Jornal Médico 127

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DE

Filipe Palavra

o neurologista de coimbra fala em “revolução” no tratamento da enxaqueca

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maria da Luz Brazão

A sobrelotação das urgências “exige uma atuação a montante e a jusante”

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"A Psiquiatria é fulcral também porque todas as doenças acabam por tocar a Saúde Mental"

cuidados de saúde integrados

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Ana Ferrão

A presidente da co do 15.º encontro nacional das Usf diz ser preciso salvaguardar “tudo aquilo que construímos” P. 8/9

Cláudia Vicente vai presidir ao IPCRG

Igualar ou superar

a ef icácia e a ef iciência

do setor privado

de 18 anos não foram estabelecidas. Não existem dados disponíveis. Modo de administração: Indicado apenas para via intramuscular e não deve ser administrado por via intravenosa ou subcutânea nem por qualquer outra via. Deve ser administrado por um profissional de saúde. OKEDI deve ser administrado por injeção intramuscular profunda no deltoide ou no glúteo, utilizando a agulha estéril adequada. A seringa pré-cheia de pó de OKEDI deve ser reconstituída com a seringa pré-cheia de veículo fornecida imediatamente antes da administração por injeção. O processo de reconstituição deve ser efetuado de acordo com as Instruções de utilização. Contraindicações: Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes. Efeitos indesejáveis: As reações adversas ao medicamento (RAM) mais frequentes que foram notificadas num ensaio clínico de fase 3 são: aumento da prolactina sanguínea, hiperprolactinemia, acatisia, cefaleias, sonolência, aumento de peso, dor no local de injeção e tonturas. RAM notificadas em ensaios clínicos e na experiência pós-comercialização: Muito frequentes: insónia, parkinsonismo, cefaleias. Frequentes: pneumonia, bronquite, infeção das vias respiratórias superiores, sinusite, infeção das vias urinárias, otite, gripe, hiperprolactinemia, aumento de peso, aumento do apetite, diminuição do apetite, perturbações do sono, agitação, depressão, ansiedade, sedação/ sonolência, acatisia, distonia, tonturas, discinesia, tremores, visão turva, conjuntivite, taquicardia, hipertensão, dispneia, dor faringolaríngea, tosse, congestão nasal, dor abdominal, desconforto abdominal, vómitos, náuseas, obstipação, diarreia, dispepsia, xerostomia, dor de dentes, erupção cutânea, eritema, espasmos musculares, dor musculosquelética, lombalgia, artralgia, incontinência urinária, edema, pirexia, dor no peito, astenia, fadiga, dor, quedas, do no local de injeção, tumefação no local de injeção. Pouco frequentes: infeção das vias respiratórias, cistite, infeção ocular, amigdalite, onicomicose, celulite infecciosa localizada, infeção viral, acarodermatite, neutropenia, diminuição da contagem de leucócitos, trombocitopenia, anemia, diminuição do hematócrito, aumento da contagem de eosinófilos, hipersensibilidade, diabetes mellitus, hiperglicemia, polidipsia, diminuição de peso, anorexia, aumento do colesterol sanguíneo, aumento dos triglicéridos sanguíneos, mania, estado confusional, diminuição da libido, nervosismo, pesadelos, discinesia tardia, isquemia cerebral, perda de consciência, convulsões, síncope, hiperatividade psicomotora, perturbação do equilíbrio, coordenação anormal, tontura postural, perturbação da atenção, disartria, disgeusia, hipostesia, parestesia, fotofobia, olho seco hipersecreção lacrimal, hiperemia ocular, vertigens, acufeno, otalgia, fibrilhação auricular, bloqueio auriculoventricular, perturbação da condução, prolongamento de QT no eletrocardiograma, bradicardia, eletrocardiograma anormal, palpitações, hipotensão, hipotensão ortostática, rubores, congestão das vias respiratórias, respiração sibilante, epistaxe, incontinência fecal, fecaloma, gastroenterite, disfagia, flatulência, aumento das transaminases, aumento da gama-glutamiltransferase, aumento das enzimas hepáticas, urticária, prurido, alopecia, hiperqueratose, eczema, pele seca, descoloração da pele, acne, dermatite seborreicac perturbação cutânea, lesão cutânea, aumento da creatina fosfoquinase sanguínea, postura anormal, rigidez articular, edema articular, fraqueza muscular, dor no pescoço, polaquiúria, retenção urinária, disúria, disfunção erétil, perturbações ejaculatórias, amenorreia, perturbação, menstrual, ginecomastia, galactorreia, disfunção sexual, dor mamária, desconforto mamário, corrimento vaginal, edema da face, calafrios, aumento da temperatura corporal, marcha anormal, sede, desconforto no peito, mal-estar, sensação anormal, desconforto, dor resultante da intervenção, desconforto no local de injeção, eritema no local de injeção. Raros: infeção, agranulocitose, reação anafilática, secreção insuficiente de hormona antidiurética, glicosúria, intoxicação hídrica, hipoglicemia, hiperinsulinemia, catatonia, son sono, embotamento afetivo, anorgasmia, síndrome neuroléptica maligna, doença vascular cerebral, coma diabético, titubação da ca de consciência deprimido, glaucoma, perturbações do movimento ocular, rotação ocular, crostas na margem das pálpebras, síndrome sinusal, embolia pulmonar, trombose venosa, síndrome da apneia do sono, hiperventilação, crepitações, pneumonia por aspiração, respiratória, pancreatite, obstrução intestinal, edema da língua, queilite, icterícia, erupção medicamentosa, caspa, rabdomióli priapismo, atraso da menstruação, ingurgitamento mamário, hipertrofia mamária, corrimento mamário, hipotermia, diminuição da te síndrome de privação medicamentosa, induração. Muito raros: cetoacidose diabética, íleo, angioedema. Desconhecido: síndrome de Stevens-Johnson / necrólise epidérmica tóxica. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas ao INFARMED, I.P. (Tel: +351 (gratuita), e-mail: farmacovigilancia@infarmed.pt, internet: http://www.infarmed.pt/web/infarmed/submissaoram Farmacéuticos Rovi, S.A. Representante local do Titular

A estr AtégiA dA coordenAdor A destA UnidAde modelo B, inAUgUr AdA em jAneiro de 2024, pAssA pel A implementAção de projetos clínicos e de processos oper AcionAis diferenciAdores. nA foto, rAqUel BAptistA leite com nUno BAsílio, diretor médico pAr A A áreA dos csp dA Uls de lisBoA ocidentAl. P. 16/21

“Temos um grupo nacional muito forte, entusiasta e dinâmico dedicado à saúde respiratória”, afirma a coordenadora do GRESP-APMGF

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Gustavo Tato Borges

“é necessário reestruturar a resposta da saúde pública a nível regional e nacional” P. 22/23

* Beyfortus® é indicado para a prevenção de doença das vias respiratórias inferiores causada pelo RSV em: i) recém-nascidos e lactentes durante a sua primeira época do RSV; ii) crianças até aos 24 meses de idade que permanecem vulneráveis a doença grave pelo RSV durante a sua segunda época do RSV.1

Beyfortus® deve ser utilizado de acordo com as recomendações oficiais.1

Contraindicações: hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes.1

** Beyfortus® proporciona pelo menos 5 meses de proteção contra a doença do trato respiratório inferior causada pelo RSV, com base em dados clínicos e farmacocinéticos.1

† Para lactentes durante a sua primeira época do RSV, a dose recomendada é uma dose única de 50 mg para lactentes com peso corporal <5 kg e uma dose única de 100 mg para lactentes com peso corporal ≥5 kg, administrada por via intramuscular. Para crianças que permanecem vulneráveis a doença grave pelo RSV durante a sua segunda época do RSV, a dose recomendada é uma dose única de 200 mg administrada sob a forma de duas injeções intramusculares (2 x 100 mg). Para crianças submetidas a cirurgia cardíaca com bypass cardiopulmonar, pode ser administrada uma dose adicional logo que se verifique estabilização da criança após cirurgia, para garantir níveis séricos adequados de nirsevimab.1 Consulte

Informações essenciais compatíveis com o Resumo das Características do Medicamento

Este medicamento está sujeito a monitorização adicional. Isto irá permitir a rápida identificação de nova informação de segurança. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas. Para saber como notificar reações adversas, ver secção “Efeitos Indesejáveis”. Nome do medicamento Beyfortus 50 mg solução injetável em seringa pré-cheia e Beyfortus 100 mg solução injetável em seringa pré-cheia. Composição Qualitativa e Quantitativa Cada seringa pré-cheia contém 50 mg de nirsevimab em 0,5 ml (100 mg/ml) e 100 mg de nirsevimab em 1 ml (100 mg/ml), respetivamente. Nirsevimab é um anticorpo monoclonal humano imunoglobulina G1 kappa (IgG1к) produzido em células de ovário de hamster Chinês (CHO) por tecnologia de ADN recombinante. Lista completa de excipientes, ver secção 6.1 do RCM completo. Forma Farmacêutica: Solução injetável (injetável). Solução transparente a opalescente, incolor a amarela, pH 6,0. Indicações terapêuticas: Beyfortus é indicado para a prevenção de doença das vias respiratórias inferiores causada pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR), em: i. Recém-nascidos e lactentes durante a sua primeira época do VSR; ii. Crianças até aos 24 meses de idade que permanecem vulneráveis a doença grave pelo VSR durante a sua segunda época do VSR (ver secção 5.1 do RCM completo). Beyfortus deve ser utilizado de acordo com as recomendações oficiais. Posologia e modo de administração: Posologia: Lactentes durante a sua primeira época do VSR - A dose recomendada é uma dose única de 50 mg administrados por via intramuscular para lactentes com peso corporal <5 kg e uma dose única de 100 mg administrados por via intramuscular para lactentes com peso corporal ≥5 kg. Beyfortus deve ser administrado desde o nascimento em lactentes nascidos durante a época do VSR. Para outros nascidos fora da época, Beyfortus deve ser administrado idealmente antes da época do VSR. A posologia em lactentes com um peso corporal entre 1,0 kg a <1,6 kg é baseada em extrapolação, não existem dados clínicos disponíveis. Prevê-se que a exposição em lactentes com <1 kg produza exposições mais elevadas do que naqueles que pesam mais. Devem ser considerados cuidadosamente os benefícios

o Resumo das Características do Medicamento para obter informações completas sobre a dosagem nesta circunstância.

‡ Com base nos resultados de dois ensaios multicêntricos aleatorizados, em dupla ocultação e controlados por placebo.3 O endpoint primário foi a incidência de ITRI medicamente assistida (incluindo hospitalização), causada por RSV confirmado por RT-PCR. Eficácia demonstrada até 150 dias após a administração.1–3

– Ensaio de fase 2b: A população do estudo incluiu 1453 crianças grande prematuras e prematuras moderadas (IG ≥ 29 e < 35 semanas) que entravam na sua primeira época de RSV. As criancas receberam uma dose única intramuscular de 50 mg de Beyfortus® (n=969) ou placebo (n=484). Redução do risco relativo (RRR) em ITRI-RSV MA de 70,1% (IC de 95%: 52,3-81,2; p < 0,001). A incidência foi de 2,6% com Beyfortus® versus 9,5% com placebo.1,2 Os tipos e as

e riscos da utilização de nirsevimab em lactentes <1 kg. Os dados disponíveis em lactentes prematuros extremos (Idade Gestacional [IG] <29 semanas) com menos de 8 semanas de idade, são limitados. Não existem dados clínicos disponíveis em lactentes com idade pós-menstrual (idade gestacional ao nascimento mais idade cronológica) com menos de 32 semanas (ver secção 5.1 do RCM completo). Crianças que permanecem vulneráveis a doença grave pelo VSR durante a sua segunda época do VSR - A dose recomendada é uma dose única de 200 mg administrada sob a forma de duas injeções intramusculares (2 x 100 mg). Beyfortus deve ser administrado, idealmente, antes do início da segunda época do VSR. Em índividuos submetidos a cirurgia cardíaca com bypass cardiopulmonar, pode ser administrada uma dose adicional logo que se verifique estabilização do indivíduo após cirurgia, para garantir níveis séricos adequados de nirsevimab. Se estiverem dentro dos 90 dias, após receberem a primeira dose de Beyfortus, a dose adicional durante a primeira época do VSR deve ser de 50 mg ou 100 mg de acordo com o peso corporal, ou de 200 mg durante a segunda época do VSR. Se decorrerem mais de 90 dias desde a primeira dose, a dose adicional pode ser uma dose única de 50 mg independentemente do peso corporal, durante a primeira época do VSR, ou 100 mg durante a segunda época do VSR, para cobrir a época do VSR remanescente. A segurança e eficácia de nirsevimab em crianças com idade compreendida entre os 2 e os 18 anos não foram estabelecidas. Não existem dados disponíveis. Modo de administração: Beyfortus é apenas para injeção intramuscular. É administrado por via intramuscular, preferencialmente na zona anterolateral da coxa. O músculo glúteo não deve ser utilizado por rotina como um local de injeção, devido ao risco de lesão no nervo ciático. Se forem necessárias duas injeções, devem ser utilizados locais de injeção diferentes. Para instruções sobre requisitos especiais de manuseamento (ver secção 6.6. do RCM completo) Contraindicações: Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes mencionados na secção 6.1 do RCM completo. Efeitos indesejáveis: Resumo do perfil de segurança A reação adversa mais frequente foi erupção cutânea (0,7%), que ocorreu dentro de 14 dias após a administração. A maioria dos casos foi de intensidade ligeira a moderada. Adicionalmente, pirexia e reações no local da injeção foram notificadas com uma

O poder de reduzir o caos na época do RSV

Beyfortus® é um anticorpo de ação prolongada e direta desenvolvido para proteger todos os recém-nascidos e lactentes*, contra a doença do trato respiratório inferior (DTRI) provocada pelo vírus sincicial respiratório (RSV).**,1

Uma única dose reduziu o risco de infeção do trato respiratório inferior por RSV que requer assistência médica (ITRI-RSV MA) vs. placebo em recém-nascidos e lactentes.†,‡,§,1–3

DISPONÍVEL

NA ÉPOCA 2024/25 PARA AS CRIANÇAS ELEGÍVEIS

frequências dos acontecimentos adversos foram semelhantes nos grupos de Beyfortus® e de placebo.2

– Ensaio MELODY de fase 3: A população do estudo incluiu 3012 crianças de termo e prematuras tardias (IG ≥ 35 semanas) que entravam na sua primeira época de RSV. As criancas receberam uma dose única intramuscular de 50 mg de Beyfortus®, se peso corporal <5 kg ou 100 mg de Beyfortus® se peso corporal ≥5 kg no momento da administração de Beyfortus® (n=2009), ou de placebo (n=1003). RRR em ITRI por RSV medicamente assistida de 76,4% (IC de 95%: 62,3-85,2). A incidência foi de 1,2% com Beyfortus® versus 5,4% com placebo.1,3 Os tipos e as frequências dos acontecimentos adversos foram semelhantes nos bracos de Beyfortus® e placebo.3,4

taxa de 0,5% e 0,3% dentro de 7 dias após a administração, respetivamente. As reações no local da injeção não foram graves. Lista tabelada de reações adversas A tabela 1 apresenta as reações adversas notificadas em 2966 lactentes de termo e pré-termo (IG ≥29 semanas) que receberam nirsevimab em ensaios clínicos. As reações adversas notificadas a partir de ensaios clínicos controlados são classificadas por Classe de Sistema de Órgãos (CSO) MedDRA. Dentro de cada CSO, os termos preferenciais são apresentados por frequência decrescente e em seguida por ordem decrescente de gravidade. As frequências de ocorrência de reações adversas são definidas como: muito frequentes (≥1/10); frequentes (≥1/100 a <1/10); pouco frequentes (≥1/1000 a <1/100); raros (≥1/10 000 a <1/1000); muito raros (<1/10 000) e desconhecido (não pode ser calculado a partir dos dados disponíveis). REAÇÕES ADVERSAS FREQUÊNCIA Afeções dos tecidos cutâneos e subcutâneos Erupção cutâneaa – Pouco frequentes; Perturbações gerais e alterações no local de administração Reação no local de injeçãob, pirexia – Pouco frequentes. aErupção cutânea foi definida pelos seguintes grupos de termos preferenciais: erupção cutânea, erupção maculopapular, erupção macular. bReação no local da injeção foi definida pelos seguintes grupos de termos preferenciais: reação no local da injeção, dor no local da injeção, endurecimento no local da injeção, edema no local da injeção, inchaço no local da injeção. Lactentes com risco mais elevado de doença grave pelo VSR na sua primeira época: A segurança foi avaliada no MEDLEY em 918 lactentes com risco mais elevado de doença grave por VSR, incluindo 196 lactentes extremamente prematuros (IG <29 semanas) e 306 lactentes com doença pulmonar crónica por prematuridade, ou doença cardíaca congénita hemodinamicamente significativa a entrar na sua primeira época do VSR, que receberam nirsevimab (n=614) ou palivizumab (n=304). O perfil de segurança de nirsevimab em lactentes que receberam nirsevimab na sua primeira época do VSR foi comparável ao comparador palivizumab e consistente com o perfil de segurança de nirsevimab em lactentes de termo e pré-termo com IG ≥29 semanas (D5290C00003 e MELODY). Lactentes que permanecem vulneráveis a doença grave pelo VSR na sua segunda época: A segurança foi avaliada no MEDLEY em 220 crianças com doença pulmonar crónica da prematuridade ou com doença cardíaca congénita

§ As reações adversas notificadas em crianças que receberam Beyfortus® em ensaios clinicos, foram erupção cutânea, reação no local da injeção e pirexia. A ocorrência foi pouco frequente (≥ 1/1.000 a < 1/100).1

IC, intervalo de confiança; IG, idade gestacional; DTRI, doença do trato respiratório inferior; ITRI, infeção do trato respiratório inferior; MA, medicamente assistida; RRR, redução do risco relativo; RSV, vírus sincicial respiratório; RT-PCR, reação em cadeia da polimerase via transcriptase reversa.

1. Beyfortus®. Resumo das Caracteristicas do Medicamento (RCM) de Beyfortus. Agosto 2024. 2. Griffin MP et al. N Engl J Med 2020; 383(5): 415–425. 3. Muller WJ et al. N Engl J Med 2023; 388(16): 1533–1534. 4. Hammitt LL et al. N Engl J Med 2022; 386(9): 837–846.

hemodinamicamente significativa que receberam nirsevimab ou palivizumab na primeira época do VSR e que continuaram a receber nirsevimab na sua segunda época do VSR (180 participantes receberam nirsevimab nas épocas 1 e 2; 40 receberam palivizumab na época 1 e nirsevimab na época 2). O perfil de segurança de nirsevimab em crianças que receberam nirsevimab na sua segunda época do VSR foi consistente com o perfil de segurança de nirsevimab em lactentes de termo e pré-termo com IG ≥29 semanas (D5290C00003 e MELODY). A segurança foi também avaliada no MUSIC, um ensaio em regime aberto, não controlado, de dose única em 100 lactentes e crianças imunocomprometidos com ≤24 meses, que receberam nirsevimab na sua primeira ou segunda época do RSV. Isto incluiu participantes com pelo menos uma das seguintes condições: imunodeficiência (combinada, anticorpos ou outra etiologia) (n=33); corticoterapia sistémica de dose elevada (n=29); transplante de órgão ou de medula óssea (n=16); a receber quimioterapia imunossupressora (n=20); outra terapia imunossupressora (n=15) e infeção por VIH (n=8). O perfil de segurança de nirsevimab foi consistente com o esperado para uma população de crianças imunocomprometidas e com o perfil de segurança de nirsevimab em lactentes de termo e pré-termo com IG ≥29 semanas (D5290C00003 e MELODY). O perfil de segurança de nirsevimab em crianças durante a sua segunda época do VSR foi consistente com o perfil de segurança de nirsevimab observado durante a sua primeira época do VSR. Notificação de suspeitas de reações adversas A notificação de suspeitas de reações adversas após a autorização do medicamento é importante, uma vez que permite uma monitorização contínua da relação benefício-risco do medicamento. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas diretamente ao INFARMED, I.P.: Sítio da internet: http://www.infarmed.pt/web/infarmed/submissaoram (preferencialmente) ou através dos seguintes contactos: Direção de Gestão do Risco de Medi-camentos, Parque da Saúde de Lisboa, Av. Brasil 53, 1749-004 Lisboa, Tel: +351 21 798 73 73. Linha do Medicamento: 800222444 (gratuita) E-mail: farmacovigilancia@infarmed.pt Data de revisão do texto: agosto 2024. Medicamento sujeito a receita médica. Para mais informações, contactar o Representante Local do Titular da Autorização de Introdução no Mercado.

A capa da última edição

JORNALMÉDICO

Diretor: José Alberto Soares Redação: Miguel Anes Soares, Raquel Braz Oliveira Fotografia: Tomás Domingues Publicidade: Diogo Varela Diretor de Produção Gráfica: José Manuel Soares Diretor de Multimédia: Luís Soares Morada: Alameda dos Oceanos, Nº 25, E 3, 1990-196 Lisboa JornalMédicoé uma publicação híbrida da JustNews de periodicidade mensal, dirigida a profissionais de saúde, isenta de registo na ERC, ao abrigo do Decreto Regulamentar 8/99, de 9/06, Artigo 12º nº 1A Tiragem: 12.000 exemplares Preço: 3 euros Depósito Legal: 355.701/13 Notas: 1. A reprodução total ou parcial de textos ou fotografias é possível, desde que devidamente autorizada e com referência à Just News . 2. Qualquer texto de origem comercial eventualmente publicado neste jornal estará identificado como “Informação”.

Publicações

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J. Fernandes e Fernandes é um dos 100 melhores

O médico foi homenageado com a inscrição do seu nome no prestigiado livro Legends, Leaders, Pioneers - Cirurgiões que construíram a cirurgia vascular. Publicado pela Society for Vascular Surgery (SVS), dos EUA, destaca 100 cirurgiões de todo o mundo que tiveram um impacto significativo no desenvolvimento da cirurgia vascular.

José Fernandes e Fernandes foi diretor do Serviço de CV da agora ULS de Santa Maria e diretor da FMUL. A obra inclui ainda entrevistas gravadas em vídeo que preservam o testemunho e a experiência destes cirurgiões para as gerações futuras.

A crise das urgências em Portugal

da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH)

As urgências hospitalares em Portugal estão a atravessar uma crise profunda, marcada por sobrecarga, escassez de recursos e insatisfação tanto de profissionais de saúde como de pacientes. Esta situação, que não é nova, tem vindo a agravar-se nos últimos anos, refletindo as falhas estruturais do nosso

sistema de saúde e a necessidade urgente de soluções inovadoras e eficazes.

O que esta crise revela é uma falha sistémica na capacidade de planeamento e gestão dos serviços de saúde. A resposta à pressão nas urgências tem sido, muitas vezes, reativa e não proativa. Medidas paliativas, como o aumento de horas extraordinárias ou o recurso a prestadores de serviço, embora necessárias em situações emergentes, não oferecem uma solução sustentável a longo prazo.

Na verdade, a crise das urgências é sintoma de um problema maior: a incapacidade do sistema de saúde para evoluir de acordo com as necessidades da população. O planeamento a longo prazo, baseado em dados reais e em projeções precisas, é essencial para evitar que crises como esta se repitam no futuro.

Importa, pois, desenvolver e implementar medidas estruturadas e responsivas, que permitam que, a médio prazo, o problema possa ser mitigado.

É premente avançar mais rapidamente na valorização dos profissionais de saúde. A crise das urgências é, em grande medida, uma crise de recursos humanos.

É urgente rever a rede de urgências em Portugal, incluindo não apenas uma redistribuição dos recursos existentes, mas também uma reavaliação das infraestruturas e capacidades dos hospitais.

É fundamental avançar mais rapidamente na integração de tecnologia como forma de melhorar processos de trabalho nos serviços de urgência. A adoção de sistemas de inteligência artificial que possam ajudar

a identificar rapidamente os casos que realmente necessitam de atendimento urgente ou o uso mais alargado de telemedicina para avaliar e tratar os casos menos graves podem ter um impacto muito significativo no circuito do doente agudo. É premente avançar mais rapidamente na valorização dos profissionais de saúde. A crise das urgências é, em grande medida, uma crise de recursos humanos. A falta de médicos e enfermeiros, agravada pela emigração de profissionais qualificados para outros países, exige uma resposta urgente. É necessário melhorar as condições de trabalho, oferecer incentivos para que os profissionais permaneçam em Portugal e investir na formação contínua e no recrutamento de novos profissionais.

Somente com uma estratégia bem definida e uma execução eficaz será possível garantir que as urgências hospitalares possam cumprir o seu papel essencial: salvar vidas e prestar cuidados de qualidade a quem mais necessita.

Uma solução para a Saúde Materna e Obstétrica

Luís Filipe Barreira

Bastonário da Ordem dos Enfermeiros (OE)

A Diretiva Comunitária que determina o âmbito do exercício profissional dos enfermeiros especialistas em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica (EEESMO), entre outros profissionais, embora parcialmente transposta para o ordenamento jurídico português pela Lei 9/2009, de 4 de março, nunca chegou a ser regulamentada, não permitindo que esta especialidade seja exercida em Portugal nos mesmos termos que ocorre em outros países da Europa.

Há longos anos que o Estado português se mantém numa situação de ilegalidade e

incumprimento perante a União Europeia, prejudicando, sem motivos atendíveis, por um lado, o livre exercício da profissão de enfermeiro, e, por outro, o direito ao acesso a cuidados de saúde especializados, que é reconhecido a toda a população.

os recorrentes constrangimentos no acesso a cuidados de saúde na área da Saúde materna e obstétrica impõem uma atuação rápida, eficaz e, sobretudo, racional.

Os recorrentes constrangimentos no acesso a cuidados de saúde na área da Saúde Materna e Obstétrica, que se agudizam em algumas épocas do ano, impõem uma atuação rápida, eficaz e, sobretudo, racional.

Os EEESMO estão em condições de assegurar, de imediato, a assistência, com autonomia, às grávidas e partos de baixo risco, quer nos hospitais e maternidades,

quer nos cuidados de saúde primários, libertando, deste modo, os profissionais médicos para situações mais complexas. Esta solução permitiria resolver uma parte substancial dos problemas atuais.

É preciso não esquecer que, salvo evidência contrária, a gravidez e o trabalho de parto não são doenças e que os EEESMO possuem a competência necessária para atuar, com autonomia, na gravidez e partos normais.

Acresce que as intervenções dos EEESMO potenciam o respeito pelo processo fisiológico do trabalho de parto, que é amplamente reconhecido como a opção mais saudável. Como, aliás, refere a presidente da Mesa do Colégio da Especialidade de Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica EEESMO da Ordem dos Enfermeiros, Alexandrina Cardoso:

“Os benefícios para a saúde são inequivocamente comprovados pelas evidências disponíveis: aumento da probabilidade de parto vaginal espontâneo e de períneo intacto, do nível de satisfação com os cuidados e com a experiência do parto e da probabilidade de sucesso na amamentação, e, com tudo isto, menor probabilidade de cesariana, associado a menores custos em recursos humanos e

materiais, menores taxas de intervenções, como analgesia neuroaxial, uso de ocitocina sintética, com taxas de mortalidade perinatal e índice de Apgar sobreponíveis.”

Naturalmente, mais competências implicam uma maior responsabilidade e uma maior responsabilidade implica, necessariamente, uma valorização acrescida do trabalho dos EEESMO.

Assim, creio ser essencial abordar esta reconfiguração das intervenções autónomas dos EESMOS pondo de lado eventuais questões corporativas e trabalhando em consensos que beneficiem a população e o país.

É por esse motivo que a Ordem dos Enfermeiros quer manter um diálogo franco e aberto com a Ordem dos Médicos para, em conjunto com o Governo, que já apontou este caminho no Plano de Emergência e Transformação da Saúde, encontrar uma solução imediata e consensual.

A regulamentação da atuação dos EEESMO é, na verdade, um passo necessário e urgente para promover a qualidade dos cuidados de saúde e para fortalecer a saúde materna e obstétrica no país. Investir na autonomia dos EEESMO é investir no bemestar e saúde.

