Nova edição do "Rússia", 4 de dezembro

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Planeta dos macacos Símios devem ser enviados a Marte e poderão pilotar nave, mas ainda precisam aprender a sentar P. 3

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ESTE SUPLEMENTO É ELABORADO E PUBLICADO PELO JORNAL ROSSIYSKAYA GAZETA (RÚSSIA), SEM PARTICIPAÇÃO DA REDAÇÃO DA FOLHA DE S.PAULO. Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), La Nacion (Argentina) e outros.

Tá russo! Região conquista estrangeiros

Positivo Para presidente russo, livre circulação de capital é principal responsável por indicador

Vida abaixo de zero também reserva suas delícias

REUTERS

País tem primeiro influxo de capital em cinco anos

Clima proporciona de pesca no gelo a situações inusitadas

Jornalista da redação indiana da Gazeta Russa faz relato nostálgico dos anos em que viveu em uma das regiões mais inóspitas do mundo. AJAY KAMALAKARAN GAZETA RUSSA

GETTY IMAGES

Empresas grandes do país começam a retornar aos mercados de capitais ocidentais. Mas seus títulos têm interesse especulativo, segundo analistas. ALEKSÊI LOSSAN GAZETA RUSSA

De julho a setembro de 2015, o influxo de capital na Rússia chegou a US$ 5,3 bilhões,

de acordo com comunicado oficial do Banco Central. O documento ainda afirma que este é o primeiro influxo de fundos na economia russa desde o período de abril a junho de 2010. A tendência vai na contramão do resto do ano, já que, ao final dos três primeiros trimestres de 2015, o Banco Central registrou

uma saída de capital de US$ 45 bilhões. Uma das causas da mudança é a livre circulação de capital, de acordo com declaração do presidente russo Vladímir Pútin em outubro de 2015. Segundo ele, o governo não restringirá a circulação de capital ou fixará taxas de câmbio. Esse tipo de medidas esta-

va em vigor no final dos anos 1990, mas não levou a uma mudança significativa na taxa de câmbio durante o período de desvalorização. Além disso, a fuga de capital de mercados emergentes tem diversas causas, entre elas a política monetária do Sistema de Reserva, segundo o presidente. Nos próximos anos, porém,

ele garante que a economia do país irá superar a recessão e dará início a uma dinâmica positiva. “O influxo de capital está relacionado ao fortalecimento do rublo e a fatores sazonais. Ao rejeitar empré sti mos e x te r nos, as empresas CONTINUA NA PÁGINA 2

Apesar de soar como um seriado de ação, fugir de avalanches ou ficar preso em casa durante três dias seguidos são situações corriqueiras para os moradores do Extremo Oriente russo. Quando se vive em um lugar cujo inverno dura seis meses - para os níveis de medição dos habitantes de áreas mais amenas da Terra, quem sabe, até nove -, os primeiros flocos de neve em pleno outono despertam uma melancolia irremediável. A chegada do inverno marca o momento de se guardar a bicicleta e os sapatos comuns. E, se você não tem experiência e habilidade para

dirigir por estradas cobertas de gelo, seu carro também acaba estacionado na garagem por alguns meses. É mais fácil sobreviver ao longo período de frio atroz e calçadas escorregadias quando a neve passa a fazer parte da paisagem. Um manto branco cobre os bosques e as paisagens do Extremo Oriente russo, uma das regiões menos povoadas do mundo. A beleza inspiradora da neve nas árvores - tanto as de folha perene, quanto as de folha caduca com seus galhos pelados - intensifica-se com o s pr i m e i r o s r a io s d a aurora. Mas, por mais belo que o inverno seja, a dureza da natureza sobre o homem se revela justamente nessa estação. Violentas tempestades de neve e vento capazes de empurrar as cr ianças em direção CONTINUA NA PÁGINA 4

Juventude Até os 140 anos

Sanções russas contra a Turquia afetarão ambos

Bactéria promete prolongar vida

Maior parte do comércio bilateral é composta por exportações russas de trigo e gás, que o governo não planeja suspender. LEONID KHOMÉRIKI ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Após a derrubada de um caça russo na Turquia no final de novembro, Moscou introduziu sanções econômicas contra o país no último sábado (28), entre outras medidas de retaliação. A partir de 1º de janeiro de 2016, as empresas russas estão proibidas de empregar cidadãos turcos e o regime

de isenção de vistos de turista será abolido. Além disso, em breve o governo proibirá a participação de empreiteiras turcas em licitações de obras públicas no país. Entretanto, ainda não se decidiu exatamente quais setores da indústria serão afetados. De acordo com a agência oficial de estatística russa Rosstat, a Turquia é o quinto maior parceiro comercial do país. Em 2014, o volume do comércio entre os dois países chegou aos US$ 44 bilhões e,

