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APROFUNDAMENTO

O alerta sonoro avisa que chegou novo e-mail. Uma mensagem de texto do chefe cobra uma tarefa em atraso. E uma surpresa no sábado de manhã: um cartão-postal da amiga que está viajando. Textos como esses têm uma explícita intencionalidade: avisar sobre uma reunião, fazer uma cobrança, enviar uma lembrança. Esses textos “querem”, cada um, uma coisa específica. Talvez seja essa a primeira característica de um texto que se quer literário: ele não tem uma intencionalidade explícita, e muito menos pragmática. Literatura é o texto que quer somente significar algo para o leitor. Algo que ninguém sabe o que é, nem o escritor, nem o leitor, que só o descobre quando lê. Toda leitura é uma descoberta. A literatura desnuda uma experiência que fica disponível ao leitor. O leitor sente o texto literário. Como escreve George Orwell (2007, 39), “Não quero comentar a obra; se ela não falar por si mesma, é porque fracassou”. O leitor crítico é leitor atento ao que a obra diz (ou não diz).

Aqui, não queremos outra coisa senão conceder subsídios para que você, professor, possa trabalhar o romance A revolução dos bichos em sala de aula no que diz respeito à teoria literária, isto é, às estruturas linguísticas, semióticas e sociológicas que garantem ao texto caráter de literário. Diferente de um jornalista ou do porta-voz de um governante, o escritor não produz um texto para que ele informe algo a alguém, sendo o mais fiel possível à realidade. Um escritor literário escreve a partir desta nossa realidade, mas cria, por meio do signo linguístico, uma outra realidade independentemente do real. Assim, podemos falar, por exemplo, que Dom Quixote existe; existe desde quando Cervantes o escreveu e vai existir por muito tempo ainda. Mesmo não existindo na nossa realidade, Dom Quixote existe, e não podemos dizer o contrário. Vejam que a literatura mantém uma frágil relação com o que entendemos como realidade: o escritor parte desta realidade, é claro, mas cria outra totalmente singular.

E esse caráter de singularidade podemos constatar, por exemplo, analisando a forma como a linguagem é utilizada, e não apenas o que ela comunica. Em um texto literário, seja ele um romance ou um roteiro de teatro, toda ação do personagem tem seu significado na construção imagética que fazemos da descrição à qual o leitor/espectador tem acesso. Assim, se o personagem for, digamos,

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egoísta, as ações dele devem seguir e comprovar essa característica. A estrutura do texto, o uso não comum da linguagem, a escolha das palavras, a própria ação do personagem: tudo no texto literário tem função estética.1

Fábula ou romance?

Segundo seu autor, A revolução dos bichos é uma fábula satírica. Fábula enquanto intertexto, sátira enquanto tom. Claro que ambas as concepções são tomadas como empréstimo no século 20 de forma crítica dentro de um romance; e temos então uma fábula mais extensa do que aquelas de Esopo e uma sátira que termina com o gosto amargo do trágico.

Assim como o conto, tanto a fábula quanto o romance têm origem nos tempos primitivos, como textos narrativos vinculados pela oralidade, carregados de tradição, de memória, de ensinamento que não vêm daqui ou dali, mas de um tempo imemorial. Esses textos, conforme os conhecemos hoje em dia, apresentam entre si algumas características, como a presença de personagens, a ação narrativa e o conflito, por exemplo; mas também apresentam distinções, que, na maioria das vezes, dizem respeito ao número desses elementos. Um romance pode apresentar mais personagens que um conto, gênero que, por sua vez, é geralmente mais longo que uma fábula, cuja linguagem é concisa e direta, sem muitas explorações sobre os motivos dos personagens. Por isso, geralmente são empregados personagens animais, isto é, seres que vivem instintivamente, como forma de representar as vontades humanas como instintos, mostrando que certas características são inatas aos indivíduos, algo que, séculos depois, a Psicanálise não desmentiu.