Projeto “MenteSaudável” para crianças e jovens do Bombarral

No âmbito do projeto “MenteSaudável”, a ULS do Oeste, representada pela sua presidente do CA, Elsa Baião, assinou um protocolo com a CM do Bombarral e o Agrupamento de Escolas Fernão do Pó. Estão envolvidas a Unidade de Cuidados na Comunidade Bombarral/Peniche e a Unidade de Saúde Pública do Bombarral.

Esta iniciativa procura promover a saúde mental e, assim, prevenir a doença na população infantil e juvenil, capacitando-a para que seja mais resiliente e adaptativa. Trata-se de uma oportunidade para identificar problemáticas na área da SM no concelho do Bombarral e encontrar respostas coordenadas,

de forma a transmitir ferramentas que permitam aos jovens lidar melhor com os desafios do seu dia-a-dia.

A população residente da área geográfica de influência direta da ULS do Oeste é de 235.231 residentes, distribuídos por aproximadamente 1348 km².

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM

A terra tremeu em Portugal. E o SNS tremerá?

Pedro Melo Doutor em Enfermagem. Professor adjunto na Escola Superior de Enfermagem do Porto

No final de agosto de 2024, na madrugada do dia 26, ocorreu um sismo de magnitude 5,4 na escala de Richter, com epicentro a 84 Km de Lisboa. Considerado naquela escala como sendo um sismo de intensidade moderada, deixou pistas para uma importante reflexão que queria deixar neste “Diagnóstico de Enfermagem”.

Vários sismos podem ser apontados como importantes marcos na atividade sismográfica em Portugal. Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera e a European Marine Observation and Data Network, citados pelo Público (2024/08/26)(1), podemos destacar:

• O mais mediático, de 1755, teve uma magnitude de 8,7 a 9 e destruiu por completo a cidade de Lisboa, mas também o Algarve e o norte de África. Mais de 10.000 mortos resultaram desta tragédia, consequência do sismo, do tsunami e dos incêndios que se seguiram.

• Em 1909, em Benavente, foi também registado um sismo de magnitude 6,0.

• Em 1966 foi Santiago do Cacém e S. Bartolomeu da Serra onde se fez sentir um sismo de magnitude 4,7.

• Em 1969, o sismo, com uma magnitude de 7,5, causou vários estragos e, inclusive, a perda de vidas em Lisboa e Algarve.

• Em 1975 foi a Madeira que registou um sismo de magnitude 8, mas que pouco impacto teve, por incrível que pareça.

• Em 1980 foi nos Açores (área onde a atividade sismográfica é maior, pela localização das placas tectónicas) que se registou um sismo de magnitude 6,7, repetindo-se outro em 1988, com uma magnitude 6,0.

• Em 2007 foi na Ferradura que aconteceu um sismo com magnitude 5,8.

Portanto, a ocorrência de sismos não é uma novidade em território português

e a inevitabilidade de um sismo com potenciais consequências devastadoras leva à necessidade de uma profunda reflexão em várias estruturas, mas de uma forma muito relevante no SNS.

Gostaria de falar dos resultados da tese de Doutoramento da Doutora Amélia Ferreira, que desenvolveu um estudo, no contexto da especialização em História da Enfermagem, no Doutoramento em Enfermagem da Universidade Católica Portuguesa(2) , encontrando evidências de que o terramoto de 1755 foi precursor no desenvolvimento dos cuidados de socorro na rua, que viria muito provavelmente, com a visão inovadora de figuras como o Marquês de Pombal, a ser um epicentro de desenvolvimento do que hoje são as VMER e, enquanto estrutura, o próprio INEM. Somos, aliás, exemplo para o mundo inteiro no que se refere ao socorro especializado em contexto de emergência nos locais de ocorrência.

Também a arquitetura dos edifícios e a organização das ruas, pelas ideias e orientações do Marquês de Pombal, permitiram reconstruir a cidade de uma forma orientada para uma melhor segurança e eficácia na resposta aos próximos sismos que vierem a decorrer.

Usando duas expressões que emergiram do terramoto de 1755, estamos a “resvés campo de ourique” de nos aproximarmos das soluções antes que “caia o carmo e a Trindade” no SnS.

Numa altura em que se discutem fragilidades no SNS, principalmente nos recursos humanos, deixo aqui, aproveitando o mote deste novo aviso, a importância da nossa resposta de emergência, onde os enfermeiros especialistas em Enfermagem MédicoCirúrgica na área da Pessoa em Situação Crítica são fundamentais, ser assegurada em dotações adequadas (quer nas VMER, quer nos Serviços de Urgência e Cuidados Intensivos).

Mas também assegurar o reforço dos especialistas em Enfermagem Comunitária, na área de Enfermagem de Saúde

Comunitária e de Saúde Pública, nas Unidades de Cuidados na Comunidade (UCC), para garantir projetos de âmbito comunitário de preparação para a resposta a sismos nos locais de maior risco (diria que a população portuguesa precisa e merece ter estes cuidados seguros). Também nas Unidades de Saúde Pública (USP) para garantir colaboração nos Observatórios Locais e Planeamento Estratégico junto das populações em articulação integrada nas Unidades Locais de Saúde e as outras estruturas da comunidade.

Realço ainda a importância dos enfermeiros especialistas em Enfermagem Comunitária na área de Enfermagem de Saúde Familiar para diagnosticar, em contexto de proximidade com cada família, as condições dos edifícios residenciais e a precaução de segurança para a resposta de cada família a um sismo, de forma personalizada.

Os registos de enfermagem nos sistemas de informação orientados para a especificidade dos sismos, quer pelos enfermeiros nas UCC, quer pelos enfermeiros nas Unidades de Saúde Familiar e Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados, permitirão aos enfermeiros nas USP agregar dados e estudar, do ponto de vista epidemiológico, como está a população portuguesa e o ambiente em que vive, preparada para um sismo, do ponto de vista dos diagnósticos de enfermagem.

Parece uma ideia demasiado inovadora? Talvez para quem precise compreender a importância que têm os enfermeiros especialistas. O SNS está neste momento com movimentos das suas “placas tectónicas” na gestão política dos seus processos. Saibam os decisores políticos evitar um tsunami, com todos os dados que atualmente para ele apontam se nada for feito e onde todos os recursos humanos da saúde são importantes, mas, dada a natureza desta coluna, relevo aqui os enfermeiros especialistas.

Usando duas expressões que emergiram do terramoto de 1755, estamos a “resvés Campo de Ourique” de nos aproximarmos das soluções antes que “caia o Carmo e a Trindade” no SNS.

Referências:

1.https://www.publico.pt/2024/08/26/ciencia/ noticia/afinal-nao-sismo-forte-intenso-ultimos-60anos-2101899.

2.Ferreira,A.Osocorroàsvitimasdoterramoto deLisboa:1755.TesedeDoutoramentoem Enfermagem.UniversidadeCatólicaPortuguesa, 20/12/2016.Disponívelem:https://repositorio. ucp.pt/handle/10400.14/24087.

Eventos em destaque MEDICINA GERAL E

III Jornadas do Núcleo de Internos Jacinto Magalhães

Salão Nobre da Câmara

Municipal de Paços de Ferreira 20 de setembro

Organização: Núcleo de Internos Jacinto Magalhães da ULS Tâmega e Sousa

11.as Jornadas do GIMGAS

Online 23 e 24 de setembro

Organização: Grupo de Internos de Medicina Geral e Familiar de Almada e Seixal

I Jornadas do Internato de MGF da ULS São José

“O caminho das unidades locais de saúde está agora a começar. E ele faz-se agregando as nossas equipas, olhando para o futuro e prevenindo a doença.” Foi desta forma que Henrique Capelas, presidente do CA da ULS do Tâmega e Sousa (ULSTS), deu as boas-vindas a uma centena de clínicos que participaram no #Tão-

próximodeSi Summit - Integração de Cuidados, que decorreu no Hospital de São Gonçalo, em Amarante. Ana Correia de Oliveira, vogal do Conselho de Gestão da Direção Executiva do SNS, destacou na sessão de abertura que a “integração de cuidados é fundamental para o funcionamento eficiente dos sistemas de saúde”.

Em discussão estiveram oito temas fundamentais para o dia-a-dia das instituições de saúde, juntando diferentes grupos de clínicos: critérios de referenciação hospitalar, rastreios, MCDT, consultoria de especialidades, doença aguda, medicina física e de reabilitação, cuidados continuados e processo assistencial integrado.

II Ciclo Conferências da Neve

Online e Faculdade de Ciências da Saúde da UBI, Covilhã 10 a 11 de outubro

Organização: internos de MGF da ULS Cova da Beira

31.º Encontro do Internato de MGF da Zona Norte

Exponor 16 a 18 de outubro

Organização: internos e especialistas de MGF da Direção do Internato Emílio Peres, ULS São João

V Jornadas da Foz

Online 10 e 11 de outubro

Organização: Internos de MGF da ULS São José

Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz 17 e 18 de outubro

Organização: internos de MGF da Comunidade de Prática Formativa (CPF) da Figueira da Foz

CLáUDIA

temos um grupo nacional muito forte, e dinâmico dedicado à saúde respiratória”

pAr A cláUdiA Vicente, qUe VAi AssUmir A presidênciA do ipcrg em 2026, portUgAl destAcA-se entre As qUAtro dezenAs de pAíses representAdos nAqUel A orgAnizAção. Aliás, o mesmo cArgo já foi ocUpAdo Anteriormente por jAime correiA de soUsA, fUndAdor e primeiro coordenAdor do gresp. A médicA de fAmíliA dA Usf Ar Aceti, qUe está à frente do grUpo de estUdos de doençAs respir AtóriAs dA Apmgf desde 2021, VAlorizA A importânciA do tr ABAlho conjUnto desenVolVido, em portUgAl e Além-fronteir As, em prol dA sAúde respir AtóriA

Onome de Cláudia Vicente foi aprovado por unanimidade pelos representantes de todos os países votantes do The International Primary Care Respiratory Group presentes na sua 12.ª Conferência Mundial, que decorreu em maio, em Atenas, para assegurar a presidência daquele grupo no biénio 2026-2028. A proposta partiu do Board of Directors do IPCRG. Nessa mesma reunião, tomou posse do cargo a australiana Amanda Barnard, sucedendo à malaia Ee Ming Khoo.

A presidente eleita do IPCRG não hesita em afirmar que Portugal é um país que se destaca no leque das 39 organizações nacionais integrantes do IPCRG. “Temos um grupo nacional muito forte e ativo, constituído por colegas que têm contribuído muito com o seu trabalho, entusiasmo e dinamismo”, sublinha, notando que “o Prof. Jaime Correia de Sousa foi o propulsor da forte ligação com o IPCRG, envolvendo todos os coordenadores do GRESP que lhe sucederam e ainda outros elementos, como os Drs. Carlos Gonçalves e o Prof Luís Alves ou o Prof. Tiago Maricoto”.

A médica, que se dedica à área respiratória desde o início do seu percurso profissional, reconhece

“o dinamismo do GRESP e a forma como tem promovido e divulgado as iniciativas do IPCRG, adaptando-as à realidade local, e demonstrado interesse e participado noutras atividades realizadas a nível internacional”.

Avaliando a atitude dos outros grupos congéneres, refere que especialmente os de Espanha, Holanda, Grécia, Inglaterra, Brasil e Tunísia “têm-se mostrado fortes e dinâmicos, estando a acontecer uma expansão também para o Médio Oriente e, mais recentemente, para a América Latina”.

No caso da realidade portuguesa, identifica um crescente interesse dos especialistas de MGF pela área respiratória, realçando que “o conhecimento nesta matéria, embora seja sempre uma mais-valia, tornou-se agora imprescindível para o atingimento de bons indicadores de desempenho das USF”. E acredita que o GRESP, “com o seu dinamismo, tem contribuído não só para atrair os jovens médicos de família para esta área como para manter o interesse dos seus membros, através da elaboração de novos documentos de apoio à prática clínica, por exemplo”.

Paralelamente, distingue o investimento que o GRESP tem feito

cláudia vicente: “o conhecimento nesta matéria, embora seja sempre uma mais-valia, tornou-se agora imprescindível para o atingimento de bons indicadores de desempenho das USF na área respiratória.”

“na promoção de uma intervenção estruturada da MGF na gestão do doente respiratório, com o apoio da enfermagem, tal como já existe, em termos práticos, para as doenças cardiovasculares, que têm consultas dedicadas”.

O trabalho de equipa junto dos doentes respiratórios

Cláudia Vicente acredita também no trabalho multidisciplinar com os colegas hospitalares, sendo necessário, por vezes, encaminhar doentes respiratórios para consultas no hospital. Isso sucede, nomeadamente, “quando precisam de fazer exames complementares não disponíveis nos CSP, como a prova de marcha dos 6 minutos ou uma fibroscopia, ou necessitam de fazer reabilitação pulmonar ou medicação biológica”. A referenciação

pode ser necessária ainda “para discussão clínica”.

A médica enaltece a necessidade de “haver um grande trabalho de equipa para que tudo flua”, sublinhando: “Precisamos sempre todos muito uns dos outros, para que o circuito do doente funcione e este tenha acesso aos melhores cuidados possíveis disponíveis.”

Esta união torna-se mais relevante num contexto em que “os diagnósticos estão a aumentar, quer devido à maior literacia da população, que vem proativamente procurar ajuda, quer à maior capacitação da classe médica para perguntar, diagnosticar e tratar”.

Na sua ótica, o crescente número de casos de doença respiratória deve-se a um conjunto de fatores, entre eles, “o envelhecimento da população, as alterações climáticas, a poluição, o aumento

Cláudia Vicente sublinha o investimento que o GRESP tem feito “na promoção de uma intervenção estruturada da MGF na gestão do doente respiratório, com o apoio da enfermagem”

forte, entusiasta respiratória”

da obesidade e o agravamento de algumas desigualdades socioeconómicas”.

Com o cada vez maior número de utentes de nacionalidade estrangeira a recorrer ao SNS, a coordenadora do GRESP alerta para a necessidade de “mais tempo para atender estes casos de doença respiratória”.

“Precisamos sempre todos muito uns dos outros”, realça a coordenadora do GreSP.

Na perspetiva de Cláudia Vicente, o modelo de ULS pode “ajudar a promover um fácil diálogo entre os colegas, a agilizar a discussão de casos e a facilitar uma maior articulação no circuito do doente, ao estimular e potenciar as relações de proximidade”. Contudo, ressalva que “esse modelo faz sentido se os CSP forem apoiados equitativamente e a distribuição de verbas for realizada de forma imparcial entre os CSP e o hospital”.

No caso da ULS do Baixo Mondego, onde a USF Araceti está integrada, a médica considera que “a dinâmica pode funcionar facilmente, porque a maioria das USF está fisicamente perto do Hospital Distrital da Figueira da Foz e porque o Serviço de Pneumologia é muito dinâmico e acessível, com uma excelente perspetiva e ligação aos CSP”.

Adverte, contudo, que “noutras áreas geográficas, pode ser difícil manter a fluidez de trabalho que

10.as Jornadas do GRESP convidam os participantes a “aprender de forma divertida e interativa”

As próximas Jornadas do GRESP vão acontecer nos dias 10 e 11 de outubro, em Lisboa, referindo Cláudia Vicente que se procurou construir “um programa muito dinâmico e atual, em que os participantes possam aprender de forma divertida e interativa”.

Ao longo dos dois dias de trabalhos, terão lugar vários workshops, alguns deles sob o formato de jogo, como a já conhecida Oficina GloriSAOS e o Escape Room da Asma, que será uma estreia na reunião do GRESP, após o sucesso que teve

Os temas serão abrangentes, indo “desde a vacinação, passando por tópicos abordados frequentemente em consulta, como a tosse, até projetos tecnológicos mais recentes que estão a ser implementados no país”.

está pressuposta na dinâmica das ULS”, embora reconheça que ainda é precoce fazer avaliações: “Há ainda muito trabalho a fazer e estamos

na última Conferência Mundial do IPCRG. Nestas que serão as 10.as Jornadas, vão ser atribuídos “excelentes prémios” e haverá ainda oportunidade para a existência de alguns momentos lúdicos e de arte.

todos a aprender, porque trata-se de uma matéria nova em termos de trabalho de operacionalização clínica e burocrática.”

Quase meia centena de países unidos em torno da saúde respiratória

Fundado em 2003, o IPCRG é um grupo internacional dedicado à saúde respiratória no âmbito dos cuidados de saúde primários. Atualmente, integra 39 organizações de CSP centradas nas doenças respiratórias, de países de todo o mundo.

A atual coordenadora do GRESP vai ser a segunda representante da MGF portuguesa a presidir ao IPCRG, recordando que consolidou a sua aproximação àquela entidade por ocasião da 9.ª Conferência Mundial do IPCRG, realizada em 2018, no Porto. Representou o final da presidência de Jaime Correia de Sousa e ficou marcada

como a maior de sempre, com 1050 participantes de 48 países. Nessa ocasião, foi apresentado o projeto ARC - Asthma Right Care, que iria iniciar-se em quatro países-piloto, incluindo Portugal, através do GRESP-APMGF, com o nome de

Imunização gratuita contra o VSR a partir de 1 de outubro

ADireção-Geral da Saúde (DGS) publicou a 12 de agosto de 2024 a Norma 05/2024, que concretiza a introdução da imunização sazonal contra a infeção pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR) em idade pediátrica, para a época outono/inverno 20242025.

Com esta decisão, prevê-se proteger cerca de 62 mil crianças, o que significa um investimento estimado de 13,6 milhões de euros.

A introdução da imunização contra o VSR acontece por proposta da DGS, que teve em consideração, entre outros fatores, a epidemiologia da infeção em Portugal, o risco acrescido de desenvolvimento de doença grave e de hospitalização, assim como a segurança do medicamento.

com esta decisão, prevê-se proteger cerca de 62 mil crianças.

A partir de 1 de outubro de 2024, a imunização contra a infeção pelo VSR estará disponível de forma gratuita em todas as mater-

nidades dos sectores público, privado e social, para as crianças nascidas entre 1 de outubro de 2024 e 31 de março de 2025; e nas instituições de saúde do SNS para as crianças nascidas entre 1 de agosto de 2024 e 30 de setembro de 2024, e para as crianças com fatores de risco definidos.

Esta resolução operacionaliza uma das medidas prioritárias incluídas no Plano de Emergência e Transformação da Saúde, apresentado pelo Governo em maio de 2024. É uma estratégia de prevenção, com o objetivo de proteger as crianças, particularmente nos primeiros meses de idade, reduzir a suscetibilidade individual, a carga de doença e o impacto na utilização de serviços de saúde, nomeadamente o recurso às urgências hospitalares e aos internamentos associados.

A DGS, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) e outros parceiros irão assegurar a vigilância epidemiológica do VSR, a sua monitorização e a avaliação do impacto desta imunização.

Poderá ler a Norma e mais informação sobre este assunto na página da DGS.

Luís Abegão Pinto eleito vice-presidente da Sociedade Europeia de Glaucoma

Luís Abegão Pinto é o mais jovem e o primeiro português a assumir o cargo de vice-presidente da Sociedade Europeia de Glaucoma, que foi fundada em 1978, ascendendo a presidente a partir de 2026. A eleição aconteceu durante o 16.º Congresso da mesma, realizado em Dublin, Irlanda, em junho. Professor de Oftalmologia na FMUL, desempenhou o cargo de secretário-geral nos últimos quatro anos.

CAPA, Cuidados Adequados à Pessoa com Asma, cuja coordenação coube a Cláudia Vicente e a Nuno Pina. Nesse contexto, a médica acabou por ser um dos elementos integrantes do Strategy Group do ARC.

Integrando o Board of Directors do IPCRG desde 2022, a verdade é que Cláudia Vicente já mantinha ligação com a organização há uma década. O primeiro contacto aconteceu ainda enquanto era interna, quando submeteu um trabalho científico que veio a apresentar na conferência do IPCRG, tendo considerado a dinâmica da organização “muito interessante”.

O médico destaca a importância daquela que classifica como “a principal sociedade na especialidade de glaucoma na Europa”. Com cerca de mil membros, congrega todas as sociedades europeias e nacionais da área, tendo por missão «encontrar as melhores soluções para preservar a qualidade de vida dos doentes com glaucoma, dentro de um sistema de saúde sustentável». Além disso, a Sociedade é reconhecida pela elaboração de orientações gerais, gestão de várias task forces, incluindo as dedicadas a streamings e cirurgias, e pela formação de internos.

Luís Abegão Pinto, que é responsável pelo Departamento de Glaucoma da ULS de Santa Maria,

refere “a satisfação e responsabilidade que o novo cargo implica”. Além disso, sublinha que outra professora da FMUL, Filomena Ribeiro, é atualmente presidente da Sociedade Europeia de Cirurgia Refrativa e Catarata, frisando: “Estes cargos refletem a nossa dedica -

ção e o empenho da clínica universitária de Oftalmologia da FMUL em alcançar elevados padrões de excelência.”

ANA FERRãO, PRESIDENTE DA COMISSãO ORGANIZADORA DO 15.º ENCONTRO NACIONAL DAS USF:

“temos que intervir para que tudo aquilo que construímos não desapareça”

o processo de reform A q U e está A ser V i V ido At UA lmente no sns é, pA r A A médic A de fA míli A An A f errão, q U e preside à co do 15.º e ncontro nAcion A l dA s U sf, Um momento q U e exige A pA rticipAção de todos, pA r A A constr U ção de Um f U t U ro melhor. “jUntos n A m U dA nç A : o f U t U ro depende de nós” é o lem A do eV ento, q U e terá lU g A r A 18 e 19 de o U t UB ro, em sA ntA rém.

Aligação de Ana Ferrão à USF-AN, a associação que tem como missão representar as USF e os profissionais que as integram e fomentar a partilha de conhecimento e boas práticas, já é longa. A médica de família da USF Marginal, em Cascais, foi uma das profissionais que, num determinado encontro promovido pela APMGF, discutiram “a importância de se criar uma associação que não agregasse apenas médicos, uma vez que as USF são multiprofissionais”

Desde a sua criação, em 2009, que tem vindo a integrar o seu Conselho Consultivo e os Órgãos Sociais e a dar o seu contributo em grupos de trabalho sobre contratualização, indicadores ou BI-CSP.

ANA FERRãO:

Perante o convite de André Biscaia, presidente da USF-AN, seu amigo e colega de trabalho desde a criação da USF Marginal, para presidir à Comissão Organizadora deste Encontro, não teve como recusar e nem o facto de poder já vir a estar reformada na data do evento demoveu a Direção da USF-AN, nem Ana Ferrão de aceitar. “Para mim, era difícil recusar um convite que partia de um

“Mesmo tendo a USF-AN uma direção muito ativa, os sócios têm de estar envolvidos. Daí o lema de a USF-AN ser ‘Juntos, somos mais fortes!’”, sublinha Ana Ferrão

amigo e, para o André, fazia sentido que fosse eu por ter acompanhado todo o percurso da constituição das USF”, refere.

No ano em que se deu a gene-

ralização do modelo ULS e se está a viver um período de mudança, Ana Ferrão acredita que “é ainda mais relevante levar os profissionais a participar, para construir um futuro

“O papel do coordenador é permitir que haja lideranças em diferentes áreas”

Ana Ferrão nasceu em Lisboa, há 69 anos, mas, aos quatro, foi viver para Angola, e os seus estudos acabaram por ser divididos entre Benguela e Lisboa. Iniciou o curso de Medicina lá, que concluiu já na capital portuguesa – na FMUL –, para onde veio definitivamente após a revolução de abril.

Não se lembra de ter o sonho de querer ser médica desde pequena, embora a professora primária o garantisse. “Acho que queria ser várias coisas – médica, arquiteta, educadora de infância, advogada – e gostava de poder ter tido várias vidas!”, diz Ana Ferrão.

Após concluir o curso, fez o Internato Geral nos Hospitais Civis de Lisboa e o Serviço Médico à Periferia na Azambuja. Já com um filho, escolheu seguir MGF e ficou colocada no Centro de Saúde de Cascais – extensão de Alvide. Dado o seu gosto pela Pediatria, frequentou durante três anos, como voluntária, o respetivo internato, no Hospital D. Estefânia, a par de ter uma lista de utentes em Cascais como médica de família, a mesma que mantém até hoje. Entretanto, teve a oportunidade de fazer a formação específica de MGF em exercício, o que lhe conferiu o

grau de especialista, e acabou por colaborar na formação dos médicos do Centro de Saúde de Cascais na área da Saúde Infantil, uma vez que “muitos deles não tinham feito internato, pelo que não dispunham da formação adequada para acompanhar as crianças”.

Permaneceu naquela Unidade durante mais de duas décadas, até que a oportunidade de integrar uma equipa para constituir uma USF a levou a ser uma das fundadoras da USF Marginal, que foi, aliás, a primeira USF do Centro de Saúde de Cascais a ser criada, em 2007.

Assumiu desde início a sua co-

ordenação, que manteve durante 12 anos, recordando que o ano de 2006 foi o mais desafiante, “pela dificuldade de manter o espírito de equipa e de união num conjunto de profissionais que estavam a trabalhar em sítios diferentes, enquanto alimentávamos o sonho de criar a USF Marginal e trabalhávamos nesse projeto”.

Liderando uma equipa caracterizada por ser “muito motivada, participativa e com diferentes competências”, distingue que “o papel do coordenador é permitir que haja lideranças em diferentes áreas para se construir um projeto conjunto”.

melhor”. Além de considerar que “o modelo não está perfeitamente testado nem a sua mais-valia demonstrada”, realça que “a dinâmica atual não está a ser fácil e os profissionais estão a deparar-se com muitos problemas”.

Admitindo que “as próprias ULS não estavam preparadas para esta mudança”, refere estarem a ser descritas “várias lacunas, em termos de remuneração e distribuição de material, por exemplo”. No fundo, “de repente, o circuito foi alterado e, aparentemente, os processos não estavam pensados nem bem organizados”.

Por esse motivo, sublinha a importância da presença de todos, neste Encontro: “Temos que intervir para que tudo aquilo que construímos nestes anos não desapareça ou seja condicionado, neste processo de mudança. Mesmo tendo a USF-AN uma Direção muito ativa, uma associação nunca é apenas a direção, e os sócios têm de estar envolvidos. Não é por acaso que o lema da USF-AN é ‘Juntos somos mais fortes!’”

“Saúde Familiar em Tempos de Mudança” como fio condutor do programa

A decorrer nos dias 18 e 19 de outubro, no Centro Nacional de Exposições de Santarém, o 15.º Encontro Nacional das USF tem como tema “Saúde Familiar em Tempos de Mudança” e a Comissão Organizadora espera conseguir reunir meio milhar de participantes.

Com temas mais específicos e outros transversais, Ana Ferrão adianta que alguns dos assuntos debatidos serão no âmbito da liderança e redes colaborativas, inteligência artificial, migrantes, contratualização e adaptação das USF modelo B que transitaram administrativamente, sendo que está preconizado um tempo próprio para abrir a discussão à assistência”.

À semelhança do que vem acontecendo em todos os encontros, haverá espaço para o “Momento Atual”, que decorrerá na Sessão de Abertura e, suportado nos resultados dos inquéritos dirigidos aos coordenadores das unidades, ao longo de 15 anos, serve de “barómetro do que vai acontecendo nos CSP”. Na sua opinião, a aplicação do inquérito neste momento de mudança “é muito importante porque permitirá perceber como é que em cada local esta está a ser sentida, desde a relação com a ULS aos sistemas informáticos”.

Também o Acontece’24 será uma sessão a repetir, em que os profissionais poderão partilhar boas práticas e experiências inovadoras realizadas nas suas unidades, sob a forma de comunicações orais e em póster.

Haverá ainda tempo para momentos de partilha, descompressão e humor, como sucederá com o apoio da “USF Arco-da-Velha”.

Como habitualmente, foi constituída uma Comissão Local, que se centra no estabelecimento de contactos importantes no local do evento.

BOAS PRáTICAS

Integração de

PrEGeReT – Programa da Equipa de Gestão do Regime Terapêutico na Diabetes Tipo 2

hélder Correia

Enf.ª especialista e mestre na área de Saúde Comunitária e de Saúde Pública, UCC São Mamede de Infesta, ULSM

Os sistemas de saúde deparam-se, atualmente, com novos paradigmas, ao nível da qualidade da prestação de cuidados de saúde, bem como no que se refere à necessidade de controlo dos custos no setor da saúde, obrigando as organizações a adaptarem-se. O objetivo é fornecerem a resposta mais adequada às crescentes necessidades dos indivíduos, relacionadas com o envelhecimento da população, a evolução epidemiológica, a alteração do perfil dos consumidores e o aumento da prevalência de doenças crónicas que necessitam de acompanhamento, melhorando a qualidade assistencial e promovendo a sustentabilidade financeira.

