® (n=969) ou placebo (n=484). Redução do risco relativo (RRR) em ITRI-RSV MA de 70,1% (IC de 95%: 52,3-81,2; p < 0,001). A incidência foi de 2,6% com Beyfortus® versus 9,5% com placebo.1,2 Os tipos e as
e riscos da utilização de nirsevimab em lactentes <1 kg. Os dados disponíveis em lactentes prematuros extremos (Idade Gestacional [IG] <29 semanas) com menos de 8 semanas de idade, são limitados. Não existem dados clínicos disponíveis em lactentes com idade pós-menstrual (idade gestacional ao nascimento mais idade cronológica) com menos de 32 semanas (ver secção 5.1 do RCM completo). Crianças que permanecem vulneráveis a doença grave pelo VSR durante a sua segunda época do VSR - A dose recomendada é uma dose única de 200 mg administrada sob a forma de duas injeções intramusculares (2 x 100 mg). Beyfortus deve ser administrado, idealmente, antes do início da segunda época do VSR. Em índividuos submetidos a cirurgia cardíaca com bypass cardiopulmonar, pode ser administrada uma dose adicional logo que se verifique estabilização do indivíduo após cirurgia, para garantir níveis séricos adequados de nirsevimab. Se estiverem dentro dos 90 dias, após receberem a primeira dose de Beyfortus, a dose adicional durante a primeira época do VSR deve ser de 50 mg ou 100 mg de acordo com o peso corporal, ou de 200 mg durante a segunda época do VSR. Se decorrerem mais de 90 dias desde a primeira dose, a dose adicional pode ser uma dose única de 50 mg independentemente do peso corporal, durante a primeira época do VSR, ou 100 mg durante a segunda época do VSR, para cobrir a época do VSR remanescente. A segurança e eficácia de nirsevimab em crianças com idade compreendida entre os 2 e os 18 anos não foram estabelecidas. Não existem dados disponíveis. Modo de administração: Beyfortus é apenas para injeção intramuscular. É administrado por via intramuscular, preferencialmente na zona anterolateral da coxa. O músculo glúteo não deve ser utilizado por rotina como um local de injeção, devido ao risco de lesão no nervo ciático. Se forem necessárias duas injeções, devem ser utilizados locais de injeção diferentes. Para instruções sobre requisitos especiais de manuseamento (ver secção 6.6. do RCM completo). Contraindicações Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes mencionados na secção 6.1 do RCM completo. Efeitos indesejáveis Resumo do perfil de segurança A reação adversa mais frequente foi erupção cutânea (0,7%), que ocorreu dentro de 14 dias após a administração. A maioria dos casos foi de intensidade ligeira a moderada. Adicionalmente, pirexia e reações no local da injeção foram notificadas com uma taxa de 0,5% e 0,3% dentro de 7 dias após a administração,
Beyfortus® é um anticorpo de ação prolongada e direta desenvolvido para proteger todos os recém-nascidos e lactentes*, contra a doença do trato respiratório inferior (DTRI) provocada pelo vírus sincicial respiratório (RSV).**,1
Uma única dose reduziu o risco de infeção do trato respiratório inferior por RSV que requer assistência médica (ITRI-RSV MA) vs. placebo em recém-nascidos e lactentes.†,‡,§,1–3
NA ÉPOCA 2024/25 PARA AS CRIANÇAS ELEGÍVEIS*
frequências dos acontecimentos adversos foram semelhantes nos grupos de Beyfortus® e de placebo.2
–
Ensaio MELODY de fase 3: A população do estudo incluiu 3012 crianças de termo e prematuras tardias (IG ≥ 35 semanas) que entravam na sua primeira época de RSV. As crianças receberam uma dose única intramuscular de 50 mg de Beyfortus®, se peso corporal <5 kg ou 100 mg de Beyfortus® se peso corporal ≥5 kg no momento da administração de Beyfortus® (n=2009), ou de placebo (n=1003). RRR em ITRI por RSV medicamente assistida de 76,4% (IC de 95%: 62,3-85,2). A incidência foi de 1,2% com Beyfortus® versus 5,4% com placebo.1,3 Os tipos e as frequências dos acontecimentos adversos foram semelhantes nos braços de Beyfortus® e placebo.3,4
respetivamente. As reações no local da injeção não foram graves. Lista tabelada de reações adversas A tabela 1 apresenta as reações adversas notificadas em 2966 lactentes de termo e pré-termo (IG ≥29 semanas) que receberam nirsevimab em ensaios clínicos e em contexto pós-comercialização (ver secção 4.4 do RCM completo). As reações adversas notificadas a partir de ensaios clínicos controlados são classificadas por Classe de Sistema de Órgãos (CSO) MedDRA. Dentro de cada CSO, os termos preferenciais são apresentados por frequência decrescente e em seguida por ordem decrescente de gravidade. As frequências de ocorrência de reações adversas são definidas como: muito frequentes (≥1/10); frequentes (≥1/100 a <1/10); pouco frequentes (≥1/1000 a <1/100); raros (≥1/10 000 a <1/1000); muito raros (<1/10 000) e desconhecido (não pode ser calculado a partir dos dados disponíveis). REAÇÕES ADVERSAS FREQUÊNCIA Doenças do sistema imunitário Hipersensibilidadea - Desconhecida Afeções dos tecidos cutâneos e subcutâneos Erupção cutâneab - Pouco frequentes; Perturbações gerais e alterações no local de administração Reação no local da injeçãoc, Pirexia - Pouco frequentes. a Reação adversa de notificação espontânea. bErupção cutânea foi definida pelos seguintes grupos de termos preferenciais: erupção cutânea, erupção maculopapular, erupção macular. cReação no local da injeção foi definida pelos seguintes grupos de termos preferenciais: reação no local da injeção, dor no local da injeção, endurecimento no local da injeção, edema no local da injeção, inchaço no local da injeção. Lactentes com risco mais elevado de doença grave pelo VSR na sua primeira época A segurança foi avaliada no MEDLEY em 918 lactentes com risco mais elevado de doença grave por VSR, incluindo 196 lactentes extremamente prematuros (IG <29 semanas) e 306 lactentes com doença pulmonar crónica por prematuridade, ou doença cardíaca congénita hemodinamicamente significativa a entrar na sua primeira época do VSR, que receberam nirsevimab (n=614) ou palivizumab (n=304). O perfil de segurança de nirsevimab em lactentes que receberam nirsevimab na sua primeira época do VSR foi comparável ao comparador palivizumab e consistente com o perfil de segurança de nirsevimab em lactentes de termo e pré-termo com IG ≥29 semanas (D5290C00003 e MELODY). Lactentes que permanecem vulneráveis a doença grave pelo VSR na sua segunda época A segurança foi avaliada no MEDLEY em 220 crianças com doença
§ As reações adversas notificadas em crianças que receberam Beyfortus® em ensaios clínicos, foram erupção cutânea, reação no local da injeção e pirexia. A ocorrência foi pouco frequente (≥ 1/1.000 a < 1/100).1 Consultar o RCM para detalhes completos sobre o perfil de segurança.
IC, intervalo de confiança; IG, idade gestacional; DTRI, doença do trato respiratório inferior; ITRI, infeção do trato respiratório inferior; MA, medicamente assistida; RRR, redução do risco relativo; RSV, vírus sincicial respiratório; RT-PCR, reação em cadeia da polimerase via transcriptase reversa.
1. Resumo das Características do Medicamento (RCM) de Beyfortus. Setembro 2024. 2. Griffin MP et al. N Engl J Med 2020; 383(5): 415–425. 3. Muller WJ et al. N Engl J Med 2023; 388(16): 1533–1534. 4. Hammitt LL et al. N Engl J Med 2022; 386(9): 837–846.
pulmonar crónica da prematuridade ou com doença cardíaca congénita hemodinamicamente significativa que receberam nirsevimab ou palivizumab na primeira época do VSR e que continuaram a receber nirsevimab na sua segunda época do VSR (180 participantes receberam nirsevimab nas épocas 1 e 2; 40 receberam palivizumab na época 1 e nirsevimab na época 2). O perfil de segurança de nirsevimab em crianças que receberam nirsevimab na sua segunda época do VSR foi consistente com o perfil de segurança de nirsevimab em lactentes de termo e pré-termo com IG ≥29 semanas (D5290C00003 e MELODY). A segurança foi também avaliada no MUSIC, um ensaio em regime aberto, não controlado, de dose única em 100 lactentes e crianças imunocomprometidos com ≤24 meses, que receberam nirsevimab na sua primeira ou segunda época do RSV. Isto incluiu participantes com pelo menos uma das seguintes condições: imunodeficiência (combinada, anticorpos ou outra etiologia) (n=33); corticoterapia sistémica de dose elevada (n=29); transplante de órgão ou de medula óssea (n=16); a receber quimioterapia imunossupressora (n=20); outra terapia imunossupressora (n=15) e infeção por VIH (n=8). O perfil de segurança de nirsevimab foi consistente com o esperado para uma população de crianças imunocomprometidas e com o perfil de segurança de nirsevimab em lactentes de termo e pré-termo com IG ≥29 semanas (D5290C00003 e MELODY). O perfil de segurança de nirsevimab em crianças durante a sua segunda época do VSR foi consistente com o perfil de segurança de nirsevimab observado durante a sua primeira época do VSR. Notificação de suspeitas de reações adversas A notificação de suspeitas de reações adversas após a autorização do medicamento é importante, uma vez que permite uma monitorização contínua da relação benefício-risco do medicamento. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas diretamente ao INFARMED, I.P.: Sítio da internet: http://www.infarmed.pt/web/ infarmed/submissaoram (preferencialmente) ou através dos seguintes contactos: Direção de Gestão do Risco de Medicamentos, Parque da Saúde de Lisboa, Av. Brasil 53, 1749-004 Lisboa, Tel: +351 21 798 73 73 Linha do Medicamento: 800222444 (gratuita) E-mail: farmacovigilancia@infarmed.pt Data de revisão do texto: setembro 2024. Medicamento sujeito a receita médica. Para mais informações, contactar o Representante Local do Titular da Autorização de Introdução no Mercado.
08 Ana Luísa Areia, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal (SPOMMF)
“O nascimento representa um início, como uma folha em branco que vai começar a ser escrita”
16 Criada a União das Sociedades de Obstetrícia e Ginecologia dos Países de Língua Portuguesa diogo Ayres de campos destacou à Just news o papel que a FspOG teve no surgir desta entidade na altura em que foi reeleito para mais um mandato de 3 anos como presidente da Federação
20 202.ª Reunião da SPG, Cascais
A subespecialidade de uroginecologia, que ainda não existe, foi o assunto em destaque logo no início do evento, com bercina candoso, presidente da respetiva secção da spG, a proferir uma conferência sobre o tema
22 Curso de Iniciação à Especialidade de Ginecologia e Obstetrícia
iGO voltou a ter uma adesão de 100%, com a presença de todos os internos do 1.º ano. trata-se de uma ação formativa promovida pela FspOG
24 9.º Congresso Português de Medicina da Reprodução, Albufeira
A Assembleia-Geral eleitoral realizada validou a eleição de Luís Ferreira vicente como sucessor de pedro Xavier no cargo de presidente da spMr. Ambos deram entrevistas ao Jornal do Congresso: o primeiro disse que “a Mr já não está limitada aos tratamentos de infertilidade” e o segundo, fazendo o balanço de 6 anos de mandato, considera que “começa a olhar-se para o problema da infertilidade com mais atenção”
37 203.ª Reunião da SPG, Figueira da Foz
para o presidente da secção portuguesa de Menopausa da spG, “foi uma aposta ganha o decidirmos fazer uma reunião procurando a multidisciplinaridade”. cláudio rebelo sublinha que “a terapêutica da menopausa já não é só hormonal”
40 204.ª Reunião da SPG, Albufeira
As 500 inscrições registadas foram um recorde em eventos da spG com estas características. em entrevista publicada no jornal distribuído aos participantes, a presidente da spG, Fátima Faustino, afirmou: “Devemos ter orgulho por continuarmos a promover o desenvolvimento da Ginecologia e a apostar na formação e na inovação”
44 Exame Europeu de Obstetrícia e Ginecologia
A componente prática realizou-se mais uma vez em Lisboa, no final de junho, sob a coordenação de diogo Ayres de Campos, mas a grande dificuldade na obtenção do visto para entrar em portugal reduziu substancialmente o número de candidatos, comprometendo mesmo o futuro da prova no nosso país
30 Miguel Coelho procare Health e o seu papel na Fertilidade
32 Simpósio Gedeon Richter segurança na reprodução assistida é um objetivo para levar a sério, sendo uma prioridade fundamental
Women’s Medicine
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Publicações
FOtO dA c ApA Ana Luísa Areia foi entrevistada e fotografada na Maternidade daniel de Matos, em coimbra.
dos cuidados de saúde integrados
março 2013
cuidados hospitalares
julho 2017
maio 2024
promover a partilha de boas práticas entre todas as unidades do sns numa única publicação
Ana Luísa Areia, vice-presidente da sociedade portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal (spOMMF):
A baixa taxa de mortalidade perinatal registada em portugal é, para Ana Luísa Areia, uma conquista da qual nos podemos vangloriar enquanto país, no contexto do quadro europeu. tendo este feito sido alcançado graças a diversas estratégias, como o seguimento correto da gravidez e do trabalho de parto, a ginecologista/obstetra da uLs de Coimbra teme que certas decisões dos casais, sem base científica, possam comprometer e até mesmo diminuir a qualidade dos cuidados perinatais prestados. Ana Luísa Areia chegou à Maternidade daniel de Matos em 2002, há mais de vinte anos, para ali iniciar o seu internato da especialidade, e nunca mais de lá saiu. “eu sou obstetra de coração!” – é assim que a professora auxiliar convidada com agregação da FMuc se apresenta e, em boa verdade, foi nessa condição de obstetra convicta que conversou com a Just news, e não propriamente como vice-presidente da spOMMF.
