Serge Moscovici | Artigo de Revista

MOSCOVICI Realizado por Carolina Tersarioli, Geovana Nunes e Mariana Mendonça

Este artigo analisa a vida e as teorias mais relevantes de Serge Moscovici, um dos teóricos chave da Psicologia Social. Com uma leitura de estilo leve, fácil e atrativa, envolve o leitor e o faz viajar na essência do legado deste teórico, além de expandir seu conhecimento tendo como inspiração este ilustre psicólogo social.

Serge Moscovici; psicologia social; filósofo; teórico; representações sociais; inovação social.

Psic. Social N.1| Maio 2021

minorias ativas;

Serge Moscovici, filósofo da ciência, antropólogo, grande teórico da ecologia, e por fim, eminente psicólogo social, carrega consigo um legado de grande importância que marcou e continua a marcar não só as Ciências Sociais, como a sociedade em geral.

Fruto de suas contribuições minuciosas e altamente relevantes para a Psicologia e para a sociedade em que vivemos, Moscovici demostra todo o seu conhecimento através de um vasto conjunto de obras e teorias que revolucionaram o ramo académico e influenciam grandes nomes da Humanidade até a atualidade.

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A VIDA DE

tocam as Ciências Sociais, a Psicologia Serge Moscovici foi uma figura de grande importância no que Psicologia Social da Europa, por meio de e a História, tornou-se uma figura central da renovação da Sociais, a Teoria das Minorias Ativas e a três principais contribuições: a Teoria das Representações cresceu, Moscovici se tornou referência Teoria do Consenso Social. Apesar do ambiente em que enquanto estudioso e Psicólogo Social.

14 DE JUN HO DE 192 5 de uma Nascido em Brăila, na Romênia, parte ente, família judia, que se mudava de forma frequ ia. aráb Bess residiu, também, em Bucareste e

193 8

19 41 Juntou-se ao partido Comunista Rom eno e de 1941 à 1944, durante a Segunda Guerra Mundial , viveu num campo de trabalhos forçados. Entretanto, apesar de tantos acontecimentos vividos em sua adol escência durante a guerra e descritos em sua autobiog rafia Crônica dos Anos Errantes (Moscovici, 1997), Moscovi ci passou a gostar de leitura e aprendeu a falar francês dura nte esta fase de sua vida, explicando que suportava mom entos difíceis lendo Baruch Spinoza e René Descartes.

194 8 s, na Em 1948, Serge Moscovici chegou a Pari ia França, onde estudaria Psicologia e Psicolog bém Tam Social na Universidade de Sorbonne. a marcou este período, seu trabalho num de te fabricante de vestuário e uma fabrican calçados.

Consequência da época em que viveu, Moscovici foi vítima de dis criminação antissemita, em 1938, sendo expulso da escola que frequentava em Bucareste, o que o levou a espreitar o ramo da mecânica.

19 47 ou na Alemanha, Quando liberado, estud dando a revista Áustria e Palestina, fun re Isou, que foi artística Da com Isodo a. Em 1947, deixou rapidamente censurad o pela Hungria, a Romênia, passand Áustria e Itália.

(Isaac Chiva, "Pogromul de la Iaşi", in Observator Cultural)

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Para nós, pessoas de esquerda, mas que fugiram do comunismo, o primeiro período em Paris, em uma capital onde os ambientes intelectuais se desenvolviam sob o entusiasmo stalinista em grande escala, foi muito duro. Estávamos presos entre uma pedra e um lugar muito duro: por um lado, o ambiente universitário francês que nos via como «fascistas». [...] Do outro, os exilados romenos, sobretudo os estudantes nacionalistas, quando não abertamente da extrema direita, que não se intimidaram longe de nos denunciar como «espiões» comunistas pagos por Bucareste ou Moscou.

