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vários alertas sobre os yanomami foi insuficiente"

BBC

Após vários alertas feitos ao governo brasileiro sobre a grave situação humanitária enfrentada pelos indígenas yanomami que vivem em comunidades no norte do Brasil, "as medidas tomadas foram claramente insuficientes".

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É o que diz o representante na América do Sul do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), Jan Jarab.

Para o tcheco que assumiu o posto em Santiago do Chile em 2019, a resposta do governo federal às denúncias feitas não só pelo ACNUDH, mas também por organizações nacionais e defensores dos direitos indígenas, ficou longe do ideal.

Fizemos vários alertas, tanto por meio da própria Alta Comissária dos Direitos Humanos à época, Michelle Bachelet (...), quanto também expondo a grave situação para o Conselho dos Direitos Humanos", afirmou Jarab à BBC News Brasil.

O representante, que trabalha com Argentina, Brasil, Chile, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai, visitou comunidades yanomami na Amazônia em maio de 2022. Depois de sua viagem, afirma ter se reunido com representantes dos Três Poderes em Brasília para compartilhar sua preocupação diante dos relatos de invasão de garimpeiros, violência, desnutrição e péssimas condições de saúde que ouviu das lideranças indígenas. Mas, segundo ele, os encontros não surtiram muito efeito.

Jan Jarab

Segundo Jan Jarab, a história do Brasil e de toda a América

Latina carrega o peso do genocídio contra os povos originários perpetrado pelos colonizadores europeus. Ele lembra também do episódio em que quatro garimpeiros foram condenados por genocídio por matar ao menos 16 indígenas em 1993, no que ficou conhecido como o Massacre de Haximu. Desde o fim de semana passado, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e uma comitiva de ministros visitaram a terra indígena dos yanomami em Roraima, as imagens de crianças e adultos em estado grave de desnutrição, e com doenças como malária e verminoses, causaram consternação no mundo. Diante da possibilidade de um caso de omissão, parcial ou total, por parte de autoridades federais, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a abertura de uma investigação de autoridades do governo Jair Bolsonaro (PL) pela suposta prática de genocídio de indígenas yanomami. Polícia Federal também abriu inquérito para apurar se houve crime de genocídio e omissão de socorro ao povo yanomami pelo governo Bolsonaro. Outras duas denúncias estão em avaliação preliminar no Tribunal Penal Internacional, localizado em

Haia, nos Países Baixos. A questão, porém, ainda gera muita controvérsia, com juristas e especialistas que afirmam não haver evidências suficientes do crime de genocídio.

A BBC News Brasil tentou, durante esta reportagem e em outras ocasiões, o contato com Bolsonaro e seus assessores para que pudessem dar um posicionamento a respeito de todos os pontos e alegações. Não foram enviadas respostas até a publicação deste material.

Mas assim que a emergência de saúde veio à tona nos últimos dias, o ex-presidente fez postagens no aplicativo de mensagens Telegram. Ele classificou a denúncia sobre a crise yanomami como "farsa da esquerda" e disse que seu governo realizou 20 ações de saúde entre 2020 e 2022 que levaram atenção especializada para dentro dos territórios indígenas, especialmente em locais remotos e com acesso limitado.

Segundo o ex-presidente, foram beneficiados mais de 449 mil indígenas, com 60 mil atendimentos. Ainda na mensagem, ele afirmou que o governo federal encaminhou 971,2 mil unidades de medicamentos e 586,2 mil unidades de equipamentos de proteção individual, totalizando 1,5 milhão de insumos enviados para essas operações. A reportagem ainda procurou o ex-presidente da Funai entre julho de 2019 e dezembro de 2022, Marcelo Augusto Xavier, mas também não obteve resposta.

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