Just News – O que pensa sobre o facto de a Ginecologia e a Obstetrícia estarem agregadas numa única especialidade? Ana Luísa Areia (ALA) – Antigamente, chegou a haver duas especialidades, mas entendeu-se que, no melhor interesse da mulher, deveria haver uma junção de ambas. Ao contrário do que sucede nos hospitais terciários, como no caso da ULS de Coimbra, em que nos dedicamos à Ginecologia ou à Obstetrícia e até nos subespecializamos em determinada área, muitas vezes, nos hospitais distritais tal
não é possível, por haver necessidade de fazer de tudo um pouco. Contudo, esta unicidade traz muitas desvantagens por se tratar de uma especialidade muito vasta e exigente a nível de estudo e de exercício.
JN – Na sua opinião, as duas áreas deviam estar separadas?
ALA – É difícil responder a essa pergunta, mas penso que, na conjetura atual, faria algum sentido, precisamente pela necessidade da subespecialização. Talvez pudes-
se haver um tronco comum de dois anos, derivando depois os internos para uma das duas áreas. A verdade é que, no formato atual, o internato de Ginecologia/Obstetrícia acaba por juntar duas especialidades numa só.
JN – E esse cenário poderá vir a alterar-se?
ALA – Tendencialmente, temos assistido à necessidade de subespecialização em todo o mundo. Por outro lado, há cada vez menos médicos com vontade de seguir esta
especialidade por quererem afastar-se da Obstetrícia. Mesmo que seja um sonho e uma vocação, os alunos de Medicina e os jovens médicos começaram a ter receio do litígio médico-legal e de toda a polémica que se gerou em torno daquilo que foi apelidado de “violência obstétrica”. Se fossem especialidades diferentes, porventura, haveria mais candidatos para a Ginecologia, mas possivelmente iria acontecer o inverso com a Obstetrícia.
(Continuanapág.10)
(Continuaçãodapág.9)
JN – As queixas que refere surgiram em que circunstâncias?
ALA – Em situações diversas! Não posso dizer que as utentes nunca têm razão, porque em Medicina não há “sempre” nem “nunca”! Mas penso que se generalizou a ideia de que, a nível obstétrico, toda a gente pode opinar.
A gravidez e o parto são fenómenos naturais, mas muitas vezes surgem complicações, e uma das conquistas da qual nos podemos vangloriar enquanto país é termos uma taxa de mortalidade perinatal baixíssima, invejável a nível europeu. Esse feito foi conseguido graças a várias estratégias, que englobam o seguimento correto da gravidez e do trabalho de parto.
Em nenhuma outra especialidade as pessoas exigem que o médico utilize “aqueles instrumentos” e realize apenas “esta técnica”. É isto que está a ser feito em Obstetrícia! A mulher recusa certos procedimentos, como a perineorrafia ou a monitorização fetal intraparto, independentemente de ter ou não conhecimento científico sobre a matéria. É verdade que em locais como a Holanda estas técnicas não são realizadas, aliás, esse país foi um dos pioneiros no parto ao domicílio, mas tal decisão teve repercussões na mortalidade perinatal. Quando andamos a lutar globalmente por melhores cuidados perinatais, vamos querer um retrocesso? Eu sou apologista de que importa haver o maior respeito pela grávida e pela parturiente, mas este deve assentar no diálogo.
“Uma das conquistas da qual nos podemos vangloriar enquanto país é termos uma taxa de mortalidade perinatal baixíssima, invejável a nível europeu.”
A grávida tem o direito de dizer que não quer ser observada, mas cabe-nos esclarecê-la. Penso que muita da polémica se deve à falta de literacia em saúde. Muitas pessoas estão incorretamente informadas sobre o intuito dos procedimentos. Tudo correria melhor se a desconfiança face aos médicos diminuísse e houvesse um maior diálogo.
JN – O contacto estabelecido ao longo do tempo de gravidez não favorece essa relação?
ALA – Pode haver um acompanhamento de meses, mas, pela imprevisibilidade do trabalho de parto normal, não conseguimos assegurar que vamos estar presentes nessa altura. Penso que o essencial é a grávida ser seguida preferencialmente sempre pelo mesmo médico, que poderá desmistificar todos os seus medos e receios e assegurar o acompanhamento, para que a gravidez, mesmo que seja de risco, possa ser algo bonito.
A gravidez é, por definição, um estado de ansiedade permanente, portanto, se a utente for devidamente informada e acompanhada ao longo desse período e conhecer a instituição onde vai ter o parto, o dia em que este acontece representa o culminar de algo que transmite muita felicidade.
JN – Hoje em dia, por vezes, nem é possível prever qual será a instituição onde o parto irá realizar-se...
ALA – Pois não, o que é muito triste! Eu tive a honra de pertencer à Comissão de Acompanhamento de Resposta em Urgência de Ginecologia, Obstetrícia e Bloco de Partos, em que apresentámos um conjunto de propostas ao Governo, relativas ao encerramento de algumas maternidades, para tentar garantir às mulheres os melhores cuidados e assegurar alguma tranquilidade, propostas essas que, no entanto, não foram avante. Claro que o ideal é a grávida não precisar de se deslocar para muito longe de casa para ter o seu seguimento. Mas, se tiver de o fazer e, com isso, conseguir ter a tranquilidade de ir sempre à mesma instituição, eventualmente, será preferível face ao que agora acontece. Devo dizer que, neste mo-
“Se a utente for devidamente informada e acompanhada ao longo da gravidez e conhecer a instituição onde vai ter o parto, o dia em que este acontece representa o culminar de algo que transmite muita felicidade.”
mento, em Coimbra, estamos a receber nas urgências grávidas de lugares longínquos, o que não deveria suceder.
“A MARAVILHA DO INÍCIO DA VIDA É IMPAGÁVEL”
JN – Em paralelo com a atividade clínica, foi sempre procurando investir na sua formação...
(Continuanapág.12)
“Eu sou obstetra de coração!”
Ana Luísa Areia nasceu a 21 de agosto de 1975, em Coimbra. Perante a tentativa de familiares médicos de contrariarem a sua ideia de seguir Medicina, não se deixou influenciar e seguiu esse rumo. Desde o tempo do ensino primário que sabia que “queria poder cuidar e ajudar o outro”.
Dada a “forte tradição estudantil” da cidade onde cresceu, nunca equacionou formar-se noutro lugar, acabando mesmo por, ao longo do seu percurso académico, integrar vários grupos da Associação Académica de Coimbra.
Quando questionada sobre se se considera mais ginecologista ou obstetra, responde: “Eu sou obstetra de coração! Escolhi esta especialidade por paixão pela Obstetrícia e, contrariamente ao que é habitual hoje em dia, se dúvidas houve foi por ter de fazer também Ginecologia!”
Acreditando ser “muito importante dedicarmo-nos àquilo de que gostamos”, a médica reconhece ter tido a felicidade de conseguir entregar-se profissionalmente ao que mais a apaixona. A nível pessoal, destaca que “a família
Assim que contactou com a cadeira de Obstetrícia, percebeu que aquela era a área em que queria trabalhar durante a sua vida. Após fazer os dois anos de internato de Formação Geral, em 2002, iniciou o internato de Ginecologia/Obstetrícia na Maternidade Daniel de Matos, que à época integrava os Hospitais da Universidade de Coimbra, uma vez que era o local onde trabalhava o seu mentor, Paulo Moura. Ali se tem mantido desde então, acabando por se focar muito particularmente na área da Medicina Materno-Fetal.
tem extrema importância” na sua vida, procurando dedicar tempo de qualidade aos seus três filhos, de 22, 19 e 13 anos.
Ao longo da vida, foi também investindo muito na sua formação académica, a ponto de ser doutorada em Ciências da Saúde e professora auxiliar convidada com agregação da FMUC, tendo realizado muito recentemente provas de agregação. Cumpre o 2.º mandato (triénio 2022-2025) como vice-presidente da SPOMMF e é vogal da Assembleia-Geral da FSPOG.
(Continuaçãodapág.11)
ALA – Sim, liguei-me à Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra em 2014, no ano seguinte integrei o programa doutoral e em julho deste ano fiz a agregação. As minhas investigações científicas sempre surgiram do contexto clínico, ou seja, partindo da prática para a teoria. Deparei-me com vários internamentos por ameaça de parto pré-termo e com alguns nascimentos de bebés prematuros e quis perceber quais eram as razões para isso suceder e como se poderiam evitar essas situações.
Independentemente de toda a investigação que se vai fazendo, a prematuridade continua a ser um problema enorme, principalmente nos países subdesenvolvidos, mas até mesmo nos desenvolvidos. Em Portugal, cerca de 8% dos bebés nascem prematuros. E podem não sobreviver ou vir a ter sequelas gravíssimas, representando um grande encargo para o Sistema Nacional de Saúde.
Na minha tese de mestrado, procurei perceber se a administração de progesterona nas grávidas com ameaça de parto pré-termo diminuía esse risco e constatei que sim. Depois, no âmbito da preparação da tese de doutoramento, fui estudar quais as células do sistema imune materno que sofriam alteração ao administrar-se essa hormona.
JN – E tem sido fácil conciliar o seu percurso profissional com a sua vida familiar?
ALA – Não, mas eu tenho a sorte de ser apaixonada por aquilo que faço, o que é a maior motivação de todas.
JN – O que mais a apaixona na sua atividade? É o ato de ver um ser vivo nascer?
ALA – A maravilha do início da vida é impagável, independentemente daquilo em que se acredita em termos superiores. É um início, limpinho, como uma folha em branco que vai começar a ser escrita. Ter o privilégio de pegar nessa folha e dizer “Bem-vindo ao mundo”, presenciando o início da história daquela pessoa, é inestimável.
JN – Encontra diferenças na forma como encara o nascimento de um bebé cuja mãe acompanhou durante toda a gravidez relativamente ao de uma grávida que
vê pela primeira vez, numa situação de urgência?
ALA – São contextos completamente diferentes, mas conseguir tranquilizar a grávida, acompanhar o trabalho de parto e no final percebermos que correu tudo bem é impagável, independentemente de a grávida ser minha ou não.
“O nascimento representa um início, limpinho, como uma folha em branco que vai começar a ser escrita. Ter o privilégio de pegar nessa folha e dizer ‘Bem-vindo ao Mundo’, presenciando o início da história daquela pessoa, é inestimável.”
Em termos médicos, adoro ter a possibilidade de fazer o parto das minhas utentes, porque esse momento é a réstia e o culminar de todo um trabalho. E devo confessar que me emociono muitas vezes! É muito bom verificar, no caso de senhoras que eu acompanho na Consulta de Medicina Materno-Fetal – com alterações hematológicas na gravidez, insucessos reprodutivos e múltiplos abortamentos, casos que são estudados e conduzem à instituição de uma terapêutica –, que, depois de muita luta, conseguimos ter um bebé! Já chorei de felicidade, juntamente com os pais, porque também é uma vitória para mim!
Gosto muito do dia-a-dia da consulta, de conhecer alguém de novo e procurar saber quais são as suas preocupações. E logo a seguir receber outra senhora, que já sigo e
“É muito bom verificar, no caso de senhoras que acompanho na Consulta de Medicina Materno-Fetal, que, depois de muita luta, conseguimos ter um bebé! Já chorei de felicidade, juntamente com os pais, porque também é uma vitória para mim!”
relativamente à qual, por isso, já sei quais são as suas características e a sua postura e como posso tranquilizá-la ou chamá-la à atenção se não estiver a fazer algo da forma correta. Penso que é um privilégio poder-
mos saber melhor quem acompanhamos e poder dar-lhe um bocadinho de nós. O parto é um momento maravilhoso, mas, para que ocorra da forma mais tranquila e esclarecida possível, tem de haver um seguimento durante as 40 semanas.
JN – Como é o seu dia-a-dia?
ALA – No Serviço, a minha semana pauta-se pela atividade no Internamento de Medicina Materno-Fetal – em que acompanho senhoras com complicações como pré-
-eclampsia, diabetes gestacional descompensada, hipertensão gestacional ou vómitos –, um período de Consulta e 24 horas de Urgência. Entretanto, duas vezes por semana, dou aulas práticas de Obstetrícia aos alunos da FMUC. Quinzenalmente, dedico umas quatro horas à atividade privada, dadas as solicitações que havia das utentes para serem seguidas por mim, sob o ponto de vista ginecológico, após a gravidez. De facto, a nível privado, faço praticamente apenas Ginecologia, também porque a rea-
lidade na região centro é muito diferente da que se encontra em Lisboa ou no Porto. Por aqui, a população continua a preferir recorrer aos cuidados obstétricos que são prestados nos hospitais públicos. E eu tenho vivido esta realidade, a imaginar chegar ao maior número possível de pessoas, independentemente de fatores como o estrato social. É no Serviço Nacional de Saúde que continuo a acreditar, embora admita que possa fazer parte da última geração a lutar por ele.
JN – A esse respeito, qual pensa ser a melhor forma de conseguir voltar a atrair os especialistas desta área para o SNS? ALA – Dando condições de trabalho. O dinheiro não é tudo, mas claro que a remuneração, neste caso, de um ginecologista/ obstetra deve ser condigna. Houve o esforço de se criar a figura da dedicação plena, que ajudou a que alguns profissionais se sentissem recompensados pelo trabalho que já executavam, mas é preciso demonstrar aos jovens médicos que eles podem fazer numa instituição pública um percurso idêntico, em termos de atividade clínica e de investigação, ao que fazem numa instituição privada.
Dificilmente será rejeitada uma proposta que triplique o ordenado auferido, principalmente se o setor público não oferecer ao recém-especialista oportunidades como, por exemplo, o poder criar uma consulta especializada. O SNS proporciona-nos precisamente essa grande vantagem de podermos subespecializar-nos, constituir projetos, acompanhá-los e vê-los crescer. Se não houver essa perspetiva, o trabalho desenvolvido vai reduzir-se apenas ao cumprimento do horário!
Por vezes, perdemos mesmo os nossos especialistas para o estrangeiro, até porque a formação que se faz em Portugal é reconhecida lá fora.
JN – De uma forma mais abrangente, é preciso refletir sobre a atratividade da própria especialidade?