© ALEKSANDR VILF / RIA NOVOSTI

Cortando laços País é quinto maior parceiro da Rússia e balança de 2014 chegou aos US$ 44 bi

apenas nos três primeiros trimestres de 2015, aos US$ 18,1 bilhões. Medidas foram anunciadas após derrubada de caça russo

Russos saem perdendo? O fluxo de mercadorias que partem da Rússia à Turquia é muito maior que o contrário: em 2015, a importação russa de mercadorias turcas foi de pouco mais de US$ 3 bilhões. “Até o final de 2015, espera-se que o volume total de negócios bilaterais atinja entre 23 e 25 bilhões de dólares, dos quais cerca de 20 bilhões de dólares serão em exportações russas”, diz

Aleksandr Knobel, diretor de pesquisas da Academia Russa Presidencial da Economia Nacional e da Administração Pública, instituto próximo ao governo. Grande parte das exportações russas para a Turquia é composta por cereais e gás, commodities às quais não se planeja introduzir limitações. Apenas em 2014, a gigante Gazprom forneceu à Tur-

quia 27,3 bilhões de metros cúbicos de gás. O consumo turco o colocou em segundo lugar no ranking dos maiores compradores da commodity r u ssa, at rás apenas da Alemanha. A Turquia, por sua vez, enviou quase um bilhão de dólares em alimentos à Rús sia. Mais da metade desse CONTINUA NA PÁGINA 2

Organismo encontrado no permafrost da Sibéria aumentou longevidade de ratos e já é testado pelo cientista que o descobriu. ARAM TER-GAZARIAN ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Durante uma expedição à Iakútia, na Sibéria, o cientista Anatóli Bruchkov encontrou amostras da bactéria Bacillus F sob a camada de permafrost (solo constituído por terra, gelo e rochas congeladas) e, desde então, realiza experimentos em ratos e em si mesmo para provar sua teoria: a de que esses organismos de quase 3 milhões de anos teriam efeito rejuvenescedor. “Ficamos surpresos com o fato de o organismo não revelar, à primeira vista, sinais de envelhecimento. Multipli-

camos a bactéria e começamos a estudá-la”, diz Bruc h k o v, q u e c h e f i a o Departamento de Geocronologia da Faculdade de Geologia da MGU (da sigla em russo, Universidade Estatal de Moscou). Apesar de sua semelhança com as células humanas, a bactéria pode viver muito mais tempo. “Começamos a injetar uma solução contendo o Bacillus F em ratos e descobrimos que assim eles viviam de 20% a 30% mais do que o habitual”, explica. “Curiosamente, as bactérias morriam assim que entravam no organismo, mas, ao mesmo tempo, os ratos pareciam ter nascido de novo”, conta o biólogo Vladímir Rêpin, que foi chefe do laboCONTINUA NA PÁGINA 3

GAZETA RUSSA, FONTE CONFIÁVEL DE NOTÍCIAS 83% consideram a gazetarussa.com.br como fonte para novos pontos de vista de especialistas russos

81% acreditam que a gazetarussa.com.br fornece informações e análises que vão além da cobertura tradicional da mídia sobre o país 77% dizem que nossos projetos on-line são relevantes para todos - e não apenas a quem tem algum interesse especial pela Rússia * P e s q u i s a re a l i z a d a co m l e i to re s d a G a ze t a R u ss a e d o p ro j e to R BT H e m m a rço d e 2 0 1 5

U M P O N T O D E V I S TA B A L A N C E A D O S O B R E A R Ú S S I A

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Economia e Negócios

RÚSSIA O melhor da Gazeta Russa gazetarussa.com.br

Governo vai emitir títulos da dívida em yuans

Sanções russas contra Turquia afetarão os dois países Otimistas? Analistas dizem, entretanto, ser impróvavel que o volume de transações caia a menos da metade. “Não acho que a queda do volume de negócios chegue sequer a 50% em 2016”, diz Knobel. Mas, para ele, as perdas serão maiores para projetos que a i nd a e st ava m e m prospecção. O presidente da Turquia,

