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PROPOSTAS DE ATIVIDADES I

Linguagens e suas Tecnologias

Acreditando no caráter atemporal da obra literária, apresentamos aqui propostas de atividades que visam a promover uma maior, mas não total, compreensão de A revolução dos bichos. Tomamos o conceito de literatura como uma obra de interpretações múltiplas e infinitas. Aqui estão apenas algumas delas, que buscam compreender, interpretar e problematizar o texto literário a partir dos pressupostos na BNCC, que ressalta:

A prática da leitura literária, assim como de outras linguagens, deve ser capaz também de resgatar a historicidade dos textos: produção, circulação e recepção das obras literárias, em um entrecruzamento de diálogos (entre obras, leitores, tempos históricos) e em seus movimentos de manutenção da tradição e de ruptura, suas tensões entre códigos estéticos e seus modos de apreensão da realidade.

Espera-se que os leitores/fruidores possam também reconhecer na arte formas de crítica cultural e política, uma vez que toda obra expressa, inevitavelmente, uma visão de mundo e uma forma de conhecimento, por meio de sua construção estética (BRASIL, 2018, p. 523).

Ao mesmo tempo, pretendeu-se apontar a fruição da obra, que, aliada a outras leituras e possibilidades literárias, amplia os horizontes de expectativa dos jovens leitores, também como dita a BNCC:

A fruição, alimentada por critérios estéticos baseados em contrastes culturais e históricos, deve ser a base para uma maior compreensão dos efeitos de sentido, de apreciação e de emoção e empatia ou repulsão acarretados pelas obras e textos (BRASIL, 2018, p. 496).

Para tanto, propomos uma condução de atividades separada em três momentos principais: Antes da leitura, Durante a leitura e Depois da leitura, embasados nos estudos de Isabel Solé (1998).

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As atividades apresentadas no Antes da leitura têm como objetivo a verificação dos conhecimentos prévios dos alunos em relação à obra e o levantamento de hipóteses sobre o tema e o gênero. Essa avaliação prévia possibilita ao professor um diagnóstico do que já é conhecido por parte dos alunos, quais elementos são desconhecidos e quais são os caminhos mais pertinentes a cada realidade escolar. Além disso, esse levantamento resgata e valoriza o conhecimento construído fora da sala de aula por parte dos estudantes.

O momento Durante a leitura tem como principal objetivo orientar a leitura propriamente dita, verificando quais pontos eventualmente necessitam de explicação, análise, observação e/ou contextualização.

Depois da leitura é a etapa que centraliza o maior número de atividades e propostas, uma vez que é nesse momento que a compreensão, análise e interpretação do romance são de fato concretizadas. As atividades propostas objetivam a verificação das hipóteses levantadas na subseção Antes da leitura, confirmando-as ou não. Isso garante uma melhor discussão e debate dos temas levantados pela leitura da obra, seus aspectos globais de sentido e suas características estruturais.

Antes da leitura

6 1. Estabeleça se a leitura será feita individualmente, extraclasse ou de forma coletiva. Se ocorrer em sala, proporcione um clima aberto ao diálogo, respeitoso e especialmente agradável – dentro das possibilidades – num lugar silencioso, com temperatura amena para que os alunos não se distraiam ou sejam incomodados facilmente.

2. Sugerimos como primeira sondagem questionar a turma em relação ao ato de literatura em si:

a) Que benefícios a leitura literária nos propicia?

É muito provável que os alunos se lembrem das questões práticas ligadas ao ensino, às exigências do Enem e dos vestibulares. Valorize as respostas que digam respeito à importância da literatura na formação pessoal e ética dos leitores, da leitura de fruição etc.

b) Na opinião de vocês, por que um romance é escrito?

Resposta pessoal. Procure discutir com os alunos o caráter contemporâneo que os romances têm com seus contextos de produção; porém, não deixe

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de valorizar tais obras como fruto estético, produto do pensamento e da cultura.

c) Para vocês, o que é literatura?

Resposta pessoal. Um dos itens da seção Aprofundamento discute essa questão.

3. Observe, junto aos alunos, os elementos multissemióticos que compõem a capa e a quarta capa, como título, nome do autor/tradutor, incluindo as imagens, as cores e a tipografia utilizadas. Oriente-os, perguntando:

a) O que acharam da capa e da quarta capa do livro? Vocês acreditam que elas antecipam algum elemento ou fato relevante para a narrativa?

b) O que o título sugere a vocês?

c) O que mais lhes desperta a atenção ao observar?