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195 0

eo bolsa para refugiados, qu Em 1950, recebeu uma to aos estudos. Frequentou possibilitou dar seguimen e, entação de Daniel Lagach o doutoramento sob ori ial clínico e psicólogo soc psicanalista, psicólogo ias nc luê inf es e, outras grand francês. Além de Lagach am cional de Moscovici for quanto à carreira institu to ial e fundador do Institu Jean Stoetzel, psicólogo soc , yré Ko dre blica e Alexan Francês de Opinião Pú ou cit e ciência. Moscovici historiador da filosofia o e importância o livr também como grand a re sob Wiener e do livro Cybernetics de Norbert tion le: Essai sur la no tese de Robert Lenob d’experience.

196 1 Escreveu, em simul tâneo, sua tese La Psychanalyse, son image et son public, contendo a Teoria das Representações Sociais, republica ndo a tese atualizada em 1976 . Esta seria então separada em duas partes: a pr imeira, sendo a Re presentação Social da Psicaná lise, um survey co m a população parisiense e a segu nda, a Psicanálise na Imprensa Francesa, um es tudo documental de artigos de jornais e revista s francesas e a tese sobre o desemprego, além da pesquisa que re alizou com o sociólogo Gui Ba rbichon sobre os impactos da reestruturação in dustrial e a m ud ança social (Moscovici, 1961).

19 65 Em 1965, se tornou um dos fun dadores e primeiro presidente da Associação Europeia de Psicologia Social, tornando-se diretor de estudos (Directeur d’Études) da École des Hautes Études em Sciences Sociale s de Paris.

Fundou, também, o Laboratório de Psicologia Social que inovou o âmbito de pes quisas com colaboradores como Claude Fau cheux e Claudine Herzlich.

197 6 etor do Laboratoire Em 1976, tornou-se dir Sociale, que facilitou Européen de Psychologie intercâmbio entre e intensificou o a. Este laboratório foi pesquisadores na Europ u Mondial Serge transformado em Resea funciona como forma Moscovici, em 2014, que uições de Moscovici. de continuação às contrib ncia em Portugal, Além disto, como influe a criação da Rede Moscovici incentivou sobre Pesquisas de Internacional ES – PR (RI da Saúde Representações Sociais Évora).

20 00 celência, des prémios de ex Foi recetor de gran do da un ntribuição ao m fruto de sua co diretor Balzan Price, foi Psicologia, como o nt Ph.D an/International Joi honorário do Europe tions ions and Communica in Social Representat ograma e – Sapienza, um pr of University of Rom m de ral inovador; alé de formação douto s, na diversas universidade professor visitante em dono de s Estados Unidos e Europa e também no ente dia de obras mun lm uma vasta coleção aclamadas.

2014 Psic. Social N.1| Maio 2021

No dia 16 de novembro 2014, nos despedimos de Serge Moscovici, que, aos 89 anos solidificou-se como pensador excêntrico e inovador em todos os sentidos.

Seu legado é de grande importância, em que marcou e continua a marcar as Ciências Sociais, fruto de suas contribuições minuciosas e altamente relevantes para a Psicologia e para as sociedades em que vivemos.

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TEORIAS RELEVANTES Serge Moscovici é herdeiro de uma vasta relíquia literária composta por diversas e respeitáveis obras tanto para a Psicologia, como para a História e para as Ciências Sociais. Dentre estas obras, Moscovici elaborou importantes conceitos e teorias influentes nos diferentes contextos sociais, com destaque em seu trabalho principal de tese: Teoria das Representações Sociais (TRS). O pesquisador deu continuidade ao seu estudo com a criação da Teoria das Minorias Ativas (TMA), também conhecida como Teoria da Inovação Social (TIS) por apresentar a mesma base e mesmos pressupostos, sendo ela complementar à teoria citada anteriormente.

A Teoria das Representações Sociais formou-se como uma nova possibilidade de investigação na área da Psicologia Social ao expressar novos conceitos essenciais para uma melhor compreensão da sociedade. É na obra nomeada A Representação Social da Psicanálise (1978) em que Moscovici traz à luz estes conceitos que compõem a sua teoria.

