Rui Costa, copresidente das vi Jornadas Multidisciplinares de MGF, fala sobre a apneia do sono, que pode atingir qualquer um, e a tuberculose, com grande evolução no diagnóstico e no tratamento P. 6
RiCARdo GomeS, PReSideNte do eNCoNtRo dA PRimAveRA 2024 dA uSF-AN:
“o que se pretende é analisar o processo de transição para ULS”
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VII Edição
13 a 16 março 2024
Convento de São Francisco | Coimbra
USF Do MoStEiro, ULS DE LoUrES-oDivELAS
JAime CoRReiA de SouSA
Inaugurada em dezembro de 2018, esta Unidade chegou a ter 8 médicos, 8 enfermeiros e 5 secretários clínicos. Atualmente, o número total de profissionais que ali trabalham é de cerca de uma dezena. Para Carla Gouveia, a coordenadora, este é o grande “calcanhar de Aquiles” desta USF.
Rosa de Pinho, presidente da SPH, mostra-se preocupada com a prevalência da hipertensão, que não para de aumentar entre os mais novos
É tempo de reforçar os cuidados aos doentes respiratórios crónicos Nesta edição Especial Allergy & Respiratory Summit 2024 Potencialidade estrutural e técnica subaproveitada por falta de recursos humanos 2024 Centro de Congressos Hotel Sheraton Porto 21 a 23 de março VEJA AQUI A ÚLTIMA EDIÇÃO! www.justnews.pt dos cuidados de saúde primários Publicações Diretor: José Alberto Soares Mensal • Março 2024 Ano XII • Número 122 • 3 euros Helena Pité MGF: a chave para a melhoria significativa do controlo das doenças alérgicas P. 22/23 Bernardo Pessoa Melatonina e doença de Parkinson P. 4 PUB PUB P. 14/17 P. 20/21 Centro de Congressos Hotel Sheraton Porto 21 a 23 de março 2024 Guidelines hipertensão 2023: Highligts para a prática clínica Moderador: Manuel Viana (MGF) Jorge Polónia (MI) | Rosa de Pinho (MGF) | Paulo Pessanha (MGF) Zona Industrial da Abrunheira; Rua da Tapada Grande n.º 2 — Abrunheira • NIF: 500 626 413 Zona Industrial da Abrunheira; Rua da Tapada Grande n.º 2 — Abrunheira • 2710-089 Sintra NIF: 500 626 413 Zona Industrial da Abrunheira; Rua da Tapada Grande n.º 2 — Abrunheira • 2710-089 Sintra NIF: 500 626 413 Zona Industrial da Abrunheira; Rua da Tapada Grande n.º 2 — Abrunheira • 2710-089 Sintra NIF: 500 626 413 QUINTA-FEIRA ● 21 DE MARÇO ● 11h45
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Entrevista
Entrevista
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM
Cuidados de Saúde Primários: a essência de Alma
Pedro melo
Doutor em Enfermagem. Professor adjunto na Escola Superior de Enfermagem do Porto
Ao ler o título deste “Diagnóstico de Enfermagem” pode pensar que vamos falar da alma dos Cuidados de Saúde Primários (CSP), no sentido literal. Não que estejamos muito distantes, mas estamos na verdade a falar na essência de Alma Ata, quando entre 6 e 12 de setembro de 1978 se tomaram decisões essenciais vertidas na primeira de muitas cartas relacionadas com a promoção da saúde ao nível global.
Nesta carta, no seu ponto VI(1), era já uma inovação para o futuro afirmar que
os Cuidados de Saúde Primários “…representam o primeiro nível de contacto dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde” (aqui nota minha, representando quer o setor público, quer privado, quer social), afirmando-se ainda que “…os cuidados de saúde são levados o mais proximamente possível aos lugares onde pessoas vivem e trabalham, e constituem o primeiro elemento de um continuado processo de assistência à saúde ”
Decidi trazer uma reflexão a este conceito fundamental porque, num “Diagnóstico de Enfermagem” anterior, tinha referido a oportunidade que vejo no desenvolvimento das Unidades Locais de Saúde (ULS) e continuo a ter essa convicção. Este “Diagnóstico de Enfermagem” é, contudo, quase uma carta aberta aos Conselhos de Administração das ULS, apelando para que, na organização dos Cuidados de Saúde Primários nas ULS, se garanta o essencial do postulado descrito no parágrafo anterior.
Quando em 2008 foram criados os Agrupamentos de Centros de Saúde (ACeS) e as suas diferentes unidades funcionais, a reforma dos CSP permitiu garantir a diferenciação e especialização dos cuidados de saúde oferecidos aos indivíduos, famílias, comunidades e populações. Neste contexto, cada unidade funcional, em articulação, garantia a sua
missão de Cuidados de Saúde Primários: as Unidades de Saúde Familiar (USF), as Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP), os cuidados especializados aos indivíduos e famílias ao longo do ciclo de vida são garantidos em continuidade.
As Unidades de Cuidados na Comunidade (UCC) permitiram a indivíduos e famílias ter a oportunidade de acesso a cuidados especializados de resposta a níveis de complexidade maiores, desde a saúde materna e obstétrica, infantil e pediátrica, mental e psiquiátrica, de reabilitação e diagnóstico e tratamento de feridas complexas. Mas também houve a oportunidade de garantir cuidados às comunidades como clientes, de uma forma inovadora e potenciadora de respostas especializadas em saúde comunitária e saúde pública nas UCC.
As Unidades de Recursos Assistenciais Partilhados (URAP) permitiram integrar cuidados como a Psicologia, a Nutrição ou o Serviço Social, com respostas à referenciação dos profissionais das outras unidades funcionais. E não podemos esquecer as Unidades de Saúde Pública (USP), que oferecem cuidados especializados altamente diferenciados às populações, garantindo também um cuidado essencial para a sustentabilidade: o planeamento em saúde.
Em 2024, com a criação das novas ULS, os ACeS foram diluídos na orgâni-
ca geral das mesmas. E não considero mal, como já o tinha afirmado. Mas importa garantir, no arquétipo da gestão de todas as estruturas nas ULS, que não se perde a essência dos CSP, com todas as suas unidades funcionais e acesso a cuidados especializados e diferenciados aos indivíduos, famílias, comunidades e populações. Deste modo, por exemplo, as Unidades de Cuidados na Comunidade devem ser parte integrante da Gestão dos CSP e não outra coisa qualquer, arrumada num outro contexto separado da essência descrita há pouco.
Os cuidados continuados integrados e os cuidados paliativos de âmbito comunitário não devem também ser separados de uma gestão integrada nos CSP, pois, arriscam-se a tornar-se equipas hospitalares domiciliárias, que não são a mesma coisa que equipas comunitárias especializadas. Sei bem que pode parecer o mesmo, mas é como o trigo e o joio, semelhantes na forma, mas diferentes na essência.
As Unidades de Saúde Pública, compreendendo o potencial com que são olhadas numa perspetiva de gestão orientada para algo integrado entre hospital e CSP, não devem perder a sua qualificação de unidades diferenciadas dos CSP. Eventualmente, poderá haver um departamento global que integre as USP, mas estas não devem perder o seu sentido de unidades prestadoras de cuidados
diferenciados às populações. O planeamento em saúde é um cuidado de saúde, a gestão de programas e projetos em saúde é um cuidado de saúde, a vigilância epidemiológica é um cuidado de saúde e, como tal, não podem ser comparados a gestão de serviços, diferente de gestão de cuidados.
Estamos a falar de um assunto muito sério quando falamos na integração de cuidados e na valorização dos CSP nesta integração com os cuidados hospitalares nas ULS. Como tal, não se pode gerir um processo que seja perverso para a saúde dos cidadãos e cidadãs em Portugal. O núcleo central da ideia é fantástico, mas as células que o envolvem têm de ser dotadas de conhecimento, responsabilidade e sabedoria, para não metastizar o SNS, fossilizando os CSP.
Estamos a tempo de potenciar ULS focadas nos clientes e não em interesses corporativos, pois a integração de cuidados exige hospitais com cuidados de excelência e CSP com excelência de cuidados. Vale a pena ter atenção a tudo isto.
Referência:
1.Declaração de Alma-Ata. Conferência Internacionalsobrecuidadosprimáriosdesaúde;6-12 de setembro 1978; Alma-Ata; USSR. In: http:// portal.anmsp.pt/05-PromocaoSaude/Dec_Alma-Ata.htm,consultadoa23/02/2024.
deveu-se muito ao empenho da sua Comissão Científica, que agregou especialistas de Medicina Geral e Familiar, Imunoalergologia e Pneumologia: Rita Aguiar (Imun.), Carlos Alves (Pneum.), Helena Pité (Imun.), Mário Morais de Almeida (Imun.), Rui Costa (MGF), Cláudia Vicente (MGF), Eurico Silva (MGF) e, ausente na foto, Jaime Correia de Sousa (MGF).
2 | Jornal médico
Março 2024
diretor: José Alberto Soares redação: Miguel Anes Soares, raquel Braz oliveira Fotografia: Nuno Branco, Nuno Cruz publicidade: Ana Mota, Diogo varela diretor de produção Gráfica: José Manuel Soares diretor de multimédia: Luís Soares morada: Alameda dos Oceanos, Nº 25, E 3, 1990-196 Lisboa Jornalmédicoé uma publicação híbrida da JustNews de periodicidade mensal, dirigida a profissionais de saúde, isenta de registo na ERC, ao abrigo do Decreto Regulamentar 8/99, de 9/06, Artigo 12º nº 1A Tiragem: 12.000 exemplares preço: 3 euros depósito Legal: 355.701/13 Notas: 1. A reprodução total ou parcial de textos ou fotografias é possível, desde que devidamente autorizada e com referência à JustNews. 2. Qualquer texto de origem comercial eventualmente publicado neste jornal estará identificado como “Informação”. Publicações geral@justnews.pt agenda@justnews.pt Tel. 21 893 80 30 www.justnews.pt Siga-nos just news O êxito do
JoRNALmÉdiCo
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Jornal médico | 3 Março 2024 C M Y CM MY CY CMY K PUB_14SIMP_264x340.pdf 1 2024.01.24 12:35
opinião
melatonina e doença de Alzheimer
Bernardo Pessoa
Médico de família. Coordenador da USF Lauroé, ULS do Algarve
Portugal apresenta uma taxa de incidência das demências na população de 1,7%, superior à média europeia (1,55%). São cerca de 183 mil pessoas já diagnosticadas, 130 mil das quais com Alzheimer. Os valores explicam-se pelo facto de Portugal ser um dos países mais envelhecidos da Europa.
A doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa progressiva que afeta principalmente a memória, mas também o pensamento e o comportamento. É a forma mais comum de demência e afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Embora a causa exata da doença de Alzheimer ainda seja desconhecida, vários fatores têm sido associados ao seu desenvolvimento, incluindo a disfunção do sono e a diminuição dos níveis de melatonina.
Espaço
Frequentemente conhecida como a “hormona do sono”, a melatonina é produzida pela glândula pineal no cérebro, principalmente durante a noite. Ela desempenha um papel crucial na regulação do sono e do ritmo circadiano, que é o ciclo de 24 horas que governa os processos fisiológicos do corpo.
Além dos efeitos relacionados com o sono, a melatonina tem vindo a ser cada vez mais estudada por demonstrar benefícios noutros processos fisiológicos, tais como o sistema imunitário e o sistema nervoso central, ou na redução do stress oxidativo.
Estudos têm mostrado que os níveis de melatonina diminuem com o envelhecimento, o que pode contribuir para a disfunção do sono e o aumento do risco de desenvolvimento da doença de Alzheimer. A disfunção do sono é comum em pessoas com esta doença e pode incluir insónia, fragmentação do sono e inversão do ritmo circadiano. Acredita-se que a diminuição da produção de melatonina esteja relacionada com tal disfunção, pois, esta hormona desempenha um papel crucial na regulação do sono e na manutenção de um ritmo circadiano saudável.
Além disso, estudos em animais têm mostrado que a administração de melatonina pode estar relacionada com efeitos benéficos na prevenção e tratamento da doença de Alzheimer. Tem sido também
Nutrição
Desnutrição na DPOC
Cátia Gouveia miguel
Nutricionista Auchan. Especialista em Nutrição Comunitária e Saúde Pública. Membro da Ordem dos Nutricionistas n.º 1757N catiaalexandra.miguel@auchan.pt
associada à redução da formação de placas de beta-amiloide, que são uma característica patológica da doença de Alzheimer. Essas placas são formadas pela acumulação de proteínas beta-amiloide no cérebro e são tóxicas para as células cerebrais, levando à degeneração e consequente morte celular.
Estudos têm mostrado que os níveis de melatonina diminuem com o envelhecimento, o que pode contribuir para a disfunção do sono e o aumento do risco de desenvolvimento da doença de Alzheimer.
A melatonina tem sido igualmente associada à redução da formação de redes neurofibrilares, que são outra característica patológica da doença de Alzheimer. Esses emaranhados são formados pela acumulação de uma proteí-
na chamada tau hiperfosforilada, que é importante na função normal das células cerebrais.
Sabemos hoje que a melatonina tem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, que podem ajudar a proteger o cérebro contra danos oxidativos e inflamação, ambos associados à doença de Alzheimer. Acredita-se que essas propriedades da melatonina possam ajudar a prevenir a progressão da doença e melhorar os sintomas em pessoas com Alzheimer.
É importante referir que a melatonina não é uma cura para a doença de Alzheimer e o seu papel no tratamento da mesma ainda não está totalmente esclarecido. Mais estudos serão necessários para entender melhor a sua relação com esta doença e assim determinar a sua eficácia como uma opção de tratamento.
No entanto, podemos adotar algumas práticas para estimular a produção natural de melatonina e potenciar os benefícios do sono. Ir para a cama sempre à mesma hora e adotar uma rotina para adormecer; dormir num quarto escuro, fresco e sem ruídos; evitar a exposição a ecrãs antes de deitar; consumir alimentos ricos em triptofano (caju, queijo, amêndoas, leite) são alguns dos hábitos que todos podemos adotar e que demonstraram potenciar a produção e libertação circadiana desta importante hormona.
Sabemos hoje que a melatonina tem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, que podem ajudar a proteger o cérebro contra danos oxidativos e inflamação, ambos associados à doença de Alzheimer.
Em conclusão, a melatonina desempenha um papel crucial na regulação do sono e do ritmo circadiano e a sua diminuição com o envelhecimento está relacionada com a disfunção do sono e o aumento do risco de desenvolvimento da doença de Alzheimer. No entanto, mais pesquisas são necessárias para entender melhor a relação entre a melatonina e esta doença e determinar o seu papel na prevenção e tratamento da mesma.
A doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) é caracterizada por sintomas respiratórios persistentes e limitação do fluxo aéreo devida a alterações das vias aéreas e/ou alveolares que levam a uma substancial incapacidade, diminuição e limitação da qualidade de vida e risco acrescido de morte prematura.
A evolução da DPOC e o estado nutricional dos pacientes estão interligados e influenciam-se mutuamente.
Por um lado, a evolução da DPOC está associada a um conjunto de fatores que potenciam a depreciação do estado nutricional e podem levar à perda de peso e de massa muscular que, em muitos casos, pode evoluir para quadros de caquexia. Isto resulta num desequilíbrio entre o aporte e o gasto energético, quer pelo aumento deste último, quer pela redução da ingestão alimentar. O aumento do gasto energético está relacionado com a inflamação sistémica, o hipermetabolismo (aumento do gasto energético em repouso e do turnover proteico)
e com um maior gasto de energia na contração muscular, decorrente da ineficiência mecânica e metabólica.
Estima-se que indivíduos com DPOC podem necessitar de cerca de 20% mais suplementação energética do que indivíduos sem esta doença, o que é um objetivo difícil de atingir já que, na maioria dos casos, a ingestão alimentar está reduzida face à ingestão basal, devido à falta de apetite, disfagia e dismasesia decorrentes da dispneia, tosse, secreção e cansaço.
Por outro lado, a depreciação do estado nutricional está associada a um pior prognóstico da doença, aumentando o risco de infeções e levando à diminuição da massa muscular associada a danos respiratórios e funcionais e à redução da força e resistência musculares, que têm como consequência a baixa adesão ao exercício físico.
Torna-se, por isso, evidente a necessidade de existir um acompanhamento nutricional eficiente e capaz de modificar e reverter
este quadro. Como em qualquer caso, a terapêutica nutricional deve ser adaptada à condição do doente e às suas necessidades nutricionais específicas, contudo, parece ser claro o benefício de um correto aporte proteico, em especial de proteínas com alto teor em aminoácidos essenciais, que promovam o aumento do anabolismo proteico, ajudando a preservar e a aumentar a massa muscular. Recomenda-se a ingestão proteica de 1 a 1,5 g/kg de peso/dia.
Reconhecendo que a inflamação e o stresse oxidativo desempenham um papel no desenvolvimento da DPOC, o aumento da ingestão de frutas e hortícolas deve ser incentivado, por forma a garantir o aporte de micronutrientes. Tendo em conta possíveis dificuldades em aumentar a ingestão alimentar, podem ser adotadas algumas estratégias nutricionais, nomeadamente: ingerir primeiro os alimentos mais energéticos, procurar ir ao encontro das preferências alimentares do paciente, aumentar o fracionamento da
dieta, evitar alimentos que promovam a flatulência e/ou retardamento do trânsito intestinal, limitar a ingestão de líquidos durante as refeições (beber somente após uma hora) e dar preferência a alimentos frios. Nos casos de dispneia e fadiga, recomenda-se descansar e usar broncodilatadores antes das refeições, mastigar lentamente e descansar entre porções alimentares. Se, ainda assim, não for possível atender às necessidades nutricionais do paciente através da alimentação, poderá ser necessária a utilização de suplementos alimentares.
Apoio:
auchaneeu.auchan.pt/vidasaudavel/
4 | Jornal médico Março 2024
Plano Nacional de Saúde 2030
O Plano Nacional de Saúde (PNS) 2030, coordenado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), foi divulgado a 21 de fevereiro de 2024, marcando, assim, o início da sua implementação.
O PNS é um instrumento essencial de governação em saúde. O PNS 2030 estabelece as orientações estratégicas da política de saúde, com vista a reduzir as desigualdades e a aumentar o bem-estar da população em todo o ciclo de vida.
O PNS tem por foco a saúde sustentável, em alinhamento com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. O documento define metas até 2030 ao nível da promoção da saúde, prevenção da doença e melhoria do estado de saúde da população.
O grande desafio será combinar os diversos intervenientes na execução das medidas, fazendo o melhor uso dos recursos disponíveis, refletindo os compromissos previstos no âmbito da promoção de comportamentos saudáveis, em todos os contextos e em todas as fases da vida.
O
PNS tem por foco a saúde sustentável, em alinhamento com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
De seguida, identificam-se as principais prioridades contidas no PNS:
1. Proporcionar a cada criança o melhor início de vida;
2. Prevenir todas as formas de violência interpessoal;
3. Proteger ativamente as populações que vivem em situação de maior vulnerabilidade;
4. Ter como objetivo a eliminação das mortes preveníveis e prematuras, designadamente as relacionadas com o cancro e as doenças cerebrocardiovasculares;
5. Preparar o país para responder às emergências em saúde;
6. Garantir a efetiva participação da comunidade;
7. Modernizar o contributo e a extensão das funções da saúde pública;
8. Readequar as competências e a dimensão da força de trabalho em saúde; e
9. Identificar as capacidades de liderança em saúde global.
Poderá ler mais sobre este assunto ou consultar o PNS no site da DGS, em www.dgs.pt.
médicos internos da uLS de Coimbra organizam 1.º mGF Summit
Um grupo de médicos internos da ULS de Coimbra vai realizar, dias 2 e 3 de maio, o MGF Summit, um evento dirigido à Medicina Geral e Familiar, com “principal enfoque na prática clínica”.
A reunião, que conta com o apoio da Associação Portuguesa de Telemedicina, decorrerá em formato online e visa “colmatar algumas das maiores dificuldades e desafios na gestão do doente com que se
deparam no dia-a-dia os médicos de família”.