Respostas pessoais. Essas questões podem e devem ser retomadas após a leitura do romance com o intuito de verificar se as impressões, hipóteses e opiniões se confirmaram.

4. Pergunte se já ouviram falar no nome ou leram alguma narrativa de George

Orwell, a fim de verificar o conhecimento prévio acerca do autor.

Resposta pessoal. Nesse momento, podem ser retomadas algumas informações sobre o autor, apresentadas no início desse material, a fim de utilizá-las ao trabalhar a questão com os estudantes.

5. Aproveite o momento para perguntar o que os alunos entendem por fábula.

Peça que compartilhem seus conhecimentos sobre o gênero, contando, se lembrarem, oralmente algum texto fabular.

Resposta pessoal.

Durante a leitura

7 1. Essa etapa pode ser promovida de diferentes formas. Se a leitura individual for sugerida em um primeiro momento extraclasse, é importante uma conversa logo após todos terem-na iniciado. O objetivo é verificar o interesse dos alunos pela obra, sua compreensão e avanço em relação à leitura e sua significação. Se optarem por uma leitura coletiva, a cada trecho lido faça

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8 uma pausa e questione os alunos sobre a narrativa, em especial os elementos espaço, personagens e conflito. Isso permitirá avaliar se o enredo está sendo bem apreendido pelos estudantes.

2. Ao serem apresentados os personagens da narrativa, pergunte aos alunos que sentimentos e lembranças o nome de cada um evoca. Se julgar conveniente, anote algumas dessas respostas, principalmente as que dizem respeito a

Napoleão, Sansão, Maricota e Moisés.

3. Solicite aos alunos que registrem no caderno ou em um suporte digital eventos do enredo e algumas características estruturais, estilísticas e discursivas da narrativa, assim como a confirmação ou refutação de hipóteses levantadas antes da leitura. Peça, também, que registrem vocábulos desconhecidos e seus significados após a consulta ao dicionário. Reserve, se possível, um momento para o compartilhamento desse vocabulário entre os colegas de turma.

4. Após a leitura do primeiro capítulo, faça uma pausa e comente com a turma sobre o discurso do porco Major e seu efeito sobre os animais da fazenda.

• Questione-os sobre os argumentos levantados por Major,principalmente a pergunta central do seu discurso: “qual é a natureza desta nossa vida?”

• Instigue os alunos a também responderem a essa questão no mundo contemporâneo.

• Oriente-os sempre a fortalecer seus argumentos de forma coerente e concreta, distinguindo fato/realidade de opinião e dialogando, com respeito, valorizando a experiência e a realidade do outro.

• Valorizando também a sátira do tom fabular,questione aos alunos sobre as impressões que tiveram ao depararem com personagens animais agindo e falando com consciência. O objetivo é verificar nos alunos os diferentes efeitos da leitura, como distanciamento da narrativa, humor e sarcasmo por parte do narrador e liberdade poética, dentre outros.

5. Nos capítulos seguintes, observe se os alunos conseguem visualizar os regimes políticos sendo moldados na narrativa. Primeiro, um regime mais igualitário, visando apenas aos recursos necessários à sobrevivência de cada indivíduo; depois, um regime autoritário vai se fortalecendo, privilegiando

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determinadas classes de animais enquanto as outras retornam à situação inicial de exploração.

Oriente-os a observarem com atenção as atitudes e pensamentos de alguns animais em especial, como Benjamin, Sansão e Moisés. Como toda fábula, o narrador deixa implícitos os motivos, isto é, as intenções de alguns personagens. Sabemos pela leitura o que eles fazem, mas não sabemos o porquê exato, o que eles desejam e o que esperam. O objetivo dessa análise é permitir aos jovens leitores contemplarem as várias camadas de um personagem, ou seja, como sua consciência é criada, quais suas significações.

Depois da leitura

9 1. Após a leitura, solicite aos alunos que retomem suas hipóteses iniciais e anotações feitas durante a leitura. Faça as perguntas a seguir:

a) Na opinião de vocês, o título escolhido está adequado à história? Por quê?

