Jornalmedico137

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Pedro Melo apresentou o livro

Enfermagemem SaúdeEscolar

A reativação do Registo Informático de Doenças Autoimunes

Sampaio O contributo dos enfermeiros de SM nas intervenções psicoterapêuticas

ULS

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A CAMI, coordenada por Joana Louro (na foto), permite aliviar o Internamento e a Urgência do Hospital das Caldas da Rainha, dando resposta, nesta fase inicial, a utentes com diabetes, obesidade, insuficiência cardíaca e doença renal crónica

19 a 21 de março PORTO

Albino Oliveira Maia preocupado

O presidente da CO do XIX Congresso Nacional de Psiquiatria receia que o “interesse renovado” pelas problemáticas da Saúde Mental possa retirar alguma atenção aos casos de perturbações mais graves.

USF D. Sancho I declara guerra à obesidade

ESta UnidadE da ULS da LEzíria, LOcaLizada nO cOncELhO dO cartaxO, invEStiU agOra na criaçãO dE UMa cOnSULta MULtidiScipLinar, MaS já há aLgUnS anOS qUE tinha SidO cOnStitUídO UM pLanO aSSiStEnciaL intEgradO viSandO a pré- ObESidadE

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“É imperativo integrar a SM em todas as políticas”

Afirmou a psiquiatra Maria João Heitor na sessão de abertura das III Jornadas de Psiquiatria e SM da ULSLOD

Cirurgia robótica arranca abrangendo, desde o início, as especialidades de Urologia + Cirurgia Geral + ORL + Ginecologia

A capa da última edição

JORNALMÉDICO

Diretor: José Alberto Soares Redação: Miguel Anes Soares, Raquel Braz Oliveira Fotografia: Tomás Domingues Diretor de Produção Gráfica: José Manuel Soares Diretor de Multimédia: Luís Soares Morada: Alameda dos Oceanos, Nº 25, E 3, 1990-196 Lisboa Jornal Médico é uma publicação da Just News de periodicidade mensal, dirigida a profissionais de saúde, isenta de registo na ERC, ao abrigo do Decreto Regulamentar 8/99, de 9/06, Artigo 12º nº 1A Tiragem: 12.000 exemplares Preço: 3 euros Depósito Legal: 355.701/13 Notas: 1. A reprodução total ou parcial de textos ou fotografias é possível, desde que devidamente autorizada e com referência à JustNews 2. Qualquer texto de origem comercial eventualmente publicado neste jornal estará identificado como “Informação”.

Publicações

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ULSEDV:

cirurgia da obesidade de excelência

O Centro de Responsabilidade Integrado de Tratamento Cirúrgico de Obesidade e Doenças Metabólicas (CRITCODM) da ULS de Entre Douro e Vouga (ULSEDV) acaba de conquistar uma distinção inédita em Portugal: o reconhecimento como Centro de Excelência pela International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic Disorders (IFSO).

Este estatuto implica uma avaliação rigorosa de indicadores como a segurança cirúrgica, a eficácia terapêutica, a formação da equipa multidisciplinar e a monitorização de resultados clínicos a longo prazo. E permite à unidade integrar redes internacionais de investigação, participar em ensaios clínicos multicêntricos e acolher programas formativos para profissionais de todo o mundo.

A ULSEDV torna-se a primeira entidade de saúde no país a receber este selo de excelência, sendo assim distinguida como referência europeia nesta área altamente especializada.

Mário Nora é o diretor do CRITCODM, que integra cirurgiões, endocrinologistas, psiquiatras, anestesiologistas, nutricionistas e psicólogos, entre outros profissionais de saúde.

Vacinação sem nome

Éimpossível ignorar um sinal que, embora não tenha qualquer valor estatístico, é sintomático. Nas 65 páginas do relatório anual do Programa Nacional de Vacinação, recentemente divulgado pela Direção-Geral da Saúde, as palavras “enfermeiros” ou “enfermagem” não são mencionadas uma única vez. Este dado não serve como indicador técnico, mas revela algo que tem de ser enfrentado com frontalidade. A

persistente invisibilidade da enfermagem nos discursos e documentos estruturantes da saúde pública em Portugal tem de acabar. E tem de acabar de uma vez por todas.

O papel dos enfermeiros é decisivo no sucesso da vacinação. São eles que asseguram, em cada centro de saúde, unidade móvel ou hospital, a administração segura, eficaz e humanizada das vacinas. São

O papel dos enfermeiros é decisivo no sucesso da vacinação. São eles que asseguram, em cada centro de saúde, unidade móvel ou hospital, a administração segura, eficaz e humanizada das vacinas.

os rostos da confiança, os profissionais que escutam, esclarecem e acolhem dúvidas. São também os primeiros a identificar populações vulneráveis e hesitantes, a garantir a vigilância pós-vacinação, a adaptar o calendário à realidade clínica das pessoas e a evitar falhas de oportunidade.

Portugal mantém-se como uma referência internacional no campo da vacinação. Os dados são, aliás, inequívocos. Mais de 98% das crianças foram vacinadas no primeiro ano de vida e a maioria das vacinas avaliadas atinge ou supera os 95% de cobertura.

Em 2024, foi também implementada a primeira campanha nacional de imunização sazonal contra o vírus sincicial respiratório (VSR), com uma cobertura de 86%. Mais uma vez, foram os enfermeiros que estiveram na linha da frente desta resposta inovadora. E é importante lembrar que quase 3,3 milhões de administrações de vacinas foram registadas durante o ano. A esmagadora maioria administrada por enfermeiros, cuja intervenção é educativa, preventiva e determinante para a adesão.

Estes resultados extraordinários não são fruto do acaso. São, sobretudo, o reflexo da atuação direta dos enfermeiros e também de uma cultura de saúde pública consolidada, de uma sociedade informada e de um Serviço Nacional de Saúde que, apesar de todas as dificuldades, continua a apostar na prevenção.

Num tempo em que a hesitação vacinal ganha terreno noutros países e em que a desinformação ameaça conquistas civilizacionais, Portugal continua a afirmarse como exemplo. Mas esse exemplo só se mantém se apostarmos na confiança no sistema, no acesso equitativo e no reconhecimento de quem o concretiza no terreno. Nesse reconhecimento, os enfermeiros têm de estar em destaque.

A vacinação é, acima de tudo, um pacto entre gerações. E esse pacto só se cumpre quando cada profissional é valorizado, cada cidadão é informado e cada criança é protegida. Portugal tem, felizmente, cumprido esse compromisso. A Ordem dos Enfermeiros continuará vigilante e disponível para colaborar, em todas as frentes, para que assim continue a ser.

A oportunidade de um novo rumo para o SNS

Atomada de posse de um novo governo é sempre um momento de esperança, mas também de exigência. No caso do Serviço Nacional de Saúde (SNS), a margem para adiar reformas estruturais desapareceu. Os sinais de exaustão são visíveis em todos os níveis – nos profissionais, nas instituições e nos próprios utentes. A continuidade das políticas que falharam ou a ausência

de decisões estruturantes não são opções viáveis. O novo governo tem de agir com coragem e visão.

O primeiro desafio é, sem rodeios, tornar o SNS um local mais atrativo para os seus profissionais. Isso significa melhorar de forma real as condições de trabalho, rever grelhas salariais e percursos de carreira, investir na formação e oferecer perspetivas de desenvolvimento. A política de desgaste progressivo dos recursos humanos –visível em sucessivas saídas, em burnout e absentismo -- tem de ser revertida com medidas firmes e estruturais.

Paralelamente, o novo ciclo político deve acelerar o investimento em tecnologia, com destaque para a inteligência artificial. Não se trata de substituir profissionais, mas de os libertar de tarefas burocráticas, repetitivas e de baixo valor acrescentado. A integração de soluções inteligentes no agendamento, triagem, no apoio ao diagnóstico e na gestão tem potencial para transformar o modo como prestamos cuidados, aumentando a eficiência e devolvendo tempo aos profissionais para aquilo que mais importa: cuidar.

Num contexto de recursos limitados, a sustentabilidade do SNS dependerá cada vez mais da capacidade de tomar decisões com base em valor. Isso implica adotar uma lógica de custo-efetividade na avaliação das tecnologias de saúde –principalmente medicamentos – e assegurar que os investimentos são feitos naquilo que realmente melhora a saúde dos cidadãos.

A medição de resultados em saúde e a sua utilização como critério para o financiamento e adoção de tecnologias deve deixar de ser um tema de conferências e passar a ser uma prática de governação.

Mas o SNS não se faz apenas de decisões clínicas ou tecnológicas – faz-se também de gestão. Urge concluir a revisão da carreira de Administração Hospitalar e dotar os hospitais e as ULS de lideranças qualificadas, motivadas e com autonomia. A gestão deve deixar de ser vista como um custo ou uma extensão da política e passar a ser reconhecida como um dos fatores mais determinantes para o desempenho das organizações. Atrair os melhores para gerir o SNS é tão importante como atrair os melhores médicos ou enfermeiros. E isso começa por respeitar a sua carreira e função.

Neste novo ciclo, é também altura de aprofundar a integração de cuidados. As ULS devem ser dotadas de mais autonomia, mais capacidade de decisão e mais responsabilidade pela saúde da sua população. Isso exige reforçar as equipas, integrar novos profissionais nos percursos clínicos (como assistentes sociais ou farmacêuticos clínicos), envolver os municípios e as organizações comunitárias. A saúde faz-se cada vez mais fora do hospital, em redes colaborativas centradas na pessoa e nas suas necessidades.

Finalmente, é inadiável um programa de investimento sério no SNS. Infraestruturas degradadas, equipamentos obsoletos e ambientes de trabalho indignos não são compatíveis com um sistema público que se quer forte, moderno e universal. O investimento não pode ser visto como despesa, mas como condição essencial para garantir cuidados de qualidade e atrair profissionais.

O novo governo tem pela frente uma escolha clara: ou transforma o SNS ou assiste ao seu declínio progressivo. O país espera mais do que remendos. Espera visão, coragem e ação.

Toma da medicação da tuberculose por videochamada

A ULS da Lezíria implementou em maio a TeleTOD, solução inovadora que permite a toma observada diretamente (TOD) da medicação em doentes com tuberculose pulmonar, agora realizada por videochamada. Destina-se a utentes com dificuldades de mobilidade, constrangimentos geográficos ou outras limitações. Gustavo Reis, diretor do Serviço de Pneumologia e do Departamento de Medicina, destaca: “A TOD garan-

te o cumprimento rigoroso do tratamento e previne o surgimento de estirpes resistentes. A adoção desta inovação na Consulta Respiratória da Comunidade (CRC) é essencial para o sucesso terapêutico e epidemiológico.”

A plataforma RSE Live, integrada no SClínico, garante segurança nas teleconsultas. “A TeleTOD é uma estratégia com enorme potencial no doente com risco de abandono do tratamento”, afirma

Cláudia Lares dos Santos, coordenadora da Consulta Respiratória da Comunidade e interlocutora para a tuberculose.

“A deslocação diária do doente durante meses, a um local designado para a toma da medicação, nem sempre é exequível ou aceitável e há risco de abandono. Nesse sentido a TeleTOD pode fazer a diferença”, sublinha António Veiga, médico coordenador da atividade clínica da CRC.

Elisabete Cunha, enfermeira da CRC, reforça: “Temos conseguido supervisionar tomas, detetar efeitos adversos, motivar o doente, tudo no conforto do lar. Continuamos a procurar soluções acessíveis para todos.”

“A SER Live garante um ambiente seguro e integrado. Basta o profissional aceder ao SClínico e o utente ao SNS 24”, conclui Nuno Pedro Martins, promotor interno de telemedicina.

Luis Filipe Barreira Bastonário da Ordem dos Enfermeiros

DIAGNÓSTICO

DE ENFERMAGEM

A claridade da lua

Porto

Escrevo o “Diagnóstico de Enfermagem” deste mês, prévio às férias, ao som de uma obra-prima da música clássica: “Clair de Lune”, de Debussy. Traduzido, o título desta peça significa “Claridade da Lua”, ou “Luar”, e é sob essa metáfora que convido à reflexão. Se quiser, pode ouvir a música, enquanto lê.

Vivemos tempos em que nunca foi tão importante investir em Luz. As guerras que se multiplicam, o agravamento das desigualdades sociais, a instabilidade económica e os efeitos cada vez mais visíveis das alterações climáticas desenham um cenário de inquietação e incerteza. É como se a humanidade caminhasse à luz da lua -- uma luz bela, sim, mas que não é sua. A lua não brilha por si mesma, apenas reflete a luz do sol.

E, assim, também nós, muitas vezes, parecemos viver à sombra de uma luz que não é autêntica, guiados por reflexos distorcidos de valores que nos afastam da nossa essência, numa luz projetada do essencial, mas focada em valores como o Poder ou o dinheiro e que são um reflexo pouco real da verdadeira condição humana.

Diria que este facto é bastante evidente em muitos líderes de grandes potências que,

atualmente, são os protagonistas destes cenários de inquietude.

É urgente reencontrar a verdadeira Luz: a Luz de sermos Pessoas Humanas. Uma Luz que nasce da empatia, da solidariedade, da escuta e do cuidado. Da essência que nos torna únicos no ecossistema da coexistência.

A Enfermagem, enquanto ciência e profissão profundamente enraizada na relação terapêutica com a Pessoa Humana, pode ser um farol insubstituível nesta construção. Sendo uma profissão que acompanha as Pessoas Humanas desde que nascem até que morrem, em todos os seus contextos de vida, tem uma oportunidade única de ser epicentro de encontro com a condição Humana!

A Enfermagem diagnostica, prescreve e intervém em histórias, tomadas de decisão, corpos e o que está para além deles, políticas, cultura, pessoas individualmente, comunidades e populações. Há maior privilégio do que deter o poder do encontro com a Essência completa das Pessoas Humanas?

O trabalho com cada pessoa, individualmente, é um ponto de partida para a consciencialização e envolvimento para o exercício pleno de uma cidadania alicerçada no Amor. Se cada Pessoa Humana, desde que nasce, for intencionalmente guiada, com a sua potencialidade e contextos individualizados, para o Amor, muito provavelmente será ativista de tudo o que é antagónico à inquietude e insegurança da atualidade.

Na ação coletiva, no envolvimento com grupos comunitários, com populações vulneráveis, com territórios muitas vezes esquecidos, os enfermeiros e enfermeiras (que habitualmente são os/as profissionais de saúde que estão sempre onde nem todos/as estão) têm um potencial transformador e empoderador à escala global.

Ao promover a participação comunitária, ao fomentar a literacia em saúde, ao estimular a ação social e política, a Enfermagem contribui para a construção de um mundo mais justo, mais saudável, mais humano. Estou mesmo convicto de que, pela natureza do desenvolvimento científico e profissional da Enfermagem, é a área da saúde que melhor pode responder a todos os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável propostos pelas organizações das Nações Unidas.

E não o afirmo com prepotência, mas com a humildade a que a justiça obriga, se nos quisermos focar no mais importante e assegurar que a verdadeira Luz não seja um luar belo, mas vazio de verdade. Diria que, para isso, precisamos de investir com coragem numa Enfermagem Avançada, desviada de modelos biomédicos que a cegam desta visibilidade única que tem (do que está para além dos corpos humanos). Haja coragem política para investir nesta Enfermagem, com incremento da investigação e da transferência de tanto conhecimento que tem sido e pode ser produzido por esta Ciência da Saúde. Precisamos de mais do que reflexos. Precisamos de Luz verdadeira. Na Política, nas organizações em geral e de saúde em particular, onde o foco no Poder e no Dinheiro desvirtue a verdadeira procura do bem-comum. Afinal, o que está em causa é mesmo a nossa sobrevivência!

Termino sugerindo uma nova banda sonora, mais contemporânea e menos clássica, para que a escutem (não apenas ouçam) e possam continuar a refletir no período de pausa de férias, que também serve para renovar a Luz e a energia de cada um/a para o essencial.

A música «Prayer», na voz de Lilly Wood com The Prick e Robin Schulz, questiona-nos se, quando o mundo já não existir, seremos capazes de nos perdoar!

Procuremos então a gratidão em vez do perdão. Ainda há tempo.

Programa Nacional de Prevenção da Violência no Ciclo da Vida

OPrograma Nacional de Prevenção da Violência no Ciclo de Vida (PNPVCV), coordenado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), tem o objetivo de reforçar, no âmbito dos serviços de Saúde, os mecanismos de prevenção, diagnóstico e intervenção no que se refere à violência interpessoal, nomeadamente em matéria de maus tratos em crianças e jovens, violência contra as mulheres, violência doméstica, idosos e em populações de vulnerabilidade acrescida.

Os objetivos são os seguintes: Garantir a deteção precoce de fatores de risco e de situações de violência interpessoal.

Assegurar, perante situações de violência interpessoal, uma interven-

ção adequada, atempada e articulada.

Promover a literacia sobre direitos e deveres no âmbito das relações interpessoais.

A “Ação de Saúde para Crianças e Jovens em Risco” (ASCJR), dedicada a esta população específica, tem como principal objetivo a criação de uma resposta estruturada do Serviço Nacional de Saúde ao fenómeno dos maus tratos, através do desenvolvimento da Rede Nacional de Núcleos de Apoio às Crianças e Jovens em Risco, ao nível dos Cuidados de Saúde Primários e dos hospitais com atendimento pediátrico.

A coordenação da ASCJR, a nível nacional, compete à Direcção-Geral

Eventos em destaque MEDICINA GERAL E FAMILIAR

Jornadas da USF Linha de Algés

Online

11 de julho

Organização: Internos da USF Linha de Algés

VI Jornadas da Foz

Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz

25 e 26 de setembro

Organização: Internos da Comunidade de Prática Formativa da Figueira da Foz

10.ª edição do Gaia-Espinho Medical Meeting

11.as Jornadas do Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias

Sheraton Porto Hotel & SPA 9 e 10 de outubro

Organização: GRESP-APMGF

RefreshMed - Jornadas Médicas Dão Lafões

Associação Empresarial do Distrito de Viseu 15 a 17 de outubro

Organização: Associação RefreshMed

LIVEMED: Atualização em MGF - Évora

da Saúde, através de uma comissão de acompanhamento.

A coordenação, acompanhamento e execução da ASCJR, a nível local, cabe às Unidades Locais de Saúde, nomeadamente no que respeita a alocação e gestão de recursos humanos, físicos e materiais, a formação em serviço, à organização da atividade dos núcleos e aos procedimentos administrativos, dentro da organização e recursos já existentes.

Pode ler mais sobre este tema no site da DGS, em www.dgs.pt.

FACE - Fórum de Arte e Cultura de Espinho 2 e 3 de outubro

Organização: Internos da ULS Gaia-Espinho

Hotel Vila Galé - Évora 21 de outubro

Organização: LIVEMED

Pedro Melo
Doutor em Enfermagem. Professor adjunto na Escola Superior de Enfermagem do

Transplante pulmonar em Portugal: a discreta e insubstituível intervenção do Serviço Social

Fátima Ferreira

Licenciada e mestre em Serviço Social. Assistente social na ULS de São José (Centro de Referência de Transplante Pulmonar). Responsável pela Área de Apoio Social do H. de Santa Marta

Por ocasião do Dia Nacional da Doação de Órgãos e da Transplantação (20 de julho), vale a pena olhar para além da cirurgia. O que acontece antes e depois de um transplante pulmonar? Em Portugal, o Hospital de Santa Marta – integrado na Unidade Local de Saúde de São José – é o único Centro de Referência nacional para transplante pulmonar. Atrás das cortinas do bloco operatório, longe das câmaras e da pulsação do momento da cirurgia, existe um trabalho contínuo, exigente e silencioso: a intervenção do Assistente Social.

Foi apresentado no Porto, no passado dia 12 de junho, o livro Enfermagem em Saúde Escolar, editado pela Lidel e coordenado por Pedro Melo, presença regular no Jornal Médico, com a sua coluna de opinião “Diagnóstico de Enfermagem”.

A sessão contou com a presença de Rosário Barros, chief nursing officer da DGS, que assina o prefácio, Gisela Leiras, coordenadora do novo Programa Nacional de Saúde Escolar, e José Lima, presidente da Associação de Unidades de Cuidados na Comunidade (AUCC).

Considerado um marco na história da literatura técnico-científica na área da Enfermagem em Saúde Escolar, o manual agora lançado conta com a participação de 45 autores.

Para Pedro Melo, “esta era uma obra necessária para apoiar o desenvolvimento da disciplina de Enfermagem em Saúde Escolar, quer no contexto do Ensino e da Investigação, quer no apoio à decisão clínica e boas práticas em Saúde Escolar dos enfermeiros e das enfermeiras que exercem nesta área”. Em nota de contracapa, a diretora-geral da Saúde refere-se a “uma obra de referência em enfermagem em saúde escolar”, fornecendo “bases sólidas para decisões fundamentadas na evidência e para a aplicação de estratégias eficazes”. Rita Sá Machado acrescenta que “reforça ainda o papel essencial do enfermeiro enquanto agente promotor de ambientes saudáveis, seguros e inclusivos”, concluindo ser “assim que se cons-

O transplante começa muito antes da cirurgia

Quando um doente com patologia respiratória grave chega à inevitabilidade do transplante pulmonar não é apenas o corpo que está em causa. A decisão de integrar um doente em lista de espera requer mais do que exames e análises clínicas. A equipa precisa de saber se aquele doente está em condições de atravessar um processo longo, complexo e cheio de incertezas. É aqui que entra o Serviço Social: avaliando, acompanhando e intervindo.

A avaliação psicossocial do doente candidato a transplante pulmonar é uma etapa fundamental e obrigatória. Mais do que verificar se há rede de apoio ou recursos económicos, o assistente social olha para a pessoa no seu todo – fragilidades/problemas, potencialidades, sistema familiar, percurso de vida, estrutura emocional e capacidade de adesão ao tratamento.

O Serviço Social tem assumido um papel essencial neste processo, contribuindo para a compreensão das dinâmicas familiares, sociais e económicas que podem influenciar o sucesso do transplante.

Avaliar para incluir... ou para proteger?