GAZETA RUSSA

EPA/VOSTOCK-PHOTO

volume foi composta por tomates e frutas cítricas. Segundo o Ministério da Agricultura russo, as importações de alimentos da Turquia alcançaram US$ 1 bilhão durante os primeiros dez meses de 2015. Nesse mesmo período, as vendas de produtos hortícolas e frutas para a Rússia corresponderam a quase US$ 500 milhões. E, embora a participação da Turquia nas importações totais de alimentos do país em 2014 tenha sido de apenas 4%, o país responde por 43% do total do tomate importado pela Rússia. “Mas é improvável que a Rússia imponha limites à importação de frutas e legumes turcos às vésperas das festas de Ano Novo. O mais provável é que se faça um reforço no controle sanitário”, diz Knobel.

Recep Tayyip Erdogan, anunciou que o volume de comércio com a Rússia poderia chegar aos US$ 100 bilhões em 2020. A estimativa se baseava na então possível implementação de grandes projetos bilaterais, como o gasoduto Turkish Stream e a central nuclear de Akkuyu – que, agora, provavelmente sejam cancelados. Contra as acusações de colaboração com o Estado Islâmico feitas por Pútin, Erdog a n a i nd a a f i r mou n a segunda-feira (30) que, caso comprovadas as supostas compras de petróleo da organização terrorista pela Turquia, ele renunciaria ao cargo de presidente.

ANNA KUTCHMA

Primeira emissão é prevista para 2016

EPA/VOSTOCK-PHOTO

delas abandone grandes projetos no país. A confiança foi colocada em questão”, disse ao jornal econômico “RBC” o ministro da Indústria da Construção russo, Mikhail Men.

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Meta é atrair investidores da China para substituir empréstimos ocidentais. Livre flutuação da moeda chinesa pode representar risco.

Erdogan (esq.) passou a ser acusado por Pútin (dir.) de envolvimento com EI após incidente

Turismo Em 2014, país recebeu 3,3 milhões de russos

Maior destino de férias russo minado

Outros itens de peso das exportações turcas à Rússia são os têxteis e calçados. Segundo dados da Rosstat, nos três primeiros trimestres de 2015, a Rússia importou da Turquia US$ 514 milhões em têxteis e US$ 48 m i l hões em calçados. “Mas, caso as sanções afetem esses setores, os produtos turcos poderão continuar a entrar na Rússia através do território da Bielorrússia”, diz a diretora-geral da consultor ia Ma rketolog, Olga Jiltsova. Com as sanções, as construtoras turcas em operação na Rússia também poderão ter que deixar o país. “Muitas construtoras turcas atuam no setor imobiliário, especialmente no ramo comercial, e não descartamos a possibilidade de que parte

País seria espécie de “Porto de Galinhas dos russos”, segundo brasileiro que comprou pacote em Moscou. ANNA KUTCHMA, MARINA DARMAROS GAZETA RUSSA

Pouco após o abatimento pela Turquia do caça russo Su-24, em 24 de outubro, Moscou suspendeu a isenção de vistos para turismo entre os países e proibiu as operadoras russas de vender pacotes de férias para esse destino. Em 2014, a Turquia foi visitada por 3,3 milhões de turistas russos - o destino mais procurado por russos no exterior, segundo dados do Rosstat (Serviço Federal de Estatística da Rússia). No primeiro semestre deste ano, 1,3 milhão

de russos estiveram em território turco. O custo médio de um pacote russo de uma semana na Turquia varia de 300 a 450 dólares por pessoa. O paraibano Arthur Mota, 28, comprou um desses pacotes para passar duas semanas em um resort no litoral turco com a namorada russa há cerca de três anos, quando estudava medicina em Moscou. “Tinha muitos russos no resort, todo tipo de gente da classe média, de todo o país, de todo tipo. Desde os baladeiros aos mais sossegados. E o resort oferecia tudo: café da manhã, almoço e jantar, piscina, bebidas alcoólicas e não alcoólicas. Nunca fiquei em um resort no Brasil, mas me

Suspensão de voos fretados já foi decretada e passou a valer na última terça-feira (1) EPA/VOSTOCK-PHOTO