Entre estas respostas, salientam-se as iniciativas de reestruturação organizacional da oferta de cuidados na qual se inserem os programas de integração de cuidados de saúde, evitando intervenções espartilhadas, com duplicação de recursos físicos e humanos para dar resposta à mesma necessidade, que põem em causa a continuidade de cuidados, os resultados, a qualidade e a satisfação do utente.

A Unidade Local de Saúde de Matosinhos, nos últimos 25 anos, em resultado da integração vertical de cuidados, tem desenvolvido uma cultura de trabalho colaborativo entre os diversos profissionais e diferentes níveis de cuidados de resolução de problemas e de avaliação das necessidades dos utentes e dos próprios profissionais, originando o ambiente ideal para a criação de vários programas de integração de cuidados.

Sendo a diabetes uma doença crónica, altamente prevalente sobretudo nos países desenvolvidos, que em Portugal afeta 14,1% da população (1,1 milhão de pessoas, sendo que destas 90% terão diabetes tipo 2) e que em 2021 representou um custo direto estimado entre 1400 e 1700 milhões de euros, torna-se uma área de intervenção prioritária.

Assim, o PrEGeReT – Programa da Equipa de Gestão do Regime Terapêutico na Diabetes Tipo 2 surgiu da necessidade de criar uma resposta paralela e complementar aos cuidados de saúde assegurados pela Equipa de Saúde Familiar (ESF) ou pela Equipa de Endocrinologia, tendo em vista o elevado número de utentes com dificuldade em gerir a sua diabetes tipo 2 (traduzida pelo facto de apresentarem HbA1c superior ou igual a 8%)

no ACES de Matosinhos (47,7% dos utentes inscritos com diagnóstico de diabetes no ano de 2020).

Foi proposta a criação de um modelo de acompanhamento individualizado, de maior proximidade, envolvendo uma equipa multidisciplinar de diferentes níveis de cuidados, com o utente no centro das decisões, fomentando a integração de cuidados.

Desta forma, foi proposta a criação de um modelo de acompanhamento individualizado (Gestão de Caso), de maior proximidade, com contactos regulares e frequentes em contexto de consultório e de domicílio, envolvendo vários elementos de uma equipa multidisciplinar (enfermeiro / / endocrinologista / fisioterapeuta / / nutricionista / assistente social) de diferentes níveis de cuidados, com a colaboração da autarquia e com o utente no centro das decisões, fomentando a integração de cuidados e facilitando a navegação do utente pelas várias respostas e diferentes níveis de cuidados de saúde e sociais.

Os objetivos do PrEGeReT passam por promover a capacitação / empoderamento para a gestão da diabetes; promover cuidados centrados nas necessidades dos utentes com diabetes tipo 2, articulando os diversos profissionais de saúde nos diferentes níveis de cuidados; rentabilizar os recursos disponíveis através do trabalho em equipa multidisciplinar; aumentar a acessibilidade a cuidados de saúde especializados e diminuir as complicações e os custos associados à doença.

(de acordo com critérios de elegibilidade) e são posteriormente acompanhados, num modelo de gestão de caso, por um enfermeiro da Unidade de Cuidados na Comunidade que intervém, articula e referencia, de acordo com o nível de complexidade do utente, para a restante equipa multidisciplinar.

(Nota: os utentes estão distribuídos por 3 níveis dinâmicos de complexidade, sendo que os casos de maior complexidade são discutidos semanalmente com uma endocrinologista, em regime de consultadoria, articulando cuidados de saúde primários e cuidados de saúde diferenciados.)

No ano de 2023, foram acompanhados 259 utentes. Destes, 108 (41,7%) tiveram alta; 95,6% dos utentes com alta apresentaram resolução do diagnóstico “compromisso da gestão do regime terapêutico” (nas dimensões de alimentação, atividade física e medicação) e 97,23% dos utentes com alta apresentaram resolução do diagnóstico “compromisso na autoadministração de medicamentos” dos utentes e/ou prestadores de cuidados.

– Os 108 utentes tiveram alta com uma redução média de 2,3% da HbA1c

– Redução média do colesterol total de 20,8 mg/dl

– Redução média de LDL de 17 mg/dl

– Redução média de triglicerídeos de 30,3 mg/dl

O projeto obteve um valor global de satisfação, por parte dos utentes, de 96% (aplicação de inquérito de satisfação).

Vários estudos internacionais referem que a diminuição de 1% (valor absoluto) da HbA1c:

– Diminui em 21% as mortes relacionadas com a diabetes,

– Diminui em 14% a probabilidade de enfarte do miocárdio e – Diminui em 37% as complicações microvasculares.

Outras vantagens, como economia de custos, também podem ser alcançadas ao evitar complicações dispendiosas da diabetes. Vários estudos referem que a diminuição de 1% da HbA1c diminui em 13% os custos totais associados à diabetes.

O PrEGeReT atingiu uma diminuição média da HbA1c de 2,3% em 108 utentes.

Os resultados obtidos parecem demonstrar, de forma inequívoca, os benefícios deste modelo de acompanhamento, quer na vertente da diminuição das complicações da diabetes tipo 2, quer na rentabilização dos recursos de saúde (diminuição da pressão nos cuidados de saúde primários e hospitalares), o que se traduz na redução dos custos associados a esta patologia tão prevalente.

Tabela 1 – Evolução comparativa da % utentes com HbA1c ≤ 8% (Portal Transparência SNS)

Da análise dos dados da Tabela 1, conseguimos perceber que, desde 2020 (ano em que o PrEGeReT iniciou o seu funcionamento nos moldes atuais), o ACES

Assim, os utentes com compromisso na gestão do regime terapêutico são referenciados pelas ESF, Serviço de Endocrinologia ou Internamento Hospitalar

de Matosinhos tem apresentado resultados progressivamente melhores relativamente à percentagem de utentes com HbA1c ≤ 8%, quando comparados à realidade nacional.

o projeto é dinamizado por quatro enfermeiros, um por cada Unidade de cuidados na comunidade da Uls de matosinhos: hélder correia (Ucc são mamede de infesta), joana pinto (Ucc senhora da hora), marlene cavadas (Ucc matosinhos) e cecília Arieira (Ucc leça da palmeira).

Este espaço resulta de uma parceria entre a

FILIPE PALAVRA, PRESIDENTE DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE CEFALEIAS (SPC):

“A chegada de medicamentos inovadores permite

pAr A filipe pAl AVr A, qUe preside à sociedAde portUgUesA de cefAleiAs desde mAio, está A ViVer-se Um momento importAnte nA históriA dA ter ApêUticA dAs cefAleiAs, nomeAdAmente dA enxAqUecA, com o sUrgimento de medicAmentos cApAzes de AtUAr em mecAnismos específicos dA sUA fisiopAtologiA. Além dA mAior toler ABilidAde e dA redUção sUBstAnciAl do número de diAs com dor de cABeçA sentidos pelos doentes, estA inoVAção ter ApêUticA tem estimUl Ado A AtiVidAde científicA dA spc

“Após a introdução dos triptanos, na década de 90 do século XX, tivemos um largo período sem inovação terapêutica nas cefaleias. Felizmente, com as descobertas mais recentes relacionadas com alguns dos mecanismos fisiopatológicos da doença, estamos a assistir agora à entrada no mercado de um conjunto de medicamento inovadores, capazes de revolucionar o tratamento de uma doença que é muito frequente na nossa população e que se chama enxaqueca”, começa por contextualizar Filipe Palavra, presidente da Sociedade Portuguesa de Cefaleias.

O neurologista realça que, pela falta de inovação terapêutica durante vários anos, a comunidade médica acabava por ter de recorrer a “fármacos que tinham outras indicações, como antidepressivos, anti-hipertensores e anticrises epiléticas, mas,

FILIPE PALAVRA:

em termos práticos, traziam também benefício na prevenção das crises de enxaqueca”.

Contudo, tais medicamentos “estavam associados à ocorrência de alguns efeitos adversos, pelo que a seleção do fármaco mais adequado tinha de ser feita em função dos potenciais efeitos que pudessem ter, considerando o perfil de cada doente. A título de exemplo, refere que alguns dos efeitos adversos frequentes de certos fármacos anticrises epiléticas são dificuldades cognitivas ou sensação de formigueiro nas extremidades, o que “para muitas pessoas pode ser incapacitante”.

Com o surgimento de novos medicamentos desenhados especificamente para atuar em mecanismos agora conhecidos da fisiopatologia da enxaqueca, “a quantidade de dias por mês com dor de cabeça reduz-se de forma substancial e os efeitos secundários são menos significati-

vos”. Considera, por isso, que este “é um momento interessante da história da terapêutica das cefaleias, nomeadamente da enxaqueca”.

Concretizando, refere tratar-se essencialmente de quatro anticorpos monoclonais de dispensação hospitalar obrigatória e dois fármacos orais já disponíveis nas farmácias de ambulatório para prevenção e tratamento agudo de crises, havendo mais medicamentos orais em desenvolvimento. Salvaguarda que também a toxina botulínica tem vindo a ser utilizada, há alguns anos, no tratamento da enxaqueca crónica.

Filipe Palavra salienta como “esta inovação terapêutica fez rejuvenes-

“Folheava as enciclopédias e os livros sobre o funcionamento do cérebro”

Filipe Palavra nasceu há 43 anos, em Vila Nova de Foz Côa, e aí estudou até ingressar na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, em 1999. Sempre quis ser médico e recorda-se bem de ter levantado logo a mão quando a professora primária perguntou se alguém na sala queria ser médico!

Ao longo da sua juventude, era frequentador assíduo da Biblioteca Municipal, onde “folheava as enciclopédias e os livros sobre o funcionamento do cérebro”, tema do seu interesse desde cedo. A decisão de seguir Neurologia foi muito óbvia para si e, ao longo dos anos, tem vindo a confirmar que fez a opção certa: “Não me veria seguramente a fazer outra coisa se não Neurologia.”

Realizou o internato da especialidade no Hospital dos Covões, em Coimbra, onde admite ter-lhe sido proporcionada “uma excelen-

te formação holística”. Contudo, o trabalho de maior proximidade com certos colegas estimulou o seu interesse pelas áreas das cefaleias e das doenças desmielinizantes, nomeadamente a esclerose múltipla.

Neurologista desde 2012, durante os dois primeiros anos da sua carreira trabalhou no Centro de Esclerose Múltipla da Catalunha, integrado no Hospital Universitário Vall d›Hebron, em Barcelona, onde já tinha estagiado e realizado alguma investigação. Regressou como bolseiro de investigação da Fundação para a Ciência e a Tecnologia e trabalhou durante dois anos no Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde, antes de ter ingressado no ciclo de estudos especiais de Neuropediatria. Com essa diferenciação, em 2018, tornou-se subespecialista em Neuropediatria, o que o tem levado

a trabalhar no Centro de Desenvolvimento da Criança do Hospital Pediátrico de Coimbra (ULS de Coimbra). Na medicina privada, acaba por fazer a abordagem de adultos. É ainda assistente convidado da FMUC, instituição onde se encontra a frequentar o doutoramento.

Em maio, assumiu a presidência da SPC para o triénio 2024-2027, após ter integrado os anteriores órgãos sociais enquanto vice-presidente. É também vice-presidente e secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Neurologia (SPN), cum- prindo um segundo mandato. É ainda vice-presidente do Colégio da Especialidade de Neurologia e vogal da Região Centro do Conselho Superior da Ordem dos Médicos. Curiosamente, durante o internato, a primeira reunião científica que frequentou foi a Reunião da Primavera da SPC.

cer a SPC e impulsionar a sua atividade científica, com a afiliação de muitos internos e jovens especialistas e a apresentação de múltiplos trabalhos nos eventos científicos, ao longo dos últimos anos”.

O presidente da SPC realça como “a Neurologia tem mudado muito o seu paradigma de atuação em relação a doenças que eram intocáveis, intratáveis e muito dificilmente geríveis, graças à inovação terapêutica, o que

Filipe Palavra:

“A neurologia tem mudado o seu paradigma de atuação em relação a doenças que eram intocáveis, intratáveis e muito dificilmente geríveis.”

faz dela, atualmente, uma das especialidades mais dinâmicas”.

“Dizer que a enxaqueca não existe na criança é falso”

Estimando-se que um milhão e meio de portugueses tenham enxaqueca, Filipe Palavra adianta que esta poderá atingir uma em cada cinco mulheres, um em cada 16 homens e uma em cada 11 crianças e adolescentes. “Apesar de, muitas vezes, ser diagnosticada em idade adulta, a enxaqueca pode surgir mais cedo, sendo até mais frequente na criança e no adolescente do que no homem adulto, pelo que dizer que a enxaqueca não existe na criança é falso”, alerta. O neurologista, que é também neuropediatra, admite ter de haver “mais diagnósticos diferenciais na idade pediátrica, porque há muitos aspetos emocionais e cognitivos da realidade escolar que têm de ser considerados”. Na verdade, “as queixas de cefaleia podem relacionar-se com uma dislexia ou perturbações da escrita, fala e linguagem, sendo a dor de cabeça a manifestação visível dessa situação”. Por esse motivo, “recorremos com alguma frequência à ajuda de outros técnicos, como psicólogos

A multidisciplinaridade e a produção

Apesar de, formalmente, a SPC ter sido constituída em 1997, quando se fala da sua génese, tem de se recuar a 1986, quando foi formado o Grupo de Estudos de Cefaleias, que integrava a SPN. Com uma atividade científica regular, nos últimos anos, foi criado um Curso Avançado de Cefaleias, com três módulos distintos, cada um deles lecionado anualmente, sendo que em cada ano decorre ain-

da a Reunião da Primavera da SPC. Esta Sociedade tem lançado diversas iniciativas formativas e contado com o apoio da indústria farmacêutica na disponibilização de bolsas para formação e investigação, o que se tem refletido na publicação de múltiplos trabalhos científicos na área das cefaleias. Filipe Palavra reconhece, por isso, que “a SPC é dos grupos da SPN que mais têm produzido do ponto de vista científico,

“A enxaqueca é, eventualmente, a doença neurológica que mais anos vividos com incapacidade origina”, salienta
Filipe Palavra

permite revolucionar o tratamento da enxaqueca”

e terapeutas da fala, para facilitar o desafiante e difícil processo de diagnóstico”.

O médico adianta existirem “alguns equivalentes migranosos de manifestação muito precoce, como a síndrome de vómitos cíclicos, o torcicolo e a vertigem paroxísticos e alguns quadros de dor abdominal recorrente, que fazem prever que mais tarde poderá haver um diagnóstico de enxaqueca”. Contudo, reconhece que “a falta de sensibilização dos profissionais de saúde para o facto de tais episódios poderem ser manifestações equiparadas a crises de enxaqueca pode atrasar o diagnóstico”.

o presidente da SPc adianta existirem “alguns equivalentes migranosos de manifestação muito precoce, como síndrome de vómitos cíclicos, torcicolo e vertigem paroxísticos e dor abdominal recorrente”.

Para contrariar essa dificuldade, “a SPC tem apostado na realização de formações dirigidas à MGF, para que os médicos de família possam reconhecer, diagnosticar e fazer uma gestão adequada da doença, uma vez que a maioria das pessoas com diagnóstico de enxaqueca está nos CSP”. “A enxaqueca é muito mais do que uma dor de cabeça”

Filipe Palavra sublinha a importância de os colegas não se esquecerem de que “a enxaqueca é uma doença cerebral, pelo que é muito mais do que uma dor de cabeça − essa é apenas uma das suas manifestações”. Referindo-se à enxaqueca como “uma doença em que há uma certa agregação familiar”, o nosso interlocutor refere que “o facto de haver pessoas na família com enxaqueca

desde traduções para português de critérios de diagnóstico até recomendações terapêuticas”. Reunindo entre os sócios vários grupos profissionais, como médicos, geneticistas, enfermeiros, farmacêuticos e psicólogos, o seu presidente destaca como “muito importante e necessária a manutenção dessa multidisciplinaridade, pois, todos ganham com o conhecimento partilhado pelos colegas”.

torna mais provável que gerações futuras possam ter o mesmo diagnóstico”, situação que comprova durante as consultas de Neuropediatria.

Realça como “é fundamental que, nessa ocasião, a criança perce-

ba que está ao lado de alguém que tem exatamente a mesma doença e que ninguém deixa de fazer a sua vida normal por ter esse diagnóstico, ainda que possa ser incapacitante em determinados momentos, daí a pre-

sença dos médicos para tentar ajudar de alguma forma, com recurso a armas terapêuticas, ainda que não haja uma cura”.

Nesse âmbito, distingue que “a enxaqueca é, eventualmente, a doen-

ça neurológica que mais anos vividos com incapacidade origina, porque surge muito cedo e acompanha a pessoa durante todo o seu percurso de vida, ainda que possa apresentar características diferentes ao longo dos anos”.

AQUIPTA® é indicado para a profilaxia da enxaqueca em adultos que têm,pelo menos, 4 dias de enxaqueca por mês. Referências: 1.Resumo das Características do Medicamento Aquipta®, agosto de 2023; 2. Infomed - Base de dados de medicamentos do INFARMED, I.P. # aCGRP=antagonista dos recetores do CGRP A imagem não é de um doente

INFORMAÇÕES ESSENCIAIS COMPATÍVEIS COM O RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO NOME DO MEDICAMENTO E FORMA FARMACÊUTICA: AQUIPTA 10 mg e 60 mg, comprimidos. COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA: Cada comprimido contém 10 mg ou 60 mg de atogepant. INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS: AQUIPTA é indicado para a profilaxia da enxaqueca em adultos que têm, pelo menos, 4 dias de enxaqueca por mês. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO: Posologia: A dose recomendada é de 60 mg de atogepant, uma vez por dia. Os comprimidos podem ser tomados com ou sem refeições. Consultar o RCM para mais informações sobre dose omissa. Modificações da dose: Dose recomendada: em caso de interações com inibidores fortes da CYP3A4 – 10 mg uma vez por dia; em caso de interações com inibidores fortes do polipéptido transportador de aniões orgânicos (OATP) –10mg uma vez por dia. Populações especiais: Idosos: Não é necessário ajuste da dose em doentes idosos. Compromisso renal: Não é recomendado ajuste da dose em doentes com compromisso renal ligeiro ou moderado. Em doentes com compromisso renal grave e em doentes com doença renal terminal (DRT), a dose recomendada é de 10 mg uma vez por dia. Em doentes com DRT submetidos a diálise intermitente, AQUIPTA deve ser tomado preferencialmente após a diálise. Compromisso hepático: Não é recomendado ajuste da dose em doentes com compromisso hepático ligeiro ou moderado. Atogepant deve ser evitado em doentes com compromisso hepático grave. População pediátrica: A segurança e eficácia de atogepant em crianças (< 18 anos de idade) não foram ainda estabelecidas. Não existem dados disponíveis. Modo de administração: Os comprimidos devem ser engolidos inteiros e não devem ser divididos, esmagados ou mastigados. CONTRAINDICAÇÕES: Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes de AQUIPTA. ADVERTÊNCIAS E PRECAUÇÕES ESPECIAIS DE UTILIZAÇÃO: Atogepant não é recomendado em doentes com compromisso hepático grave. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS E OUTRAS FORMAS DE INTERAÇÃO: Inibidores da CYP3A4: Os inibidores fortes da CYP3A4 (p. ex., cetoconazol, itraconazol, claritromicina, ritonavir) podem aumentar significativamente a exposição sistémica ao atogepant. Não se prevê que as alterações na exposição ao atogepant, quando coadministrado com inibidores fracos ou moderados da CYP3A4, sejam clinicamente significativas. Inibidores de transportadores: Os inibidores do OATP (p. ex., rifampicina, ciclosporina, ritonavir) podem aumentar significativamente a exposição sistémica ao atogepant. Medicamentos frequentemente coadministrados: A coadministração de atogepant com os componentes de contracetivos orais, etinilestradiol e levonorgestrel, paracetamol, naproxeno, sumatriptano ou ubrogepant não resultou em interações farmacocinéticas significativas, quer para o atogepant quer para os medicamentos coadministrados. A coadministração com famotidina ou esomeprazol não resultou em alterações clinicamente relevantes da exposição ao atogepant. EFEITOS INDESEJÁVEIS: A segurança foi avaliada em 2.657 doentes com enxaqueca que receberam, pelo menos, uma dose de atogepant em estudos clínicos. Destes, 1.225 doentes foram expostos ao atogepant durante, pelo menos, 6 meses e 826 doentes foram expostos durante 12 meses. As reações adversas notificadas com maior frequência foram náuseas (9%), obstipação (8%) e fadiga/sonolência (5%). A maioria das reações foram de gravidade ligeira ou moderada. A reação adversa que levou à descontinuação com maior frequência foi náuseas (0,4%). Consultar o RCM para mais informações relativamente a efeitos indesejáveis.

Este medicamento está sujeito a monitorização adicional. Isto irá permitir a rápida identificação de nova informação de segurança. Quaisquer suspeitas de reações adversas a AQUIPTA devem ser notificadas à AbbVie, Lda., via e-mail para pt.abbvie.farmacovigilancia@abbvie.com ou telefone para +351 211 908 400 e/ou ao INFARMED. I.P., através do sistema nacional de notificação, via e-mail para farmacovigilancia@infarmed.pt ou telefone para +351 217 987 373. Revisão do texto das IECRCM: agosto 2023 (AIM) . Medicamento sujeito a receita médica. Medicamento não comparticipado. Para mais informações deverá contactar o representante local do titular da autorização de introdução no mercado. Consultar o RCM antes de prescrever e sempre que necessite de informações complementares. Representante local do titular da AIM: AbbVie, Lda., Estrada de Alfragide, 67 - Alfrapark - Edifício D. 2610-008 Amadora. Portugal. Tel.: 211908400. CRC Amadora NIF 510 229 050 – Capital Social €4.000 000. PT-AQP-240060 | Jul 2024

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GUSTAVO

JESUS,

DA CO DO XVIII CONGRESSO NACIONAL DE PSIQUIATRIA:

“A psiquiatria é fulcral também porque todas as doenças acabam por tocar a saúde mental”

A form A como A s doenç A s não psiq U iátric A s A fetA m o f Uncion A mento cere B r A l, origin A ndo sintom A s psiq U iátricos, é Um A dA s r A zões q U e leVA m gU stAVo j es U s A defender q U e o pA pel dA p siq U i Atri A é tr A ns V ers A l A todA s A s áre A s dA medicin A cont U do, reconhece h AV er A indA Um gr A nde estigm A em rel Ação à doenç A mentA l e se U s sintom A s, mesmo no seio dA com UnidA de médic A , e s UB linh A q U e liter Aci A é A pA l AV r A-ch AV e.

Aliteracia em Saúde Mental é uma questão central para Gustavo Jesus, o psiquiatra que vai presidir à Comissão Organizadora do XVIII Congresso Nacional de Psiquiatria, por reconhecer que “a generalidade das pessoas, incluindo a população clínica não psiquiátrica, demonstra ter um grande desconhecimento relativamente à Saúde Mental (SM), em geral, e às doenças mentais, em particular”.

O profissional, que dirige o Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental da ULS do Estuário do Tejo desde dezembro de 2023, lamenta que ainda exista “estigma em relação às doenças mentais e aos tratamentos de Psiquiatria” e assegura haver “alguma iliteracia em SM no seio da comunidade médica”.

Gustavo Jesus destaca que “ainda se observa um desconhecimento dentro da Medicina quanto ao que é a Psiquiatria e ao que se faz nesta área”, o que acredita poder dever-se à sua história recente como especialidade.

“Durante muito tempo, não havia meios que permitissem entender o funcionamento do cérebro, ao contrário do que sucedia, por exemplo, com o coração ou o fígado. A neuroimagiologia e o conhecimento que havia sobre as redes neuronais eram insuficientes para perceber a atividade cerebral e como ela se traduzia em atitudes ou em sintomas de doença mental. Nesse contexto, as explicações psicológicas para o comportamento humano e para as doenças mentais eram as dominantes”, refere.

No entanto, “os modelos psicológicos não permitiam explicar muito do que se passa no cérebro e ao nível do comportamento” e, “não sendo uma ciência médica, isso contribuiu para que houvesse um grande distanciamento entre a Psiquiatria e as restantes especialidades. Só o avanço científico foi permitindo compre-

ender melhor as doenças mentais e desenvolver estratégias terapêuticas mais eficazes”.

Pelo facto de este movimento ser relativamente recente, Gustavo Jesus sublinha que “ainda não há uma verdadeira consciência do papel que a Psiquiatria tem na saúde global, não só na perspetiva do bem-estar mental e do impacto das doenças psiquiátricas primárias mas também pelas interações da Psiquiatria com as restantes áreas médicas”.

A título de exemplo, refere o impacto psiquiátrico que um cancro ou uma doença autoimune pode ter num doente e lembra que “os mecanismos etiológicos das doenças mentais são frequentemente comuns aos de outras patologias, o que pode levar uma situação não psiquiátrica a afetar o funcionamento cerebral e a originar sintomas e doenças psiquiátricas secundárias”.

“os mecanismos etiológicos das doenças mentais são frequentemente comuns aos de outras patologias”, salienta Gustavo Jesus.

Outro aspeto destacado por Gustavo Jesus prende-se com a importância de promover o diagnóstico de doenças pouco reconhecidas, mas que devem estar na mente de todos os psiquiatras: “É o caso das perturbações do

neurodesenvolvimento, como o autismo ou a hiperatividade e défice de atenção, que até há pouco tempo eram vistas apenas como um problema da infância, mas que podem não só causar grande disfunção na idade adulta como influenciar grandemente o surgimento de outras doenças mentais, ou mesmo serem confundidas com a personalidade.”

Aliás, “é muito importante saber distinguir um comportamento que advém de um sintoma de doença de um que provém de um traço de personalidade”, realça, notando que tais conceitos são “confundíveis, o que torna esta especialidade de algum modo complexa do ponto de vista clínico”.

“A evolução das doenças mentais é tanto pior quanto menor o conhecimento que Gustavo Jesus

Um outro exemplo de quadros clínicos ainda pouco reconhecidos refere-se às múltiplas causas anteriormente desconhecidas de psicose, como é o caso das encefalites autoimunes. Todos estes tópicos vão ser, note-se, abordados no programa do XVIII Congresso Nacional de Psiquiatria.

A interação entre a Psiquiatria e os CSP

Gustavo Jesus considera a relação próxima entre a Psiquia -

tria e a Medicina Geral e Familiar uma mais-valia, ao “permitir uma discussão sobre prevenção, diagnóstico e tratamento”. Isto na medida em que, “no SNS, desejavelmente, os Cuidados de Saúde Primários devem ser a 1.ª linha de abordagem à doença mental comum, como a depressão e a ansiedade, e de gravidade moderada. Só numa 2.ª linha é que o doente deve ser encaminhado para a Psiquiatria”.

“A referenciação deve ocorrer “nos casos resistentes ao tratamen-

“Fazer de um evento científ ico também um espaço de promoção da literacia”

A ocupar a função de vogal da Direção da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, Gustavo Jesus foi o elemento selecionado para presidir ao XVIII Congresso Nacional de Psiquiatria, agendado para os dias 16 a 19 de outubro, em Albufeira. O responsável afirma que o objetivo é “fazer de um evento científico centrado na atualização da evidência em Psiquiatria também um espaço de promoção da literacia sobre SM, com algumas portas abertas ao exterior”.

Sob o tema “Fronteiras da evidência em Psiquiatria: a tangibilidade do objetivo, subjetivo ou equívoco”, a Comissão Organizadora pretende mostrar “como a evidência científica tem progredido, possibilitando colocar já em prática, atualmente, medidas para melhorar os cuidados de saúde”. Mas também “como há áreas em grande florescimento de investiga-

ção, de que é exemplo o impacto na doença mental das dietas e do exercício físico, ou dos fármacos psicadélicos”. Outra das motivações para o desenvolvimento do tema da literacia foi “a importância de reconhecer que nas fronteiras da evidência pode haver a propagação de informação errada sobre temáticas em que a investigação não está suficientemente apurada para se poder afirmar que uma intervenção é ou não eficaz na prevenção ou no tratamento de determinada doença”.