O Serviço Social tem, neste contexto, um

papel sensível e determinante: identificar riscos psicossociais que possam comprometer o sucesso do transplante. A intervenção não se resume a facilitar acessos ou encaminhar para recursos – ela integra-se no próprio processo de decisão clínica. Não raras vezes, é o parecer social que traz à luz problemas como isolamento extremo, negligência familiar, consumo ativo de substâncias, condições habitacionais inadequadas, ausência de capacidade funcional ou dificuldades cognitivas que impedem o cumprimento rigoroso da terapêutica pós-transplante.

Mas este papel também é profundamente ético: não se trata de excluir, mas de preparar. De identificar barreiras para, sempre que possível, as mitigar antes da entrada em lista, e de proteger o doente, quando os riscos de um insucesso precoce são maiores do que os benefícios de uma intervenção de alto custo e risco.

Uma intervenção que não termina na alta hospitalar

O Serviço Social não se limita à avaliação inicial. Durante todo o processo – da entrada em lista à chamada para transplante, da hospitalização prolongada ao regresso a casa –, o assistente social está presente, em articulação permanente com médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e cuidadores.

O assistente social está presente, em articulação permanente com médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e cuidadores.

A reintegração social e profissional, a adaptação a uma nova realidade física e emocional, a gestão das expectativas e dos medos, a prevenção do isolamento, e o acesso a respostas comunitárias são apenas alguns dos campos onde o Serviço Social atua após a cirurgia. A pessoa transplantada raramente regressa “igual” à vida anterior, e é no redesenho dessa nova normalidade que o apoio psicossocial se torna determinante.

Desafios e zonas de sombra Apesar da sua centralidade, a intervenção do Serviço Social na transplantação pulmonar em Portugal enfrenta diversos desafios. A inexistência de instrumentos normalizados

Rita Sá Machado:

“É uma obra de referência.”

troem escolas capazes de garantir o bem-estar físico, emocional e social dos jovens, investindo num futuro mais saudável para todos”. Os conteúdos de Enfermagem em Saúde Escolar encontram-se organizados em cinco partes: Percursos e Fundamentos; Enfermagem e Programa Nacional de Saúde Escolar; Qualidade e Inovação; Parcerias Comunitárias;

Ética e Investigação. Também foi incluído um roteiro de decisão clínica – desde a atividade de diagnóstico à avaliação de resultados – que pode ajudar profissionais de enfermagem que exercem funções nesta área, ou tenham interesse em exercer, a desenvolver o seu trabalho nas diversas vertentes da saúde escolar.

Trata-se de um livro igualmente útil a estudantes do ensino pré e pós-graduado, para que tenham acesso a um conjunto de evidências que suportam a decisão clínica. É ainda uma referência para outros profissionais de saúde e estudantes que queiram conhecer melhor este contexto de transformação social e promoção da saúde.

de avaliação psicossocial, a sobrecarga dos serviços, a escassez de formação específica e a limitada produção científica nesta área tornam a atuação muitas vezes solitária, intuitiva e dependente da experiência individual de cada profissional. Cada caso é avaliado com base na experiência e sensibilidade dos assistentes sociais, o que, embora valioso, pode introduzir subjetividade nas decisões.

Conclusão: cuidar de pulmões, cuidar de pessoas

No Dia Nacional da Doação de Órgãos e da Transplantação, importa lembrar que cada órgão doado carrega uma segunda oportunidade, mas para que essa oportunidade se concretize é necessário cuidar da pessoa – da sua história, das suas redes, das suas fragilidades.

A intervenção do Serviço Social no transplante pulmonar é uma peça silenciosa, mas fundamental deste processo, porque quando o corpo começa a falhar é o tecido social que segura o que sobra e, muitas vezes, é esse tecido que faz a diferença entre o sucesso ou o insucesso deste recomeço. Que este dia sirva não só para homenagear os dadores e salvar vidas, mas também para reconhecer os que nos bastidores trabalham todos os dias para garantir que cada vida salva valha, de facto, a pena ser vivida.

De referir que o coordenador de Enfermagem em Saúde Escolar cedeu à AUCC os royalties obtidos com as vendas do livro, para a atribuição anual de um Prémio de Boas Práticas em Enfermagem de Saúde Escolar, a que a Direção daquela Associação e os próprios autores decidiram atribuir o nome de “Pedro Melo”.

Pedro Melo é professor adjunto na Escola Superior de Enfermagem do Porto, enfermeiro especialista em Enfermagem Comunitária e investigador integrado no RISE-Health.

Autor do Modelo de Avaliação, Intervenção e Empoderamento Comunitário (MAIEC), coordena o MAIEC Lab, onde tem uma major thematic area de investigação que estuda a

aplicação desse modelo nas comunidades escolares, em diferentes contextos e problemáticas. Autor de vários livros técnicos, capítulos em obras nacionais e internacionais, e artigos científicos na área da Enfermagem de Saúde Comunitária e de Saúde Pública, mas também de Saúde Familiar, é doutor em Enfermagem e pós-doutorando em Tenologias em Saúde na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Brasil. Conta mais de 18 anos de experiência em saúde escolar, associando a experiência clínica ao ensino e à investigação.

Pedro Melo, Gisela Leiras, José Lima e Rosário Barros

Intervenções

psicoterapêuticas: contributo-chave dos enfermeiros especialistas em saúde mental para a sustentabilidade do SNS

Francisco Sampaio Enfermeiro espec. em Enfermagem de SM e Psiquiátrica. Prof. na Escola Superior de Enfermagem do Porto e investigador no RISE-Health. Presid. do XVI Cong. Internacional da ASPESM

Portugal permanece, há já vários anos, entre os países da OCDE com maior consumo de psicofármacos, nomeadamente antidepressivos, assim como ansiolíticos, sedativos e hipnóticos. Neste domínio, é essencial salientar dois pontos fundamentais: (a) os psicofármacos não devem ser demonizados, dado que a sua evolução científica tem sido notável nas últimas décadas e, em muitos casos, estes salvam vidas; e (b) em diversas situações de doença mental, o recurso a psicofármacos é condição essencial para o sucesso terapêutico e para a estabilização da pessoa.

Contudo, o elevado recurso a psicofármacos em Portugal é, em larga medida, consequência da dificuldade persistente no acesso a intervenções psicoterapêuticas no Serviço Nacional de Saúde (SNS), particularmente nos Cuidados de Saúde Primários. A escassez deste tipo de intervenção no setor público remete muitos utentes para o setor privado, onde os custos associados comprometem gravemente o princípio da equidade no acesso. O resultado é um paradoxo: temos profissionais de saúde mental capacitados, pessoas com indicação clínica clara para intervenção psicoterapêutica e um sistema que limita a articulação entre ambos.

A evidência científica é clara: a abordagem terapêutica ideal à doença mental deve combinar psicofármacos com intervenção psicoterapêutica. Mais ainda, sabe-se que, em numerosos casos, a intervenção psicoterapêutica isolada é eficaz no tratamento de problemas de saúde mental e deve, inclusive, ser considerada como

primeira linha de intervenção antes do início da terapêutica medicamentosa. Não se trata de opor soluções, mas de integrá-las. A saúde mental exige abordagens múltiplas, personalizadas e sustentadas no melhor conhecimento disponível.

Neste cenário, importa valorizar o papel dos enfermeiros especialistas em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica (ESMP), que em Portugal detêm uma competência específica – reconhecida em Diário da República e regulamentada pela Ordem dos Enfermeiros – para a realização de intervenção psicoterapêutica. Esta competência inclui, por exemplo, intervenções de inspiração cognitivo-comportamental ou humanista, ajustadas ao contexto e à pessoa. Contudo, esta capacidade técnica e relacional permanece, demasiadas vezes, subaproveitada nos contextos da prática clínica.

Entre os múltiplos fatores que explicam esta realidade, destacam-se dois: (a) os baixos rácios enfermeiro-utente, que dificultam a disponibilização de intervenções especializadas; e (b) a necessidade urgente de construir consensos transdisciplinares que coloquem os cidadãos no centro das decisões e estratégias em saúde. Quando se pensa em ampliar as respostas em saúde mental, importa não apenas recrutar mais profissionais, mas também rentabilizar, de forma inteligente e cooperativa, as competências já existentes no SNS.

É neste contexto que se realizará, entre os dias 15 e 17 de outubro de 2025, o XVI Congresso Internacional da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde

Realiza-se em Santarém, entre 15 e 17 de outubro de 2025, o XVI Congresso Internacional da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, tendo como tema central as “Intervenções Psicoterapêuticas”.

Mental (ASPESM), na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Santarém. O Congresso terá como tema central as “Intervenções Psicoterapêuticas”, com um programa científico que integra workshops dirigidos a enfermeiros especialistas em ESMP, focados na atualização de conhecimentos e competências psicoterapêuticas, bem como conferências proferidas por especialistas de renome nacional e internacional nas áreas da Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, Psiquiatria e Psicologia.

Serão abordados temas como a comunicação clínica, a relação terapêutica e os desafios contemporâneos da intervenção psicoterapêutica, incluindo o potencial da inteligência artificial como facilitador da intervenção especializada em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica. O programa contará, ainda, com espaços de reflexão sobre políticas e organização dos serviços de saúde mental, promovendo o diálogo entre Portugal, Espanha e Reino Unido numa mesa--redonda e tertúlia internacional.

Este ano, o Congresso conta com o apoio institucional da Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental e do Ministério da Saúde, bem como com o apoio científico da Sigma Theta Tau International Honor Society of Nursing – Europe Region. Será também ocasião para reconhecer, publicamente, o percurso de enfermeiros especialistas em ESMP que se destacaram nas áreas clínica e académica, através da entrega dos prémios ASPESM.

Mais do que um evento científico, este Congresso pretende ser um momento de convergência entre profissionais, disciplinas e visões, na construção de respostas mais integradas, equitativas e humanizadas. Sobretudo, pretende afirmar um novo paradigma: o cidadão – e não o diagnóstico, o profissional ou a organização – deve estar no centro das decisões em saúde mental. Para isso, é imperativo que todas as competências dos profissionais de saúde estejam efetivamente ao serviço das pessoas.

A intervenção psicoterapêutica não é um luxo. É, para muitos, uma necessidade clínica e um direito em saúde. Os enfermeiros especialistas em ESMP estão preparados para responder a esse desafio. Basta que se reúnam as condições que lhes permitam fazê-lo.

Braga: 200 crianças no Regimento de Cavalaria

Mais de 200 crianças, familiares de profissionais da ULS de Braga, participaram, em junho, numa iniciativa recheada de alegria, descoberta e espírito de união, no Regimento de Cavalaria n.º 6 de Braga. Organizado pelo Gabinete de Apoio ao Profissional daquela ULS, o evento proporcionou uma manhã

de atividades lúdicas e educativas para todas as idades. Entre peddy papers, experiências interativas com viaturas militares e momentos de proximidade com os cavalos do regimento, não faltaram motivos para sorrisos.

“Este é um dia feliz para todos nós. Pudemos reunir os nossos colaboradores e as suas famílias

num ambiente informal, alegre e fora do contexto habitual de trabalho. Foi uma oportunidade única para reforçar laços, valorizar quem faz parte da ULS Braga e proporcionar um momento verdadeiramente especial aos mais pequenos”, apontou Pedro Cambão, vogal executivo do CA da ULS de Braga.

ALBINO OLIVEIRA M AIA, PRESIDENTE DA COMISSãO ORGANIzADORA DO XIX CONGRESSO NACIONAL DE PSIqUIATRIA:

“não podemos deixar que o interesse

problemáticas da SM relegue os mais

idEntificandO havEr UMa crEScEntE prEOcUpaçãO rELativaMEntE à SaúdE MEntaL, dESdE a pandEMia dE cOvid-19, aLbinO OLivEira Maia, vicE-prESidEntE da SOciEdadE pOrtUgUESa dE pSiqUiatria E SaúdE MEntaL E prESidEntE da cOMiSSãO OrganizadOra dO cOngrESSO dEStE anO, tEME qUE taL pOSSa rEtirar aLgUMa atEnçãO àqUELES qUE aprESEntaM pErtUrbaçõES MaiS gravES a par, aLErta qUE O MaiOr intErESSE pELa SM ExigE a participaçãO ativa da pSiqUiatria E dOS pSiqUiatraS. O xix cOngrESSO naciOnaL dE pSiqUiatria vai rEaLizar-SE EntrE 19 E 22 dE nOvEMbrO, nO paLáciO dE cOngrESSOS dO aLgarvE, nOS SaLgadOS

Albino Oliveira Maia afirma que tem sido dada “uma maior atenção à Saúde Mental” e que tal “exigirá que cada vez mais os psiquiatras sejam chamados a esta discussão”. O coordenador da Unidade de Neuropsiquiatria da Fundação Champalimaud considera que, “muitas vezes, há a perspetiva errada de que os psiquiatras tratam a doença mental e que serão outros profissionais a dedicar-se a questões mais específicas da SM, quando essas divisões são, em grande medida, arbitrárias”.

Reconhecendo que a pandemia de covid-19 veio acentuar a preocupação da sociedade relativamente a esta área, Albino Oliveira Maia defende que “os psiquiatras não podem deixar que o interesse renovado pelas problemáticas da SM relegue os mais fragilizados, que são aqueles que apresentam perturbações mais

significativas e têm de estar no centro deste domínio”. A necessidade de serem “representantes ativos” destas pessoas torna-se ainda mais premente por estas terem, frequentemente, “uma voz insuficiente no seio da sociedade”.

O vice-presidente da SPPSM distingue que “o grau de intervenção da Psiquiatria é enorme, porque a especialidade é rica, complexa e multidimensional”. E lamenta que continue a haver “algum estigma, que, muitas vezes, não parte do cidadão comum, mas do próprio decisor, e que se reflete nalguma dificuldade em questões como a aprovação e o acesso a novos medicamentos, e a aplicação de tecnologia”. Na realidade, “a Psiquiatria está muito ligada à inovação e à ciência, mas depois temos mais dificuldade em fazer chegar essa atualização aos doentes do que muitas outras áreas da medicina”.

e Saúde Mental

“O grau de intervenção da Psiquiatria é enorme, porque a especialidade é rica, complexa e multidimensional”, garante o presidente da CO do XIX CNP.

A experiência de ter sido um jovem interno de Psiquiatria já doutorado

Albino Oliveira Maia nasceu há 46 anos, no Porto, onde viveu até ir para os Estados Unidos fazer o trabalho experimental do doutoramento, antes ainda de ser psiquiatra. Assim que se formou em Medicina, iniciou o Programa Doutoral em Biologia Básica e Aplicada da Universidade do Porto, mas logo que percebeu que essa experiência o levaria para o estrangeiro durante um determinado período, entendeu que seria mais prudente dar esse passo já enquanto médico. Decidiu, então, interromper o doutoramento, para realizar o Internato Geral, e só depois rumou aos EUA, em setembro

de 2005, “ainda sem qualquer ideia clara de que um dia viria a ser psiquiatra”. Foi durante essa etapa, na Universidade Duke, na Carolina do Norte, que tomou a decisão. Aliás, iniciou o doutoramento “convencido de que, provavelmente, viria a ser neurologista”, o que determinou ter avançado para a especialização em Neurociência. Apesar de o plano original ter sido o de fazer um doutoramento em modelos animais de doença neurológica, acabou por trabalhar com alguns modelos animais de perturbações psiquiátricas e contactar bastante com o Departamento de Psiquia-

tria, o que o levou a perceber que era por essa via que queria seguir. Após ter-se doutorado, ainda permaneceu durante mais dois anos nos EUA, até 2010, a terminar alguns projetos científicos, enquanto estudava para o exame do Harrison. Regressado a Portugal, fixou-se em Lisboa, para realizar o Internato de Psiquiatria no então CH de Lisboa Ocidental, altura em que já era casado e tinha dois filhos, a que se viria a somar, posteriormente, mais um. Apesar de ter sentido “muitas reservas e preocupações” em relação à experiência de ser um interno doutorado, a verdade é que a expe-

da

É por isso que alerta para a necessidade de “não permitir que os sistemas de saúde impeçam o acesso aos novos instrumentos que estão a chegar, pela perspetiva de não representarem grande diferença em relação ao que já existe”. Albino Oliveira Maia compreende que, “sendo os recursos finitos, é necessário tomar algumas decisões sobre a alocação de recursos e, em última análise, em primeiro lugar, é colocada a necessidade vital”. Ora, “a Psiquiatria trata predominantemente de doença crónica, de evolução prolongada e de longa duração, como a psicose, as perturbações do humor

e outras doenças psiquiátricas mais graves. Do ponto de vista da ciência, é mais difícil ter uma perspetiva do impacto da Psiquiatra no ato de salvar uma vida, mas ele existe, sendo o exemplo mais claro as intervenções que podemos fazer, a curto, médio e longo prazo, para reduzir a probabilidade de alguém ser vítima de suicídio”, justifica.

riência foi positiva. “Fui muito bem recebido. Trabalhei ombro a ombro com profissionais que compreenderam e valorizaram o meu trajeto, sem que tal os impedisse de me formar como um psiquiatra da mesma forma que o faziam com colegas que não tinham tido o mesmo treino académico que eu”, enaltece. Enquanto especialista, ainda se manteve no CHLO durante quase cinco anos, até setembro de 2019, quando abraçou o desafio de criar a Unidade de Neuropsiquiatria da Fundação Champalimaud, instituição onde já desenvolvia alguma atividade.

“Do ponto de vista da ciência, é mais difícil ter uma perspetiva do impacto da Psiquiatra no ato de salvar uma vida, mas ele existe”, adverte o especialista.

Contudo, sabe que essa medição é complexa: “É mais fácil percebermos o valor imediato de uma cirurgia ou da colocação de um stent do que o de uma intervenção psicoterapêutica, que pode permitir a um doente reformular a sua vida e impactar o tipo de comportamentos que vai ter, prolongando-a durante mais anos”. O especialista considera ser necessário que “os decisores estejam

“Muitas vezes, há a perspetiva errada de que os psiquiatras tratam a doença mental e que serão outros profissionais a dedicar-se a questões mais específicas
SM”, avança o vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria

renovado pelas fragilizados”

mais atentos, neste âmbito”, mas reconhece que “tal só acontecerá se nós os obrigarmos a isso”. Acontece que, “por ser mais difícil de medir, temos maior dificuldade em usar este argumento com os decisores, que acabam por agir com base em informação insuficiente”.

No âmbito da organização comunitária da prestação de serviços de SM, o nosso interlocutor mostra-se satisfeito com as opções tomadas: “O decisor tem privilegiado, de forma bastante razoável e justa, o tratamento dos doentes mais graves, onde se integram, nomeadamente, aqueles que têm psicose e esquizofrenia, que muitas vezes apresentam necessidades que exigem uma intervenção complexa”. Já no seio da opinião pública em geral, reconhece que “a depressão tem mais espaço, porque toca muitos de nós ou pessoas que nos são próximas, sendo, de forma inevitável, algo a que estamos individualmente mais atentos”.

A riqueza da abrangência da Psiquiatria e o peso da sua vertente comunitária

Albino Oliveira Maia reconhece que “a medicina como um todo tem evoluído no sentido de priorizar e estimular a discussão e a integração multidisciplinares” e, no seu entender, “a Psiquiatria tem esse conceito já estabelecido há muito tempo, através da psicossomática e da psiquiatria de ligação”.

Na sua perspetiva, “a Psiquiatria tem uma extraordinária riqueza na sua abrangência, porque também a psiquiatria comunitária tem como interlocutores preferenciais diversos profissionais”. Tal “reflete a necessidade desta disciplina de estar presente não apenas na prestação de cuidados de saúde mas também na integração desses cuidados por profissionais a vários níveis, nos CSP e nos cuidados especializados”.

Formado por um Serviço que apresentava “uma forte componente comunitária” – o Serviço de Psiquiatria do antigo CH de Lisboa Ocidental –, que muito apreciou, o vice-presidente da SPPSM não equaciona “como é que a Psiquiatria possa ser praticada de uma forma equitativa, justa e cientificamente bem validada sem ser com um modelo comunitário também”. Identificando haver uma natural evolução nesse campo, admite que “aquilo que hoje se defende como uma prática comunitária de excelência não é, porventura, o mesmo que se advogava há 30 anos, mas tal é verdade não só para a psiquiatria comunitária como também para quase todas as outras áreas da Psiquiatria e da Medicina”.

Durante esse período, contudo, deu-se uma grande mudança: “Enquanto, se recuarmos umas décadas, se questionava se a Psiquiatria seria hospitalar ou comunitária, hoje em dia, essa discussão não existe. O modelo comunitário não é alternativo a outros modelos, mas sim uma parte integrante da Psiquiatria, e, se alguns

Albino Oliveira Maia: “Não vejo como é que a Psiquiatria possa ser praticada de uma forma equitativa, justa e cientificamente bem validada sem ser com um modelo comunitário também.”

psiquiatras têm uma prática mais comunitária, outros dedicam-se mais à vertente hospitalar, e outros ainda englobam os dois tipos de prática.”

Na sua perspetiva, “não só há espaço como há necessidade dos dois modelos – até porque esta matéria não é sobre os profissionais, mas sobre os doentes – e, no fundo, já nem se trata de dois modelos, mas de um único modelo que atua a vários níveis”.

Ainda que, hoje em dia, pela natureza do Serviço e da instituição onde está inserido, o médico não tenha uma prática de Psiquiatria na vertente comunitária, não deixa de a “valorizar de forma extraordinária e de a recomendar inclusivamente a doentes, em determinados momentos, por considerar ser o mais apropriado”.

A riqueza científica da Psiquiatria

Avaliando o panorama do SNS, Albino Oliveira Maia reconhece es-

O psiquiatra considera que, “hoje em dia, o tempo que a especialidade ocupa na vida dos jovens corresponde a um fator muito mais importante na tomada de decisão e, nesse aspeto, a Psiquiatria revela-se uma opção relativamente atrativa”.

O objetivo de ter “um Programa construído pelos sócios de forma transparente e independente”

Albino Oliveira Maia mostra-se muito satisfeito com o trabalho realizado pela Direção da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, que integra enquanto vice-presidente. “Temos desenvolvido ações importantes, que têm modificado a SPPSM, uma das quais a nível do próprio Congresso, que, se já era bom, agora está ainda melhor”, comenta.