Acrescenta ainda a Comissão Organizadora que, “reconhecendo a importância de criar ciência, haverá a apresentação de
trabalhos em formato póster ou comunicação oral nas tipologias de Investigação, Relato de Caso, Melhoria Contínua da Qualidade, Revisão de Tema e Intervenção”. Contacto: jornadasmgfsummit@gmail.com
Jornal médico | 5 Março 2024 Notícias
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“A apneia do sono pode atingir qualquer faixa etária, da criança ao idoso”
A síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS) vai estar em destaque na mesa-redonda das próximas Jornadas Multidisciplinares de MGF dedicada às doenças respiratórias. Um dos moderadores da sessão será o médico de família Rui Costa, copresidente do evento. As alterações pulmonares em imagens e a tuberculose serão outras temáticas em foco.
“O médico de família tem que estar atento para identificar possíveis casos de apneia do sono e encaminhá-los para confirmação do diagnóstico e tratamento adequado”, sublinha Rui Costa, chamando a atenção para as comorbilidades que àquela patologia estão frequentemente associadas. “É um tema interessante e importante para a prática clínica diária dos nossos colegas dos CSP e que não é tão falado como se calhar devia ser”, acrescenta.
Os sinais de alerta são vários, desde logo quando se verifica que a pessoa sente mais sono durante o dia do que o habitual e adormece em situações tão comuns como a ler um livro ou a ver televisão. “Em formas mais graves, tal até pode acontecer quando conduz e originar um acidente de viação”, refere Rui Costa. Entretanto, com a impossibilidade de um
Alterações pulmonares em imagens
Ajudar a analisar imagens radiológicas ou de TAC de situações clínicas mais comuns e típicas – vai ser esse o contributo de Daniela Machado, pneumologista da ULS de Gaia-Espinho, ao participar na mesa-redonda sobre doenças respiratórias.
“A interpretação dessas imagens vai-nos permitir fazer uma atualização dos principais padrões radiológicos que aparecem mais na atividade do dia-a-dia, para, no fundo, capacitar melhor o médico de família no processo de diagnóstico da doença”, considera Rui Costa.
sono reparador, surge um cansaço diurno que se prolonga no tempo.
“A apneia do sono pode atingir qualquer faixa etária, da criança ao idoso”, esclarece o médico, adiantando que o doente com SAOS acorda muitas vezes com a sensação de não ter descansado o suficiente, ou até desperta de forma repentina, ofegante, sentindo-se sufocado. Na lista dos sinais que apontam para uma situação de apneia do sono está a dor de cabeça matinal, a dificuldade de concentração, a falta de memória, assim como a alteração de rendimento no trabalho ou na escola.
“Mas também sabemos que as pessoas com um pescoço muito largo ou com obesidade têm uma maior probabilidade de sofrer de SAOS. Há depois doenças que favorecem o seu aparecimento. Metade das vítimas de AVC tem apneia do sono, sendo esta igualmente comum entre a população idosa com fibrilhação auricular, por exemplo”, lembra o médico de família Rui Costa, que coordenou, até há pouco tempo, o Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias (GRESP) da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar
Por outro lado, salienta, “a apneia do sono também aumenta a probabilidade de a pessoa vir a sofrer, nomeadamente, de hipertensão arterial, diabetes, arritmia, insuficiência cardíaca, ou ser vítima de um AVC”.
Caberá à pneumologista Marta Drummond, responsável pela Consulta do Sono no Hospital de São João, no Porto, e que vai pela primeira vez participar nas Jornadas Multidisciplinares de MGF, desenvolver o tema da apneia do sono. Não deixará, com certeza, de se referir à importância da polissonografia como o exame capital não só para se confirmar o diagnóstico de SAOS mas também para
avaliar o grau de gravidade da doença, exigindo a realização do mesmo a referenciação do caso para a consulta hospitalar.
“A tuberculose ainda existe, mas o diagnóstico e o tratamento evoluíram radicalmente”
A pneumologista Inês Ladeira, da Unidade Local de Saúde de Gaia-Espinho, vai estar presente nas Jornadas para falar de tuberculose e, pelos vistos, até terá boas notícias para transmitir. Isto apesar de nesta fase pós-covid se ter assistido a um aumento do número de casos – em consequência do confinamento e do uso de máscara – e de continuar a haver muitas situações em que o diagnóstico da infeção é tardio, o que, obviamente, favorece a transmissão do bacilo.
“De facto, a tuberculose ainda existe nos dias de hoje, sendo um dos maiores problemas de saúde a nível mundial, pelo número de casos registados nos países subdesenvolvidos e pelas situações de multirresistência nas regiões mais desenvolvidas. Mas as coisas evoluíram mesmo muito nos últimos tempos, ao nível do diagnóstico e, fundamentalmente, do próprio tratamento, que se prolongava por 6 ou 9 meses, ou até mesmo
“A apneia do sono também aumenta a probabilidade de a pessoa vir a sofrer, nomeadamente, de hipertensão arterial, diabetes, arritmia, insuficiência cardíaca, ou ser vítima de um AVC”, destaca Rui Costa.
um ano, e que agora é de curta duração, até 3 meses”, esclarece Rui Costa, prosseguindo: “Houve uma mudança muito significativa e importa partilhar com a MGF a evolução registada nesta área, essencialmente nos últimos dois anos. E ao conseguirmos encurtar de forma significativa a duração do tratamento estamos a aumentar a adesão à terapêutica, o que é algo crítico quando falamos de uma doença infeciosa com as características da tuberculose.”
Para Rui Costa, “é necessário continuar a suspeitar que à nossa frente possa estar um doente infetado com o bacilo de Koch quando somos confrontados com determinados sintomas”. E enumera o cansaço fácil, a perda de apetite, o emagrecimento, os suores noturnos, uma febre baixa ao final do dia ou à noite e a tosse persistente, por vezes, com sangue na expetoração.
Inscrições presenciais esgotadas
Março chega com a sala do Sheraton Porto esgotada. Sendo as vi Jornadas Multidisciplinares de MGF um evento híbrido, às 1150 inscrições presenciais há que acrescentar, para já, mais um milhar de participantes que fizeram a sua inscrição virtual, o que lhes permite assistir às sessões online
6 | Jornal médico Março 2024
Rui CoStA , CoPReSideNte dAS vi JoRNAdAS muLtidiSCiPLiNAReS de mGF:
Rui Costa: “Há doenças que favorecem o aparecimento da SAoS”
2024 Centro de Congressos Hotel Sheraton Porto 21 a 23 de março VEJA AQUI A ÚLTIMA EDIÇÃO! PUB
Entrevista
Luís Portela distinguido com Prémio universidade de Lisboa 2022
O presidente da Fundação BIAL recebeu o Prémio Universidade de Lisboa 2022, distinção que “reconhece o impacto social, a personalidade inovadora, o empreendedorismo singular e a liderança
PR condecora Fundação BiAL
A Fundação BIAL foi distinguida com uma condecoração de Estado, no ano em que comemora 30 anos da sua criação, em 1994, pela farmacêutica BIAL, em conjunto com o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas.
O Presidente da República entregou, no dia 20 de fevereiro, as insígnias de Membro Honorário da Ordem do Mérito à Fundação BIAL. Os membros do CA da Fundação, Luís Portela (presidente), Daniel Bessa, Nuno Sousa, Miguel Portela e Patrícia Teixeira Lopes, bem como a secretária-geral Paula Guedes, estiveram presentes na cerimónia que decorreu no Palácio de Belém.
A Ordem do Mérito destina-se a galardoar atos ou serviços meritórios praticados no exercício de quaisquer funções, públicas ou privadas, que revelem abnegação em favor da coletividade. De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, “a Fundação BIAL tem demonstrado verdadeiro mérito no impulso ao conhecimento, à ciência, à investigação, ao futuro de todos nós”.
Para Luís Portela, fundador e presidente da Fundação BIAL, “esta distinção constitui um grande estímulo para continuarmos, cada vez mais e cada vez melhor, a procurar apoiar a ciência que se faz em saúde, e a procurar contribuir para que as pessoas tenham mais e melhor conhecimento, mais e melhor saúde, mais e melhor vida”.
Na mensagem que gravou para exibição na cerimónia de entrega do BIAL Award in Biomedicine 2023, que decorreu no mesmo dia em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa felicitou a Fundação BIAL pelo seu 30.º aniversário, destacando “a sua notável trajetória” e manifestando “profunda admiração pelo trabalho realizado, sempre a pensar na promoção e divulgação da excelência na investigação”.
visionária que o tornam influente em Portugal e no mundo, na área da inovação em saúde”.
Este Prémio tem como objetivo distinguir e premiar uma individua -
lidade, de nacionalidade portuguesa ou estrangeira, que tenha contribuído de forma notável para o progresso e o engrandecimento da Ciência e/ou Cultura e para a projeção internacional do
Para o tratamento do jet-lag em adultos
país.
“É com imensa honra e sentido de responsabilidade que recebo esta importante distinção, precisamente no ano em que BIAL celebra os seus 100
anos e a Fundação BIAL assinala três décadas de existência”, sublinha Luís Portela, que em 2021 deixou a presidência da empresa e passou a dedicar-se à Fundação.
Informações essenciais compatíveis com o Resumo das Caracterísitcas do Medicamento Melatonina Pharma Nord 3 mg, comprimidos revestidos por película. Indicações terapêuticas: Tratamento a curto prazo do efeito da diferença horária (jet-lag) em adultos. Posologia: 1 comprimido por dia, durante um máximo de 5 dias. A dose pode ser aumentada para 6 mg (2 comprimidos tomados em conjunto) se a dose padrão não aliviar adequadamente os sintomas. A dose que alivia adequadamente os sintomas deve ser tomada durante o período mais curto possível. A primeira dose deve ser tomada à chegada ao destino, à hora de deitar habitual. Devido ao potencial da ingestão mal programada de melatonina para não ter efeito ou causar efeitos adversos na ressincronização após jet-lag, Melatonina Pharma Nord não deve ser tomado antes das 20:00 h ou após as 04:00 h no destino. Os alimentos podem acentuar o aumento da concentração plasmática de melatonina. A ingestão de melatonina com refeições ricas em hidratos de carbono pode prejudicar o controlo daglicose no sangue durante várias horas. Recomenda-se que não sejam consumidos alimentos 2 h antes e 2 h após a ingestão de Melatonina Pharma Nord. Recomenda-se que não se consuma álcool enquanto se toma Melatonina Pharma Nord. Melatonina Pharma Nord pode ser tomado por um máximo de 16 períodos de tratamento por ano. Uma vez que a farmacocinética da melatonina (libertação imediata) é comparável em adultos jovens e idosos, em geral não são apresentadas recomendações de dosagem específicas para pessoas idosas. A experiência de utilização de Melatonina Pharma Nord em doentes com compromisso renal é limitada. Deve proceder-se com precaução se a melatonina for utilizada por doentes com compromisso renal. Melatonina Pharma Nord não é recomendado em doentes com compromisso renal grave. Não há experiência de utilização de Melatonina Pharma Nord em doentes com compromisso hepático. Dados limitados indicam que a depuração plasmática da melatonina é significativamente reduzida em doentes com cirrose hepática. Melatonina Pharma Nord não é recomendado em doentes com compromisso hepático moderado ou grave. A segurança e eficácia de Melatonina Pharma Nord em crianças e adolescentes com 0 a 18 anos de idade não foram estabelecidas. Melatonina Pharma Nord não deve ser utilizado em crianças com 0 a 18 anos de idade devido a preocupações com a segurança e eficácia. Modo de administração: Via oral. Os comprimidos devem ser engolidos inteiros, com líquidos.
Contraindicações: Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes. Advertências e precauções especiais de utilização: A melatonina pode causar sonolência. Melatonina Pharma Nord deve ser utilizado com precaução se os efeitos da sonolência forem susceptíveis de serem associados a um risco de segurança para o doente. A melatonina pode aumentar a frequência de crises em doentes com convulsões (por exemplo, doentes epilépticos). Os doentes que sofrem de convulsões devem ser informados sobre esta possibilidade antes de utilizar Melatonina Pharma Nord. A melatonina pode promover ou aumentar a incidência de convulsões em crianças e adolescentes com múlt iplo s defeitos neuro lógicos. Relatórios de casos ocasionais descreveram exacerbação de uma doença autoimune em doentes a tomar melatonina.
Não existem dados relativos à utilização de Melatonina Pharma Nord em doentes com doenças autoimunes. Melatonina Pharma Nord não é recomendado em doentes com doenças autoimunes. Dados limitados sugerem que a toma de melatonina próximo da ingestão de refeições ricas em hidratos de carbono pode prejudicar o controlo da glicose no sangue durante várias horas. Melatonina Pharma Nord deve ser tomado pelo menos 2 horas antes ou pelo menos 2 horas após a refeição; idealmente, pelo menos 3 horas após a refeição por pessoas com tolerância significativamente diminuída à glicose ou diabetes. Só existem dados limitados sobre a segurança e eficiência da melatonina em doentes com compro misso renal ou hepático. Melatonina Pharma Nord não é recomendado para utilização em doentes com compromisso renal grave ou compromisso hepático moderado ou grave. População pediátrica: a segurança e eficácia de Melatonina Pharma Nord em crianças e adolescentes com 0 a 18 anos de idade não foram ainda estabelecidas. Melatonina Pharma Nord não deve ser utilizado em crianças com 0 a 18 anos de idade devido a preocupações com a segurança e eficácia (ver secção Interações medicamentosas: A melatonina é principalmente metabolizada pelas enzimas do citocromo hepático P450 CYP1A, principalmente CYP1A2. Por conseguinte, são possíveis interações entre a melatonina e outras substâncias ativas como consequência do seu efeito nas enzimas CYP1A. É indicada precaução em doentes tratados com fluvoxamina, uma vez que este fármaco aumenta os níveis de melatonina (AUC 17 vezes maior e Cmax sérica 12 vezes maior) dado que inibe o seu metabolismo via CYP1A2 e CYP2C19. Esta associação deve ser evitada. É indicada precaução em doentes a tomar 5- ou 8-metoxipsoraleno (5 ou 8-MOP), dado que este fármaco aumenta os níveis de melatonina por inibir o seu metabolismo. É indicada precaução em doentes a tomar cimetidina, uma vez que este medicamento aumenta os níveis plasmáticos de melatonina dado inibir o seu metabolismo via CYP2D.
Deve ter-se precaução em doentes a receber terapêutica com estrogénios (por exemplo, sob a forma de contracetivos ou terapêutica de substituição hormonal), uma vez que os estrogénios aumentam o nível de melatonina dado que inibe o seu metabolismo, principalmente através da inibição de CYP1A2. Inibidores de CYP1A2 (tais como quinolonas) podem aumentar os níveis sistémicos de melatonina. Indutores de CYP1A2 (tais como carbamazepina e rifampicina) podem reduzir as concentrações plasmáticas de melatonina. O tabagismo pode diminuir os níveis de melatonina devido à indução de CYP1A2. A melatonina pode aumentar o efeito sedativo das benzodiazepinas (por exemplo, midazolam, midazolam) e hipnóticos não benzodiazepínicos (por exemplo, zaleplon, zolpidem, zopiclone). Num estudo de terapêutica no jet-lag, a associação de melatonina e zolpidem resultou numa maior incidência de sonolência matinal, náuseas e confusão e diminuição de atividade durante a primeira hora depois de levantar, em comparação com monoterapêutica com zolpidem. População pediátrica: Os estudos de interação só foram realizados em adultos. Gravidez: a quantidade de dados sobre a utilização de melatonina em mulheres grávidas é limitada ou inexistente. A melatonina exógena atravessa prontamente a placenta humana. Os estudos em animais são insuficientes no que respeita à toxicidade reprodutiva. Melatonina Pharma Nord não é recomendado durante a gravidez e em mulheres com potencial para engravidar que não utilizam métodos contracetivos. Amamentação: existe informação insuficiente sobre a excreção de melatonina/metabolitos no leite humano. A melatonina endógena é excretada no leite humano. Os dados farmacodinâmicos/toxicológicos disponíveis em animais mostraram excreção de melatonina/metabolitos no leite. Não pode ser excluído qualquer risco para os recém-nascidos, lactentes e crianças. Melatonina Pharma Nord não deve ser utilizado durante a amamentação. Fertilidade: doses elevadas de melatonina e utilização por períodos mais longos do que os indicados podem comprometer a fertilidade em seres humanos. Os estudos em animais são insuficientes no que respeita aos efeitos na fertilidade. Melatonina Pharma Nord não é recomendado em mulheres e homens que planeiem uma gravidez. Efeitos sobre a capacidade de conduzir e utilizar máquinas: os efeitos da melatonina sobre a capacidade de conduzir e utilizar máquinas são moderados. A melatonina pode causar sonolência e pode diminuir o alerta durante várias horas, pelo que a utilização de Melatonina Pharma Nord não é recomendada antes de conduzir ou utilizar máquinas. Efeitos indesejáveis: sonolência, cefaleias e tonturas/desorientação são as reações adversas notificadas com maior frequência quando a melatonina é tomada a curto prazo para tratar o jetlag. Sonolência, cefaleias, tonturas e náuseas são também as reações adversas notificadas com maior frequência quando foram tomadas doses clínicas típicas de melatonina durante períodos de vários dias a várias semanas por pessoas saudáveis e doentes. Pouco frequentes: irritabilidade, nervosismo, inquietação, sonhos anormais, ansiedade, tonturas, hipertensão, dor abdominal, dor no abdómen superior, dispepsia, úlceras orais, boca seca, náuseas, prurido, erupção cutânea, xerose cutânea, glicosúria, proteinúria, dor torácica, mal-estar geral e peso aumentado. Raros: eucopenia, trombocitopenia, hipertrigliceridemia, humor modificado, comportamento agressivo, desorientação, líbido aumentada, síncope, defeito de memória, síndrome das pernas inquietas, parestesia, acuidade visual diminuída, visão turva, hipersecreção lacrimal, palpitações, afrontamentos, vómitos, flatulência, hipersecreção salivar, halitose, gastrite, anomalias das unhas, artrite, espasmosmusculares, priapismo, prostatite, sede e electrólitos no sangue anormais. RCM aprovado em 21-11-2019 INFARMED Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reacções adversas à Direção de Gestão de Risco de Medicamentos através do sítio da internet: http://www.infarmed.pt/web/infarmed/ submissaoram (preferencialmente) ou através dos seguintes contactos: telefone: 21 798 73 73 Linha do medicamento: 800222444 (gratuita) E-mail: farmacovigilancia@infarmed.pt Titular da autorização de introdução no mercado Pharma Nord Aps, Tinglykke 4-6 DK-6500 Vojens Dinamarca. Representante local do Titular da autorização de introdução no mercado: Distrifarma - Companhia de Distribuição Farmacêutica S.A. Estrada Consiglieri Pedroso, 80, Lt.3, Armazém 1,3 e 12 - Queluz de Baixo 2730-053
Barcarena telefone: 214 346 970.
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Jornal médico | 7 Março 2024
Notícias
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desafios suscitados pelas últimas guidelinesda e encontram resposta positiva na associação azilsartan
Que aplicabilidade na consulta podem ter as guidelines produzidas em 2023 pela European Society of Hypertension (ESH) para a gestão da hipertensão arterial (HTA)? Este foi o mote para o simpósio patrocinado pelo Grupo Tecnimede intitulado “Como traduzir as diretrizes da ESH 2023 na minha prática diária?”, realizado no âmbito do 18.º Congresso Português de Hipertensão e Risco Cardiovascular Global, que se realizou em fevereiro. Do enriquecedor debate, moderado por Rosa de Pinho, presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão, há a destacar uma máxima fundamental: privilegiar associações fixas de comprimido único para a generalidade dos doentes (entre as quais se destaca azilsartan + clorotalidona), logo após o diagnóstico inicial, não só contribui para a redução do risco cardiovascular futuro como para uma melhor adesão terapêutica.