Negócios em risco

parece que a infraestrutura deles para o turismo é muito desenvolvida. Se fosse chutar, a Turquia seria um Porto de Galinhas dos russos”, diz.

deral para o turismo Rosturism são de que os turistas evitem viajar para a Turquia devido à “elevada ameaça terrorista”. Os voos fretados para o país também estão proibidos desde terça-feira (1º). A Rostourism estima que o número de turistas russos em

Ameaça terrorista As recomendações oficiais do Ministério dos Negócios Estrangeiros e da agência fe-

Brics Transação pode alavancar relações com país

Sem medo Para a sócia da consultoria UFS IC, Elena Jeleznova, muitos investidores estrangeiros, sobretudo asiáticos, têm agora um interesse maior no mercado russo e pesquisam ativamente outras variantes para desenvolver a cooperação. “As corporações russas, por sua vez, aprenderam a ter uma atitude igualmente reverente, compreensiva e respeitosa tanto em relação a seus velhos parceiros europeus e americanos, como em relação aos novos amigos asiáticos”, diz. Mas, por enquanto, o Banco Central não espera que essa tendência se mantenha em longo prazo. As previsões da instituição são de que, em 2015, US$ 85 bilhões saiam do país. Já no Ministério das

Entrada / saída líquida de capital

ALYONA REPKINA

estão atraindo recursos em rublos mais ativamente”, explica o chefe de operações da consultoria Freedom Finance, Gueórgui Váschenko. Além disso, o influxo real de investimentos começaria na Rússia depois que o preço do petróleo ultrapassasse os US$ 70 por barril. “Até lá, os investimentos serão pontuais, pois, por enquanto, o interesse no mercado tem caráter especulativo”, diz.

Para analista, influxo real de capital se inicia quando preço do barril de petróleo superar os US$ 70 Finanças, acredita-se que a saída de capital chegará a US$ 70 ou US$ 80 bilhões, e no Ministério do Desenvolvimento Econômico, as estimativas chegam aos US$ 93 bilhões. Durante todo o ano de 2014, US$ 154,1 bilhões saíram do país e, em 2013, US$ 61 bilhões.

Interesse em títulos Os indicadores positivos,

porém, se intensificaram com a entrada, em outubro de 2015, de duas grandes empresas russas para os mercados de capitais ocidentais: o monopólio de gás Gazprom e a maior produtora de níquel e zinco do mundo, a Norilsk Nickel. No início de outubro, as duas companhias colocaram seus eurobônus no mercado. A demanda por papéis russos superou em muito a oferta. Em 8 de outubro de 2015, a Gazprom fechou o livro de pedidos de colocação de eurobônus com prazos de três anos em US$ 1,1 bilhão. A demanda foi tão alta que a empresa teve que reduzir

pela metade a taxa de juros, chegando aos 4,625%. No dia anterior, a Norilsk Nickel fechou o livro de pedidos de colocação de eurobônus de sete anos de prazo em US$ 1 bilhão. A demanda pelos papéis foi quatro vezes maior que a oferta, chegando aos US$ 4 bilhões. Isso também permitiu que a empresa reduzisse pela metade a taxa de atratividade: o rendimento final foi de 6,625%. “Atualmente, os eurobônus russos estão entre os mais atraentes nesse segmento de mercado. Em primeiro lugar, isso se deve a seu alto rendimento, em um contexto de redução geral das taxas de juros. Em segundo lugar, isso ocorre graças à normalização da situação da economia da Rússia, que já não espanta os investidores mais conservadores”, diz o diretor da consultoria Hedge.pro, Iliá Butúrlin.

© ARTYOM ZHITENEV / RIA NOVOSTI

Primeiro influxo é registrado em 5 anos CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

País já tem ações em outras empresas importantes de tecnologia da Rússia, como o Mail.Ru

África do Sul compra portal russo Empresa sul-africana adquiriu controle acionário de maior site de anúncios russo, em contrato de mais de US$ 1,2 bilhão.