ALA – Na altura em que iniciei o internato, em 2002, só era admitido um interno por Serviço. Porventura, se tivessem sido abertas mais vagas, hoje em dia, haveria mais profissionais da minha geração formados em Ginecologia/Obstetrícia e não assistiríamos a este cenário. É por esse motivo que muita gente aponta a falta de programação e de visão, a médio e longo prazo, de muitas das estruturas que nos regem.
“A SPOMMF DEU-ME A FELICIDADE DE CONHECER DIVERSAS FORMAS DE TRABALHAR”
JN – A atividade associativa faz parte da sua vida desde que altura?
ALA – Desde a época estudantil! Ins(Continuanapág.14)
(Continuaçãodapág.13)
crevi-me como associada da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal durante o internato da especialidade. Já enquanto especialista, fui convidada a integrar a Direção como vogal e fui ascendendo internamente. Cumpro o meu segundo mandato enquanto vice-presidente.
A SPOMMF deu-me a felicidade e o grato prazer de lidar de perto com o Dr. Nuno Clode e de conhecer diversas formas de trabalhar, também por haver realidades muito diferentes no país.
Tentamos sempre que haja uma renovação apenas parcial da equipa, para garantir uma continuidade a nível da presidência. Mas este tipo de atividade requer muita disponibilidade e, ao contrário do que sucede em muitas sociedades estrangeiras, em Portugal, a nossa participação é pro bono , por gostarmos de ajudar os colegas e a especialidade no geral. Contudo, ao longo dos anos, vai-se tornando mais exigente e esgotante, chegando a um ponto em que é requerido sangue novo para que se mantenha alguma dinâmica.
JN – Quantos obstetras serão sócios da SPOMMF?
ALA – Gostaríamos de chegar a todos, mas, nesta altura, temos cerca de um a dois terços dos obstetras na SPOMMF. Sendo a Ginecologia/Obstetrícia uma especialidade muito vasta, por vezes, torna-se difícil para os médicos integrarem todas as secções ou sociedades associadas.
JN – Qual é a importância de existir uma Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia?
ALA – É muito importante, precisamente porque a FSPOG abarca todas as sociedades e procura não só que os especialistas mantenham a diferenciação como continuem a ter uma visão global da Ginecologia/Obstetrícia.
JN – Como encara a criação da ULS de Coimbra, do ponto de vista obstétrico?
ALA – Pelo menos no âmbito da Obstetrícia, já existia uma boa integração de cuidados na região centro entre os centros de saúde e as maternidades Daniel de Ma-
tos e Bissaya Barreto. Havia uma divisão estabelecida que levava a que um conjunto de CS, desde Oliveira do Hospital até Anadia, drenasse para cada uma das maternidades. As equipas dos CSP tinham capacidade de fazer o seguimento das gravidezes de baixo risco e sabiam que em certas alturas deviam encaminhar as grávidas preferencialmente para determinada maternidade.
Aqui, havia a possibilidade de os CSP enviarem as grávidas pelo menos uma vez no primeiro, no segundo e no terceiro trimestres, o que habitualmente coincidia com a realização das ecografias obrigató-
rias. Existia, portanto, uma centralização de cuidados, quer a nível da realização de ecografias como de reavaliação do risco, e de agendamento de consultas de terceiro trimestre e de pré-parto.
JN – Essa articulação mantém-se?
ALA – Mantém-se porque sempre funcionou muito bem. Na Maternidade Daniel de Matos, pelo menos, cada CS estava inclusivamente adstrito a um médico. Assim, caso a equipa de determinado CS identificasse algum problema com uma grávida sabia a quem deveria dirigir-se. Os blocos de partos dos hospitais privados
“Os blocos de partos dos hospitais privados não prosperam em Coimbra porque os públicos dão uma boa resposta. Pode-se dizer que no SNS temos cuidados de país rico, sendo nós um país pobre.”
não têm procura aqui em Coimbra porque os públicos dão uma boa resposta. Pode-se dizer que no SNS temos cuidados de país rico, sendo nós um país pobre! É muito dispendioso ter uma sala de partos ou
uma secção de Neonatologia permanente e com uma boa performance. Seria necessário haver um volume considerável de utentes e de seguradoras dispostas a pagar para que esse investimento privado fosse economicamente rentável, o que não sucede porque o setor público cumpre bastante bem a sua função.
JN – Qual é a explicação que encontra para justificar tão boa articulação?
ALA – Penso que se deve ao facto de, tradicionalmente, o conjunto de especialistas de cada uma das duas maternidades sempre ter conseguido responder às solicitações
dos CSP, portanto, utentes e médicos ficam contentes.
Num futuro próximo, temo que tal possa não continuar a acontecer, dada a autêntica debandada geral a que estamos a assistir no SNS. Por outro lado, há muitos colegas a reformar-se e não têm sido contratados novos médicos. A breve trecho, tem de haver uma mudança, que está pendente da vontade política. Neste momento, nas duas maternidades de Coimbra, estamos a fazer o possível para garantir a prestação de cuidados, mas as solicitações são muitas e os profissionais cada vez menos.
A criação de uma união das sociedades de Obstetrícia e Ginecologia dos países de Língua portuguesa (usOG-pLp) foi anunciada por diogo Ayres de campos, presidente da FspOG, pouco tempo antes de ser reeleito presidente desta Federação. tomou posse dia 28 de janeiro, para cumprir mais um mandato de 3 anos.
Adecisão de criar uma entidade que agregue as sociedades científicas de Obstetrícia e Ginecologia dos países de Língua Portuguesa foi tomada em novembro de 2023, durante o 23.º Congresso Português de Obstetrícia e Ginecologia, que decorreu em Lisboa. Aliás, a Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia acolheu no evento representantes daquelas sociedades de Moçambique, Angola, Cabo Verde e Guiné-Bissau.
“Houve consenso em relação, nomeadamente, ao nome e aos objetivos desta nova entidade”, frisa Diogo Ayres de Campos. A formalização desta estrutura aconteceu em cerimónia que ocorreu a 24 de maio, no âmbito do 1.º webinar realizado por aquela estrutura e onde foram
abordados dois grandes temas: as emergências obstétricas e o cancro do colo uterino.
O 1.º Congresso da União das Sociedades de Obstetrícia e Ginecologia dos Países de Língua Portuguesa vai decorrer na cidade da Praia (Cabo Verde), entre 13 e 15 de fevereiro de 2025.
A USOG-PLP é, neste momento, uma das prioridades da FSPOG. Para Diogo Ayres de Campos, “com esta iniciativa conjunta, pretende-se aproximar as sociedades científicas destes países e também partilhar conhecimentos e experiência, tendo em vista a divulgação
Natural do Porto, onde nasceu em 1962, Diogo Ayres de Campos é professor catedrático da FMUL e integra a FSPOG desde a sua criação, em 2005. Começou por assumir as funções de tesoureiro, tendo sido depois secretário-geral, antes de ser eleito presidente, em janeiro de 2021. Também foi editor-chefe da Acta Obstétrica e Ginecológica Portuguesa, a revista da Federação.
Na Assembleia-Geral Eleitoral da FSPOG realizada a 28 de janeiro, em To-
mar, o ginecologista/obstetra da agora denominada ULS de Santa Maria foi reconduzido no cargo pelas cinco entidades sócias da FSPOG: a Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG), a Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal (SPOMMF), a Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução (SPMR), a Sociedade Portuguesa da Contracepção (SPDC) e a Associação Portuguesa de Diagnóstico Pré-Natal (APDPN).
Diogo Ayres de Campos:
“Pretende-se aproximar as sociedades científicas destes países e também partilhar conhecimentos e
científica e a melhoria da assistência às populações”.
Numa fase inicial, “não foi possível estabelecer contacto com os nossos colegas de São Tomé e Príncipe e de Timor Leste que, por esse motivo, não estive-
experiência.”
ram representados no nosso Congresso”, esclarece o presidente da FSPOG, acrescentando: “As sociedades científicas do Brasil, Angola e Moçambique estão bem organizadas, têm congressos anuais, mas nos outros países as estruturas são bem mais frágeis, e o propósito é contribuir
para que se tornem organizações mais consolidadas.”
“Nós convidámos estes colegas a vir a Lisboa, com o objetivo de estreitar os laços entre todos, e foi assim que surgiu a ideia
(Continuanapág.18)
(Continuaçãodapág.17)
conjunta de criar a União das Sociedades”, refere o especialista, em declarações à Just News.
uMA cOLAbOrAçãO MAis estreitA cOM O cOLéGiO dA especiALidAde
Outro dos grandes objetivos de Diogo Ayres de Campos para este seu 2.º mandato como presidente da FSPOG consiste em promover uma maior colaboração entre a Federação e o Colégio da Especialidade de Ginecologia e Obstetrícia da Ordem dos
Médicos, cujo presidente, José Manuel Furtado, esteve presente como convidado na Assembleia-Geral de Tomar.
“Estamos a trabalhar num memorando de entendimento com o Colégio relativamente a algumas das funções que são algo sobreponíveis com as da Federação. Criámos uma comissão conjunta para certificação dos cursos pós-graduados nacionais, que avalia o mérito das propostas recebidas e garante o reconhecimento mútuo destes cursos, pois, não é
necessário haver duplicação de tarefa”, revela Diogo Ayres de Campos.
Outra área em que é útil não haver sobreposição de tarefas prende-se com a elaboração de orientações clínicas nacionais, que podem ter origem nas sociedades científicas, no Colégio e também na Direção-Geral da Saúde. “O objetivo é que as três partes se envolvam de forma articulada e colaborativa na produção de orientações clínicas nacionais”, afirma o presidente da FSPOG.
Órgãos diretivos da FspOGs
Triénio 2024-2026
Presidente diogo Ayres de campos
Secretária-geral
teresa Almeida santos
Tesoureira cristina nogueira silva
Assembleia-Geral
daniel pereira da silva (presidente)
Ana Luís Areia (vogal)
Luísa pinto (vogal)
Conselho Fiscal
carla ramalho (presidente)
Ana rosa costa (vogal)
ricardo santos (vogal)
Formulação de Libertação Prolongada para a redução da oscilações hormonais melhorando a estabilidade do ciclo
Formulação de Libertação Prolongada para a redução da oscilações hormonais melhorando a estabilidade do ciclo
Libertação Prolongada
Mais Dienogest* para melhorar os benefícios antiandrogénicos e melhorar a adesão
Mais Dienogest* para melhorar os benefícios antiandrogénicos e melhorar a adesão
Regime 24/4 2mg Dienogest + 20 µg Etinilestradiol
Para as mulheres que preferem uma dose baixa de 20 µg Etinilestradiol
Nome: Kelzy 2 mg/0,02 mg comprimidos de libertação prolongada. Composição qualitativa e quantitativa: Comprimidos brancos de libertação prolongada: Cada comprimido contém 2 mg de dienogest e 0,02 mg de etinilestradiol. Comprimidos verdes placebo: O comprimido não contém substâncias ativas. Excipiente com efeito conhecido: Cada comprimido ativo branco de libertação prolongada contém 19 mg de lactose. Cada comprimido revestido por película de placebo verde contém 56 mg de lactose. Forma farmacêutica: Comprimidos de libertação prolongada. Indicações terapêuticas: Contraceção hormonal oral. A decisão de prescrever Kelzy deverá ter em consideração os fatores de risco atuais de cada mulher, particularmente aqueles para o tromboembolismo venoso (TEV), e a forma como o risco de TEV com Kelzy se compara com outros contracetivos hormonais combinados (CHCs). Posologia e modo de administração: Modo de administração: Via oral. Posologia: Os comprimidos devem ser tomados todos os dias, aproximadamente à mesma hora, se necessário com um pouco de líquido, pela ordem indicada no blister. A toma dos comprimidos é contínua. Um comprimido branco deve ser tomado diariamente durante 24 dias consecutivos, seguido de um comprimido verde durante 4 dias. Cada embalagem subsequente é iniciada no dia seguinte ao último comprimido da embalagem anterior. A hemorragia de privação começa normalmente no dia 2-3 após o início dos comprimidos verdes de placebo (última fila) e pode não ter terminado antes de se iniciar a embalagem seguinte. Informações adicionais para grupos especiais de doentes: População pediátrica Kelzy só é indicado após a menarca. Doentes idosos: Não aplicável. Kelzy não é indicado após a menopausa. Doentes com insuficiência hepática: Kelzy está contraindicado em mulheres com doenças hepáticas graves. Doentes com insuficiência renal: Kelzy não foi estudado especificamente em doentes com insuficiência renal. Os dados disponíveis não sugerem uma mudança no tratamento nesta população de doentes. Contraindicações: Caso alguma das condições listadas apareça pela primeira vez durante a utilização do CHC, o medicamento deve ser interrompido imediatamente. - Hipersensibilidade às substâncias ativas ou a qualquer um dos excipientes; - Presença ou risco de tromboembolismo venoso (TEV); - Tromboembolismo venoso - TEV atual (com anticoagulantes) ou antecedentes do mesmo [p. ex., trombose venosa profunda (TVP) ou embolia pulmonar (EP)]; - Predisposição hereditária ou adquirida conhecida para tromboembolismo venoso, tal como resistência à APC (incluindo Fator V de Leiden), deficiência de antitrombina-III, deficiência de proteína C, deficiência de proteína S; - Grande cirurgia com imobilização prolongada; - Um risco elevado de tromboembolismo venoso devido à presença de múltiplos fatores de risco; - Presença ou risco de tromboembolismo arterial (TEA); - Tromboembolismo arterial - tromboembolismo arterial atual, antecedentes de tromboembolismo arterial (p. ex., enfarte do miocárdio) ou situação prodromal (p. ex., angina de peito); - Doença cerebrovascular - acidente vascular cerebral atual, antecedentes de acidente vascular cerebral ou situação prodromal (p. ex., acidente isquémico transitório, AIT); - Predisposição hereditária ou adquirida conhecida para tromboembolismo arterial, tal como hiper-homocisteinemia e anticorpos antifosfolipídicos (anticorpos anticardiolipina, anticoagulante lúpico); - Antecedentes de enxaqueca com sintomas neurológicos - hipertensão grave; - dislipoproteinemia grave; - Presença ou antecedentes de doença hepática, enquanto os valores da função hepática não regressem ao normal; - Presença ou antecedentes de tumores hepáticos (benignos ou malignos); - Conhecimento ou suspeita de condições malignas ou de influência de esteroides sexuais (por exemplo, dos órgãos genitais ou dos seios); - Hemorragia vaginal não diagnosticada. Kelzy está contraindicado para utilização concomitante com medicamentos contendo ombitasvir/ paritaprevir/ ritonavir, dasabuvir, glecaprevir/ pibrentasvir e sofosbuvir/ velpatasvir/ voxilaprevir. Efeitos indesejáveis: Infeções e infestações: Frequente: infeção vaginal; Pouco frequente: Infeção trato urinário; Raro: Herpes genital, miringite. Neoplasias benignas malignas e não especificadas (incl quistos e pólipos): Raro: Fibroadenoma da mama. Doenças do sangue e do sistema linfático: Raro: Leucopénia. Doenças do sangue e do sistema linfático: Desconhecido: Exacerbação dos sintomas de angioedema hereditário e adquirido. Doenças endócrinas: Pouco frequente: Hipotiroidismo; Raro: Hipertiroidismo. Doenças do metabolismo e da nutrição: Pouco frequente: Perturbação do apetite, Hiperglicemia; Raro: Dislipidémia, Retenção de fluidos. Perturbações do foro psiquiátrico: Frequente: Perturbações da libido, Perturbações do humor; Pouco frequente: Ansiedade, Humor depressivo, Depressão, Perturbação mental, Perturbação de sono. Doenças do sistema nervoso: Frequente: Cefaleia; Pouco frequente: Enxaqueca, Tonturas; Raro: Disgeusia, Hipostesia, Parestesia. Afeções oculares: Raro: Prurido do olho, Insuficiência visual. Afeções do ouvido e do labirinto: Raro: Vertigens. Doenças cardíacas: Raro: Palpitações.