Convidado a analisar as principais novidades introduzidas em 2023 nas guidelines da ESH para a gestão da HTA, Reinhold Kreutz, professor de Farmacologia Clínica e Hipertensão, diretor do Departamento de Farmacologia Clínica e Toxicologia na Charité – Universidade
Reinhold Kreutz:
“É importante iniciar tratamento com terapêutica combinada na maioria dos doentes, com uma toma diária (se possível de manhã) e na forma de comprimido único, de preferência.”
de Medicina de Berlim, immediate past president da ESH e co-chair das referidas normas clínicas, sublinhou o facto de as mesmas comportarem alterações relevantes na gestão inicial da patologia:
“As intervenções nos estilos de vida devem generalizar-se a todos os doentes e o tratamento com fármacos também está recomendado para a grande maioria dos hipertensos. Se for confirmado que o doente tem HTA e risco cardiovascular elevado, não restam dúvidas sobre a necessidade de tratamento com medicamentos de imediato. Já nas pessoas com HTA de grau 1, ligeiramente elevada mas abaixo dos 150/95 mmHg, é possível ponderar no início somente alterações de estilos de vida, mas o profissional de saúde não deve esperar mais de três meses antes de introduzir terapêutica farmacológica, caso não consiga controlar os valores”.
Reinhold Kreutz reforçou que “é importante iniciar tratamento com terapêutica combinada na maioria dos doentes, com uma toma diária (se possível de manhã) e na forma de comprimido único, de preferência”.
Recurso a clorotalidona pode ser extremamente útil nos indivíduos com HTA resistente, independentemente do estádio da doença renal crónica
Outra novidade trazida pelas guidelines de 2023 é a importância de ajustar devidamente os tratamentos em indivíduos com HTA resistente e de acordo com a sua função renal. Assim, o especialista alemão frisou que nos indivíduos com TFGe inferior a 30 ml/min/1,73 m² é possível e recomendável transitar para uma terapêutica combinada tripla com um diurético de ansa e adicionar a clorotalidona.
“Os resultados do estudo CLICK, apresentados no New England Journal of Medicine (Agarwal R. et al, Chlorthalidone for Hypertension in Advanced Chronic Kidney Disease. N Engl J Med. 2021 Dec
30;385(27):2507-2519), mostraram que em indivíduos com doença renal crónica em estádio 4 e HTA resistente, quando introduzimos a toma de clorotalidona no regime terapêutico anti-hipertensivo (que em quase todos os doentes compreendia já três ou quatro fármacos), obtemos uma redução adicional de 10.5 mmHg, em comparação com placebo. Através desta opção, podemos reter neste grupo de doentes a utilidade de um regime de comprimido único, independentemente da progressão da doença renal crónica”, explicou Reinhold Kreutz.
Para melhorar a adesão terapêutica na HTA é crucial apostar nas associações em comprimido único
Um dos obstáculos ao sucesso do tratamento anti-hipertensor apontado pela classe médica desde há muito tempo é o nível de adesão ao tratamento por parte do doente, sobretudo a longo termo. Mas o que pode, na realidade, ser feito para aumentar esse indicador de adesão, tão relevante para se alcançarem valores alvo satisfatórios e uma redução do risco cardiovascular global?
Para Michel Burnier, professor da Faculdade de Biologia e Medicina de Lau-
sana – Suíça, torna-se óbvio, pela interpretação dos dados internacionais disponíveis, que após dois anos de tratamento “um em cada dois doentes hipertensos não toma os fármacos da forma como foram prescritos”.
O nefrologista suíço deixou, no entanto, bem claro que o problema da adesão terapêutica não reside apenas no campo do doente, dos seus comportamentos e contexto socioeconómico, está também dependente da performance do médico. Mas o que podem os profissionais fazer para ajudar a ultrapassar tal dificuldade? Desde logo, reconhecer a necessidade de formação específica dirigida à adesão terapêutica, que já provou em ensaios controlados que tem um efeito muito positivo na resposta dos doentes. Em seguida, aprender a formular as perguntas corretas em consulta.
“Se perguntarmos ao doente se ele toma os medicamentos, quase sempre responderá que sim, mesmo que falhe um em cada dois dias. Não é uma estratégia eficiente de recolha de dados. Mas se, por outro lado, questionarmos quantas vezes não tomou a dosagem prescrita ao longo da última semana, podemos obter uma informação mais rigorosa. Ou seja, a forma como perguntamos faz toda a diferença para o resultado apurado”, defende Michel Burnier.
Um estudo realizado na área da diabetes (Kaplan SH et al, Reducing racial/ /ethnic disparities in diabetes: the Coa-
“Se questionarmos o doente sobre quantas vezes não tomou a dosagem prescrita ao longo da última semana podemos obter uma informação mais rigorosa. Ou seja, a forma como perguntamos faz toda a diferença”, defende Michel Burnier.
ched Care (R2D2C2) project. J Gen Intern Med. 2013 Oct; 28(10):1340–9) comprovou tal evidência, já que apenas 25% dos doentes admitiam ter tomado a medicação menos vezes do que o recomendado, mas 61%, na mesma amostra, indicavam que tinham enfrentado pelo menos uma de nove barreiras a uma adesão terapêutica perfeita, circunstância que comprova a valia de questões abertas em contexto de consulta. Outra abordagem possível é
8 | Jornal médico Março 2024 informação
18.º CoNGReSSo PoRtuGuêS de HiPeRteNSão e RiSCo CARdiovASCuLAR GLoBAL
Reinhold Kreutz
michel Burnier
azilsartan + clorotalidona
a de agendar revisões periódicas de medicação com o paciente.
“Pode ser uma estratégia muito útil e, na realidade, faz parte das responsabilidades dos profissionais de saúde dedicar tempo a esta tarefa”, testemunhou o professor da Faculdade de Biologia e Medicina de Lausana.
Em complemento, é essencial perceber o que os doentes pensam sobre esta problemática, que os afeta diretamente. Num inquérito promovido pela ESH junto dos doentes em 2022, a proposta mais consensual para a melhoria da adesão (escolhida por 57% dos inquiridos) foi a prescrição de associações terapêuticas em comprimido único, o que demonstra que os pacientes valorizam o facto de tomarem menos comprimidos. Mas esta não é uma mera questão de sensibilidade subjetiva.
Um estudo aflorado por Michel Burnier (Roland E. Schmieder et al, Hypertension, 2023; 80: 1127-1135), focado na persistência terapêutica, mostrou que para quatro tipos diferentes de associações de anti-hipertensores a opção de comprido único garantia sempre maior proporção de doentes sem falha terapêutica após 12 meses de tratamento (num intervalo entre os 70 e os 75%), por comparação com a alternativa de comprimidos múltiplos (com intervalo de cumpridores entre os 26 e os 49%).
Associação azilsartan + clorotalidona vai ao encontro das exigências das guidelines da ESH
Fernando Pinto, assistente graduado sénior de Cardiologia na ULS de Entre Douro e Vouga (ULSEDV), lembrou que
caso se siga a recomendação das guidelines ESH, as quais determinam a introdução de uma associação fixa de um inibidor da conversão da enzima da angiotensina (iECA) ou um antagonista dos recetores
um modulador do sistema renina-angiotensina-aldosterona e que os iECA e ARA são semelhantes na eficácia da redução da PA e na proteção cardiovascular e renal, embora muito distintos na tolerabilidade,
de angiotensina (ARA) com um bloqueador dos canais de cálcio ou um diurético, “será possível atingir os objetivos a que se propôs a Sociedade Portuguesa de Hipertensão, isto é, o controlo de 60% dos hipertensos portugueses”.
O cardiologista apontou também o facto de as guidelines em causa sugerirem como tratamento inicial uma associação fixa em comprimido único que integre
com “os ARA a apresentarem uma muito menor taxa de descontinuação”.
Os ARA são igualmente mais seguros, como demonstra uma meta-análise publicada na Hypertension em 2021, reunindo dados de mais de três milhões de doentes e que comprovou que os ARA comportam um risco significativamente mais reduzido, por comparação com os iECA, de ocorrência de angioedema, pancreatite, tosse e hemorragias gastrointestinais. E qual deve ser o ARA a ponderar para esta associação fixa?
Na perspetiva de Fernando Pinto, ensaios como aquele que foi publicado no International Journal of Hypertension (Pradhan A et al, Current Evidence and Perspectives in Management of Hypertension. International Journal of Hypertension. 2019 ;2019:1824621) denunciam que “o azilsartan é francamente mais eficaz na redução da PA, versus os outros ARA, mesmo quando estes são utilizados nas doses máximas”. Já no que respeita ao segundo componente da associação terapêutica, a evidência científica atual diz-nos que a solução mais racional passa pela clorotalidona.
“Podemos continuar a usar a clorotalidona à medida que a função renal do doente se vai deteriorando, algo que é, por si só, uma vantagem deste fármaco. Porém, quando comparamos a eficácia na redução da PA, a clorotalidona apresenta também resultados muito favoráveis em comparação com a hidroclorotiazida”. E, como refere Fernando Pinto, “sobretudo no período noturno, a redução da PA com clorotalidona é muito maior, porque este fármaco possui uma longa semivida e, assim, mantém um melhor controlo da PA ao longo das 24 horas do dia”.
De acordo com Fernando Pinto, “a associação azilsartan + clorotalidona mostra ser capaz de reduzir a PA de forma eficaz para além das 24 horas, com alta percentagem de doentes controlados e elevado grau de tolerabilidade”.
O cardiologista da ULSEDV evidenciou ainda uma meta-análise construída a partir de 22 estudos e que mostrou que a comparação entre a associação azilsartan + clorotalidona e várias associações de ARA e hidroclorotiazida é sempre favorável à primeira abordagem terapêutica, “com uma redução adicional de PA nalguns casos superior a 5 mmHg”. Do ponto de vista de Fernando Pinto, “a associação azilsartan + clorotalidona mostra ser capaz de reduzir a PA de forma eficaz para além das 24 horas, com alta percentagem de doentes controlados e elevado grau de tolerabilidade”.
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Fernando Pinto
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Entrevista
RoSA de PiNHo, PReSideNte dA SoCiedAde PoRtuGueSA de HiPeRteNSão (SPH):
“A prevalência da HtA continua a aumentar entre os mais novos e, atualmente, duas em cada 10 crianças têm pressão arterial elevada”
A ansiedade, a poluição, o excesso de peso e o sedentarismo são alguns dos fatores de risco que Rosa de Pinho identifica como promotores do desenvolvimento de hipertensão, aos quais os mais jovens não são alheios, alertando que 20% das crianças têm pressão arterial elevada. No rescaldo do 18.º Congresso Português de Hipertensão e Risco Cardiovascular Global, que juntou meio milhar de participantes, a presidente da SPH apresenta alguns dos assuntos debatidos.
“Continua a haver uma série de fatores de risco que aumentam a probabilidade de a pessoa vir a desenvolver hipertensão, como o consumo de álcool e de tabaco.
Mas, nos últimos tempos, tem-se falado cada vez mais no impacto dos novos fatores de risco, relacionados com as condições de vida atuais”, começa por afirmar Rosa de Pinho, referindo-se a quadros como a ansiedade, a depressão e o stress pós-traumático, que “são cada vez mais frequentes e têm influência sobre o organismo”.
A especialista em MGF, que coordena a USF Vale do Vouga, esclarece que tais manifestações “vão provocar pequenas inflamações a nível vascular que, a longo prazo, podem levar à HTA”. Também “a situação ambiental, onde se enquadra a poluição sonora e atmosférica e a pobreza, pode concorrer para provocar e agravar a HTA e as doenças cerebrocardiovasculares, a longo prazo”.
No caso da falta de exercício físico e do sedentarismo em concreto, alerta que tais comportamentos “são muito evidentes no caso das crianças e dos adolescentes, em parte devido ao maior número de horas sedentárias dedicadas ao uso das tecnologias, que se reflete num aumento do excesso de peso”.
Esta perceção tem levado a Sociedade Portuguesa de Hipertensão a ter como um dos seus parceiros a Sociedade Portuguesa de Pediatria. “A prevalência da HTA continua a aumentar entre os mais novos e, atualmente, quatro em cada 10 adultos têm HTA e duas em cada 10 crianças têm pressão arterial elevada”, destaca.
Rosa de Pinho realça que, “na abordagem da HTA, não se pode dissociar o tratamento farmacológico do não farmacológico, sendo que quanto mais jovens forem mais importantes serão as
alterações do estilo de vida”. De facto, “é pouco provável que uma pessoa de idade mude completamente os seus hábitos de vida, mas é determinante que os jovens consigam fazer alterações ao nível da redução do sal, da eliminação do consumo de álcool e de tabaco, da realização de uma alimentação rica em legumes e frutas e da prática de exercício físico, de forma a corrigir a pressão arterial e evitar o surgimento de complicações associadas à HTA”.
Relativamente aos adultos, sublinha a importância de “não retardar o início do tratamento farmacológico, na esperança de que os utentes alterem o seu estilo de vida, pois, a probabilidade de virem, entretanto, a sofrer um evento cardiovascular é grande”. Assim, o mais adequado, caso tenham indicação para tal, será “iniciar a medicação e continuar a motivá-los para alterarem o seu es-
SPH premeia projetos enquadrados na missão 70/26
No decorrer do 18.º Congresso Português de Hipertensão e Risco Cardiovascular Global, houve espaço para a atribuição inédita de prémios subordinados ao tema Missão 70/26 – Adesão na Hipertensão.
Como Rosa de Pinho adianta, “atualmente, em Portugal, apenas metade dos hipertensos vigiados nos CSP estão controlados, devido à inércia médica e à não adesão dos utentes”. De facto, “a generalidade dos colegas não medicam atempa-
Dos 34 projetos submetidos, foram premiados quatro
damente nem com as terapêuticas mais adequadas”. Por outro lado, “por se tratar de uma doença silenciosa, que não dá dores, os utentes tendem a descontinuar a medicação, o que se revela uma das principais causas de não adesão”.
PriMEiro Pré Mio SEGUNDO PRé MIO MENçõES hONROSAS
Via Verde Hipertensão
Juliana Martins Gomes, USF A Ribeirinha, ULS da Guarda
App Missão 70/26: um projeto para promoção da adesão à terapêutica anti-hipertensora
Ana Rita Queirós, USF Garcia de Orta, ACeS Porto Ocidental
Rosa de Pinho: “Não se pode dissociar o tratamento farmacológico da HtA do não farmacológico, importantes serão as alterações do estilo de vida, de forma a garantir
tilo de vida, fazendo-se depois o devido ajuste da medicação quando as tensões melhorarem”.
Criar linhas de orientação simples e práticas e centralizar informação
Avaliando o que está estabelecido a nível europeu para o diagnóstico e tratamento da HTA, e particularmente as guidelines publicadas pela Sociedade Europeia de Hipertensão em 2023, Rosa de Pinho considera tratar-se de “um documento de texto muito bom, mas demasiado extenso para ser facilmente aplicado na prática diária pelos colegas”, entendendo faltar “uma orientação muito mais simples e clara”.
Concretamente no que respeita às orientações quanto aos estilos de vida, por exemplo, reconhece a necessidade de “existir uma orientação mais básica ao ní-
Com o lançamento deste Prémio, o objetivo foi convidar os profissionais de saúde a desenvolver projetos junto da comunidade que se revelassem úteis na manutenção da motivação dos utentes, de forma a garantir a toma correta da medicação.
vel do exercício físico, pois, a importância dessa prática é consensual, contudo, subsistem algumas dúvidas quanto à forma como essa indicação deve ser transmitida e ao modo como deve ser acompanhada”.
Na verdade, “apesar de as novas guidelines darem grande importância às alterações do estilo de vido, pecam por não trazer orientações práticas de como fazê-lo”. No caso das novas tecnologias, nota que, “na prática, é preciso perceber como se pode utilizar e valorizar o uso dos smartwatch no dia-a-dia, visto serem uma realidade cada vez mais presente, apesar de ainda não validados para o diagnóstico da HTA”.
Enquanto executive officer do ESH General Practitioners Network pela Sociedade Europeia de Hipertensão, Rosa de Pinho tem trabalhado justamente na criação de linhas de orientação muito mais simples e concretas, para uma mais rápida e fácil aplicação na prática clínica diária, uma vez que, “em Portugal, à semelhança de outros países europeus, a maioria dos hipertensos é seguida pela MGF”.
Outra das preocupações da presidente da SPH refere-se à forma como a informação está dispersa, defendendo “a implementação de uma base de dados única, onde a informação recolhida pelos
A
Efeito da telemonitorização da pressão arterial em ambulatório com suporte de telemedicina no controlo e gestão da hipertensão numa USF da ARS Norte – um protocolo Mafalda Paula Pinto, USF Ramalde, ACeS Porto Ocidental
Telemonitorização de doentes seguidos numa Unidade de Hipertensão Arterial
Telmo Borges Coelho, assistente hospitalar de Medicina Interna, CH de Trás-os-Montes e Alto Douro
presidente da SPH sublinha a importância de “não retardar o início do tratamento farmacológico, na esperança de que os utentes alterem o seu estilo de vida”.
10 | Jornal médico Março 2024
ganhos em saúde a longo
Rosa de Pinho:
“É
necessário
inter-relacionar o farmacêutico neste trabalho, pois, há muitas zonas do país onde a população não tem tanta facilidade em chegar ao médico de família e a primeira porta onde vai bater é à farmácia.”
cuidados de saúde primários e hospitalares, sejam eles públicos ou privados, possa estar concentrada”.
Valorizar o team based care e conseguir vários agentes como parceiros
A presidente da SPH frisa que, “para garantir o seguimento do doente hipertenso e trabalhar os vários domínios – nutricional, psicológico, farmacológico e clínico –, é importante envolver todos esses profissionais”. Apesar de, “na prática, essa dinâmica ainda não acontecer como seria desejável, dado principalmente a falta de nutricionistas e de psicólogos nos CSP”, Rosa de Pinho destaca que “cada vez mais a SPH tem tentado valorizar o team based care”.
Como defende, “se não houver necessidade de rever a terapêutica, estes doentes não têm que estar a vir ao médico a cada três ou seis meses, porque esse
acompanhamento pode ser intercalado com o enfermeiro ou o farmacêutico”. Apesar de, nas USF, a articulação entre as equipas médica e de enfermagem já existir, a nossa interlocutora defende que “é necessário inter-relacionar o farmacêutico neste trabalho, pois, há muitas zonas do país onde a população não tem tanta facilidade em chegar ao médico de família e a
primeira porta onde vai bater é à farmácia. Daí a importância de os profissionais estarem em sintonia, falarem a mesma linguagem e partilharem as mesmas indicações”. De forma prática, a médica de família evidencia que, “se o farmacêutico verificar que o utente tem as tensões altas e conseguir confirmar, em conversa com ele, se tomou a medicação, provavelmente
By silvaj at 12:06 pm, Apr 12, 2023
vai evitar o seu envio à Urgência”. Melhor ainda seria “haver um contacto com o médico de família”, entendendo Rosa de Pinho ser necessário “melhorar a articulação entre os profissionais de saúde, para benefício do doente”.
Como exemplo, aponta a experiência da Consulta Aberta para Controlo da Pressão Arterial da Unidade Local de Saúde
(ULS) da Cova da Beira - Hospital Pero da Covilhã – apresentada, inclusivamente, numa sessão do Congresso Português de Hipertensão –, que é realizada sem necessidade de referenciação nem de marcação, o que significa que o utente pode recorrer a ela por iniciativa própria ou após indicação do seu farmacêutico ou do médico de família.
Jornal médico | 11 Março 2024
Entrevista
farmacológico, sendo que quanto mais jovens forem mais prazo.”
uLS Coimbra vai implementar o Percurso Clínico integrado
“Acreditamos que, com o empenho e a experiência dos profissionais de saúde da ULS Coimbra, conseguiremos alcançar resultados significativos na gestão da
diabetes e servir de modelo para futuras iniciativas de integração de cuidados”, afirma Alexandre Lourenço, presidente do CA da ULS de Coimbra. O Grupo de
Trabalho para o Desenho, Implementação e Monitorização do Percurso Clínico Integrado (PCI) para a Diabetes já foi nomeado.