De uma forma clara, o pesquisador e psicólogo social apresenta a seguinte definição do conceito da representação social:

Em poucas palavras, a representação social é uma modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos

Em contrapartida, o conhecimento científico busca a generalização e a operacionalização e, desta forma, pode-se dizer que a Teoria das Representações Sociais é uma proposta científica de identificação do conhecimento de senso comum e, nesse sentido, priva pelo conteúdo das representações. É ainda importante ressaltar que, para a concretização de sua principal teoria, a TRS, o psicólogo Moscovici teve como grande influência o estudo do sociólogo francês Émile

Durkheim e utilizou de seu conceito de representação social para realização sua base teórica para elaboração de sua pesquisa e suas obras.

e a comunicação entre indivíduos

(Moscovici, 1978, p. 26)

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Além deste importante conceito, Moscovici também aponta para a relação de interdependência entre o conhecimento científico e o conhecimento de senso comum, desencadeando a divisão entre esses dois tipos de conhecimento.

Segundo o psicólogo social, o conhecimento de senso comum permite aos indivíduos interpretarem o mundo e orientarem a comunicação entre eles, além de julgar ser um conhecimento verídico.

Neste viés, a Teoria das Representações Sociais consiste em saber como se constroem as representações, como se dá a incorporação do novo, do não familiar, aos universos consensuais.

Neste contexto, de acordo com Moscovici, a estruturação das representações envolve dois processos de formação: a ancoragem e a objetivação. A objetivação traduz-se em dar forma a um determinado conceito, e é através da ancoragem que tornamos familiar o conceito ou objeto representado.

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Em suma, para Moscovici, a Representação Social é uma construção que o indivíduo realiza para entender o mundo e para se comunicar, é um conjunto de conhecimentos, ou seja, uma Teoria. Tem papel fundamental na contemplação do social e individual e na dinâmica das relações sociais em si. Segundo Alves-Mazzotti, Moscovici procura enfatizar que:

[...] as representações sociais não são apenas “opiniões sobre” ou “imagens de”, mas teorias coletivas sobre o real, sistemas que têm uma lógica e uma linguagem particular, uma estrutura de implicações baseada em valores e conceitos que determinam o campo das comunicações possíveis, dos valores e das idéias compartilhadas pelos grupos e regem, subsequentemente, as condutas desejáveis ou admitidas.

(Alves-Mazzotti, 2000, p. 59) Dando continuidade aos seus estudos, Moscovici esclarece à sociedade as implicações da Teoria das Minorias Ativas, em sua obra intitulada Psicologia das Minorias Ativas (1991). É possível relacionar esta obra com a já citada anteriormente, Representações Sociais: Uma Investigação em Psicologia Social, no que diz respeito às duas teorias, visto que estabelecem a relação de tensão entre grupos e indivíduos, representando o mesmo modelo de comunicação proposto pelo pesquisador.

Visto isto, o autor reflete sobre estas questões e, diferentemente das ideias de outros autores percussores, ele afirma que, em decorrência das interações sociais, todo o processo de influência é bilateral, ou seja, os subgrupos e grupos atuam constantemente um sobre o outro, assim como ressalva o impacto que o indivíduo ou subgrupo pode ter sobre o grupo.

Esta bilateralidade apresenta tanto um lado em que a maioria tenta impor suas regras e normas, quanto outro em que a minoria se opõe à adesão destas, uma vez que os indivíduos contém distintos graus de adesão à normas sociais, sendo estas impostas pelo grupo maioritário, como identifica Moscovici.

Este contexto reflete o carácter bilateral da influência social, onde a oposição da minoria exerce uma pressão sobre a maioria. Desta forma, pode-se observar a maioria sendo induzida a ser mais tolerante com o que anteriormente era considerado excluído, mesmo manifestando resistência à mudança.

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A Teoria das Minorias Ativas, desenvolvida por Moscovici e representada em sua obra Psicologia das Minorias Ativas (1991), condena o princípio da influência social, de maneira unilateral, existente na sociedade.

Através desta obra, Moscovici expõe ao leitor que, durante muito tempo, foi dado importância somente a um lado da influência social, onde todo grupo que não vai de acordo com as ideias feitas por um grupo maioritário (ou seja, a minoria) passam a ser vistos à margem da sociedade. Não só isto, mas também levaram em consideração apenas uma direção, a da maioria que tem poder social para aprovar, reprovar, aceitar ou rejeitar, poder este que produz obediência e conformidade pública, em que as minorias raramente têm poder social.