Nome: Kelzy 2 mg/0,02 mg comprimidos de libertação prolongada. Composição qualitativa e quantitativa: Comprimidos brancos de libertação prolongada: Cada comprimido contém 2 mg de dienogest e 0,02 mg de etinilestradiol. Comprimidos verdes placebo: O comprimido não contém substâncias com efeito conhecido: Cada comprimido ativo branco de libertação prolongada contém 19 mg de lactose. Cada comprimido revestido por película de placebo verde contém 56 mg de lactose. Forma farmacêutica: Comprimidos de libertação prolongada. Indicações terapêuticas: Contraceção hormonal de prescrever Kelzy deverá ter em consideração os fatores de risco atuais de cada mulher, particularmente aqueles para o tromboembolismo venoso (TEV), e a forma como o risco de TEV com Kelzy se compara com outros contracetivos hormonais combinados (CHCs). Posologia e modo de administração: administração: Via oral. Posologia: Os comprimidos devem ser tomados todos os dias, aproximadamente à mesma hora, se necessário com um pouco de líquido, pela ordem indicada no blister. A toma dos comprimidos é contínua. Um comprimido branco deve ser tomado diariamente durante 24 seguido de um comprimido verde durante 4 dias. Cada embalagem subsequente é iniciada no dia seguinte ao último comprimido da embalagem anterior. A hemorragia de privação começa normalmente no dia 2-3 após o início dos comprimidos verdes de placebo (última fila) e pode não ter terminado iniciar a embalagem seguinte. Informações adicionais para grupos especiais de doentes: População pediátrica Kelzy só é indicado após a menarca. Doentes idosos: Não aplicável. Kelzy não é indicado após a menopausa. Doentes com insuficiência hepática: Kelzy está contraindicado em mulheres com graves. Doentes com insuficiência renal: Kelzy não foi estudado especificamente em doentes com insuficiência renal. Os dados disponíveis não sugerem uma mudança no tratamento nesta população de doentes. Contraindicações: Caso alguma das condições listadas apareça pela primeira vez durante CHC, o medicamento deve ser interrompido imediatamente. - Hipersensibilidade às substâncias ativas ou a qualquer um dos excipientes; - Presença ou risco de tromboembolismo venoso (TEV); - Tromboembolismo venoso - TEV atual (com anticoagulantes) ou antecedentes do mesmo [p. ex., trombose (TVP) ou embolia pulmonar (EP)]; - Predisposição hereditária ou adquirida conhecida para tromboembolismo venoso, tal como resistência à APC (incluindo Fator V de Leiden), deficiência de antitrombina-III, deficiência de proteína C, deficiência de proteína S; - Grande cirurgia com imobilização prolongada; elevado de tromboembolismo venoso devido à presença de múltiplos fatores de risco; - Presença ou risco de tromboembolismo arterial (TEA); - Tromboembolismo arterial - tromboembolismo arterial atual, antecedentes de tromboembolismo arterial (p. ex., enfarte do miocárdio) ou situação prodromal de peito); - Doença cerebrovascular - acidente vascular cerebral atual, antecedentes de acidente vascular cerebral ou situação prodromal (p. ex., acidente isquémico transitório, AIT); - Predisposição hereditária ou adquirida conhecida para tromboembolismo arterial, tal como hiper-homocisteinemia antifosfolipídicos (anticorpos anticardiolipina, anticoagulante lúpico); - Antecedentes de enxaqueca com sintomas neurológicos focais; - Um risco elevado de tromboembolismo arterial devido a múltiplos fatores de risco ou à presença de um fator de risco grave, tal como: - diabetes mellitus com sintomas - hipertensão grave; - dislipoproteinemia grave; - Presença ou antecedentes de doença hepática, enquanto os valores da função hepática não regressem ao normal; - Presença ou antecedentes de tumores hepáticos (benignos ou malignos); - Conhecimento ou suspeita de condições malignas ou esteroides sexuais (por exemplo, dos órgãos genitais ou dos seios); - Hemorragia vaginal não diagnosticada. Kelzy está contraindicado para utilização concomitante com medicamentos contendo ombitasvir/ paritaprevir/ ritonavir, dasabuvir, glecaprevir/ pibrentasvir e sofosbuvir/ velpatasvir/ voxilaprevir. indesejáveis: Infeções e infestações: Frequente: infeção vaginal; Pouco frequente: Infeção trato urinário; Raro: Herpes genital, miringite. Neoplasias benignas malignas e não especificadas (incl quistos e pólipos): Raro: Fibroadenoma da mama. Doenças do sangue e do sistema linfático: Raro: Leucopénia. sangue e do sistema linfático: Desconhecido: Exacerbação dos sintomas de angioedema hereditário e adquirido. Doenças endócrinas: Pouco frequente: Hipotiroidismo; Raro: Hipertiroidismo. Doenças do metabolismo e da nutrição: Pouco frequente: Perturbação do apetite, Hiperglicemia; Raro: Dislipidémia, de fluidos. Perturbações do foro psiquiátrico: Frequente: Perturbações da libido, Perturbações do humor; Pouco frequente: Ansiedade, Humor depressivo, Depressão, Perturbação mental, Perturbação de sono. Doenças do sistema nervoso: Frequente: Cefaleia; Pouco frequente: Enxaqueca, Tonturas; Hipostesia, Parestesia. Afeções oculares: Raro: Prurido do olho, Insuficiência visual. Afeções do ouvido e do labirinto: Raro: Vertigens. Doenças cardíacas: Raro: Palpitações. Vasculopatias: Pouco frequente: Hipertensão, Eventos trombóticos; Raro: Flutuação da tensão arterial, Hematoma, Rubor quente, Variz. Doenças respiratórias, torácicas e do mediastino: Raro: Epistaxe. Doenças gastrointestinais: Frequente: Náusea, Dor abdominal; Pouco frequente: Vómitos, Diarreia, Flatulência, Distensão abdominal; Raro: Obstipação, Dispepsia, Doença de refluxo gastroesofágico, Hiperestesia dos tecidos dentários. tecidos cutâneos e subcutâneos: Frequente: Acne; Pouco frequente: Alopecia, Prurido, Dermatite, Hiperidrose, Erupção cutânea; Raro: Cloasma, Pele seca, Anomalia da pele, Urticária. Afeções musculosqueléticas e dos tecidos conjuntivos: Pouco
No final da conferência inaugural da 202.ª Reunião da SPG, organizada pela Secção Portuguesa de Uroginecologia (SPUG) e centrada no tema “Subespecialidade finalmente?”, o presidente do Colégio da Especialidade de Ginecologia/Obstetrícia da OM usou da palavra para firmar o compromisso da Direção do Colégio de criar a subespecialidade de Ginecologia Urológica. O evento decorreu nos dias 12 e 13 de janeiro, em Cascais, tendo ultrapassado os 200 participantes.
“Não tenho dúvidas de que, com o apoio e a motivação que testemunhei aqui hoje, rapidamente conseguiremos levar o projeto ao Conselho Nacional”, garantiu José Manuel Furtado. Referiu mesmo que “não faz sentido que esta subespecialidade não seja criada, quando se trata de uma área tão específica da Ginecologia/ /Obstetrícia e que tem tantos profissionais dedicados”.
José Manuel Furtado: “Não faz sentido que esta subespecialidade não seja criada.”
Correspondendo este assunto a um dos compromissos que constavam da candidatura da lista que encabeçou e que já
estava a ser trabalhado há alguns anos, o responsável reiterou a sua disponibilidade para avançar com o processo, após a alteração a um regulamento, que passa a centralizar neste Colégio da Especialidade a decisão:
“Neste momento, temos condições para rapidamente apresentarmos e regulamen-
tarmos o trabalho que está feito. Os critérios de admissão estão todos plasmados e a fundamentação também foi apresentada. É preciso formar a comissão instaladora de três elementos, o que é muito fácil, pelo que vejo o processo de apresentação ao Conselho Nacional como um mero pró-forma.”
José Manuel Furtado assume que esta é uma luta que o move também enquanto diretor de um Serviço em que, diariamente, sente esta necessidade, em virtude do crescente número de doentes.
“Esta talvez seja a área ou, pelo menos, uma das principais áreas da especialidade com mais doentes, em que a diferenciação é cada vez maior, e custa não a ver ainda reconhecida como subespecialidade”, lamentou o médico, que dirige o Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Senhora da Oliveira, em Guimarães. Estas declarações de José Manuel Furtado foram proferidas após a conferência de Bercina Candoso, presidente da SPUG, que
apresentou o Regulamento n.º 951/2022 e as respetivas alterações trazidas ao Regulamento Geral dos Colégios de Especialidades e de Competências e das Secções de Subespecialidades da OM, que datava de julho de 2016.
“O cOntributO técnicO dA secçãO pOrtuGuesA de urOGinecOLOGiA é iMpOrtAntíssiMO”
Fernanda Águas, que foi presidente da SPG entre 2013 e 2018, período durante o qual seria iniciado este trabalho para a criação da subespecialidade, foi responsável por introduzir e fechar a conferência, não dei-
Bercina Candoso: “Há finalmente condições para criar a subespecialidade”
Bercina Candoso, que é responsável pela Unidade de Uroginecologia e Pavimento Pélvico do Cento Materno-Infantil do Norte, adianta que o assunto vem sendo discutido há mais de 10 anos, desde 2012, então com a SPUG sob a presidência de Liana Negrão, na sequência da tentativa de implementar a formação em Uroginecologia. Em 2018, quando se tornou presidente desta Secção, Bercina Candoso não desistiu do objetivo e, em outubro de 2022, com a publicação do Regulamento n.º 951/2022 da OM, que trouxe alterações ao Regulamento Geral dos Colégios de Especialidades e de Competências e das Secções de Subespecialidades, que datava de julho de 2016, a subespecialidade passou a ser entendida como um “título que reconhece uma diferenciação numa área particular de uma especialidade a membros do respetivo Colégio”. Adicionalmente, “a criação de secção de subespecialidade é proposta pela direção do colégio da especialidade que a pretenda ao Conselho Nacional” e “no âmbito de um único colégio de especialidade”. Isto é, “será apenas o Colégio de Gin./Obst. a pronunciar-se sobre o assunto”, especifica. Atualmente, em Portugal, haverá “umas largas dezenas de ginecologistas dedicados a esta área, que poderão concorrer ao
xando de lembrar a “importância desta área de diferenciação, de que cada vez mais população tem vindo a precisar”. Um ano após a publicação do Regulamento que vem trazer uma grande esperança aos especialistas que se dedicam à Uroginecologia, Fernanda Águas acredita que este passo possa finalmente ser dado: “O Colégio sempre esteve muito empenhado nesta questão, bem como os diferentes órgãos
título tal como já sucede em países como EUA, Itália, Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia”.
Dado tratar-se de uma lista conjunta com a que concorrer à eleição dos membros do Colégio da Especialidade de Gin./ /Obst., Bercina Candoso espera que, nas próximas eleições seja possível eleger a Direção do Colégio da Subespecialidade de Uroginecologia da OM. Considera, aliás, que “há, finalmente, todas as condições para a criar”, juntando-se, assim, à Ginecologia Oncológica, à Medicina da Reprodução e à Medicina Materno-Fetal.
sociais da SPG, nomeadamente a SPU. E, após um ano muito complicado no que respeita aos cuidados ginecológicos e obstétricos, a presença do atual presidente do Colégio nesta conferência demonstra a vontade de que este projeto vá avante.”
Lembrou ainda que, para o sucesso deste projeto, “o contributo técnico da SPUG é importantíssimo, pois, sem ele, o Colégio não consegue levar o projeto para diante”.
O curso de iniciação à especialidade de Ginecologia e Obstetrícia (iGO) repetiu, em 2024, o que já vem sendo tradição: chamar todos os internos do 1.º ano da especialidade a participar. esta edição decorreu de 29 de janeiro a 2 de fevereiro, na escola de Medicina da universidade do Minho.
“Edição após edição, temos contado com a presença de todos os internos que entram na especialidade nesse ano”, garante, com orgulho, Cristina Nogueira Silva, coordenadora da Comissão Organizadora. Esta integra mais quatro colegas (Alexandra Miranda, Pedro Brandão, Vanessa Silva e Vera Trocado) e seis coordenadores de dia (Maria João Carvalho, Miguel Branco, Nuno Nogueira Martins, Ricardo Santos, Rui Miguelote e Susana Santo).