Ao longo da história da literatura ocidental, Esopo, Jean de La Fontaine e tantos outros registraram e escreveram textos aparentemente inofensivos, tomados, muitas vezes, como histórias para crianças por usarem personagens animais. O uso de animais é, na verdade, uma premissa de liberdade para criticar hábitos julgados negativos na sociedade. O mais interessante é que, como o mito, a fábula, por sua concisão no núcleo narrativo, adapta-se com extrema facilidade a qualquer época, a qualquer tema. Não à toa, usamos em Teoria Literária os termos “mito” e “fábula” além do sentido do gênero que eles denominam.

1 Aristóteles, em sua obra Poética, datada do século 4 a.C., buscou sistematizar o formato e a estética dos gêneros literários gregos, propondo, assim, três funções da literatura: a cognitiva, a estética e a catártica. A essas funções foram acrescentadas outras por autores modernos, como a identitária e a político-social.

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O escravo grego Esopo, autor de histórias como “O leão e o rato”, “O lobo e o cordeiro” e “A raposa e a cegonha”, tão em no nosso imaginário quanto os mitos e contos de fadas, é certamente o mais conhecido autor da Antiguidade, mas é importante sabermos que não é o único.

As histórias a ele atribuídas foram editadas ininterruptamente desde a antiguidade e se confundem com a criação da imprensa, da qual foi um dos grandes sucessos – a primeira edição impressa das Fábulas é de 1474, data muito próxima da publicação da Bíblia de Gutemberg, 1455 (DUARTE, 2013, p. 9).

Se por um lado Esopo se torna “uma das maiores referências para a literatura infantil em todos os tempos” (p. 9), por outro, no seu tempo, as fábulas diziam respeito a toda a sociedade. Interessante, aliás, é a presença da imprensa em ambos os gêneros que nos interessam aqui: além da divulgação das fábulas, foi essa invenção que possibilitou o surgimento do romance moderno como o conhecemos.

A palavra “romance” tem diversos significados. Enquanto gênero literário, pode designar dois tipos diferentes de narração: uma primeira, que denomina o romance de origem popular, sem autoria específica, poético, de fundo histórico ou lírico, versificado, com ou sem rimas, transmitido oralmente, principalmente por cantadores medievais; e uma segunda., que denomina a composição em prosa, que se mantém como estrutura mais ou menos fixa desde o século 17, quando foi publicado Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, em 1605, o primeiro romance moderno.

A partir daí, o gênero épico se desenvolveu principalmente em três grandes gêneros literários: o romance, o conto e a novela. A diferença entre eles é, na maioria das vezes, muito sutil. As diferenças mais nítidas são o número de personagens e os conflitos dentro da narrativa, além da posição do clímax como ponto central da narrativa: no conto e na novela, o clímax, na maioria das vezes, é central na narrativa, momento-chave da ação; no romance, por sua vez, apresenta, muitas vezes, o clímax diluído em uma resolução.

Sobre as características do romance, Moisés (2013, p. 412) escreve:

25 Estruturalmente, o romance caracteriza-se pela pluralidade de ação, pela coexistência de várias células dramáticas, conflitos ou dramas. Em princípio, não há limite para o número de células dramáticas que concorrem para a organização do romance. Entretanto, o ficcionista elege apenas algumas,

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as que podem harmonizar-se dentro de um conjunto. Assim, de modo genérico, o romance apresenta menos células dramáticas que a novela: esta pode estender-se para além do derradeiro episódio, ao passo que o romance termina completamente na última cena.

Com a imprensa e o advento da burguesia, o romance alcançou seu auge entre os séculos 18 e 19, caindo cada vez mais no gosto popular: assim como os gregos se viam nos heróis e deuses dos mitos, os sujeitos modernos se enxergam facilmente nas tramas e nos trabalhadores, operários, advogados e políticos representados nos romances, além das outras camadas sociais.

No século 20, o romance é desmontado: em um momento que se começou a se falar em crise do romance, ele ressurge em outra forma, dando cada vez mais vazão à consciência dos personagens, à medida que as ações em si iam perdendo força ao longo do enredo. É isso que encontramos nos romances de Marcel Proust, por exemplo, e em Virginia Woolf ou Clarice Lispector: o tempo cronológico da narrativa, antes definido de forma linear em começo, meio e fim, agora não faz mais sentido. As noções de passado e futuro se misturam na consciência, no ambiente do sonho, da loucura. Estamos no tempo psicológico, em que um dia dura mil anos, e o foco narrativo dá lugar ao fluxo de consciência.