Com isto, o psicólogo desperta um grande questionamento: por que não investigar o fenómeno da influência a partir “do outro lado”?

Por que não se pensar que a minoria tem o poder de influenciar os grupos maioritários? (Moscovici citado por Barboza, M. S. S. & Camino, C. P. S., 2014)

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Como também é notável o poder das minorias, percebidas como credíveis, de produzir mudanças genuínas de atitude e, consequentemente, inovação, mudança social e até revolução.

O poder dos grupos minoritários está na construção de um espaço de participação, na definição de luta. As mudanças partem de um grupo minoritário e certos comportamentos podem ser vistos como representações sociais e, quando ativas em esfera pública, ocasionam a mudança.

Os conflitos e revoluções gerados por este processo bilateral da influência social são vistos atualmente com grande frequência. Casos como de George Floyd, homem negro assassinado em uma abordagem policial violenta nos Estados Unidos, que gerou revolta em todo o mundo: grupo minoritário, população negra, utilizando de sua voz para exigir os seus direitos, não compactuaram com normas e ideias impostas pela maioria. Inspirada neste acontecimento, é criado um curta-metragem da Netflix nomeado Dois Estranhos (2021), indicado a Melhor CurtaMetragem no Oscar 2021.

É igualmente surpreendente notar que, apesar da enorme pressão exercida pela sociedade para obrigar os indivíduos a se conformarem ao modelo geral, as minorias e os desviados não apenas resistem, mas até conseguem criar novas formas de viver, pensar e agir, forçando assim a maioria para aceitá-los por sua vez.

(Moscovici, 1991, p. 9)

Tentativa de fazer mudar o grupo, não a partir do conformismo com a norma, mas sim por aceitação daquele a que é as novas ideias.

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De acordo com a Teoria da Inovação Social (TIS), a influência social não se esgota apenas no conformismo, mas também pode envolver a inovação. Visto que o conformismo é o processo psicossocial de comparação com a maioria e aceitação pública do seu comportamento, e a inovação é o processo de validação do julgamento da minoria e de aceitação privada do seu julgamento.

Assim sendo, Moscovici acredita que não só existe influência pela minoria, como ele também demostra que o comportamento que é mudado em função da minoria é um comportamento mais duradouro e intenso, onde o indivíduo acredita no que está a fazer, ou seja, há uma aceitação, uma creditação.

Com esta teoria, Serge Moscovici traz ao leitor uma nova visão e até mesmo uma nova reflexão sobre as relações sociais, onde, assim como acredita, ambos os lados devem ser considerados, seguindo, assim, o carácter bidirecional.

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Serge Moscovici é visto como uma inspiração não só para o ambiente académico, mas também como imigrante de família judaica que lutou bravamente para conseguir conquistar o seu legado. Incentivador do pensamento crítico, Moscovici também deu importância às relações sociais como um processo de influência bilateral,

Officier de la Légion d'Honneur (1999);

em contrapartida a outros pesquisadores que o precederam.

O psicólogo que nos deixou em 2014, mantém uma herança ativa de amplo fundamento contendo as principais teorias presentes em suas obras, dessa forma, continuará a marcar a história e gerações futuras.

Principais: Representações sociais: Investigações em Psicologia Social;

Prize of the Burda Foundation (1980); European Amalfi Prize for Sociology and Social Sciences (1988); European Prize for Social Sciences and Sociology (1989);

Invenção da sociedade: Sociologia e Psicologia; A Psicanálise, Sua Imagem e Seu Público; Cronica Dos Anos Errantes; Psicologia das Minorias Ativas; Dissensões e Consenso; Uma Teoria Geral das Decisões Colectivas; Natureza. Para Pensar A Ecologia.

Ecologia Award (2000); Parte dos livros de Moscovici estão

Balzan Prize (2003);

disponíveis em formato digital, autorizados pelo mesmo em 2007, na coleção:

Premio Nonino Master of His Time

Université du Québec à chicoutimi – UQAC.

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(2010).

Les Classiques des sciences sociales da

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MOSCOVICI ESCANEIE O

E D E SC U B R A S

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