O projeto tem como principais objetivos “prevenir a diabetes, melhorar a qualidade de vida dos doentes, acautelar complicações evitáveis e otimizar a utili-
zação dos recursos disponíveis na ULS de Coimbra”.
Segundo Alexandre Lourenço, o grupo de profissionais envolvidos é “altamente experiente e com provas dadas na área da diabetes”, sublinhando que “os PCI representam um dos instrumentos essenciais para a integração de cuidados nesta ULS, pois, seguem uma metodologia comprovada para proporcionar cuidados abrangentes, contínuos e eficazes aos cidadãos que sofrem de condições específicas”.
Assim, a convicção é que a criação deste Grupo de Trabalho representa “um passo crucial na concretização da nossa visão de proporcionar cuidados centrados nos cidadãos e promover uma abordagem integrada na prestação de cuidados de saúde na região”.
uLSetejo cria novos departamentos
O CA da ULS do Estuário do Tejo deliberou criar, na Área Assistencial dos CSP, o Departamento para a Promoção da Saúde e Intervenção Comunitária na Doença, o Departamento das Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados e o Departamento das Unidades de Saúde Familiar.
Esta renovação estrutural segue a mesma linha orgânica que a ULSETejo realizou para os Departamentos Assistenciais de Cuidados Hospitalares, considerando o CA que a área de CSP deve evoluir para estruturas departamentais, mantendo-se, assim, os mesmos termos, a coerência e a sua relevância.
No seu entender, “esta organização permitirá alavancar os CSP e recolocá-
12 | Jornal médico Março 2024
Notícias
Grupo de trabalho para o desenho, implementação da uLSC
“A diabetes é uma condição crónica que afeta uma parte significativa da população servida pela ULS de Coimbra e representa um desafio crescente para os nossos serviços de saúde”, frisa Iva Pimentel, coordenadora deste Grupo de Trabalho.
A médica salienta ainda que, “para além da necessidade de desenvolver programas de promoção da saúde e prevenção da diabetes, esta condição exige cuidados multidisciplinares, uma abordagem proativa na prevenção de complicações e
um acompanhamento rigoroso, que este PCI pretende assegurar aos doentes da nossa região”.
Os elementos que o PCI para a Diabetes terá como suporte serão os sistemas de informação de saúde de gestão de base populacional e cuidados personalizados;
ntegrado para a diabetes novos para os CSP
-los no centro dos esforços para melhorar a saúde e o bem-estar das populações”.
Três especialistas de MGF asseguram os cargos de Direção de cada um dos departamentos: Carla Jorge (Promoção da Saúde), Hugo Sousa (UCSP) e Olena Lourenço (USF).
as soluções de telemedicina e monitorização remota de doentes; a criação de uma Unidade de Cuidados Integrados de Ambulatório para a diabetes como respos-
ta multidisciplinar de serviços e recursos adequados às necessidades complexas, programadas e agudas, dos doentes com diabetes; e respostas em proximidade nas
comunidades de saúde da ULS de Coimbra.
Os trabalhos do grupo serão coordenados por Iva Pimentel, que contará, na
equipa, com o apoio de Diana Roda, Elsa Feliciano, Maria Guiomar Freitas, Maria Leonor Gomes, Maria Rosário Reis, Pedro Ribeiro, Susana Reis e Susana Jorge.
Congresso Nacional de Medicina Interna
9º Congresso Ibérico de Medicina Interna
Centro de Congressos do Algarve, Vilamoura 23 - 26 Maio 2024
Jornal médico | 13 Março 2024 Notícias
NO INTERIOR DA MEDICINA
olena Lourenço
mplementação e monitorização do Percurso Clínico integrado
reportagem USF do Mosteiro
uNidAde de SAÚde FAmiLiAR do moSteiRo, uNidAde LoCAL de SAÚde de LouReS- odiveLAS
Potencialidade estrutural e técnica está subaproveitada devido à falta de recursos humanos, na sequência
Na maior parte das vezes, as equipas das USF queixam-se das instalações exíguas ou de as suas unidades funcionarem em edifícios habitacionais com condições precárias. Não é o caso da USF do Mosteiro, onde o número de gabinetes é muito superior ao de profissionais. Carla Gouveia, a sua coordenadora, reconhece o potencial da Unidade em termos de instalações e de ambiente de camaradagem, mas tem perfeita consciência de que falta o mais importante − reforçar o quadro de recursos humanos.
“Antigamente, esta Unidade, que foi inaugurada em dezembro de 2018, chegou a ter oito médicos, oito enfermeiros e cinco secretários clínicos; neste momento, devido a reformas, somos apenas quatro médicos, três enfermeiras e três secretárias clínicas”, começa por referir Carla Gouveia, coordenadora da USF do Mosteiro. Ao contrário do que sucede em várias unidades, “aqui, há muito mais espaço do que pessoas, o que nos tem levado a ceder algumas áreas a outras entidades”.
Sabendo da dificuldade que esta Unidade viveria dentro de pouco tempo, devido à progressiva reforma de profissionais, Carla Gouveia decidiu abarcar o desafio e transitar, em outubro de 2022, da USF LoureSaudável para a USF do Mosteiro. Desde então, assistiu à reforma de três colegas.
Durante os 120 dias seguintes à saída de cada um, a equipa assegurou a atividade de quem partiu, contudo, após esse período, as respetivas listas transitaram para a UCSP de Odivelas, “uma das que tem mais população sem médico de família atribuído a nível nacional”. Nesse contexto, a coordenadora realça a necessidade de “reforçar o quadro de recursos humanos, de forma a integrar não só os utentes que estão há tanto tempo à espera de médico de família mas também aqueles que tinham aqui um seguimento regular e deixaram de o ter”.
Carla Gouveia, à frente da USF desde setembro de 2023, avança que foram vários os fatores que contribuíram para esta realidade, o maior dos quais de prendeu com a dinâmica de trabalho que existia, em virtude também das características das listas. “Considerando que elas são muito
antigas, as pessoas que as preenchem são também bastante idosas – cada um de nós tem mais de 200 utentes com idade superior a 75 anos, o que é um número muito elevado –, consumidoras de cuidados de saúde que não são contemplados nos indicadores de desempenho”.
Ora, “aquilo que era solicitado aos colegas, que estavam muito habituados a acompanhar essa faixa etária, era que desviassem um pouco a sua atenção para outros grupos, nomeadamente, grávidas e crianças que tinham o seu acompanhamento já assegurado por obstetras e pediatras privados. Acontece que, quando novos profissionais, orientados para o cumprimento de objetivos, vinham integrar a equipa e se confrontavam com alguma rigidez de pensamento e falta de proatividade dos colegas não se reviam nessa forma de trabalho”.
A existência de uma outra USF (Cruzeiro), no piso superior, levou vários profissionais da USF do Mosteiro a agregar-se àquela equipa, ao longo do tempo.
Com a reforma dos colegas, Carla Gouveia fala numa “mudança de paradigma” e sublinha que “as portas estão abertas para a realização de um novo projeto”. A coordenadora da Unidade reconhece que é necessário “acompanhar as grávidas e as crianças, que, apesar de estarem inscritas na Unidade, geralmente não são muito utilizadoras, por recorrerem a serviços particulares”. Nesse sentido, “é preciso voltar a pedir às pessoas para confiarem o seu acompanhamento ao médico de família”.
No seu caso, admite ter já começado a trabalhar a sua lista com essa intenção. “É necessário procurar os utentes e per-
guntar-lhes se estão interessados ou não em ser acompanhados aqui”, distingue. Em termos práticos, explica que, em relação às grávidas, por exemplo, “a partir do momento em que nos procuram para solicitar a isenção das taxas moderadoras relativas aos exames, ou seja, uma tarefa meramente administrativa, temos conhecimento de que estão grávidas e podemos iniciar o seguimento”.
Relativamente às crianças, “proativamente, convocamo-las para consulta, independentemente de irem ao pediatra, até por nos apercebermos de que a Consulta de Saúde Infantil tem características muito diferentes da de Pediatria, por se basear na deteção precoce de todas as alterações que podem eventualmente impactar a aprendizagem da criança, como a visão, a audição e a fala, e na referenciação para a resolução das situações identificadas”.
Carla Gouveia: “É preciso voltar a pedir às pessoas para confiarem o seu acompanhamento ao médico de família.”
Ao mesmo tempo, a especialista tem dinamizado várias formações junto dos colegas sobre os parâmetros dos indicadores de desempenho. Também logo que integrou a equipa, no final de 2022, procurou incluir alguns elementos no plano de atividades, que, embora tenham sido concretizados, não haviam sido planeados, pelo que não puderam ser contabi-
lizados para os indicadores de desempenho, o que inviabilizou, naquela altura, a obtenção de incentivos financeiros.
“Tratou-se de uma questão meramente burocrática e informática, mas que nos impediu de atingir o limiar dos 60%, que nos permitiria receber incentivos financeiros”, explica.
O reforço de profissionais como abertura de portas às carteiras adicionais
Com uma área geográfica de abrangência centrada essencialmente na freguesia de Odivelas, a maioria dos utentes da USF do Mosteiro “são portugueses, por se tratar de listas realmente antigas, e pertencem à classe média-baixa, havendo também algumas situações de carência económica muito significativa”. No caso de Carla Gouveia,
na pág. 16)
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(Continua
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Maior Simplicidade e Fiabilidade para pessoas com Diabetes
subaproveitada sequência da reforma de profissionais
Nome: Mosteiro faz alusão ao Mosteiro de Odivelas – também conhecido por Mosteiro de São Dinis e Mosteiro de São Bernardo –, fundado pelo Rei D. Dinis, nos finais do século XIII, na sua Quinta de Vale de Flores, em Odivelas. Este que foi um dos maiores reis da nossa História encontra-se aí sepultado.
Logótipo: As figuras representam o Mosteiro de Odivelas.
Apesar da vontade, “enquanto o número de profissionais não for reforçado, é difícil para a equipa oferecer carteiras adicionais”, avança a coordenadora.
CARLA GouveiA , CooRdeNAdoRA:
“o médico partilha a sua opinião, que pode não ser necessariamente aceite pelo utente, pelo que tem de haver uma negociação”
Carla Gouveia nasceu a 22 de março de 1979, em Lisboa. Viveu a sua infância na Portela de Sacavém e os episódios de amigdalite, que sucediam mês após mês, levaram-na a definir, à partida, que haveria de ser médica. “Como visitava muito regularmente o médico de família, admirava verdadeiramente a figura do médico”, conta.
Quando chegou à Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, teve a sensação de que “era um enorme privilégio estar ali e ter acesso àqueles professores, que eram pessoas muito inspiradoras”, e recorda esse momento como “bastante marcante”.
A MGF seria a especialidade eleita por si, dada a experiência que tinha vivido durante a infância e a que viveu mais tarde, quando estagiou no Centro de Saúde do Forte da Casa, onde “a relação com o utente foi tão marcante”. Embora gostasse muito de Medicina Interna, considerava que “a relação médico-doente não era de igual para igual, desde logo pela postura, em que o doente pode estar deitado, vulnerável e submisso”.
No seu entender, “a comunicação entre o médico e o utente é muito importante, no sentido em que o primeiro partilha a sua opinião, que pode não ser necessariamente aceite pelo segundo, pelo que tem de haver uma negociação”. Carla Gouveia admite gostar muito desse processo de troca de ideias e de ganho da confiança dos utentes, através da argumentação.
No seu leque de utentes, evidencia que “um dos maiores desafios é conseguir levar os diabéticos que estão muito descontrolados a cumprir a terapêutica”. O seu gosto pela matéria levou-a a investir em formações muito específicas na área da insulinoterapia, o que lhe permite “acompanhar desde aqueles que
fazem antidiabéticos orais até aos que cumprem esquemas básicos e avançados de insulina”.
Por outro lado, a MGF também lhe permitia continuar a trabalhar as áreas de Saúde Infantil e Saúde da Mulher, das quais muito gostava. Realizou o internato da especialidade no Centro de Saúde de Loures, sob orientação de Paulo Estrela, e quando se tornou especialista estavam a formar-se as primeiras USF.
reSaudável acabou por desagregar-se e extinguir-se, no verão de 2023. Antes ainda, em outubro de 2022, Carla Gouveia transitou para a USF do Mosteiro, para se aproximar de casa e reforçar uma equipa que integrava vários elementos que haveriam de reformar-se em breve. Praticamente um ano depois,
“Aqui, há espaço e utentes. Se tens vontade e capacidade de organizar uma USF, porque não avançar?”, desafiou-a, na altura, Paulo Estrela. Carla Gouveia aceitou o repto e formou a USF LoureSaudável, em 2009. Contudo, na altura, era obrigatório que a coordenação fosse assegurada por um profissional com, pelo menos, três anos de experiência, o que a impossibilitou de assumir a função.
Entretanto, ao longo dos anos, fruto da sucessiva transição de profissionais para USF modelo B, a USF Lou-
assumiu a coordenação da Unidade. Por gostar muito da área formativa, fez os quatro níveis dos cursos dinamizados pela EURACT (The European Academy of Teachers in General Practice) e, ao longo da sua carreira, tem sido orientadora de formação.
Atualmente, é dinamizadora do Núcleo de Lisboa da USF-AN. Adicionalmente, é pós-graduada em Medicina Social pela Universidade Católica Portuguesa (2018) e em Governação em Saúde, pela Escola Nacional de Saúde Pública (2023). Dança tango há mais de 10 anos e tem um filho de seis anos que, às vezes, diz que quer vir a ser médico.
Jornal médico | 15 Março 2024 PUB
uma Vida Nova
Viva
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reportagem USF do Mosteiro
reportagem USF do Mosteiro
(Continuação da pág. 14)
por ter recebido uma nova lista, tem bastantes crianças. Apesar de ter sido muito difícil para si deixar os utentes que seguia há já 14 anos na USF LoureSaudável, em Loures, “com quem estabelecia uma relação de confiança muito forte, não era justo trazer apenas uma seleção de utentes, nem prejudicar os utentes de Odivelas, em prol daqueles”.
Apesar da vontade, “enquanto o número de profissionais não for reforçado, é difícil para a equipa oferecer carteiras adicionais, pois, há tarefas prioritárias que têm de ser asseguradas em todas as unidades, independentemente da sua dimensão, como seja o funcionamento da sala de tratamentos e da vacinação e o atendimento a doentes agudos em todo o horário de funcionamento”. A Consulta de Cessação Tabágica seria o exemplo de uma carteira adicional a ofe-
vANdA ZACARiAS, iNteRLoCutoRA de eNFeRmAGem:
“Com a integração de novos elementos, poderíamos abranger uma população maior e criar projetos”
Vanda Zacarias começou a trabalhar em CSP em 2012, após ter trabalhado uma década na Maternidade Alfredo da Costa. Antes de integrar a UCSP Olaio, esteve dois anos na UCSP da Pontinha, que viria a dar lugar à USF Novo Mirante, onde permaneceu durante mais dois anos. Em 2018, participou, então, no arranque da USF do Mosteiro.
Apesar da progressiva redução de profissionais, a enfermeira, que assume a figura de interlocutora de enfermagem desde outubro de 2023, garante que a prestação de cuidados não fica prejudicada: “Somos uma equipa muito motivada e tentamos sempre prestar cuidados de excelência. Acontece que com a integração de novos elementos, poderíamos abranger uma população maior e criar projetos, em áreas como as da saúde da Mulher e da Criança e da Diabetes.”
A nível físico, avança que a USF tem três salas partilhadas com a USF Cruzeiro, como a Sala do Movimento, que poderia ser utilizada para fazer atividades dirigidas a pessoas com diabetes. “Nesta Unidade, cada médico tem mais de 150 pessoas com diabetes na sua lista, o que é um número muito elevado, sendo que grande parte são idosos”, adianta.
Já no passado, quando a equipa estava completa, a USF do Mosteiro integrou um projeto em parceria com outras unidades do ACES Loures/Odivelas, como a USF Ramada (promotora do projeto), que consistia na realização de caminhadas quinzenais em Odivelas com os utentes com diabetes. “As pessoas gostavam daqueles momentos, mas, com o surgimento da pandemia de covid-19 e a saída de profissionais, não pudemos continuar”.
No cenário atual, “fazemos o prioritário, que, atendendo ao rácio de utentes e de profissionais, já é bastante”. Dada a existência de quatro médicos e de apenas três enfermeiras, todas têm o trabalho acrescido de colaborar em parceria em determinadas áreas com o quarto elemento médico.
Apesar de reduzida, a equipa de enfermagem continua a aceitar receber
recer no futuro, dada a já existente diferenciação da coordenadora nesta matéria. Adicionalmente, também poderia ser disponibilizada às utentes sem médico de família a implantação de métodos contracetivos de longa duração, atividade já dinamizada pelas médicas Carla Gouveia e Lídia Lacerda.
Além de ser necessário para viabilizar a obtenção de idoneidade formativa, o reforço da equipa também é requerido para alargar o horário de funcionamento da Unidade, que, atualmente, funciona apenas até às 16h. “Como não temos sobreposição de profissionais, para assegurarmos o funcionamento das atividades,
A camaradagem entre a equipa e o bom ambiente que se vive na USF do Mosteiro é a destacada mais-valia desta equipa, que aguarda por mais profissionais que venham abraçar o projeto.
dor da USF do Mosteiro, entre fevereiro de 2022 e agosto de 2023. Quando Carla Gouveia integrou a equipa logo lhe reconheceu características que lhe permitiam coordenar a Unidade, o que veio a acontecer cerca de um ano depois. Do leque de médicos fundadores desta USF, Adeli-
alunos de licenciatura e do curso de especialização em Enfermagem Comunitária. “Eles aprendem connosco, mas também nós acabamos por aprender com eles”, comenta.
Natural de Tomar, Vanda Zacarias, de 45 anos, começou a pensar em seguir Enfermagem ainda durante a sua infância. “Dizia que queria ser enfermeira das crianças”, conta. Em 2003, formou-se pela Escola Superior de Enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca, em Coimbra, e logo começou a trabalhar em Lisboa, na Maternidade Alfredo da Costa. Durante uma década, centrou-se, assim, nas áreas da saúde da Mulher e da Criança.
O surgimento do seu interesse pela área comunitária, combinado com a experiência de trabalho no contexto do puerpério da MAC, levou-a a abordar “A arte da Enfermagem Comunitária na transição para a parentalidade”, para obtenção do grau de Mestre em Enfermagem, com Especialização em Enfermagem Comunitária, em 2012, pela Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. “Ao constatar as inúmeras dificuldades sentidas pelas puérperas no que respeita ao seu autocuidado e aos cuidados ao recém-nascido, questionei-me como seriam as suas vivências em contexto domiciliário durante o período de pós-parto”, refere.
não conseguimos ir além do horário da equipa de enfermagem”, refere.
Os serviços mínimos de vacinação e da sala de tratamentos, para além das consultas conexas (com médico e enfermeiro nas áreas de Saúde Infantil, Saúde Materna, Planeamento Familiar e Diabetes), “consomem todos os recursos de enfermagem existentes”. Nesse sentido, “a realização de domicílios, duas vezes por semana, só tem sido possível com o apoio de uma enfermeira, em regime de prestação de serviços, de forma temporária, que foi destacada de forma a garantir a realização da campanha de vacinação contra a gripe e a covid-19”. Por sua vez, “as atividades de gestão da farmácia, reposição de material e tarefas de gestão de enfermagem são realizadas nos poucos intervalos de tempo possíveis”.
Apesar do défice de recursos humanos, a Unidade conta com um grande potencial em termos de condições técnicas e espaciais. Além de contar com um espaço de espera destinado aos mais novos, possui ainda uma sala de isolamento, onde os utentes com potencial risco de contágio aguardam a realização da avaliação pela equipa. Entre os 22 gabinetes, encontram-se áreas mais específicas, como seja um gabinete de internos e uma sala destinada à avaliação do pé diabético. Ainda que haja salas de enfermagem direcionadas a cada uma das valências, neste momento, dado o número reduzido de profissionais, cada enfermeira está, para já, num gabinete, com todo o equipamento necessário à realização das diversas atividades.