Mercado muçulmano Anteriormente, em 30 de julho de 2015, o Banco Ak Bars, o maior da república predominantemente muçulmana do Tatarstão, decidiu entrar no mercado internacional de capitais. A instituição de crédito colocou títulos de US$ 300 milhões a uma taxa reduzida para um emissor de tal nível de confiabilidade : 8% ao ano.

território turco no momento esteja entre 10 e 20 mil pessoas. Cerca de 20% dessas acabaram no país justamente após alterarem seu destino devido à suspensão dos voos da Rússia ao Egito, causada pela derrubada de um avião comercial russo em Sharm el Sheikh, no deserto do Sinai. “Como novembro não é alta temporada para a Turquia, ainda é cedo falar em grandes prejuízos. Mas se o conflito piorar e a suspensão das vendas durar dois ou três meses mais, o estrago será muito maior que o da proibição de voos ao Egito”, afirma um representante do setor. A Rússia também é o segundo destino mais visitado por turcos no exterior, atrás somente da Alemanha.

O governo russo anunciou que planeja emitir títulos da dívida pública em yuans para substituir os empréstimos limitados pelas sanções dos EUA e da Europa. O volume dos títulos, que serão colocados na Bolsa de Moscou já em 2016, poderá ultrapassar os 6,4 bilhões de yuans (US$ 1 bilhão). “As autoridades financeiras russas não escondem o fato de que essa primeira emissão em yuans é apenas uma tentativa de criar um índice de referência e estimular a demanda por esse instrumento financeiro”, disse o vice-presidente do Banco Central da Rússia, Serguêi Chvetsov. A iniciativa, porém, gera temor por parte de alguns analistas. O diretor de infraestrutura regional da Rus-Rating, Anton Tabakh, por exemplo, aponta para a cautela excessiva dos investidores chineses, que “podem não se interessar pela oferta do governo russo”. Além disso, os riscos cambiais associados ao yuan, que não tem um regime de livre flutuação, também poderiam assustar os investidores. “Se a China decidir desvalorizar o yuan, o reembolso de obrigações pode se tornar uma operação muito ca ra pa ra o orça mento russo”, diz o analista-sênior da consultoria Kalita-Finans, Aleksêi Viazôvski.

ALEKSÊI LOSSAN GAZETA RUSSA

A empresa de mídia sul-africana Naspers adquiriu o controle acionário do Avito, maior site de anúncios da Rússia, por mais de US$ 1,2 bilhão, marcando a intensificação da balança comercial bilateral. “É uma transação simbólica e poderá ter efeito multiplicador, isto é, espelhar acordos semelhantes em um

futuro próximo”, explica o professor de administração na Academia Presidencial da Economia Nacional e Administração Pública da Rússia, Emil Martirosian. As economias dos dois países são baseadas na produção de matérias-primas. Mas há possibilidade de ampliação da balança, como mostrou a transação. “A África do Sul é membro ativo do Brics, e as relações com o país serão intensificadas, sobretudo no intercâmbio de tecnologias e investimentos”, acredita Martirosian.

Hoje, esse comércio bilateral, que totalizou US$ 975,9 milhões em 2014, é o mais insignificativo entre o país sul-africano e os Brics. A título de comparação, a balança entre Brasil e Rússia é de US$ 6,6 bilhões anuais. A sul-africana Naspers já havia adquirido 18,6% das ações do Avito por US$ 50 milhões em 2013 e é proprietária de ações de outras empresas russas, como o Mail.Ru Group, do qual detém 27,6%.

Projetos programados Ainda em meados de outubro, o presidente russo Vladímir Pútin declarou que Rússia e África do Sul têm planos nas áreas de energia, infraestrutura e transporte. Os países também mantêm projetos conjuntos no setor de agricultura. Até o final de 2015, o volume de fornecimento da produção agrícola da África do Sul à Rússia chegará aos US$ 200 milhões isso sem contar as exportações de vinho e carne de avestruz.


Ciência

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Marte Apesar de dificuldades em fazer símios se sentarem à poltrona, agência espacial russa começa a prepará-los para a viagem

Planeta dos macacos é vermelho O IBMP (da sigla em inglês, Instituto de Problemas Biomédicos de Moscou) anunciou que retomará um experimento com macacos para simular sua jornada de ida e volta a Marte. A viagem, segundo cientistas, deve durar 520 dias. A experiência segue os moldes do Mars-500, projeto que, entre 2010 e 2011, confinou em uma cápsula estacionada em Moscou três cosmonautas russos, um chinês, um francês e um colombiano naturalizado italiano. A meta, agora, é preparar seus parentes primatas em dois anos para viajar ao planeta vermelho. Os quatro macacos escolhidos foram criados em viveiros especiais para programas científicos e passaram por uma seleção rigorosa. “Os macacos precisam ser civilizados, aprender a se sentar em uma cadeira para, então, executar operações diversas”, diz Inessa Kozlôvskaia, chefe do departamento de profilaxia e fisiologia s e n s or i a l e mot or a do instituto.