Além disso, imageticamente, o romance é fortemente influenciado pela fotografia e pelo cinema.

Após as duas grandes guerras, o romance, assim como toda a literatura, se viu diante da barbárie, do Holocausto; diante daquilo que não pode ser descrito, porque extrapola a linguagem: o trauma. O filósofo alemão Walter Benjamin (1987) bem mostrou o efeito de duas guerras na narrativa: perdeu-se o seu principal elemento: o narrador. Esses dois acontecimentos, somados aos movimentos totalitários que surgem na mesma época, são cruciais para entendermos dois dos grandes escritores da primeira metade do século 20: Franz Kafka e George Orwell. Kafka tinha 20 anos quando Orwell nasceu, e Orwell tinha 20 anos quando Kafka morreu. Ambos representam a realidade por meio do absurdo, como escreve Mario Vargas Llosa:

26 O adjetivo “orwelliano”, primo em primeiro grau de “kafkiano”, refere-se à angústia opressiva e à sensação de absurdo extremo que geraram as ditaduras totalitárias do século XX, as mais refinadas, cruéis e absolutas da História, em seu controle dos atos, da psique e até dos sonhos dos membros de uma sociedade. […] a palavra “orwelliano” permanece como lembrança de uma

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das experiências político-sociais mais devastadoras vividas pela civilização, e que os romances e ensaios de George Orwell nos ajudaram a compreender nos seus mecanismos mais recônditos (2009, p. 30).

Assim como fez Franz Kafka, ao afastar seu relato de uma realidade humana, aproxima-se o humano do animal. Como uma boa criação ficcional, os animais de A revolução dos bichos “nos arrancam de nossa prisão realista, conduzem e guiam pelos mundos da fantasia, abrem-nos os olhos sobre aspectos desconhecidos e secretos da nossa condição, e nos dão os instrumentos para explorar e entender mais os abismos do que é humano” (LLOSA, 2009, p. 29). Orwell faz isso duplamente. A primeira, como literatura; a segunda, ao tomar a deturpação da informação como um dos principais elementos de um regime autoritário. Como escreve Llosa: “a irrealidade e as mentiras da literatura são também um veículo precioso para o conhecimento de verdades ocultas da realidade humana” (LLOSA, 2009, p. 30).

Leitura e escrita literárias

George Orwell escreveu em “Por que escrevo”, ensaio de 1946, recém-publicado no Brasil, algumas razões pelas quais, para ele, alguém escreve. “Eu tinha o hábito”, relata, “próprio à criança solitária, de inventar histórias e conversar com pessoas imaginárias” (ORWELL, 2021, p. 88). Imaginava-se em situações, como sendo algum herói, estilo Robin Hood. Só com cerca de 16 anos ele descobre “a alegria das meras palavras, isto é, dos sons e das associações dos mesmos” (p. 89). Havia, desde sempre, uma necessidade de descrever as coisas, de contar histórias para si. Orwell faz essa retomada autobiográfica, porque entende a literatura como resultado de uma série de vivências e experiências que ele, sujeito escritor, viveu e experimentou.

Deixando de lado a necessidade de ganhar a vida, acho que há quatro grandes motivos para escrever, pelo menos para escrever prosa. Eles existem em diferentes graus em cada autor, e as proporções variam de tempos em tempos em cada escritor, de acordo com a atmosfera em que vive (ORWELL, 2021, p. 90).

São eles: o puro egoísmo, o entusiasmo estético, o impulso histórico e o propósito político. Para Orwell, o escrever vai desde uma escala mais superficial, de alguém que quer parecer inteligente e ser lembrado, até aqueles que são praticamente forçados a escrever porque as circunstâncias, histórica e políticas, assim exigiam. Nas palavras de Orwell, o “desejo de ver as coisas como elas são, descobrir fatos verdadeiros e guardá-los para uso da posteridade”.