Este ano, a participação foi novamente total. Apesar de, em janeiro de 2024, terem ingressado 67 médicos na especialidade de Ginecologia/Obstetrícia, um deles não se apresentou no Serviço, pelo que, “nesta 5.ª edição, participaram no Curso os 66 internos do 1.º ano, de 32 instituições diferentes, todas elas, obviamente, com idoneidade formativa”.
Apesar de não ter carácter obrigatório, trata-se de “um curso de frequência fortemente recomendada pelo Colégio da Especialidade, que os próprios internos reconhecem ser extremamente importante para a sua formação”.
A edição de 2024 juntou, ao longo de cinco dias, 81 formadores, de 37 afiliações nacionais, cumprindo o propósito primordial do evento, “fornecer bases teóricas e prá-
ticas aos colegas a iniciar a sua formação, consistindo num curso intensivo em que se abordam aspetos úteis para o início do seu percurso profissional”.
O iGO é uma ação formativa promovida pela Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia (FSPOG), que Cristina Nogueira Silva define como “uma iniciativa única em que a Ginecologia e Obstetrícia portuguesa se congrega para receber, de forma didática e pragmática, os seus internos do 1.º ano”.
tardes. São ainda disponibilizadas numa drive duas ferramentas de trabalho muito úteis para a prática clínica diária – cábulas e vídeos do dia.
O iGO é uma ação formativa promovida pela FSPOG, que recebe, de forma didática e pragmática, os internos do 1.º ano de Ginecologia e Obstetrícia.
AtividAdes de siMuLAçãO e FerrAMentAs de trAbALHO úteis à práticA cLínicA diáriA
Com uma componente teórica realizada habitualmente durante a parte da manhã, a componente prática fica reservada para as
Cristina Nogueira Silva, que é especialista da ULS de Braga, explica à Just News que as cábulas traduzem-se num “conjunto de anotações a que os internos devem ter rápido acesso, com mensagens importantes, relativas a temáticas como as dos contracetivos orais disponíveis em Portugal ou os critérios ecográficos de gravidez não evolutiva”. Já os vídeos correspondem a “um leque de técnicas nas quais terão de desenvolver
competência, como a colocação e remoção de um dispositivo intrauterino ou implante contracetivo, ou a realização de um nó cirúrgico manual”.
O programa do Curso está organizado por temas, contemplando um dia para cada grande área − Ginecologia Base, Obstetrícia Base, Técnicas em Ginecologia e Obstetrícia, e Urgência. De forma inédita, este ano, a parte prática do dia dedicado à Urgência em Ginecologia foi realizada com recurso à simulação com pacientes estandardizados, ou seja, mulheres treinadas para serem pacientes com histórias clínicas pré-definidas.
“Enquanto uns internos colhiam a história clínica, como se estivessem em ambiente de consulta de urgência, os colegas assistiam, na sala de controlo, à transmissão da consulta e avaliavam as competências de comunicação e de colheita de história, realizando-se no final um momento de debriefing”, descreve Cristina Nogueira Silva.
Acrescenta que decidiram avançar para esta dinâmica por corresponder ao modelo de exame prático que os internos terão de realizar no futuro, aquando da avaliação final da especialidade. Nesse sentido, “é muito
bom se puderem ter, desde o início, uma experiência de treino deste tipo”.
Tal como sucede habitualmente, o Curso terminou com um Módulo Final, onde está incluída a avaliação dos conhecimentos adquiridos ao longo da semana.
A reALizAçãO nO tiMinG certO “pArA dOtAr Os internOs de cOMpetênciAs que se entendeM essenciAis”
Organizado pela primeira vez em 2020, cerca de um mês antes do surgimento da pandemia de covid-19 em Portugal, só em 2021 é que foi realizado em formato digital, tendo sido posteriormente recuperada a configuração presencial.
Este curso é realizado tradicionalmente no início do primeiro ano – explica Cristina Nogueira Silva – “para dotar, desde cedo, os internos de competências que se entendem essenciais para quem chega a esta especialidade”.
A transição de janeiro para fevereiro é o período que consideram mais adequado, de forma a permitir que, durante as primeiras semanas do ano, “os internos possam estar nos seus serviços, conhecer os colegas e compreender as necessidades de estudo e de competências a adquirir”.
O apoio científico da FSPOG estende-se ainda ao aspeto económico, assegurando, com o patrocínio da indústria, a cobertura de grande parte do valor das despesas associadas, permitindo um valor de inscrição no evento mais atrativo e aceitável para os internos.
Também a Escola de Medicina da Universidade do Minho, na sua missão de formação pré e pós-graduada, apoia fortemente este evento, cedendo todos os espaços e simuladores de forma gratuita. O Curso conta ainda com o apoio científico do Colégio da Especialidade de Ginecologia/Obstetrícia da Ordem dos Médicos e da PONTOG-Portuguese Network of Trainees in Obstetrics and Gynaecology.
pedro Xavier foi o protagonista da cerimónia de abertura, com uma intervenção em que procurou fazer um balanço dos dois mandatos que agora chegam ao fim.
A acompanhá-lo neste momento estiveram os membros da sua Direção, a seu lado na foto, por esta ordem: Ana sousa, Joana
Mesquita Guimarães, Luís
Ferreira vicente, Margarida silvestre, ricardo santos e José teixeira da silva.
“O ponto mais alto destes seis anos desse contacto permanente que tivemos com a sociedade civil foi a campanha ‘Dá vida à Esperança’, que abriu as janelas mediáticas, e o impacto foi muito significativo.”
“Já distribuímos 30 mil euros em prémios a grupos de investigação, quer na área clínica, quer na de laboratório, o que é muito significativo. Este ano, criámos bolsas científicas para a participação no Congresso.”
“Sentimos que a Secção de Enfermagem era uma peça que estava em falta e que felizmente se concretizou. Queremos muito que os profissionais de Enfermagem se envolvam na vida da Sociedade.”
“Participámos numa reunião para a criação de uma federação, que esperamos que possa ser aprovada na próxima Assembleia-Geral. É uma federação que reúne a SPMR, a Sociedade Espanhola de Fertilidade e a Associação LatinoAmericana de Reprodução. Criar laços de intercâmbio com os países de língua espanhola e portuguesa pode ser de grande interesse.”
“Chegámos aqui com 340 inscrições. Começámos no Porto, em 2019, com 200. Temos tido palestrantes de craveira internacional reconhecidos por todos. Mas é dentro da Sociedade que eu acho que está a riqueza. É aqui publicamente que quero agradecer a todos quantos ao longo destes seis anos, sem nunca hesitar, colaboraram connosco, vieram palestrar, dizer o que lhes ia na alma em termos de ciência. A Sociedade somos nós todos e é exatamente desse espírito que ela deve continuar a sobreviver.”
Veja mais fotos do Congresso aqui
Na véspera do início de mais um Congresso da SPMR, realizou-se anteontem em Albufeira um Curso Prático Avançado em Medicina da Reprodução, promovido pela Gedeon. As sessões de simulação e a discussão de casos clínicos contaram com a participação de especialistas em fisiopatologia da reprodução e técnicas de PMA. Os inscritos no curso tiveram à sua disposição os simuladores PickUpSim e TransferSim. cUrso
seis anos depois de ter abraçado a presidência da spMr, pedro Xavier acredita que a Medicina da reprodução começa a ganhar protagonismo junto do poder político e da sociedade civil.Apesar de começarem a ser implementados modelos que visam melhorar a acessibilidade dos cidadãos à pMA, o médico alerta para a longa demora que ainda se faz sentir no acesso ao banco público de Gâmetas, numa altura em que, em portugal, o número de tratamentos com recurso a gâmetas doados já ultrapassa os 30% do total de tratamentos efetuados.
nota: esta entrevista a pedro Xavier, ainda na sua qualidade de presidente da spMr, foi publicada no Jornal do 9.º Congresso Português de Medicina da Reprodução, a 10 de maio 2024.
Just News (JN) – Após um percurso de seis anos, equivalente a dois mandatos, a presidir à SPMR, o balanço é positivo?
Pedro Xavier (PX) – Sim, foi uma experiência trabalhosa e de grande responsabilidade, mas, ao mesmo tempo, muito gratificante, por sentir que eu e os meus colegas da Direção estávamos a contribuir para a divulgação e o avanço científicos, não apenas junto dos profissionais da área da PMA e da Medicina da Reprodução, em geral, mas também da população.
Através de algumas iniciativas, conseguimos levar informação ao público sobre aquilo que é a infertilidade e as suas modalidades de tratamento. Acredito que foi possível concretizar alguns dos objetivos a que nos tínhamos proposto no início do mandato, nomeadamente o de abrir a SPMR à sociedade civil.
Outro dos grandes desafios foi a organização dos eventos científicos, que é bastante complexa, porque requer não apenas a conceção dos programas mas também toda
a logística e dinâmica associadas à elaboração de convites a moderadores e palestrantes, muitos deles estrangeiros, de craveira reconhecida. Foi gratificante perceber que estavam interessados e empenhados em vir a Portugal fazer as suas palestras.
JN – A sensibilização das altas entidades dirigentes para a Medicina da Reprodução era outra das grandes metas que tinham?
PX – Sim, desde cedo pensámos que seria relevante intermediar a voz dos profissionais da área da PMA junto dos decisores do Estado, nomeadamente dos responsáveis do Governo que tutelam a Saúde e, particularmente, a área da Medicina da Reprodução. Tivemos lugar em mais do que uma sessão da Comissão Parlamentar de Saúde, na Assembleia da República, onde fomos ouvidos pelos deputados relativamente a muitos dos aspetos que achávamos importantes, no sentido de alertar para as dificuldades da área da PMA, nomeadamente no setor público.
Foi interessante perceber que, através dos meios de comunicação social, conseguimos fazer chegar as nossas mensagens junto do poder político e que, a certa altura, os deputados sentiram necessidade de ouvir a SPMR!
JN – Se tivesse de indicar o maior feito da sua Direção, qual seria?
PX – Diria que temos dois polos e que os colocaria lado a lado. Um respeita à campanha “Dá vida à Esperança”, que realizámos para promover a doação de ovócitos e de espermatozoides. Foi muito bem conseguida porque contou com uma adesão muito significativa por parte dos nossos cidadãos e, sobretudo, dos jovens, que são a população alvo. Os resultados foram muito positivos e
dificuldade de funcionamento do Banco Público de
gratificantes, embora, infelizmente, grande parte das dádivas tenha acabado por cair no setor privado, por dificuldades do setor público em captar esses candidatos a dadores. Por outro lado, sentimos que a qualidade dos eventos científicos, nomeadamente dos congressos que organizámos, esteve bastante elevada, o que foi importante para nós, porque era um dos objetivos a que nos tínhamos proposto.
JN – Quais foram os maiores desafios?
PX – O período da pandemia foi muito difícil para todos e também para a área da PMA, em que os centros tiveram de suspender toda a sua atividade e os casais e as mulheres viram os seus tratamentos interrompidos. Muitos deles enfrentaram situações dramáticas,
que, a meu ver, é
ao não poderem concretizar os tratamentos por fatores alheios à sua vontade, nomeadamente pelo facto de a idade ultrapassar os limites legais. Felizmente, foi possível sensibilizar o Ministério da Saúde para o alargamento desses prazos durante o período pós-pandemia, para dar resposta a muitos desses tratamentos que ficaram suspensos. Na altura, assumimos também um papel importante na articulação de algumas medidas que os centros tiveram de adotar. Redigimos um consentimento informado dirigido aos beneficiários relativo aos riscos da covid-19 para os tratamentos de PMA e para a gravidez. Este documento foi adotado por muitos centros aquando da retoma da atividade.
Sentimos que foram seis anos muito preenchidos, de grandes desafios. Demos o nosso contributo e sentimo-nos realizados. Claro que há muitas coisas que gostávamos de ter feito e que não foram possíveis, mas estamos com muita expectativa de que a nova Direção possa dar continuidade a muitos dos projetos que temos na área da PMA e que são realmente importantes para todos.
dOtAr Os centrOs de uM núMerO de prOFissiOnAis e equipAMentOs prOpOrciOnAL AO vOLuMe de trAtAMentOs prOpOstOs
JN – Aos dias de hoje, o investimento público na Medicina da Reprodução ainda é deficitário e as assimetrias entre o serviço prestado nos setores público e privado ainda são muito evidentes?
PX – Sentimos que, finalmente, a Tutela e os vários responsáveis, até de áreas políticas diferentes, começam a olhar para o problema da infertilidade com mais atenção. Deixou de ser um assunto que só era falado quando nós ou outras organizações, como
o Conselho Nacional de PMA ou a Associação Portuguesa de Fertilidade, chamávamos a atenção para as dificuldades. Hoje, nota-se alguma preocupação no sentido de dotar os centros públicos de certos meios e modelos de funcionamento, implementados há pouco tempo no norte do país, que podem vir a melhorar, no futuro, a acessibilidade dos casais e das mulheres à PMA. É visível alguma movimentação neste campo, mas, na prática, ainda não se traduz na melhoria da resposta, nomeadamente, das listas de espera, que continuam a ser muito altas. Aquela que mais nos preocupa refere-se à doação de gâmetas, em que continuamos a ter tempos de espera superiores a três anos, por dificuldade de funcionamento do Banco Público de Gâmetas, que, a meu ver, é alheia aos próprios centros, nomeadamente, à estrutura do BPG.
Penso que os diretores dos centros e do BPG fazem um esforço muito grande para manter a atividade da PMA no SNS, no entanto, não há milagres! A dificuldade tem sobretudo a ver com a falta de meios que ainda existe. Vamos ter de continuar atentos e a fazer sentir a nossa preocupação junto dos responsáveis.
Aceda à totalidade da entrevista (com o seu título original) e ao próprio Jornal do congresso clicando na capa.