Uma das principais mudanças prendeu-se com a abertura da organização do Congresso aos sócios, através da possibilidade de submissão de propostas de simpósios, que são consideradas para a construção do Programa Científico. “Em vez de termos um Programa concebido pela Direção para a Sociedade, temos um Programa que a própria Sociedade constrói para si!”, destaca, acrescentando que, “apesar do receio, a iniciativa correu muito bem e é fundamental que se mantenha”.

Após o sucesso registado nos dois últimos congressos, desta vez, foi decidido dar mais um passo e atribuir a avaliação dessas propostas a uma Comissão Científica executiva, independente da Comissão Organizadora do Congresso e da Direção da Sociedade, de forma anónima. “Quem está a avaliar só se debruça sobre o conteúdo científico e também eu, que recebo as avaliações, não sei quem foi o autor da avaliação. Todo o processo é feito de forma absolutamente anónima, distanciando-nos do impacto das amizades individuais, com o objetivo de termos um Programa construído pelos sócios de forma transparente e independente”, explica.

Registando um aumento consecutivo, este ano, foram recebidas 51 propostas de simpósios, o que “demonstra como a Sociedade está viva, interessada e participativa”. Ao mesmo tempo, esse facto coloca “um desafio, pois, nem todas as pro-

tar a haver “um esforço no sentido de valorizar os profissionais e de modificar as condições para os preservar nos seus serviços, sendo agora necessário deixar passar algum tempo para perceber se esses processos terão sucesso”.

Contudo, lembra que, “ainda que a partir do sistema haja essa vontade, esse interesse não será absolutamente transversal a todos os players”. De facto, “nem todos estarão a valorizar extraordinariamente a Psiquiatria e a dar-lhe um espaço especial, pelo que continua a haver naturais assimetrias. O SNS é muito grande e, como tal, muito diverso, o

postas podem ser aceites, tornando necessário conseguir que os sócios não o vejam de forma agressiva ou

Este

ano, foram recebidas 51 propostas de simpósios, o que “demonstra como a Sociedade está viva, interessada e participativa”.

injusta e mantenham o entusiasmo nos anos seguintes”.

Também o número de profissionais interessados em participar no Congresso tem sido progressivamente crescente, bem como os apoios proporcionados pela indústria farmacêutica, “refletindo a qualidade dos eventos apresentados”.

Ainda que os psiquiatras sejam “uma parte muito importante da Sociedade e do próprio Congresso”, o nosso interlocutor realça que este evento tem “motivado interesse por parte de outros profissionais, como psicólogos, psicomotricistas, assistentes sociais e até mesmo investigadores de áreas associadas à Psiquiatria e à SM”.

que traz riqueza, algo que nalgumas situações é melhor, mas noutras não é tão bom”.

Apesar dos desafios, o especialista considera haver dois principais fatores que têm mantido os jovens médicos interessados pela Psiquiatria. Um deles é a “riqueza científica em domínios que são inevitavelmente apelativos, como a neurociência e a neurociência aplicada à doença”.

O outro prende-se com o facto de a Psiquiatria “não ter caído no mesmo tipo de problemas de outras especialidades, cujos profissionais ficaram absolutamente assoberbados de funções”.

“Se, há uns anos, o tempo que a especialidade ocuparia na vida dos jovens médicos não os assustaria nem influenciaria o processo de seleção, hoje em dia, corresponde a um fator muito mais importante na tomada de decisão e, nesse aspeto, a Psiquiatria revela-se uma opção relativamente atrativa”, comenta.

Em contrapartida, “há um domínio que nunca foi particularmente forte e que durante muito tempo contribuiu para que esta disciplina não fosse uma das mais atrativas, que é a perspetiva do ganho financeiro”.

PRIORIDADE FOI BEM ESTABELECIDA POR M ARIA JOãO HEITOR, REPRESENTANTE DA CO DAS III JORNADAS DE PSIqUIATRIA E

“Integrar a Saúde Mental em todas as

aO intErvir na SESSãO dE abErtUra, Maria jOãO hEitOr, dirEtOra dO dEpartaMEntO dE pSiqUiatria E SaúdE MEntaL da ULS dE LOUrES-OdivELaS E rEprESEntantE da cOMiSSãO OrganizadOra daS iii jOrnadaS dE pSiqUiatria E SM dinaMizadaS pELa inStitUiçãO, dEixOU cLarO cOnSidErar “iMpErativO intEgrar a SM EM tOdaS aS pOLíticaS”. cOntandO cOM O aLtO patrOcíniO da prESidência da rEpúbLica, O EvEntO, qUE rEgiStOU MaiS dE MEiO MiLhar dE participantES, tEvE LUgar nO MOStEirO dE OdivELaS, nOS diaS 15 E 16 dE MaiO, dUrantE a SEMana EUrOpEia da SaúdE MEntaL

Sob o mote “Perspetivas em Psiquiatria / Psiquiatria em Perspetiva”, estas Jornadas pretenderam “mobilizar esforços para colocar a Saúde Mental (SM) como tema prioritário, promovê-la em grupos vulneráveis, sensibilizar a sociedade civil para os riscos e benefícios do ‘digital’ para a SM, apresentar o estado da arte na doença mental e tratamentos inovadores, homenagear Carolina Beatriz Ângelo e combater o estigma associado à doença mental”. Maria João Heitor realçou como “as autarquias, em conjunto com as ULS, constituem uma poderosíssima parceria de resposta às populações que servem”.

que diariamente se procura garantir; e ainda a reintegração na sociedade após a recuperação da doença aguda”.

Maria João Heitor, que é presidente cessante da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e SM, realçou a importância de se abordarem as desigualdades em SM, o que “obriga a agir muito para lá da saúde”, afirmando mesmo que “integrar a SM em todas as políticas é um imperativo”.

Neste âmbito, valorizou a “relevância da SM enquanto área mais transversal da saúde, que se prende com as nossas emoções, cognições, motivações, escolhas, pensamentos

No caso da ULS de Loures-Odivelas, avançou que “a instituição está alinhada com três dos grandes eixos que a União Europeia preconiza em matéria de SM – o acesso à prevenção, que deverá ser cada vez mais assegurado com articulação entre o hospital, os cuidados de saúde primários, a saúde pública e a comunidade; o acesso a cuidados de SM e a tratamentos de elevada qualidade,

“Um em cada quatro portugueses sofreu de uma perturbação psiquiátrica no último ano”, alertou Maria João Heitor.

de diversos setores”, desejou que pudessem “tirar o maior proveito” das Jornadas, “em prol dos doentes, que têm pleno direito ao acesso às melhores práticas e a uma vida digna e com qualidade”.

Miguel Lemos: “A empatia é um dos alicerces mais poderosos na organização e funcionamento dos serviços de SM”

Miguel Lemos, presidente do Conselho de Administração da ULS de Loures-Odivelas (ULSLOD) desde fevereiro de 2024, também marcou presença na Sessão de Abertura do

evento, tendo sublinhado o facto de a sua equipa de trabalho ter “colocado desde o primeiro momento a SM como prioridade das suas orientações estratégicas”. Nesse sentido, esta ULS foi uma das 15 que participaram no projeto-piloto nacional de criação de centros de responsabilidade integrados dedicados à SM, iniciado em 2024 e que vai decorrer até finais de 2025.

Defendendo que “a empatia é um elemento central da visão estratégica da ULSLOD”, aquele responsável realçou como “a empatia é um dos alicerces mais poderosos na organização e funcionamento dos serviços de

e comportamentos”. Adiantando que “um em cada quatro portugueses sofreu de uma perturbação psiquiátrica no último ano”, a psiquiatra alertou para o facto de o “estigma ser, provavelmente, o maior obstáculo no acesso a cuidados de saúde”.

Agradecendo a presença dos participantes, muitos dos quais “fazem parte de equipas multidisciplinares

Maria João Heitor
Elementos da Comissão Organizadora das Jornadas

políticas é um imperativo”

SM. Mais do que uma competência relacional, constitui uma atitude ética e terapêutica, que molda a forma como os profissionais se relacionam com os utentes, promovendo um cuidado centrado na pessoa, na sua história e na sua dignidade”.

E acrescentou: “Através da empatia, cria-se um espaço de escuta ativa, compreensão e aceitação, essenciais para o restabelecimento do equilíbrio emocional e para a adesão aos planos terapêuticos. Nos contextos clínicos, a empatia manifesta-se na comunicação terapêutica, na criação de ambientes acolhedores e na capacidade de responder de forma sensível às necessidades emocionais dos utentes. Esta abordagem não diretiva permite que o utente se sinta compreendido e respeitado, o que é determinante para a eficácia de todo o acompanhamento e tratamento.”

Miguel Lemos sublinhou também a importância da empatia institucional, defendendo que “a forma como as instituições integram valores de escuta, flexibilidade e humanização contribui para ambientes de trabalho mais saudáveis, com maior motivação, menor rotatividade e maior satisfação dos utentes”. Exemplo dessa prática é a recente criação do Gabinete de Felicidade e Bem-Estar nesta ULS, com o objetivo de “apoiar e servir os profissionais na definição ou concretização do seu próprio significado de felicidade e bem-estar”. Do seu ponto de vista, “a empatia desempenha um papel crucial na promoção da SM como prioridade pública, pelo que é algo do qual não

“A empatia desempenha um papel crucial na promoção da SM como prioridade pública, pelo que é algo do qual não devemos desistir”, afirmou Miguel Lemos.

devemos desistir”. Adicionalmente, também “o combate ao estigma e à discriminação social associados à doença mental exigem uma abordagem empática e educativa”. Na sua opinião, “o obstáculo à inclusão e ao acesso aos cuidados que continua a existir pode ser ressignificado, através de cuidados humanizados e da participação ativa dos utentes e familiares em processos de decisão e controlo social”.

Neste contexto, admitiu que “a empatia não pode ser considerada unicamente como uma ferramenta clínica, mas sim como um instrumento de transformação social, que nos deve conduzir permanentemente na procura de uma existência em comunidade onde a felicidade e o bem-estar possam ser a nossa realidade de vida coletiva”.

Miguel Lemos sublinhou a excelente colaboração que a ULSLOD tem tido com os municípios de Loures e de Odivelas em todas as áreas”. Relativamente à SM, referiu que tal se traduziu, no caso de Odivelas, na transição, em setembro de 2024, de um polo comunitário de SM para a alçada da ULS, e, em relação a Loures, na criação de um polo comunitário de SM, em abril de 2023.

Sónia Paixão: “Assumimos a área da SM como uma das prioridades”

Sónia Paixão, vice-presidente da Câmara Municipal de Loures e pre-

nidade, reforçando o apoio e acompanhamento psicológico a vítimas de violência doméstica e a famílias, por exemplo”, referiu.

Acreditando no trabalho colaborativo, Sónia Paixão adiantou que, nos últimos meses, têm tentado reunir com todos os serviços da CM Loures e com a ULSLOD, de forma a “perceber de que forma as intervenções podem ser complementadas e a reforçar o trabalho em rede e de colaboração permanente, de forma a melhorar a SM da comunidade”.

Edgar Valles: “Somos todos parte ativa na construção de uma abordagem mais integrada, humana e eficaz”

sidente do Conselho Local de Saúde Mental Loures-Odivelas, também tomou a palavra nesta Sessão de Abertura. Começou por salientar “a importância de trabalharmos a área da SM em proximidade”, adiantando que, precisamente “graças à proximidade e à atuação precoce das equipas

Também a Câmara Municipal de Odivelas, entidade responsável por assegurar a gestão do Mosteiro de Odivelas, esteve representada no evento através do seu vice-presidente, Edgar Valles, que logo enalteceu como “este evento representa uma excelente oportunidade para reforçar o compromisso da CM Odivelas com a promoção da SM e com a construção de respostas mais eficazes

para os desafios que ainda persistem nesta área”.

Convicto de que “todos temos um papel fundamental no progresso da SM, seja enquanto decisores, profissionais, parceiros institucionais ou cidadãos”, realçou como “somos todos parte ativa na construção de uma abordagem mais integrada, humana e eficaz”.

Nesse sentido, “só com esforço colaborativo e continuado conseguiremos desenvolver respostas mais sustentáveis e ajustadas às reais necessidades das pessoas, garantindo-lhes uma SM acessível, digna e de qualidade”, defendeu.

Edgar Valles destacou ainda a parceria com a ULSLOD ao nível do Centro Comunitário de Saúde Mental de Odivelas, que transitou para a instituição em setembro de 2024. “Este polo é um pilar essencial na prestação e promoção de cuidados nesta área, pela proximidade e acessibilidade que oferece à população, constituindo-se como uma resposta construída em rede, que articula CSP, serviços hospitalares e estruturas na comunidade, e permitindo-nos ainda dar uma assistência privilegiada aos profissionais e familiares da CM Odivelas”, distinguiu.

de saúde mental comunitárias da ULSLOD e da ULS de São José, os principais problemas têm vindo a ser mitigados”.

A autarca destacou o facto de o executivo municipal ter “assumido a área da SM como uma das prioridades” e defendeu que “a saúde está em todas as políticas, devendo ser uma área transversal multissetorial”.

No domínio da SM, distinguiu a preocupação que têm relativamente ao bem-estar da comunidade, mas também dos 3100 trabalhadores, aos quais são disponibilizados serviços de Psicologia e de Psiquiatria.

“Trabalhar com os profissionais dentro da nossa organização é altamente relevante, da mesma forma que priorizamos o trabalho na comu-

Miguel Lemos, Maria João Heitor, Sónia Paixão e Edgar Valles

ULS de Almada-Seixal é pioneira no arranque da cirurgia robótica convergindo múltiplas

apóS a inStaLaçãO, nO finaL dE 2024, dO priMEirO rObô para rEaLizaçãO dE cirUrgia rObótica aSSiStida na ULSaS - hOSpitaL garcia dE Orta, aS priMEiraS intErvEnçõES rEaLizaraM-SE EM fEvErEirO, MarcandO O iníciO dE UMa nOva Era para a inStitUiçãO. EStE prOgraMa diStingUE-SE dE MUitOS OUtrOS já iMpLEMEntadOS nO paíS pELa abrangência, dESdE O iníciO, daS ESpEciaLidadES dE UrOLOgia, cirUrgia gEraL, OtOrrinOLaringOLOgia E ginEcOLOgia.

Quando, em 2018, o urologista Miguel Carvalho assumiu a direção do Serviço de Urologia do Hospital Garcia de Orta, que integra a ULS de Almada-Seixal, uma das suas primeiras iniciativas foi trazer o tema da cirurgia robótica para as reuniões de planeamento estratégico.

“Naquela altura, não estávamos a descobrir nada, pois, essa tecnologia já era utilizada noutras partes do mundo há décadas, nomeadamente nos EUA e em vários países europeus, com vantagens clínicas e cirúrgicas perfeitamente estabelecidas e demonstradas. Nos congressos de Urologia americanos e europeus, víamos os robôs em áreas de exposição técnica que tinham a dimensão de campos de futebol e percebíamos que o futuro passaria por ali. Só não sabíamos quando chegaria até nós!”, conta Miguel Carvalho.

Em Portugal, o primeiro sistema cirúrgico robótico foi introduzido no Hospital da Luz Lisboa, em 2010. Seguiram-se outras instituições privadas – Fundação Champalimaud, CUF Infante Santo e Hospital da Luz Arrábida. Em 2019, finalmente, o primeiro robô chegou ao SNS, concretamente ao Hospital Curry Cabral, fruto de uma doação da entidade Imamat Ismaili.

O diretor do Serviço encarou esse momento como “um marco histórico, que fez os profissionais acreditarem que talvez fosse possível haver robôs no SNS”. A motivação de sempre era clara: “Dar aos doentes o melhor tratamento, sem ficar atrás de outras instituições.”

Foi com surpresa que, em 2023, recebeu a notícia de que seria instalado o primeiro robô cirúrgico no HGO – o modelo Da Vinci Xi. “Tinha insistido tanto no assunto que, quando me comunicaram a notícia, pensei que era uma brincadeira!”, recorda, entre risos, notando que também os seus colegas, num primeiro momento, “não estavam a acreditar”, justificando:

“O HGO é o principal hospital da margem sul e serve meio milhão de pessoas, mas nunca pensámos que iríamos competir com hospitais universitários, como Santa Maria ou Coimbra, e, no entanto, recebemos o robô antes de alguns deles.”

Foi rapidamente criada uma Comissão de Cirurgia Robótica, coordenada por Miguel Carvalho, e o robô foi instalado a 10 de outubro de 2024, representando um investimento de 1,9 milhões de euros.

Miguel Carvalho: “Nunca pensámos que iríamos competir com hospitais universitários e, no entanto, recebemos o robô antes de alguns deles.”

Logo após a instalação, iniciaram-se os processos de constituição das equipas e de formação dos profissionais. Na última semana de fevereiro, realizaram-se as primeiras quatro cirurgias robóticas assistidas – duas sigmoidectomias em doentes oncológicos, pela equipa do Centro de Referência do Cancro do Reto, e uma nefrectomia parcial e uma prostatectomia radical por duas equipas de Urologia.

deixar obra feita em prol dos doentes é muito gratificante. Sabemos que a nossa atividade implica sempre algum grau de agressão ao organismo. Minimizar esse impacto e devolver as pessoas à sua vida ativa, com mais qualidade, é extremamente recompensador.”

Até perto do final de junho, tinham sido realizadas 27 cirurgias robóticas: 11 urológicas, nove colorretais, seis da parede abdominal e uma

Ao contrário do que acontece habitualmente – com a Urologia a iniciar o programa e outras especialidades a juntarem-se mais tarde –, no HGO, o projeto arrancou com a integração da Cirurgia Geral, da Ginecologia e da Otorrinolaringologia desde o início.

“Propusemo-nos ao desafio de convergir várias especialidades num projeto único, o que também implica confluir vontades e sentimentos, e a experiência tem sido ótima. Comprometemo-nos a rentabilizar o equipamento e a servir a população em áreas clínicas de relevo. Outros serviços poderão ainda juntar-se”, destaca.

À data da reportagem – o mesmo dia em que foi realizada a prostatectomia radical – já tinham sido formados 18 cirurgiões, 24 enfermeiros, bem como técnicos auxiliares de saúde, anestesistas e profissionais das áreas de Esterilização e Manutenção.

“Foi um dos dias mais felizes da minha vida”, confessa Miguel Carvalho, que liderou a cirurgia, explicando: “Concretizar sonhos e

de ORL. A Ginecologia deverá iniciar a sua atividade em julho.

A poupança em custos indiretos com a cirurgia robótica

Miguel Carvalho não tem dúvidas das vantagens claras da cirurgia robótica, que considera “uma tecnologia que beneficia grandemente os doentes”.

Entre as principais vantagens, destaca “o menor risco de complicações, a visão tridimensional, a maior precisão cirúrgica, a menor perda de sangue e a recuperação significativamente mais rápida, com menos dor e menor tempo de internamento”. Nas primeiras intervenções urológicas, previa-se alta hospitalar um a dois dias após a cirurgia. Por laparoscopia, seriam necessários quatro a cinco dias; por cirurgia aberta, até duas semanas. O coordenador da Comissão de Cirurgia Robótica do HGO lança ainda algumas questões: “Quanto custa uma diária de internamento? E uma baixa prolongada? E se o doente ficar incontinente? O custo em fraldas para o resto da vida pode ser muito elevado. Colocar um esfíncter artificial custa cerca de 10 mil euros – o mesmo valor que uma prótese peniana.” E conclui: “Está mais do que provado que a cirurgia robótica, considerando o panorama global, é mais económi-

“O robô foi um verdadeiro milestone na cirurgia da próstata”, sublinha o coordenador da Comissão de Cirurgia Robótica.

A equipa da primeira cirurgia robótica urológica

arranque múltiplas especialidades

ca do que a laparoscopia. Se o doente não precisar de cuidados intensivos e tiver alta mais cedo, o custo para a instituição é muito menor. Para a sociedade também, pois, o doente regressa mais rapidamente à vida ativa.”

O nosso interlocutor sublinha que “o robô foi um verdadeiro milestone na cirurgia da próstata”, justificando que “esta cirurgia, que trata o principal cancro da população masculina (atinge um em cada nove ou dez homens), implicava anteriormente, com grande frequência, disfunção erétil ou incontinência. A robótica minimiza significativamente esses efeitos”.

A importância do planeamento e da formação contínua

Para Miguel Carvalho, “o robô tem também um efeito de retenção

de talento no SNS, ao tornar os hospitais mais atrativos para profissionais jovens e motivados”. Afinal, “os médicos gostam de dar o melhor aos doentes -- isso define um médico. E este tipo de inovação permite-nos dar exatamente isso”, defende. Enaltece, assim, como “a inovação é fundamental para motivar as equipas e reter os recém-especialistas”.

cológica, enquanto a Cirurgia Geral estruturou grupos dedicados a colorretal, parede abdominal, esófago-gástrico e hepato-bilio-pancreático. A ORL planeia desenvolver cirurgia transoral, beneficiando da precisão da robótica.

Com um único robô, o seu uso terá de ser cuidadosamente planeado, com horários operatórios atri-

“A inovação é fundamental para motivar as equipas e reter os recém-especialistas”, defende o urologista.

A aprendizagem da técnica exige dezenas de horas em simulador e certificação no estrangeiro (neste caso, em Espanha). Também enfermeiros, técnicos e anestesistas passam por formação teórica e prática.

Nas primeiras cirurgias, as equipas contaram com o apoio dos urologistas David Subirá (Hospital CUF Tejo) e Kris Maes (Hospital da Luz Lisboa), ambos proctors da Intuitive Surgery Da Vinci na Europa.

Atualmente, a Urologia está a realizar cirurgias da próstata e do rim, com planos para avançar para a bexiga. A Ginecologia utiliza a robótica para tratar patologia oncológica gine-

buídos de forma equilibrada. Miguel Carvalho estima que, até ao final do ano, entre 300 a 500 doentes possam beneficiar desta tecnologia no HGO.