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Entre um e outro, o estético, isto é:

Percepção do belo no mundo externo ou, por outro lado, em palavras e em seu arranjo correto. Prazer no impacto de um som sobre o outro, na firmeza da boa prosa ou no ritmo de contar uma boa história. O desejo de compartilhar uma experiência tida como valiosa e como uma experiência que não deve se perder (ORWELL, 2021, p. 90).

Orwell lembra que qualquer texto pode ser um texto estético-literário, pois ele diz respeito a “palavras e frases de estimação que o atraem por razões que não sejam utilitárias”. A linguagem literária, portanto, como dissemos no início deste tópico, é aquela que subverte a linguagem para um uso não comum, e isso causa um efeito na leitura. Como dita a BNCC:

Como linguagem artisticamente organizada, a literatura enriquece nossa percepção e nossa visão de mundo. Mediante arranjos especiais das palavras, ela cria um universo que nos permite aumentar nossa capacidade de ver e sentir. Nesse sentido, a literatura possibilita uma ampliação da nossa visão do mundo, ajuda-nos não só a ver mais, mas a colocar em questão muito do que estamos vendo/vivenciando (BRASIL, 2018, p. 499).

No caso de A revolução dos bichos, Orwell deixa claro ser seu primeiro livro em que, conscientemente, ele tentou fundir o propósito político com o estético. Como todos os livros que ele escreveu, esse também nasce de um sentimento de injustiça, “porque há alguma mentira que pretendo expor, algum fato ao qual quero chamar atenção” (ORWELL, 2021, p. 93). No fim das contas, ele sabe:

Não sou capaz de abandonar completamente a visão de mundo que adquiri na infância, e não quero fazê-lo. Enquanto eu seguir vivo e bem, continuarei interessado no estilo da prosa, em amar a superfície da terra, em ter prazer material e no deleite com informações inúteis (ORWELL, 2021, p. 93).

Essa rápida retomada a esse texto do escritor é para evidenciar a estreita relação entre a leitura literária e a escrita, uma vez que, dentre os vários benefícios da leitura de textos ficcionais e poéticos, está o impulso, muitas vezes simultâneo, de descrever ou narrar experiências e sensações. Esse impulso, em outros tempos, era desenvolvido na escrita de cartas e diários, práticas que diminuem cada vez mais com o avanço dos meios de escrita digital. Talvez seja esse o mais importante objetivo aqui: a esperança de que a leitura de textos clássicos, como é o caso de A revolução dos bichos, desperte, em alunos e professores, o impulso literário não

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só enquanto leitura, mas também enquanto escrita, além, é claro, do despertar político diante das injustiças.

Para o escritor e professor de escrita criativa Luiz Antônio de Assis Brasil, escrever literatura

[…] pressupõe o conhecimento de circunstâncias extraliterárias. Mas isso não significa acumular dados na memória, armazená-los num computador ou registrá-los num caderno de anotações. É preciso integrar esses conhecimentos e, do resultado, deduzir coisas diferentes do que sua mera adição (2019, p. 14).

Tal domínio, como também afirma Orwell em seu ensaio, chama-se técnica, e ela se desenvolve de diferentes maneiras nas diferentes pessoas. Orwell lembra o som das palavras, o som do choque entre elas. Alguns escritores evocam a obsessão em intuir ou imaginar os pensamentos e motivos de pessoas comuns nas ruas, nas praças: a mãe que carrega os três filhos (vão para onde?), a senhora sentada na praça (o que espera? ou quem?), o homem que, desesperado, corre pela avenida (atrasado? fugindo?).Oimportante,escreveOrwellevocandoShakespeare,éserfielasipróprio: “A primeira coisa que esperamos de um escritor é que não diga mentiras, que diga o que de fato pensa, o que de fato sente. O pior que se pode dizer acerca de uma obra de arte é que ela não é sincera” (ORWELL, 2020, p. 78). Mesmo em uma história das mais fabulosas, como é o caso de A revolução dos bichos, a autenticidade do narrador, seu compromisso com seu contexto de produção, tudo isso garante à obra a sua verdade, embora seja tudo ficção. Ao serem escritos, explica Afrânio Coutinho, “os fatos que lhe deram às vezes origem perderam a realidade primitiva e adquiriram outra, graças à imaginação do artista. São agora fatos de outra natureza, diferentes dos fatos naturais objetivados pela ciência ou pela história ou pelo social” (1978, p. 10).