Luís Ferreira vicente, candidato a presidente da sociedade portuguesa de Medicina da reprodução
para o presidente da lista candidata à próxima direção da spMr, é nítido que, hoje em dia, a Mr vai muito além dos tratamentos de infertilidade, oferecendo a possibilidade de responder a novas realidades, até sociais. contudo, realça a preocupação que a spMr deve continuar a ter no sentido de sensibilizar a sociedade civil e o poder político para a importância de promover a gravidez em idades mais jovens e alertar para os fatores que podem comprometer a fertilidade.
nota: esta entrevista a Luís Ferreira vicente, ainda na sua qualidade de candidato a presidente da spMr, foi publicada no Jornal do 9.º Congresso Português de Medicina da Reprodução, a 10 de maio 2024.
Apossibilidade de oferecer uma gravidez a mulheres solteiras ou a casais de mulheres, através da realização de tratamentos com doação de gâmetas, bem como de proceder ao diagnóstico pré-implantação, no caso dos casais que tenham doenças genéticas ou cromossómicas, transferindo apenas os embriões que não serão portadores de doença, são exemplos apontados por Luís
Ferreira Vicente, que provam como a MR já não se restringe apenas ao tratamento da infertilidade convencional.
“Há um conjunto de situações às quais conseguimos dar resposta, através da possibilidade de preservação da fertilidade, quer masculina, quer feminina”, adianta. No caso da mulher, tal significa que, “futuramente, apesar de a sua fertilidade vir a estar mais reduzida, a probabilidade de engravidar é relativa à idade em que foi feita a colheita e a criopreservação dos ovócitos”.
Por esse motivo, o médico, que coordena o Centro de Procriação Medicamente Assistida do Hospital Lusíadas Lisboa desde
fevereiro de 2022, não tem dúvidas em afirmar que, “neste momento, a MR não está limitada aos tratamentos de infertilidade, oferecendo a possibilidade de ultrapassar diversos problemas”.
Contudo, apesar de a MR poder “representar uma solução”, distingue o papel que a SPMR tem em “insistir junto dos decisores políticos para a tomada de medidas que facilitem a gravidez em idades mais jovens”. No fundo, “socialmente, temos a preocupação de sensibilizar as pessoas para a importância de tentarem a gravidez, idealmente, antes dos 35 anos, e quanto aos fatores que possam comprometer a fertilidade”.
Luís Ferreira Vicente: “Eu não conseguiria desempenhar a minha atividade se não tivesse o apoio de um Laboratório de Embriologia, que é o coração de um Centro de PMA.”
Paralelamente, pelo facto de ser uma área de investimento cada vez mais atrativa, Luís Ferreira Vicente adianta que “começa a existir, a nível mundial, uma pressão para aumentar a produção médica e de tratamentos, para a qual os profissionais devem estar alerta”. Nesse enquadramento, “a SPMR pode encorajar um patamar ético, deontológico e de trabalho de acordo com a legis artis, que caracteriza todos os médicos portugueses que trabalham nesta área.
unir tOdOs Os prOFissiOnAis envOLvidOs nO prOcessO
Para Luís Ferreira Vicente, a possibilidade de vir a representar a SPMR “é uma honra
eprodução (spMr):
acordo com a legis artis, que caracteriza todos os médicos portugueses que
muito grande, pelas direções precedentes e pela equipa extraordinária formada, que tem um enorme potencial para fazer um bom trabalho”. Neste âmbito, defende a importância de “transmitir a pasta da essência da SPMR aos novos elementos e de continuar a mantê-la viva, não quebrando a cadeia, mas perpetuando-a e tornando-a mais forte”.
Valorizando a ampla comunidade de profissionais que trabalham em MR, o candidato a presidente da SPMR afirma que uma das preocupações tidas pelas direções anteriores e que será mantida é a da organização de programas científicos aliciantes para todos.
“É fundamental envolvermos todos os profissionais na discussão dos temas, tal como estamos no dia-a-dia envolvidos nos nossos centros. Os centros de PMA não funcionam se os profissionais não trabalharem em equipa. Eu não conseguiria desempenhar a minha atividade se não tivesse o apoio de um Laboratório de Embriologia, que é o coração de um Centro de PMA”, salienta.
“Nesta área, todos os profissionais são
essenciais e formam uma equipa multidisciplinar envolvida na prestação de cuidados – médicos, enfermeiros, embriologistas e psicólogos – e a SPMR reflete isso mesmo”, remata.
triénio 2024-2027
DIREçãO
Presidente
Luís Ferreira Vicente (Sul)
Secretária-geral
Margarida Silvestre (Centro)
Vice-presidente
Ana Aguiar (Sul)
Vice-presidente
Sérgio Reis Soares (Sul)
Vogal
Ricardo Santos (Norte)
Vogal
Rui Miguelote (Norte)
Tesoureira
Ana Sousa Ramos (Sul)
MESA DA ASSEMBLEIA-GERAL
Presidente
Joana Mesquita Guimarães (Norte)
Vice-presidente
Ana Paula Soares (Sul)
Secretária
Mariana Veloso Martins (Norte)
CONSELHO FISCAL
Presidente
Joaquim Nunes (Sul)
Vogal
Graça Pinto (Sul)
Vogal
Daniela Couto (Centro)
inFOrMAçãO
AProcare Health é uma empresa farmacêutica conhecida pelo seu empenho na investigação, desenvolvimento e disponibilização de opções terapêuticas na área da sua especialidade, a Saúde da Mulher.
Dispomos, atualmente, de um vasto portefólio de produtos, todos de base natural ou síntese não química, que dá resposta a diversas patologias nas várias fases da vida da mulher. Num contínuo processo de estudo e investigação, dispomos de um vasto pipeline de novos produtos, o que nos permite assegurar, anualmente, a colocação no mercado de tratamentos inovadores ao longo dos próximos 5 anos.
A nossa pegada é hoje extremamente vasta. Em 2012, um dos objetivos estratégicos iniciais da companhia prendia-se com o seu processo de globalização. Doze anos depois do início de atividade, estamos já presentes em mais de 70 países de vários continentes.
A concretização da gravidez pode ser dificultada por outros motivos, nomeadamente em consequência da síndrome do ovário poliquístico, cuja prevalência é mais elevada do que seria desejável.
A verdade é que o projeto de constituir família, porventura o mais importante que possamos ter na vida, tende a ser sucessivamente adiado para mais tarde.
A resposta da Procare Health a esta questão foi o desenvolvimento de um produto com uma complexa e completa formulação. Este demonstrou, em estudos clínicos publicados em revistas tão relevantes como a Gynecological Endocrinology, em 2019 e 2020, uma melhoria significativa da qualidade ovocitária, ao identificar uma relação na dosagem de dois inositóis – que comparou diretamente com a conhecida relação fisiológica destas substâncias na proporção fisiológica –, complementados com um vasto conjunto de suplementos essenciais para uma melhor resposta a uma gravidez.
Doze anos depois do início de atividade, estamos já presentes em mais de 70 países de vários continentes.
Podemos hoje af irmar, com orgulho, que existe já uma comunidade de bebés que nasceram com a ajuda da Ciência e do Conhecimento da Procare Health.
Uma das áreas em que atuamos é a da Fertilidade e, especialmente por isso, não podíamos ter deixado de estar presentes no 9.º Congresso Português de Medicina da Reprodução, realizado no passado mês de maio, em Albufeira.
Como sempre acontece nos maiores eventos desta especialidade a nível nacional e internacional, também nos associamos à 32.ª edição do COGI - World Congress on Controversies in Obstetrics, Gynecology & Infertility, a decorrer em Lisboa, em novembro, com a Procare Health expondo as soluções que desenvolveu para o problema das alterações da fertilidade na mulher.
Estes produtos procuram dar resposta a casos de subfertilidade, ou seja, a situações em que existe dificuldade em engravidar de modo natural.
Sabemos que a idade média de uma primeira gravidez acontece cada vez mais tarde. Na Europa, não andamos longe de um primeiro filho perto dos 35 anos de idade. Ora, isso não significa que uma mulher com esta idade esteja velha, mas que a qualidade dos seus ovócitos é diferente do que se verificava aos 20 anos.
Há diversos fatores que condicionam uma gravidez com sucesso, como o stress e o ritmo de vida acelerado em que vivemos atualmente, ou as dificuldades que os jovens enfrentam em construir uma solidez financeira que lhes permita ter um filho.
Sendo estudos de comparação direta, as conclusões foram de enorme evidência em diversos parâmetros, nomeadamente no número aumentado de gravidezes ou de nascimentos com sucesso.
Por outro lado, procurámos identificar uma terapêutica coadjuvante que contribuísse para concretizar um maior número de processos de procriação medicamente assistida com recurso a técnicas como a fertilização in vitro
Deste modo, dispomos de um conjunto de suplementos que são fundamentais para aumentar as probabilidades da mulher ter sucesso quando submetida a um processo de implantação.
Seja na sequência de uma gravidez natural, ou de uma gravidez assistida, podemos hoje afirmar, com orgulho, que existe já uma comunidade de bebés que nasceram com a ajuda da Ciência e do Conhecimento da Procare Health. Obviamente, em estreita ligação com os especialistas que ajudam a realizar um dos maiores sonhos de uma vida, o nascimento de uma criança.
Projetos para o futuro? Aumentar a evidência clínica dos nossos produtos, a matéria-prima que permite construir uma decisão terapêutica, e continuar a preencher lacunas que neste âmbito ainda existem ou contribuindo para melhorar as opções disponíveis.
inFOrMAçãO
d urante o 9.º c ongresso português de Medicina da r eprodução, que decorreu em Albufeira, entre 9 e 11 de maio, organizado pela s ociedade portuguesa de Medicina da r eprodução, a Gedeon r ichter promoveu um simpósio dedicado ao valor da segurança, enquanto prioridade fundamental nas tecnologias de reprodução assistida. A sessão, que foi dinamizada por Giovanni c oticchio, chief scientific officer da rede de clínicas de fertilidade 9.baby, sediada em b olonha, incluiu intervenções de quatro especialistas estrangeiros: c hristophe b lockeel, p ietro s antulli, Alison c ampbell e Anja p inborg.
Focado na importância de reduzir os riscos associados à fertilização in vitro (FIV), Christophe Blockeel, diretor médico do Centro de Medicina Reprodutiva do Hospital Universitário de Bruxelas, sublinhou que uma das formas de limitar eventos adversos e melhorar a experiência das doentes passa por intervir na fase crucial da estimulação ovárica: “A estimulação ovárica é um passo fundamen-
tal no processo de procriação medicamente assistida, contudo, importa fazê-lo de forma adequada, porque temos hoje à nossa disposição medidas preventivas que podemos usar como ferramentas para evitar situações de síndrome de hiperestimulação ovárica (SHO).”
Christophe Blockeel: “A FIV é segura e existem dados que nos mostram como é possível aumentar essa segurança, estando nas nossas mãos incrementar a mesma.”
O especialista belga recordou que uma revisão sistemática publicada em 2020 (Ioannidou PG et al, How frequent is severe ovarian hyperstimulation syndrome after GnRH agonist triggering in high-risk women? A systematic review and meta-analysis. Reprod Biomed Online. 2021 Mar;42(3):635-650) mostrou que “quando o trigger da maturação ovocitária é com um agonista da hormona libertadora de gonadotrofina (agonista da GnRH) praticamente
não se observam casos de SHO em mulheres de alto risco”.
As escolhas em torno da estimulação e da colheita também podem influenciar o risco de SHO e de eventos tromboembólicos e, segundo Christophe Blockeel, dados do registo nacional sueco de reprodução assistida e referentes a uma coorte de 100 mil ciclos suportam a evidência de que “o número de nados vivos estabiliza a partir dos 20 ovócitos colhidos e que a ocorrência de casos de SHO aumenta drasticamente acima dos 18 ovócitos colhidos, sendo observados alguns casos de eventos tromboembólicos, ainda que raros, quando são colhidos mais de 15 ovócitos”.
Em termos gerais, “a FIV é segura e existem dados que nos mostram como é possível aumentar essa segurança. Está nas nossas mãos incrementar a mesma – sobretudo no que respeita à estimulação ovárica e à opção por protocolos que incluam agonistas da GnRH e nos possibilitem evitar casos de SHO”.
dOentes cOM endOMetriOse pOdeM beneFiciAr de trAtAMentOs pArA A reprOduçãO AssistidA
Convidado a partilhar a sua visão sobre o acompanhamento de mulheres com patologias ginecológicas benignas e, em particular, endometriose, Pietro Santulli, diretor clínico e científico da Unidade de Medicina Reprodutiva do Hospital Universitário Cochin, em Paris, e professor de Ginecologia e Obstetrícia na Université Paris Cité, asseverou que “a endometriose é uma preocupação séria em termos de saúde pública, afetando provavelmente 200 milhões de mulheres em todo o mundo”.
O perito italiano adiantou ainda que na era pós-covid 19 a comunidade médica “tem
vindo a transformar por completo o panorama da gestão da endometriose, concedendo mais espaço às opções de tratamento médico de longo prazo, algo que nos permite, em alguns casos, evitar por completo a realização de cirurgias ao longo do ciclo de vida da mulher”.
Pietro Santulli: “Se adaptarmos o tratamento nas mulheres com endometriose, na maioria dos casos, iremos verificar que a reprodução assistida é uma opção vantajosa para elas.”
Mais, “as tecnologias de reprodução assistida têm hoje um papel central a desempenhar na gestão de quem padece de endometriose” e, salientou, “embora estas doentes exijam algumas medidas específicas pela patologia particular que as caracteriza, a
sua gestão no contexto de um programa de reprodução assistida não varia em grande medida daquilo que é preconizado para as restantes mulheres”.
“Uma das medidas específicas em causa envolve a redução dos sintomas de dor antes da estimulação ovárica. Outra prende-se com o aumento da dose do fármaco escolhido para a estimulação, uma vez que sabemos que quem sofre de endometriose precisa de níveis mais elevados de gonadotrofina e produz menos ovócitos. Dito isso, se adaptarmos o tratamento a estas mulheres, na maioria dos casos, iremos verificar que a reprodução assistida é uma opção vantajosa para elas”, afirmou o Prof. Pietro Santulli, acrescentando que “não existe evidência, nestas situações, de que ocorra aumento da dor associado à estimulação ovárica”, para além de que “o risco de infeção pélvica é muito baixo”.
cOndições
nOs LAbOrAtÓriOs de Fiv ApresentAM MArGeM pArA MeLHOriA
Alison Campbell, chief scientific officer do Grupo Care Fertility, que gere uma rede de dezenas de laboratórios de FIV na Europa e nos EUA, trouxe a este debate dados importantes acerca dos cuidados a ter com gâmetas e embriões em laboratórios de FIV.