Matemáticos e arteiros Apesar de esses animais traquinas, inicialmente, não conseguirem sequer sentar-se naturalmente na poltrona, a ideia é que, em caso de emergência, eles poderiam assumir o controle da nave. Mesmo com o tempo curto e as adversidades, pelo cronograma do projeto, os escolhidos já poderão até resolver problemas matemáticos de cabeça até o final de 2016. “A Rússia planejando enviar macacos para o espaço é

Após o início do programa espacial americano, em 1948, os EUA tentaram, sem sucesso, enviar ao espaço cinco macacos. Todos se chamavam Albert e todos morreram durante o procedimento.

Cãomonautas

Lagartixas muito sexy

Além de serem mais fáceis de se adestrar, os cães não precisavam de anestesia, como os macacos. Por isso, de 1951 até os anos 1970 dezenas deles foram ao espaço pelas mãos dos soviéticos. Mas, também devido à duração do voo, a expedição simulada a Marte usa macacos para ajudar a avaliar a interação dos animais nas condições propostas e a obter dados experimentais sobre o estado de saúde, cognição e capacidade de trabalho durante uma viagem longa pelo espaço. “Caso contrário, estaremos enviando pessoas com uma passagem só de ida”, diz Kozlôvskaia.

Lançamentos mais recentes de biossatélites do país, porém, têm gerado polêmica. Foi o caso das cinco lagartixas-cosmonautas que partiram da Terra em junho - mas não resistiram à viagem de retorno. O objetivo do estudo, por mais estranho pareça, era estudar os efeitos da ausência de gravidade na libido. Dos camundongos que partiram com Major Tom, também poucos resistiram: apenas 16 dos 45 iniciais. A história completa da vida de Major Tom, batizado em homenagem a uma canção de David Bowie, estará no “Livro dos Bichos”, que Kaz lança em março pela Cia das Letras.

Irritabilidade dos macacos freou seu uso no programa soviético. Agora, eles poderão até pilotar “Sucesso russo está mais na grosseria que na tecnologia. Eles não têm medo de tentar”, diz Kaz

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ETAPAS DOS ENVIOS RUSSOS

Em 1951, a URSS envia ao espaço os cães Dezik e Tsigan, primeiros animais a ir e retornar com vida do espaço. Do mesmo período, Laika foi a primeira cadelinha a orbitar no espaço, apesar de retornar sem vida, em 1957.

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De 1973 a 1997, a Rússia mandou 212 ratos e 12 macacos para o espaço, além de insetos, anfíbios, répteis e células humanas. Além disso, em 1990, nasceram os primeiros filhotes de codorna no espaço. Mas eles não conseguiram se adaptar à ausência de gravidade, e a maioria morreu.

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Após sua interrupção, em 1997, o programa Bion é retomado com o lançamento de seis pequenos satélites em 2013 portando camundongos, lagartixas, peixes, gerbos, escargots e microorganismos.

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A macaca Cliôpa (diminutivo de Cleópatra) foi uma das selecionadas para o novo experimento russo

© SHOLOMOVICH / RIA NOVOSTI

GAZETA RUSSA

A Rússia reanimou recentemente seu programa Bion, de envio de biosatélites (ou seja, satélites com animais dentro) ao espaço. A missão de reinauguração do programa foi a Bion M-1, em 2013, que levou 45 camundongos ao espaço. Entre esses, estava o camundongo batizado de Major Tom, objeto de estudo de Kaz. Para ele, a afirmação de Kozlôvskaia, apesar dos protestos de protetores dos animais, faz algum sentido na continuada disputa da corrida espacial. “Foram os russos que tiveram o primeiro êxito com um animal que foi ao espaço e voltou com vida; em seguida, houve a cadela Laika, primeiro ser vivo a orbitar a Terra e que morreu no espaço; ainda antes disso, teve o Sputnik; e, depois, Gagárin, primeiro homem a orbitar a Terra. Além da figura central de [Serguêi] Koroliov, então chefe da agência espacial russa, foi a falta de uma cautela excessiva, que prejudicou os americanos, o que beneficiou os russos no espaço”, diz Kaz.