“Com este instrumento, não voltamos atrás. A laparoscopia deixará de ser a técnica preferencial, e rapidamente a procura superará a capacidade instalada, podendo justificar-se a aquisição de mais equipamentos”, afirma.

Até ao final de 2025, Portugal deverá contar com 13 robôs, entre instituições públicas e privadas. Em Espanha já existem 150.

Carlos Luz: o elevado potencial da robótica na realização de cirurgias mais complexas

A dirigir o Serviço de Cirurgia Geral desde abril de 2023, numa altura em que já integrava a instituição há 30 anos, Carlos Luz recebeu com todo o entusiasmo a notícia de que o HGO iria investir na aquisição de um robô cirúrgico.

A equipa dedicada à área colorretal foi a primeira do Serviço de Cirurgia Geral a avançar para a realização de cirurgia robótica. “A cirurgia do cólon e em especial a do reto bene-

MIGUEL CARVALHO, COORDENADOR DA COMISSãO DE CIRURGIA ROBóTICA:
“Não há nada melhor para um médico do que poder tratar os doentes com o estado da arte”

Miguel Carvalho nasceu a 22 de julho de 1968, em Lisboa. Se, nos primeiros anos do curso de Medicina, pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, pensava que seguiria a especialidade de Cardiologia, a experiência que teve no Bloco Operatório do Hospital Pulido Valente,

ecografias, cistoscopias, biópsias e estudos urodinâmicos”, observa o especialista, comentando:

“Somos uma das poucas especialidades que conseguem ser extremamente autónomas e altamente tecnológicas. A diversidade da Urologia permite aos profissionais dedicarem-se a áreas como a onco-

no 4.º ano, mudou decisivamente o seu percurso: “Foi ‘amor à primeira vista’! A partir daí, só queria estar no Bloco, e esqueci a Cardiologia.”

No ano seguinte, em 1992, teve a oportunidade de acompanhar o urologista José Manuel Reis Santos em cirurgias com “recurso a câmaras e endoscópios, instrumentos ainda pouco utilizados na época”. Essa vivência levou-o a perceber que o seu caminho seria na Urologia.

“Aí, percebi que a Urologia era ‘a minha cara’. Sempre gostei muito de tecnologia, e esta especialidade oferece grande autonomia, pois, do ponto de vista médico, depende essencialmente da Imagiologia, como TAC, RM e Medicina Nuclear. O urologista opera, mas também é capaz de diagnosticar os doentes, realizando exames como

ficiarão enormemente da precisão que a cirurgia robótica permite”, distingue.

Entretanto, em março, seguiu-se a equipa de patologia da parede abdominal, área que Carlos Luz prevê que apresente “grandes mais-valias nos casos mais complexos”. De facto, “a laparoscopia oferece algumas limitações na cirurgia da parede abdominal, que obrigam o cirurgião a reinventar-se, e a robótica vem simplificar alguns movimentos e maximizar os seus efeitos”.

logia, a urologia feminina, a litíase ou a disfunção erétil, o que a torna tão atraente”, comenta Miguel Carvalho.

Após realizar o Internato Geral nos Hospitais Civis de Lisboa, foi no Hospital Garcia de Orta que fez o Internato de Urologia, o que faz com que a instituição seja parte da sua trajetória há quase 30 anos. Em 2018, assumiu a direção do Serviço de Urologia.

Com a instalação do primeiro robô para cirurgia robótica assistida no HGO, Miguel Carvalho coordenou a Comissão de Cirurgia Robótica da ULSAS e ficou extremamente satisfeito com o feito alcançado pela instituição.

“Não há nada melhor para um médico do que poder tratar os doentes com o estado da arte”, afirma, com entusiasmo.

Essa corresponderá a “uma área de diferenciação do HGO, na medida em que nenhum hospital da área de Lisboa e poucos no país farão este tipo de intervenção por rotina”. Aliás, enquanto Centro de Referência de Parede Abdominal Complexa, mesmo antes do arranque da robótica nessa área, o Serviço já recebia doentes para cirurgia complexa da parede abdominal referenciados de outras instituições.

Carlos Luz
Miguel Carvalho com o proctor Kris Maes

Se, “por um lado, essa referenciação é lisonjeadora, pelo reconhecimento que lhe está associado, por outro, é também um fator de preocupação, devido sobretudo aos constrangimentos relativos a tempos operatórios e recursos, que levam a que o tempo de espera até à cirurgia possa chegar a três anos. Só no que respeita a hérnias, temos atualmente cerca de mil doentes em lista de espera”, adianta.

“A robótica vai-nos permitir passar para outro patamar e ter uma melhor performance”, diz o diretor do Serviço de Cirurgia Geral.

O diretor do Serviço de Cirurgia Geral reconhece que, “se, hoje em dia, muitos dos doentes com hérnias inguinais, umbilicais e incisionais são operados por laparoscopia, a robótica vai-nos permitir passar para outro patamar e ter uma melhor performance. Tal realidade será alar-

gada à cirurgia hepática, pancreática e esófago-gástrica. Esta última corresponde à sua área de intervenção, que deverá ser a derradeira equipa a avançar, após a do fígado e pâncreas.

Tal como Miguel Carvalho, também Carlos Luz defende que esta aposta é “simultaneamente positiva para doentes e profissionais, na medida em que os cirurgiões procuram nas novas tecnologias patamares de motivação que lhes permitem manter o entusiasmo de estar ligados a instituições que têm outros fatores menos atrativos. A diferenciação é claramente um fator motivador para profissionais das áreas técnicas e ajuda a manter uma visão positiva face ao futuro”.

O cirurgião alerta que “se as estruturas estagnarem no que respeita à evolução tecnológica, deixam de competir inclusivamente em termos de diferenciação científica, além de perderem essa oportunidade de modernização”.

O cirurgião destaca o facto de o HGO ser, “provavelmente, o primeiro hospital que faz cirurgia robótica a ter uma dinâmica de reprocessamento de dispositivos médicos fora da instituição, o que traz alguns desafios e riscos”. Desde meados de 2023 que a esterilização passou a ser realizada pelo serviço externo do SECH - Serviço de Esterilização Comum dos Hospitais, localizado em Lisboa, onde diariamente por ali passam todos os instrumentos cirúrgicos de 26 unidades de saúde.

“Trata-se de um circuito muito longo, que pode apresentar disfunções e, se, por um lado, o SECH ainda não tem experiência na esterilização de material robótico, por outro, nós queremos muito que o circuito funcione de forma adequada e segura, para não se deteriorarem materiais extraordinariamente caros”, comenta.

Enquanto o cirurgião principal opera a partir da consola, junto do doente estão um enfermeiro instrumentista e um cirurgião auxiliar, que colaboram na intervenção. Adicionalmente, “há alguns passos da intervenção cirúrgica, como a agrafagem e secção do cólon ou a realização da anastomose do reto, que podem ser

Carlos Luz realça a “visão plena e de qualidade” proporcionada por esta tecnologia, possibilitando aos profissionais “desenvolverem a sua curva de aprendizagem”.

RITA RIBEIRO, ENFERMEIRA RESPONSáVEL DA UROLOGIA NO BLOCO OPERATóRIO:

“O nosso objetivo é prestar os melhores cuidados possíveis, e o robô ajuda-nos a consegui-lo”

A enfermeira Rita Ribeiro teve oportunidade de participar em todas as cirurgias robóticas realizadas na semana de estreia do equipamento. Após ter assumido a função de enfermeira circulante nas duas sigmoidectomias e na nefrectomia parcial, ficou responsável por instrumentar a prostatectomia radical. Apesar de as especialidades contarem com equipas de enfermagem específicas, a decisão foi de juntar diversos elementos, na tentativa de “poderem auxiliar-se mutuamente e tanto a seleção de enfermeiros de Urologia conseguirem retirar alguns ensinamentos e antecipar algumas ações com base no que observaram nas sigmoidectomias, como os enfermeiros de Cirurgia Geral terem capacidade de ajudar os colegas nas intervenções urológicas”.

Rita Ribeiro considera que a ro-

bótica apresenta “grande vantagem em relação às abordagens laparoscópica e de via aberta”, salientando como “a angulação das pinças é

uma mais-valia em certas cirurgias, nomeadamente a prostatectomia, ao permitir alcançar zonas de difícil acesso e facilitar o processo de hemóstase”.

Por isso mesmo, representa “um fator de motivação para as equipas, ao possibilitar-nos atingir melhores resultados. O nosso objetivo e aquilo por que também lutamos é que no final do dia o doente tenha recebido os melhores cuidados possíveis, e o robô ajuda-nos a consegui-lo”.

Rita Ribeiro está alocada ao Bloco Operatório do HGO há 13 dos 21 anos em que trabalha na instituição. O seu percurso começou no Internamento de Cirurgia Geral, tendo transitado depois para o BO, onde integrou as equipas de Cirurgia Geral, Ginecologia e, em 2019, Urologia.

PAULO ALVES, CIRURGI ãO GERAL:
“Este será o caminho!”

Paulo Alves foi o cirurgião principal das duas primeiras sigmoidectomias realizadas por cirurgia robótica, no final de maio. Ambas foram realizadas no mesmo dia, ao longo de cerca de três horas cada uma.

feitos por laparoscopia, pelo cirurgião auxiliar – que aí tem um papel primordial, sob supervisão do cirurgião principal. Esta pode ser uma forma de minimizar o impacto financeiro do programa robótico, tornando-o acessível a mais doentes”, evidencia. Carlos Luz realça a “visão plena e de qualidade” proporcionada por esta tecnologia, possibilitando a “formação de profissionais, nomeadamente internos e recém-especialistas, que conseguem, assim, aprender com os cirurgiões que estão a operar, partilhar questões e desenvolver a sua curva de aprendizagem”.

Adicionalmente, a possibilidade de se fazerem anotações no monitor gera uma “interatividade bidirecional entre o cirurgião principal e o proctor (supervisor), na medida em que o primeiro pode estar imerso na consola a receber inputs do segundo, sem necessidade de interromper a intervenção”.

O diretor do Serviço de Cirurgia Geral valoriza bastante o facto de a cirurgia robótica ter um “impacto biológico bastante menor sobre o doente, proporcionando desde logo uma melhor recuperação, e facilitar a realização de procedimentos complexos com uma precisão imensa, diminuindo o risco de complicações”. Por estas razões, “em centros de grande volume, a robótica passou a ser o gold standard das cirurgias major mais complexas”.

Rita Dias: o estímulo trazido ao grupo de enfermagem

Rita Dias foi a enfermeira instrumentista das duas primeiras sigmoidectomias realizadas por cirurgia robótica. À semelhança da seleção de colegas que frequentaram a formação da Intuitive Surgery Da Vinci, iniciada em novembro, ficou habilitada a desempenhar qualquer uma das funções da enfermagem nas cirurgias robóticas. “A nossa equipa

A desenvolver ainda a sua curva de aprendizagem, o médico refere que, “por enquanto, é uma experiência difícil, que requer muito treino”, mas não tem dúvidas de que “esse será o caminho”, confirmando a “maior precisão e delicadeza de movimentos em relação à laparoscopia”. Além do próprio ato cirúrgico, o cirurgião geral identifica dificuldades associadas também à própria “logística de preparação do equipamento, que, com treino, terão uma cadência mais acelerada”. Paulo Alves integrou o Serviço de Cirurgia Geral da ULSLAS no final de novembro de 2024, após ter trabalhado durante cerca de quatro anos no Hospital Fernando Fonseca, onde realizou a formação e certificação em cirurgia robótica.

tem um papel importante principalmente nos processos de ligação à torre, gestão do carrinho do doente e instrumentação na mesa”, explica. Se o objetivo é que, depois, esta formação possa ser alargada a mais colegas, para já, foi direcionada às equipas alocadas às especialidades que iam beneficiar primeiramente do robô, e que já tinham experiência. “É importante que estes enfermeiros já tenham conhecimento das técnicas cirúrgicas laparoscópica e de via aberta, para que, caso algo corra menos bem, saibam dar essa resposta”, observa. Para a enfermeira, este avanço para a robótica é muito positivo não só para os doentes mas também para os próprios profissionais: “Estimula-nos a querer saber mais e os resultados obtidos são bastante gratificantes. No dia seguinte à cirurgia, os doentes estão mesmo bem e o feedback é muito bom.”

A trabalhar no HGO desde 2003, Rita Dias assumiu a função de enfermeira responsável de Cirurgia Geral do Bloco Operatório em 2021, cerca de 10 anos após ter começado a trabalhar no BO.

(Continuação da pág. 11)
Rita Dias
A equipa da primeira cirurgia robótica colorretal

CRI de Hospitalização Domiciliária avança nas ULS da Cova da Beira e da Póvoa de Varzim / Vila do Conde

AULS da Cova da Beira prepara-se para oficializar a criação de mais um Centro de Responsabilidade Integrado (CRI), desta feita na área da Hospitalização Domiciliária (HD). O parecer favorável à proposta da ULSCBEIRA foi anunciado no início de maio pelo diretor executivo do SNS, Álvaro Santos Almeida, durante a sessão de abertura do V Encontro Nacional de Hospitalização Domiciliária, que decorreu no Grande Auditório da Faculdade de Ciências da Saúde da UBI.

O evento foi promovido pelo Mi nistério da Saúde, com o apoio local daquela ULS, cujo presidente do CA, João Marques Gomes – no cargo há pouco mais de seis meses –, sublinhou na sessão de abertura do evento que a unidade que dirige “era uma das três a nível nacional sem este modelo de in ternamento ativo, o que reforçou a ur gência em refundar este serviço, após uma experiência anterior”.

E deixou claro que foi com o apoio do coordenador nacional do Programa de Hospitalização Domici liária, Delfim Rodrigues, entretanto falecido, e a colaboração de outras ULS que foi possível, em tempo re corde, lançar novamente a Unidade de Hospitalização Domiciliária da ULSCBEIRA, em atividade desde o início de março. Atualmente, com cinco camas operacionais, está pre vista a expansão para dez até ao final de 2025 e, posteriormente, para vin te camas em 2026, “numa trajetória de crescimento sustentado”.

Foi neste contexto que o diretor executivo do SNS confirmou o pare cer positivo à transformação daquela Unidade de HD em CRI, “um passo decisivo, que reforça a autonomia, eficiência e orientação para resul tados da equipa”. De referir que o mesmo sucedeu relativamente à candidatura apresentada pela ULS da Póvoa de Varzim / Vila do Conde. As duas unidades tornar-se-ão, assim, as primeiras do país a ver os seus projetos de HD funcionar como CRI.

hospitalização domiciliária: “O vosso esforço tem contribuído para uma resposta eficaz, segura e humanizada, permitindo que milhares de doentes recebam cuidados hospitalares no conforto das suas casas.”

De salientar que, em 2024, a HD atingiu uma capacidade instalada de

366 camas no SNS, tendo sido avaliados mais de 28 mil utentes e internados 11.500 doentes nas suas residências. Com uma demora média de internamento de 9,3 dias, estima-se que esta modalidade tenha evitado mais de 107 mil internamentos convencionais.

Voltou a ferramenta eficaz para a falta de vitamina B121

Na sua intervenção, Álvaro Santos Almeida enalteceu o papel de todos os profissionais envolvidos na

solução injetável. 4. INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS Prevenção e tratamento de estados carenciais de vitamina B12: Situações de mal absorção da vitamina B12: pós-gastrectomia e afeções de tipo atrófico, doença de Crohn, pós ressecção do íleo, sprue e infestações parasitárias intestinais prolongadas. Anemia perniciosa e síndromes perniciosiformes. 5. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO A estabelecer pelo médico em função da situação patológica do doente. Regra geral uma administração IM por dia ou em dias alternados. O efeito terapêutico não é imediato e pode só aparecer após a segunda ou terceira injeção. Modo de administração: injecção intramuscular ou subcutânea profunda. A via I.V. não está recomendada. Insuficiência renal e/ou insuficiência

O boost de Vitamina B122

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álvaro Santos Almeida e João Marques Gomes

UNIDADE DE SAúDE FAMILIAR D. SANCHO I,

UNIDADE LOCAL DE SAúDE DA LEzíRIA

respostas diferenciadas nas áreas da valorizam importantes problemas de

a cOnSULta MULtidiScipLinar dE ObESidadE é a MaiS rEcEntE rESpOSta criada pELa USf d. SanchO i E EfEtivada pELO SEU cOOrdEnadOr, pEdrO aLvES, nUMa aLtUra EM qUE SE prEvê qUE, até 2050, 60% da pOpULaçãO adULta nO MUndO

tErá ExcESSO dE pESO OU ObESidadE rEcEntEMEntE, intErviEraM ainda na cESSaçãO tabágica, igUaLMEntE atravéS dE UMa cOnSULta tEMática. a cELEbrar 18 anOS dE atividadE, ESta USf tEM atingidO rESULtadOS qUE a diStingUEM nO qUadrO da ULS da LEzíria E até MESMO a nívEL naciOnaL

Constituída pelo edifício sede, em Pontével, e pelas extensões de Vale da Pedra e de Valada, esta USF responde a mais de 11 mil utentes, das freguesias de Pontével, Valada, Vale da Pedra, Vila Chã de Ourique e das uniões de freguesias do Cartaxo e Vale da Pinta e de Ereira e Lapa, pertencentes ao concelho do Cartaxo. Com mais duas microequipas face ao que sucedia há 18 anos, aquando da sua inauguração, conta agora com sete, a última das quais foi integrada no início deste ano.

mais, por si só, não quer dizer nada. Manter o índice de desempenho, o acesso, o controlo e a satisfação dos nossos utentes com listas sobrecarregadas em mais de 12% que o recomendado, durante todos estes anos, porventura, quer dizer muito!”, destaca Pedro Alves, coordenador desta USF desde março de 2022.

Também o facto de estar inserida numa zona maioritariamente rural, onde residem muitos idosos, reflete-se numa maior carga de domicílios e na dificuldade em atingir certas métricas. “Em áreas geográfi-

“Até há três meses, as listas eram de mais de 1900 utentes, o que representa uma sobrecarga de 18% sobre a atividade para garantir o seu devido controlo. Acontece que ter utentes a

cas mais extensas, cada visita domiciliária ocupa bastante tempo, mas, dado o isolamento da população, essa intervenção torna-se essencial”, justifica.

Pedro Alves:

“Manter o índice de desempenho, o acesso, o controlo e a satisfação dos nossos utentes com listas sobrecarregadas em mais de 12% que o recomendado, durante todos estes anos, porventura, quer dizer muito!”

O especialista em MGF adianta que a USF D. Sancho I encerrou o ano de 2024 com um IDE de 82,1%, revelando-se a melhor unidade da ULSL em termos de acesso. Tendo atingido 100% na gestão da doença e 93,5% na gestão da saúde, o coordenador aponta que “o IDE foi penalizado apenas pela qualificação da prescrição, resultado de um trabalho acrescido e de excelência, que não é possível, na maioria das vezes, sem prescrever exames e medicamentos”.

Pedro Alves sublinha que, “ao longo dos anos, esta tem sido uma unidade de referência a nível nacional, que tem conseguido atingir e manter ótimos indicadores”. Contudo, refere que tal excelência traz, inevitavelmente, “uma saturação própria de muitos anos de exercício e resultado também de alguma ini-

quidade na distribuição dos utentes a nível local e nacional”. Apesar de, durante muito tempo, a equipa não ter sido reforçada, o número de utentes ia aumentando para além da obrigatoriedade de resposta, também pela incapacidade de negarem cuidados à população. “Não conseguíamos rejeitar os pedidos que íamos recebendo, até porque temos consciência de que, num lugar mais periférico, nós somos a única resposta. Sempre tivemos essa responsabilidade social e tentámos garantir a nossa resposta ao máximo”, distingue. Assim, foi com grande satisfação que assistiram ao mais recente alargamento da equipa, que veio permitir redimensionar os ficheiros, tentando normalizar a carga de trabalho. Apesar de terem atingido a totalidade dos indicadores a que se propuseram, em 2024, a verdade é que não

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viram ainda atribuídos os incentivos institucionais. “Falta alguma transparência nesse processo”, afirma Pedro Alves, que espera que possam “receber em breve alguma informação por parte da ULSL sobre a aplicabilidade dos incentivos, nomeadamente em formação e equipamentos clínicos, para melhor servir a população”.

A atuação sobre as diretrizes nacionais

Entre 2018 e o final de 2024, a USF D. Sancho I teve em funcionamento a Consulta de Apoio Intensivo à Cessação Tabágica, que era aberta não só aos seus utentes como a toda a população referenciada. Era a microequipa de Pedro Alves que assegurava o seu funcionamento. “Criámos a consulta por gosto e interesse em fazer um pouco mais e diferente, indo ao

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da obesidade e do tabagismo de saúde na população que serve

Nome: D. Sancho I surgiu como forma de homenagem ao segundo Rei de Portugal, que, em 1194, deu o Foral a Pontével. Conhecido como “O Povoador”, dedicou muito do seu esforço governativo à organização política, administrativa e económica do seu reino e outorgou diversas cartas de foral.

Logótipo: Visa representar as quinas da bandeira portuguesa, que compõem o seu escudo central.

encontro das diretrizes nacionais no âmbito do tabagismo”, destaca. Contudo, o facto de a consulta não ter figurado como carteira adicional acabou por inviabilizar a sua continuidade. “Efetivamente, temos que definir o que fazemos e o tempo que atribuímos às funções. E essa consulta especializada estava a retirar duas horas ao meu tempo normal de consulta. Se quando temos um interno que partilha essa área de interesse podemos fazer uma intersubstituição entre os dois e não penalizar os utentes, quando não temos esse recurso humano essa gestão torna-se muito mais difícil”, justifica. Com a formação que, entretanto, foi disponibilizada à equipa nesta área, a opção foi terminar essa consulta de apoio intensivo, passando essa abordagem a ser feita pelos profissionais junto dos utentes da sua lista. No início deste ano, por sua vez, arrancou nesta USF uma das primeiras consultas multidisciplinares de obesidade realizadas nos CSP a nível nacional, numa altura em que “o combate à obesidade e a sua prevenção estão, neste momento, nas grandes balizas nacionais”. Afinal, “estima-se que, até 2050, 60% da população adulta no mundo terá excesso de peso ou obesidade, prevalência que ronda já os 30% em crianças e adolescentes”.