Gustavo Jesus adianta que haverá dois momentos em que a ciência será aberta à comunidade. O primeiro será com a emissão do programa Prova Oral, com Fernando Alvim, em direto para a Antena 3, em que “serão debatidos muitos temas de fronteira”, logo após a Sessão de Abertura, no dia 17. O segundo

acontecerá previamente à Sessão de Encerramento e consistirá num debate em torno da Saúde Mental e Sociedade/Media, moderado pela jornalista Sara Oliveira Antunes, do Observador

Com um programa constituído por uma grande diversidade de temáticas, incluindo as que têm evidência muito consolidada, e um leque de palestrantes nacionais e estrangeiros de grande relevo, o presidente doa CO do Congresso salienta a contribuição, pelo segundo ano consecutivo, da comunidade científica para essa construção. Cerca de metade do programa resulta, assim, de sessões selecionadas a partir das propostas realizadas pela comunidade científica e clínica, “enriquecendo o conteúdo científico”. O evento é precedido de sete cursos pré-congresso, seis dos quais inéditos, com “temas muito diversos e apelativos”.

que as pessoas têm sobre elas”, sublinha

“desejavelmente, os cSP devem ser a 1.ª linha de abordagem à doença mental comum”, afirma o psiquiatra.

to ou de uma gravidade e especi ficidade técnica e farmacológica muito próprias, como sucede com a esquizofrenia e a doença bipolar”, especifica o nosso entrevistado, acrescentando: “A depressão e as perturbações de ansiedade estão sempre no top 10 das doenças mais diagnosticadas nos CSP, até porque Portugal é o país do mundo onde há uma maior prevalência das mes mas.”

Reconhecendo a “boa prepara ção dos colegas médicos de família para atender a generalidade desses casos”, Gustavo Jesus teme que essa realidade possa vir a alterar -se com a reformulação recente do internato de MGF, que reduziu o tempo de formação obrigatória de Psiquiatria. “Não faz sentido dar esse passo numa época em que es tamos a identificar um crescimento da prevalência de doenças mentais e a apostar no aumento da litera cia, refletindo-se numa maior pro cura de cuidados nesse contexto”, lamenta.

E o psiquiatra insiste na im portância de a literacia em saúde

se dirigir também à população, a fim de “aumentar o conhecimento e diminuir o estigma, contribuindo para que as pessoas reconheçam que têm uma doença mental, procurem ajuda mais precocemente e aceitem os tratamentos adequados, sem preconceitos”. Até porque, diz, “um dos fatores de falha dos tratamentos psiquiátricos é a não adesão ou o cumprimento insuficiente, aumentando o risco de recidiva ou de cronificação da doença”.

doenças mentais é tanto pior quanto menor for a informação que as pessoas têm sobre elas”. Por isso, Gustavo Jesus sublinha como “literacia é a palavra-chave, na medida em que investir no conhecimento é essencial para eliminar o estigma”.

O nosso interlocutor reconhece que o caminho a percorrer nesta área é maior, uma vez que, “na cultura popular, há uma associação grande entre doença mental e os conceitos de crime e de violência,

Gustavo Jesus: “A literacia é a palavra-chave, na medida em que investir no conhecimento é essencial para eliminar o estigma.”

nema e a novela amplificam essa ideia”. Por outro lado, “como os sintomas psiquiátricos, na maior parte dos casos, estão num contínuo com as emoções e os comportamentos humanos normais (por exemplo, a tristeza é sintoma de depressão), há muitos mitos associados à ideia de que a doença é apenas uma falta de força de vontade. Na verdade, é um processo neurobiológico complexo, em que variáveis biológicas ficam desreguladas e é necessário voltar a regulá

MARIA DA LUZ BRAZãO, COORDENADORA DO NúCLEO DE ESTUDOS DE URGêNCIA E DO DOENTE AGUDO (NEURGMI) DA SPMI:

“A sobrelotação das urgências exige uma

mAriA dA lUz Br Azão, qUe coordenA o neUrgmi desde A sUA fUndAção, há UmA décAdA, consider A prioritário criAr portAs AlternAtiVAs à UrgênciA pAr A o doente AgUdo Aceder Aos cUidAdos de sAúde, processo pAr A o qUAl A mgf e A mi são fUndAmentAis.

Apesar de já poder deixar de fazer urgência, por ter mais de 55 anos, Maria da Luz Brazão continua a manter essa atividade, no Hospital Dr. Nélio Mendonça, no Funchal, que caracteriza como uma das razões que a fizeram escolher a especialidade de Medicina Interna.

Ao ser questionada sobre o que fazer relativamente à sobrelotação dos serviços de Urgência hospitalares (SUH), Maria da Luz Brazão salienta que “esse fenómeno é, de facto, um dos maiores problemas, sendo que, atualmente, 40 a 50% dos doentes que recorrem a uma Urgência são triados como verdes e azuis”. A questão não é nova: “Já existe desde o século passado e as suas causas são multifatoriais.”

A coordenadora do Núcleo de Estudos de Urgência e do Doente Agudo (NEUrgMI) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) afirma que a questão já podia ter sido resolvida, uma vez que “já foram propostas à Tutela várias soluções, mas, até ao momento, muito pouco foi feito para a solucionar”. E realça que esta dificuldade “tem de ser ultrapassada atuando nos determinantes que a montante e a jusante condicionam a acessibilidade”.

Na sua opinião, “a visão de futuro para os SU deve deixar de estar centrada na hipertrofia dos SUH para se focar na otimização da gestão e na natural redução da procura de cuidados no SU”. Para tal, “é importante reduzir a procura, melhorar o aces-

so e a oferta de serviços, rever procedimentos implementados e avaliar a sua eficiência, bem como investir na adequação dos serviços oferecidos, numa perspetiva que se traduza na melhoria efetiva da sua qualidade”.

Para maria da Luz Brazão, “a visão de futuro para os SU deve deixar de estar centrada na hipertrofia dos SUh para se focar na otimização da gestão e na natural redução da procura de cuidados no SU”.

De uma forma global, entende ser “crucial uma reestruturação dos serviços de saúde dos cuidados de saúde hospitalares e primários, que permita oferecer alternativas válidas ao recurso indiscriminado à Urgência”.

Considerando que “uma parte significativa dos atendimentos aos

doentes agudos ou crónicos agudizados podiam ser transferidos para outros níveis de cuidados”, admite que tal está pendente de “meios técnicos e recursos humanos adequados e da melhoria efetiva da qualidade dos serviços oferecidos”.

Maria da Luz Brazão alerta que “o SU continua a ser a porta de entrada do hospital, quando não devia sêlo”, notando que “as motivações de muitos dos seus utilizadores não são prioritárias, prendendo-se com características da sua doença e da organização dos serviços, ou com aspetos de literacia, autogestão, fatores financeiros e sociais, e falta de estruturas de retaguarda”.

Nesse sentido, destaca como prioritário “criar mais portas alter-

nativas à Urgência, nomeadamente, hospitais de dia, unidades de cuidados intermédios, unidades de diagnóstico rápido, de internamento curto e de hospitalização domiciliária, tal como já existem noutros

“o SU continua a ser a porta de entrada no hospital, quando não devia sê-lo”, alerta a coordenadora do neUrgmi.

“Um internista é mais internista trabalhando também na Urgência”

Nascida no Funchal, a 28 de setembro de 1962, Maria da Luz Brazão cresceu aí até ingressar na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, em 1981. Nunca colocou outra hipótese além de seguir Medicina, talvez pela vivência com vários familiares médicos, e esse acabou por ser, inclusivamente, o único curso a que se candidatou. Durante esse período, definiu que haveria de seguir MI, “pela sua visão abrangente e pela vertente da Urgência que lhe está associada”. Acredita mesmo que “um internista é mais internista trabalhando também na Urgência” e que esta “tem a ganhar com a versatilidade do internista e o seu contínuo de cuidados ao doente, desde a Urgência ao Internamento”.

Voltou ao Funchal para realizar o internato da especialidade e aí se tem mantido desde então. Em 2002, a médica foi designada coordenadora, juntamente com uma colega anestesista, do Grupo de Formação em Reanimação do SESARAM, que tem vindo a desenvolver cursos de Suporte Avançado/Imediato/Básico de Vida para os profissionais do SESARAM. Desde 2018 que esse grupo constitui a Escola SESARAM CPR-ERC, em virtude da certificação em SAV, SIV e SBV atribuída pelo ERC - European Ressuscitation Council, através do Conselho Português de Ressuscitação (CPR). Em 2005, abriu a Unidade de Cuidados Especiais do Hospital dos Marmeleiros, a qual coordenou entre 2005 e 2019, juntamente com a

Emergência Interna desse mesmo hospital. Com a criação, em 2015, do Centro de Simulação Clínica da Madeira, Maria da Luz Brazão assumiu-se ainda como formadora e coordenadora dos cursos de MI lá realizados.

Entre 2008 e 2019, assumiu a direção do Serviço de MI do SESARAM e, atualmente, além de ser responsável pelo setor de MI do Hospital Dr. Nélio Mendonça – que complementa os três setores localizados no Hospital dos Marmeleiros –, coordena ainda a Unidade de Hospitalização Domiciliária do SESARAM, inaugurada em março de 2023.

Promotora da criação do NEUrgMI, revela que a ideia remonta à data do 20.º Congresso Nacional de MI, a que presidiu, em 2014, na Madeira.

“Apesar de a preocupação com a urgência e a formação dos internistas nesta área já ser antiga, demos-lhe mais ênfase nos bastidores do evento e concordámos que era preciso criar um Núcleo dedicado ao estudo da patologia emergente, urgente e aguda, que funcionasse como veículo de formação, investimento e desenvolvimento nesta área”, refere. Haveria de ser constituído meses depois, em junho de 2014. Atualmente, o NEUrgMI conta com mais de 250 sócios.

Maria da Luz Brazão encontra-se a finalizar o doutoramento em Administração Pública – especialidade em Administração da Saúde, cuja tese incide sobre as causas e consequências da sobrelotação dos SU hospitalares.

países”. Paralelamente, “adequar os recursos físicos, humanos e meios técnicos ao conjunto de tarefas dos médicos de MGF, de forma a estes poderem também colaborar nesta abordagem do doente agudo nas urgências dos centros de saúde”. De facto, “os CSP, como primeira porta de entrada do utente no SNS, devem estar preparados para o aten-

9.º Congresso Nacional da Urgência procurará “Remar ao Futuro”

Ao longo destes 10 anos de vida do NEUrgMI, têm sido realizados anualmente dois momentos formativos – o curso “O Internista e a Urgência” e o Congresso Nacional da Urgência, apenas interrompidos durante a pandemia, em 2020 e 2021. O Congresso, que em cada edição tem um presidente convidado, uma organização hospitalar local e se realiza numa região diferente do país, é reconhecido por Maria da Luz Brazão como um “veículo formativo importante”.

Sob a presidência de Pedro Guimarães Cunha, que esteve à frente do Colégio da Especialidade de MI da OM e que atualmente preside ao Conselho de Administração da ULS do Alto Ave, e com Sónia Campelo, internista da ULS do Baixo Mondego, como secretária-geral, o 9.º Congresso Nacional da Urgência irá realizar-se entre 4 e 6 de outubro, na Figueira da Foz, sob o lema “Remar ao Futuro”.

Maria da Luz Brazão: “A MGF e a MI são duas especialidades nucleares para a abordagem do doente agudo em Portugal”

uma atuação a montante e a jusante”

dimento das situações de doença aguda ou agudizada”.

Sob este ponto de vista, subli nha como “a MGF e a Medicina Interna são duas especialidades nucleares para a abordagem do doente agudo em Portugal”. A este propósito, refere que, no ano pas sado, foi feito “um trabalho muito meritório, de forma conjunta, en tre os colégios das especialidades de MI e de MGF, do qual resultou um documento de consenso com várias soluções para o SU, que foi enviado à Tutela.

A abordagem multidisciplinar no SU

Maria da Luz Brazão evidencia que, “nos dias de hoje, o doente típico que recorre ao SU é comple xo, requer uma abordagem hábil, com deteção rápida e sequencial das disfunções que possam pôr em risco a vida, e a instituição imediata de tratamento”. Nesse âmbito, “o

internista, pela sua grande capacidade de liderança e de trabalho em equipas multidisciplinares, forte

ridades e sólido edifício teórico e destreza na execução de técnicas, é o especialista ideal para lidar com

sublinha: “Atualmente, somos considerados os gestores do doente agudo no seio hospitalar.”

no SU é fundamental”. Também por isso, pensa que “a criação da especialidade de Urgência não irá solucionar os problemas da urgência, nomeadamente a sobrelotação”.

“Atualmente, somos considerados os gestores do doente agudo no seio hospitalar”, evidencia a internista.

A conferência de abertura, intitulada “SU sob pressão: há solução?”, será proferida por Pedro Guimarães Cunha, enquanto a conferência de encerramento, que se centrará na temática da inteligência artificial, ficará a cabo de Daniela Seixas. Do programa fazem ainda parte cursos pré-congresso, relativos às urgências obstétricas e a aspetos básicos da Medicina Intensiva.

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refletir sobre pontos de melhoria e criar projetos capazes de igualar ou superar a eficácia e

A Usf AVencAs foi UmA dAs 10 UnidAdes qUe tr AnsitAr Am de Ucsp pAr A Usf modelo B no Arr AnqUe deste Ano, contUdo, esse oBjetiVo tinhA sido delineAdo pel A eqUipA dois Anos Antes e já não estAVA longe de Acontecer. com A dedicAção e proAtiVidAde de todos, têm sido implementAdos Vários projetos, como A consUltA mUltidisciplinAr do doente complexo e A consUltA de medicinA do estilo de VidA, e tem-se ApostAdo nA reAlizAção de procedimentos, como peqUenAs cirUrgiAs e infiltr Ações. tendo como desígnio fAzer mAis e melhor, tr ABAlhA-se pAr A proporcionAr os melhores cUidAdos Aos Utentes.

Quando chegou o momento de integrar uma Unidade dos CSP enquanto recém-especialista, Raquel Baptista Leite e dois colegas muito próximos – Beatriz Oliveira Pinto e Vítor Trindade Pedrosa – decidiram que, “para construir algo do zero, tinha de ser em equipa”. Na altura, desafiou-os a construir um projeto comum e, juntos, abraçaram a ideia. Encontraram na UCSP Parede “uma boa oportunidade para crescer” e colocaram como objetivo “trabalhar para, em três anos, transformá-la numa USF modelo B”.

Na altura, em junho de 2022, a única médica era Judite Moutinho, que, desde logo, acolheu os quatro médicos de braços abertos – uma vez que aos três tinha-se juntado também a recém-especialista Melanie Pires –, e suportou o desejo que traziam, que era também o seu. Entretanto, Vítor Trindade Pedrosa transitou para a USF São João do Estoril para se aproximar da área da Medicina do Viajante. Em outubro de 2022 Raquel Baptista Leite assumiu a coordenação da UCSP Parede e, em 2023, juntaram-se à equipa dois internos de MGF do 4.º ano. Ainda numa fase muito embrionária, começaram a trabalhar no processo de constituição da que viria a ser a USF Avencas.

Com a generalização das USF modelo B, em janeiro de 2024, o sonho acabou por ser concretizado, após a extinção da UCSP. Contudo, a sua coordenadora ressalva que “a transição só foi possível graças ao empenho e dedicação de toda a equipa, médica, de enfermagem e administrativa, em torno de um objetivo comum – prestar um serviço de qualidade aos utentes”.

Desde 2023 que, ainda na UCSP Parede, têm vindo a inaugurar diversas consultas. Nesse ano, fruto do interesse do interno João R. Nunes Pires e da enfermeira de reabilitação Sofia Santos, que “teve um papel crucial na formação da equipa”, arrancou a Consulta de DPOC, à qual se seguiu a Consulta Multidisciplinar do Doente Complexo – dinamizada por Mariana Castro Guimarães e João R. Nunes Pires e alvo de reportagem na edição de junho do Jornal Médico –, que visava a discussão multidisciplinar de casos complexos, otimizando tempo e recursos na resolução da situação global dos utentes.

Este ano, com a vinda da interna de MGF do 4.º ano Vera Dutschke, foi a vez de inaugurar a Consulta de Medicina dos Estilos de Vida, focada na alteração de hábitos de utentes com risco cardiovascular abaixo dos

65 anos, “nos quais a probabilidade de o impacto se manter ao longo da vida é maior”.

Raquel Baptista Leite admite que “a implementação e execução destes projetos clínicos tem sido muito estimulante”, sentimento que estende a outros desafios, concretamente, “a elaboração da newsletter trimestral da USF dirigida aos utentes, a implantação de procedimentos, entre eles, o da referenciação do SNS 24, a constituição das microequipas e a

aprendizagem sobre a sua dinâmica”. Procurando aproveitar as diferenciações dos meios humanos, têm ainda sido disponibilizadas aos utentes algumas valências mais específicas, nomeadamente, a realização de infiltrações e de pequenas cirurgias, e o apoio ao cuidador informal. Uma das ambições da coordenadora seria, a médio prazo, alargar a execução dos dois procedimentos técnicos a um maior grupo

populacional, para além da área de influência da USF, que compreende a União das Freguesias de Carcavelos e Parede e a Junta de Freguesia de São Domingos de Rana. A par, e eventualmente antes ainda, gostaria de contratualizar uma carteira adicional de serviços para a Consulta Multidisciplinar do Doente Complexo, estendendo-a, numa primeira fase, a toda a população de Carcavelos e Parede, e ainda São Domingos de Rana, antes de a difundir

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projetos clínicos e processos operacionais e a eficiência do setor privado

raquel Baptista

Leite: “A implementação e execução destes projetos clínicos tem sido muito estimulante.”

pela área de influência da ULS de Lisboa Ocidental e Oeiras.

Analisar e melhorar as operações da Unidade

Uma das preocupações de Raquel Baptista Leite é “olhar para a USF do ponto de vista das operações, no sentido de perceber como é que podemos dar resposta a mais utentes em menos tempo, isto é, mais e melhor”. Este é um assunto que tem sido alvo de grande reflexão pela equipa e, nesse âmbito, a nossa interlocutora faz questão de assegurar a prevenção quinquenária.

“Não podemos ter os nossos colegas em burnout porque aí é que os nossos utentes não teriam resposta”, afirma, acrescentando que, para evitar tal situação, procurou perceber junto da equipa qual era o principal fator de exaustão, tendo concluído que se prendia com a realização de contactos não presenciais, dado irem além do horário laboral.

“No fundo, diariamente, recebemos centenas de e-mails e requisições com pedidos de telefonemas e de receituários, entre outros aspetos, que superam muito as vagas que prevemos para esse efeito. Por sua vez, as vagas também não representam um tempo real, porque o processo de análise de um exame e partilha do resultado e do plano com o utente, através de chamada, leva, no mínimo, 10 minutos, quando apenas estão previstos seis”, descreve.

Por esse motivo, atualmente, está a ser realizado um estudo sobre os tipos de contactos indiretos e a sua cronometragem, para identificar onde estão a ocorrer desperdícios e encontrar soluções para eliminá-los. Apesar de ainda estar a decorrer a primeira fase do estudo, a verdade é que já há alguns resultados preliminares, que têm motivado algumas reflexões

entre a equipa. A título de exemplo, a coordenadora apresenta um caso comum, que se prende com a realização de telefonemas:

“Por vezes, o utente só atende à quinta vez e o médico, que é o recurso mais diferenciado da equipa, ocupou 10 minutos em várias tentativas telefónicas não bem-sucedidas. Se calhar, o que faz mais sentido é ser a administrativa a estabelecer o contacto e só transferir a chamada quando tiver o utente em linha. É uma pequena mudança que pode otimizar o tempo e diminuir a exaustão do médico, daí a importância de trabalhar em microequipa.”

Ainda neste âmbito, avança que, segundo outra análise, “apenas 20% dos contactos indiretos demoram mais de 10 minutos, o que sumariza, por médico, cerca de cinco a 10 horas extraordinárias semanais nessa tarefa, e que, por sua vez, é altamente desgastante”.

Enquanto “médicos e não gestores”, a coordenadora reconhece: “Podemos não estar a fazer tudo bem, então, devemos pedir ajuda.” Nesse sentido, frequentou recentemente um programa de Gestão e Liderança na AESE Business School, onde teve oportunidade de discutir muitos destes assuntos com os professores.

(Continua na pág. 18)

Nome: Avencas é o nome da praia que fica mais próxima da Parede, lugar onde a Unidade de localiza. A designação deriva de uma planta com longa tradição de uso medicinal em Portugal, a Avenca.

Logótipo: O mar de fundo é alusivo às praias da Parede e das Avencas, enquanto a avenca pende sobre os humanos, em virtude das suas propriedades medicinais. Com as quatro figuras humanas – homem, mulher, criança e idoso –, pretendeu-se representar, mais do que uma família, as várias fases da vida, ao longo do crescimento do indivíduo, às quais dão resposta.

RAQUEL BAPTISTA LEITE, COORDENADORA:

“Sempre senti que tinha de devolver à minha comunidade aquilo que me tinha sido dado”

Raquel Baptista Leite nasceu a 21 de outubro de 1989, no Canadá. Aos dois anos, regressou com a família a Portugal, duas décadas depois de os pais terem mudado a sua vida para lá. O rumo do irmão, nove anos mais velho, pela Medicina, estimulou-a de certa forma a seguir as mesmas pisadas. Contudo, nota que “sempre disse que ia ser

pais, “fruto, porventura, da cultura anglo-saxónica”.

Decidiu realizar o internato de MGF na USF São Martinho de Alcabideche, unidade que já conhecia de um estágio prévio e que lhe permitiria também ter a possibilidade de colaborar com equipa da UCC Cascais Care, que “desenvolvia um trabalho impressionante”.

bailarina, poetisa e médica”. Cumpriu a parte da Medicina, dançou ballet até aos 27 anos e dá aso à vertente artística através da criatividade que coloca na atividade profissional diária.

Desde os primeiros anos do curso de Medicina, que realizou na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, que percecionou que a MGF seria a especialidade em que se “sentiria mais completa”, o que a levou a realizar todos os estágios opcionais nessa área, que considera como “o pilar”. Após concluir a formação académica inicial, em 2016, frequentou o Ano Comum no Hospital de Cascais. “Sempre senti que, de alguma forma, tinha de devolver à minha comunidade aquilo que me tinha sido dado, por isso, sempre quis trabalhar no lugar onde cresci”, distingue, notando ter desenvolvido esse espírito por via dos

Durante os quatro meses que se seguiram ao término do internato, à semelhança dos colegas, passou por várias unidades que apresentavam carências de recursos humanos. Ficou colocada no ACES Cascais, como desejava, e começou a trabalhar na UCSP Parede em junho de 2022. Quatro meses depois, assumiu a coordenação. Em paralelo, é docente afiliada da FCM-UNL.

O seu maior hobbie é fazer exercício físico em grupo. Três vezes por semana, junta-se com amigos e colegas de trabalho na praia, para seguirem as instruções de uma personal trainer. Também gosta muito de passar tempo em família, em especial com o sobrinho, de oito anos. Uma a duas vezes por ano, costuma viajar com a família nuclear ou a mais alargada, período que, para si, é “precioso e espetacular”.

Viva uma Vida Nova

(Continuação da pág. 17)

Adicionalmente, a equipa tem contado com a ajuda de Luís Lapão, investigador e docente de Saúde Pública Internacional, no Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, que trabalha nas áreas de inovação e desenvolvimento organizacional em saúde.

“A equipa pretende que esta USF seja capaz de demonstrar que, com determinados princípios básicos, é possível ter uma eficácia e uma eficiência tão boas ou melhores do que as de qualquer outra instituição privada”, aponta a coordenadora.

De forma global, aponta que “o que a equipa pretende é que esta USF seja capaz de demonstrar que, com determinados princípios básicos, é possível ter uma eficácia e uma eficiência tão boas ou melhores do que as de qualquer outra instituição privada”. Na sua opinião, “por vezes, tal feito depende apenas da reflexão dos profissionais e da sua vontade de fazer algo para mudar e melhorar”.

De forma a “promover o bem-estar e a coesão da equipa”, Raquel Baptista Leite tem ainda apostado na realização de atividades de team building regulares. Com frequência praticamente mensal, são também proporcionadas formações a todos

os grupos profissionais, com vista a “aumentar a qualidade dos serviços”. Apesar de ainda não ter idoneidade total, esta USF tem acolhido internos do 4.º ano de MGF de outras unidades e ainda alunos da Nova Medical School para estágios.

Oferecer “mais e melhor” com consultas conjuntas

Em retrospetiva, Raquel Baptista Leite admite que “fez todo o sentido aproveitar este espaço físico, que, na altura, estava praticamente vazio e agora não é suficiente para todos”. O cenário vai dificultar-se em breve, quando os agora recém-especialistas integrarem o corpo clínico da USF. Com a reforma de Judite Moutinho, a equipa totalizará seis especialistas, sendo que gostariam de ascender aos oito.

Com este reforço ao nível médico, seria desejável que houvesse um acompanhamento por parte do corpo de enfermagem e do secreta-

riado clínico, o que espera que possa acontecer até ao arranque do próximo ano. Do seu ponto de vista, essa evolução seria fundamental, porque “uma equipa oleada vai ser necessariamente mais eficaz, o que será melhor para todos, inclusive para os utentes”. Em paralelo, permitiria alargar o horário de funcionamento das 18h para as 20h, “melhorando a acessibilidade dos utentes em idade ativa à USF e a rentabilização dos gabinetes”.

Contudo, há uma limitação em termos infraestruturais, que a nossa interlocutora espera conseguir ultrapassar com a criação de consultas conjuntas, ao invés de conexas. A ideia seria o médico partilhar o gabinete com o seu enfermeiro, bastando, para tal, a aquisição de computadores portáteis e de marquesas multifunções. Na sua opinião, esta alteração seria “uma mais-valia porque, com menos recursos, desde logo, gabinetes, seria possível fazer melhor, porque para o utente é in-

NUNO BASíLIO, DIRETOR CLíNICO PARA A áREA DOS CSP DA ULSLO:

dubitavelmente preferível estar com o seu médico e o seu enfermeiro em simultâneo”.

E desenvolve: “Muitas vezes, acontece ter de repetir o mesmo assunto, que, frequentemente, é sensível para si. Assim, deixamos de precisar de 18 gabinetes para os oito médicos e oito enfermeiros que sonhamos ter e conseguimos que os utentes ganhem tempo e qualidade de serviço com esta resposta mais integrada. Por ventura, com esta solução, poderíamos receber mais especialistas de MGF e absorver mais utentes, que, neste momento, não têm médico, e ultrapassar o mapa esquizofrénico de gabinetes para maximizar a sua utilização.”

Raquel Baptista Leite realça o marcado leque de estrangeiros que integram a área de influência da USF, nomeadamente, jovens ligados ao surf, e brasileiros e ucranianos que se estabeleceram nesta zona costeira, representando “um desafio do ponto de vista multicul -

“O processo de transição para a USF Avencas foi completamente modificador da vida e da história da UCSP Parede”

Para Nuno Basílio, diretor clínico para a área dos CSP da ULSLO desde fevereiro deste ano, a USF Avencas é “um exemplo” e não hesita em afirmar que “o processo de transição foi completamente modificador da vida e da história da UCSP Parede, ao ter permitido um salto qualitativo em termos de organização e acessibilidade”. Não tem dúvidas de essa “evolução significativa se deveu ao dinamismo da equipa, que continua a conceber ótimas ideias, a desenvolver projetos e a propor bons desafios, que não deixam de ser difíceis de executar, como a acomodação em termos de espaço físico de qualidade para profissionais e utentes”. O médico, de 37 anos, que anteriormente presidia ao Conselho Clínico e de Saúde do ACES Cascais, realça que “esta Unidade está em franco crescimento” e adianta que, com a publicação do procedimento concursal para a carreira médica, “espera-se que a equipa possa ser reforçada”.