© A. PLETNEV / RIA NOVOSTI

MARINA DARMAROS

uma grande novidade, pois quem usou esses animais sempre foi a agência norte-americana Nasa”, diz o jornalista científico Roberto Kaz, que acaba de finalizar o mestrado na Universidade de Columbia sobre um camundongo-comandante enviado recenteme nt e ao e s paço pe lo s russos.

FOTOSOYUZ/VOSTOCK-PHOTO

Retomada do programa Bion, de envio de biossatélites ao espaço, já lançou, desde 2013, camundongos e lagartixas cosmonautas.

Belka e Strelka, os primeiros animais a orbitar e retornar com vida, em 1960, e porquinhos-da-índia espaciais

Efeito colateral Substituição de importações foi anunciada por Medvedev em maio e só afetará quem não tem planta no país

Laboratórios estrangeiros abrem vantagem KIRA EGOROVA GAZETA RUSSA

Quando o premiê russo Dmítri Medvedev encarregou o governo de substituir importações no setor farmacêutico, em maio de 2015, as empresas estrangeiras entraram em pânico. O mercado farmacêutico russo para essas é avaliado em US$ 19 bilhões ao ano pouco, perto dos US$ 157 bilhões das cinco maiores economias europeias e dos US$ 377 bilhões do mercado americano, de acordo com a rev i st a Pha r m aceutica l Commerce. Mesmo assim, a perda da fatia russa seria um golpe duro para os fabricantes ocidentais de medicamentos,

justamente em um momento em que a crise econômica global está contraindo os lucros. Entretanto, a substituição de importações só afetará as empresas estrangeiras que permanecerem como exportadores líquidos de medicamentos. Para aquelas que mantêm fábricas na Rússia, a mudança poderia, pelo contrário, trazer mais lucros. “Para os estrangeiros aqui estabelecidos, o anúncio abriu uma oportunidade para recuperar rapidamente os investimentos feitos no país, enquanto para os que não têm fábricas é um incentivo para sua implantação a toque de caixa”, diz Víktor Dmitriev, diretor-executivo da Associação Russa dos Fabricantes de Produtos Farmacêuticos. A parte comercial do mercado não será, inevitavelmente, afetada pela substi-

tuição de importações. Isso porque empresas privadas ainda poderão importar medicamentos estrangeiros em grande volume. O setor público, porém, sofrerá mudanças significativas. Hoje 60% dos itens na Lista de Medicamentos Essenciais e Vitais são produzidos no país. Até 2018, essa porção deverá alcançar os 90%, de acordo com os planos do governo, reduzindo o total de medicamentos importados no país a 30%.

Mercado desenvolto Empresas de grande porte, como a anglo-sueca AstraZeneca, a francesa Sanofi, a suíça Novartis e a dinamarquesa Novo Nordisk, já têm instalações de produção por toda a Rússia. Além disso, em 2014, a norte-americana Abbott fechou uma das maiores transações farmacêuticas na his-

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bilhões de dólares é o valor do mercado farmacêutico russo - modesto diante dos 157 bi das maiores economias europeias.

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© RAMIL SITDIKOV / RIA NOVOSTI

Empresas que têm fábricas na Rússia poderão expandir negócios, enquanto as que não têm já estabelecem parcerias com locais.

NÚMEROS

por cento dos itens da Lista de Medicamentos Essenciais e Vitais russa são produzidos no país. A ideia é alcançar os 90% até 2018, de acordo com o governo.

te desenvolverá a base de produção da Veropharm em ginecologia, neurologia, gastroenterologia e oncologia, áreas em que a demanda pela inovação de produtos é particularmente alta. “Vemos na substituição de importações oportunidades extras para a expansão dos negócios na Rússia”, diz o diretor-executivo da Sanofi, Thibault Crosnier-Leconte. A fabricante francesa planeja iniciar a produção em São Petersburgo de uma vacina infantil popular. A planta produzirá cerca de 10

tória da Rússia ao adquirir o segundo maior fabricante de medicamentos do país, a Veropharm, por US$ 495 milhões. Assim, a empresa tem perspectivas otim istas. “Vemos nosso investimento na Veropharm como uma oportunidade de participar do desenvolvimento da indústria farmacêutica russa”, disse à Gazeta Russa a porta-voz da Abbot na Rússia, Irina Gushchina. Segundo ela, a empresa expandirá suas capacidades de pesquisa e posteriormen-

milhões de doses por ano, o que deverá satisfazer a demanda na Rússia. A Sanofi planeja implantar a produção da vacina já em 2016, com a transferência de know-how para a tecnologia de produção e controle de qualidade. A transferência de tecnologia deverá ser completada em 2019.