“Se, para a Consulta de Cessação Tabágica, tínhamos alguma procura, no caso da Consulta de Obesidade, teremos ‘o mundo inteiro’!, destaca o coordenador.

A certa altura, esta equipa já tinha constituído um Plano Assistencial Integrado da Pré-Obesidade. Contudo, “não existia ainda o arsenal terapêutico disponível hoje para tratar a obesidade, pelo que a intervenção era baseada principalmente na mudança de comportamento e alteração do estilo de vida”. Esta consulta surgiu, assim, como “um contínuo desse trabalho que vinha a ser desenvolvido ao longo dos anos e que era um motivo de estímulo para a equipa”.

PEDRO ALVES, COORDENADOR:

“Decidi focar-me nos grandes pilares da saúde”

Pedro Alves nasceu a 7 de maio de 1980, em Guimarães. Interessado por várias áreas, acabou por seguir Medicina por querer “fazer o bem e saber as razões das coisas, algo que se pratica bastante em medicina, sabendo-se que o que hoje é verdade amanhã poderá não o ser, dada a rápida evolução”. Em 2004, concluiu a sua formação pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, tornando-se o primeiro de uma família de bastantes médicos.

tética e Antienvelhecimento, Medicina Desportiva, e Termalismo e Hidrologia, e pequenas formações em Nutrição. “Decidi focar-me nos grandes pilares da saúde”, refere. Em 2009, quando se tornou especialista, iniciou alguma atividade privada no Hospital da Luz Lisboa, onde colaborava no Serviço de Atendimento Permanente. Dois anos depois, foi convidado a integrar a equipa da USF D. Sancho I, tendo assumido a sua coordenação em março de 2023.

Após realizar o Ano Comum no Hospital de Guimarães, no ano seguinte, iniciou o internato de MGF no Centro de Saúde do Cartaxo. O seu “espírito inquieto” fê-lo realizar paralelamente uma pós-graduação em Gestão de Unidades de Saúde pela Universidade Católica, que seria a primeira de muitas. Mais tarde, viria a frequentar pós-graduações em Medicina Es-

Para já, a microequipa destacada é a que já havia realizado a Consulta de Apoio Intensivo à Cessação Tabágica, e o tempo dedicado é de duas horas semanais. No entanto, o coordenador projeta que este grupo não será suficiente para responder às solicitações. “Se, para a Consulta de Cessação Tabágica, tínhamos alguma procura, no caso da Consulta de Obesidade, teremos ‘o mundo inteiro’! A prevalência desta patologia é

Pedro Alves acumula ainda a função de secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Medicina Estética, da qual é fundador. Pai de duas filhas, de 18 e 12 anos, a primeira mostra grande vontade de seguir Medicina, à semelhança dos pais. Durante os tempos livres, gosta de praticar desporto, dedicando-se sobretudo ao padel e ao crossfit.

tão grande que exige que todos trabalhemos para a combater”, destaca o coordenador.

A diferenciação dos profissionais ao serviço da população

Pedro Alves partilha com a Just News aquela que considera ser a chave para o sucesso: “Acima de tudo, é

(Continua na pág. 16)

Viva uma Vida Nova

(Continuação da pág. 15)

gostarmos do que fazemos e trabalharmos pelos doentes, porque se o fizéssemos por questões financeiras ou de imposição nada seria possível.”

E lembra que “a carga adicional de utentes já tidos bem como o nú-

“A chave para o sucesso é, acima de tudo, gostarmos do que fazemos e trabalharmos pelos doentes”, considera o nosso interlocutor.

mero de atendimentos acrescidos realizados só são possíveis quando os profissionais gostam efetivamente daquilo que fazem”.

De igual forma, defende que “não basta a excelência a título individual”, pois, “à semelhança do que sucede no futebol, ter as melhores estrelas não faz o melhor clube”, ideia que procura reforçar nas reuniões de equipa.

Assim, uma das práticas que aplicam no dia-a-dia passa pelo “aproveitamento do melhor de cada um para benefício do grupo”. Efetivamente, “não temos de ser todos bons numa área nem partilhar os mesmos interesses; precisamos, sim, de reconhecer as nossas diferenças e aproveitar aquilo que cada um tem de melhor”. Nesse sentido, ao invés de haver um acompanhamento muito restrito dos utentes pela sua microequipa, as diferentes capacidades dos profissio-

TIAGO CASTRO DA CUNHA, MÉDICO:

“Prevenir o desgaste cutâneo precoce ou investir na perda de peso são ações que têm reflexo na saúde global dos utentes”

Após uma experiência de dois anos de trabalho em França, entre 2022 e 2024, Tiago Castro da Cunha decidiu regressar a Portugal, precisamente à USF D. Sancho I, onde havia realizado o Internato de MGF, que finalizou em 2020. “Já conhecia esta Unidade e sabia tratar-se de uma equipa madura, que trabalhava muito bem, pelo que, após alguma ponderação, decidi aceitar”, refere.

Apesar da considerável quebra remuneratória que sentiu, não está arrependido, até porque a diferenciação em Medicina Estética tem-no ajudado a preencher essa diferença. O médico reconhece como essa valência lhe permite “estar mais desperto para certo tipo de tratamentos, até do ponto de vista de prevenção futura, que é uma tónica

central da MGF. Afinal, enquanto seres globais que somos, todos os aspetos contam, até para nos sentirmos bem psicologicamente. Prevenir o desgaste cutâneo precoce ou investir na perda de peso são ações que têm reflexo em termos estéticos mas igualmente a nível da saúde global dos utentes”.

O percurso que desenvolveu em França, numa clínica de reabilitação, onde geria uma área de

35 camas ocupadas maioritariamente por doentes geriátricos e paliativos, levou-o a desenvolver um grande gosto por ambas as valências, que considera serem ainda pouco valorizadas em Portugal. “Há um percurso grande a fazer e seria mesmo importante haver mais formação nestas áreas durante o internato, porque nós, enquanto médicos de família, somos quem acompanha mais proximamente os doentes e os seus familiares”, defende o médico.

E reconhece que o conhecimento que trouxe de França nestas áreas veio impactar o trabalho que tem desenvolvido desde então enquanto médico de família: “A minha abordagem junto das famílias é agora muito diferente, fruto do grande contacto que tive com essas realidades!” Em breve, espera poder aprofundar a sua formação nestas áreas, para aliar o conhecimento prático ao teórico e poder dar a melhor resposta à população servida pela Unidade, que é maioritariamente envelhecida.

Tiago Castro da Cunha é natural de Vila Verde, onde nasceu há 37 anos. Em 2015, após ter-se formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e realizado o Ano Comum no Hospital Distrital de Santarém, iniciou o internato de Medicina Nuclear. Contudo, rapidamente percebeu que “a componente clínica tinha um peso muito menor do que pensava e do que realmente desejava”. Foi nesse seguimento que surgiu a MGF, “também pela sua maior abrangência de intervenção”.

Antes de ter emigrado para França, onde vive parte da sua família, ainda trabalhou como recém-especialista na UCSP Terra Verde, em Vila Verde, durante um ano e meio. Regressou à USF D. Sancho I em julho de 2024, altura em que iniciou a pós-graduação em Medicina Estética pela Universidade de Alcalá, em Madrid.

“Se algum de nós tiver maior interesse ou apetência por certa área, por que não colocar essa sua capacitação à disposição dos colegas?”, sugere o médico.

nais são aproveitadas para benefício de todos os utentes. “Se algum de nós tiver maior interesse ou apetência por certa área, por que não colocar essa sua capacitação à disposição dos colegas? Desde que haja um equilíbrio de trabalho, todos ganhamos em que exista essa dinâmica!”, sublinha.

Esta unidade, acreditada com Nível Bom pela Direção-Geral da Saúde (DGS), através da Agência de Qualidade Sanitária da Andaluzia, terá em breve de decidir se irá ou não propor-se ao processo de recertificação. “Apesar de este tipo de processos fazerem todo o sentido, podem ser geradores de grande stress, quando as equipas já estão próximas do seu limite”, alerta, prosseguindo:

“Os profissionais serão os mesmos e os seus tempos de trabalho serão mantidos, pelo que, para desenvolvermos esse processo, teremos de roubar tempo de atendimento aos nossos utentes, ou tempo familiar, e provavelmente qualquer um deles não irá entender. Por isso, será preciso perceber se esse passo será benéfico ou não para a equipa.”

Paralelamente, considera que é preciso atender ao verdadeiro objetivo do processo de certificação: “A sua utilidade é mesmo pararmos para pensar sobre o que estamos a fazer e o que podemos melhorar.”

Reconhecendo a importância da noção de equipa, na sequência da re-

organização dos cuidados de saúde, com a generalização do modelo ULS, e da renovação de parte da equipa, em 2024, Pedro Alves entendeu por bem centrar os planos de melhoria em atividades de promoção da união entre os profissionais. Nesse sentido, foram dinamizadas, ao longo do ano, algumas atividades de team building “Muitas vezes, estas iniciativas englobaram os profissionais e as suas famílias, numa perspetiva de fortalecimento dos laços entre todos os colaboradores e de sentirem também esta casa como sua, e para que os próprios familiares pudessem aproximar-se desta realidade e perceber melhor as nossas ações diárias”, distingue.

Sónia Cardoso e Eva Sousa: a experiência de trabalhar numa extensão

Sónia Cardoso é a médica de família que, desde fevereiro de 2019, presta cuidados médicos aos utentes da extensão de Valada, uma aldeia ribeirinha situada na margem do rio Tejo, e admite que adora trabalhar ali. “A possibilidade de sermos nós a deslocar-nos e a disponibilizarmos cuidados de saúde de proximidade à população no seu ambiente é muito prazerosa, e permite-nos conhecer outras realidades”, refere. Adicionalmente, o facto de tratar-se de uma “uma população maioritariamente idosa gera uma relação de maior proximidade”, destaca Sónia Cardoso, acrescentando: “Estas pessoas acarinham-nos muito e acolhem-nos como se fossemos da sua

“Estas pessoas acarinham-nos muito e acolhem-nos como se fossemos da sua família”, distingue Sónia Cardoso.

família. Não quer dizer que essa proximidade não possa existir também em Pontével, mas o simples facto de este espaço ser pequeno leva a que nos encontremos todos na sala de espera ou na consulta!”

As terças e as sextas-feiras são os dias em que esta extensão está a funcionar, trabalhando a equipa na sede nos restantes três dias. Por ter como orientadora de internato Sónia Cardoso, Eva Sousa também acaba por estar muitas vezes presente na extensão de Valada. “É uma experiência verdadeiramente enriquecedora. Apesar de não ficar muito longe da sede, a população é completamente diferente, talvez pelo facto de estar mais isolada, levando-a a valorizar bastante a presença do médico duas vezes por semana”, afirma.

A especialista em MGF sublinha a importância de a extensão estar aberta, para “garantir o apoio de que a população necessita, que é muito global, abarcando, além das consultas médicas, momentos de educação para a saúde, por exemplo”.

A agenda não só costuma estar totalmente preenchida, como a equipa acaba por realizar consultas extra: “Tratando-se de pessoas que, na sua maioria não têm transporte próprio, com que coragem é que iríamos pedir-lhes para se deslocarem a Pontével no dia seguinte?”

Sónia Cardoso, Eva Sousa e Lina Silva (secretária

Antes de transitar para a USF D. Sancho I, Sónia Cardoso, de 49 anos, já havia trabalhado numa outra extensão, neste caso, a de São João da Ribeira, que pertencia à USF Salinas, em Rio Maior, onde havia realizado o

internato de MGF. Natural de Aveiro, formou-se em 2009 pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, tendo realizado o Internato Geral no CH do Oeste Norte.

Já Eva Sousa, de 46 anos, após ter desenvolvido um percurso de investigação na área da Biologia Molecular, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, na sequência da sua formação em Biologia, entendeu que queria seguir Medicina. Se, inicialmente, o seu interesse recaía

“Quer enquanto estudantes de Medicina, quer como internos de MGF, é importante estarmos rodeados de profissionais que gostem de partilhar o seu conhecimento”, afirma Eva Sousa.

mais sobre Ginecologia e Obstetrícia, à medida que foi conhecendo melhor outras especialidades, durante o curso, foi-se inclinando cada vez mais para a MGF, que acabou por ser a sua “1.ª e única opção” e lhe permitiria aplicar o interesse pela Saúde da Mulher.

Por residir no concelho do Cartaxo, após concluir a sua formação pela FMUL, em 2022, realizou o Ano Comum no Hospital Distrital de Santarém. Conhecendo a USF D. Sancho I por aí ter realizado os estágios de MGF durante o curso, foi fácil para si escolher essa Unidade para realizar o Internato da especialidade:

ANA ALEXANDRE CALADO, DIRETORA CLíNICA PARA A áREA DOS CSP:

“Esta

equipa merece todo o meu reconhecimento”

“Para quem está numa posição de liderança, é sempre muito satisfatório ver o resultado do trabalho e da organização das equipas espelhado na melhoria da condição de saúde da população e na geração de ganhos em saúde”, começa por evidenciar Ana Alexandre Calado, diretora clínica para a área dos CSP da ULS da Lezíria desde março de 2025, destacando a necessidade de “garantir que o plano local esteja alinhado com as prioridades definidas para toda a ULS”.

Reconhecendo na equipa da USF D. Sancho I esse exemplo, para a profissional, “a escolha das áreas em que esta Unidade tem atuado reflete um trabalho de estudo sobre a população que serve e demonstra a valorização de importantes problemas de saúde pública, neste caso, a obesidade e o tabagismo”. Efetivamente, “este grupo merece todo o meu reconhecimento pela maneira como se organizou para prestar melhores cuidados de saúde, de forma multidisciplinar, em áreas que identificou como prioritárias na sua população”.

Ana Alexandre Calado destaca a forma como esta USF tem respondido a “vários determinantes de saúde”, contribuindo para que apresente “resultados consistentes no IDE da ULS da Lezíria”.

Ainda que a atual Direção Clínica para os CSP esteja em funções apenas desde meados de março, encontrando-se, por isso, ainda numa “fase de avaliação diagnóstica”, são já vários os projetos que tem vindo a desenvolver ou a dar continuidade.

“Já conhecia a equipa e os seus hábitos de trabalho. O facto de serem pessoas realmente muito acessíveis e gostarem bastante de ensinar também me cativou, porque, quer enquanto estudantes de Medicina, quer como internos de MGF, é importante estarmos rodeados de profissionais que gostem de partilhar o seu conhecimento. Particularmente nesta fase inicial da carreira, em que surgem algumas dúvidas, é bom ver que os colegas estão sempre dispostos a ajudar e, inclusive, a mostrar-nos casos clínicos diferentes, para podermos contactar com o máximo de situações possíveis.”

Ana Fernandes: a ligação à investigação

Ana Fernandes é a médica que, desde julho de 2024, na sequência da aposentação do especialista Ma-

A descentralização de consultas hospitalares em áreas como a Imunoalergologia, a Hipertensão e Risco Cardiovascular, a Diabetes e a Psiquiatria é uma das iniciativas em curso. “Em breve, pretendemos iniciar também a Consulta de Dor”, adianta, notando que “a grande dispersão geográfica da ULS, composta por nove concelhos, exige uma maior aposta na disponibilização de cuidados de proximidade, que sabemos gerar uma maior satisfação e eficiência”.

Encontra-se também em desenvolvimento um projeto de descentralização de exames complementares de diagnóstico, nomeadamente nas áreas da Radiologia e da Pneumologia, que permite aos colegas dos CSP encaminharem os pedidos de exames para o Hospital de Santarém. “Assim, conseguimos que os utentes tenham acesso aos exames de que necessitam de uma maneira mais célere, em áreas que identificámos como prioritárias e que teriam capacidade de serem respondidas internamente”.

A Direção Clínica tem ainda trabalhado na integração dos resultados no processo clínico do utente, para que “os profissionais possam aceder à informação independentemente do nível de cuidados em que estejam inseridos”, e está a criar os processos assistenciais integrados da Asma e da Insuficiência Cardíaca.

“O nosso foco é que o utente esteja no centro do sistema e que todos os cuidados se organizem em torno dele”, sublinha Ana Alexandre Calado, que, ao longo da sua carreira, tem acompanhado as diversas

nuel Estrada, assegura a prestação de cuidados médicos na extensão de Vale da Pedra.

Apesar do gosto que tinha em trabalhar na USF Vale do Sorraia, em Coruche, onde realizou o internato da especialidade, não pôde deixar de aceitar o convite para integrar a USF D. Sancho I, cuja “equipa é igualmente fantástica” e lhe permite reduzir consideravelmente o tempo na deslocação casa-trabalho de 50 para 10 minutos. “Agora, aproveito o tempo que antes dedicava à viagem a projetos do meu interesse, o que me traz uma maior qualidade de vida”, refere.

Com grande interesse pela área respiratória e enquanto secretária do Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da APMGF, é a esse Grupo que dedica parte do seu tempo. “A minha paixão fora do âmbito da USF é o GRESP e gosto muito de trabalhar na sua dinamização! A esse propósito, adianta que em breve deverá arrancar uma investigação sobre doenças respiratórias na população infantil escolas − integrada no projeto LungHealth4Life − que contemplará a realização de espirometrias a cerca de 300 crianças da região do Algarve.

Dado o seu interesse pela área, Ana Fernandes foi convidada a integrar o Gabinete de Investigação da ULS da Lezíria, o que se efetivou em meados de junho. “Espero contribuir para colocar a Lezíria no topo da investigação a nível nacional. Ela permite-nos conhecer coisas novas e ajudar não só os nossos utentes, mas todos os outros”, destaca.

reformas dos CSP. Em 2007, quando concluiu o Internato de MGF no Centro de Saúde de Coruche, estavam a ser criadas as primeiras USF. Aí ficou a trabalhar como recém-especialista até ter transitado, no final de 2009, para a USF Cartaxo Terra Viva, onde se manteve até 2021, altura em que integrou a USF Almeida

Garrett. Nas duas USF, teve oportunidade de pertencer aos conselhos técnicos durante vários anos.

“Mudar o mindset e a cultura das organizações não acontece de forma rápida. No entanto, essa alteração é extremamente necessária, porque podemos ser muito mais efetivos e eficientes se trabalharmos de forma articulada e multidisciplinar. Conseguimos, sem dúvida, obter uma maior satisfação dos utentes e profissionais, e gerar maiores ganhos em saúde”, remata.

Foi o trabalho que já dinamizava neste âmbito, na área clínica, que a levou a receber o convite: “Já por várias vezes eu tinha solicitado autorização para fazer estudos. O último pedido tinha sido para a realização de uma investigação internacional sobre as causas de dispneia num grupo de 20 utentes da minha lista, investigação que é promovida pelo General Practitioners Research Institute. Foi nessa sequência que surgiu o desafio!”

Reconhecendo a importância da reabilitação respiratória, a médica espera conseguir implementar um programa comunitário, com o apoio da Direção Clínica da ULS da Lezíria, replicando o Programa de Reabilitação

Ana Fernandes
(secretária clínica)

(Continuação da pág. 17)

Respiratória de Proximidade (PRRP) da ULS do Algarve. Com uma equipa constituída por médicos de família, pneumologista, psicólogos, nutricionistas, técnicos de Cardiopneumologia, fisioterapeutas e técnicos de Desporto municipais, a sua intervenção assenta na avaliação e controlo clínico, na promoção do exercício e na educação dos doentes com DPOC, ao longo de 12 meses.

Criado em 2017, este projeto-piloto demonstra “melhorar a qualidade de vida dos doentes que passavam a maior parte do seu tempo em casa. Com este programa, a recuperação da capacidade pulmonar permite-lhes voltar a fazer as suas atividades de vida diária, como sair para ir ao café ou para fazer as compras de for-

SARA VALBOM, ENFERMEIRA:

“Se tivermos os recursos humanos e materiais necessários, conseguimos resolver aqui muitas situações”

Sara Valbom é um dos dois elementos do grupo de enfermagem que integram a USF D. Sancho I desde a sua fundação. Na altura, trabalhava no Centro de Saúde do Cartaxo, cuja estrutura integrava Pontével como uma das suas extensões. “Havia um certo estigma face à comunidade de Pontével, que era considerada muito agressiva e exigente, pelo que existia alguma dificuldade em alocar profissionais à mesma”, recorda.

Naquele tempo, revelava-se uma extensão grande, comparativamente às restantes, abarcando cerca de três mil utentes. Foi então que alguns profissionais que trabalhavam no Centro de Saúde do Cartaxo decidiram avançar com a constituição daquela que viria a ser a USF D. Sancho I.

“A Dr.ª Madalena Rebordão e o enfermeiro Hugo de Souza foram

os grandes impulsionadores da sua concretização”, conta, notando que, da equipa inicial, e para além de si, apenas ainda se mantêm a médica Isabel Branco e a enfermeira Olinda Casimiro. Após o arranque da USF, em fevereiro de 2007, a transição a modelo B ocorreu dois anos depois.

“Esta USF é um prolongamento da nossa casa! Temo-nos distinguido por realizar consultas pioneiras e atingir muito bons resultados”, distingue. Enquanto enfermeira que faz microequipa com o médico Pedro

Alves, participa ativamente na Consulta Multidisciplinar de Obesidade e na Consulta de Apoio Intensivo à Cessação Tabágica, entre outras. Além disso, realiza a Consulta de Cuidados de Enfermagem ao Pé Diabético, afirmando-se como “uma das poucas da ULS da Lezíria a ter este tipo de abordagem aos utentes com diabetes”. Com uma cadeira podológica, um micromotor e uma seleção de materiais específicos para o efeito, a enfermeira tem conseguido prestar cuidados de enfermagem podológicos aos utentes diabéticos e não diabéticos, mas igualmente necessitados.