Esperamos que a leitura e o trabalho com o romance A revolução dos bichos sejam proveitosos. Não à toa, essa obra já é considerada um clássico da literatura do século 20. Repetindo aqui as palavras do escritor Italo Calvino:

29 O clássico não necessariamente nos ensina algo que não sabíamos; às vezes descobrimos nele algo que sempre soubéramos (ou acreditávamos saber) mas desconhecíamos que ele o dissera primeiro (ou que de algum modo se liga a ele de maneira particular). E mesmo esta é uma surpresa que dá muita satisfação, como sempre dá a descoberta de uma origem, de uma relação, de uma pertinência (2007, p. 12).

Que assim seja.

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sugestÕes de referÊncias complementares

A fim de enriquecer e ampliar o trabalho com o romance A revolução dos bichos, são propostas a seguir atividades e referências com o intuito de estabelecer relações intertextuais e interdiscursivas nos cinco campos da atuação social: campo da vida pessoal, campo da vida pública, campo jornalístico-midiático, campo artístico-literário e campo das práticas de estudo e pesquisa.

Campo da vida pessoal

Ao lado da metáfora das transformações de um regime político para outro, A revolução dos bichos ilustra também as diferentes relações de trabalho. No Ensino Médio, tal preocupação permeia o imaginário dos alunos, muitas vezes causando ansiedade e desespero diante do universo que se abre e se chama futuro. A fim de discutir essas relações, tanto problematizando suas estruturas a partir de pensadores quanto em uma perspectiva futurista, sugerimos a conferência TED, de Carlos Piazza, fundador da CPC, empresa de negócios digitais especializada em transformação e aceleração digitais e seus impactos na sociedade. Assista à conferência “Não confunda trabalho com emprego e tudo isso com sua vida!”, disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=d9-YvDhfEzw>. Acesso em: 19 fev. 2021.

Após, juntos, assistirem à conferência, discuta com os alunos o que eles entendem como relações de trabalho e qual a importância de estarem conscientes dessas estruturas. Questione-os, durante o debate, como eles acreditam que será o futuro da profissão que almejam exercer. Organize a turma de forma que todos tenham seu momento de fala, respeitando sempre os momentos de escuta.

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Campo das práticas de estudo e pesquisa

Tema importante e que pode ser trabalhado com a leitura do romance é o da Guerra Fria, conceito, aliás, empregado pela primeira vez justamente por George Orwell. A partir de um longa-metragem, propomos uma atividade argumentativa e de escrita sobre o conflito político e cultural entre os Estados Unidos e a União Soviética. O objetivo desta atividade é ampliar o repertório cultural dos alunos, evidenciando o papel crítico das linguagens artísticas, neste caso, o cinema.

1ª sugestão: Dr. Fantástico. Direção de Stanley Kubrick. 1964.

2ª sugestão: Boa noite e boa sorte. Direção de George Clooney. 2005.

De diferentes formas, os filmes sugeridos tratam da paranoia e do militarismo na guerra política e cultural entre os dois países. Após assistirem a um deles, peça aos alunos, para ampliação da discussão, uma breve pesquisa sobre as relações entre a Guerra Fria, a indústria cultural, a cultura de massa e o consumismo.

Após concluírem a pesquisa, peça aos alunos que redijam um texto, apontem essas relações e problematizem a partir de alguns elementos de A revolução dos bichos, em especial aqueles relacionados com a manipulação da informação para manutenção do status quo.

Campo jornalístico-midiático

Ao iniciar esta atividade, informe aos alunos que George Orwell, além de escritor, foi jornalista. Muitos escritores do século 20 transitaram pelas suas esferas, dividindo sua obrigação com a verdade dos fatos e sua ilusão criativa. Convide os estudantes a assistirem ao breve documentário sobre a vida e a obra de George Orwell, produzido pelo canal Antofágica, disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=J7wzzidiH_I>. Acesso em: 18 fev. 2021.