A camaradagem entre a equipa e o
bom ambiente que se vive na USF do Mosteiro é a destacada mais-valia desta equipa, que aguarda por mais profissionais que venham abraçar o projeto.
A formação dos profissionais enquanto elemento prioritário no cenário atual
Nesta fase, os elementos da equipa têm apostado na transmissão de conhecimentos aos colegas nas áreas de maior diferenciação de cada um. Em paralelo, recebem ainda formação por profissionais externos, sobre temas como alterações de equilíbrio e prevenção de quedas nos idosos, e a automonitorização dos diabéticos que fazem insulinoterapia e necessitam de ajuste das doses de medicação. Só no passado mês de janeiro, a equipa dinamizou três formações.
Carla Gouveia valoriza ainda bastante a área de investigação, contudo, no cenário atual, ainda não conseguiu implementar projetos. Também a comunicação entre profissionais e utentes é algo em que quer apostar no futuro, nomeadamente, através da divulgação de informação através das redes sociais, “de forma a estimular a literacia em saúde”.
Apesar de haver vários concursos a decorrer, Carla Gouveia lamenta a sua morosidade, o que tem atrasado a integração de novos elementos, mais especificamente de enfermagem, na equipa.
Adelino Martins Prata: a evolução física e científica associada à transição para a Unidade
Com quatro décadas de carreira, Adelino Martins Prata foi o anterior coordena-
no Martins Prata é o único que ainda aí permanece.
Formado em 1981 pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, começou como prestador de serviços dos Serviços Médico-Sociais de Odivelas. Quando concorreu para a carreira de MGF, ficou colocado no Centro de Saúde de Odivelas, pelo que assumiu na sua lista os utentes que vinha seguindo e que acompanha até hoje, “já lá vão 41 anos”. Esse rumo fazia sentido na sua vida, essencialmente por reconhecer a MGF como “uma especialidade que tem a abrangência da Medicina Interna e uma grande ligação à comunidade” e pela “ligação que já mantinha com os utentes”. Nesse seguimento, hoje em dia, já se encontra a seguir “a 3.ª e até mesmo a 4.ª geração de utentes”.
Entretanto, com a abertura da Extensão de Saúde do Olaio, transitou para esse espaço e, mais tarde, com o surgimento das USF, decidiu, juntamente com alguns dos colegas, constituir a USF do Mosteiro. Relativamente a essa transição, fala em dois tipos de evolução – a física, “ao
16 | Jornal médico Março 2024
Adelino martins Prata
ter passado de instalações precárias num edifício habitacional para um espaço com condições de excelência”, e a científica, “transversal à abordagem do utente, ao processamento do ato médico, aos meios complementares de diagnóstico e à terapêutica”.
O médico de família lembra que, no antigo Centro de Saúde de Odivelas, “dos 99 médicos, só dois é que não optaram pela exclusividade, pelo que os 97 prescindiram da sua atividade privada para dedicar-se em exclusividade às suas listas, assegurando os cuidados de saúde à população durante mais de 30 anos, até à reforma”.
Quanto à estrutura atual, distingue que “o ambiente de relacionamento nesta Unidade é excelente e tem sido possível ultrapassar crises, como a da pandemia de covid-19 e a da escassez de quadros”. Avançando tratar-se de “uma população acessível, socialmente equilibrada, onde não há núcleos de grande pobreza, embora haja pessoas com dificuldades”, o especialista de MGF garante que “aqueles que vierem integrar a equi-
“Estou aqui há
cinco meses e o acolhimento foi excelente. Senti-me bem integrada e estou muito contente por ter abraçado este projeto”, confidencia Carla Heitor.
Carla Heitor que “esse trabalho não se restringe à prestação de cuidados de enfermagem, mas contempla ainda a articulação com toda a equipa multidisciplinar, por exemplo, o Serviço Social, onde se tenta encontrar respostas presentes na comunidade face às necessidades dos utentes”.
Adelino Martins Prata garante que “aqueles que vierem integrar a equipa podem encontrar aqui um enorme potencial de desenvolvimento da sua atividade”.
pa podem encontrar aqui um enorme potencial de desenvolvimento da sua atividade”.
Carla Heitor: o acolhimento de excelência por parte do grupo de enfermagem e de toda a equipa
A enfermeira Carla Heitor é a profissional que mais recentemente integrou a Unidade, em setembro de 2023. Entre 2002 e 2015, trabalhou em meio hospitalar e, após ter estado oito anos na UCSP Loures, onde os utentes não tinham médico de família atribuído, foi convidada a transitar para a USF do Mosteiro, onde se deparou com “uma realidade completamente diferente”. Moveu-a a “oportunidade de trabalhar num projeto diferente e de ficar mais perto de casa”.
O processo de adaptação foi fácil, graças ao apoio da equipa: “Estou aqui há cinco meses e o acolhimento foi excelente. Senti-me bem integrada, os colegas explicaram-me toda a dinâmica e estou muito contente por ter abraçado este projeto.”
Perante um grande leque de utentes idosos, a enfermeira realça que esta USF representa “os cuidados de proximidade, onde estes conseguem recorrer e expor os seus problemas”. Devido a esta característica, algumas fases são marcadas pela realização de mais domicílios, realçando
CoNCeição teixeiRA , iNteRLoCutoRA do SeCRetARiAdo CLíNiCo:
“É como se fôssemos uma família”
À semelhança do médico Adelino Martins Prata, Conceição Teixeira também começou por trabalhar no Centro de Saúde de Odivelas, no seu caso, em 1983, tendo transitado para a Extensão do Olaio aquando da sua abertura. Entretanto, foi convidada a integrar a USF Cruzeiro e, posteriormente, a USF do Mosteiro, desde o início, pela equipa com quem tinha trabalhado no Olaio. “Já conhecia bem aquele grupo de profissionais e aceitei. Com o tempo, já me convidaram para vários lugares, mas não quero sair daqui. É como se fôssemos uma família”, destaca.
Neste período em que decorre a campanha de vacinação, soma-se a administração de vacinas nos domicílios, o que “representa um incremento ao nosso trabalho”. Adicionalmente, observa que “aquilo que era para ser uma atividade sazonal parece estar a prolongar-se no tempo”.
Enquanto não forem captados mais elementos para a equipa, a enfermeira distingue que “a prioridade é garantir a resposta à população que, diariamente, recorre à Unidade”.
Carla Heitor tem 44 anos e é natural de Lisboa. Sempre pensou em seguir Enfermagem, dado o seu gosto pelo cuidar de pessoas. Formou-se pela Escola Superior de Enfermagem São Francisco das Misericórdias, em 2002, já com o grau de licenciatura. A experiência de ter realizado alguns estágios no antigo Hospital do Desterro levou-a a ser convidada a trabalhar no Serviço de Medicina Interna, “um serviço muito generalista, onde se aprende muito sobre tudo e, principalmente para um enfermeiro recém-formado, tem uma componente técnica muito importante”. Aí permaneceu durante 12 anos, inicialmente no Desterro e depois no Hospital de São José, na sequência do encerramento do primeiro.
Entre as 8h e as 9h, as três secretárias clínicas ficam no back-office, transitando depois para o atendimento. “Se surgir alguma necessidade, volto eu ao back-office para agilizar”, refere.
Para já, a Unidade ainda não tem acesso ao Sistema de Atendimento e Resposta Ágil (SARA), o que tem dificultado, de certa forma, o atendimento das chamadas, principalmente quando recebem contactos de utentes de outras unidades. “Ainda ontem estivemos a fazer a estatística e, além de termos atendido os nossos utentes, recebemos também 10 contactos de utentes da USF Cruzeiro e cinco que eram dirigidos à UCSP Odivelas. Como aquelas unidades não estavam a atender e ficam próximas da nossa USF, as pessoas pensam que podemos passar a chamada e, nesses momentos, estão a impedir os nossos utentes de nos contactar”, explica.
Apesar de a Unidade estar equipada com quiosque eletrónico, adianta que a equipa de enfermagem tem por hábito “ir chamar os utentes à sala de espera,
Ficha técnica
quer por, muitas vezes, os atos serem agendados apenas no próprio dia, quer por os grandes frequentadores dos serviços serem os mais idosos, pelo que este contacto mais direto facilita a comunicação”.
Conceição Teixeira recorda-se de “ver a sala sempre cheia” no arranque da USF, quando eram 8 médicos, 8 enfermeiros e cinco secretárias clínicas, realidade muito diferente da atual, que, a nível do quadro do secretariado clínico, ainda se irá debilitar no final do ano, com a reforma de uma das colegas.
Conceição Teixeira recorda-se de “ver a sala sempre cheia” no arranque da USF.
Caracterização da população inscrita (fevereiro de 2024)
Utentes:
idosos:
Crianças e jovens com idade ≤ 14 anos:
Mulheres em idade fértil (dos 15 aos 54 anos)
Atividade (2023)
Consultas médicas
Contactos diretos:
Contactos indiretos:
Domicílios médicos:
enfermagem
Contactos diretos:
Contactos indiretos:
Domicílios de enfermagem:
Profissionais (fevereiro de 2024)
Médicos:
Enfermeiros:
Secretários clínicos:
6197 (8509.5 UP)
1700 (Índice de dependência: 46,87%)
870 (Índice de dependência: 23,99%)
1304
13.473
6456 34
7553 34 1536
Jornal médico | 17 Março 2024
reportagem USF do Mosteiro
4 3 3
Carla Heitor
RiCARdo Gome
“o que se pretende é analisar o processo de transição para uLS”
O processo de transição que está a ocorrer a nível dos CSP vai estar em debate no próximo dia 22 de março, no âmbito do Encontro da Primavera da USF-AN, cuja organização está este ano a cargo do Núcleo de Braga daquela Associação. Ricardo Gomes, enfermeiro de família da USF Gualtar, preside à reunião.
A Direção da Associação Nacional das USF lançou o desafio ao Núcleo de Braga e os seus elementos não hesitaram, aceitando de imediato assumir a tarefa de concretizar o Encontro da Primavera de 2024. Foi então constituída uma Comissão Organizadora com um pouco mais de uma dúzia de elementos, presidida pelo denominado dinamizador do Núcleo, Ricardo Gomes, responsável que integra, nesta estrutura regional da USF-AN, uma Comissão Executiva com três elementos, que no fundo representam os três grupos profissionais: médicos de família, enfermeiros de família e secretários clínicos.
“Relativamente ao Programa Científico, nós definimos como objetivo principal analisar em profundidade a transição em curso para Unidade Local de Saúde”, refere Ricardo Gomes. Surgiram, assim, quatro temas principais para discussão: os desafios que se colocam na implementação do modelo ULS; a integração essencial (cuidados, qualidade e equidade); a gestão de mudanças e a comunicação interna e externa; e, finalmente, o que se altera com o novo decreto-lei das USF.
Pelo auditório do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, instituição que disponibilizou o espaço para que o Encontro ali se realizasse, passarão elementos de CA de ULS, nomeadamente diretores clínicos e enfermeiros diretores, para além da Direção Executiva do SNS, que estará representada na própria sessão de abertura.
“Logo na primeira sessão da manhã iremos apresentar os resultados de um questionário que foi dirigido aos coordenadores das USF, a propósito desta transição e do envolvimento das suas unidades nas ULS”, destaca Ricardo Gomes, que
aponta as dúvidas, que são muitas, exemplificando:
“Quem está integrado nas USF só vai exercer funções nas unidades? Como vai ser gerida a questão da mobilidade dos profissionais (CSP-hospitais e vice-versa)? Como vai funcionar a integração de serviços? E a coordenação dos cuidados? E quanto à questão da formação no âmbito dos CSP? As dúvidas também existem em relação à gestão administrativa e de recursos humanos? E qual vai ser o percurso do utente dentro da ULS?”
“Quando se pretende mudar, é de extrema importância envolver os intervenientes”
“Quando se pretende mudar em termos organizacionais, é de extrema
importância envolver os intervenientes”, comenta Ricardo Gomes, a propósito da mesa em que vão ser abordadas estratégias para minimizar resistências e promover a adesão dos profissionais à nova organização, acrescentando:
Ricardo Gomes: “Logo na primeira sessão iremos apresentar os resultados de um questionário dirigido aos coordenadores das USF.”
“Queremos ajudar os nossos colegas das USF a saber gerir melhor os processos de mudança, ultrapassando receios e dúvidas.”
Relativamente ao novo Decreto-Lei das USF, o presidente do Encontro da Primavera diz pretender-se refletir sobre questões que têm sido colocadas pelos associados e relacionadas, nomeadamente, com alterações na prática clínica que irão acontecer perante o novo IDE (Índice de Desempenho das Equipas).
O mesmo sucede em relação ao ICU
(Índice de Complexidade de Utentes), que “surge como um instrumento de ajustamento pelo risco que tem em consideração as características demográficas, de morbilidade de ciclo de vida e de contexto dos utentes”. No entanto, tem que se perceber qual a relação ICU versus unidades de contratualização”, diz Ricardo Gomes.
O responsável cita ainda a temática da dedicação plena e a questão da autonomia das USF. Isto porque “ela está contemplada no diploma, mas as equipas de saúde familiar têm que saber colocar essa autonomia em prática e ter a noção de quais os recursos de que vão dispor para a fazerem valer”.
“o meu foco foram sempre os CSP”
Ricardo Gomes é o terceiro dinamizador na história do Núcleo de Braga da USF-AN, criado em 2016. Assumiu essa responsabilidade em 2022, numa altura em que o mandato 2021-2024 já decorria. Também é vogal da Direção da Associação Nacional das USF.
Vive em Barcelos, mas é natural de Braga, onde nasceu a 26 de setembro de 1981. Tornou-se enfermeiro exatamente 22 anos depois e começou logo a trabalhar nos CSP. “Foi sempre esse o meu objetivo, desde o 1.º ano do curso, quando tive a possibilidade de realizar um ensino clínico em CSP. Foi sempre esse o meu foco”, recorda.
Com um mestrado em Sociologia da Saúde concluído em 2008, tornou-se especialista em Enfermagem de Saúde Familiar em 2013. Integra a USF Gualtar e já fazia parte da equipa inicial quando aquela unidade da agora designada Unidade Local de Saúde de Braga foi criada, em dezembro de 2007.
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S, PReSideNte do eNCoNtRo dA PRimAveRA 2024 dA uSF-AN:
“A autonomia das uSF está contemplada, mas é preciso ter noção de quais os recursos disponíveis”, sublinha Ricardo Gomes
elementos do Núcleo de Braga da uSF-AN: Abel Gonçalves (eF), Andreia monteiro (SC), dinis Brito (mF), Joana v. Boas (eF), marta Araújo (mF), Ricardo Gomes (eF), Cláudia Pereira (mF), Alexandra Fernandes (eF) e ainda (ausentes na foto) Cristiana Lopes (eF), elsa Leiras (eF), Cátia Carmona (SC), Cristiana Fernandes (mF), Cristina Afonso (eF) e João oliveira (SC)
Entrevista
ESPECiAL
Neste Especial reproduzem-se textos originalmente publicados no Jornal do Allergy & Respiratory Summit 2024, distribuído aos participantes (presenciais e online) na reunião, que decorreu nos dias 1 e 2 de fevereiro de 2024.
Jaime Correia de Sousa
“Ainda temos uma implementação insuficiente dos cuidados aos doentes respiratórios crónicos”
Helena Pité
“Precisamos muito de trabalhar em conjunto com a MGF”
mário morais de Almeida imunomodulação oral: como e quando?
Helena Pité
Urgência alergológica: urticária aguda
eurico A. R. Silva
Pneumonia adquirida na comunidade, apesar de frequente, nem sempre é evidente
Cláudia vicente
A DPoC não vive só
Rui P. Costa vacinas anti-infeciosas no adulto – é tempo de atuar!
Jornal médico | 19 Março 2024
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sessão de aberT ura
Rui Costa, co-coordenador do Allergy & Respiratory Summit
o Allergy&respiratorySummit é um projeto educacional criado para tentar fazer algo diferente daquilo que até agora se fazia. No fundo, estamos a procurar construir um projeto que seja do século XXi e não do século XX.”
“Queremos trabalhar de forma colaborativa e integrada com a sociedade, organizações e profissionais, no sentido de melhorar a saúde alergológica e respiratória da nossa população.”
“Esperamos que estas jornadas sejam enriquecedoras e possam ir ao encontro das reais necessidades da MGF, que cada vez mais no seu dia-a-dia se vê confrontada com um número crescente de patologia respiratória e alergológica na consulta, muitas vezes até consequência da poluição atmosférica e das alterações climáticas, que são indutoras do aumento desta prevalência.”
“Entendemos que um evento para a MGF tem de ter pessoas competentes na área, que possam partilhar conhecimento, associando-se também às outras especialidades, quer à imunoalergologia, quer à Pneumologia. é este trabalho colaborativo e integrado que nos é importante e que queremos alimentar, porque só assim é que podemos crescer ao longo do tempo.”
mário morais de Almeida, co-coordenador do Allergy & Respiratory Summit
“Acreditamos que a interação e a discussão de casos são muito importantes e é o que tentaremos fazer nestes dias.”
“Considero-me um imunoalergologista da MGF, porque sou médico de família dos alérgicos e essa interação de todos os grupos etários e com a MGF é sempre um prazer.”
“Este projeto de educação vai transcender este tipo de ações e vão ser produzidas outras ferramentas importantes para os médicos, para outros profissionais de saúde e até para a população em geral.”
Paulo Simões, presidente do Conselho Regional do Sul da ordem dos médicos
é com grande satisfação que constato a proximidade de várias especialidades a trabalharem para a saúde da comunidade.”
Cláudia vicente, coordenadora do GReSP-APmGF
“Somos médicos de família e temos de pensar como integrar as doenças respiratórias na nossa prática clínica diária, porque os doentes são sempre nossos e temos de otimizar todas as doenças e problemas que trazem à consulta.”
“é de louvar o dinamismo com que esta iniciativa foi criada, porque é sempre importante inovar. Existe muito conhecimento nos livros, nos artigos e nas bases de dados, mas torná-lo aliciante e adaptá-lo ao que é a nossa realidade é difícil, mas é o que se pretende aqui.”
O médico de família Rui Costa, coordenador cessante do GrESP-APMGF, e o imunoalergologista Mário Morais de Almeida, presidente eleito da World Allergy organization, são os impulsionadores do Allergy& respiratorySummit, uma iniciativa “adaptada aos tempos modernos”. ou, como foi afirmado na sessão de abertura, “um projeto educacional do século XXi”.
“Ainda temos dos cuidados
Jaime Correia de Sousa acredita que, após o investimento em campos como a hipertensão, a diabetes, o rastreio oncológico e a saúde infantil, é agora tempo de reforçar os cuidados aos doentes respiratórios. A introdução de novos indicadores nesta área, que é muitas vezes subvalorizada, será, do seu ponto de vista, um elemento catalisador para o salto qualitativo.
Just News (JN) – Como vê a criação deste novo formato de reunião, o Allergy & Respiratory Summit? Jaime Correia de Sousa (JCS) – Vejo-o como uma forma complementar e diferente de aprender. As iniciativas que têm existido dirigidas a médicos de família, na área das doenças respiratórias, são múltiplas. Algumas delas, como as dinamizadas pelo GRESP, oferecem temas trabalhados por nós, médicos de família. Por vezes, convidamos colegas de outras especialidades, inclusivamente estrangeiros, a fazer apresentações. Mas há interesse e espaço para formatos diferentes, como este de trabalhar em torno de casos clínicos.
Há que considerar que esta reunião não se dirige apenas a alunos de Medicina ou a internos, mas também a médicos que já exercem MGF há vários anos, sabem bastante sobre temas como a asma, mas têm dúvidas. Portanto, torna-se muito mais interessante confrontá-los com uma situação clínica e convidá-los a tomar decisões.
JN – Acredita que essa dinâmica é mais apelativa também para os internos?