“Realizo a avaliação do risco de desenvolvimento de úlcera de pé diabético e procedimentos como remoção de calosidades e tratamento de onicomicoses, tentativa de desencravamento de unhas e massagem terapêutica aos pés. Se tivermos os recursos humanos e materiais necessários, conseguimos resolver aqui muitas situações e evitar o encaminhamento dos utentes para os cuidados hospitalares, evitando deste modo problemas mais graves”, garante Sara Valbom.

Reconhecendo a importância desta consulta, a enfermeira lamenta “não ter mais tempo para a sua execução, considerando que cada uma pode chegar a demorar 1 hora. O material específico para a sua operacionalização também nem sempre é suficiente para aumentar a resposta”. Aguarda, por isso, com alguma expetativa, a aquisição de uma seleção de materiais adequados, desde brocas, lâminas, limas e curetas, de modo a “poder agilizar todo o processo de forma mais célere”.

Sara Valbom realça que “os pés são a base do corpo, pelo que uma boa saúde e um cuidado adequado dos mesmos evitam possíveis complicações, como amputações, no caso dos diabéticos, e melhoram o bem-estar e a qualidade de vida da generalidade da população. Por isso, este trabalho é útil e proporciona qualidade de vida a todos os utentes”.

Tratando-se de “uma população muito rural, os homens têm ainda

ma autónoma”, evidencia. Para a sua concretização, Ana Fernandes prevê contar com a ajuda de Carla Gomes, médica de família da USF Levante, que integra o PRRP da ULS do Algarve, e coordenadora do Grupo de Trabalho de Reabilitação Respiratória do GRESP.

Ana Fernandes, de 34 anos, tem desenvolvido já bastante trabalho com os seus utentes da área respiratória e não rejeita a possibilidade de, futuramente, implementar uma consulta dedicada a esta temática.

Filipa Chaves: o trabalho da enfermagem em torno da prevenção

Filipa Chaves é uma das sete profissionais que integram o grupo de enfermagem desta USF. Foi em dezembro de 2024 que começou a trabalhar nesta Unidade, alguns anos após já aí ter realizado alguns estágios, inclusive o de integração à vida profissional, em que trabalhou o ficheiro que tem hoje em dia.

Foi precisamente o facto de já conhecer a realidade desta USF que facilitou o seu processo de integração.

“Vacinei alguns bebés há 12 anos, quando era aluno, que hoje já são crianças bem crescidas!”, conta a en-

“Os pés são a base do corpo, pelo que uma boa saúde e um cuidado adequado dos mesmos evitam possíveis complicações, no caso dos diabéticos, e melhoram o bem-estar da generalidade da população.”

o preconceito de ir à pedicure ou à podóloga”, adianta a profissional, que, simultaneamente, tem tentado educar para a saúde, a fim de contribuir para a “mudança de mentalidades”.

Dado o interesse que manifesta nesta área, a enfermeira acaba por prestar cuidados não só aos utentes diabéticos do seu ficheiro, mas aos de toda a USF. “Os utentes são sempre avaliados primeiramente pela enfermeira de família e, caso necessário, encaminhados posteriormente à consulta de cuidados de enfermagem para execução de cuidados podológicos”, explicita.

Sara Valbom soma 51 anos de vida e é natural de Santarém, cidade onde fez a sua formação superior em Enfermagem. Com uma carreira de quase três décadas, tem trabalhado essencialmente em CSP, salvo um período de um ano em que integrou o Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Distrital de Santarém e colaborou simultaneamente numa clínica de hemodiálise, atividade esta que se estendeu por cinco anos. Antes de começar a trabalhar na USF D. Sancho I, passou pelos centros de saúde de Alpiarça e do Cartaxo.

fermeira, que adianta que “o trabalho em USF é bastante mais organizado comparativamente às UCSP, estrutura por onde já passou”.

A juntar à pós-graduação que tem em Emergência e Catástrofe está a especialização em Saúde Familiar, que Filipa Chaves se encontra a frequentar. Assim, muito

em breve, passarão a ser cinco os elementos de enfermagem com especialização, nas áreas de Saúde Materna e Obstétrica, Saúde Familiar e Comunitária.

“Conseguimos proporcionar uma grande

Salete Santos, de 48 anos, trabalha nesta USF já lá vão 13, contudo, se considerarmos o tempo em que esteve no Centro de Saúde de Pontével, passa a 24. Foi aí que começou a trabalhar, em 1997, na altura, num outro edifício, em que, às extensões de Valada e Vale da Pedra, se juntavam ainda Ereira, Lapa e Vale da Pinta.

Com a constituição da USF, houve uma certa centralização, de forma até a “aumentar a disponibilidade dos cuidados aos doentes, que agora encontram a sede aberta todos os dias, ao contrário do que sucedia anteriormente”.

Com três postos no balcão de atendimento, desde há cerca de um ano que este está com maior movimento, dada a avaria do quiosque eletrónico. “Esta situação obriga todos os utentes a passarem pela secretaria, pelo que a sua rápida resolução seria benéfica para nós e para a população”, expõe.

Há cerca de um mês, o secretariado passou a contar com o Sistema de Atendimento e Resposta Ágil, ferramenta que veio melhorar o processo de comunicação entre

os utentes e a unidade. “O utente nunca deixa de receber a chamada de retorno e nós podemos efetuá-la quando temos disponibilidade, sem interromper o atendimento. E fazemos questão de devolver as chamadas no próprio dia”, afirma. Relativamente ao e-mail, Salete Santos comenta que, “desde a pandemia de covid-19, os utentes habituaram-se a recorrer a essa via para

Filipa Chaves
SALETE SANTOS, SECRETáRIA CLíNICA:

A profissional reconhece que “ainda há um longo caminho a percorrer nos CSP a nível do reconhecimento do trabalho da enfermagem, que não se limita a administrar vacinas! A prevenção é muito difícil e trabalhosa, e a tentativa de alterar hábitos junto das famílias ainda é mais árdua!” Do seu ponto de vista, “a junção de cuidados de saúde primários e secundários através das ULS, e a consequente integração dos CSP em grupos de investigação, por exemplo, foi fundamental para dar visibilidade ao trabalho realizado em CSP. Apesar de a articulação entre os dois níveis de cuidados ter de ser melhorada para se tirarem os maiores benefícios do modelo ULS, o caminho é este!”

Natural do Porto, Filipa Chaves, de 34 anos, formou-se em Enferma-

CARACTERIzAçãO DA POPULAçãO INSCRITA (JUNHO DE 2025)

Utentes: 12.318 (16.430 UP)

Idosos: 2970 (Índice de dependência: 38,53%)

Crianças e jovens com idade ≤ 14 anos: 1518 (Índice de dependência: 19,69%)

Mulheres em idade fértil (dos 15 aos 54 anos): 2445

AtIvIDADE (2024)

Consultas médicas

Contactos diretos: 23.880

Contactos indiretos: 15.363

Domicílios médicos: 177

Enfermagem

Contactos diretos: 19.982

Contactos indiretos: 2674

Domicílios de enfermagem: 1254

PROFISSIONAIS (JUNHO DE 2025)

Médicos: 7

Enfermeiros: 7

Assistentes técnicos: 5

Internos: 3

grande acessibilidade”

tudo, quando nem todas as questões são passíveis de ser resolvidas assim”. De facto, “há situações que têm de ser tratadas presencialmente, como a renovação de uma baixa médica, que não é um ato administrativo, mas sim médico. Por vezes, não é fácil para os utentes compreender essa necessidade”.

Ainda assim, considera que, de forma geral, “é uma população pacífica, que vê as suas necessidades respondidas muito rapidamente”. No fundo, “se não conseguimos proporcionar uma grande acessibilidade, o que leva até a que tenhamos muitas pessoas de Aveiras e da Azambuja a contactar-nos para tentarem transitar para a nossa USF, o que não é possível, dado o seu local de residência”.

Atualmente, o secretariado está prestes a completar o ficheiro do mais recente elemento médico que integrou a equipa, dando prioridade aos utentes inscritos na UCSP do Cartaxo. “Regra geral, as pessoas ficam muito contentes e gratas por finalmente ser-lhes atribuído um médico de família!”, remata.

“A prevenção é muito difícil e trabalhosa, e a tentativa de alterar hábitos junto das famílias ainda mais árdua é!”, distingue Filipa Chaves.

gem pela Escola Superior de Saúde de Santarém, após ter feito uma anterior formação em Ciências Forenses e Criminais. Logo começou a trabalhar no Hospital Distrital de Santarém, onde passou, durante quase cinco anos, pelos serviços de Urgência Geral, Ortopedia e Cirurgia Vascular. Em 2020, transitou para os CSP, sendo que durante três anos colaborou na UCSP do Cartaxo e na UCC do Cartaxo, tendo passado ainda pelo Centro de Vacinação. Antes de começar a trabalhar na USF D. Sancho I, esteve ainda um ano na UCSP de Santarém.

XI Congresso Nacional de Autoimunidade juntou em

a cidadE dE évOra acOLhEU, EntrE OS diaS 19 E 21 dE jUnhO, O xi cOngrESSO naciOnaL dE aUtOiMUnidadE / xxx rEUniãO anUaL dO nEdai, EvEntO qUE ULtrapaSSOU aS trêS cEntEnaS dE participantES E qUE fOi rEaLizadO SOb O LEMa “cOnnEcting tEaMS, tranSfOrMing carE”

“Aautoimunidade é uma área transversal, complexa e em franca expansão”, sublinhou a presidente do evento, ao intervir na sessão de abertura. A internista Margarida Jacinto, que coordena a Consulta de Doenças Autoimunes da ULS do Alentejo Central, especificou: “Aqui, na nossa região, como em todo o país, ela representa uma realidade clínica exigente, que pressupõe não apenas ciência, mas também articulação, visão e compromisso.”

A médica justificaria a escolha do lema para este congresso afirmando que “reflete a necessidade de unir diferentes profissionais, diferentes

serviços, diferentes olhares, para garantir cuidados mais humanos, mais justos e mais eficazes”.

Quanto aos desafios que se colocam a quem está particularmente ligado a esta área das doenças autoimunes, Margarida Jacinto considerou ser fundamental saber reconhecê-los. “Continuamos por alcançar a equidade no acesso, a uniformização de cuidados e a valorização das equipas especializadas”, frisou.

A mesa da cerimónia de abertura incluiu a presença de Fernando Martins de Almeida, presidente do Conselho Sub-regional de Évora da Ordem dos Médicos, em representação do bastonário, Paula Fernandes,

CONSULTA

Margarida Jacinto: “Continuamos por alcançar a equidade no acesso, a uniformização de cuidados e a valorização das equipas especializadas.”

diretora clínica adjunta da ULS do Alentejo Central, representando o Conselho de Administração, e Bruno Grima, secretário-geral da SPMI – Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.

A eles se dirigiu também o coordenador do NEDAI – Núcleo de Doenças Autoimunes da SPMI quando lembrou, logo no início da sua intervenção, que “este é o maior fórum de autoimunidade no nosso país”. E logo acrescentou: “O congresso é um ponto de paragem para refletir e aprender, mas sobretudo para sonhar e acreditar num futuro melhor, com mais equidade no acesso aos cuidados, apostando na inovação e na busca do diagnóstico mais precoce e no tratamento mais adequado para os nossos doentes.”

“Será, no fundo, o reflexo do percurso que o NEDAI tem vindo a construir ao longo de mais de 30 anos, unindo especialistas de todo o país, promovendo investigação clínica e incentivando a formação contínua”, afirmou Carlos Carneiro, especialista de Medicina Interna que coordena o Departamento de Doenças Autoimunes do Grupo HPA Saúde e que há

um ano dirige o núcleo de estudos mais antigo da SPMI. Elogiando o desempenho da Comissão Organizadora do evento, liderada por Margarida Jacinto, também fez questão de destacar “o número crescente de internos com interesse nesta área”. Aliás, diria mais à frente

Carlos Carneiro anunciou a elaboração do Guia do Imunologista, um “livro de bolso” de consulta rápida das principais patologias autoimunes.

Inovação, multidisciplinaridade e proximidade no cuidado ao doente

Desde 2022 que coordeno a Consulta de Doenças Autoimunes (DAI) da Unidade Local de Saúde do Alentejo Central (ULSAC), numa fase particularmente desafiante. A equipa havia sofrido alterações significativas, com a saída de profissionais de referência nesta área. Apesar dessa instabilidade inicial, o objetivo foi sempre garantir continuidade e qualidade no seguimento dos nossos doentes, respeitando o trabalho desenvolvido anteriormente e lançando as bases para um novo ciclo, com inovação e dinamismo. Foi nesse contexto que procurei reestruturar a equipa, promo-

vendo um modelo assistencial mais integrado e colaborativo. Apostámos na criação de uma equipa multidisciplinar, que reúne especialistas de diversas áreas envolvidas no diagnóstico e tratamento das doenças autoimunes. Realizamos reuniões clínicas mensais, focadas na discussão de casos complexos, com especial atenção à articulação entre terapêuticas farmacológicas e abordagens não farmacológicas. Este modelo tem-se revelado essencial na definição de estratégias terapêuticas mais eficazes, adaptadas à realidade individual de cada doente.

Está igualmente idealizado um projeto de hospital de dia, que acreditamos vir a ser um recurso essencial.

Está igualmente idealizado um projeto de hospital de dia, que acreditamos vir a ser um recurso essencial para oferecer um seguimento mais próximo e contínuo aos doentes. Contando com o apoio da equipa de enfermagem, este futuro espaço poderá trazer ganhos significativos na adesão terapêutica, na monitorização rigorosa das patologias e na humanização dos cuidados.

Apesar das melhorias introduzidas, a escassez de especialistas continua a ser um desafio de fundo. A dificuldade em garantir um acesso atempado à consulta de DAI é uma

Margarida Jacinto e Carlos Carneiro
DE DOENçAS AUTOIMUNES DA ULS DO ALENTEJO CENTRAL
PROMOVIDO PELO NúCLEO DE ESTUDOS DE DOENçAS AUTOIMUNES DA SPMI
Margarida Jacinto Coordenadora da Consulta de Doenças Autoimunes da ULS do Alentejo Central. Presidente do Congresso 2025
Paula Fernandes, Carlos Carneiro, Margarida Jacinto, Fernando Martins de Almeida e Bruno Grima

Évora mais de 300 participantes

que a vitalidade de um núcleo também resulta da “jovialidade do mesmo, pelo que queremos promover o debate, a criatividade e o crescimento profissional dos internos de formação específica com interesse nesta área”.

Anunciaria, entretanto, a elaboração do Guia do Imunologista, que apresentou como sendo um “livro de bolso” de consulta rápida das principais patologias, “com o foco sobre a clínica, o diagnóstico e o tratamento” e que “servirá de apoio para todos os médicos, estejam eles sediados no interior ou no litoral, num grande ou num pequeno centro hospitalar”.

limitação real, que reflete um problema estrutural e transversal ao país. A esperança reside na concretização de projetos em curso, como a construção do novo hospital, que trará melhores condições físicas e operacionais para a nossa atividade clínica. Desde 2024 que temos igualmente participado num projeto de rede colaborativa entre centros de doenças autoimunes, promovendo uma articulação nacional mais sólida, com partilha de boas práticas e protocolos assistenciais. Esta “network” tem o potencial de mitigar desigualdades regionais no acesso e reforçar a resposta a nível nacio-

A existência de uma resposta especializada nesta área faz uma diferença substancial para os utentes servidos pela nossa unidade.

Registo Nacional Informático de Doenças Autoimunes

Carlos Carneiro Internista. Coord. Depart. de Doenças Autoimunes do Grupo HPA Saúde. Coord. do NEDAI-SPMI

O“A aposta nas melhores práticas e o consequente aumento do nível de comunicação interpares irá também aprofundar o network entre centros e intensificar as redes de referenciação entre unidades de doenças autoimunes”, assegurou Carlos Carneiro.

O coordenador do NEDAI referiu-se ainda à necessidade de se apostar na aproximação aos cuidados de saúde primários, nomeadamente através da promoção de cursos com o foco no diagnóstico mais precoce. Por outro lado, importa “partilhar conhecimentos, em prol do seguimento destes doentes, desmistificando a complexidade deste tipo de patologias e criando ‘canais’ próprios, diretos e simples entre colegas, evitando o uso abusivo das urgências hospitalares”.

A finalizar, o responsável ainda fez referência à atribuição, pela primeira vez, do Prémio Carreira NEDAI e à reativação do RIDAI – Registo Nacional Informático de Doenças Autoimunes, “com impacto no futuro para a tomada de decisão e definição de recomendações”.

RIDAI é um Registo Nacional Informático de Doenças Autoimunes desenvolvido pelo Núcleo de Doenças Autoimunes da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna. De facto, é longo o caminho desde o RIAR, em 2003, que exigiu de muitos de nós o sacrifício pessoal de o atualizar nas nossas horas vagas.

Acabaria por evoluir para o RIDAI, em 2007, contemplando, para além da artrite reumatoide, a espondilite anquilosante, a artrite psoriática e a artrite idiopática juvenil, antecipando as exigências regulamentares de 2008, e posteriormente para o RIDAI 2, com a abrangência nosológica das patologias que os internistas portugueses seguem nas consultas de Doenças Autoimunes.

Em 2013, dá-se a migração para a plataforma web (www.ridai.org), tendo sido o primeiro registo de uma sociedade médica a finalizar com sucesso a sua integração com o bio.dgs.pt. Inclui doentes com artrite reumatoide (AR), espondilite anquilosante (EA), artrite psoriática (AP), artrite idiopática juvenil (AIJ), lúpus eritematoso sistémico (LES) e diversas outras doenças reumáticas.

Nos últimos anos, este Registo esteve inativo por variadíssimas razões, no entanto, face à necessidade imperiosa de o reativar, o NEDAI desenvolveu todos os esforços para a concretização desta ambição.

nal, num espírito de entreajuda e valorização do conhecimento científico.

A existência de uma resposta especializada nesta área faz uma diferença substancial para os utentes servidos pela nossa unidade. As doenças autoimunes, pela sua complexidade e impacto multidimensional, exigem uma abordagem holística, continuada e centrada no doente. A aposta numa consulta diferenciada, apoiada numa equipa coesa e motivada, tem permitido ganhos reais em saúde, melhorando a qualidade de vida dos nossos doentes e a sua confiança nos cuidados prestados.

Foi criada uma nova plataforma (https//ridai.is4science.com), estabelecendo parcerias com a TonicApp, a IQVIA e a Is4science, abrangendo, neste momento, as principais patologias, como artrite reumatoide, artrite psoriática, espondiloartropatias, lúpus eritematoso sistémico, mioapatias inflamatórias idiopáticas, sjogren, esclerose sistémica, síndromes antifosfolipídicas e síndromes autoinflamatórias.

Os dados demográficos e antropométricos, os hábitos de estilo de vida, a situação laboral, as comorbilidades, as avaliações funcionais e de atividade da doença, as terapêuticas anteriores e atuais, os eventos adversos, as razões para a interrupção

das terapêuticas, bem como as medições laboratoriais são registados em cada consulta. Do ponto de vista tecnológico, o RIDAI permite que a interação com o utilizador seja amigável e não revele os constrangimentos inerentes às tradicionais aplicações web.

Os dados são inseridos em formatos padronizados, que incluem medicamentos, comorbilidades, vacinas, reações adversas, etc. Todas as datas e os campos numéricos também são validados e os únicos campos que podem ser livremente digitados são os especificamente destinados a notas. Refira-se ainda que estão encriptados todos os dados, através dos quais seria possível identificar os doentes.

Nos últimos anos, este Registo esteve inativo por variadíssimas razões, no entanto, face à necessidade imperiosa de o reativar, o NEDAI desenvolveu todos os esforços para a concretização desta ambição.

Além de relatórios pré-formatados, o RIDAI permite que cada centro possa exportar dados em bruto para aplicações estatísticas. Esta função tem como principais objetivos: registar todos os doentes autoimunes que sejam tratados com medicamentos biológicos em Portugal, assegurando a monitorização da indicação, eficácia e segurança; o registo do maior número possível de doentes autoimunes sem terapêutica biológica para caracterização do padrão de evolução das doenças autoimunes em Portugal; a melhoria da qualidade assistencial; a caracterização de marcadores de prognóstico, de resposta à terapêutica e de risco de efeitos adversos; a identificação de efeitos adversos raros; a integração em redes europeias de registo de doentes autoimunes e a contribuição para o conhecimento científico sobre as doenças autoimunes, através da publicação em revistas médicas nacionais e internacionais de artigos baseados no RIDAI.

Comissão Organizadora: Ana Rita Duarte, Frederico Batista, Filipe Alfaiate, Ana Teresa Vieira, Margarida Jacinto, Tereza Veloso, Natália Oliveira e (ausentes na foto) Flávio quadrado e Maria Corraliza

Projeto multidisciplinar e de proximidade com diabetes, obesidade, insuficiência

a fUnciOnar dESdE janEirO dE 2025 nO hOSpitaL daS caLdaS da rainha, a cLínica dE aMbULatóriO dE MEdicina intErna (caMi) da ULSO tEM cOMO ObjEtivO cEntraL aLiviar O intErnaMEntO E a Urgência. dirigida, para já, aOS dOEntES cOM diabEtES, ObESidadE, inSUficiência cardíaca E dOEnça rEnaL crónica, ESta EStrUtUra prEtEndE vir a dar UMa rESpOSta SEMELhantE taMbéM naS árEaS daS dOEnçaS aUtOiMUnES E dO vih a caMi cOnta cOM UMa EqUipa MULtidiScipLinar dEdicada a rEaLizar cOnSULta, atividadE dE hOSpitaL dE dia E SESSõES dE EdUcaçãO tErapêUtica.

Aresposta de proximidade prometida pela CAMI inicia-se assim que os doentes chegam ao local onde está instalada e tocam à campainha. “Somos nós, médicos e enfermeiros, que, preferencialmente, vamos recebê-los à porta, porque queremos que esse contacto de proximidade seja feito desde o primeiro momento em que entram na CAMI. Adicionalmente, conseguimos retirar logo muita informação nessa ocasião, nomeadamente, se conseguem caminhar e se estão ou não cansados”, refere Joana Louro, internista e coordenadora da CAMI.