Respostas pessoais. Se achar pertinente, analise com os alunos as diferenças assumidas pelos tradutores brasileiros nas diferentes traduções do título Animal farm: A revolução dos bichos e A fazenda dos animais.

Os títulos em Portugal são ainda mais diversos: O Porco Triunfante, O

Triunfo dos Porcos e A Quinta dos Animais.

b) Caso fossem traduzir o romance, que título escolheriam?

Resposta pessoal. Solicite uma justificativa para algumas respostas mais originais ou aparentemente não adequadas.

c) O que vocês acharam do enredo de A revolução dos bichos? De que ele trata?

Resposta pessoal.

d) Vocês relacionaram a narrativa com algum momento histórico? Explique e compartilhe com seus colegas.

Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes estabeleçam relação entre a narrativa e alguns momentos políticos reais, como a ascensão do

Socialismo russo ou do Nazismo alemão, por exemplo. Podem ainda evocar o avanço da extrema-direita em diversos países, ou ainda a crise no regime de extrema-esquerda venezuelano.

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2. Relembre com os estudantes que, em narrativas mais longas (como novelas e romances), os personagens costumam ser em maior número que em narrativas mais curtas (como contos e crônicas), mas são classificados da mesma maneira: em principais e coadjuvantes. Os personagens principais se dividem em protagonistas (ou heróis) e antagonistas (ou vilões), isto é, aqueles que executam a ação principal da história e aqueles que buscam impedir as ações do(s) protagonista(s), respectivamente. Coadjuvantes são aqueles com participação menor e discreta na narrativa. São amigos, confidentes, mensageiros, criados, patrões. Enfim, personagens que ajudam a contar a história, mesmo não participando ativamente do conflito narrado.

3. Se achar adequado e pertinente, comente com os alunos que não são apenas as descrições e características físicas são importantes para o estudo da narrativa. Atitudes, pensamentos, desejos, sonhos e vontades deles também nos ajudam a compreender a construção e caracterização dos personagens.

Alguns aspectos a serem observados são:

• o humor: se o personagem age calmamente ou se está furioso; se é ágil ou perfeccionista etc.

• as emoções dominantes: claro que podemos sentir várias emoções ao longo de um dia, mas qual é a dominante? Que tipo de emoção guia a maioria das ações de determinado personagem?

• suas ideologias: ou seja, o que o personagem pensa, em que ele acredita, sua afinidade política ou filosofia de vida. São essas características que definem também as características morais do personagem, isto é, se suas ações condizem com sua ideologia, definindo qual a autenticidade de sua personalidade.

• As relações sociais: que dizem respeito tanto à sua classe social quanto à forma como o personagem interage com outras pessoas.

10 4. Depois da leitura e compreensão do romance, o trabalho pode ser finalizado com a proposta de criação de um vlog ou de podcasts com resenhas do romance, comentando capítulos mais significativos, ou análises que foram construídas, ou, ainda, uma explanação da atualidade da obra. O objetivo é criar textos com recursos persuasivos que despertem o interesse de novos leitores.

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Ao realizar tal proposta, atribua funções aos alunos, para que todos participem da atividade. Oriente-os em relação às etapas de elaboração do vlog ou do podcast, que pode seguir os pontos abaixo:

• Organização das informações em um roteiro,incluindo o tom que usarão na gravação (os alunos podem optar, por exemplo, por assumir um tom mais humorístico, ou um tom mais acadêmico e sério. O importante é que as informações essenciais de uma resenha sejam contempladas).

• Edição e revisão do roteiro (tendo em mente sempre a necessidade de uma linguagem fácil, clara e ágil).

• Produção do material, tendo em vista o material necessário (celular, câmera, gravador, música de fundo, vinhetas, sonorização etc.).

• Para editar o vídeo ou o áudio, os estudantes podem utilizar aplicativos gratuitos, encontrados na internet, com diferentes recursos para texto, imagens e sons.

Uma vez finalizado o material, oriente os alunos a fazerem o upload do vlog ou do podcast em uma plataforma digital e compartilhar com seus familiares e conhecidos.

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Competências e habilidade

CE 1: Compreender o funcionamento das diferentes linguagens e práticas culturais (artísticas, corporais e verbais) e mobilizar esses conhecimentos na recepção e produção de discursos nos diferentes campos de atuação social e nas diversas mídias, para ampliar as formas de participação social, o entendimento e as possibilidades de explicação e interpretação crítica da realidade e para continuar aprendendo.