Alison Campbell: “O objetivo fundamental consiste em minimizar o stress induzido por causas ambientais e em maximizar a probabilidade
de um outcome de fertilização bem-sucedido.”
No que concerne à preservação de condições laboratoriais estáveis, assegurou que “o objetivo fundamental consiste em minimizar o stress induzido por causas am-
bientais e em maximizar a probabilidade de um outcome de fertilização bem-sucedido”, sendo para tal necessário intervir em variáveis como a qualidade do ar e o controlo de partículas e compostos orgânicos voláteis, a temperatura, a humidade ou a luminosidade, a preparação de meios de cultura, as técnicas de esterilização e assepsia, a qualidade dos consumíveis utilizados nas operações, bem como o rigor e as competências dos técnicos laboratoriais que manuseiam as amostras.
Alison Campbell abordou outra esfera crucial para a segurança da reprodução assistida, “a identificação clara dos procedimentos e a garantia de que possuímos uma cadeia ininterrupta de rastreabilidade que vai da colheita dos gâmetas até à implantação do embrião”. Estratégia que permite combater os erros laboratoriais e os fenómenos de automaticidade involuntária, que podem afetar os técnicos de laboratório e levar à incorreta identificação de gâmetas e embriões. Nos laboratórios britânicos de FIV os erros são prevenidos quer através da identificação e registo de dador, paciente e
(Continuanapág.34)
amostra, com dois identificadores únicos, quer assegurando a existência de sistemas de testemunho eletrónico (hoje o goldstandard da indústria) em pontos críticos do processo.
cOMO viveM As criAnçAs e AdOLescentes cOM
OriGeM nA reprOduçãO AssistidA?
Na sua passagem por Portugal, Anja Pinborg, diretora clínica do Departamento de Fertilidade do Hospital Universitário Rigshospitalet, em Copenhaga, frisou que o número total de nascimentos anuais com origem em FIV, dentro do bolo total de nascimentos, tem “vindo a crescer de forma tremenda nos últimos vinte anos em muitas populações”. Revelou que na Dinamarca cerca de 6% da coorte de nascimentos está associada à FIV e 10% surge na sequência de um qualquer tratamento de fertilidade, uma tendência similar à que encontramos nos EUA, Reino Unido ou Austrália”. Na atualidade, serão perto de dez milhões os nascimentos registados graças à
reprodução medicamente assistida. Mas que evolução, em termos de qualidade de vida, é possível observar neste universo de crianças nascidas com recurso a FIV?
Anja Pinborg atesta que “o principal fator que influencia a evolução do seu estado de saúde é a circunstância de terem ou não nascido num contexto de gravidez múltipla, ou seja, se conseguirmos efetivar a transferência de um único embrião em todas as situações a maioria destas crianças será saudável”.
Anja Pinborg: “O principal fator que influencia a evolução do estado de saúde de quem nasce com recurso a FIV é a circunstância de acontecer ou não num contexto de gravidez múltipla.”
Em termos da saúde a longo prazo dos indivíduos nascidos após reprodução assistida, há que sublinhar que, segundo a análise do registo nórdico, “não foi detetado um aumento de risco para doença cardiovascular e diabetes tipo 2 versus a população em geral”, referiu, acrescentando: “Neste gigantesco estudo suportado no registo escandinavo detetámos apenas um incremento ligeiro do risco para o desenvolvimento de obesidade.” A análise da informação disponível permite também compreender que a reprodução assistida não tem qualquer efeito negativo em diagnósticos futuros da generalidade de cancros em idade pediátrica, com um aumento residual apenas ao nível da leucemia linfoblástica aguda em crianças que nasceram a partir de embriões criopreservados.
A203.ª Reunião da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, realizada nos dias 8 e 9 de março, veio demonstrar, de acordo com Cláudio Rebelo, que “a terapêutica da menopausa já não é só hormonal, mas muito mais multidisciplinar”, envolvendo especialistas de outras áreas que não apenas a Ginecologia/Obstetrícia. O presidente da Secção Portuguesa de Menopausa da SPG faz uma avaliação “muito positiva” do evento realizado na Figueira da Foz: “Foi uma aposta ganha o decidirmos fazer uma Reunião procurando a multidisciplinaridade, buscando o conhecimento dos colegas de outras especialidades, como a Endocrinologia, a Cardiologia, a Fisiatria, a Psicologia, a Psiquiatria, a Medicina Desportiva ou a Nutrição.”
“Estamos no cimo do icebergue, procurando aplicar uma terapêutica integrada da menopausa, já não só hormonal, mas muito mais disciplinar, não apenas com aquela preocupação com os primeiros 5 ou 10 anos de entrada na menopausa, mas sim
(Continuanapág.38)
Cláudio Rebelo: “Foi uma aposta ganha o decidirmos fazer uma Reunião procurando a multidisciplinaridade.”
(Continuaçãodapág.37)
prolongada no tempo”, sublinha o médico, que coordena a Ginecologia/Obstetrícia do Hospital CUF Porto.
Cláudio Rebelo destaca o lançamento, no segundo dia do evento, de uma aplicação para telemóvel destinada a facilitar a escolha da terapêutica na menopausa.
“De facto, cada vez mais queremos os colegas mais digitais, com outras ferramentas de fácil acesso, rápidas, intuitivas e aplicando os critérios da Sociedade Espanhola de Meno-
pausa”, afirma, acrescentando: “Conseguiu-se, com esta parceria, lançar uma aplicação que está aberta aos médicos de todas as especialidades, nomeadamente aos de MGF.”
E esclarece que, “com o simples preenchimento de algumas características clínicas, como a idade, a informação sobre há quanto tempo a mulher está em menopausa e a descrição de eventuais comorbilidades, obtém-se um score de risco que nos ajuda
a orientar para as terapêuticas disponíveis mais adequadas a cada mulher”.
Cláudio Rebelo não quis deixar de comentar a sessão em que os participantes na reunião foram convidados a fazer algum exercício físico, “para não nos esquecermos de que não somos apenas profissionais que tratam dos outros, também sabemos tratar de nós e preocupamo-nos com o nosso autocuidado e a nossa saúde”.
cláudio rebelo, presidente da secção portuguesa de Menopausa da spG:
“Temos de tratar a menopausa de forma mais personalizada”
Cláudio Rebelo é categórico quando afirma que “tem que se abandonar a ideia de que as mulheres em menopausa são todas iguais” e que o tratamento “está limitado a este ou àquele protocolo”. Até porque há novidades a nível terapêutico.
“Estamos a sentir que há agora um novo impulso para se voltar a falar mais de menopausa, com a disponibilização de novas terapêuticas, obrigando a encarar o tratamento de uma forma muito mais personalizada”, considera Cláudio Rebelo, presidente da Secção Portuguesa de Menopausa da SPG.
Aliás, a conferência de abertura que proferiu na 203.ª Reunião centrou-se precisamente nas novidades terapêuticas que têm surgido nesta área e que vão estando à disposição dos ginecologistas, mas não só.
Até porque “o desafio de tratar estas mulheres é de todos os médicos, quer sejam ginecologistas, internistas, endocrinologistas ou dos CSP, que até são quem contacta mais com esta população”.
O médico esclarece que se pretendeu, nesta Reunião, “ter uma visão das outras especialidades relativamente a esta matéria, perceber como nos podem ajudar a tratar as mulheres na menopausa, sem ser propriamente apenas com a terapêutica hormonal, que nós, como ginecologistas, temos que estar habilitados a prescrever e acompanhar”.
Intitulada “Walking com a menopausa”, a Reunião contou, inclusivamente, com o contributo de uma especialista de MGF, professora da FMUP, que abordou as atualizações terapêuticas em osteoporose.
Cláudio Rebelo: “As mulheres têm uma cada vez maior esperança média de vida e que nós queremos que seja com qualidade.”
“Em vez de termos o clássico reumatologista, convidámos uma colega de MGF com um doutoramento em shared decision-making sobre a importância das doentes perceberem, em conjunto com os médicos, as decisões que têm para tomar em função de rastreios e terapêuticas. Isto é ainda mais importante em patologias crónicas assintomáticas como a HTA, as dislipidemias e a osteoporose”, refere Cláudio Rebelo. Para além de que, frisa, “as mulheres em
menopausa representam o grupo que mais cresce demograficamente na população portuguesa a cada ano que passa, com uma cada vez maior esperança média de vida e que nós queremos que seja com qualidade”.
sidade, discutida a importância da diabetes para a mulher na menopausa e apresentadas as mais recentes guidelines para o tratamento da dislipidemia, envolvendo palestrantes de diferentes especialidades, nomeadamente Endocrinologia e Medicina Interna.
Outra área que esteve em debate “e que, por vezes, é esquecida” foi a da disfunção sexual na menopausa: “Para além de termos tido uma ginecologista a falar da terapêutica sistémica e local e da ajuda que representam os tratamentos hormonais, uma fisiatra abordou o exercício de reabilitação do pavimento pélvico e uma psiquiatra com formação em Sexologia deu também o seu contributo para o debate.”
sabemos que muitas vezes ela já antecede a própria entrada na menopausa, podendo ou não ser agravada”, salienta Cláudio Rebelo.
Sublinhando que “o grosso da mortalidade em menopausa tem origem em eventos cardiovasculares” – tema, aliás, abordado por si recentemente, no 23.º Congresso de Obstetrícia e Ginecologia –, Cláudio Rebelo destaca o tema explorado logo na primeira mesa, “um outro grande problema, o da síndrome metabólica”. Foram analisados os novos fármacos para a obe-
A menopausa nas mulheres mais maduras, considerando, nomeadamente, a importância que ganham a dieta e o exercício físico, também esteve em foco. A justificação para tal é óbvia: “Podemos ter não só mais anos de vida mas vida com mais qualidade, nestas mulheres acima dos 70, dos 80, dos 90…”
E alerta para um último aspeto: “Nós percebemos que podemos ser muitas vezes os primeiros sinaleiros destas mulheres que estão mais maduras e que começam a ter algumas limitações, quer do ponto de vista mental, quer de força física e de equilíbrio.” personalizada”
“A disfunção sexual obriga a um tratamento muito mais integrado, até porque nós
FátiMA FAustinO, presidente dA spG:
“tivemos uma grande adesão da indústria, que espero que continue porque para nós é essencial para continuarmos a fazer as nossas reuniões com a qualidade que temos tido até aqui. (…) é muito importante estarmos todos juntos e prosseguirmos neste caminho que é a melhoria das condições de vida e de saúde da mulher.”
JOsé MAnueL FurtAdO, presidente dO cOLéGiO dA espec. de Ginec./Obst. dA OM: “não se pode falar em Ginecologia sem associar a spG. é a reunião n.º 204 e, portanto, há uma história que se vai fazendo. (…) O número de inscrições é o ingrediente para que seja uma reunião com grande impacto científico.”
JOsé reis, secretáriO-GerAL dA spG: “com esta reunião, bateu-se mais uma vez o recorde de inscrições, que incluem mais de 420 colegas. (…) e temos 25 sponsors a quem desde já também agradecemos muito o patrocínio e a colaboração que nos deram. Mas, se calhar, o mais importante de tudo é termos quase 90 submissões de trabalhos científicos de colegas mais novos, o que mostra bem o seu interesse mas também o dinamismo que a nossa sociedade continua a ter.”
“Embora, por vezes, se tenha de recorrer a uma abordagem cirúrgica clássica, o gold standard no tratamento cirúrgico da endometriose é a via laparoscópica, atualmente também com a possibilidade da vertente robótica”, afirma Fátima Faustino. A ginecologista adianta que mais de 90% das cirurgias que realiza para tratar esta doença são por laparoscopia.
“Sempre achei que a endometriose era uma patologia muito mal entendida, acabando mesmo por ser algo desvalorizada até por colegas ginecologistas. Aliás, a dor menstrual sempre foi considerada como normal, mas o facto é que ela pode condicionar completamente a vida da mulher. Além disso, as queixas dolorosas prolongam-se muitas vezes para fora da menstruação e surgem associadas, por exemplo, a dor intestinal ou nas relações sexuais”, observa Fátima Faustino, coordenadora do Centro Especializado em Endometriose do Hospital Lusíadas Lisboa.
ALGuns dOs eLeMentOs dOs AtuAis
cOrpOs sOciAis dA spG
Atrás: Cláudio Rebelo, Irina Ramilo, Maria Geraldina Castro, José Reis, Pedro Vieira Baptista, Hugo Gaspar, Lúcia Correia e Amélia Pedro.
À frente: Ana Luísa Ribeirinho, Eunice Capela, Margarida Martinho, Fátima Faustino, Fernanda Geraldes, José Alberto Moutinho e Mónica Cruz Pires.
“É uma doença com repercussões e implicações gravíssimas”, frisa a médica, salientando que afeta cerca de 10% das mulheres em idade fértil, 30 a 50% das quais podem vir a ter problemas de infertilidade. “Isto para além da questão da própria dor incapacitante e da forma como esta condiciona a vida pessoal e profissional de quem sofre de endometriose”, observa. Sendo uma doença que começa na adolescência, “surgem-nos mulheres em idades muito jovens, obrigando, por isso, a recorrer a uma técnica cirúrgica que preserve ao máximo a sua fertilidade, poupando sempre que possível o útero, ovários e trompas e que seja minimamente invasiva”. Fátima Faustino lembra que o recurso à cirurgia se verifica quando não é possível optar pelo tratamento médico, seja porque simplesmente não resulta, ou se não for possível usar terapêutica hormonal, nomeadamente quando a mulher quer engravidar. “O ideal seria mesmo conseguir-se
arranjar uma terapêutica não hormonal eficaz no tratamento da endometriose, o que não é uma tarefa fácil”, assegura.
cursO de treinO pArA certiFicAçãO eM LApArOscOpiA
Filipa Beja Osório, coordenadora do Centro de Endometriose do Hospital da Luz Lisboa, sublinha que a cirurgia laparoscópica ginecológica “tem revolucionado a prática cirúrgica ao oferecer procedimentos minimamente invasivos, que proporcionam menor tempo de recuperação, menos dor pós-operatória e melhores resultados estéticos para as pacientes”. Mas logo adianta que “a complexidade técnica desta abordagem cirúrgica exige um treino rigoroso, de modo a assegurar que os profissionais estejam aptos a realizar uma intervenção com segurança e eficácia”. Aliás, esse treino “é um processo multifa-
cetado, que começa nos primeiros anos do internato de Ginecologia/Obstetrícia”.