Ao longo da semana, Nuno Basílio divide-se entre o Hospital de São Francisco Xavier e as antigas sedes do ACES Cascais e do ACES Lisboa Ocidental e Oeiras. Nesta fase, tem inclusivamente procurado conhecer melhor esta última área geográfica,

que “previamente não conhecia tão bem”. Também nesse âmbito, tentou que as recentes reuniões de contratualização fossem descentralizadas, “para que o próprio Conselho de Administração da ULSLO pudesse conhecer in loco alguns dos edifícios”. Atualmente, tem procurado “priorizar a ação em unidades com necessidades mais particulares, seja de reforço de recursos humanos ou de intervenções estruturais”. O diretor clínico para a área dos CSP realça ainda “os passos que tem tentado dar para integrar projetos dos cuidados de saúde primários e hospitalares”.

A título de exemplo, refere como “o projeto da Consulta Multidisciplinar do Doente Complexo, que está em curso nesta unidade, poderia evoluir no sentido de ter outras vias de referenciação, reduzindo, consequentemente, a necessidade de haver um projeto dirigido aos hiperfrequentadores da urgência hospitalar, por exemplo, porque esses casos já

seriam englobados naquele projeto.”

Adianta também que o Conselho de Administração de que faz parte tem procurado “identificar a sensibilidade e a vontade das equipas dos dois níveis de cuidados de integrarem pacotes que, do ponto de vista informático e de inteligência artificial, permitam uma melhor integração e referenciação, uma maior agilidade e a própria automatização da emissão de exames e da partilha dos resultados, aumentando a acessibilidade e a qualidade dos cuidados”. Considerando “a reforma estrutural profunda que existiu, implicando mudanças várias”, o nosso interlocutor valoriza “o impacto positivo que já é sentido na prestação de cuidados”. Prevendo que, até ao final do ano, ainda se ergam vários projetos, espera que “em 2025 a ULS possa ter já os processos sedimentados e estar em velocidade cruzeiro, deixando a criatividade e a vontade de fazer mais e melhor funcionarem”.

tural”. Recorda-se bem de, na época da UCSP Parede, terem chegado a elaborar planos alimentares em paquistanês!

Em termos etários, nota que, apesar de reunirem nas suas listas muitos utentes idosos, acompanham também bastantes bebés, crianças e mulheres em idade fértil, porque fizeram questão de absorver os utentes que frequentavam a UCSP Parede. “Se precisavam dos serviços e os utilizavam, eram pessoas a quem, na nossa opinião, deveria ser dada prioridade, e o Gabinete do Cidadão concordou”, explica.

Beatriz Oliveira Pinto: a defesa das melhores práticas e da atualização técnico-científica mais recente

A médica Beatriz Oliveira Pinto, que integrou a então UCSP Parede na mesma altura de Raquel Baptista Leite, ainda se recorda bem desse processo: “Como partilhávamos a mesma visão, formação e espírito dinâmico, decidimos que haveríamos de entrar juntas na mesma Unidade, e o Dr. Nuno Basílio, à data presidente do Conselho Clínico e de Saúde do ACES Cascais, apresentou-nos o projeto da UCSP Parede.”

Enquanto elemento do Conselho Técnico, a especialista em MGF destaca a boa articulação que mantém com a coordenadora e que culmina

num trabalho que considera bem-sucedido. Se, por um lado, “a Dr.ª Raquel procura ‘levar o barco’ e incentivar o espírito de equipa, eu consigo ter uma visão muito analítica, procurando que os procedimentos instituídos estejam uniformizados e sejam realizados de acordo com as boas práticas”.

Desde o início que coloca “um grande foco na defesa das melhores práticas e da atualização técnico-científica mais recente” e distingue a forma como “toda a equipa se envolve em torno desses objetivos, o que contribuiu decisivamente para conseguir passar a trabalhar como USF modelo B tão rapidamente”. Neste âmbito, valoriza ainda o empenho que “todos têm colocado no estudo dos indicadores de desempenho, para que o trabalho seja desenvolvido com vista ao seu atingimento”.

A nossa interlocutora identifica como muito benéfico o facto de as reuniões do Conselho Técnico terem uma periodicidade semanal, permitindo desenvolver uma série de aspetos, como “a conceção e revisão de cartazes e folhetos, e a abordagem das normas a transmitir à equipa”. Nesse sentido, sublinha “haver um trabalho não clínico, muito importante e fundamental para que a USF tenha umas bases sustentáveis e fortes e que a informação circule entre a equipa e os utentes”.

A este propósito, lembra que, “tratando-se de uma USF muito recente, vamos gerindo os procedimentos e discutindo e implementando medidas de melhoria com alguma rapidez, conforme a discussão do Diário de Bordo nas reuniões de Conselho Geral, também muito recorrentes”.

Uma das medidas que daí resultaram foi a implementação de um

Beatriz oliveira Pinto sublinha “haver um trabalho não clínico, muito importante e fundamental para que a USF tenha umas bases sustentáveis e fortes e que a informação circule entre a equipa e os utentes”.

sistema de triagem para a Consulta de Doença Aguda, através do SNS 24, “para o correto encaminhamento dos utentes, evitando o recurso indevido em situações mais emergentes e facilitando o agendamento da consulta no próprio dia, informação esta que foi partilhada na newsletter trimestral da USF Avencas”.

Beatriz Oliveira Pinto tem ainda promovido a área de pequena cirurgia na USF, dado o interesse que manifesta pela mesma desde o tempo da faculdade. “Nessa altura, ajudava muito no Bloco Operatório, porque tinha facilidade e interesse em aprender a fazer alguns procedimentos e, durante o Ano Comum, na Urgência

Externa de Cirurgia Geral, tinha uma equipa incrível que me permitia participar na pequena cirurgia. Alguns dos meus orientadores de internato também gostavam da área, então, sempre que algum utente aparecia com uma ferida, a minha equipa era chamada para ir suturar”, descreve.

Transportou essa prática para esta USF e tem realizado com a interna que está sob a sua tutoria, uma vez que aquela partilha do mesmo gosto, algumas intervenções em conjunto, como a sutura de feridas, a remoção de quistos e fibromas pêndulos.

O objetivo é que, futuramente, possa ser contratualizada uma carteira adicional de serviços em pequena cirurgia, capaz de responder à população de Cascais. “Queremos fazê-lo quando a USF tiver uma maior maturidade em termos de desempenho clínico. Para já, a prioridade será trabalharmos em conjunto os utentes que vão ser absorvidos com a entrada de recém-especialistas”, adianta.

VERA

DUTSChkE, INTERNA DO 4.º ANO DE MGF EM ESTáGIO:

“Através das valências que cada um tem, é possível desenvolver projetos e oferecer mais recursos à população”

A frequentar o 4.º ano de internato de MGF na USF Emergir, em São Domingos de Rana, Vera Dutschke entendeu que gostaria de experienciar um período numa unidade diferente: “Sendo uma USF modelo B, os utentes já estão muito ‘trabalhados’. O meu objetivo era conhecer um local onde tal ainda não acontecesse, com problemas que ainda não tivessem sido identificados e onde os protocolos de atuação e procedimentos técnicos não estivessem todos implementados.”

Em setembro de 2023, fez a proposta a Raquel Baptista Leite e, em abril deste ano, iniciou o estágio de cinco meses já nesta USF, admitindo que o que tem encontrado tem correspondido às suas expectativas. “Aqui, nem tudo é óbvio. Há sempre um desafio diário relativo à construção dos procedimentos por ser uma USF muito recente, o que é bastante interessante”, comenta.

Outra das motivações que a fizeram escolher esta Unidade foi a possibilidade de os internos impulsionarem consultas. “Tinha conhecimento do desenvolvimento da Consulta Multidisciplinar do Doente Complexo pelo Dr. João R. Nunes Pires e pela Dr.ª Mariana Castro Guimarães, e também eu tinha vontade de impulsionar um novo projeto, o que acabou por acontecer, com a criação da Consulta de Medicina dos Estilos de Vida”, conta.

Para impulsionar o projeto, procurou integrar “duas áreas muito importantes – nutrição e atividade física”. Por um lado, articulou-se com a nutricionista da URAP da ULSLO e, por, com alguns personal trainers do seu ginásio, que se disponibilizaram a fazer treinos gratuitos com os utentes que desejassem.

Após criada a lista de utentes

Natural de Lisboa, Beatriz Oliveira Pinto, 32 anos, sempre pensou que seria farmacêutica comunitária, dada a tradição familiar, o facto de ter adorado Química no ensino secundário e de associar aquele lugar ao ato de cuidar dos doentes: “Era à farmácia que eu ia quando tinha uma ferida ou uma picada!”, refere. Acabou mesmo por enveredar por essa área, mas, no segundo semestre do primeiro ano do curso, percebeu que não era essa a sua vocação. Foi então que refletiu sobre a possibilidade de ser médica e, mais concretamente, “médica de família, para poder prestar os cuidados de proximidade que projetava”. Com o desenrolar do curso, que frequentou na NOVA Medical School | Faculdade de Ciências Médicas, reforçou esse desejo, ao percecionar que “o médico de família é aquele que tem uma formação mais centrada na humanização dos cuidados e que explora, por excelência, a comunicação com o doente e o envolvimento das famílias”.

Como observa, “na faculdade, o objetivo é ser eficiente a diagnosticar e tratar patologias, o que é ótimo, mas sinto que o internato em MGF tem um grande foco em ir mais além

selecionados com codificação de hipertensão e idade inferior a 65 anos e obesidade e/ou abuso de tabaco, a consulta arrancou, ainda em abril, sob a execução da interna. “O objetivo é pensarmos primeiro no estilo de vida dos utentes e na forma como lidam com as atividades de vida diária antes de passarmos logo para o tratamento farmacológico, que nos incutem na faculdade. Sabemos que com estas patologias e hábitos surgem outras comorbilidades, pelo que será ótimo se pudermos alterar o estilo de vida dos utentes para prevenir essas complicações futuras”, realça.

Ao longo destes meses, tem vindo a acompanhar 40 utentes. Após ter realizado uma consulta inicial presencial com cada um, tem agora feito um seguimento através de teleconsultas. Pontualmente, acaba por fazer algumas reavaliações presenciais nos casos que não estão controlados. Em paralelo, os utentes são seguidos na Consulta de Nutrição e participam em atividades físicas individuais ou de grupo.

no que toca à relação médico-doente”. Adicionalmente, “tem a característica de acompanhar desde o bebé ao idoso, passando pelo planeamento familiar e pelos cuidados domiciliários aos doentes dependentes”. Após concluir o curso, em 2016, realizou o Ano Comum no Hospital Fernando Fonseca e iniciou o internato de MGF na USF São Domingos de Gusmão, que veio a concluir na USF KosmUS.

Melanie Pires: o seguimento das gerações e o cuidado aos idosos

À semelhança das colegas, também Melanie Pires integrou a UCSP Parede em 2022, no seu caso, para poder trabalhar na zona onde queria viver, mas a verdade é que logo se entusiasmou com o ideal de trabalharem para transformarem aquela UCSP numa USF. “Era o nosso objetivo desde o início e trabalhámos para isso. Reunimos todos os materiais, a equipa estava muito motivada e fizemos a candidatura. Claro que as mudanças organizacionais que ocorreram nos CSP aceleraram o processo de transição, mas, de qualquer forma, estávamos muito próximos de o conseguir”, refere.

Está programado acontecer uma reavaliação global em outubro, seis meses após o início da consulta, para “observar as mudanças registadas, identificar pontos fortes e fracos e, com grande probabilidade, comprovar o benefício desta prática e poder alavancar e alargar o projeto”.

Sob a tutoria de Beatriz Oliveira Pinto, a interna valoriza a ajuda que esta lhe confere “na organização do tempo e no esclarecimento de dúvidas” e a forma como as duas têm colaborado na realização de pequenas cirurgias. “É muito interessante ver como, através das valências que cada um tem, é possível desenvolver projetos e oferecer mais recursos à população. E essas diferenciações permitem-nos trabalhar como uma equipa, uma verdadeira família”, observa.

O percurso formativo de Vera Dutschke, que tem 30 anos e é natural de Oeiras, passou pela República Checa, onde frequentou o curso de Medicina, que admite ter sido “difícil, dada a pressão acrescida de estar longe da família e dos amigos”. Desde criança que desenvolveu a ideia de vir a prestar cuidados. Com o término da formação académica inicial, em 2018, decidiu regressar a Portugal. Realizou o Ano Comum no então CH de Lisboa Ocidental.

A experiência de ter feito o estágio de CSP na USF Emergir, com “uma mentora incrível”, levou-a a confirmar a suspeita de que tinha de querer seguir a especialidade de MGF, em Cascais. Durante este mês de julho, tem assistido à Consulta de Pequena Cirurgia da USF São Domingos de Gusmão e à Consulta de Infiltrações da USF Carcavelos. Quando se tornar especialista, os seus desejos são ficar a trabalhar nesta zona e poder dar continuidade ao projeto da Medicina do Estilo de Vida.

A médica de família admite que desde o tempo da faculdade que identificou o seu maior gosto pela vertente dos CSP. “Queria cuidar de pessoas e tinha a ideia romântica, que espero que se mantenha durante muito tempo, de podermos realmente seguir famílias e gerações”, recorda. Por esse motivo, gosta de trabalhar todas as áreas abrangidas pela

Beatriz Oliveira Pinto

(Continuação da pág. 19)

MGF, ainda que nutra “um gosto especial pelo cuidado aos idosos, pelos ensinamentos que estes transmitem e pela dificuldade que a sua abordagem exige, por terem particularidades e complexidades a vários níveis”. Além de corresponderem a “um dos grupos mais frequentadores da consulta, o envelhecimento poderá condicionar várias doenças e a forma como estas são geridas nesse grupo etário difere daquela que sucederia se se tratasse de um adulto”.

Nesse sentido, ainda durante o internato, sentiu necessidade de reforçar a sua formação na área, tendo realizado uma pós-graduação em Geriatria, que lhe trouxe “bastantes conhecimentos para aplicar no dia-a-

-dia”. Dada a sua valência, Melanie Pires equaciona a hipótese de vir a impulsionar algum projeto direcionado a esse grupo, contudo, ressalva que “teria de ser muito bem pensado, dada a complexidade dessa população”. Adicionalmente, tem bastante interesse pela intervenção no estilo de vida, particularmente no que respeita à cessação tabágica. Melanie Pires nasceu em Bragança e soma 31 anos de vida. Veio para a capital em 2010, para ingressar na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Desde pequena que as suas brincadeiras incluíam prescrever receitas aos pais e conta que, ainda hoje, o seu pai guarda na carteira algumas para preservar essa memória, que veio a tornar-se realidade. Frequentou o Ano Comum no

ILDA NUNES, ENFERMEIRA DO CONSELhO TÉCNICO:

“Só com equipas de saúde completas é que conseguimos diminuir o número de utentes sem médico, rentabilizar recursos e prestar os devidos cuidados”

Ilda Nunes é um dos elementos de enfermagem que já integravam a UCSP Parede e que, por isso, viveu “fases de grandes desafios, nomeadamente, pela instabilidade da equipa”. Costumava referir-se àquela UCSP como “um laboratório, onde os enfermeiros se formavam, desempenhavam um ótimo trabalho e depois eram captados por USF, obrigando a um retorno à estaca zero”. Se, por um lado, “esse processo era desgastante, por outro, era desafiante, porque exigia prestar os melhores cuidados com poucos recursos”.

A enfermeira, que integra o Conselho Técnico desta USF, fala numa “mudança de paradigma com a vinda dos quatro recém-especialistas para a UCSP Parede, que se revelaram muito dinâmicos”. Daí ao início de “um trabalho árduo para conseguir transitar de UCSP a USF modelo B” foi um passo. Num universo de três enfermeiras especialistas em Saúde Infantil e Pediátrica, Reabilitação, e Médico-Cirúrgica, e duas generalistas, Ilda Nunes adianta que há o costume de “pedir apoio às colegas que são peritas em determinada área, sempre que necessário, ainda que o funcionamento seja por microequipa”. Com a previsível entrada de dois médicos a curto prazo, “a equipa de

CHLO, realizando depois o internato de MGF na USF Ribeiro Sanches, em Casal de São Brás, Amadora.

Sofia Santos: o acompanhamento dos doentes respiratórios e dos cuidadores informais

A trabalhar na antiga UCSP Parede desde 2022, a enfermeira Sofia Santos tem aproveitado as suas habilitações para erguer e participar em projetos em que pode ser uma mais-valia. Dada a sua especialização em Enfermagem de Reabilitação, em 2023, com a ajuda do então interno João R. Nunes Pires, que tinha particular interesse pela área respiratória, impulsionaram a criação da Consulta de DPOC.

“Identificámos quem eram os utentes sem seguimento a nível hospitalar, para dar-lhes a oportunidade de terem um maior acompanhamento. Quisemos perceber que terapêutica fazem, se têm mantido a sua adesão, se estão controlados, e rever as técnicas de inalação respiratória”, refere. O objetivo é haver um “acompanhamento regular, para verificar a evolução”.

Dado o peso que, recentemente, esta área ganhou ao nível do atingimento de bons indicadores de desempe-

nho, a realização desta consulta passou a expandir-se por toda a equipa e, nesse âmbito, Sofia Santos teve um papel importante na formação dos colegas e na uniformização dos procedimentos. No final de 2022, a profissional assumiu ainda o papel de enfermeira responsável pelos cuidadores informais da UCSP Parede e da ECSCP Cascais. Hoje em dia, dá a cara pela USF Avencas e essa função implica estar presente em reuniões mensais com o elemento do

Serviço Social responsável, para identificar os utentes que têm esse estatuto e que, por esse motivo, devem receber a visita dos dois no domicílio.

“Avaliamos o cuidador em casa, de preferência junto da pessoa cuidada, para podermos definir melhor que medidas devemos aplicar”, explica. No seu caso, procura “perceber se a pessoa tem um acompanhamento de saúde ou se se esqueceu de cuidar de si e tem questões por resolver

“Entre nós, vamos conseguindo gerir”

enfermagem atual torna-se manifestamente insuficiente”, devendo ser reforçada, do seu ponto de vista, com pelo menos um elemento. “Quando os médicos acabam o internato, têm entrada praticamente garantida nas unidades de saúde, mas os dirigentes esquecem-se que aqueles não trabalham sozinhos e que têm de garantir a entrada de outros profissionais para assegurar as equipas de saúde. Só dessa forma é que conseguimos diminuir o número de utentes sem médico, rentabilizar os recursos e prestar os devidos cuidados”, destaca.

Se, por um lado, considera que “a integração da USF na ULSLO é benéfica, pela integração de cuidados e formações diferenciadas que já tem proporcionado”, por outro, nota existirem ainda “alguns aspetos que não estão bem ‘oleados’, como a contratação”.

Apesar de a criação de projetos de enfermagem ser uma possibilidade para o futuro, admite que “após o processo de transição a USF modelo B, a equipa ainda não tem o espaço mental necessário para dar esse passo, estando focada, para já, em prestar os melhores cuidados, o que já exige uma grande dedicação”.

Ciente de que na sua vida profissional se realizaria a “ajudar pessoas”, Ilda Nunes, de 60 anos, formou-se pela Escola Superior de Enfermagem de Calouste Gulbenkian, em 1987, e o curso correspondeu às suas expectativas. Começou por trabalhar 10 anos no Serviço de Medicina do Hospital Pulido Valente, onde acabou por assumir funções de gestão. Especializou-se em Enfermagem Médico-Cirúrgica na área de Doença Crónica no Adulto e Idoso. Transitou depois para o antigo Hospital de Cascais, onde chefiou a Urgência durante cinco anos, até que entendeu que gostaria de experienciar trabalhar nos CSP. Integrou a equipa da UCSP Parede e, em 2011, assumiu a função de enfermeira responsável. Durante cinco anos, foi enfermeira vogal do ACES Cascais, tendo regressado à UCSP em 2020.

Teresa Calheiros e Antónia Salvador eram as colegas que, durante esta reportagem, estavam a assegurar o secretariado clínico da USF Avencas. Teresa Calheiros é a única assistente técnica, pois, Antónia Salvador está a exercer essa categoria, mas, na verdade, é assistente operacional. Atualmente, contam com a ajuda de duas assistentes técnicas colaboradoras do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH).

Dadas as condições, Teresa Calheiros assume “não ser possível trabalhar realmente em microequipa”, sendo a própria a responder oficialmente a todos os médicos e enfermeiros. Qual é o segredo? “Tenho que gerir bem. Entre nós, vamos conseguindo gerir”, desvenda, referindo que uma das dinâmi-

cas que adotou, por facilitar o seu trabalho, consiste em “estar mais no backoffice, para poder adiantar

várias questões, enquanto as colegas asseguram o atendimento presencial”.

TERESA CALhEIROS (AT) E ANTóNIA SALVADOR (AO, A EXERCER FUNçõES DE AT):
Teresa Calheiros
Antónia Salvador

ou vigilâncias por fazer” e mostra-se disponível para “facilitar o processo de vinda aos CSP ou agilizar alguma articulação que seja necessária”.

Relativamente ao Serviço Social, em concomitância com a Saúde, procuram “dar a conhecer alguns recursos, como grupos de apoio psicológico existentes, e promover formações dirigidas ao cuidador”. De forma global, comenta: “O propósito é abraçá-los, no sentido de dizermos que estamos ao seu lado.”

Em junho de 2023, a enfermeira integrou ainda a equipa da Consulta Multidisciplinar do Doente Complexo. Nascida e criada em Cascais, Sofia Santos tem 39 anos e é enfermeira há 15, tendo trabalhado durante 10 na Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital da Luz Lisboa. Em 2018, abraçou a ideia de trabalhar no SNS e integrou o Centro de Saúde de Cascais. Nesse âmbito, passou pelas equipas de cuidados domiciliários das UCC Girassol (Parede) e Cascais Care (Cascais). Em 2022, surgiu a oportunidade de integrar a UCSP

Parede e a ECSCP Cascais, tendo, no início deste ano, ficado a tempo inteiro na USF Avencas. Formada pela Universidade Atlântica, em 2008, quatro anos depois, Sofia Santos concluiu a especialidade de Enfermagem de Reabilitação, dado o seu gosto pelo campo da fisioterapia. “Essa área abraça o acompanhamento da pessoa ao longo do seu ciclo de vida e permite maximizar os ganhos em termos de reabilitação, tanto em atividades de vida diária como na recuperação de uma doença aguda ou crónica”, resume.

“nunca pensei que se trabalhasse tanto e tão bem nos cSP e integrar esta equipa tem sido transformador”, comenta Sofia Santos.

Apesar de os cuidados paliativos terem ocupado um espaço muito especial no seu coração, diz não se arrepender de ter mudado de área de trabalho: “Realmente, sou muito feliz como enfermeira e gosto genuinamente daquilo que faço. Ainda há a ideia preconcebida de que nos CSP se faz um trabalho mais leve e que trabalham aí os profissionais mais avançados na carreira. Quando cheguei, deparei-me com uma realidade bastante diferente. Nunca pensei que se trabalhasse tanto e tão bem nos CSP, e integrar esta equipa tem sido transformador.”

Anos

rosuvastatina, amlodipina e perindopril

As chamadas telefónicas ficam registadas no sistema SARA, os e-mails chegam à caixa de entrada e o quiosque eletrónico está funcional, o que tem permitido às quatro responder às necessidades.

Natural de Lisboa, Teresa Calheiros, 52 anos, trabalha na área da Saúde e concretamente nos CSP há duas décadas. Contudo, esteve em situação precária até 2019. Integrou a UCSP Parede em 2016 e, dois anos depois, ganhou a companhia de Antónia Salvador. A sua ambição é que, em breve, a equipa de AT possa ser reforçada.

Apesar de ser alentejana, Antónia Salvador, 64 anos, reside em Paço de Arcos há duas décadas. Entrou na saúde há 17 anos, na altura, para trabalhar na central telefónica do Centro de Saúde da Parede. Transitou para a UCSP Parede em 2018.

CARACTERIZAçãO DA POPULAçãO INSCRITA (JULhO DE 2024)

Utentes: 9867 (12.910 UP)

Idosos: 2104 (Índice de dependência: 33,88%)

Crianças e jovens com idade ≤ 14 anos: 1553 (Índice de dependência: 25,01%)

Mulheres em idade fértil (dos 15 aos 54 anos): 2244

ATIVIDADE (1.º SEMESTRE 2024)

Consultas médicas

Contactos diretos: 6884

Contactos indiretos: 6130

Enfermagem

Contactos diretos: 3031

Contactos indiretos: 2698

PROFISSIONAIS (JULhO DE 2024)

Médicos: 5

Enfermeiros: 5

Assistentes técnicos: 1

Assistentes operacionais: 1

202405_048

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Sofia Santos

GUSTAVO TATO BORGES, PRESIDENTE DA ASSOCIAçãO NACIONAL DOS MÉDICOS DE SAúDE PúBLICA (ANMSP):

“é necessário reestruturar a resposta da saúde pública a nível regional e nacional”

o presidente dA Anmsp AfirmA qUe A “grAnde mUdAnçA” registAdA no último Ano em termos dA especiAlidAde médicA de sAúde púBlicA foi mesmo A integrAção dAs UnidAdes de sp nAs Uls. “estAmos A ViVer UmA fAse de trAnsição!”, diz gUstAVo tAto Borges, qUe, entretAnto, terminArá o seU mAndAto de 3 Anos à frente dA AssociAção em dezemBro.

“ASaúde Pública vive um momento de transição decorrente da implementação generalizada, em Portugal continental, das unidades locais de saúde e a consequente integração nas mesmas das unidades de SP”, observa o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, cargo que iniciou em janeiro de 2022.

Gustavo Tato Borges reconhece que esta reforma do SNS “permite à Saúde Pública a possibilidade de desenvolver uma interligação grande com todos os níveis de cuidados, desde logo os CSP e os hospitalares mas também dando resposta ao nível dos cuidados continuados e podendo ter ainda um olhar mais abrangente e um contacto mais interligado com as estruturas que gerem a saúde a nível local”. Contudo, no seu entender, para aproximar os serviços de saúde da comunidade, “é preciso colocar as ULS a funcionar verdadeiramente de dentro para fora”. Para que isso aconteça, “é necessário reestruturar a resposta da SP a nível regional mas

também nacional, num processo que depende do Ministério da Saúde”. E mais: “Fortalecendo a Direção-Geral da Saúde, que é o órgão máximo da SP e que necessita de ser valorizada!”

“Em termos da realidade do dia-a-dia”, afirma Gustavo Tato Borges, “estamos numa fase ainda bastante cinzenta, sem uma definição muito concreta a qualquer nível de intervenção da SP, mas, frequentemente, com oportunidades, nos nossos locais de trabalho, que teremos que ser nós a aproveitar”.

O presidente da ANMSP diz que há outras “preocupações”. Por exemplo: “Sabemos que o papel do médico de SP continua a não ser devidamente reconhecido, havendo um grande desconhecimento do trabalho que nós desenvolvemos. Essa é uma barreira que esperamos possa ser agora quebrada.”

Gustavo Tato Borges: “o papel do médico de SP continua a não ser devidamente reconhecido.”

Não menos importante, “esta ligação que se deseja das ULS com a comunidade obriga a que deixemos de pensar apenas na questão das urgências ou do número de consultas e de cirurgias realizadas. Precisamos de uma resposta muito mais integrada,

que comece na prevenção e se estenda à reabilitação”.

A dupla tutela dos médicos de Saúde Pública Os médicos de SP têm uma dupla tutela. Estando integrados numa Unidade de SP, respondem ao Conselho de Administração da respetiva ULS, na generalidade dos casos, através do diretor clínico para a área dos CSP. Mas enquanto autoridade de saúde, como representantes do Estado na

ANA LúCIA FIGUEIREDO, PRESIDENTE DA COMISSãO ORGANIZADORA DO V CNMSP:

intervenção junto da comunidade, reportam à diretora-geral da Saúde, através dos seus (pelo menos, por enquanto) cinco diretores regionais. Gustavo Tato Borges adianta que, idealmente, deverá haver uma unidade de SP por cada ULS, na linha do que sucedia anteriormente, com a existência de uma USP por cada agrupamento de centros de saúde. Ora, acontece que certas ULS vieram a integrar mais do que um ACES. “Nalguns casos, tem sido difícil essa agregação de duas ou mais USP

“A escolha desta especialidade foi uma das melhores decisões da minha vida”

Ana Lúcia Figueiredo reconhece que a circunstância de, “na altura, ser um curso com emprego garantido” também ajudou a decidir! Entretanto, embora residisse na região de Leiria, decidiu ir estudar para o Porto. E a opção pelo ICBAS aconteceu por lhe dizerem que ali se “promovia muito a investigação”, o que lhe agradava.