JCS – Sim! Hoje em dia, os internos saem das escolas médicas muito bem preparados e, quando trabalhamos com eles, percebemos que sabem mais do que aqueles que se formavam há 20 anos, quando começámos a investir nesta área, portanto, não pode-
20 | Jornal médico Março 2024
Especial &
JAime CoRReiA de SouSA, CoF
FuNdAdoR do GRuPo de e StudoS de doeNçAS Re SPiRAtÓRiAS dA ASSoCiAção PoRtuGue SA de mediCiNA GeRAL e FAmiLiAR (GRe SP – APmGF):
temos uma implementação insuficiente cuidados aos doentes respiratórios crónicos”
Jaime Correia de Sousa: “Graças
mos optar pelo mesmo método de formação passivo. Sempre que realizamos eventos baseados em casos clínicos, os profissionais não só gostam mais como aprendem mais e são mais participativos.
Uma das componentes que se tem desenvolvido, do ponto de vista pedagógico, é o gaming, pois, permite manter o nível de atenção dos participantes numa ação de formação durante mais tempo. Hoje em dia, sabemos que se não se sentirem envolvidos vão perder o interesse, por isso, é preciso introduzir questões ou fazer jogos para ir retomando a sua atenção. A sessão “Jogo duplo da Função Respiratória” é um dos exemplos.
Esta é uma dinâmica inovadora! Por outro lado, são introduzidos temas de alergologia, uma área que temos de ter presente mas que, muitas vezes, tem menos espaço numas jornadas respiratórias. Aqui, o foco vai incidir sobre a alergia e as doenças respiratórias, pelo que serão abordadas temáticas como a urticária, a imunoterapia ou a anafilaxia. Vamos falar sobre conjuntivite e rinite alérgica e muitas outras patologias que vão para além da doença respiratória, o que representa um excelente complemento ao que fazemos no GRESP.
JN – Conhecendo bem a realidade europeia, há grandes diferenças a nível dos cuidados respiratórios prestados pelos vários países face ao que acontece em Portugal?
JCS – Não há nenhum país da Europa onde a organização dos cuidados de saúde seja igual à portuguesa. A estrutura
baseada em centros de saúde estatais como conhecemos em Portugal existe em Espanha, Suécia, Finlândia e Eslovénia, mas o conteúdo funcional e a oferta de cuidados de cada um é muito variada. Mesmo entre os países nórdicos a organização é diferente, porque enquanto na Suécia e na Finlândia há muitos centros de saúde estatais ou municipais, na Dinamarca e na Noruega há um misto entre clínicas privadas contratualizadas com o SNS, municipais e estatais.
Há muitas clínicas na Noruega onde os CSP são muito fortes que nem sequer integram enfermeiros. São os médicos e assistentes administrativos a fazer a gestão de tudo, enquanto os enfermeiros colaboram com o centro de saúde local.
Relativamente aos cuidados respiratórios, em países como a Alemanha ou a França não há praticamente médicos de família a prestá-los, porque existem muitos consultórios privados de pneumologistas que têm a porta aberta para a comunidade. Tal acontece porque o modelo de cuidados de saúde não assenta na referenciação, mas no reembolso à população, que tem a liberdade de escolher onde quer ser assistida. Por isso, os doentes optam por recorrer diretamente ao pneumologista, o que leva a haver poucos colegas de MGF dedicados às doenças respiratórias.
Em contrapartida, na Suécia, por exemplo, a MGF assume praticamente tudo, inclusivamente imunoterapia. Normalmente, têm enfermeiros treinados para fazer um conjunto de procedimentos, como espirometrias, testes de provocação, além da
vigilância e do ensino das técnicas inalatórias, enquanto os médicos supervisionam o diagnóstico, a terapêutica e a renovação da medicação. Este modelo também vigora em várias partes do Reino Unido.
JN – Qual é o modelo aplicado em Espanha?
JCS – Um dos colegas espanhóis com quem trabalho desenvolveu na zona das Baleares um modelo que contempla a realização de espirometrias nos CSP, enquanto noutras zonas tal não acontece. Há uma variação conforme as regiões.
JN – Como avalia a prestação de cuidados respiratórios em Portugal?
JCS – Penso que ainda temos, em Portugal, uma implementação insuficiente dos cuidados aos doentes respiratórios crónicos. Neste momento, há uma janela de oportunidade para aproximar os cuidados a estas pessoas aos que disponibilizamos noutras áreas, como a hipertensão, a diabetes, o rastreio oncológico e a saúde infantil.
Graças ao diálogo que o GRESP tem mantido com o Programa Nacional para as Doenças Respiratórias, na pessoa da Prof.ª Cristina Bárbara, que tem mostrado abertura e interesse em perceber a importância de desenvolver estas competências nos CSP, conseguimos convencer as autoridades a introduzir alguns indicadores que vão contribuir para melhorar os cuidados prestados. Com esta mudança, os médicos vão ter mais preocupação em procurar ativamente os seus doentes com asma e DPOC, registar alguma informação
A fusão da clínica, da docência e do associativismo em torno das doenças respiratórias
Jaime Correia de Sousa nasceu a 18 de março de 1955, no Porto. O seu gosto pela Biologia e pela Saúde em geral levou-o até à FMUP. Em 1978, quando se licenciou, a carreira de MGF estava a dar os primeiros passos ainda de forma pouco estruturada. Em 1983, após ter feito um ano e meio de serviço militar obrigatório, iniciou a sua atividade profissional no Centro de Saúde da Ponta do Sol, na Madeira. No ano seguinte, transitou para o CS de Leça da Palmeira, onde permaneceu cerca de oito anos, até ter assumido a direção do Centro de Saúde de Ermesinde, entre 1990 e 1994.
Durante os cinco anos seguintes, dirigiu o Instituto de Clínica Geral da Zona Norte, uma das três estruturas no país que tinham a responsabilidade de fazer a formação específica em exercício dos médicos de clínica geral que tinham iniciado a carreira sem fazer o internato. Foi nesse contexto que despertou o seu interesse para as doenças respiratórias, após ter sido contactado para organizar um módulo formativo sobre o tema.
“A partir daí, nunca mais larguei as doenças respiratórias! Conseguimos realizar uma série de ações de formação com a ARS Norte e, inclusivamente, oferecer de forma inédita formação obriga-
sobre eles, fazer diagnósticos corretos e ter pelo menos uma consulta anual.
Acredito que, após estarem limados e aferidos, estes novos indicadores vão permitir uma mudança de paradigma e um salto qualitativo nos próximos anos.
JN – Esta mudança peca por ser tardia?
JCS – É natural que este trabalho tenha começado pelas doenças cardiovasculares e oncológicas, pela diabetes... Mas, muitas vezes, o peso das doenças respiratórias não é bem avaliado porque, se considerarmos desde a asma, a DPOC, a apneia do sono, o tabagismo e o seu impacto nas doenças oncológicas, até às múltiplas infeções que podiam ser preveníveis, a sua carga é muito grande.
Grande parte da responsabilidade pelo atual surto gripal é da inércia vacinal a que temos assistido este ano. Há que lembrar que sempre tivemos uma elevada taxa de vacinação nos idosos e reduzida noutros grupos, sobretudo dos profissionais de saúde. Principalmente aqueles que
tória sobre asma a todos os médicos de família do norte”, refere.
Entretanto, em novembro de 1999, fixou-se em Matosinhos, numa das duas primeiras unidades do país a funcionar com regime remuneratório experimental. Participou em todo o processo evolutivo da unidade, até na formalização da denominação de USF Horizonte, e lá se manteve durante 22 anos, até à sua aposentação, em julho de 2021.
Em paralelo, começou a colaborar com o Global Initiative for Asthma (GINA) e com o International Primary Care Respiratory Group (IPCRG), grupo a que veio a presidir entre 2016 e 2018. Antes ainda, foi um dos cofundadores do GRESP – APMGF e seu coordenador entre 2010 e 2015.
Atualmente, mantém-se ligado ao IPCRG, nomeadamente através das iniciativas Asthma Right Care e Teach the Teacher, incidindo sobre a formação e a investigação.
Desde 2004 que se ligou à docência, na Escola de Medicina da Universidade do Minho. Atualmente, continua a colaborar com a instituição, mais concretamente com o Instituo de Investigação em Ciências da Vida e Saúde, acompanhando alunos de doutoramento e dando algumas aulas.
trabalham com populações vulneráveis –em lares, serviços de doenças oncológicas e de geriatria – e os próprios médicos e enfermeiros de família devem vacinar-se.
JN – Identifica um progressivo maior interesse dos mais jovens em investir nos cuidados respiratórios? JCS – Sim, há um maior interesse nos jovens médicos, mas não só. A partir do momento em que começámos a propor a introdução de indicadores, também os mais velhos ficaram adicionalmente motivados a investir nesta área. Enquanto os mais novos trazem agora da faculdade e do internato muita formação nas doenças respiratórias, no caso dos colegas de mais idade, o ensino era mais reduzido porque não havia interesse no tema.
Atualmente, não se aborda apenas a asma e a DPOC, discutem-se temas mais abrangentes, como a necessidade de diagnosticar, referenciar e tratar doentes com apneia do sono, a importância das vacinas na doença respiratória, ou a cessação tabágica, que é ainda um elo fraco nos serviços de saúde.
Jornal médico | 21 Março 2024 1 e 2 fevereiro 2024
ao diálogo que o GReSP tem mantido com o Programa Nacional para as doenças Respiratórias, conseguimos convencer as autoridades a introduzir alguns indicadores que vão contribuir para melhorar os cuidados prestados”
“Precisamos muito de trabalhar em conjunto com
Helena Pité não tem dúvidas de que, face a um leque de patologias cada vez mais frequentes, a MGF é a chave para a melhoria significativa do controlo das doenças alérgicas a nível populacional, no nosso país. Contudo, sabe que, para tal suceder, é preciso dar força a esses profissionais, desde logo, pelo acesso aos meios necessários.
Just News (JN) – Esta reunião tem a particularidade de juntar a Imunoalergologia e a MGF. O que pensa da ligação entre as duas especialidades?
Helena Pité (HP) – Todos nós que integramos a Comissão Científica do Allergy & Respiratory Summit estamos bastante entusiasmados e expectantes em relação ao evento. Penso que estas formações são essenciais, não só para a atualização dos profissionais, mas também para a ligação entre as duas especialidades, que é fundamental, pelo facto de as doenças alérgicas e respiratórias serem muito frequentes na nossa população. Neste momento, em Portugal, cerca de uma em cada três pessoas tem pelo menos uma doença alérgica.
A MGF é e deve ser a primeira linha na orientação destas patologias. A Imunoalergologia tem também um papel muito importante, não só na avaliação e discussão conjunta quando há dúvidas relativas ao diagnóstico, na identificação de causas, mas também no seguimento dos doentes que tenham uma patologia mais grave, persistente ou recorrente, ou uma resposta insuficiente ao tratamento. Assim, a colaboração e a simbiose permanente entre as duas especialidades é decisiva para melhor cuidar dos nossos doentes e deve ser aprofundada.
O Allergy & Respiratory Summit é um projeto diferenciador, que se quer muito interativo entre as duas especialidades, para podermos obter este verdadeiro funcionamento em rede. Temos como objetivos comuns otimizar as práticas clínicas, reforçar a colaboração entre os colegas e investir na atualização em prol dos melhores cuidados às pessoas com doenças alérgicas e respiratórias.
JN – O que é mais difícil para um médico de família na abordagem das doenças alérgicas? Será fazer o diag-
nóstico ou perceber se deve ou não referenciar o utente para o imunoalergologista?
HP – O diagnóstico destas doenças é clínico, portanto, a história clínica detalhada e o exame objetivo completo são fundamentais. Contudo, a maior parte das doenças alérgicas são crónicas, pelo que exigirão seguimento. Como o fazer, quais os aspetos a que é preciso estar atento para se poder tratar a pessoa da melhor forma e quando referenciar são questões do dia-a-dia dos médicos de família.
O objetivo deste Summit é ir além de conceitos teóricos e partilhar sobretudo dicas práticas, que possam ser facilitadoras da atividade clínica diária, para conseguirmos chegar ao sucesso, que representa ter estas doenças controladas. O controlo total será ter a doença, mas viver sem a sentir. Queremos ter como objetivo que as pessoas com doenças alérgicas e respiratórias crónicas consigam levar as suas vidas sem estarem a pensar nelas, nem limitadas por elas.
Para conseguirmos melhorar os cuidados prestados e ter estas doenças controladas, precisamos muito de trabalhar em conjunto com a MGF. A MGF é a chave para gerar a maior mudança no paradigma das doenças alérgicas e respiratórias em Portugal.
JN – Qual é a sua opinião sobre a organização dos CSP em Portugal?
HP – Continuamos a ter algumas assimetrias importantes no país, o que me preocupa, porque vejo que as condições e o acesso aos cuidados não são iguais para todos. Há várias pessoas no país sem médico de família e os cuidados prestados são díspares. Adicionalmente, estes médicos lidam ainda com limitações no acesso a alguns meios diagnósticos e terapêuticos básicos decisivos para melhor cuidarem dos seus doentes.
Na área respiratória, por exemplo, e apesar das melhorias registadas nos últimos anos, a discrepância no acesso e na realização de provas de função respiratória no país ainda é muito evidente. Se há locais onde estes exames
“A discrepância no acesso e na realização de provas de função respiratória no país ainda é muito evidente.”
estão disponíveis, noutros, temos ainda médicos de família que apenas os têm vários meses depois de terem sido solicitados. Estes exames são essenciais no diagnóstico e no seguimento de pessoas
com várias doenças respiratórias, como a asma e a DPOC, são simples e o acesso devia ser facilitado para todos. Acresce que devem ser realizados por técnicos de Cardiopneumologia que sejam integrados nas equipas clínicas, com médicos responsáveis diferenciados na área, garantindo a adequada atualização nos procedimentos e a qualidade dos resultados.
Precisamos de melhorar os cuidados de saúde e dar mais força aos médicos de família, para que possam exercer as suas funções nas melhores condições possíveis, porque são profissionais muito capacitados, interessados em prestar cuidados de saúde de qualidade e em se manterem atualizados – o que também se vê pela adesão ao Summit –, mas que, quando voltam aos seus gabinetes, sentem-se presos a este e a outros tipos de limitações. Os colegas conseguiriam ajudar mais e melhor se tivessem os meios necessários. E cabe-nos a todos nós lutar por termos
aquilo de que precisamos para trabalhar bem.
JN – A sua tese de doutoramento incidiu sobre a multimorbilidade da asma e da rinite. Porque fez essa escolha?
HP – Dentro da Imunoalergologia, sempre gostei muito das áreas respiratória e cutânea, que estão interligadas. A maior parte das pessoas com doença alérgica tem mais do que uma patologia. Muitas delas têm rinite e asma em simultâneo e outras têm, adicionalmente, dermatite atópica ou conjuntivite alérgica. Não é raro ter pessoas com mais do que uma doença e ainda menos raro é ter na família pessoas com várias patologias alérgicas.
O médico imunoalergologista tem mesmo de ter uma visão verdadeiramente holística e foi também por isso que a especialidade surgiu, caso contrário, os doentes teriam de recorrer a vários especialistas e seria difícil tratar
22 | Jornal médico Março 2024 Especial &
HeLeNA PitÉ, CooRdeNAdoRA de imuNoALeRGoLoGiA No HoSPitAL CuF teJo e eSPeCiALiStA tAmBÉm No HoSPitAL CuF deSCoBeRtAS:
Helena Pité: “Frequentemente, sentimo-nos médicos de família das doenças alérgicas porque, muitas vezes, elas estão no seio da família”
1 e 2 fevereiro 2024
com a mGF”
o todo. A Imunoalergologia consegue dar essa diferenciação. Frequentemente, sentimo-nos médicos de família das doenças alérgicas porque, muitas vezes, elas estão no seio da família. Não é raro acompanharmos em consultas o avô, o pai e o filho, todos eles com uma ou mais doenças alérgicas para controlar. Atualmente, sabe-se que há mesmo um fenótipo específico de rinite alérgica associado a asma.
JN – Há realmente uma ligação muito estreita entre a asma e a rinite?
HP – Sim, a ligação é fortíssima e conhecida, não apenas por razões anatómicas, mas também por mecanismos inflamatórios, funcionais e neuronais. Conhecer melhor estes mecanismos vai ajudar-nos a individualizar o tratamento, indo cada vez mais no sentido da medicina personalizada. Contudo, para conseguirmos fazer essa individualização, precisamos de dados clínicos, de biomarcadores...
A minha tese de doutoramento incidiu sobre este tema, desde a avaliação epidemiológica até à avaliação funcional respiratória nasal e brônquica, bem como biomarcadores de inflamação.
O projeto abrangeu ainda uma parte dirigida à avaliação de novos biomarcadores através de análises de metabolómica. Esta avaliação envolveu uma parceria entre a NOVA Medical School, onde estava a desenvolver o doutoramento sob orientação da Professora Doutora Maria Emília Monteiro, a Universidade de Aveiro e o Leiden University Medical Center, nos Países Baixos, onde me desloquei para estudar as amostras não invasivas de crianças com rinite e asma.
O projeto de doutoramento e os resultados dos diferentes estudos epidemiológicos, clínicos, funcionais e bioquímicos contribuíram para reforçar a evidência a sustentar uma avaliação global integrada da asma e da rinite. Isto é válido tanto na abordagem na prática clínica como na investigação, estimulando, inclusive, a procura e caracterização de moléculas/vias metabólicas comuns à fisiopatologia da rinite e da asma que possam conduzir a potenciais (novos) alvos terapêuticos.
JN – Em 2023, foi nomeada co-chair do Comité de Urticária da World
Allergy Organization e também colabora noutros grupos de trabalho internacionais, incluindo os dedicados aos mais jovens.
HP – Tenho mantido a ligação aos grupos nacionais e internacionais com os quais trabalho desde a minha formação específica em Imunoalergologia. No Comité da WAO, temos vários objetivos, mas estamos focados, para além da atualização permanente neste campo, em termos recomendações que possam ser aplicáveis para todas as pessoas com urticária, de todas as idades, e independentemente do país onde vivem. Atualmente, integro também grupos de trabalho dedicados à asma em adultos e em idade pediátrica, e também aos adolescentes e adultos jovens com doenças alérgicas, no que diz respeito aos cuidados de transição.
“Não é raro ter pessoas com mais do que uma doença e ainda menos raro é ter na família pessoas com várias patologias alérgicas.”
Muitas das doenças alérgicas têm início em idade pediátrica e, como patologias crónicas que são, “acompanham” a pessoa ao longo da vida. Infelizmente, existem muitos países, inclusive europeus, onde a Imunoalergologia não existe como especialidade médica. Por isso, é comum a passagem do pediatra para o “médico dos adultos”, o que torna os cuidados de transição muito desafiantes.
Esta task force da European Academy of Allergy and Clinical Immunology surgiu pelo facto de, nesta altura de transição, se assistir a um aumento da frequência de agudização ou não controlo de várias doenças alérgicas crónicas. No entanto, também são necessários cuidados de transição entre nós, quer na Imunoalergologia, quer na MGF, no sentido em que passa a haver uma mudança de cuidados. A crian-
ça, que vinha com o familiar, passará a vir sozinha enquanto adulta e a ter responsabilidade plena pela tomada de decisões também sobre a sua doença e o controlo da mesma.
Para facilitar esse processo, é importante envolver a criança desde sempre.
A consulta não pode ser feita só para os pais. O grau de expectativa e de exigência da criança em relação a nós e o nosso em relação a ela vai sendo cada vez maior. Desta forma, a transição não será abrupta, mas sim em crescendo, até que a pessoa se torne perfeitamente autó-
noma. Este processo é importantíssimo para a Educação em Saúde. As pessoas são responsáveis pela sua própria saúde e têm de se estabelecer “contratos” entre o médico e o doente, caso contrário, não vamos conseguir ter sucesso no controlo.
“ trabalhar com equipas multidisciplinares é das coisas de que mais gosto”
Nascida a 24 de junho de 1979, em Setúbal, Helena Pité cresceu com a presença muito assídua do avô materno, que era médico e lhe falava muito de plantas e animais, o que contribuiu para despertar o seu interesse pelas ciências e, em particular, pela biologia. Por outro lado, tinha curiosidade em estudar Medicina e atraía-a a possibilidade de fazer a diferença na vida das pessoas.