CE 6: Apreciar esteticamente as mais diversas produções artísticas e culturais, considerando suas características locais, regionais e globais, e mobilizar seus conhecimentos sobre as linguagens artísticas para dar significado e (re)construir produções autorais individuais e coletivas, exercendo protagonismo de maneira crítica e criativa, com respeito à diversidade de saberes, identidades e culturas.

CE 7: Mobilizar práticas de linguagem no universo digital, considerando as dimensões técnicas, críticas, criativas, éticas e estéticas, para expandir as formas de produzir sentidos, de engajar-se em práticas autorais e coletivas, e de aprender a aprender nos campos da ciência, cultura, trabalho, informação e vida pessoal e coletiva.

EM13LGG701: Explorar tecnologias digitais da informação e comunicação (TDICs), compreendendo seus princípios e funcionalidades, e utilizá-las de modo ético, criativo, responsável e adequado a práticas de linguagem em diferentes contextos.

EM13LGG102: Analisar visões de mundo, conflitos de interesse, preconceitos e ideologias presentes nos discursos veiculados nas diferentes mídias, ampliando suas possibilidades de explicação, interpretação e intervenção crítica da/na realidade.

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Competências e habilidade

EM13LP03: Analisar relações de intertextualidade e interdiscursividade que permitam a explicitação de relações dialógicas, a identificação de posicionamentos ou de perspectivas, a compreensão de paródias e estilizações, entre outras possibilidades.

EM13LP15: Planejar, produzir, revisar, editar, reescrever e avaliar textos escritos e multissemióticos, considerando sua adequação às condições de produção do texto, no que diz respeito ao lugar social a ser assumido e à imagem que se pretende passar a respeito de si mesmo, ao leitor pretendido, ao veículo e mídia em que o texto ou produção cultural vai circular, ao contexto imediato e sócio-histórico mais geral, ao gênero textual em questão e suas regularidades, à variedade linguística apropriada a esse contexto e ao uso do conhecimento dos aspectos notacionais (ortografia padrão, pontuação adequada, mecanismos de concordância nominal e verbal, regência verbal etc.), sempre que o contexto o exigir. EM13LP17: Elaborar roteiros para a produção de vídeos variados (vlog, videoclipe, videominuto, documentário etc.), apresentações teatrais, narrativas multimídia e transmídia, podcasts, playlists comentadas etc., para ampliar as possibilidades de produção de sentidos e engajar-se em práticas autorais e coletivas.

EM13LP18: Utilizar softwares de edição de textos, fotos, vídeos e áudio, além de ferramentas e ambientes colaborativos para criar textos e produções multissemióticas com finalidades diversas, explorando os recursos e efeitos disponíveis e apropriando-se de práticas colaborativas de escrita, de construção coletiva do conhecimento e de desenvolvimento de projetos.

EM13LP20: Compartilhar gostos, interesses, práticas culturais, temas/problemas/questões que despertam maior interesse ou preocupação, respeitando e valorizando diferenças, como forma de identificar afinidades e interesses comuns, como também de organizar e/ou participar de grupos, clubes, oficinas e afins. EM13LP29: Resumir e resenhar textos, com o manejo adequado das vozes envolvidas (do autor da obra e do resenhador), por meio do uso de paráfrases, marcas do discurso reportado e citações, para uso em textos de divulgação de estudos e pesquisas.

EM13LP46: Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica. EM13LP49: Perceber as peculiaridades estruturais e estilísticas de diferentes gêneros literários (a apreensão pessoal do cotidiano nas crônicas, a manifestação livre e subjetiva do eu lírico diante do mundo nos poemas, a múltipla perspectiva da vida humana e social dos romances, a dimensão política e social de textos da literatura marginal e da periferia etc.) para experimentar os diferentes ângulos de apreensão do indivíduo e do mundo pela literatura.

EM13LP52: Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente.

EM13LP53: Produzir apresentações e comentários apreciativos e críticos sobre livros, filmes, discos, canções, espetáculos de teatro e dança, exposições etc. (resenhas, vlogs e podcasts literários e artísticos, playlists comentadas, fanzines, e-zines etc.).

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