Quando chegou o momento de decidir qual a especialidade, e pondo de parte a área cirúrgica, acabou por optar por Saúde Pública, cujo internato, iniciado em 2016, seria feito na Unidade de Saúde Pública (USP) do então ACES Porto Oriental. Curiosamente, tinha dispensado, no Ano Comum, o estágio de duas semanas em SP, preferindo ter prolongado o de MGF!

Afirma, sem hesitações, que a escolha da especialidade de Saúde Pública “foi uma das melhores decisões da minha vida”! Não consegue, aliás, deixar de recordar os tempos

que se viveram no ano em que fez o exame final da especialidade, adiado de março para junho de 2020 por imposição da pandemia por COVID-19. “Tivemos a possibilidade de desenvolver, nessa altura, um trabalho muito interessante”, frisa.

Ana Lúcia Figueiredo teve a possibilidade de escolher o local para onde foi trabalhar, um dos cinco polos da USP do ACES do Baixo Tâmega, o de Amarante. Transitaria posteriormente para o polo de Marco de Canaveses, onde se mantém, agora fazendo parte integrante da estrutura que constitui a ULS do Tâmega e Sousa.

A médica esclarece que a divisão da USP por polos naquele ACES, correspondendo cada um deles a um concelho distinto, “foi uma opção tomada tendo em conta as especificidades desta área geográfica, que é extensíssima, e também por questões logísticas infraestruturais”.

“Agora, com a constituição da ULS

do Tâmega e Sousa, a estes concelhos vêm juntar-se os dos antigos ACES Vale do Sousa Norte e Vale do Sousa Sul, o que representa, sem dúvida, um grande desafio. Não sabemos ainda exata-

mente como as coisas vão funcionar em termos de organização do serviço de Saúde Pública, desde logo porque somos muitos profissionais e estamos geograficamente bastante dispersos”, observa Ana Lúcia Figueiredo.

“Um desafio importante, mas facilitado pelo trabalho feito em anos anteriores”

A nossa entrevistada descobriu a existência da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública durante o internato, mas só se tornou associada já enquanto especialista, na segunda metade de 2020. O convite para fazer parte da Direção surgiu logo no ano seguinte, por ocasião do II Congresso da ANMSP, realizado em Amarante. Foi-lhe proposto que assumisse as funções de tesoureira, cargo que, aliás, já desempenhara na Comissão de Médicos Internos de Saúde Pública da Zona Norte.

“eu tenho uma equipa com a qual sei que posso contar.”

“Acho que consegui contribuir de acordo com o que era esperado, para além de considerar que a participação na Associação também constituiu um bom momento de crescimento pessoal”, refere, em jeito de balanço. Note-se que Ana Lúcia Figueiredo é um dos elementos da Direção presidida por Gustavo Tato Borges, cujo mandato de três anos termina no final de 2024. Foi após o IV CNMSP, que decorreu o ano passado em Viseu, que a médica foi confrontada com a ideia de presidir à CO do CNMSP 2024,

“A Saúde Pública vive um momento de transição decorrente da implementação generalizada das ULS”, afirma o presidente da ANMSP
Ana Lúcia Figueiredo

nacional”

numa só, nomeadamente, quando a área de implementação da ULS é muito grande, com populações bastante isoladas ou até com características substancialmente diferentes”, comenta o presidente da ANMSP.

Nesse aspeto, as coisas estarão a decorrer de forma normal na ULS de Santo António, em que as unidades de SP do Porto Oriental, do Porto Ocidental e de Gondomar (esta última coordenada por Gustavo Tato Borges) vivem

neste momento um processo de fusão. “A dificuldade registada na nossa ULS resulta apenas do impasse que se vive relativamente à eventual alteração das características do modelo de unidade local de saúde quando estão envolvidos hospitais universitários. Continuamos neste limbo, à espera de saber o que vai acontecer para podermos, efetivamente, a trabalhar de uma forma organizada”, regista o nosso entrevistado.

“Existem preocupações que precisamos de trabalhar em conjunto”

A escassas semanas da realização do 5.º Congresso Nacional dos Médicos de Saúde Pública, o presidente da ANMSP salienta o trabalho desenvolvido pela anterior Direção, presidida por Ricardo Mexia: “Teve o mérito de nos desafiar e desinquietar para concretizarmos este espaço propício à partilha de ideias e ao convívio entre os médicos de SP e que há vários anos não existia.”

“E a decisão de realizarmos um Congresso anual, quando inicialmente estávamos a pensar fazê-lo apenas a cada dois anos, teve em conta a reação dos nossos colegas, que se manifestaram a favor de um encontro promovido com esta regularidade”, esclarece Gustavo Tato Borges.

“Existem, de facto, certos riscos, bem como algumas dúvidas e preocupações que precisamos de

trabalhar em conjunto, para podermos ter uma posição sustentada de diálogo com quem lidera o Ministério da Saúde. Para além de que é importante também agir em proximidade com os sindicatos e a própria Ordem dos Médicos, com o objetivo de defender a nossa especialidade e tornar mais atrativa a carreira de quem a escolhe”, frisa.

31.º ENCONTRO DO INTERNATO DE MGF DA ZONA NORTE

A importância da inclusão no contexto da Medicina

o 31.º eimgfzn reAlizA-se diAs 16, 17 e 18 de oUtUBro, nA exponor, com A orgAnizAção A cArgo de internos e especiAlistAs de mgf dA direção do internAto emílio peres, dA Uls de são joão.

“A

inclusão começa em ti” foi o lema escolhido para esta edição, em que são aguardados mais de mil participantes. De acordo com Nuno Pereira, do Núcleo de Gestão da CO, “a organização decidiu optar pelo tema da inclusão, pois, consideramos que Portugal está a passar por mudanças populacionais significativas, que nos trazem novos desafios na área da Medicina”. E dá o exemplo do envelhecimento populacional e do aumento da imigração.

Assim, e “considerando estes factos”, indica que se “geram obrigatoriamente novos desafios na área da Saúde que gostaríamos que também fossem discutidos no Encontro”.

Nuno Pereira sublinha que, “independentemente da raça, género, crenças religiosas, condição socioeconómica ou eventual deficiência presente em utentes, sendo a saúde um bem essencial, é de vital importância garantir o acesso igualitário à saúde, assegurando que todos recebem o mesmo nível de cuidados”.

Inês Pereira, que também integra o Núcleo de Gestão, lembra que “grupos marginalizados enfrentam frequentemente piores resultados de saúde precisamente devido a barreiras de acesso”, sublinhando que “a inclusão no contexto da Medicina trabalha de modo a identificar e eliminar essas barreiras”.

Na sua opinião, “é um componente fundamental para um sistema de saúde justo e eficaz, que responde às necessidades de uma sociedade diversificada, tal como a nossa se tem vindo a tornar.”

os orientadores de formação e este ano não é exceção. “Reservámos, aliás, a primeira manhã do 1.º dia do Encontro (16 de outubro) especificamente para o 2.º Encontro dos Orientadores”, refere Inês Pereira, afirmando que “é especialmente importante termos no evento um momento dedicado à partilha de experiências entre os mesmos”.

E o motivo é fácil de explicar:

Encontro dos orientadores”. Refere-se a Maria José Corral, diretora de Internato Emílio Peres, ela própria uma orientadora de formação: “Tem estado presente em todas as nossas reuniões, é uma pessoa muito empática e acessível, que valida muitas das nossas ideias e expectativas, ao mesmo tempo que traz mais ideias para cima da mesa.” Por outro lado, e “sendo uma

“Julgamos que a relação médico interno / orientador no internato de MGF é, de certa forma, diferente em comparação com as restantes especialidades. Estão muito mais presentes em toda a nossa formação e consultamos a sua lista de utentes, a qual aprendemos a gerir em conjunto.”

médica com uma carreira mais longa, obviamente, que a dos internos, tem imensos contactos e conhecimentos (na Medicina e não só) que nos têm sido deveras úteis no que a toca à captação de possíveis palestrantes e de alguns apoios para o 31.º EIMGFZN”.

marcado para Torres Vedras e que terá lugar entre os dias 30 de setembro e 2 de outubro.

“É, sem dúvida, um desafio importante, mas facilitado pelo facto de haver trabalho feito em anos anteriores e, para além disso, porque eu tenho uma equipa com a qual sei que posso contar. No fundo, o meu papel tem sido o de pôr a engrenagem a funcionar!”, reage a nossa interlocutora.

A mesa da sessão de abertura está desenhada, estando prevista a presença da secretária de Estado da Saúde, Ana Povo, da diretora-geral da Saúde, Rita Sá Machado, da presidente da CM de Torres Vedras, Laura Rodrigues, e da coordenadora da USP da ULS do Oeste, Ana Cristina Pecante. Para a sessão que marcará o encerramento dos trabalhos, dois dias depois, foram convidados, nomeadamente, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, a presidente da

Comissão de Saúde da Assembleia da República, Ana Abrunhosa, e a presidente do CA da ULS do Oeste, Elsa Baião.

De referir que o programa do V CNMSP inclui quatro sessões plenárias, intituladas: “Serviços de SP num Sistema de Saúde em mudança”; “Vacinação – abordagem ao longo do ciclo de vida”; “Inteligência artificial ao serviço da SP”; e “Desafios no exercício de autoridade de saúde”.

As sessões paralelas são cinco: “One health”; “Determinantes comerciais”; “Rastreios de base populacional”; “Estratificação da população pelo risco”; e “Envelhecimento ativo”. Ana Lúcia Figueiredo destaca a presença de um convidado estrangeiro: Michele Cecchini, diretor da Unidade de Saúde Pública da OCDE, que proferirá uma palestra sobre “Programar e avaliar em Saúde Pública”.

mariana Almeida: “consideramos que o voluntariado enriquece significativamente a carreira de um médico.”

Mariana Almeida, o terceiro elemento do Núcleo de Gestão, adianta que este foco na inclusão levou a equipa a decidir dar destaque a médicos envolvidos em projetos de voluntariado, incluindo o programa uma palestra dedicada à Medicina Humanitária.

E acrescenta: “Naturalmente, consideramos que o voluntariado enriquece significativamente a carreira de um médico, no sentido em que contribui para formar médicos mais completos e, igualmente importante, mais empáticos.”

Proporcionar aos orientadores um momento de partilha

Um dos aspetos que caracteriza o EIMGFZN é o de envolver ativamente

Mariana Almeida reforça esta ideia, salientando que “um orientador em MGF oferece uma atenção individualizada que, muitas vezes, não é possível num ambiente hospitalar. Isto permite uma melhor adaptação às necessidades de aprendizagem específicas do seu médico interno”.

Nesse sentido, adianta que a CO considerou “indispensável um momento para os mesmos, precisamente para fomentar o brain-storming, a troca de impressões e de feedback e, de certa forma, para ajudar a desenvolver as suas próprias capacidades interpessoais”. Sempre com o propósito final de “melhorar e aproveitar a sua relação de 4 anos de internato (no mínimo!) com os seus médicos internos”.

E qual o objetivo mais específico deste momento de partilha? Mariana Almeida esclarece que foi sugerido “existir um workshop/palestra concretamente dirigida à discussão dos objetivos da nossa grelha curricular, de modo a que todos os orientadores estejam cientes das tarefas que temos de realizar ao longo do internato, de modo a auxiliar-nos no cumprimento dos mesmos”.

Uma orientadora muito especial...

De acordo com Nuno Pereira, a CO conta com “uma ajuda preciosa na preparação do nosso Encontro e do

“A arte num congresso não é apenas um adorno”

Com o 31.º EIMGFZN surge uma alteração no âmbito da estrutura habitual da CO. “Decidimos criar o Departamento Cultural, pois, achámos que seria uma mais-valia, tendo em conta o facto de o Congresso ser, este ano, puramente presencial”, afirma Mariana Almeida.

Como o próprio nome dá a entender, o objetivo é “promover e valorizar a cultura nas suas diversas formas”. Nesse sentido, o programa contempla “alguns espaços para exibição e performance”, refere a médica do Núcleo de Gestão. E adianta: “Teremos, inclusive, uma exposição de arte permanente, e encontramo-nos em negociações para trazer algumas performances musicais, no contexto da inclusão, e ainda outras atividades interativas, algumas fora do espaço da Exponor.”

Inês Pereira faz questão de acrescentar: “Consideramos que a arte num congresso não é apenas um adorno, mas uma ferramenta que pode enriquecer a experiência dos participantes, e fortalecer o impacto do evento. Além disso, a inclusão de algumas diversões melhora a experiência dos participantes, promove a interação, e ajuda a criar um ambiente mais positivo e memorável.”

Os três elementos do Núcleo de Gestão com a diretora do Internato Emílio Peres: Nuno Pereira, Inês Pereira, Maria José Corral e Mariana Almeida

SERVIçO

DE CARDIOLOGIA DA UNIDADE LOCAL DE SAúDE DE ALMADA-SEIXAL

reunir as valências de uma cardiologia e alargar o acesso aos meios de diagnóstico,

procUr Ando oferecer à popUl Ação de AlmAdA e seixAl UmA cArdiologiA modernA e completA, hélder pereir A, qUe dirige o serViço de cArdiologiA do hospitAl gArciA de ortA desde 2010, tem Vindo A inVestir no desenVolVimento dA interVenção estrUtUr Al. consider Ando A imAgiologiA UmA VAlênciA essenciAl pAr A o diAgnóstico dAs doençAs cArdioVAscUl Ares, tem lUtAdo por Um Acesso mAis Al ArgAdo Aos métodos de diAgnóstico essenciAis.

Apaixonado pela Cardiologia de Intervenção, Hélder Pereira está associado à criação da respetiva Unidade no Hospital Garcia de Orta, em 1994, e ao seu desenvolvimento posterior.

“Comecei a formar pessoas, dados os conhecimentos que tinha adquirido em Barcelona, numa altura em que ainda não era permitido fazer angioplastia em hospitais sem Cirurgia Cardíaca. Aqui e no Hospital de Santo António, demos esse passo complexo, que foi importante para conseguirmos ter tido uma Via Verde Coronária capaz de abranger todo o país”, recorda.

Com o passar do tempo, vários cardiologistas de intervenção ali formados seguiram o seu caminho e foram organizar e gerir novas unidades por todo o país, algo que reconhece como positivo.

Em 2010, na sequência da reforma do anterior diretor de Serviço, Manuel Carrageta, Hélder Pereira sucedeu-lhe no cargo, considerando ter recebido “uma herança muito positiva”, que procurou manter e alavancar. “Tentei inovar e sobretudo reunir as valências de uma Cardiologia de Intervenção moderna e de topo”, destaca.

Sendo a área de abrangência do HGO muito alargada, na sua opinião, “as pessoas deviam ter acesso a uma Cardiologia moderna e completa, como sucede nas zonas suburbanas da maior parte dos países europeus”. Essa foi sempre a sua expectativa, uma vez que defende que “se os hospitais não tiverem as valências necessárias, não funcionarem bem e não tiverem equipas de qualidade acabam por se tornar desinteressantes e levar à desagregação dos serviços”. Para si, a imagiologia corresponde a “uma valência essencial para o diagnóstico das doenças cardiovasculares”. Sublinha, contudo, que “os equipamentos continuam a ser vistos como sendo da Radiologia e os seus softwares não são os mais adequados à Cardiologia, o que faz com que os doentes tenham um acesso limitado a métodos de diagnóstico essenciais”.

Junta-se a agravante de “a MGF não ter acesso a instrumentos básicos de diagnóstico das doenças mais comuns, como a cardiopatia isquémica, a insuficiência cardíaca, a doença valvular e a angina de peito”. Perante

tamanhos pedidos, “os hospitais não têm capacidade de resposta, por falta de investimento e até, porventura, por não terem conhecimento de que a Cardiologia moderna não é a de há 20 anos, que se baseava no ecocardiograma, na prova de esforço, no holter e na ecografia”.

No caso do Serviço que dirige, Hélder Pereira adianta que “a tarde de TAC e a tarde de RM são claramente insuficientes para responder às necessidades”, referindo estarem a ser realizados “cateterismos de diagnóstico a doentes aos quais podiam ser feitos TAC, para evitar custos as-

sociados a possíveis internamentos e infeções”.

Hélder Pereira lamenta que “as altas entidades ainda não tenham integrado a ideia de que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte nos países ocidentais e que as formas de diagnóstico da TAC e da RM são essenciais”.

Na sua opinião, “a Cardiologia tem de ser colocada no topo da agenda porque muitas das doenças cardiovasculares têm uma taxa de mortalidade superior à maioria dos cancros”. Contudo, “os seus progressos têm sido tão rápidos que há a

hélder Pereira: “As altas entidades ainda não integraram a ideia de que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte nos países ocidentais e que as formas de diagnóstico da TAc e da rm são essenciais.”

sensação de que os problemas ficam resolvidos, quando tal não acontece, sendo que mais de 30% da população acaba por morrer de doença cardiovascular”. De facto, “os doentes não atribuem a estas doenças o peso que elas têm”.

Adicionalmente, coloca-se outro problema relacionado com as disparidades a nível nacional, o que leva mesmo o cardiologista a considerar existirem dois polos distintos – o do litoral e o do interior, sendo que neste último subsiste “uma Cardiologia de sobrevivência”. Hélder Pereira, que preside à Sociedade Portuguesa de Cardiologia desde abril de 2023, realça que, “politicamente, tem havido uma tentativa de centralização, através da definição de centros de referência, tornando os demais completamente desinteressantes. Por sua vez, os seus profissionais, que têm muito valor, não se sentem valoriza-

dos por não conseguirem desenvolver as suas capacidades”. O nosso interlocutor evidencia ainda que “a grelha de saída da especialidade valoriza demasiado o doutoramento”, o que, do seu ponto de vista, vem prejudicar aqueles que não estão a fazer a sua formação em hospitais centrais: “Enquanto aí há mais casuística e mais profissionais, o que se reflete numa maior disponibilidade e capacidade para publicar, nos hospitais distritais os colegas têm falta de tempo e de casos de interesse.”

Impulsionar a Cardiologia de Intervenção Estrutural e reforçar a equipa

Na opinião do diretor do Serviço de Cardiologia da ULS de Almada-Seixal, “é preciso garantir métodos de diagnóstico básicos, com qualidade, para que os profissionais se sintam valorizados e os doentes possam ter o seu seguimento nas unidades hospitalares distritais, recorrendo aos grandes centros apenas para fazer as intervenções”.

ardiologia de intervenção moderna e de topo

diagnóstico,

mantendo a equipa agregada

Hélder Pereira recorda-se, aliás, de em 1994, quando iniciou a sua atividade no HGO, ter convidado um colega do Hospital do Barreiro a fazer uma parceria: “Ele vinha cá tratar os seus doentes e pôde aprender a fazer angioplastia, o que foi uma mais-valia para a população do Barreiro. Este tipo de parcerias é algo muito positivo. É nesse âmbito que, desde 2015, alguns de nós temos ido receber formação e tratar doentes valvulares no Hospital de Santa Cruz, no âmbito de um protocolo de afiliação”.

Por sua vez, “há uma equipa de dois cirurgiões cardíacos e um cardiologista de intervenção com muita experiência em implante de TAVI que vem de Santa Cruz para apoiar as intervenções”. Esta articulação tem sido muito benéfica na medida em que “a TAVI é uma excelente alternativa à cirurgia, contudo, tradicionalmente, só é realizada em centros com Cirurgia Cardíaca, que não têm conseguido ter capacidade de resposta”.

O médico considera, por isso, “muito necessário, neste momento, consolidar a Cardiologia de Intervenção Estrutural, de forma a tratar a doença valvular aórtica, uma patologia cada vez mais frequente e grave, que apresenta uma alta taxa de mortalidade”. Como adianta, “neste

momento, há uma taxa de mortalidade em lista de espera de 7%, sendo que 46% dos doentes são tratados já numa fase de internamento, o que aumenta o risco de infeção e a ocupação de camas”.

Atendendo ao potencial das novas tecnologias, Hélder Pereira evidencia que “facilmente podemos contactar com intervenções que estão a ser realizadas em qualquer lugar, e essa troca de know-how é muito positiva, valoriza o Serviço e o hospital”.

O médico orgulha-se do “trabalho de heart team exemplar” que têm conseguido realizar, ao “reunir um conjunto alargado de profissionais com os doentes e as famílias, para discutir qual a melhor proposta terapêutica antes de avançar para a sua consecução”.

E acrescenta que para um hospital como o HGO ser reconhecido como centro de referência para o tratamento da hipertensão pulmonar “é sinal de que a equipa, ainda que curta, está a trabalhar muito bem”. Além desta vertente, o nosso interlocutor adianta que o Serviço dispõe de uma série de outras áreas, como a Insuficiência Cardíaca, a Hemodinâmica, a Reabilitação Cardíaca, a Medicina Nuclear e a Ecocardiografia, cada uma das quais com uma equipa muito reduzida, de duas a quatro

pessoas, que, por vezes, se repartem por outras.

Apesar de reconhecer que “a existência de poucos elementos em cada área funcional acaba por gerar alguma sobrecarga”, Hélder Pereira sente que “os colegas gostam de integrar o Serviço e que este é reconhecido pelo hospital”.

Apesar das dificuldades relacionadas com os períodos de ausência de profissionais, nomeadamente associados à parentalidade devido à jovialidade da equipa, o cardiologista destaca que, na Hemodinâmica, por exemplo, que tem apenas quatro colegas, tendo chegado a ser apenas dois, “desde 1994, não houve um único dia sem preven -

“Temos de avaliar os resultados e garantir que as pessoas se sentem bem onde estão, caso contrário, corremos o risco de perdê-las”, alerta o médico.

Como recorda, “chegámos a fazer cateterismos de utentes de Setúbal, Évora e Faro. Até 2015, trabalhámos até à meia-noite para conseguir dar resposta às solicitações, e quando éramos chamados durante o período de prevenção vínhamos fazer os cateterismos e de manhã já estávamos a trabalhar”. Na sua ótica, “é necessário avaliar os resultados e garantir que as pessoas se sentem bem onde estão, caso contrário, corremos o risco de perdê-las”. Em termos espaciais, o Serviço organiza-se em três pisos, sendo que no 7.º andar encontram-se, entre outras áreas, o Internamento, com 18 camas, e o Hospital de Dia, no 3.º piso são realizados os exames não invasivos e no 1.º andar localizam-se a Cardiologia de Intervenção e a Eletrofisiologia.

O nosso interlocutor avança que “a maior parte da atividade do Serviço é baseada nas síndromes coronárias agudas” e que a patologia mais prevalente é a cardiopatia isquémica, em doentes com enfarte agudo do miocárdio. Nota que o aumento do número de jovens fumadoras na Europa pode trazer consequências: “Enquanto as doenças oncológicas não são tão preveníveis, no caso da Cardiologia, sabemos que o estilo de vida tem impacto na prevenção e os hábitos tabágicos podem aumentar e antecipar o risco de enfarte.”

Realça, contudo, que “cada vez há mais doentes com insuficiência

hÉLDER PEREIRA, DIRETOR DO SERVIçO

Cardiologia de Intervenção, a sua área de paixão

Hélder Pereira nasceu a 28 de setembro de 1958, em Lisboa. Viveu cinco anos da sua infância em Moçambique. Quando voltou com a família para Portugal, foi viver para Almada, cidade onde reside e trabalha.

e faz com que me sinta realmente bem, porque conseguimos tratar um doente que corre perigo de vida e tirar-lhe a dor. É uma ação visível e imediata”, comenta. Neste âmbito, foi presidente da APIC – Associação Portuguesa de Intervenção Cardio-

Licenciou-se em 1983, pela FMUL, e realizou o internato de Cardiologia no Hospital de Santa Marta. Em 2010, assumiu a direção do Serviço de Cardiologia do Hospital Garcia de Orta. Apesar de já estar dispensado de fazer urgência noturna há alguns anos, continua a fazê-lo de forma regular, não só “por querer dar o exemplo, mas também por gostar”, embora reconheça tratar-se de “um trabalho penoso, que interfere com a vida familiar”.

Ao longo dos anos, tem-se dedicado à Cardiologia de Intervenção, a sua área de paixão. Em 1994, quando começou a trabalhar no Serviço que atualmente dirige, assumiu logo a coordenação da respetiva Unidade. “Intervir em casos de enfarte, por exemplo, é muito gratificante

cardíaca, dado que todas as patologias cardíacas culminam em IC”, sendo também representativo o grupo de doentes com hipertensão pulmonar.

Estreitar a articulação com os CSP e desenvolver a investigação científica

Considerando ser “de grande importância a articulação entre os cuidados de saúde primários e hospitalares”, Hélder Pereira espera que, com a generalização do modelo ULS “seja possível dar um passo em frente nessa área, porque se os doentes forem sinalizados e diagnosticados precocemente nem sequer chegam a ser hospitalizados”.

vascular entre 2011 e 2015. Desde 2008 que tem competência em Gestão de Serviços de Saúde pela Ordem dos Médicos e, em 2009, realizou o mestrado em Direção de Unidades de Saúde, pelo ISCTE. Doutorado desde 2017 pela FMUL, é docente de Medicina 1 e de Cardiologia na instituição. Atualmente, assume ainda as funções de presidente da SPC, durante o biénio 2023-2025, e de coordenador europeu da iniciativa “Stent Save a Life”.

Casado com uma estomatologista e pai de duas filhas, uma delas interna de MGF com grande interesse pela área dos cuidados paliativos e outra com formação em Economia e em Cinema, tem já dois netos e duas netas, que são a sua “maior alegria”.

De forma a impulsionar o envio dos utentes pelos colegas de MGF, o Serviço protocolou a referenciação para sete patologias, definindo, entre outros aspetos, “quais eram os critérios necessários para enviar os doentes, que casos podiam ser tratados pelos CSP e de que forma, quais eram os parâmetros e os alvos terapêuticos”.

Em 2023, Hélder Pereira reuniu, inclusivamente, com as várias unidades do ACES Almada-Seixal para sensibilizar os colegas para esse protocolo. Procurando alargar essa iniciativa a nível nacional, o médico encontra-se, enquanto presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiolo-

(Continuação da pág. 25)

gia, a trabalhar na elaboração de um protocolo com a APMGF.

O diretor do Serviço espera que possa vir a ser implementada, em breve, uma linha de contacto direta, que “permita aos colegas dos CSP colocar questões diretamente aos cardiologistas e resolver situações que evitem o envio dos doentes ao hospital”.

Admite que também gostaria de ver desenvolvida a área da investigação, apesar de reconhecer que “a forma como os hospitais portugueses estão organizados não favorece a sua progressão, ao levar os médicos a dedicar muito tempo a atividades não clínicas”. Ainda assim, alerta que “a realização de investigação, nomeadamente a nível de ensaios clínicos, podia trazer muitos recursos económicos para Portugal”.

“Se tivéssemos menos tarefas burocráticas e dedicássemos mais tempo a ensaios clínicos, seria muito mais vantajoso para o hospital, os doentes e o país”, sublinha o cardiologista.

De uma forma geral, “se tivéssemos menos tarefas burocráticas e dedicássemos mais tempo a ensaios clínicos, seria muito mais vantajoso para o hospital, os doentes e o país”, aponta. Ainda no âmbito organizativo, Hélder Pereira considera haver um grande espaço de melhoria: “Os sistemas informáticos são complexos e morosos. As direções dos serviços são assoberbados com processos burocráticos e muitas delas não têm sequer um secretariado. Os doentes perdem-se nos hospitais porque a sinalética é má e a própria estrutura difere de um piso para outro. Todos estes aspetos representam ineficiências.”

Isabel João: a importância da ecocardiografia em toda a área hospitalar

Isabel João coordena o Laboratório de Ecocardiografia desde 2017. Dedicados a esta valência estão quatro médicos a tempo parcial, que realizam ecocardiografia avançada e transtorácica e apoiam os quatro técnicos de Cardiopneumologia residentes na realização de todos os ecocardiogramas solicitados pelo Internamento e pela Consulta Externa hospitalares.

