Gustavo Pinto Lopes - Memórias dum sertanejo

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descobrir, ao pálido clarear da madrugada, parte da cabeça do leão. Atirei, e ao estampido do tiro sucedeu o silêncio solene das grandes ocasiões. Os rugidos cessaram e também a falácia dos espetadores da cena, até que um dos meus pretos, subindo a uma árvore, anunciou que o leão estava a dormir. Seguiram-se as manifestações de toda a gente das raras povoações circunvizinhas, cujo entusiasmo se traduziu ruidosa e coreograficamente… Fotografei-me primeiramente no próprio sítio, e fiz depois transportar o corpo do leão para local mais descoberto, onde me fotografei de novo com o corpo de baile… A bala que tinha entrado um pouco acima do olho esquerdo, saindo por detrás da orelha do mesmo lado, e esmigalhando a parte correspondente do crânio. Distância a que atirei: 33 passos. A pele desse leão, mercê de circunstâncias que não interessam, figurou muito tempo no salão de música do palácio de Patudos em Alpiarça. [O Mundo Português. Revista de Cultura e Propaganda/de Arte e Literatura Coloniais, Vol. 5, Ano 5º (1938), pp. 295-300]


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