Foi com o objetivo de “divulgar a laparoscopia e promover uma abordagem cirúrgica minimamente invasiva e eficaz” que, no âmbito da 204.ª Reunião da SPG, a Secção de Endoscopia Ginecológica promoveu um curso dedicado a esta técnica.
O Curso de Treino para Certificação em Laparoscopia, realizado em colaboração com a Sociedade Europeia de Endoscopia Ginecológica (ESGE), aplica o programa GESEA (Gynaecological Endoscopic Surgical Education and Assessment), que se baseia no treino e certificação do conhecimento e destreza prática antes da competência cirúrgica.
O painel de monitores desta ação de formação inclui a própria coordenação da Secção de Endoscopia Ginecológica da SPG, formada por Hugo Gaspar (presidente), Filipa Beja Osório (secretária) e Hélder Ferreira (tesoureiro).
na época atual, em que se assistem a consideráveis avanços tecnológicos e os hospitais confrontam-se com diversos problemas, Fátima Faustino entende que as sociedades científicas têm um papel importante na formação dos internos e dos recém-especialistas. nesta entrevista, a médica, que coordena o centro especializado em endometriose do Hospital Lusíadas Lisboa e assumiu durante cinco anos, e até há poucos meses, a coordenação da unidade de Ginecologia e Obstetrícia da instituição, abordou ainda aspetos como a evolução da especialidade e a necessidade de um trabalho conjunto entre os setores público e privado.
nota: esta entrevista a Fátima Faustino, na sua qualidade de presidente da sociedade portuguesa de Ginecologia, foi publicada no Jornal da 204.ª Reunião da SPG, a 8 de junho 2024.
Just News (JN) – Está, neste momento, a meio do mandato de 3 anos à frente da SPG...
Fátima Faustino (FF) – É verdade, e os colegas já estão a tentar convencer-me a fazer um próximo mandato, mas ainda não estou decidida. Habitualmente, os intervenientes da Direção e dos Órgãos Sociais das secções acabam por avançar para um segundo e último mandato, mas não é algo obrigatório!
JN – Feitas as contas, é a 9.ª presidente na história da SPG!
FF – Sim! E, com muito orgulho, a quarta mulher a ocupar este cargo. Aliás, os últimos mandatos têm sido assumidos por mulheres, refletindo a tendência atual do predomínio do sexo feminino nesta profissão. Hoje em dia, quer nos cursos, como nos congressos e outras reuniões, olhamos
em redor e vemos que os homens estão em minoria.
JN – A maior prevalência de médicas ginecologistas leva a que as clientes e doentes se sintam mais confortáveis?
FF – Houve uma altura em que eu tinha a noção de que essa diferença não teria muito significado. Atualmente, penso que sim, que há uma empatia diferente e uma sensação de melhor entendimento, o que pode ser mais agradável para uma mulher. Embora respeite perfeitamente que haja quem continue a preferir ser acompanhada por alguém do sexo masculino, e sem pôr em causa a elevada competência dos meus colegas.
JN – Qual é o balanço que faz deste ano e meio de mandato?
FF – Temos trabalhado na continuação do muito que já foi feito até aqui. Há dois ful-
cros principais na Sociedade Portuguesa de Ginecologia – a inovação e a formação. Nos últimos anos, tem havido avanços tecnológicos brutais no campo dos medicamentos, dos materiais e dos instrumentos cirúrgicos, algo a que vamos continuar a assistir. Com a introdução da robótica, as novas tecnologias vão continuar a avançar, sem falarmos na inteligência artificial, que está na ordem do dia.
Eu terminei a especialidade nos anos 90 e, na altura, a cirurgia laparoscópica em Ginecologia era rara. Daí em diante, a evolução tecnológica foi enorme e, graças também à disponibilidade formativa, refletiu-se no aperfeiçoamento ao nível da cirurgia laparoscópica.
Quando terminei o internato da especialidade, tive de ir para o estrangeiro para conse-
guir frequentar cursos que me ensinassem determinadas técnicas, nomeadamente na área da laparoscopia. Atualmente, os internos e os especialistas mais jovens têm acesso a essa formação em Portugal, sendo uma das nossas preocupações a promoção e o apoio a quem organiza tais cursos. Na época atual, em que vários problemas assolam os hospitais, sobretudo os públicos, cada vez mais as sociedades médicas envolvidas têm de investir na formação dos internos e dos recém-especialistas.
JN – A pandemia de covid-19 fez travar, de certa forma, esse processo?
FF – Inevitavelmente! A formação foi condicionada porque, havendo um menor fluir de práticas diárias e um período de
cerca de dois anos praticamente sem reuniões ou cursos, os internos ficaram prejudicados numa fase da sua formação que é importantíssima!
JN – Em 2025, a SPG vai viver um momento especial, ao assinalar 50 anos de existência...
FF – O próximo ano vai com certeza ser comemorado como um marco muito importante na vida da nossa Sociedade. E, em breve, vamos começar a preparar o próximo Congresso, que acontecerá em junho de 2025. Penso que não nos podemos queixar do que tem sido feito. Devemos orgulhar-nos por continuarmos a promover o desenvolvimento da Ginecologia, ao serviço da saúde da mulher, e a apostar na formação e na inovação.
“DEVÍAMOS VER A RELAçãO
PÚBLICO/PRIVADO NUMA PERSPETIVA DIFERENTE DA FORMA ISOLADA COMO TEM SIDO VISTA ATÉ AQUI”
JN – Considera que a especialidade de Ginecologia/Obstetrícia é reconhecida?
FF – Sim, cada vez mais! Acho que já lá vai o tempo em que os ginecologistas eram considerados os cirurgiões que não sabiam operar e a Ginecologia/Obstetrícia uma especialidade minor
JN – Mas esta especialidade também tem sido afetada pela falta de recursos humanos, como tem vindo a suceder com várias outras...
FF – Sim, e tal tem-se refletido no encerramento rotativo de maternidades. Os recursos, neste momento, são escassos, o que é comum a diversas especialidades. Essas faltas e deficiências têm sido bem evidentes na Urgência de Obstetrícia. Contudo, sinto que, neste momento, há novamente um reencontro com esta especialidade, graças, em grande medida, à melhoria
da vertente cirúrgica. Tem havido um crescimento na área cirúrgica que é muito estimulante. Por outro lado, é uma especialidade muito polivalente, com múltiplas áreas de interesse, capazes de atrair os internos, como a ecografia, a medicina materno-fetal, a genética e o diagnóstico pré-natal. A questão que se coloca, e que é do nosso conhecimento há muitos anos, é que haveria de chegar o dia em que o número de novos médicos não seria suficiente para substituir os que se reformavam. Esse momento chegou e vamos continuar a ter que lidar com esta dificuldade nos próximos anos, porque não se forma um médico nesta e noutras especialidades de um dia para o outro.
Neste momento, existem em Portugal cerca de 1800 especialistas em Ginecologia e Obstetrícia – uma grande percentagem com 55 ou mais anos –, sendo que mais de metade trabalha em hospitais privados. Aliás, a maioria destes mantém, em simultâneo, a sua ligação ao setor público, embora a tendência seja para que continue a aumentar o número dos que optem exclusivamente pelo privado.
Aceda à totalidade da entrevista (com o seu título original) e ao próprio Jornal do congresso clicando na
Após a realização de um exame online, em março, para avaliação de conhecimentos usando perguntas de escolha múltipla, uma seleção de candidatos apresentou-se, no final de junho, no centro de simulação Avançada da Faculdade de Medicina da universidade de Lisboa, para avaliação das suas competências clínicas, através da realização de exames clínicos objetivos estruturados (Osce).
Lisboa acolheu, mais uma vez, um conjunto de médicos obstetras e ginecologistas de diversos países com interesse em obter a certificação europeia da especialidade. A maior diferença residiu no número de candidatos que participaram, que nas primeiras edições chegou a atingir a meia centena, em 2023 se ficou por uma vintena e este ano rondou apenas uma dezena. Esta redução tão significativa ficou a dever-se, essencialmente, ao atraso na emissão dos vistos indispensáveis à sua entrada em Portugal e à possibilidade que havia de o exame poder ser realizado também no Dubai.
“Há muitos candidatos oriundos do Médio Oriente, por precisarem desta certificação para progredir na carreira, alguns dos quais pediram o visto há cerca de quatro meses e não obtiveram uma resposta atempada”, disse à Just News Diogo Ayres de Campos, coordenador deste Exame promovido pelo European Board & College of Obstetrics and Gynaecology (EBCOG).
A alternativa que se apresentou a esses profissionais foi candidatarem-se à segun-
da época do exame, a realizar no Dubai, em novembro. Diogo Ayres de Campos esclareceu, entretanto, estar a ser conside-
Diogo Ayres de Campos: “Há muitos candidatos oriundos do Médio Oriente, por precisarem desta certif icação para progredir na carreira.”
rada “a hipótese de o exame transitar de Portugal para um país do leste europeu, onde exista uma maior facilidade na obtenção do visto de entrada, como a Turquia ou a Grécia”.
Uma das características que lamenta que se percam, com a possível mudança de local, será o recurso às atrizes profissionais portuguesas, que, desde 2019, altura em que o exame começou a ser realizado em Lisboa, “têm feito um trabalho excelente nos guiões dos cenários construídos”.
Entretanto, o menor número de candidatos justificou também uma redução no total de examinadores, que, este ano, foi de cinco, oriundos de Portugal (2), Grécia (1), Eslovénia (1) e Dinamarca (1), cerca de metade dos nove que se registaram em 2023.
O médico, que preside à Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia (FSPOG), enaltece a importância desta parte mais prática do Exame, enquanto “garantia de que os médicos re-
únem as competências clínicas necessárias para exercer a profissão com qualidade no espaço europeu”.
Diogo Ayres de Campos aponta como uma das justificações para o facto de praticamente não haver candidatos portugueses a efetuar este exame a circunstância de o mesmo ser realizado em inglês: “Enquanto fazer um exame teórico em inglês não levanta grandes dificuldades, o mesmo não se pode dizer face à avaliação de competências clínicas, que é mais desafiante, por não estarmos habituados a falar com os doentes em inglês.”
Contudo, independentemente de ser feito em português ou em inglês, não tem dúvidas de que o caminho passa pela implementação de um modelo de exame semelhante em Portugal. E avança que este tipo de avaliação está a ser programado para a altura do exame final do internato, que irá ter lugar em fevereiro de 2026, por deci-
são do Colégio da Especialidade de Ginecologia/Obstetrícia da OM. O mesmo será constituído por um teste de escolha múltipla, seguido de um exame clínico objetivo estruturado.
“Estamos a caminhar no sentido de as nossas avaliações serem feitas em moldes muito semelhantes”, informa.
Diogo Ayres de Campos coordena a componente prática do Exame Europeu de Obstetrícia e Ginecologia desde a sua criação, tendo este tido já lugar, sucessivamente, em Norwich (2016), Amesterdão (2017 e 2018) e Lisboa (2019, 2022, 2023 e 2024).
“este
eXAMe é MuitO iMpOrtAnte pArA uniFOrMizAr Os critériOs e HOMOGeneizAr O AcessO eM terMOs de cOnHeciMentOs e de cOMpetênciAs”
Ioannis Messinis, que preside à Comissão Examinadora do EBCOG, reconhece que, “à semelhança do que sucede um pouco por toda a Europa, há poucos portugueses a candidatar-se a este exame”, o que considera dever-se muito ao facto de “os países terem o seu próprio exame nacional, sendo que apenas Malta adotou o do EBCOG como prova nacional”.
Sendo o EBCOG uma secção da European Union of Medical Specialists (UEMS), o profissional realça o esforço da organização em procurar “expandir os exames das especialidades na Europa, entre os quais o de Obstetrícia e Ginecologia”.
O médico, que é também docente e diretor do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Universidade de Thessalia, em Larissa, na Grécia, realça a importância deste
(Continuaçãodapág.45)
Exame “para uniformizar os critérios e homogeneizar o acesso em termos de conhecimentos e competências, a partir do ponto de vista da UEMS”.
Ioannis Messinis: “Trata-se de uma prova de altíssima qualidade, sendo que os candidatos aprovados obtêm uma qualificação muito boa para a sua carreira.”
Ioannis Messinis lembra tratar-se de “uma prova de altíssima qualidade, sendo que os candidatos aprovados obtêm uma qualificação muito boa para a sua carreira, independentemente de exercerem a profissão dentro ou fora da Europa. Será provavelmente por isso mesmo que o Exame é muito atrativo para os profissionais que trabalham em países não europeus”.
eXAMe eurOpeu cOnFere títuLO de FeLLOw dO ebcOG
A componente prática só é realizada por aqueles que conseguem ter aprovação no exame teórico prévio. Este ano, a prova decorreu a 16 de março, em formato online, tendo havido ainda uma segunda data: 31
de agosto. A data alternativa para o exame prático ficou marcada para 9 de novembro, no Dubai.
Enquanto a componente teórica tem a duração de seis horas e é composta por vários modelos de perguntas que versam, de modo uniforme, as várias áreas de Ginecologia e Obstetrícia, a vertente prática tem a dura-
ção de duas horas e é composta por 10 estações de simulação
Os profissionais bem-sucedidos serão reconhecidos com o título de fellow do European Board and College of Obstetrics and Gynaecology. Até ao momento, há apenas quatro médicos ginecologistas/obstetras portugueses com este título.
205ª Reunião da Sociedade Portuguesa de Ginecologia
HF Ipanema Park, Porto
17 e 18 janeiro de 2025