Sediada no Hospital das Caldas da Rainha, a CAMI responde à população da área de influência das unidades de Caldas da Rainha e de Peniche, que integram a ULS do Oeste.

A equipa nuclear é constituída por cinco especialistas em Medicina Interna, presentes de forma rotativa, duas enfermeiras a tempo inteiro e uma terceira a tempo parcial, um técnico auxiliar de saúde e um grupo de secretariado, contando ainda com o apoio da Psicologia, da Fisioterapia, da Nutrição, do Serviço Social e dos Serviços Farmacêuticos. Recebem ainda a consultadoria de algumas especialidades do hospital, como a Cardiologia, e, aos poucos, têm vindo a criar pontes com valências exclusivas de instituições centrais, como é o caso da Nefrologia do Hospital de Santa Maria, de forma a poderem contar com o seu apoio na gestão de doentes mais complexos e até a encaminhar alguns casos, se necessário. Foi só no início deste ano que a CAMI nasceu, contudo, o Serviço de Medicina Interna das unidades de Caldas da Rainha e de Peniche já tinha algum histórico relativamente a respostas em termos de de hospital de dia. A primeira surgiu em 2017, com o arranque do Hospital de Dia de Diabetes, num gabinete da zona

das Consultas Externas. Em 2023, a equipa transitou, já enquanto Unidade de Diabetes, para um espaço que tinha acolhido a Área Dedicada a Doentes Respiratórios e que não estava, entretanto, a ser utilizado. No ano seguinte, a designação alterou-se para Unidade de Diabetes e Obesidade, tendo agora, em 2025, evoluído para CAMI, dada a maior abrangência de valências usadas para responder às pessoas que vivem com doenças crónicas.

“A CAMI surgiu num contexto em

que percebemos que, perante limitações de recursos físicos e humanos patentes num pequeno hospital, não podíamos criar clínicas individualizadas de diabetes, obesidade, insuficiência cardíaca e doenças autoimunes. Por sua vez, tínhamos, sim, de reunir esforços e capacitação para responder às pessoas que vivem com doenças crónicas!

Por outro lado, perante um hospital que apresentava uma forte

afluência à Urgência e uma reduzida capacidade estrutural de Internamento, num contexto em que a prevalência das doenças crónicas numa população cada vez mais envelhecida tem aumentado consideravelmente, havendo cada vez mais doentes a padecer de patologias tão graves e complexas como a diabetes e a insuficiência cardíaca, precisávamos de os retirar do circuito hospitalar do Internamento e da Urgência”, explica.

Joana Louro: “ A junção dos doentes numa estrutura cardio-reno-metabólica seria muito benéfica e permitiria disponibilizar uma resposta mais holística, contínua e de maior proximidade.”

Somava-se o facto de “o rápido avanço tecnológico e farmacológico destas patologias exigir estruturas capazes de oferecer a melhor resposta do ponto de vista de celeridade terapêutica”.

A equipa considerou, assim, que “fazia todo o sentido ampliar as valências para além da resposta que já existia no âmbito da diabetes e da obesidade, e partilhar recursos físicos e humanos por uma questão de oti-

mização mas também pelo facto de os doentes terem várias patologias. Basta pensar que muitas das pessoas que vivem com diabetes sofrem também de IC e de doença renal crónica. A junção dos doentes numa estrutura cardio-reno-metabólica seria muito benéfica e permitiria disponibilizar uma resposta mais holística, contínua e de maior proximidade”.

A necessidade de reforçar a equipa para ampliar a resposta além das situações programadas

Com a criação da CAMI, passaram a ser também acompanhados casos de insuficiência cardíaca e o objetivo é que, futuramente, possam ser incluídas pessoas que vivem com doenças autoimunes, que têm estado a fazer os seus tratamentos no Hospital de Dia Polivalente, e doentes VIH. Assim, atualmente, esta estrutura é composta pelas valências de Hospital de Dia e de Consulta. Ao Hospital de Dia de Diabetes e Obesidade, já existente, juntou-se, com o arranque da CAMI, a área de IC. A atividade programada abrange as consultas de Diabetes (Tipo1, 2 e Gestacional), Obesidade, IC e Doença Renal Crónica, que são realizadas exclusivamente no período da tarde.

Soma-se ainda a Consulta CAMI,

dá resposta a utentes

cardíaca e doença renal crónica

disponível durante a manhã, para “responder de forma rápida a situações pontuais, como seja a doentes que necessitem de fazer titulação ou ajuste de terapêutica, controlo analítico, ou que precisem de uma reavaliação breve após uma alta precoce”.

Como previsto, “esta abordagem de maior proximidade veio mesmo retirar os doentes da Urgência e permitir dar altas mais precoces, dado ser garantida uma continuidade terapêutica em hospital de dia”.

Para já, a maior prioridade é o reforço da equipa, principalmente de enfermagem, considerando que, “apesar da criação desta nova atividade, não foi disponibilizado qualquer recurso extra, obrigando à reorganização dos recursos humanos já existentes e penalizando, assim, o próprio Serviço de Medicina Interna, para responder a esta valência”.

Na prática, as enfermeiras que até então estavam dedicadas à diabetes e à obesidade tiveram de fazer formação em IC, e a atividade que desempenhavam teve de ser reduzida para conseguirem dar resposta também à IC. Joana Louro aponta ainda a necessidade de haver uma nutricionista a tempo inteiro na equipa e de reforçar o grupo de fisioterapeutas.

Por outro lado, “propondo-se a CAMI a disponibilizar cuidados de

proximidade às pessoas que vivem com doenças crónicas e que, inevitavelmente, têm agudizações, e tendo como objetivo retirá-las dos circuitos da Urgência e do Internamento, a CAMI acaba por ser ‘a casa’ que estas pessoas procuram”, evidencia Joana Louro, adiantando que “os doentes têm recorrido cada vez mais à clínica fora das situações programadas, por real necessidade, e a equipa não tem capacidade para satisfazer tanta procura”.

Efetivamente, “apesar desta nova resposta, a capacidade instalada não tem sido suficiente para atender às necessidades da população, que valoriza e precisa muito destas portas de entrada e destes contactos de proximidade, que são fundamentais na gestão da doença crónica, na melhoria da qualidade de vida e na redução das hospitalizações”.

Numa segunda fase, a equipa ambiciona poder receber doentes que necessitem de uma observação célere pelo internista, que possa ser realizada no espaço de uma semana.

“Estamos a falar, por exemplo, de doentes com patologia crónica agudizada ou patologia aguda, que precisem de ser avaliados do ponto de vista diagnóstico ou terapêutico, mas cuja situação não exija que sejam vistos na Urgência”, ilustra, acrescentado como tal poderá ser também “uma mais-valia na resposta aos colegas de MGF, que precisam de apoio a esse nível”.

Se, pontualmente, já têm vindo a ser realizados mielogramas, punções lombares, toracocenteses e paracente-

ses, o objetivo é que se possam fazer essas técnicas diagnósticas e terapêuticas de forma programada e rotineira, retirando essa atividade da Urgência.

Promover uma maior proximidade aos colegas dos CSP

Num contexto em que “uma percentagem muito significativa da população desconhece ter IC e diabetes, a CAMI vem proporcionar uma relação de maior ligação entre cuidados de saúde primários e hospitalares”.

“A CAMI vem proporcionar uma relação de maior ligação entre cuidados de saúde primários e hospitalares”, afirma a coordenadora.

Na semana que antecedeu a realização desta reportagem, tinha sido promovida uma sessão clínica dirigida aos colegas de MGF das unidades de CSP da ULSO, de forma a “capa-

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JOANA LOURO, COORDENADORA:

“O processo de gestão da pessoa com diabetes é muito mágico, porque transcende o que é tratar”

Joana Louro nasceu a 7 de agosto de 1979, em Leiria. Desde pequena que quis ser médica e, hoje, garante que é “uma verdadeira apaixonada” por aquilo que faz. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de Salamanca, entre 1999 e 2005. Após ter realizado o Internato Geral no CH do Médio Tejo, decidiu realizar o internato da especialidade no CH do Oeste.

tranquila, e há muito poucas patologias crónicas em que temos essa capacidade de gestão. A diabetes é o verdadeiro paradigma da doença crónica e o facto de ser altamente complexa e associar-se a múltiplas comorbilidades, igualmente complexas, apaixona o internista.”

A residir e a trabalhar nas Caldas da Rainha desde o internato, denota a “ótima qualidade de vida da cidade” e os “projetos diferen-

A Medicina Interna foi “uma escolha de convicção e paixão”. Como explica, “eu escolheria sempre uma especialidade holística, em que o médico fosse o verdadeiro gestor do doente”. É, por isso, com grande tristeza que tem assistido ao “desvirtuamento progressivo da MI”, defendendo que “compete aos internistas recuperar a verdadeira essência desta especialidade abrangente, que trata o doente complexo e mais idoso, em contexto hospitalar”.

Dada a dedicação da sua orientadora de internato à diabetes, durante esse período, começou a lidar bastante com esse grupo de pessoas e a encantar-se pela área. “Nós gostamos do que conhecemos e sabemos mais, e eu estudei muito o campo da diabetes, tornando-se na minha patologia de eleição”, comenta, justificando logo de seguida:

“O processo de gestão da pessoa com diabetes é muito mágico porque transcende o que é tratar. Nós capacitamos o indivíduo a gerir a sua própria doença e a vivenciá-la de uma forma mais feliz, saudável e

ciadores e inovadores que são realizados, apesar das limitações e dificuldades associadas ao facto de se tratar de um hospital distrital pequeno”. Além disso, realça as “fortes relações de proximidade com a população, a autarquia e as estruturas locais, que permitem fazer a diferença na vida das pessoas”.

A realização anual da Corrida pela Diabetes, a propósito do Dia Mundial da Diabetes, que já vai na 3.ª edição, é o exemplo de uma iniciativa que junta vários agentes em torno de um objetivo comum. “É incrível conseguirmos pôr uma cidade inteira a fazer desporto por uma causa, e penso que este tipo de ações consegue implementar-se muito mais facilmente em lugares onde há maiores relações de proximidade”, refere.

Desde final de 2024 que coordena a Unidade Integrada de Diabetes das unidades de Caldas da Rainha e de Peniche.

Mãe de duas filhas, de 11 e 13 anos, é uma grande adepta do Benfica, além de ser uma leitora compulsiva, e adorar correr, ir ao cinema e viajar.

DE MEDICINA:

“Todas as valências de ambulatório que se possam criar para aliviar o internamento hospitalar são bem-vindas”

“É sabido que o hospital do futuro não terá muitas especialidades, mas fundamentalmente cuidados intermédios e intensivos. Por isso, todas as valências de ambulatório que se possam criar para aliviar o internamento hospitalar são bem-vindas e uma verdadeira mais-valia para os doentes, que não precisam de ficar desinseridos do seu ambiente familiar”, começa

por defender Rosa Amorim, diretora do Departamento de Medicina da ULSO e do Serviço de MI das unidades de Caldas da Rainha e de Peniche.

Referindo-se particularmente à CAMI, a internista fala numa “sinergia perfeita, em que se conseguem

citá-los para o diagnóstico precoce, com o objetivo de evitar que esses doentes acabem por chegar à Urgência e ao Internamento, onde são atualmente estabelecidos 60% dos diagnósticos”. A par, com uma articulação mais estreita entre as duas áreas de cuidados, “será possível diminuir o número de hospitalizações e, assim, oferecer mais saúde e felicidade a essas pessoas”.

Desde 2023, mensal ou quinzenalmente, têm sido efetuadas sessões de educação terapêutica, que visam capacitar os doentes nas diferentes valências. Após uma abordagem inicial teórica em conjunto, realizada rotativamente por cada grupo profissional, podem seguir-se sessões individuais com outros profissionais, dependendo das necessidades de cada doente. Neste momento, estas sessões têm sido dirigidas a pessoas com diabetes, que “podem realizar alguns exercícios físicos com o fisioterapeuta, ou aprender a fazer a contagem de hidratos de carbono com a nutricionista, por exemplo”.

Dada a importância da fisiologia do exercício, particularmente na gestão da obesidade e da IC, a equipa está a trabalhar na criação de parcerias com a Escola Superior de Desporto de Rio Maior do Instituto Politécnico de Santarém, prevendo-se o

evitar internamentos convencionais e fazer com que o doente se sinta mais seguro e acompanhado”. No fundo, “trata-se de uma medicina mais adequada ao doente, em que se procura uma maior humanização”.

Rosa Amorim lamenta apenas que o “fraco tecido social condicione, muitas vezes, a operacionalização deste tipo de resposta, que tem de ser substituída pelo internamento convencional”.

A título futuro, espera que “seja possível garantir ao doente a realização de todos os exames complementares no mesmo dia”, bem como “abranger as áreas das doenças autoimunes e do VIH em hospital de dia”.

Se, por um lado, “a vontade de crescer é muito grande”, por outro, “a carência de profissionais, principalmente de enfermagem, tem impossibilitado, para já, esse avanço”.

Natural de Torres Novas, Rosa Amorim concluiu a sua formação pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra em 1982. Logo avançou para o Internato Geral, no CH das Caldas da Rainha, onde se manteve desde então, já lá vão mais de 40 anos. Em 2008, assumiu a direção do Serviço de Medicina Interna das unidades de Caldas da Rainha e de Peniche. Já em 2016, acumulou a direção do Departamento de Medicina do então CH do Oeste.

arranque de projetos de reabilitação cardíaca e na área da obesidade.

Ao longo do tempo, a CAMI tem vindo a receber internos de MI da instituição, bem como de MGF, e ainda alunos de Medicina e de Enfermagem em contexto de estágio.

Outro componente muito importante é a investigação, estando a

decorrer vários ensaios clínicos na área da diabetes, prevendo-se o seu alargamento aos campos da IC e da obesidade.

Andreia Areias: o apoio do Serviço Social aos doentes da consulta

Andreia Areias é a assistente social que presta apoio ao CAMI, baseando-se a sua atividade essencialmente no “acompanhamento de utentes que apresentam fatores de risco biopsicossocial identificados pela equipa médica ou de enfermagem da consulta”. Trata-se maioritariamente de “pessoas que já têm alguma idade, apresentam várias patologias e limitações, e residem sozinhas. Frequentemente, o cuidador principal é idoso ou há uma retaguarda familiar frágil”, caracteriza.

Havendo família, o seu papel passa por “procurar incluí-la no processo terapêutico”, caso contrário, torna-se necessário articular com o setor social e com os CSP, de forma a “encontrar as respostas sociais mais adequadas, como o recurso a um centro de dia ou a disponibilização de apoio domiciliário, para ajudar na organização do regime terapêutico, mas também para outras situações, como o auxílio nos autocuidados, na higiene pessoal, a nível habitacional ou relativamente a outros aspetos”.

Considerando que “as respostas sociais existentes diferem consoante a área geográfica, parte do seu trabalho consiste em “identificar de que tipo de apoios um determinado utente poderá usufruir no local onde reside”.

A assistente social recebe, também, alguns pedidos por parte da equipa relativos a utentes imigrantes, estabelecendo ligação com os CSP e com o respetivo Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes, a fim de “garantir os direitos, acessos, isenções e outros aspetos a considerar no seu processo de doença”.

Após receber o pedido de apoio, Andreia Areias procura encontrar-se presencialmente com o doente, de forma a proceder à sua avaliação social, que pode ser feita de forma individual ou em conjunto com a equipa de enfermagem. “Esse contacto é importante para conhecermos cada utente, a sua situação familiar e social, a adaptação ao processo de doença, e verificarmos se cumpre a medicação prescrita”, refere.

Formada em Serviço Social pela Universidade Católica Portuguesa, Andreia Areias iniciou a sua carreira em 2006, tendo trabalhado em vários setores até, em 2008, integrar o então CH de Torres Vedras, onde se manteve durante 14 anos. Posteriormente, foi para a Unidade de Peniche e, em 2024, quando regressou de licença de maternidade, ficou alocada ao Serviço de Medicina Interna da Unidade de Caldas da Rainha, em

que a sua intervenção prende-se essencialmente com o planeamento da alta hospitalar.

O tempo dedicado à CAMI acaba por ser bastante variável, dependendo do número de situações referenciadas pelas equipas médica e de enfermagem.

Verónica Pedro: a gestão do impacto psicológico da diabetes

Verónica Pedro é uma das quatro psicólogas do Serviço de Psicologia

GONçALO

“A Consulta de IC e são espaços primordiais

Gonçalo Durão Carvalho é um dos cinco internistas que integram a equipa da CAMI, dedicando-se particularmente à insuficiência cardíaca. Foi, aliás, este internista que moveu o arranque do Hospital de Dia de IC. Com um gosto já bem identificado pela fisiopatologia cardiovascular, durante o Internato de MI, realizado no então designado CH do Oeste, teve oportunidade de fazer um estágio de quatro meses na Clínica de IC do CH de Lisboa Ocidental, uma valência com projeção internacional, coordenada pela internista e cardiologista Cândida Fonseca, que se revelou uma experiência decisiva para o rumo do seu percurso profissional.

“Constatei que, além de trabalhar na urgência, na consulta externa, em enfermaria ou unidades de internamento específicas, o internista podia ter um papel muito ativo e relevante numa estrutura de hospital de dia. E percebi que gostaria de trabalhar num Serviço de MI que me permitisse desenvolver ou integrar uma equipa de IC”, conta. Paralelamente à sua vontade de erguer um Hospital de Dia de IC, Joana Louro, sua orientadora de internato, demonstrava interesse em criar o projeto da CAMI. Rapidamente Rosa Amorim, diretora do Serviço de MI das unidades de Caldas da Rainha e de Peniche,

DURãO CARVALHO
(Continuação da pág. 23)
Andreia Areias

Clínica da ULSO a nível hospitalar. No seu caso, é a única que está alocada ao Hospital das Caldas da Rainha. Por isso, presta apoio a todos os serviços da instituição, à exceção da Psiquiatria. Desta forma, ainda antes da constituição da CAMI, já trabalhava com adultos e crianças com diabetes e obesidade. A única mudança prendeu-se com o local de consulta, que agora é feita na estrutura da CAMI. “Normalmente, à 6.ª feira, estou todo o dia a fazer consulta aqui, por uma questão de maior proximidade com doentes e profissionais. Por vezes, alguns utentes ainda mostram alguma resistência em relação às consultas de Psicologia e, se a abordagem inicial for realizada num ambiente que já conhecem, podemos descomplexificar a situação. Por outro lado, seria importante estar

, INTERNISTA:

“Tanto aqueles que já vivem com diabetes sentem que são uma ajuda para quem está a iniciar esta fase como também esses percebem que não estão sozinhos”, distingue Verónica Pedro.

mais presente junto da equipa, promovendo a articulação com os restantes profissionais de saúde”, refere. A psicóloga adianta que a sinalização dos doentes parte essencialmente

e Doença Renal Crónica e o Hospital de Dia de IC primordiais para garantir o seguimento destes doentes”

percebeu que “o espaço natural para receber este Hospital de Dia seria precisamente a CAMI”, e a concretização desse projeto foi determinante para o profissional ter decidido assinar contrato com a instituição, enquanto recém-especialista, em setembro de 2024.

Os primeiros tratamentos dirigidos a doentes com IC decorreram ainda em dezembro, tendo a inauguração oficial da CAMI acontecido em janeiro de 2025. Até então, dada a experiência que trazia da Clínica de IC do CHLO, de forma ocasional e episódica, solicitava vagas no Hospital de Dia Polivalente para tratamento de doentes com IC descompensada.

“Apesar do esforço da equipa de enfermagem, era difícil haver vagas disponíveis, dada a grande afluência de doentes, especialmente de Imunoalergologia e de Gastrenterologia, e a existência de apenas três cadeirões. Por isso é que era tão premente criar um espaço dedicado à IC, associado à MI, e dotado de vários cadeirões”, frisa.

A elevada prevalência de uma patologia que é tida como um parente pobre da medicina cardiovascular

Gonçalo Durão Carvalho lembra que, segundo resultados preliminares do estudo PORTHOS, “uma em cada seis pessoas com 50 ou mais

anos residentes em Portugal têm IC, sendo que 90% delas desconhecem esse facto. Esta prevalência de 16,5% ascende a 30,7% quando considerada a população com 70 ou mais anos, o que são números alarmantes”.

(Bibliografia: European Society of Cardiology PORTHOS https://x.com/ escardio/status/1789663834774315494 [20/05/2025])

“Uma em cada seis pessoas com 50 ou mais anos residentes em Portugal têm IC, sendo que 90% delas desconhecem esse facto.”

Ora, tais doentes “estão distribuídos pelos serviços de Urgência, internamentos, consultas de cuidados de saúde primários e hospitalares, porque a IC é um parente pobre da medicina cardiovascular”. Efetivamente, a perceção do internista é que “os profissionais dedicados à IC são insuficientes para responder ao

dos médicos, e o apoio que proporciona é maioritariamente individual, contemplando, por vezes, também as famílias. Contudo, em duas ocasiões, já dinamizou sessões de educação terapêutica, que confirmou tratar-se de “um desafio interessante”.

Em ambos os casos, abordou “o impacto psicológico da diabetes”, verificando que “a partilha de experiências entre as pessoas é bastante importante”. Afinal, “tanto aqueles que já vivem com diabetes podem sentir que são uma ajuda para quem está a iniciar esta fase como também esses percebem que não estão sozinhos e que há mais pessoas a passar pelo mesmo, num momento em que o sentimento inicial é de grande solidão. Paralelamente, ajudamo-los a perceber que há toda uma equipa de trabalho, da qual também fazem parte, que engloba diferentes profissionais”.

Verónica Pedro considera que seria importante reforçar os recursos humanos no âmbito da Psicologia, para “proporcionar um acompanhamento mais regular às pessoas e responder a casos urgentes num tempo mais reduzido”.

Foi no contexto do estágio académico do curso de Psicologia que conheceu o Hospital das Caldas da Rainha, em 2006. Aí tem desenvolvido o seu percurso profissional, marcado por um interregno entre 2012 e 2021, tendo desenvolvido atividades noutras áreas da Psicologia.