A médica realça as dificuldades associadas à falta de recursos humanos e de salas próprias, uma vez que, até à data, tinham apenas um espaço exclusivo e acesso a duas salas partilhadas, o que “limita imenso a resposta aos pedidos de exames”. Para breve, está prevista a alocação de mais uma sala ao Serviço, o que deverá aumentar a resposta em cerca de 600 exames por ano.

Com capacidade para realizar ecocardiogramas transtorácicos 2D, 3D, com contraste e com strain, e

JOãO MIRINhA LUZ, INTERNO DO 3.º ANO:

“Podemos e queremos fazer mais”

João Mirinha Luz é um dos 11 internos do Serviço. Está no 3.º ano, tendo três colegas no 5.º, dois no 4.º, um no 3.º, duas no 2.º e dois no 1.º.

O facto de ter realizado o Ano Comum no HGO, em 2021, contribuiu decisivamente para a sua opção de fazer o internato da especialidade neste Serviço: “As referências eram bastante boas e tive oportunidade de trabalhar numa equipa da Medicina Interna que mantinha ótimas relações com a Cardiologia.”

As expectativas que tinha em

ecocardiogramas transesofágicos, Isabel João realça que “o ecocardiograma é uma peça fundamental para o estudo da patologia cardiovascular dos doentes acompanhados na Consulta Externa de Cardiologia (em várias áreas: insuficiência cardíaca, patologia valvular, miocardiopatias, hipertensão pulmonar, entre outras), bem como dos doentes oncológicos a fazer drogas cardiotóxicas e dos internados (por AVC, IC, valvulopatias e patologia infeciosa, por exemplo) e em situação pré-operatória, das várias especialidades”.

relação ao Serviço não foram defraudadas e realça “o ambiente fantástico vivido não só entre internos mas também entre internos e especialistas, o que favorece bastante a integração dos mais novos no Serviço, na discussão de casos e na aprendizagem, tão importante nesta fase formativa”.

O interno distingue “a forma como o Serviço tem crescido, tanto em número de profissionais como de procedimentos”, e acredita que essa evolução se deverá manter: “Obviamente que podemos e queremos fazer mais e é por esse objetivo que nos guiamos.”

Numa altura em que está a meio do internato, identifica como áreas preferenciais a imagem cardiovascular e a hipertensão pulmonar, tratando-se esta última de “uma área de grande diferenciação em termos diagnósticos e interventivos neste Serviço, conferindo ao HGO o título de centro de referência a nível nacional”.

Natural de Vila Viçosa, João Mirinha Luz, 28 anos, decidiu seguir Medicina, influenciado de certa forma por alguns familiares médicos. Durante o curso, que realizou na FMUL, percebeu que a Cardiologia o fascinava e teve a sorte de “poder escolher um Serviço de que gostava bastante” para se especializar.

Considera, por isso, que “o ecocardiograma é o gold standard no diagnóstico, decisão terapêutica e determinação de prognóstico, e determinante na gestão de duração de internamento/alta hospitalar”. E adianta haver, no HGO, uma equipa de gestão de altas que “agiliza a realização dos exames complementares de diagnóstico, de modo a que os doentes estabilizados tenham alta precoce”.

A coordenadora do Laboratório de Ecocardiografia sublinha que, “numa altura em que as cirurgias são cada vez mais programadas, é possível avaliar o risco e otimizar as estratégias terapêuticas para minimizar a ocorrência de enfarte, arritmias malignas e morte”. No entanto, ressalva que, “em certos casos, é preciso

isabel João realça que “o ecocardiograma é o gold standard no diagnóstico, decisão terapêutica e determinação de prognóstico, e determinante na gestão de duração de internamento/ /alta hospitalar”.

assumir o risco, independentemente de este ser ou não conhecido, como sucede na cirurgia de urgência”.

No que respeita à Cardiologia, destaca, a título de exemplo, “o apoio muito relevante do ecocardiograma na Sala de Hemodinâmica durante procedimentos de intervenção estrutural e de intervenção valvular aórtica”.

A maioria dos pedidos aos quais não têm conseguido dar resposta advém da Consulta Externa, limitação que considera ser comum a todo o país.

Ainda assim, considerando as limitações com que se confrontam, acredita que “a realização de cerca de 5000 ecocardiogramas transtorácicos por ano é um número bastante aceitável”.

Isabel João realça, como alguns pontos fortes, a atividade formativa direcionada aos internos de Cardiologia de vários hospitais e a participação em ensaios clínicos respeitantes a fármacos que necessitam de monitorização da função ventricular esquerda, identificando como limitação o escasso tempo para investigação clínica.

Distingue ainda a obtenção da acreditação do Laboratório em todas as suas valências pela Associação Europeia de Imagem Cardiovascular, em 2020, e a certificação da equipa médica e técnica para a realização de

ecocardiogramas, pela Sociedade Europeia de Cardiologia, o que “aumenta a qualidade do serviço prestado”. Natural de Lisboa, Isabel João, de 54 anos, viveu durante oito no Porto, enquanto frequentou o curso de Medicina no ICBAS e realizou o internato de formação geral. Optou por fazer o internato de Cardiologia no HGO, que iniciou em 1997, “pela jovialidade da equipa e pelo seu grande crescimento”, onde tem permanecido até à presente data.

Ana Rita Almeida e Inês Cruz: o reforço e atualização dos aparelhos de imagem cardiovascular

Ana Rita Almeida e Inês Cruz são duas cardiologistas que integram o Laboratório de Ecocardiografia e que também se dedicam à área da ressonância magnética cardíaca. Ambas salientam o “contributo adicional desta técnica de imagem no estudo etiológico e estratificação do prognóstico numa proporção significativa dos doentes com patologia cardíaca”. Além de estarem presentes durante a aquisição das imagens para definirem qual o protocolo mais adequado para cada doente, ficam ainda responsáveis pela sua análise e interpretação, em conjunto com um colega de Radiologia. Apesar de este ter sido o primeiro

Isabel João
Ana Rita Almeida e Inês Cruz

hospital público na área da Grande Lisboa e dos primeiros a nível nacional habilitado a fazer RM cardíaca, as duas lamentam que, quase duas décadas depois, o aparelho seja o mesmo e o seu software e hardware não tenham sido atualizados.

“Há algumas sequências fundamentais para a caracterização tecidular miocárdica, às quais não temos acesso, o que nos impede de conseguir avaliar alguns doentes conforme as recomendações nos indicam”, lamenta Inês Cruz. A título de exemplo, a sua colega adianta que “o recurso a sequências de mapping seria importante não só porque são mais sensíveis, permitindo a deteção de patologia cardíaca numa fase mais precoce, mas também por serem preferíveis para certos nichos de doentes, como grávidas e doentes renais, podendo obviar à necessidade de administração de contraste para obter uma caracterização tecidular”. Por outro lado, a “existência de apenas dois aparelhos de ressonância partilhados pelas diferentes especialidades num hospital que serve uma grande população, aliada à escassez de recursos humanos com formação especializada na área da ressonância cardíaca, reflete-se numa grande lista de espera, obrigando a equipa a, em certas situações, desmarcar doentes eletivos para responder a casos mais urgentes”.

Inês Cruz confirma que, “com as ferramentas disponíveis, salvo alguns casos, tem sido assegurada uma boa resposta em termos de diagnóstico e de estratificação de risco”. Contudo, ressalva a necessidade de “selecionar muito bem quais os doentes visados, dada a limitação técnica, relativa ao equipamento e ao tempo de sala”.

Ana rita Almeida e inês cruz lamentam que, duas décadas depois, o aparelho de rm seja o mesmo e o seu software e hardware não tenham sido atualizados.

Prevê-se, contudo, a aquisição para breve de um novo aparelho com as devidas atualizações. Ambas se encontram, por isso, muito otimistas relativamente à “melhoria da resposta atempada e da qualidade dos exames realizados num futuro próximo”.

Comentam ainda que mantêm um contacto privilegiado com Luís Lopes, cardiologista reconhecido pelo trabalho desenvolvido na área das miocardiopatias e da imagem cardíaca, atualmente a trabalhar no Barts Heart Centre, em Londres. “Com ele, revemos as imagens dos casos mais desafiantes, sendo uma grande mais-valia para os nossos doentes”, salienta Inês Cruz.

Ambas se licenciaram em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da UNL e concluíram o internato de Cardiologia no HGO. Durante esse período, começaram logo a dedicar-se à vertente da imagem.

No caso de Inês Cruz, de 39 anos, passou pelo Hospital Distrital de Santarém, durante o Ano Comum, antes de fazer a especialidade no HGO. É cardiologista desde 2016 e tem-se dedicado não apenas à área de imagem mas também à das miocardiopatias, que, aliás, “se complementam”, sendo responsável pela respetiva consulta.

Já Ana Rita Almeida, de 44 anos, realizou o Internato Geral no Hospital do Barreiro, instituição onde iniciou o internato da especialidade. Acabou por concluí-lo já no HGO, em 2011. Durante essa fase, começou logo a fazer ecocardiografia avançada e a participar nas sessões de ressonância magnética. Ao longo do tempo, tem-se dedicado ainda à área da insuficiência cardíaca, acabando por acompanhar muitos casos de miocardiopatias dilatadas e de cardiopatias isquémicas em fase dilatada.

Otília Simões: o investimento em recursos físicos e humanos na Consulta de IC

Otília Simões é a cardiologista que, desde 2012, coordena a Consulta de Insuficiência Cardíaca. Quando começou a fazer o internato de Cardiologia neste Serviço, 10 anos antes, a mesma já existia, mas, após um período em que esmoreceu, a médica contribuiu para o seu ressurgimento. “Há uma necessidade de oferecer um seguimento mais regular a estes doentes, instituir toda a medicação recomendada pelas

guidelines e fazer uma estratificação de risco”, justifica, referindo ser “muito prazeroso vê-los melhorar”.

A médica avança haver cerca de 300 doentes em seguimento, sendo que apenas são abrangidos aqueles que apresentam disfunção ventricular esquerda: “Apenas nos dedicamos à disfunção sistólica, sendo os doentes com IC com fração de ejeção preservada acompanhados geralmente pela Medicina Interna. Apenas são referenciadas à Cardiologia certas situações, como suspeita de doença infiltrativa, que é encaminhada para a Consulta de Miocardiopatias, e casos de disfunção ventricular direita por hipertensão pulmonar, que são seguidos na Consulta de HTP.”

Apesar de não haver um Hospital de Dia dedicado exclusivamente à IC, a equipa utiliza o Hospital de Dia da Cardiologia, que Otília Simões considera “fundamental para receber os doentes agudizados ou mais instáveis e poder administrar terapêutica e realizar alguns exames complementares, como cardioversões elétricas”.

Realça a importância da enfermagem no seguimento dos doentes com IC e avança que, “apesar de a consulta de enfermagem decorrer, normalmente, juntamente com a consulta médica, pode também ser realizada de

forma isolada, se houver necessidade de reforçar determinados ensinos ou controlar determinados sintomas”. Adicionalmente, “cabe ao profissional de enfermagem receber os contactos telefónicos dos doentes e servir de mediador para a resolução dos problemas, que podem relacionarse com questões sobre a terapêutica prescrita ou a alteração do estado clínico”.

Perante a necessidade de o doente ser visto com brevidade pelo médico, o Hospital de Dia ainda não está preparado para esse efeito, tentando-se, sim, o agendamento de uma consulta para o próprio dia ou o seguinte.

Uma das ambições da profissional é “ver reforçado o investimento do HGO nesta consulta, “que é tão relevante para evitar os internamentos e as deslocações ao Serviço de Urgência, em termos de espaço e de pessoal”.

Formada pela Faculdade de Ciências Médicas da UNL, Otília Simões, de 48 anos, integra este Serviço de Cardiologia há duas décadas, tendo aí realizado o internato da especialidade.

Filipa Ferreira: o acompanhamento contínuo e multidisciplinar dos doentes com hipertensão pulmonar

Elemento integrante da Unidade de Hipertensão Pulmonar desde 2014, data em que iniciou um mes-

MáRIO CARVALhO, COORDENADOR DOS TSDT NA áREA DA CARDIOPNEUMOLOGIA:

“Somos capazes de identificar situações agudas e acionar os meios necessários”

Caracterizando a Cardiopneumologia como “uma área que procura, através de vários meios, documentar um diagnóstico célere, com vista ao tratamento”, Mário Carvalho, coordenador dos TSDT nesta área desde 2009, evidencia a “importância da atuação dos técnicos desde que o doente é admitido na Urgência, dada a sua capacidade de identificar situações agudas e não só relacionadas com o resultado dos exames e acionar os meios necessários, para que o tratamento seja realizado no menor tempo possível e o doente recupere sem lesões definitivas”.

Sendo realizados cerca de 150 eletrocardiogramas por dia, quer no Ambulatório, quer no Serviço de Urgência, quer nos diversos serviços de Internamento, “a presença dos 26 técnicos revela-se fundamental”.

A intervenção destes profissionais relaciona-se ainda com a realização de exames para diagnóstico e follow-up dos doentes, como ecocardiogramas, que “têm tido um desenvolvimento muito acentuado nos últimos anos”.

Mário Carvalho realça a exigência que cabe aos técnicos de Cardiopneumologia no sentido de “conhecerem as doenças, as suas implicações e a forma como se obtêm dados que as comprovem, através de exames invasivos realizados em equipa multidisciplinar e não invasivos”.

Cabe ainda aos técnicos de Cardiopneumologia a realização de outros exames, para além do eletrocardiograma, o holter e as provas de esforço convencionais e cardiorrespiratórias, e a participação nas equipas de implantação, programação e análise de dispositivos como os pacemakers.

Após ter concluído o bacharelato de Cardiopneumologia, pela Escola Superior de Tecnologia da

trado na área, Filipa Ferreira acabou por assumir a coordenação desta valência em 2019.

Tratando-se o HGO de um centro de referência no tratamento da HTP e sendo aquele que, dos seis centros de tratamento a nível nacional, se localiza mais a sul, acaba por receber muitos doentes referenciados de Por-

Saúde de Coimbra, em 1984, iniciou o seu trajeto profissional nos Cuidados de Saúde Primários (CS de Almada), tendo transitado no ano seguinte para o Hospital de Santa Cruz, na altura em que aí se realizou o primeiro transplante cardíaco no país. Passou ainda por duas outras instituições, uma delas o Hospital Pulido Valente, antes de ter começado a trabalhar no HGO, logo após a sua inauguração, em 1991, quando “havia cardiologistas, mas não existia ainda um Serviço de Cardiologia”.

O profissional participou na sua fundação e desenvolvimento, tendo assistido a vários marcos, como “a criação de uma Unidade de Hemodinâmica dedicada exclusivamente à Cardiologia, o desenvolvimento da Via Verde Coronária e da Unidade de Hipertensão Pulmonar e, mais recentemente, o encerramento de FOP”. Reconhece que “o desenvolvimento tecnológico e a contínua formação dos técnicos de Cardiopneumologia vieram permitir que os doentes fossem submetidos a exames invasivos com toda a segurança e celeridade”.

Filipa Ferreira alerta para o facto de a “hipertensão arterial pulmonar ser uma doença que condiciona mau prognóstico quando não tratada, superando muitas neoplasias”.

talegre, Elvas, Setúbal, Évora e ainda do Litoral Alentejano e do Algarve. A médica alerta para o facto de a “HTP ser uma doença que condiciona mau prognóstico. Quando não tratada, pode ter uma mortalidade superior à de muitas neoplasias, podendo

(Continua

Otília Simões
Filipa Ferreira

(Continuação da pág. 27)

mais de metade dos doentes com classes funcionais mais avançadas não estar vivos no prazo de seis meses”.

Em contrapartida, realça que, “desde o aparecimento dos vasodilatadores pulmonares, há cerca de 30 anos, o prognóstico modificou-se drasticamente, sendo possível transformá-la numa doença crónica”. Contudo, “por se tratar de uma patologia rara, em que alguns fármacos são de administração contínua e complexa, implica o tratamento dos doentes em centros de tratamento com equipas multidisciplinares e com o know-how necessário”.

O diagnóstico exige, desde logo, a realização de cateterismo cardíaco, no Laboratório de Hemodinâmica, estando recentemente a ser feitos também cateterismos de esforço, por forma a “diagnosticar a doença numa fase mais precoce, antes da sua manifestação”. Existe ainda uma articulação muito frequente com o Laboratório de Ecocardiografia, a Imagiologia, a Pneumologia e a Medicina Nuclear.

Ao nível da consulta, realça a participação de médico, técnico de Cardiopneumologia e enfermeiros especializados. Em alguns casos, os doentes recorrem ao Hospital de Dia da Cardiologia, mensalmente, para o preenchimento das bombas com os fármacos, acontecendo ainda dirigirem-se a esse espaço para administração ou iniciação de outras terapêuticas. No Internamento, há três camas preferencialmente alocadas aos doentes com HTP ou IC.

Com cerca de uma centena de doentes em seguimento, a profissional admite que “as suas características tão especiais exigem um seguimento muito apertado – desde logo com consultas telefónicas mensais –, o que se traduz num forte consumo de recursos hospitalares”.

ANA

Por se tratar de “uma área com grande potencial em termos de investigação clínica, existem vários ensaios clínicos a decorrer, que têm contado com a participação muito ativa desta equipa”. Foi após ter-se formado pela FMUL que Filipa Ferreira, com 26 anos na altura, conheceu o HGO, ao realizar aí o internato de formação geral, em 2007. Regressou em 2014, após ter feito o internato de Cardiologia no Hospital de Santa Marta, durante o qual se diferenciou em cardiopatias congénitas e hipertensão pulmonar. Durante sete meses, esteve inclusivamente a fazer formação na área, no Hospital Royal Brompton, no Reino Unido.

“Na altura, o Serviço precisava de profissionais para integrarem a Consulta de HTP e era importante que tivessem um know-how significativo em cardiopatias congénitas, uma vez que há muitos doentes com HTP a ter cardiopatias congénitas e vice-versa”, contextualiza.

Luísa Bento: a ambição de reabilitar os doentes em tempo útil e de avançar para a fase 3

Elemento integrante do Serviço há 32 anos, desde a criação do HGO, Luísa Bento começou a dedicar-se à reabilitação cardíaca há 11, depois de ter sido desafiada por Hélder Pereira a organizar essa valência. Após formar a equipa multidisciplinar e encontrar o espaço, a área foi formalmente inaugurada em julho de 2014.

Com uma equipa atualmente constituída por cardiologista, fisiatra, fisioterapeutas, nutricionista, psicólogo, pneumologista e enfermeiro de reabilitação, é ambição da coordenadora juntar ainda um cardiopneumologista e um assistente técnico.

Luísa Bento avança que o maior número de doentes é referenciado a partir do Internamento de Cardiologia, no contexto de pós-síndrome co-

ronária aguda, mas também das consultas de IC e de HTP. Após a avaliação inicial e a inclusão no programa, o mesmo prevê “uma fase de treino de exercício na sala de reabilitação cardíaca, sessões temáticas em grupo, sobre fatores de risco cardiovasculares modificáveis com a alteração de hábitos de vida, muito interessantes pelo diálogo e a troca de experiências e formas de ultrapassar dificuldades entre os participantes”, assim como

consultas de Nutrição e de Psicologia, obrigatórias ao iniciar o programa”.

“Enquanto, inicialmente, a reabilitação cardíaca se destinava apenas à cardiopatia isquémica pós-enfarte – que continua a corresponder à maioria dos doentes, dada a elevada prevalência da doença –, progressivamente, foi abarcando outras patologias, tais como IC, HTP, doentes pós-transplante, pós-cirurgia cardíaca coronária e valvular e cirurgia vascular”, refere Luísa Bento.

E desenvolve: “Hoje em dia, à exceção daqueles que apresentam uma contraindicação, tal como arritmias graves ou estar numa fase de descompensação clínica, todos apresentam indicação para reabilitação”.

Por esse motivo, “a procura é grande”, o que justifica a necessidade de “integrar mais profissionais, concretamente fisioterapeutas, e de otimizar a utilização da sala, com o alargamento dos horários”. De facto, uma das ambições da médica é “conseguir reabilitar todos os doentes referenciados em tempo útil”.

A outra é reunir condições, desde logo reforçando os recursos humanos, para dar início à fase 3 do programa, que consiste no “estabelecimento de

PAULA ALMEIDA, ENFERMEIRA EM FUNçõES DE GESTãO:

“Temos competências muito elevadas em urgência e emergência e em relações humanas”

Ana Paula Almeida é a enfermeira que, desde há uma década, exerce funções de gestão no Serviço de Cardiologia. Apesar de as dotações calculadas pela Ordem dos Enfermeiros serem de 32 enfermeiros e de 16 técnicos auxiliares de saúde, só o número de técnicos é que está de acordo com tal previsão. “Somos apenas 25 enfermeiros e só conseguimos continuar a prestar cuidados aos doentes com recurso a trabalho extraordinário da equipa. Por outro lado, apesar de o Serviço ter a dotação de técnicos auxiliares de saúde preconizada pela OE, há um considerável nível de absentismo desse grupo profissional”, refere.

A enfermeira valoriza a metodologia de trabalho de estabelecer um enfermeiro de referência para cada doente admitido, acompanhando-o desde o início ao fim do internamento, o que considera ser “uma filosofia e organização de trabalho e um dos valores do Serviço que se refletem na qualidade dos cuidados prestados”.

Sendo as especializações em Enfermagem Médico-Cirúrgica na vertente de doente crítico e em Enfermagem de Reabilitação aquelas

que Ana Paula Almeida considera mais adequadas à tipologia de cuidados prestados a estes doentes, lamenta que só nove dos enfermeiros do Serviço é que tenham uma delas. Com efeito, para além de si, há sete outros elementos especialistas em Médico-Cirúrgica e apenas um em Reabilitação.

Não tem dúvidas de que “o facto de a formação especializada em Enfermagem ser feita com base no tempo, esforço financeiro e sacrifí-

cio dos próprios, com repercussões na sua vida pessoal e profissional, é um grande entrave a que mais enfermeiros invistam na sua formação”.

Apesar de gostar muito da função que exerce, Ana Paula Almeida admite não ser um desafio fácil: “É difícil e cada vez mais surgem outros desafios.” A diferente perspetiva das novas gerações face à profissão e o redimensionamento dos serviços desde o surgimento da pandemia são algumas das dificuldades que surgiram nos últimos tempos.

“Sempre associámos à profissão de Enfermagem os conceitos de dedicação, entrega, união e resiliência e o paradigma tem vindo a mudar com as alterações geracionais. Os colegas mais novos valorizam agora muito mais a sua vida pessoal”, refere.

Também por esse motivo, “as instituições debatem-se atualmente com dificuldades de recrutamento e de fixação de recursos humanos, porque muitos preferem trabalhar consoante a sua disponibilidade e não vincular-se às exigências da instituição”. Tal realidade ficou adensada com “o boom de emigração de enfermeiros para países como França, Inglaterra, Alemanha e Suíça”.

contacto presencial, telefónico ou digital entre a equipa e o doente, para verificar se este continua a seguir as normas aprendidas, nomeadamente de exercício, nutrição e gestão de stress, de forma autónoma e contínua, quando deixa o centro de reabilitação, para que o benefício do programa se mantenha, desde logo, ao nível da diminuição do risco de ocorrência de novos eventos e diminuição de mortalidade”. Luísa Bento soma 64 anos de vida e formou-se pela FMUL. Após ter realizado o internato de formação geral no Hospital de Santa Maria, iniciou a formação específica em Cardiologia no Hospital de São Bernardo, em Setúbal. Lamenta que “o investimento dos hospitais na reabilitação cardíaca seja ainda muito escasso, quando a

Luísa Bento lamenta que “o investimento dos hospitais na reabilitação cardíaca seja ainda muito escasso, quando a sua mais-valia é indiscutível”.

Por outro lado, “tendo os enfermeiros do Serviço de Cardiologia competências muito diferenciadas, em urgência e emergência e em relações humanas, pela sua intervenção avançada num âmbito life-saving e a sua intervenção na capacitação do doente, ao longo do internamento, perspetivando ganhos em saúde, em 2020, com a pandemia de covid-19, muitos foram mobilizados para serviços como a Urgência e a UCI”.

Acontece que “alguns ainda não regressaram aos locais de origem, até porque muitos serviços de UCI foram redimensionados para poderem responder às necessidades da demanda da comunidade, enquanto outros, desagradados com a mobilização, deixaram a sua instituição, acentuando as dificuldades de recrutamento”.

Licenciada em Enfermagem pela Escola Superior de Enfermagem Francisco Gentil, Ana Paula Almeida tem especialização em Enfermagem Médico-Cirúrgica na vertente do doente crítico e três pós-graduações: em Gestão Hospitalar e Serviços de Saúde, em Liderança e Serviços de Saúde, e em Sistemas de Informação em Enfermagem.

sua mais-valia é indiscutível”, acrescentando que “tal postura resulta, sem dúvida, da falta de interesse político e científico nesta área”.

Cristina Dantas Martins: a evolução da intervenção desde a doença coronária à doença cardíaca estrutural

Cristina Dantas Martins é, desde outubro de 2023, coordenadora adjunta da Intervenção Coronária na Unidade de Cardiologia de Intervenção do HGO. Avaliando a atuação da equipa nesse âmbito, sublinha: “O tratamento das artérias coronárias que oferecemos aos nossos doentes está alinhado com os melhores padrões e práticas adotados a nível internacional. Fazemos angioplastia complexa em cenários de alto risco.” Já há muitos anos que o HGO é um dos hospitais que tratam o enfarte através da Via Verde Coronária, funcionando todos os dias, ininterruptamente. Paralelamente, “a equipa demonstra “uma preocupação constante no ensino das novas gerações de cardiologistas de intervenção e a participação em ensaios clínicos internacionais é uma prática comum da Unidade”.

Luísa Bento

Enquanto, “inicialmente, a equipa estava mais dedicada ao tratamento dos doentes com cardiopatia isquémica, em contexto de angina estável e instável e enfarte”, a médica refere que, “na última década, tem realizado também intervenções estruturais, como o encerramento do apêndice auricular e de foramen ovale patente, encontrando-se a iniciar um programa de substituição da válvula aórtica, através da artéria femoral”.

Além dos quatro cardiologistas de intervenção, pela Sala de Hemodinâmica vão passando sempre internos de Cardiologia e alunos de Medicina.

A cardiologista é ainda responsável pela área da desnervação renal no HGO, que caracteriza como “um terceiro pilar para o tratamento da HTA, além dos fármacos e da modificação

do estilo de vida”. Na realidade, “este procedimento minimamente invasivo é uma resposta para os doentes que apresentam resistência à terapêutica médica ou efeitos secundários associados aos fármacos”.

Cristina Dantas Martins, de 55 anos, formou-se pela FMUL e foi a primeira interna de Cardiologia do HGO. Durante esse período, apaixonou-se pela Cardiologia de Intervenção, o que a tem levado a trabalhar

praticamente sempre na Sala de Hemodinâmica.

Rita Calé Theotónio: aumentar o acesso sem comprometer a segurança dos procedimentos de intervenção estrutural

Rita Calé Theotónio é uma das médicas da Unidade de Cardiologia de Intervenção do HGO. Testemunha da evolução da Unidade, recorda que as duas primeiras técnicas de intervenção estrutural realizadas remontam a 2014 e 2016, com o encerramento de foramen ovale patente (FOP) e o encerramento percutâneo do apêndice auricular esquerdo (AAE), respetivamente.

Em maio de 2023, foi realizado o primeiro implante percutâneo da válvula aórtica. “Temos vindo a percorrer um caminho no sentido de realizar técnicas de intervenção estrutural mais diferenciadas, para aumentar a acessibilidade dos doentes da nossa região a estas técnicas e evitar iniquidades a nível nacional”, justifica. Em simultâneo, o tratamento em proximidade “oferece maior conforto aos doentes e facilita a própria organização do programa”.

À semelhança do que sucedeu com os primeiros casos de FOP e de encerramento do AAE, a equipa tem contado com a mentoria de profissionais de outros laboratórios de hemodinâmica com muita experiência.

No caso da implantação de válvula aórtica percutânea (TAVI), tem tido o suporte de operadores do Hospital de Santa Cruz (HSC), uma vez que o HGO não tem a valência de Cirurgia Cardíaca, onde são habitualmente realizados os procedimentos de intervenção estrutural valvular. Estes têm, por isso, sido feitos na presença de cardiologistas de intervenção e cirurgiões cardíacos do HSC.