Se houver tempo para o trabalho com um filme mais longo e de abordagem mais ampla, indicamos o docudrama produzido pela BBC Television, em 2003, George Orwell: A Life in Pictures [Uma vida em imagens] que retrata a história de vida do escritor britânico, representado por Chris Langham, já que nenhuma gravação de som ou vídeo real foi encontrada. O filme é facilmente encontrado na internet, legendado, nas plataformas de streaming.

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Em seguida, solicite aos alunos uma pesquisa sobre a vida e a obra de outros escritores-jornalistas. Algumas sugestões são:

• João do Rio (1881-1921);

• Euclides da Cunha (1886-1909);

• Mário de Andrade (1883-1945);

• Truman Capote (1924-1984);

• Paulo Francis (1930-1997);

• Vladimir Herzog (1937-1975);

• Hunter S. Thompson (1937-2005).

Combine com a turma um dia para apresentação das informações pesquisadas. Se necessário, oriente os alunos na produção de slides.

Campo de atuação na vida pública

Conhecer e entender como funcionam as relações de trabalho e como são estruturadas é dever de todo cidadão, uma vez que há leis que amparam o trabalhador em diferentes situações. A revolução dos bichos apresenta uma metáfora de como essa relação pode pesar para um dos lados, impossibilitando o bem-estar da classe trabalhadora, que não usufrui daquilo que é produzido.

Para aprofundar a questão sobre os direitos básicos do trabalhador, sugerimos a leitura do capítulo “Dispositivos constitucionais pertinentes da Constituição da República Federativa do Brasil, primeira parte da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT e normas correlatas (Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017, pp. 13-16”. Disponível em: <https://www2.senado. leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/535468/clt_e_normas_correlatas_1ed.pdf>. Acesso em: 19 fev. 2021).

Em seguida, solicite aos alunos que escrevam um texto dissertativo com o tema: “Lucro e direitos do trabalhador: limites e abusos”. Se achar pertinente, após a entrega da dissertação, promova também um debate para exposições orais das ideias dos alunos, lembrando que esses momentos devem refletir respeito e diálogo.

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Campo artístico-literário

Muitos filmes de longa metragem dialogam com o tema abordado em A revolução dos bichos, empregando, como fez Orwell, elementos metafóricos para representar a luta de classes, tanto explícita quanto aquela estrutural, que permeia nossa sociedade como um todo e a divide em diferentes relações de poder. A fim de melhor debater sobre essas questões, atividade interessante é fazer uma análise comparada entre o romance A revolução dos bichos e um longa-metragem. Alguns filmes que podem ser sugeridos são:

• O poço. Direção de Galder Gaztelu-Urrutia. Espanha: Netflix, 2019. (94 min.).

Distopia que retrata a luta de classes como um enorme poço com 132 níveis nos quais diferentes personagens ficam, em duplas, durante 30 dias. Uma plataforma atravessa todos os níveis, coberta de comida, todos os dias, permanecendo em cada um deles por alguns minutos. Metáfora de como os que estão no topo são beneficiados, o filme se destaca por apresentar de forma concreta um conceito abstrato.

• Parasita. Direção de Bong Joon-ho. Coreia do Sul: CJ Entertainment, 2019. (132 min.).

Filme de enorme sucesso internacional, retrata a convivência entre duas famílias, uma servindo à outra, até que uma noite de forte chuva coloca todas as relações de trabalho em xeque.

Após assistirem ao filme escolhido, solicite aos alunos que escrevam uma resenha crítica sobre o material. Se achar pertinente, os filmes podem ser divididos entre os alunos e, assim, eles podem circular seus textos para os colegas que não assistiram ao mesmo filme. Ainda é possível convidar alguns alunos que queiram para ler suas resenhas para a turma.

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BiBliografia comentada

BENJAMIN, Walter.“O narrador”. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. (Obras escolhidas v. 1.). Trad. Sergio

Paulo Rouanet. Prefácio de Jeanne Marie Gagnebin. São Paulo: Brasiliense, 1987.

Ensaio clássico de um dos maiores pensadores do século 20, “O narrador” analisa o fim da narração tradicional no início do século. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Conselho

Nacional de Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília,

MEC/SEB/CNE, 2018.