Catarina Ribeiro: o acompanhamento nutricional dos doentes

Catarina Ribeiro e uma colega são as duas profissionais do Serviço de

Catarina Ribeiro sublinha que “a nutrição é parte integrante do tratamento”.

Nutrição e Dietética responsáveis por prestar apoio nutricional aos doentes do Hospital das Caldas da Rainha. Sendo o tempo dedicado às diferentes valências variável consoante as solicitações, a tentativa das duas é que esse apoio possa ser disponibilizado numa vinda programada do doente a uma consulta médica, de forma a evitar mais deslocações.

volume de doentes existentes a nível nacional”.

Tal realidade vinha reforçar a necessidade de se “criar uma estrutura dedicada a estes doentes, pelo menos durante parte da semana”. Enquanto a equipa médica está presente às 2.as e 5.as feiras, o grupo de enfermagem assegura a atividade durante toda a semana. Para já, a agenda tem sido organizada de forma a receber preferencialmente doentes com IC à 2.ª feira, sendo as áreas de diabetes e obesidade direcionadas para as 5.as feiras. Contudo, tal organização não é rígida. “Caso um doente não tenha estabilidade para fazer novo tratamento daí a uma semana, procuramos que seja recebido mais cedo pelos colegas”, ressalva.

O internista orgulha-se também da abertura da Consulta de IC e Doença Renal Crónica, em março, e considera que seria muito importante disponibilizar a estes doentes uma área de internamento dedicada, resposta que reconhece ser inviável de concretizar a curto e médio prazo, dado já existir “uma grande carência de vagas de internamento para todo o tipo de doentes”.

A prevenção de idas ao SU

O médico admite que uma das situações que mais prazer lhe dão é “conseguir prevenir idas ao SU, uma vez que tal resultaria necessariamen-

te num decréscimo muito acentuado da sobrevida dos doentes”. Assim, “tanto a Consulta de IC e DRC como o Hospital de Dia de IC são espaços primordiais para garantir o seguimento destes doentes e dar-lhes todas as ferramentas e recomendações, de acordo com o estado da arte, que evitem ao máximo qualquer descompensação”.

De facto, “se os doentes estiverem sensibilizados para contactar precocemente a equipa, se identificarem um ganho de peso num espaço de poucos dias ou em caso de se sentirem mais cansados, a equipa médica consegue observá-los dentro de poucos dias e o grupo de enfermagem pode, inclusivamente, admi-

nistrar um bólus inicial de diurético de ansa até à observação médica, evitando-se, assim, que cheguem ao ponto de acordar com falta de ar e serem admitidos no SU”.

Gonçalo Durão Carvalho formou-se em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, cidade onde nasceu. Em 2016, realizou o Ano Comum no então CH de Lisboa Ocidental e, após uma breve passagem pela especialidade de Anatomia Patológica, repensou a sua escolha e ingressou em Medicina Interna, no CH do Oeste.

“Desde o primeiro dia em que entrei na instituição que gostei de trabalhar com a equipa e a chefia”, afirma, recordando o papel que Joana Louro teve, enquanto sua orientadora de internato, na confirmação da escolha que fez: “É muito importante para os médicos que estão a iniciar o internato encontrarem profissionais que têm gosto e orgulho em ser internistas, e que podem transmitir esse testemunho e servir de exemplo para os mais novos. Para mim, ter tido como referência alguém que gosta realmente de ser internista foi fulcral!”

Rapidamente, ganhou o gosto pela diabetes, área a que Joana Louro mais se dedica e que já estava bastante desenvolvida na instituição. No 5.º ano, teve oportunidade de realizar Consulta de Diabetes no Hospital de Peniche.

(Continua na pág. 26)
Verónica Pedro
Catarina Ribeiro

(Continuação da pág. 25)

“Tentamos, mas por vezes não é fácil, porque recebemos bastantes pedidos de apoio da CAMI, que já justificavam a alocação à equipa de uma nutricio nista a tempo inteiro”, refere.

Como explica, “estas doenças crónicas precisam de um apoio mais contínuo e regular, algo que os pró prios doentes reconhecem e que não conseguimos garantir pela falta de recursos humanos”.

Catarina Ribeiro sublinha que “a nutrição é parte integrante do trata mento, que não se deve restringir à terapêutica, para melhor benefício do doente”. E adianta que “particu larmente as pessoas com obesidade,

diabetes e IC necessitam muito deste tipo de apoio”.

A atuação é essencialmente em regime de consulta, baseando-se

Edarclor 40 mg + 25 mg comprimidos revestidos por película. QUALITATIVA E QUANTITATIVA: Edarclor 40 mg + 12.5 mg comprimidos revestidos por película e Edarclor 40 mg + 25 mg comprimidos revestidos por película. Cada comprimido contém 40 mg de azilsartan medoxomilo (sob a forma de potássio) e 12.5 mg ou 25 mg de clorotalidona. comprimidos revestidos por película: Comprimido revestido por película de cor vermelho pálido, redondo (aproximadamente 9.7 mm de diâmetro), biconvexo, com A/C 40/12.5 gravado numa das faces. Edarclor 40 mg + 25 mg comprimidos revestidos por película: Comprimido revestido por película de cor vermelho claro, redondo (aproximadamente 9.7 mm de diâmetro), biconvexo, com A/C 40/25 gravado numa das faces. Edarclor é uma associação de dose fixa indicada em adultos cuja pressão arterial não é adequadamente controlada por monoterapia com azilsartan medoxomilo.

POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO: adequadamente controlada com monoterapia anti-hipertensiva corrente como Edarbi 40 mg ou Edarbi 80 mg. Se necessário a dose pode ser aumentada para um máximo de 40 mg + 25 mg uma vez por dia. O efeito anti-hipertensor perto do máximo torna-se normalmente evidente ao fim de 1-2 semanas, com os efeitos máximos atingidos às 4 semanas. Populações especiais: Idosos (idade igual ou superior a 65 anos): Não é necessário um ajuste inicial da dose nos doentes idosos; nos doentes muito idosos (≥75 anos), o tratamento deve ser efetuado com precaução e recomenda-se uma monitorização médica apertada. Compromisso renal e Compromisso hepático: A clorotalidona, um dos componentes ativos do Edarclor, não deve ser usada em doentes com compromisso renal grave, anúria e afeção hepática grave. Não há experiência da administração de Edarclor em doentes com transplante renal recente. Não é necessário um ajuste da dose nos doentes com compromisso renal ligeiro ou moderado. É limitada a experiência de utilização em doentes com compromisso hepático ligeiro a moderado; no entanto não é necessário um ajuste inicial da dose de Edarclor em doentes com compromisso hepático ligeiro a moderado. Alterações menores do equilíbrio hidro eletrolítico devidas a diuréticos tiazídicos podem precipitar um coma hepático. Recomenda-se monitorização estreita. Depleção do volume intravascular: Edarclor deve ser iniciado sob supervisão médica estreita, apenas após ter sido alcançado um volume correto. Uma resposta hipotensiva temporária devida a depleção de volume não impede que os doentes continuem o tratamento, o qual pode normalmente ser continuado sem dificuldade uma vez estabilizados a pressão arterial e o estado do volume. Insuficiência cardíaca: Recomenda-se precaução em doentes hipertensos com insuficiência cardíaca congestiva dado que não existe experiência de utilização nestes doentes. População de raça negra: Não é necessário um ajuste da dose na população de raça negra. População pediátrica: A segurança e eficácia em crianças e adolescentes dos 0 aos <18 anos de idade não foram ainda estabelecidas. Não existem dados disponíveis. Modo de administração: Via oral e pode ser tomado com ou sem alimentos. qualquer um dos excipientes. - Gravidez. - Compromisso hepático grave. - Compromisso renal grave (TFG <30 mL/min/1.73m2). - Anúria. - Hiponatremia refratária.Hipercalcemia. - Hiperuricemia sintomática. - O uso concomitante de Edarclor com medicamentos contendo aliscireno é contraindicado em doentes com diabetes mellitus ou compromisso renal. EFEITOS INDESEJÁVEIS: 3 são apresentadas em baixo, de acordo com as classes de sistemas de órgãos e termos preferenciais. Estão classificadas por frequência, utilizando a seguinte convenção: muito frequentes (≥ 1/10); frequentes (≥ 1/100, < 1/10); pouco frequentes (≥ 1/1,000, < 1/100); raras (≥ 1/10,000, < 1/1,000); muito raras (< 1/10,000); desconhecido (não pode ser calculado a partir dos dados disponíveis). Dentro de cada classe de frequência, as reações adversas são apresentadas por ordem decrescente de gravidade. Doenças do metabolismo e da nutrição – Reações adversas frequentes: Aumento do ácido úrico no sangue, hiperuricémia. Doenças do sistema nervoso – Reações adversas frequentes: Tonturas, tonturas posturais. Vasculopatias – Reações adversas frequentes: Hipotensão. Doenças gastrointestinais - Reações adversas frequentes: Diarreia, náuseas. Afeções musculosqueléticas e dos tecidos conjuntivos- Reações adversas frequentes: Espasmos musculares. Perturbações gerais e alterações no local de administração - Reações adversas frequentes: Fadiga. Exames complementares de diagnóstico - Reações adversas:muito frequentes: Aumento da creatinina no sangue; Reações adversas frequentes: Aumento da ureia no sangue. Informação adicional sobre os componentes individuais: As reações adversas que se sabe ocorrerem com cada componente administrado isoladamente mas que não foram observadas nos estudos clínicos podem ocorrer durante o tratamento com Edarclor. Clorotalidona - Adicionalmente às reações adversas listadas para o Edarclor, foram notificadas as seguintes reações adversas para a clorotalidona: Doenças do metabolismo e da nutrição - Reações adversas: muito frequentes: Aumento dos lípidos no sangue; Reações adversas frequentes: Hipomagnesemia. Cardiopatias – Reações adversas frequentes: Hipotensão postural. Doenças gastrointestinais – Reações adversas frequentes: Perda de apetite, desconforto gastrointestinal menor. Afeções dos tecidos cutâneos e subcutâneos – Reações adversas frequentes: Urticaria. Doenças dos órgãos genitais e da mama - Reações adversas frequentes: Impotência. Exames complementares de diagnóstico. Creatinina sérica: O tratamento com Edarclor resultou numa maior incidência de aumentos da creatinina sérica, comparativamente com o azilsartan medoxomilo e a clorotalidona. Estes aumentos foram temporários ou não progressivos e reversíveis, e associados com acentuadas reduções da pressão arterial. Ácido úrico: O Edarclor esteve associado a aumentos do ácido úrico sérico. Os aumentos de ácido úrico são dependentes da dose, aumentando com a dose de clorotalidona, embora tenham sido pouco frequentes as notificações de gota nos grupos de tratamento, mesmo nos estudos de longo prazo. Hemoglobina e hematócrito: O Edarclor esteve associado com reduções ligeiras nos níveis de hemoglobina, hematócrito, e na contagem de células vermelhas, consistentes com os efeitos farmacológicos conhecidos dos inibidores do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Experiência pós-comercialização. Foi notificada uma rara incidência de angioedema associado ao uso de Edarclor. Não foram identificadas outras reações adversas nas notificações espontâneas pós-comercialização. Notificação de suspeitas de reações adversas: A notificação de suspeitas de reações adversas após a autorização do medicamento é importante, uma vez que permite uma monitorização contínua da relação benefício-risco do medicamento. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas diretamente ao INFARMED, I.P.: Sítio da internet: http://www.infarmed.pt/web/infarmed/submissaoram (preferencialmente) ou através dos seguintes contactos: Direção de Gestão do Risco de Medicamentos - Parque da Saúde de Lisboa, Av. Brasil 53 1749-004 Lisboa Tel: +351 21 798 73 73 Linha do Medicamento: 800222444 (gratuita) E-mail: farmacovigilancia@infarmed.pt Data da revisão do texto: junho 2024 Para mais informações deverá contactar o representante do titular da autorização de introdução no mercado. MSRM. Medicamento comparticipado no escalão B. NOME DO MEDICAMENTO: Edarbi 20 mg comprimidos. Edarbi 40 mg comprimidos. Edarbi 80 mg comprimidos. COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA: Cada comprimido contém 20 mg, 40mg ou 80 mg de azilsartan medoxomilo (sob a forma de potássio). FORMA FARMACÊUTICA: Comprimido branco a esbranquiçado redondo, com 6,0 mm, 7,6 mm ou 9,6 mm de diâmetro; com “ASL” gravado numa das faces e “20”, “40” ou “80” gravado na outra face, para os comprimidos de 20 mg, 40 mg ou 80 mg respetivamente. INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS: Edarbi é indicado para o tratamento da hipertensão essencial em adultos. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO: Posologia: A dose inicial recomendada em adultos é de 40 mg uma vez ao dia. A dose pode ser aumentada até um máximo de 80 mg uma vez ao dia nos doentes cuja pressão arterial não é adequadamente controlada com a dose mais baixa. O efeito anti-hipertensor perto do máximo torna-se visível ao fim de 2 semanas, com os efeitos máximos atingidos às 4 semanas. Se a pressão arterial não for adequadamente controlada com o Edarbi isoladamente, pode obter-se uma redução adicional da pressão arterial quando o Edarbi é administrado concomitantemente com outros medicamentos anti-hipertensores, incluindo diuréticos e bloqueadores dos canais do cálcio. Modo de administração: O Edarbi é para utilização por via oral e pode ser tomado com ou sem alimentos CONTRAINDICAÇÕES: − Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes. − No segundo e terceiro trimestres da gravidez. − O uso concomitante de Edarbi com medicamentos contendo aliscireno é contraindicado em doentes com diabetes mellitus ou compromisso renal (TFG < 60 ml/min/1,73 m2). EFEITOS INDESEJÁVEIS: Resumo do perfil de seguranca - Edarbi nas doses de 20, 40 ou 80 mg foi avaliado em termos de segurança em estudos clinicos com doentes adultos tratados durante até 56 semanas. Nestes estudos clinicos, as reações adversas associadas ao tratamento com o Edarbi foram, na sua maioria, ligeiras ou moderadas, com uma incidência global semelhante ao placebo. As tonturas constituiram a reação adversa mais frequente. A incidência das reações adversas com o Edarbi não foi afetada pelo sexo, idade ou raça. Num estudo controlado por placebo, as reações adversas foram notificadas numa frequência similar para Edarbi na dose de 20 mg, assim como para as doses de 40 mg e 80 mg. Lista tabelada de reações adversas: As reações adversas baseadas nos dados agregados (doses de 40 e 80 mg) estão classificadas abaixo por frequência. Frequentes (≥ 1/100 a < 1/10): tonturas, diarreia e aumento da creatina fosfoquinase plasmática. Pouco frequentes (> 1/1000, < 1/100): hipotensão, náuseas, erupção cutânea e prurido, espasmos musculares, fadiga e edema periférico, aumento da creatina plasmática e aumento do ácido úrico plasmático. Raras (> 1/10.000, < 1/1000): angioedema. As reações adversas foram notificadas para a dose de Edarbi 20 mg com uma frequencia semelhante às doses de 40 e 80 mg num estudo controlado por placebo. Notificação de suspeitas de reações adversas: Quando o Edarbi foi administrado concomitantemente com a clorotalidona, as frequências da creatinina sanguínea e da hipotensão aumentaram e passaram de pouco frequentes para frequentes. Quando o Edarbi foi administrado concomitantemente com a amlodipina, a frequência do edema periférico aumentou e passou de pouco frequente para frequente, mas foi mais baixa do que a amlodipina isoladamente. Sítio da internet: http://www.infarmed.pt/web/infarmed/submissaoram (preferencialmente) ou através dos seguintes contactos: Direção de Gestão do Risco de Medicamentos Parque da Saúde de Lisboa, Av. Brasil 53 1749-004 Lisboa Tel: +351 21 798 73 73 Linha do Medicamento: 800222444 (gratuita) E-mail: farmacovigilancia@infarmed.pt Data da revisão do texto: julho 2024. MSRM. Medicamento comparticipado escalão B. Para mais informações contactar o titular da autorização de introdução no mercado. Está disponível informação pormenorizada sobre este medicamento no sítio da internet da Agência Europeia de Medicamentos: http://www.ema.europa.eu.

sua formação pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa que Catarina Ribeiro começou a trabalhar no Hospital das Caldas da Rainha, cidade de onde é natural, já lá vão 27

Filomena Cabeça: o trabalho dos Serviços Farmacêuticos na validação da terapêutica injetável

À data da reportagem, a CAMI contava com a colaboração de dois

elementos dos Serviços Farmacêuticos na validação da terapêutica injetável prescrita. “Graças ao circuito de prescrição eletrónica implementado, a decisão do médico é validada e preparada pelo farmacêutico e posteriormente fornecida para administração no espaço de Hospital de Dia da CAMI. Qualquer questão ou dúvida que surja pode ser facilmente esclarecida com os médicos e enfermeiros, nomeadamente em termos de posologia prescrita”, refere Filomena

LUíS AGOSTINHO, ENFERMEIRO GESTOR DO SERVIçO DE
“A atividade de enfermagem traz ganhos muitas vezes, praticamente imediatos”

Para Luís Agostinho, enfermeiro gestor do Serviço de MI, a CAMI afirmou-se como “uma área muito estratégica para a realidade nacional, mas particularmente para a instituição, que tem o seu Serviço de Urgência e o Internamento bastante sobrecarregados”. Por esse motivo, “enquanto não for construída uma nova unidade hospitalar, são necessárias respostas de ambulatório que ajudem a retirar os doentes daqueles circuitos, traduzindo-se na melhoria de indicadores como o número de admissões à Urgência e a demora média”.

O profissional denota que este tipo de respostas trazem igualmente “grandes benefícios aos doentes, que passam a estar mais controlados, evitando-se agudizações, e a ter melhor qualidade de vida”.

Do seu ponto de vista, os ganhos trazidos aos doentes e à instituição estendem-se ao próprio grupo de enfermagem, por se tratar de “uma área diferenciadora” e pelo facto de “os resultados das intervenções serem bastante visíveis a curto prazo, o que é altamente motivador”. Efetivamente, basta pensar que “cabe aos enfermeiros capacitar as pessoas com diabetes ou IC para a autogestão da sua doença, nomeadamente partilhando estratégias de gestão do esforço e exercícios respiratórios, no caso da IC, que possam imple-

mentar no seu dia-a-dia, a fim de melhorar a sua qualidade de vida. É percetível que a atividade de enfermagem faz a diferença e traz ganhos em saúde, muitas vezes, praticamente imediatos”.

Nesse campo dos ensinos e da capacitação, defende que é importante “ter uma abordagem mista, de alerta para os sinais que precedem uma agudização, por exemplo, mas, acima de tudo, de transmissão de confiança para o processo”. Ao longo do tempo, estas enfermeiras têm vindo a frequentar algumas formações, nomeadamente de IC, de reabilitação cardíaca e do

Cabeça, diretora dos Serviços Farmacêuticos da ULSO desde março de 2024.

Neste caso, Cecília Martins Caetano e Joana Filipa Ferreira dos Santos são as duas profissionais que realizam esse trabalho junto da CAMI. “Temos um número de farmacêuticos muito reduzido, o que impede o desenvolvimento das atividades pre-

“Por vezes, é mais fácil para o doente falar com o farmacêutico do que com o médico”, considera Filomena Cabeça.

MEDICINA INTERNA:

ganhos em saúde, imediatos”

pé diabético, de forma a “desenvolverem competências para uma melhor abordagem do doente”.

O enfermeiro gestor distingue ainda o papel da enfermagem na realização dos tratamentos, com base na prescrição médica, além da gestão dos contactos de telefone e de e-mail utilizados pelos doentes em caso de necessidade.

Com apenas duas enfermeiras a tempo inteiro e uma especialista em Enfermagem de Reabilitação a tempo parcial, na CAMI, Luís Agostinho aponta que a maior dificuldade se prende precisamente com a escassez de recursos humanos, que “limita o potencial de desenvolvimento que esta área poderia ter”.

Luís Agostinho começou a trabalhar no Serviço de Medicina Interna do então CH das Caldas da Rainha em 2000, após ter-se licenciado pela Escola Superior de Enfermagem de Angra do Heroísmo. Ao longo do tempo, foi investindo na sua formação, destacando-se o mestrado em Gestão Pública pela Universidade de Aveiro e a especialização em Enfermagem de Reabilitação pela Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Em 2010, assumiu funções de chefia no Serviço, tendo depois transitado para a categoria de enfermeiro gestor após procedimento concursal.

vistas no ato farmacêutico e leva a que o nosso apoio aos serviços seja ainda muito incipiente”, lamenta a responsável, projetando, de seguida: “Havendo mais recursos farmacêuticos, obviamente que a nossa intervenção junto de todos os serviços e também deste, em particular, será bem melhor.”

Filomena Cabeça considera que “o farmacêutico tem um papel muito importante no aconselhamento ao doente, implementando a re-

ma, o registo e reporte de efeitos adversos, bem como a deteção de duplicação e incompatibilidades entre os diversos medicamentos”. Aliás, “por vezes, é mais fácil para o doente falar com o farmacêutico do que com o médico, porque já interiorizou a sua patologia e já está menos tenso”. Por isso mesmo, entende que seria muito benéfica a criação de uma Consulta Farmacêutica: “Era fundamental para proporcionar um

médicos. Esta resposta facilitaria a deteção de problemas e a sua transmissão aos clínicos. De igual forma, poderia até reduzir o número de avaliações médicas, porque aqueles saberiam que o doente estaria a ser acompanhado e que qualquer anomalia relacionada com a medicação seria registada e devidamente reportada.”

Filomena Cabeça integrou a Farmácia Hospitalar do Hospital das Caldas da Rainha em 1984,

sidade de Lisboa. Logo assumiu a direção do Serviço, que interrompeu durante alguns anos, tendo voltado a essas funções em março de 2024. Entretanto, entre 2016 e 2018, foi vogal executiva do Conselho de Administração do CH do Oeste.

Atualmente, os Serviços Farmacêuticos da Unidade de Caldas da Rainha são constituídos por apenas quatro farmacêuticas, tendo a sua diretora esperança de que num fu-

Para maiores de 2 anos de idade

Filomena Cabeça

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