Aos 18 anos, mudou-se para a capital, para estudar na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Durante o curso, que concluiu em 2003, percebeu que a Imunoalergologia seria a sua primeira escolha. “Gostava muito de poder trabalhar com crianças, mas a Pediatria é uma área muito vasta e, pessoalmente, gostava de me dedicar a uma área específica”, refere.
A Imunoalergologia seria, assim, a especialidade mais adequada, pois, “sem perder a visão holística, permite saber muito sobre determinadas áreas e, se desejado, aprofundar mais ainda”. Paralelamente, possibilitava-lhe assegurar uma continuidade de cuidados, algo que muito privilegiava, pois, não equacionaria “deixar de fazer o seguimento da pessoa a partir de determinada idade, quando a doença não desapareceu”.
Foi precisamente pela forte vertente pediátrica que pediu para visitar o Serviço de Imunoalergologia do Hospital D. Estefânia, na altura dirigido por José Rosado Pinto. Aí, conheceu Mário Morais de Almeida, que lhe apresentou o Serviço e os projetos que estavam a desenvolver, o que motivou a escolha deste local para a sua formação em Imunoalergologia. Em janeiro de 2013, poucos meses após se tornar especialista, foi convidada a integrar o grupo CUF, para onde grande parte da equipa que integrava tinha transitado durante a sua formação. “Fazia todo o sentido aceitar, porque era a minha equi-
pa de sempre, incluindo os meus tutores e mestres, noutras instalações”, afirma.
Aceitou o desafio de ser médica residente no Hospital CUF Infante Santo e o facto de, durante alguns períodos do dia, ter sido a única imunoalergologista presente, trouxe-lhe “muita responsabilidade e crescimento”. Em paralelo, sempre fez períodos mais curtos no Hospital CUF Descobertas, onde estava com a maior parte da equipa.
Em julho de 2019, poucos meses após se doutorar, assumiu a coordenação da especialidade no Hospital CUF Infante Santo e logo teve a oportunidade de participar no planeamento da Imunoalergologia do novo Hospital CUF Tejo, que coordena desde a sua abertura, em setembro de 2020, dando continuidade ao projeto iniciado por Mário Morais de Almeida. “Tem sido um enorme desafio, mas em equipa estamos a desenvolver mais a Imunoalergologia, sempre em rede e num continuum de cuidados, também com outras especialidades, dentro e fora do hospital”, conta.
“Trabalhar com equipas multidisciplinares é das coisas de que mais gosto”, assume a médica, acrescentando ter particular entusiasmo em que estejam incluídos médicos de outras áreas, cardiopneumologistas, enfermeiros, biólogos, farmacêuticos ou mesmo pessoas de diferentes ramos profissionais, que “trazem novas ideias e visões diferentes sobre os problemas, contribuindo para uma maior abrangência, que nos permite chegar mais longe”.
O crescimento e consolidação de “uma equipa clínica que junta os saberes e a experiência dos elementos com mais anos de prática ao entusiasmo e iniciativa dos mais jovens” tem sido, do seu ponto de vista, “uma das chaves de sucesso”. Simultaneamente, “o crescimento e a diferenciação técnica,
com especial destaque para as áreas da avaliação funcional respiratória e da realização de provas e tratamentos específicos em Imunoalergologia, tem contribuído igualmente para o crescimento e reconhecimento do Serviço”. Por último, “cardiopneumologistas e enfermeiros devidamente formados e capacitados para os cuidados à pessoa com doença alérgica são também peças-chave na abordagem multidisciplinar implementada”. Como realça, “somos, acima de tudo, um Serviço de pessoas e para as pessoas”. Caracterizando-se como sendo “alguém inquieto, que vai à procura das coisas”, diz ter contado sempre com o suporte dos colegas e da instituição a respeito da sua diferenciação: “A Dr.ª Graça Pires, que foi a minha primeira tutora, desde cedo me apoiou, e contei sempre com o apoio dos médicos no Serviço.” Nos Hospitais CUF, beneficiou de uma Bolsa de Doutoramento. “Também aqui fui incentivada a continuar, a prosseguir a minha evolução e diferenciação. Desde logo, e uma vez mais, o Dr. Mário Morais de Almeida foi grande impulsionador e mestre, pela integração em projetos clínicos, de investigação e de formação, permitindo que criasse as condições necessárias para a continuação da minha formação”, destaca. “Em termos institucionais, na CUF, pude contar com um importante incentivo à concretização dos meus projetos académicos e clínicos”, elucida.
Além da atividade clínica, faz questão de investir parte do seu tempo na vertente formativa e na investigação, mantendo a colaboração com a NOVA Medical School, o que acredita “permitir não só inovação e diferenciação clínica como também manter uma atitude crítica e de desafio”.
Mãe de dois filhos, de 12 e 16 anos, continua a ir regularmente a Setúbal, para visitar os pais e ver o mar.
Jornal médico | 23 Março 2024
imunomodulação oral: como e quando?
mário morais de Almeida
imunoalergologista, Hospital CUF Descobertas. Presidente eleito da Associação Mundial de Alergia
As infeções do aparelho respiratório são muito frequentes e atingem quase toda a população em determinado momento da sua vida. Mas existem populações cuja suscetibilidade está aumentada para a sua ocorrência, que podem repetir-se múltiplas vezes em cada ano, em especial durante os 6 meses que correspondem ao outono/inverno.
Pensamos aqui nas crianças, especialmente as de idade pré-escolar (ainda com uma imunidade muito imatura), na população mais idosa (na qual a imunossenescência faz sentir os seus efeitos) e em múltiplas pessoas que sofrem de condições crónicas, que vão das doenças respiratórias (asma, rinossinusite crónica ou doença pulmonar obstrutiva crónica - DPOC, por exemplo), às doenças cardiovasculares, metabólicas/ /endócrinas, renais e neoplásicas, entre muitas outras.
Se pensarmos na asma, como exemplo, está bem documentado que em cerca de 90% das crises graves na criança e em até 70% nos adultos são as infeções virais que desempenham o papel principal no agravamento da doença
Ou seja, pelo menos metade da população tem um risco aumentado de se infetar repetidamente, seja pela idade, seja pelas doenças crónicas de que sofre. Aumentamos assim a morbilidade, que se traduz em internamentos e ab-
As infeções do aparelho respiratório são muito frequentes e atingem quase toda a população em determinado momento da sua vida. Mas existem populações cuja suscetibilidade está aumentada para a sua ocorrência.
sentismo laboral e escolar, e que até se pode refletir em termos de mortalidade, tal como tem ocorrido recentemente no nosso país.
E a recente pandemia de covid-19 também alterou o paradigma das infeções
respiratórias, pois foi coincidente com as justificadas restrições que nos foram impostas, não tendo sido expostos a agentes patogénicos por um longo período de tempo, afetando a competência da nossa resposta imunitária.
E quanto maior foi esse período temporal mais provável será que a imunidade sistémica contra a infeção tenha diminuído, o que significa uma maior probabilidade de ficarmos agora mais gravemente doentes quando somos infetados.
A prevenção das doenças respiratórias infeciosas passa pelas conhecidas regras de etiqueta respiratória, que assumem uma eficácia indiscutível. Mas apostar na imunomodulação oral deve ser agora uma prioridade. Que não deve ser esquecida e não pode ser adiada...
E devemos recordar aqui a definição de “imunomodulação”, a qual consiste na modificação da resposta imunitária ou do funcionamento do sistema imunitário através de agente terapêutico.
urgência alergológica: urticária aguda
imunoalergologista, Hospital CUF tejo e Hospital CUF Descobertas
Mais do que uma doença, a urticária é um conjunto de sinais e sintomas que frequentemente nos desafia na nossa prática clínica, podendo ocorrer em qualquer idade...
É urticária? É angioedema?
A urticária caracteriza-se pela presença de pápulas eritematosas e pruriginosas. De forma distinta de outras condições que fazem parte do diagnóstico
diferencial, como o prurigo, o estrófulo ou outras doenças com manifestações de vasculite, as lesões de urticária desaparecem à digitopressão e regridem espontaneamente em menos de 24 horas, sem lesão residual. Estas pápulas podem ter diferentes formas e tamanhos, e até coalescer formando placas. Na maioria dos casos, a urticária surge isoladamente, mas em até 20% dos doentes pode ser acompanhada de angioedema, com prurido ou ardor acompanhante, e que pode demorar mais tempo a desaparecer, até cerca de 72 horas.
“O meu filho anda com estas lesões há 3 semanas... isso é normal?”
A urticária aguda pode ter duração muito variável, até 6 semanas. Mas menor duração nem sempre é sinónimo de menor gravidade ou incómodo.
Quais são as principais causas de urticária aguda? É uma alergia?
Na maioria dos casos não existe qualquer alergia… De entre as causas identi-
ficadas, as mais comuns são as infeções, sobretudo víricas, mas também podem ser bacterianas e até parasitárias. Por exemplo, na pandemia de covid-19, várias pessoas tiveram a doença com manifestação de urticária, incluindo urticária de difícil controlo. As causas de urticária aguda vão, assim, desde as infeções a situações de verdadeira alergia alimentar, hipersensibilidade medicamentosa ou alergia a picadas de insetos, entre outras. Em vários casos, não se encontra uma causa definida, mas só podemos afirmá-lo após uma história clínica detalhada com exame objetivo completo e rigoroso. São também importantes a presença de outros sinais e sintomas, nomeadamente sistémicos, que nos podem guiar nas nossas suspeitas clínicas.
Precisamos de exames?
O diagnóstico de urticária aguda é clínico, não sendo necessários exames, exceto se houver uma forte suspeita clínica concreta. Não estão recomendados quaisquer exames por rotina. Uma avaliação clínica rigorosa é essencial e habitual-
mente suficiente para o diagnóstico e para um tratamento eficaz e seguro.
Qual é o melhor tratamento na urticária aguda?
O tratamento deve ser feito de imediato, mesmo sem a realização prévia de exames complementares de diagnóstico. O objetivo do tratamento é o controlo total, devolvendo bem-estar. A abordagem da urticária inclui a eliminação de fatores desencadeantes e de agravamento, para além do tratamento farmacológico sintomático. Os anti-histamínicos de segunda geração são o tratamento de primeira linha, sendo habitualmente necessário aumentar a dose destes fármacos (até um máximo de 4 vezes) para o controlo da situação. Os anti-histamínicos sedativos não são recomendados. Os corticosteroides orais podem ser usados, mas apenas por curtos períodos (3 a 5 dias) nos casos de maior gravidade, com pouca resposta ao tratamento ou na presença de angioedema.
O prognóstico é bom?
A urticária aguda é transitória por
Os imunomoduladores orais, nomeadamente através do uso de extratos bacterianos ou fúngicos, permitem estimular e regular o sistema imunitário das mucosas, permitindo prevenir eficazmente infeções respiratórias do aparelho respiratório, bacterianas e virais, obtendo-se uma redução de até metade do seu número nos vários grupos etários, da criança ao idoso, reduzindo significativamente a toma de antibióticos. E estes dados foram comprovados em centenas de estudos científicos controlados.
São igualmente eficazes quando indicadas em doenças respiratórias crónicas, como adjuvante ao tratamento, diminuindo até 35% o número de episódios de sibilância, o número de antibióticos, bem como o número de agudizações de doentes com rinossinusite, asma ou DPOC.
Para além da eficácia demonstrada, os efeitos adversos são pouco frequentes (inferiores a 5%), sendo habitualmente transitórios e na maioria dos
Na pandemia de covid-19, várias pessoas tiveram a doença com manifestação de urticária, incluindo urticária de difícil controlo.
definição, com excelente prognóstico. Apesar disto, habitualmente, causa muito impacto e angústia, pelo que é importante educar, informar e tranquilizar a pessoa com urticária e a sua família.
Quais são os critérios de referenciação para consulta hospitalar?
Os critérios de referenciação são es-
24 | Jornal médico Março 2024
Helena Pité
Especial &
casos sem necessidade de suspender o tratamento.
Paralelamente, existe evidência de que podem ser indicadas em pessoas com outras doenças crónicas, nomeadamente em casos de insuficiência renal, e mesmo nas imunodeficiências, como a secundária a infeção pelo VIH ou primária como no défice de imunoglobulina A, tendo sido também já realizados estudos em doentes com patologias autoimunes, sem qualquer evidência de aumento de
A prevenção das doenças respiratórias infeciosas passa pelas conhecidas regras de etiqueta respiratória.
risco de perda de controlo destas doenças.
Os imunomoduladores orais podem ser dados no decurso de infeções e em
1 e 2 fevereiro 2024
sencialmente clínicos, por dificuldade ou dúvida no diagnóstico, suspeita de causa alérgica (nomeadamente suspeita de alergia a alimentos, a medicamentos ou por picada de vespa ou abelha), ou alterações sugestivas de doenças sistémicas, bem como manifestações clínicas mais graves ou a ausência de resposta ao tratamento com anti-histamínicos.
No Allergy & Respiratory Summit, a urticária aguda está em destaque. Há espaço para discussão do diagnóstico, bem como do diagnóstico diferencial mais relevante na prática clínica. No tratamento abordamos várias questões, como, por exemplo, que anti-histamínicos usar, desde a criança ao adulto idoso, sem esquecer a grávida, que doses utilizar e com que posologia, se devemos ou não mudar de anti-histamínico ou combinar vários no tratamento... Aqui, como nos restantes temas, esperamos uma partilha de conhecimento e experiências entre a Medicina Geral e Familiar e a Imunoalergologia, em prol dos melhores cuidados para a nossa população.
conjunto com antibióticos ou em simultâneo com a vacinação antigripal, antipneumocócica ou anti-SARS-CoV2, sem necessidade de diferir as suas tomas.
Em conclusão, a par das vacinas anti-infeciosas específicas, a imunomodulação oral constitui um adjuvante muito importante do tratamento e da prevenção
ASOLUÇÃO
das doenças respiratórias, contribuindo para a melhoria da qualidade em todos os grupos etários.
Jornal médico | 25 Março 2024
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Pneumonia adquirida na comunidade, apesar de frequente,
eurico A. R. Silva
Assistente graduado de MGF, USF João Semana. Coordenação do GrESP. Diretor do internato da ULS da região de Aveiro
A pneumonia adquirida na comunidade (PAC) é uma doença que afeta os pulmões e é causada por diferentes agentes
infeciosos, como bactérias, vírus e fungos. É uma das principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo, especialmente em idosos e pessoas com comorbilidades.
O tratamento adequado da PAC é essencial para garantir a recuperação do paciente e prevenir complicações graves. Neste sentido, o tratamento antibiótico desempenha um papel fundamental. No entanto, antes de iniciar o tratamento, é necessário seguir três etapas importantes.
A primeira etapa consiste no diagnóstico da pneumonia. É importante lembrar que a história clínica e o exame físico podem apresentar baixa sensibilidade e especificidade, por isso, a confirmação do diagnóstico deve ser feita por meio de radiografia torácica, que pode mostrar a
azilsartan medoxomilo/clorotalidona
NOME DO MEDICAMENTO: Edarclor 40 mg + 12.5 mg comprimidos revestidos por película. Edarclor 40 mg + 25 mg comprimidos revestidos por película. COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA: Edarclor 40 mg + 12.5 mg comprimidos revestidos por película e Edarclor 40 mg + 25 mg comprimidos revestidos por película. Cada comprimido contém 40 mg de azilsartan medoxomilo (sob a forma de potássio) e 12.5 mg ou 25 mg de clorotalidona. FORMA FARMACÊUTICA: Edarclor 40 mg + 12.5 mg comprimidos revestidos por película: Comprimido revestido por película de cor vermelho pálido, redondo (aproximadamente 9.7 mm de diâmetro), biconvexo, com A/C 40/12.5 gravado numa das faces. Edarclor 40 mg + 25 mg comprimidos revestidos por película: Comprimido revestido por película de cor vermelho claro, redondo (aproximadamente 9.7 mm de diâmetro), biconvexo, com A/C 40/25 gravado numa das faces. INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS: Tratamento da hipertensão em adultos. Edarclor é uma associação de dose fixa indicada em adultos cuja pressão arterial não é adequadamente controlada por monoterapia com azilsartan medoxomilo. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO: Posologia: Adultos: A dose inicial recomendada é de 40 mg + 12.5 mg uma vez por dia em doentes cuja pressão arterial não é adequadamente controlada com monoterapia anti-hipertensiva corrente como Edarbi 40 mg ou Edarbi 80 mg. Se necessário a dose pode ser aumentada para um máximo de 40 mg + 25 mg uma vez por dia. O efeito anti-hipertensor perto do máximo torna-se normalmente evidente ao fim de 1-2 semanas, com os efeitos máximos atingidos às 4 semanas. Populações especiais: Idosos (idade igual ou superior a 65 anos): Não é necessário um ajuste inicial da dose nos doentes idosos; nos doentes muito idosos (≥75 anos), o tratamento deve ser efetuado com precaução e recomenda-se uma monitorização médica apertada. Compromisso renal e Afeção hepática: A clorotalidona, um dos componentes ativos do Edarclor, não deve ser usada em doentes com compromisso renal grave , anúria e afeção hepática grave . Não há experiência da administração de Edarclor em doentes com transplante renal recente. Não é necessário um ajuste da dose nos doentes com compromisso renal ligeiro ou moderado. É limitada a experiência de utilização em doentes com afeção hepática ligeira a moderada; no entanto não é necessário um ajuste inicial da dose de Edarclor em doentes com afeção hepática ligeira a moderada. Alterações menores do equilíbrio hidro eletrolítico devidas a diuréticos tiazídicos podem precipitar um coma hepático. Recomenda-se monitorização estreita. Depleção do volume intravascular: Edarclor deve ser iniciado sob supervisão médica estreita, apenas após ter sido alcançado um volume correto. Uma resposta hipotensiva temporária devida a depleção de volume não impede que os doentes continuem o tratamento, o qual pode normalmente ser continuado sem dificuldade uma vez estabilizados a pressão arterial e o estado do volume. Insuficiência cardíaca: Recomenda-se precaução em doentes hipertensos com insuficiência cardíaca congestiva dado que não existe experiência de utilização nestes doentes. População de raça negra: Não é necessário um ajuste da dose na população de raça negra. População pediátrica: A segurança e eficácia em crianças e adolescentes dos 0 aos <18 anos de idade não foram ainda estabelecidas. Não existem dados disponíveis. Modo de administração: Via oral e pode ser tomado com ou sem alimentos. CONTRAINDICAÇÕES: - Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes. - Gravidez. - Afeção hepática grave.Compromisso renal grave (TFG <30 mL/min/1.73m ). - Anúria.Hiponatremia refratária. - Hipercalcemia. - Hiperuricemia sintomática. O uso concomitante de Edarclor com medicamentos contendo aliscireno é contraindicado em doentes com diabetes mellitus ou compromisso renal. EFEITOS INDESEJÁVEIS: Lista tabelada de reações adversas: As reações adversas baseadas nos dados agregados de todos ensaios clínicos de fase 3 são apresentadas em baixo, de acordo com as classes de sistemas de órgãos e termos preferenciais. Estão classificadas por
frequência, utilizando a seguinte convenção: muito frequentes (≥ 1/10); frequentes (≥ 1/100, < 1/10); pouco frequentes (≥ 1/1,000, < 1/100); raras (≥ 1/10,000, < 1/1,000); muito raras (< 1/10,000), incluindo notificações isoladas. Dentro de cada classe de frequência, as reações adversas são apresentadas por ordem decrescente de gravidade. Doenças do metabolismo e da nutrição – Reações adversas frequentes: Aumento do ácido úrico no sangue, hiperuricémia. Doenças do sistema nervoso – Reações adversas frequentes: Tonturas, tonturas posturais.