Reconhecendo, contudo, que “a formação das equipas é muito importante e deve começar antes do início destes processos”, Rita Calé Theotónio partilha que diversos elementos da Hemodinâmica do HGO têm, desde há três anos, feito formação regular semanal no HSC.

“Queremos aumentar a acessibilidade sem nunca comprometer a máxima segurança do doente – que é o mais importante – e, na nossa experiência inicial, os resultados foram bons, sem complicações major”, sublinha.

A cardiologista destaca a importância de a indicação cirúrgica ser feita e discutida em equipa multidisciplinar. No caso da TAVI, mensal ou bimestralmente, desde há cinco anos, os doentes propostos são discutidos na presença do doente e dos seus familiares com cardiologistas clínicos, de intervenção e de imagem do HGO e com um cirurgião cardíaco do HSC, para, “de forma organizada, verificar

a utilidade das intervenções e recomendar ao doente a abordagem terapêutica que a equipa considerar ser a mais adequada para o seu caso”.

Rita Calé Theotónio lamenta que, muitas vezes, “a porta de entrada dos doentes com estenose aórtica para intervenção valvular seja a Urgência, quando o tratamento devia ser feito antes de descompensarem”. E adianta que “acontece frequentemente serem internados já com insuficiência cardíaca, sendo intervencionados nesse contexto”.

Esclarece que, nesta fase de crescimento em que o programa ainda se encontra, “há uma cuidadosa seleção dos doentes que podem ser tratados num centro mais periférico, atendendo ao risco do procedimento com base nas suas características clínicas e anatómicas, sendo a maioria tratada ainda em Santa Cruz”.

Rita Calé Theotónio, de 43 anos, concluiu o curso de Medicina em 2004, na Faculdade de Ciências Médicas da UNL. Realizou o internato da especialidade no então CH de Lisboa Ocidental, tendo feito parte da formação no HSC.

Ernesto Pereira: o papel significativo do cardiopneumologista na Cardiologia de Intervenção

No seio da Cardiopneumologia, Ernesto Pereira interessou-se desde cedo pela Cardiologia de Intervenção. Começou por trabalhar durante sete anos no Hospital de Santa Marta, onde conheceu Hélder Pereira, e acabou por acompanhá-lo na sua transição para o HGO, em 1994. Desde então, têm trabalhado a par, num ambiente de “grande complementaridade e entreajuda, quer na organização do serviço, quer na realização dos procedimentos”, em que participa como segundo operador.

“Para mim, foi um privilégio ter tido essa oportunidade. Além de ajudarmos no processo de intervenção, vamos discutindo as questões com o cardiologista de intervenção e participamos mesmo na tomada de decisão, o que não acontece em todos os centros. Aqui, todos temos uma voz que é considerada”, refere.

Para além de si, o Serviço conta com mais cinco cardiopneumologistas de intervenção, três na eletrofisiologia e 11 nos exames não invasivos. Ernesto Pereira destaca como essencial do trabalho “a equipa e a multidisciplinaridade”, salientando a importância do papel dos colegas na colocação e programação de equipamentos e na realização de exames de forma autónoma”.

O profissional realça ainda a importância dos cardiopneumologistas que estão no Serviço de Urgência, cuja competência lhes permite “interpretar autonomamente eletrocardiogramas e identificar situações urgentes, ativando o processo para que os doentes sejam tratados o mais rapidamente possível”.

Doutorado em Gestão Aplicada desde maio de 2023, Ernesto Perei-

SERVIçO EM NúMEROS

RECURSOS hUMANOS (JULhO 2024)

Especialistas: 24

Internos da especialidade: 10

Enfermeiros: 26

Técnicos sup. de diag. e terap.: 21

Técnicos auxiliares de saúde: 17

Assistentes técnicos: 3

ATIVIDADE (2023)

Internamento

Camas: 24 (6 coronários)

Taxa de ocupação: 92,04%

Demora média: 5,36 dias

Doentes saídos: 1495

Consultas Externa

Total: 14.772

Bloco de Exames

Total de MCDT realizados: 38.772

hospital de Dia

Total de sessões: 1388

ra decidiu que a sua tese de doutoramento devia incidir sobre a forma como a iniciativa Stent for Life foi implementada em Portugal do ponto de vista de gestão.

Ernesto Pereira tem 57 anos e é natural de Viseu. O falecimento do seu pai, por enfarte, durante o ensino secundário, motivou a sua entrada no ramo da Saúde. Concluiu o curso de Cardiopneumologia pela Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Lisboa (ESTESL) em 1988. Exerceu funções de docência na ESTESL e na Escola Superior de Saúde Egas Moniz e, desde 2006, leciona na Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa.

Ernesto Pereira
Cristina Dantas Martins
Rita Calé Theotónio

Espaço

Nutrição

Vera Fernandes

Nutricionista Auchan. Responsável de negócio Auchan Cuida. Membro da Ordem dos Nutricionistas n.º 1581N verasofia.fernandes@auchan.pt

Nutrição

e doenças

cardiovasculares

Adoença cardiovascular continua a ser a principal causa de morte em Portugal. Os fatores de risco comportamentais que mais contribuem para estas doenças e AVC são os padrões alimentares desadequados, incluindo o consumo de álcool em excesso; o sedentarismo e o uso de tabaco. A hipertensão arterial (HTA) é o 2.º fator de risco para os anos de vida saudável perdidos e, por sua vez, os maus hábitos alimentares são o 5.º fator.

Tendo em conta os dados acima mencionados, ao falarmos em doenças cardiovasculares, temos necessariamente de abordar o controlo da HTA associada à alimentação como forma de reduzir o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

De forma global, adotar o padrão alimentar da “Dieta Mediterrânica”, em muito semelhante à Dieta DASH, amplamente reconhecida como o padrão alimentar para controlo da HTA, é uma recomendação

de ouro na prevenção de doenças cardiovasculares e no controlo de fatores de risco já instalados, como a HTA.

Neste padrão alimentar, e especificamente associando à prevenção cardiovascular, as recomendações centram-se na limitação de alimentos/nutrientes como carne vermelha, açúcares, sal e lípidos, especialmente saturados; e no incremento da ingesta de alimentos que contribuem com micronutrientes com papel importante na regulação da pressão arterial (como o potássio), com fibra e baixo teor lipídico e/ou com aporte de lípidos sobretudo insaturados, como os hortofrutícolas, grãos integrais, laticínios tendencialmente magros, produtos ricos em proteína como frutos oleaginosos, leguminosas, sementes, carne e peixe.

Recomendações:

– Consumir diariamente e de forma abundante hortofrutícolas frescos ou mesmo congelados – muito importante salientar a importância de haver sempre disponível em casa hortofrutícolas, desmistificando o processamento mínimo destes alimentos. A congelação acarreta um nível de processamento mínimo que em nada coloca em causa o potencial destes alimentos para a saúde. Assim, numa sociedade cada vez mais exigente do ponto de vista do tempo que as famílias conseguem alocar na preparação e confeção alimentar, recorrer a produtos minimamente processados como os congelados, que não têm adição de mais nenhum ingrediente, pode ser um contributo relevante para garantir hábitos alimentares adequados, garantindo presença permanente de hortofrutícolas às refeições, de forma conveniente.

– Foco no consumo de mais produtos naturalmente pobres em sódio, que levará a uma natural redução do consumo de sódio, com menor perceção de restrição – hortofrutícolas, grãos integrais, carnes magras, peixes e laticínios com baixo teor de gordura.

– Substituir as fontes de hidratos de carbono refinadas por integrais (massa e arroz integrais, quinoa...)

– Para pequeno-almoço e refeições intermédias, preferir flo -

cos de aveia e pão de mistura/ integral.

– Aumentar o consumo de leguminosas como fonte proteica principal (reduzindo a quantidade de proteína animal a cada refeição, ou mesmo fazendo refeições apenas de base vegetal, sempre tendo em atenção a não utilização excessiva de gorduras de adição).

– Substituir snacks, como bolachas aperitivas, por frutos oleaginosos e fruta.

– Dar preferência a carnes magras, ovos (sobretudo a sua clara) e a produtos lácteos preferencialmente magros ou bebidas vegetais devidamente fortificadas com cálcio, vit. D e B12 e sem adição de açúcar.

– Diminuir gradualmente o consumo de sal adicionado à preparação das refeições ou como tempero, optando por ervas aromáticas, especiarias, alho, limão e vinagre, para adicionar sabor às refeições.

– Evitar alimentos processados, como fast food . Apesar da recente reformulação dos produtos alimentares em Portugal, que teve lugar entre 2018 e 2021 e que levou a uma redução global de 11,5% (redução que se focou nos principais produtos processados fornecedores de sal como “batatas fritas e outros snacks salgados”, “pizzas” e “cereais de pequeno-almoço”), este grupo continua a ser dos maiores fornecedores de sal na alimentação diária. Havendo consumo, estes devem ser comparados entre si e ser escolhido o que tiver menor teor de sal por porção. É importante avaliar o binómio “teor de sal” e “porção consumida”, pois, mesmo produtos com teor moderado de sódio podem levar a um consumo excessivo de sal se consumidos em grandes quantidades/indiscriminadamente.

ACADEMIA MÉDICA

10 edições a valorizar os médicos

Quase três dezenas de internos de MGF da ULS da Região de Aveiro organizaram, em junho, a Academia Médica 2024.

“A 10.ª edição teve um gosto especial”, reconhece Sofia Carvalho, presidente da CO. Em declarações à Just News, a responsável afirma que “é muito enriquecedor e gratificante contribuir para o crescimento deste projeto, criado por médicos internos que hoje são orientadores de alguns de nós e que continuam a acompanhar e a participar, de uma ou de outra forma, na Academia Médica”.

E acrescenta: “Cremos que o trabalho levado a cabo durante estes anos coloca a Academia Médica como o principal congresso de MGF da Região de Aveiro, permitindo valorizar os médicos de família da região e melhorar a prestação de cuidados aos utentes”.

Organizado pelo Centro Dinamizador de Conteúdos em MGF (CDC.MGF), este projeto acolhe médicos internos e especialistas, em particular de MGF, mas não só.

“Ao longo das suas edições, a Academia Médica tem sido visitada por colegas de outros pontos do

país, permitindo expandir a sua influência além das fronteiras da região de Aveiro. Temos inscrições de outras cidades próximas, como Viseu, Coimbra ou Porto e a participação também de alunos de Medicina”, adianta Tiago Santos, vice-presidente da CO.

Além dos diferentes temas abordados em cada edição, sempre com relevância para a prática clínica em MGF, 2024 trouxe uma novidade,

ULS Almada-Seixal lança CRI-Fertilidade

A ULS de Almada-Seixal (ULSAS) acaba de criar um novo Centro de Responsabilidade Integrado, o CRI-Fertilidade, com o objetivo

que desejam alcançar uma gravidez.

Catorze anos depois do início de atividade do Centro de Inferti-

de melhorar o acesso aos tratamentos de procriação medicamente assistida, atendendo de forma mais célere às necessidades das famílias

lidade e Reprodução Medicamente Assistida (CIRMA) do Hospital Garcia de Orta, este transforma-se agora em CRI, com aumento do

A Urgência Polivalente da ULS do Alentejo Central (ULSAC) iniciou, no princípio do mês de julho, um novo meio de comunicação dirigido ao familiar ou acompanhante do doente que esteja em observação no Serviço. Para o efeito, no momento da admissão do utente, deverá ser indicado o número de telemóvel para contacto, que fica definido como “acompanhante de referência”, para que receba informação sobre o seu atendimento.

Aquele receberá um SMS com a informação em tempo real sobre o momento da triagem, o atendimento médico, a realização de exames e, por fim, a altura da alta. O envio é feito através de uma aplicação parametrizada para o efeito e cada utente poderá, inclusive, ter mais do que um acompanhante de referência para SMS. De referir que todas as informações clínicas serão transmitidas apenas pelos profissionais de saú -

de, que contactarão sempre que necessário.

“A implementação deste novo projeto visa uma maior humanização dos cuidados de saúde. Por outro lado, também o trabalho dos profissionais fica facilitado, pois este automatismo torna mais eficiente a comunicação, tão difícil em contexto de Serviço de Urgência”, realça Luísa Rebocho, diretora clínica dos Cuidados de Saúde Hospitalares da ULSAC.

Foram entregues à USF Vale do Sorraia e à UCC Ponte para a Saúde, através do município de Coruche, duas viaturas elétricas, no âmbito de uma candidatura da ARSLVT ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

O ato contou com a presença de Tatiana Silvestre, presidente do CA da ULS da Lezíria, João Soares Ferreira, diretor clínico para os CSP, Hugo de Sousa e Sérgio Domingos, vogais do CA, e ainda Francisco Oliveira, presidente da CM de Coruche.

A atribuição das viaturas insere-se no processo de aquisição de

viaturas elétricas incluídas no PRR (Investimento RE–C01–i01 – “CSP com mais respostas”), no qual se inclui a meta i1-10, que visa disponibilizar viaturas elétricas para apoio à prestação de cuidados domiciliários nos CS. No total, já foram distribuídas, ao abrigo do referido processo, 11 viaturas a unidades que integram a ULS da Lezíria: Almeirim (1); Alpiarça (1), Chamusca (2), Cartaxo (2), Coruche (2), Salvaterra de Magos (2) e Golegã (1). Prevê-se que muito em breve serão entregues as restantes, em Rio Maior (2) e Santarém (2).

Apoio:
cuida.auchan.pt
USF Vale do Sorraia e UCC Ponte para
Sofia Carvalho e Tiago Santos

família da região de Aveiro

conforme explica Tiago Santos: “Este ano, para a maioria das sessões de auditório, convidámos um orador da especialidade do tema abordado e um orador de MGF, com o intuito de trazer a perspetiva do MF acerca dos temas abordados e discutir casos do nosso dia-a-dia.”

Na sua opinião, os resultados foram bastante positivos, já que “a dinâmica criada foi muito interessante e teve um impacto positivo na qualidade das sessões, permitindo demonstrar a importância da integração de cuidados e da comunicação entre os CSP e os cuidados hospitalares”.

Cancro da próstata: o papel do MF não é apenas referenciar

Uma das sessões foi dedicada à Urologia, com o foco na hiperplasia benigna da próstata e no carcinoma da próstata. Em relação a este último, Sofia Carvalho lembra que “o papel do MF não se limita à referenciação para os cuidados hospitalares”, desenvolvendo a ideia:

“Para além da referenciação de doentes em que existe suspeita de carcinoma da próstata (por elevação do PSA

e/ou toque retal suspeito) e da referenciação urgente de casos em que há suspeita de doença metastizada, cabe ao MF fazer o acompanhamento dos doentes ao longo do processo de tratamento, nomeadamente, participando na vigilância clínica pós-operatória.” E após a alta hospitalar? “É o MF que faz o acompanhamento destes doentes, incluindo o controlo oncológico e a

avaliação de possíveis recidivas.”

Tiago Santos considera que a relevância do MF se explica facilmente, pois, trata-se de “um médico próximo e em quem os utentes confiam. Pode ter um papel preponderante num processo tão desafiante para estes doentes, como na gestão dos efeitos secundários dos tratamentos, mas também fazendo articulação com outros recur-

sos que podem ser benéficos, como o apoio psicológico ou domiciliário”. Entretanto, “Burocracias em MGF” teve a particularidade de ser a única sessão de auditório que contou só com uma palestrante: Inês Rosendo, médica de família na USF Coimbra Centro e professora auxiliar na FMUC. O motivo explica-se “por ser um tema ‘exclusivo’ da nossa especialidade”, refere Sofia Carvalho. Assim, o objetivo desta sessão foi “dar a conhecer as regras e estratégias para lidar com os procedimentos burocráticos mais comuns na especialidade de MGF, como a emissão dos mais diversos tipos de atestados e certificados de incapacidade temporária”.

Foi ainda uma oportunidade para “transmitir algumas dicas para conseguirmos otimizar o tempo que despendemos nestas tarefas burocráticas, que se podem tornar um desafio no dia-a-dia atribulado de um MF”.

“Conseguimos ultrapassar as dificuldades”

“O balanço da Academia Médica 2024 é bastante positivo”, afirma So-

fia Carvalho, indicando que a CO integrou 26 médicos internos de MGF da ULS da Região de Aveiro, de diferentes anos de formação e alocados em unidades de diversos locais da sua área de abrangência, incluindo a cidade de Aveiro e periferia mas também Ovar, Estarreja, Ílhavo e Águeda. Tiago Santos reconhece que, por vezes “foi, de facto, desafiante conciliar as sugestões de todos e manter a coesão”. No entanto, “com um grande espírito de equipa, conseguimos ultrapassar as dificuldades, manter os pergaminhos de qualidade da Academia e oferecer aos participantes um congresso médico de excelência e capaz de elevar a MGF e a prestação de cuidados”. Para além da componente científica, destaca “os momentos de caráter cultural, como o Workshop de Ovos Moles que oferecemos aos participantes, ou o pequeno momento lúdico (com a participação dos autores do Jornal da USF Arco da Velha) que tivemos durante a sessão de encerramento foram muito bem acolhidos pelos participantes, mostrando-se ótimas oportunidades de descontração entre as restantes sessões”.

NOME DO MEDICAMENTO: Edarclor 40 mg + 12.5 mg comprimidos revestidos por película. Edarclor 40 mg + 25 mg comprimidos revestidos por película.

QUALITATIVA E QUANTITATIVA: Edarclor 40 mg + 12.5 mg comprimidos revestidos por película e Edarclor 40 mg + 25 mg comprimidos revestidos por película. Cada comprimido contém 40 mg de azilsartan medoxomilo (sob a forma de potássio) e 12.5 mg ou 25 mg de clorotalidona. comprimidos revestidos por película: Comprimido revestido por película de cor vermelho pálido, redondo (aproximadamente 9.7 mm de diâmetro), biconvexo, com A/C 40/12.5 gravado numa das faces. Edarclor 40 mg + 25 mg comprimidos revestidos por película: Comprimido revestido por película de cor vermelho claro, redondo (aproximadamente 9.7 mm de diâmetro), biconvexo, com A/C 40/25 gravado numa das faces. Edarclor é uma associação de dose fixa indicada em adultos cuja pressão arterial não é adequadamente controlada por monoterapia com azilsartan medoxomilo. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO: Posologia: Adultos: A dose inicial recomendada é de 40 mg + 12.5 mg uma vez por dia em doentes cuja pressão arterial não é adequadamente controlada com monoterapia anti-hipertensiva corrente como Edarbi 40 mg ou Edarbi 80 mg. Se necessário a dose pode ser aumentada para um máximo de 40 mg + 25 mg uma vez por dia. O efeito anti-hipertensor perto do máximo torna-se normalmente evidente ao fim de 1-2 semanas, com os efeitos máximos atingidos às 4 semanas. Populações especiais: Idosos (idade igual ou superior a 65 anos): Não é necessário um ajuste inicial da dose nos doentes idosos; nos doentes muito idosos (≥75 anos), o tratamento deve ser efetuado com precaução e recomenda-se uma monitorização médica apertada. Compromisso renal e Afeção hepática: A clorotalidona, um dos componentes ativos do Edarclor, não deve ser usada em doentes com compromisso renal grave anúria e afeção hepática grave Não há experiência da administração de Edarclor em doentes com transplante renal recente. Não é necessário um ajuste da dose nos doentes com compromisso renal ligeiro ou moderado. É limitada a experiência de utilização em doentes com afeção hepática ligeira a moderada; no entanto não é necessário um ajuste inicial da dose de Edarclor em doentes com afeção hepática ligeira a moderada. Alterações menores do equilíbrio hidro eletrolítico devidas a diuréticos tiazídicos podem precipitar um coma hepático. Recomenda-se monitorização estreita. Depleção do volume intravascular: Edarclor deve ser iniciado sob supervisão médica estreita, apenas após ter sido alcançado um volume correto. Uma resposta hipotensiva temporária devida a depleção de volume não impede que os doentes continuem o tratamento, o qual pode normalmente ser continuado sem dificuldade uma vez estabilizados a pressão arterial e o estado do volume. Insuficiência cardíaca: Recomenda-se precaução em doentes hipertensos com insuficiência cardíaca congestiva dado que não existe experiência de utilização nestes doentes. População de raça negra: Não é necessário um ajuste da dose na população de raça negra. População pediátrica: A segurança e eficácia em crianças e adolescentes dos 0 aos <18 anos de idade não foram ainda estabelecidas. Não existem dados disponíveis. Modo de administração: Via oral e pode ser tomado com ou sem alimentos. dos excipientes. - Gravidez. - Afeção hepática grave. - Compromisso renal grave (TFG <30 mL/min/1.73m2). - Anúria. - Hiponatremia refratária. - Hipercalcemia.Hiperuricemia sintomática. - O uso concomitante de Edarclor com medicamentos contendo aliscireno é contraindicado em doentes com diabetes mellitus ou compromisso renal. EFEITOS INDESEJÁVEIS: Lista tabelada de reações adversas: As reações adversas baseadas nos dados agregados de todos ensaios clínicos de fase 3 são apresentadas em baixo, de acordo com as classes de sistemas de órgãos e termos preferenciais. Estão classificadas por frequência, utilizando a seguinte convenção: muito frequentes (≥ 1/10); frequentes (≥ 1/100, < 1/10); pouco frequentes (≥ 1/1,000, < 1/100); raras (≥ 1/10,000, < 1/1,000); muito raras (< 1/10,000), incluindo notificações isoladas. Dentro de cada classe de frequência, as reações adversas são apresentadas por ordem decrescente de gravidade. Doenças do metabolismo e da nutrição –Reações adversas frequentes: Aumento do ácido úrico no sangue, hiperuricémia. Doenças do sistema nervoso – Reações adversas frequentes: Tonturas, tonturas posturais. Vasculopatias – Reações adversas frequentes: Hipotensão. Doenças gastrointestinais - Reações adversas frequentes: Diarreia, náuseas. Afeções musculosqueléticas e dos tecidos conjuntivos- Reações adversas frequentes:Espasmos musculares. Perturbações gerais e alterações no local de administração - Reações adversas frequentes: Fadiga. Exames complementares de diagnóstico - Reações adversas:muito frequentes: Aumento da creatinina no sangue; Reações adversas frequentes: Aumento da ureia no sangue. Informação adicional sobre os componentes individuais: As reações adversas que se sabe ocorrerem com cada componente administrado isoladamente mas que não foram observadas nos estudos clínicos podem ocorrer durante o tratamento com Edarclor. Clorotalidona: Adicionalmente às reações adversas listadas para o Edarclor, foram notificadas as seguintes reações adversas para a clorotalidona: Doenças do metabolismo e da nutrição - Reações adversas:muito frequentes: Aumento dos lípidos no sangue; Reações adversas frequentes: Hipomagnesemia. Cardiopatias – Reações adversas frequentes: Hipotensão postural. Doenças gastrointestinais –Reações adversas frequentes: Perda de apetite, desconforto gastrointestinal menor. Afeções dos tecidos cutâneos e subcutâneos – Reações adversas frequentes: Urticaria. Doenças dos órgãos genitais e da mama - Reações adversas frequentes: Impotência. Exames complementares de diagnóstico. Creatinina sérica: O tratamento com Edarclor resultou numa maior incidência de aumentos da creatinina sérica, comparativamente com o azilsartan medoxomilo e a clorotalidona. Estes aumentos foram temporários ou não progressivos e reversíveis, e associados com acentuadas reduções da pressão arterial. Ácido úrico: O Edarclor esteve associado a aumentos do ácido úrico sérico. Os aumentos de ácido úrico são dependentes da dose, aumentando com a dose de clorotalidona, embora tenham sido pouco frequentes as notificações de gota nos grupos de tratamento, mesmo nos estudos de longo prazo. Hemoglobina e hematócrito: O Edarclor esteve associado com reduções ligeiras nos níveis de hemoglobina, hematócrito, e na contagem de células vermelhas, consistentes com os efeitos farmacológicos conhecidos dos inibidores do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Experiência pós-comercialização: Foi notificada uma rara incidência de angioedema associado ao uso de Edarclor. Não foram identificadas outras reações adversas nas notificações espontâneas pós-comercialização. Notificação de suspeitas de reações adversas: A notificação de suspeitas de reações adversas após a autorização do medicamento é importante, uma vez que permite uma monitorização contínua da relação benefício-risco do medicamento. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas diretamente ao INFARMED, I.P.: Sítio da internet: http://www.infarmed.pt/web/infarmed/submissaoram (preferencialmente) ou através dos seguintes contactos: Direção de Gestão do Risco de Medicamentos | Parque da Saúde de Lisboa, Av. Brasil 53 1749-004 Lisboa | Tel: +351 21 798 73 73 | Linha do Medicamento: 800222444 (gratuita) E-mail: farmacovigilancia@infarmed.pt DATA DA REVISÃO DO TEXTO setembro 2021. Para mais informações deverá contactar o representante do titular da autorização de introdução no mercado. MSRM. Medicamento comparticipado no escalão B. NOME DO MEDICAMENTO: Edarbi 20 mg comprimidos. Edarbi 40 mg comprimidos. Edarbi 80 mg comprimidos. COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA: Cada comprimido contém 20 mg, 40mg ou 80 mg de azilsartan medoxomilo (sob a forma de potássio). FORMA FARMACÊUTICA: Comprimido branco a esbranquiçado redondo, com 6,0 mm, 7,6 mm ou 9,6 mm de diâmetro; com “ASL” gravado numa das faces e “20”, “40” ou “80” gravado na outra face, para os comprimidos de 20 mg, 40 mg ou 80 mg respetivamente. INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS: Edarbi é indicado para o tratamento da hipertensão essencial em adultos. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO:

Posologia: A dose inicial recomendada em adultos é de 40 mg uma vez ao dia. A dose pode ser aumentada até um máximo de 80 mg uma vez ao dia nos doentes cuja pressão arterial não é adequadamente controlada com a dose mais baixa. O efeito anti-hipertensor perto do máximo torna-se visível ao fim de 2 semanas, com os efeitos máximos atingidos às 4 semanas. Se a pressão arterial não for adequadamente controlada com o Edarbi isoladamente, pode obter-se uma redução adicional da pressão arterial quando o Edarbi é administrado concomitantemente com outros medicamentos anti-hipertensores, incluindo diuréticos e bloqueadores dos canais do cálcio. CONTRAINDICAÇÕES Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes. No segundo e terceiro trimestres da gravidez. O uso concomitante de Edarbi com medicamentos contendo aliscireno é contraindicado em doentes com diabetes mellitus ou compromisso renal (TFG < 60 ml/min/1,73 m2). Edarbi não é indicado para utilização em crianças ou adolescentes com menos de 18 anos de idade. EFEITOS INDESEJÁVEIS: Resumo do perfil de segurança Edarbi nas doses de 20, 40 ou 80 mg foi avaliado em termos de segurança em estudos clinicos com doentes adultos tratados durante até 56 semanas. Nestes estudos clinicos, as reações adversas associadas ao tratamento com o Edarbi foram, na sua maioria, ligeiras ou moderadas, com uma incidência global semelhante ao placebo. As tonturas constituiram a reação adversa mais frequente. A incidência das reações adversas com o Edarbi não foi afetada pelo sexo, idade ou raça. Lista tabelada de reações adversas: As reações adversas baseadas nos dados agregados (doses de 40 e 80 mg) estão classificadas abaixo por frequência. Frequentes (≥ 1/100 a < 1/10): tonturas, diarreia e aumento da creatina fosfoquinase plasmática. Pouco frequentes (> 1/1000, < 1/100): hipotensão, náuseas, erupção cutânea e prurido, espasmos musculares, fadiga e edema periférico, aumento da creatina plasmática e aumento do ácido úrico plasmático. Raras (> 1/10.000, < 1/1000): angioedemas. As reações adversas foram notificadas para a dose de Edarbi 20 mg com uma frequencia semelhante às doses de 40 e 80 mg num estudo controlado por placebo. Notificação de suspeitas de reações adversas A notificação de suspeitas de reações adversas após a autorização do medicamento é importante, uma vez que permite uma monitorização contínua da relação benefício-risco do medicamento. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas diretamente ao INFARMED, I.P. Sítio da internet: http://www.infarmed.pt/web/infarmed/submissaoram

três são de mais

Abrunheira

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