Documento que norteia as competências e habilidades a serem desenvolvidas durante a Educação Básica, no sentido de subsidiar os currículos municipais, estaduais e federais. BRASIL, Luiz Antônio de Assis. Escrever ficção: um manual de criação literária.

São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2019.

Com mais de 20 livros publicados, o escritor e professor Luiz Antônio de

Assis Brasil é uma das maiores autoridades brasileiras no campo da escrita criativa, cuja experiência e conselhos estão reunidas nesse livro. CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos? Trad. Nilson Moulin. Companhia das Letras: São Paulo, 2007.

Obra fundamental do escritor italiano. Na obra, em linguagem acessível,

Calvino discorre sobre os fatores que ajudam a iluminar o que é um clássico. COUTINHO, Afrânio. Notas literárias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

Essa importantíssima obra da teoria literária brasileira oferece um estudo dos conceitos básicos da disciplina, como uma definição do que é literatura e dos gêneros contemplados pela linguagem literária. DUARTE, Adriane. “Esopo e a tradição da fábula”. In: ESOPO. Fábulas completas. Trad. Maria Celeste C. Dezotti. São Paulo: Cosac Naify, 2013.

Reunião de todas as fábulas conhecidas de Esopo, com tradução direta do grego e uma ótima apresentação assinada por Adriane Duarte. LLOSA, Mario Vargas. “É possível pensar o mundo moderno sem o romance?”

In: MORETTI, Franco (Org.). O romance: a cultura do romance. v. 1. Trad.

Denise Bottmann. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

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Nesta obra, fundamental para o estudo do romance, Franco Moretti reúne dezenas de vozes que analisam o gênero romance ao longo da sua trajetória na história da cultura humana. MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. 12ª ed. rev., ampl. e atual.

São Paulo: Cultrix, 2013.

Obra fundamental para o estudo e ensino de literatura, abrangendo seus principais conceitos, gêneros e elementos. ORWELL, George.“Por que escrevo”. In: Fazenda dos Animais: ou A revolução dos bichos. Edição integral. Inclui prefácio do autor e tradução inédita de “Por que escrevo”. Trad. André Batista. Amazon: 2021.

Ensaio recém-publicado no Brasil, trata-se de uma autoanálise de como

Orwell compreendeu seu papel como escritor. ORWELL,George.Prefácio do autor à edição ucraniana (1947).In: A revolução dos bichos: um conto de fadas. Trad. Heitor Aquino Ferreira. São Paulo:

Companhia das Letras, 2007.

Prefácio escrito em 1947, sob encomenda, no qual Orwell analisa brevemente alguns motivos na escrita de A revolução dos bichos. ORWELL,George.Sobre a verdade. Trad. Claudio Alves Marcondes. São Paulo:

Companhia das Letras, 2020.

Reunião de trechos de ensaios, reportagens, cartas e romances nos quais

George Orwell discute os conceitos de verdade e mentira, além de ficção e história. Trata-se de um excelente complemento para a análise da ficção orwelliana. SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Trad. Claudia Schilling. 6. ed. Porto Alegre:

ArtMed, 1998.

Lançada no Brasil em 1992, essa obra segue até hoje como uma das grandes referências sobre o ensino de leitura e o papel do professor na formação de leitores na escola. A autora, professora na Universidade de Barcelona,

Espanha, aponta alguns caminhos para que o professor possa promover a autonomia dos alunos nesse complexo processo que é a leitura, incluindo o das estratégias que favorecem a interpretação e a compreensão de textos.

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A revolução dos bichos

George Orwell

Coordenação Editorial: Fernanda Emediato

Elaboração do conteúdo: Marcia Paganini Cavéquia

Revisão: Josias A. de Andrade e Hugo Almeida

Leitura crítica: Ricardo Augusto de Lima

Projeto gráfico e diagramação: Alan Maia

ISBN: 978-65-88436-13-4

Temas: Cidadania e Diálogos com a sociologia e antropologia

Gênero: Romance

Ensino Médio

TroiA EDiTorA

Avenida Mofarrej, 348 – Vila Leopoldina CEP: 05311-000 – São Paulo – SP

1ª edição 2021

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Ematerial digital do professor p or m arcia p aganini c avéquia

iSBN (13) 978-65-88436-13-4