Vasculopatias – Reações adversas frequentes: Hipotensão. Doenças gastrointestinais - Reações adversas frequentes: Diarreia, náuseas. Afeções musculosqueléticas e dos tecidos conjuntivos- Reações adversas frequentes:Espasmos musculares. Perturbações gerais e alterações no local de administração - Reações adversas frequentes: Fadiga. Exames complementares de diagnóstico - Reações adversas:muito frequentes: Aumento da creatinina no sangue; Reações adversas frequentes: Aumento da ureia no sangue. Informação adicional sobre os componentes individuais: As reações adversas que se sabe ocorrerem com cada componente administrado isoladamente mas que não foram observadas nos estudos clínicos podem ocorrer durante o tratamento com Edarclor. Clorotalidona: Adicionalmente às reações adversas listadas para o Edarclor, foram notificadas as seguintes reações adversas para a clorotalidona: Doenças do metabolismo e da nutrição Reações adversas:muito frequentes: Aumento dos lípidos no sangue; Reações adversas frequentes: Hipomagnesemia. Cardiopatias – Reações adversas frequentes: Hipotensão postural. Doenças gastrointestinais –Reações adversas frequentes: Perda de apetite, desconforto gastrointestinal menor. Afeções dos tecidos cutâneos e subcutâneos –Reações adversas frequentes: Urticaria. Doenças dos órgãos genitais e da mama - Reações adversas frequentes: Impotência. Exames complementares de diagnóstico. Creatinina sérica: O tratamento com Edarclor resultou numa maior incidência de aumentos da creatinina sérica, comparativamente com o azilsartan medoxomilo e a clorotalidona. Estes aumentos foram temporários ou não progressivos e reversíveis, e associados com acentuadas reduções da pressão arterial. Ácido úrico: O Edarclor esteve associado a aumentos do ácido úrico sérico. Os aumentos de ácido úrico são dependentes da dose, aumentando com a dose de clorotalidona, embora tenham sido pouco frequentes as notificações de gota nos grupos de tratamento, mesmo nos estudos de longo prazo. Hemoglobina e hematócrito: O Edarclor esteve associado com reduções ligeiras nos níveis de hemoglobina, hematócrito, e na contagem de células vermelhas, consistentes com os efeitos farmacológicos conhecidos dos inibidores do sistema reninaangiotensina-aldosterona. Experiência pós-comercialização: Foi notificada uma rara incidência de angioedema associado ao uso de Edarclor. Não foram identificadas outras reações adversas nas notificações espontâneas pós-comercialização. Notificação de suspeitas de reações adversas: A notificação de suspeitas de reações adversas após a autorização do medicamento é importante, uma vez que permite uma monitorização contínua da relação benefício-risco do medicamento. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas diretamente ao INFARMED, I.P.: Sítio da internet: http://www.infarmed.pt/web/infarmed/submissaoram (preferencialmente) ou através dos seguintes contactos: Direção de Gestão do Risco de Medicamentos Parque da Saúde de Lisboa, Av. Brasil 53 | 1749-004 Lisboa Tel: +351 21 798 73 73 Linha do Medicamento: 800222444 (gratuita) E-mail: farmacovigilancia@ infarmed.pt DATA DA REVISÃO DO TEXTO setembro 2021. Para mais informações deverá contactar o representante do titular da autorização de introdução no mercado. MSRM. Medicamento comparticipado no escalão B.
presença de infiltrado no parênquima pulmonar. Além disso, a radiografia também permite avaliar a gravidade da doença. Atenção que nos idosos a pneumonia pode manifestar-se com sintomas inespecíficos e sem febre, o que pode dificultar e atrasar o diagnóstico.
A segunda etapa é a decisão sobre o melhor local de tratamento. Para isso, é fundamental utilizar ferramentas que avaliam o risco do paciente e orientam para o tratamento em ambulatório ou internamento. O índice de gravidade de pneumonia ou os critérios CURB-65 podem ser utilizados, na impossibilidade de análise bioquímica pode-se usar o CRB-65. É importante registar o resultado dessas ferramentas no diário clínico. Atenção que essas ferramentas não substituem a avaliação clínica e social com-
A PAC é uma doença que afeta os pulmões e é causada por diferentes agentes infeciosos, como bactérias, vírus e fungos.
pleta, que podem influenciar a decisão de tratamento.
Por último, a terceira etapa é a escolha do antibiótico adequado. Essa escolha vai depender do agente causal da pneumonia e da sua sensibilidade aos antibióticos. É importante conhecer o perfil de resistências em Portugal, mas essa informação
pode ser de difícil obtenção. Portanto, é necessário levar em consideração as comorbilidades do paciente, o uso recente de antibióticos e seguir as recomendações recentes, como as guidelines de 2019 da American Thoracic Society. Temos a norma de orientação clínica 045/2011 da DGS – Antibioterapia na Pneumonia Adquirida na Comunidade em Adultos Imunocompetentes, contudo, apresenta esquemas terapêuticos que ao longo dos anos têm sido discutidos e contestados.
Portugal apresenta taxas elevadas de mortalidade por PAC, sendo um dos países com maior taxa de internamento e mortalidade por pneumonia em adultos na Europa.
O indicador 2016.326.01 – Taxa de internamento por pneumonia em adultos, da tipologia de ganhos em saúde per-
A dPoC não vive só
azilsartan
NOME DO MEDICAMENTO: Edarbi 20 mg comprimidos. Edarbi 40 mg comprimidos. Edarbi 80 mg comprimidos. COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA: Cada comprimido contém 20 mg, 40mg ou 80 mg de azilsartan medoxomilo (sob a forma de potássio). FORMA FARMACÊUTICA: Comprimido branco a esbranquiçado redondo, com 6,0 mm, 7,6 mm ou 9,6 mm de diâmetro; com “ASL” gravado numa das faces e “20”, “40” ou “80” gravado na outra face, para os comprimidos de 20 mg, 40 mg ou 80 mg respetivamente. INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS: Edarbi é indicado para o tratamento da hipertensão essencial em adultos. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO: Posologia A dose inicial recomendada em adultos é de 40 mg uma vez ao dia. A dose pode ser aumentada até um máximo de 80 mg uma vez ao dia nos doentes cuja pressão arterial não é adequadamente controlada com a dose mais baixa. O efeito anti-hipertensor perto do máximo torna-se visível ao fim de 2 semanas, com os efeitos máximos atingidos às 4 semanas. Se a pressão arterial não for adequadamente controlada com o Edarbi isoladamente, pode obter-se uma redução adicional da pressão arterial quando o Edarbi é administrado concomitantemente com outros medicamentos anti-hipertensores, incluindo diuréticos e bloqueadores dos canais do cálcio. CONTRAINDICAÇÕES: Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes. No segundo e terceiro trimestres da gravidez. O uso concomitante de Edarbi com medicamentos contendo aliscireno é contraindicado em doentes com diabetes mellitus ou compromisso renal (TFG < 60 ml/min/1,73 m2). Edarbi não é indicado para utilização em crianças ou adolescentes com menos de 18 anos de idade. EFEITOS INDESEJÁVEIS: Resumo do perfil de seguranca Edarbi nas doses de 20, 40 ou 80 mg foi avaliado em termos de segurança em estudos clinicos com doentes adultos tratados durante até 56 semanas. Nestes estudos clinicos, as reações adversas associadas ao tratamento com o Edarbi foram, na sua maioria, ligeiras ou moderadas, com uma incidência global semelhante ao placebo. As tonturas constituiram a reação adversa mais frequente. A incidência das reações adversas com o Edarbi não foi afetada pelo sexo, idade ou raça. Lista tabelada de reações adversas: As reações adversas baseadas nos dados agregados (doses de 40 e 80 mg) estão classificadas abaixo por frequência. Frequentes (≥ 1/100 a < 1/10): tonturas, diarreia e aumento da creatina fosfoquinase plasmática. Pouco frequentes (> 1/1000, < 1/100): hipotensão, náuseas, erupção cutânea e prurido, espasmos musculares, fadiga e edema periférico, aumento da creatina plasmática e aumento do ácido úrico plasmático. Raras (> 1/10.000, < 1/1000): angioedemas. As reações adversas foram notificadas para a dose de Edarbi 20 mg com uma frequencia semelhante às doses de 40 e 80 mg num estudo controlado por placebo. Notificação de suspeitas de reações adversas A notificação de suspeitas de reações adversas após a autorização do medicamento é importante, uma vez que permite uma monitorização contínua da relação benefício-risco do medicamento. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de
Cláudia vicente
Médica de família, USF Araceti. Coord. GRESP/APMGF. Board iPCrG. ChairGrupo 01.03 Cuidados de Saúde Primários, European respiratory Society
A DPOC caracteriza-se por ser uma doença respiratória crónica, progressiva e agressiva, constituindo atualmente a terceira causa de morte a nível mundial.
O doente com DPOC é um doente complexo, com múltiplas comorbilidades. Ou devemos dizer um doente com elevada multimorbilidade?(1) Tudo depende da perspetiva com que abordamos o assunto. Se olharmos do ponto de vista apenas da DPOC, diremos que tem várias comorbilidades, mas se olharmos para o doente como um todo (o que gosto e devo fazer
como médica de família) penso num doente com elevada multimorbilidade. Esta ideia está graficamente explanada no conhecido “comorbidoma” publicado, em 2012, por Divo et al.(2) Em média, o doente com DPOC tem 4 doenças coexistentes e cerca de um terço dos doentes usa 5-10 medicamentos.
Os doentes com DPOC parecem ter maior probabilidade de desenvolver determinadas doenças, as quais estão muitas vezes associadas e apresentam fatores de risco comuns. A inflamação sistémica presente na DPOC pode constituir um mecanismo etiopatogénico comum a outras manifestações clínicas frequentemente observadas nestes doentes e contribuir para o surgimento e desenvolvimento de comorbilidade. Os doentes com DPOC têm maiores níveis de citoquinas e mediadores inflamatórios. Consoante o fenótipo, parece haver propensão para o desenvolvimento de certas comorbilidades em clusters(3) Mas, no conhecimento destes mecanismos etiopatogénicos, parece haver ainda muito a descobrir.
A DPOC “convive” frequentemente com várias comorbilidades, como as cardiovasculares (HTA, insuficiência cardíaca, arritmias...), diabetes mellitus, doença renal, ansiedade e depressão, declínio
26 | Jornal médico Março 2024
reações adversas diretamente ao INFARMED, I.P. Sítio da internet: http://www.infarmed.pt/web/infarmed/ submissaoram (preferencialmente) ou através dos seguintes contactos: Direção de Gestão do Risco de Medicamentos Parque da Saúde de Lisboa, Av. Brasil 53 1749-004 Lisboa Tel: +351 21 798 73 73 Linha do Medicamento: 800222444 (gratuita) E-mail: farmacovigilancia@ infarmed.pt Data da revisão do texto: Abril 2022. MSRM. Medicamento comparticipado escalão B Para mais informações contactar o titular da autorização de introdução no mercado. Está disponível informação pormenorizada sobre este medicamento no sítio da internet da Agência Europeia de Medicamentos: http://www.ema.europa.eu. TEDARC222A2CA /Mai/2022, revalidado anualmente Zona Industrial da Abrunheira; Rua da Tapada Grande n.º 2 — Abrunheira • 2710-089 Sintra NIF: 500 626 413 20mg • 40mg • 80mg comprimidos
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Especial &
nem sempre é evidente
mite avaliar os internamentos na rede do SNS de pneumonias bacterianas em pacientes imunocompetentes. Verificam-se diferenças entre os modelos de unidades de saúde, obtendo-se menor taxa de internamento nas USF modelo B.
É importante ressaltar que existem medidas de prevenção que todos os
O tratamento adequado da PAC é essencial para garantir a recuperação do paciente e prevenir complicações graves.
profissionais de saúde devem adotar. Após uma pneumonia, é fundamental promover medidas que previnam a ocorrência de novos episódios, como o controlo adequado das comorbilidades, a vacinação, o tabagismo, o consumo de álcool e o uso de medidas de proteção, entre outras.
Em suma, o tratamento adequado da pneumonia adquirida na comunidade envolve o diagnóstico correto, a decisão sobre o local de tratamento e a escolha do antibiótico adequado. Além disso, é fundamental adotar medidas de prevenção para reduzir a incidência e a gravidade da doença.
Diria que apesar de a PAC ser frequente na nossa prática clínica não é sinónimo de que a tratemos corretamente, pois, ela apresenta muitas variáveis, por vezes, pouco evidentes.
vacinas anti-infeciosas no adulto – é tempo de atuar!
idosos, pessoas com doenças crónicas e imunocomprometidos.
Para além da prevenção da infeção, vários estudos e meta-análises revelam também que a vacinação antigripal dá proteção cárdio e cerebrovascular e redução das agudizações de doenças crónicas.
cognitivo, dor, anemia, patologia do sono, osteoporose, doença de refluxo gastroesofágico, bronquiectasias, cancro do pulmão, para citar as mais frequentes. Todas estas conduzem a uma entidade – fragilidade –, que corresponde à presença de 5 entidades: fraqueza, lentidão, exaustão, baixa atividade física e perda de peso não intencional. Sabemos que maior fragilidade corresponde a piores outcomes (4) A abordagem destes doentes obriga a uma visão multidisciplinar e holística, não só do doente, mas também da família, com conhecimento da cultura e recursos locais.
Nesta sessão, tentaremos abordar, de forma prática, as comorbilidades mais frequentes presentes no doente com DPOC, chamando sempre a atenção que é essencial o equilíbrio e o tratamento de cada uma delas, de forma a não impactar negativamente nas demais. A polifarmácia deve também ser tida em conta, bem como os riscos inerentes às interações e efeitos secundários. O médico de família, por abordar todos os problemas com os seus doentes e por ser conhecedor da realidade comunitária, tem um papel fundamental na gestão do doente com DPOC e multimorbilidade, ou simplesmente no doente com multimorbilidade.
A DPOC não consegue mesmo viver só e isso leva a um desafio enorme para a gestão na prática clínica. As doenças são frequentemente vistas de forma individual, mas os doentes são um só. Talvez faça mais sentido começarmos a abordar o risco global do doente, incorporando toda a sua multimorbilidade. O conhecimento e a reflexão desta realidade lança-nos, enquanto médicos de família, desafios para o futuro na gestão dos nossos doentes e das nossas agendas.
Referências:
1.Paula Broeiro, Multimorbilidade e comorbilidade:duasperspetivasdamesmarealidade;Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar. DOI: https://doi.org/10.32385/rpmgf.v31i3.11520
2.DivoM,etal./2012/Comorbiditiesandriskof mortality in patients with chronic obstructive pulmonarydisease./AmJRespirCritCareMed /186/155-61. The American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine is an official journaloftheAmericanThoracicSociety
3.Martinez CH, Miguel DJ, Mannino DM. DefiningCOPD-relatedcomorbidities,2004-2014. JCOPDF. 2014; 1(1):51-63. Doi: http://dx.doi. org/10.15326/jcopdf.1.1.2014.0119.
4.Osadnik CR, Brighton LJ, Burtin C, Cesari M, LahousseL,ManWDC,MarengoniA,SajnicA, Singer JP, Ter Beek L, Tsiligianni I, Varga JT, Pavanello S, Maddocks M. European RespiratorySocietystatementonfrailtyinadultswith chroniclungdisease.EurRespirJ.
A vacinação é uma das intervenções de saúde pública mais eficazes, com enorme impacto na saúde e bem-estar da população.
Na atualidade, para os adultos, existem vacinas de qualidade, eficazes e seguras para prevenir doenças infeciosas passíveis de prevenção, como é o caso da covid-19, gripe, vírus sincicial respiratório, tosse convulsa e doença pneumocócica. Igualmente, existe vacina para a prevenção do herpes zoster.
A prevalência, a gravidade e a mortalidade de muitas doenças infeciosas é maior nos idosos, nas pessoas com doenças crónicas ou nos imunocomprometidos. A sua prevenção pela vacinação é essencial para minimizar o risco de as desenvolver.
A vacina à covid-19, pelo benefício induzido pela imunização, foi determinante no controlo da pandemia atual, nomeadamente de doença grave, hospitalização e mortalidade. Apesar da perda de imunidade ao longo do tempo após a vacinação ou a doença natural, ou ambas, e do aparecimento de novas variantes, a vacinação tem tido um papel importante na proteção das pessoas através do reforço vacinal contínuo, com o consequente aumento da durabilidade da proteção. Estão documentados benefícios cardiovasculares associados à vacinação completa à covid-19.
A gripe sazonal é uma infeção respiratória aguda causada pelos vírus da gripe que circulam em todas as partes do mundo e causam uma elevada morbilidade. A hospitalização e a morte ocorrem principalmente entre grupos de alto risco, como grávidas, crianças com menos de 5 anos,
O vírus sincicial respiratório (VSR) causa epidemias sazonais de infeção respiratória. Pode causar doença grave, complicações ou morte na população idosa e outras pessoas vulneráveis, como as pessoas com doenças crónicas ou imunodeprimidas, frágeis, de idade avançada ou residente em lares.
Existem duas vacinas disponíveis em dose única para a prevenção da doença do trato respiratório inferior associada ao VSR em adultos com ≥ 60 anos, as quais são seguras e eficazes. A vacina da Pfizer também está aprovada para imunização da grávida entre as 32 e as 36 semanas de gestação.
A infeção por S. pneumoniae é responsável por um largo espetro de patologias.
A infeção por S. pneumoniae é responsável por um largo espetro de patologias, sendo a pneumonia pneumocócica a mais frequente no adulto. O risco de doença pneumocócica aumenta com a idade e com determinadas doenças crónicas.
Existem disponíveis várias vacinas conjugadas, a VPC13, VPC15 e VPC20, e uma polissacarídea 23 valente. À semelhança do CDC, o GRESP publicou, em 2022, a atualização das suas recomendações principais e complementares para a vacinação antipneumocócica em adultos com ≥ 18 anos de idade, imunocompetentes ou imunocompetentes com risco acrescido de DIP, imunocomprometidos ou com risco acrescido de meningite bacteriana.
Atendendo à realidade epidemiológica nacional dos serótipos circulantes
causadores da DIP e da doença não invasiva na população adulta e ao custo-efetividade, o GRESP recomenda a adoção de uma estratégia de vacinação antipneumocócica universal e simples da população elegível com a vacina VPC20. Em alternativa, poderá ser opção o esquema sequencial com a vacina VPC15, seguida, passado pelo menos um ano, da VPP23.
Para além da idade acima dos 50 anos, existem várias doenças que apresentam risco aumentado de infeção por herpes zoster. Existem 2 vacinas, uma viva atenuada de dose única e outra recombinante de duas doses, indicadas na prevenção do herpes zoster e da nevralgia pós-herpética em pessoas com 50 ou mais anos de idade. A vacina recombinante também está indicada para a imunização de pessoas com ≥ 18 anos imunocomprometidos pela doença ou terapêutica. Esta vacina é a preferida e pode ser administrada independentemente de existir ou não história prévia de zona ou varicela, ou vacinação com vacina viva atenuada ou a vacina da varicela.
Quanto à infeção por Bordetella pertussis, a imunidade após infeção ou vacinação não é permanente. A principal complicação é a pneumonia bacteriana. A prevenção da tosse convulsa está indicada nas pessoas com DPOC não vacinadas na adolescência e todas as pessoas com ≥ 65 anos devem receber um reforço vacinal.
É tempo de atuar, uma vez que existem vacinas disponíveis no mercado eficazes para prevenir doenças que vitimam e incapacitam a população. É necessário que os médicos no exercício da sua atividade profissional conheçam estas vacinas, as recomendem aos seus utentes e reforcem a importância da imunização das pessoas através da prevenção pela vacinação. Neste sentido, é também preciso aumentar a literacia e a conscientização da população para os benefícios da vacinação, a fim de se implementar uma estratégia vacinal que dê a proteção ideal a toda a população adulta, em particular à faixa etária mais velha e vulnerável.
As vacinas são uma das formas mais seguras de proteger a saúde contra doenças evitáveis por vacina e salvar vidas.
Jornal médico | 27 Março 2024
1 e 2 fevereiro 2024
Rui P. Costa
Especialista em MGF
40/25mg comprimidos azilsartan medoxomilo/clorotalidona
40/12,5mg
20mg
40mg • 80mg comprimidos azilsartan medoxomilo
28 | Jornal médico Março 2024
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