Parceiros locais Algumas empresas estrangeiras, porém, entre elas a norte-americana Pfizer, a alemã Bayer e a belga UCB Pharma, não têm plantas na

Rússia. Mas, com parceiros locais, poderão transferir parte da produção para suas instalações. “A Bayer busca parcerias com produtores russos focando no ciclo completo de produção”, explica o diretor-executivo da companhia alemã, Niels Hessmann. A empresa firmou parceria ainda em 2012 com a russa Medsintez para fabricar parte de sua produção no país. Em 2015, o primeiro lote comercial do antibiótico Avelox saiu da fábrica do laboratório Medsintez.

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ratório quando as pesquisas foram iniciadas. “Imagine um rato idoso que está chegando ao fim de seus 600 dias de expectativa de vida. De repente, após a inoculação, ele passa a se comportar como um jovem. Todos os indicadores do organismo se normalizaram, e os ratos viveram um ano mais que a média, ou seja, quase um terço além do seu

tempo habitual de vida”, explica Repin.

Frankenstein? Quando percebeu que o Bacillus F aumentava a imunidade e após ter estudado todos os efeitos colaterais possíveis, Bruchkov resolveu testar a solução em si mesmo. Nem mesmo os comentários céticos de colegas o afastaram de seu objetivo. Pouco tempo depois, eles

mesmos apelidaram a soluç ão de “e l i x i r d a juventude”. Os pesquisadores envolvidos no projeto acreditam que o Bacillus F estenderá a vida humana até os 140 anos. Mas especialistas afirmam ser necessário realizar novos experimentos. Eles dizem que ainda é cedo para se falar em uma produção industrial da solução. “A bactéria provoca uma resposta mais forte do sis-

tema imunológico do que outros microrganismos aplicados ao organismo. A imunidade aumenta drasticamente, isso é um fato. Mas ainda não está claro qual é a ação do bacilo em longo prazo”, explica Nadejda Mirónova, pesquisadora do Instituto de Biologia Química e Medicina Fundamental, na Sibéria. Duas substâncias que possuem propriedade imunorreguladora, o glutamato e a

SHUTTERSTOCK/LEGION-MEDIA

Bactéria siberiana pode criar homem de 140 anos

Aplicado em ratos, bacilo estendeu sua vida em um terço

taurina, seriam os “motores” das bactérias que induzem respostas do sistema imunológico, segundo os cientistas, que também descobriram no bacilo mais 600 genes desconhecidos. “Tenho certeza de que entre esses genes vamos encontrar o responsável pela longevidade”, afirma Vladímir Mêlnikov, membro da Academia Russa de Ciências e diretor do Instituto da Criosfera da Terra.


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RÚSSIA O melhor da Gazeta Russa gazetarussa.com.br

RECEITA

Extremo Oriente, ou como viver (bem) abaixo de zero

Schi, o caldo verde da Rússia medieval Anastassia Muzika GAZETA RUSSA

Schi (pronuncia-se “chi”, com a consoante bastante forte) é uma sopa feita com base em um caldo de carne acrescido de repolho fresco ou em conserva. É um dos pratos mais básicos e antigos da cozinha russa e surgiu por volta do século 9 quando o repolho, seu principal ingrediente, foi levado de Bizâncio à Rússia. Seu nome remonta à antiga palavra russa “sto”, que pode ser traduzida como “comida” ou “alimentação”. Na Rússia, o prato foi consumido tanto por camponeses e mercadores, como por nobres. Obviamente, a composição variava: a versão “rica” era preparada à base de caldo de carne com cogumelos e especiarias; já a “pobre”, levava somente repolho e cebola. No entanto, no período dos jejuns ortodoxos, tanto ricos como pobres preparavam a schi sem carne. Já na primavera, quando acabavam os estoques de repolho, os camponeses faziam a chamada “schi verde”

substituindo o ingrediente pela - ainda rara no Brasil, mas largamente usada na Rússia - “azedinha” (Rumex acetosa), urtiga e Atriplex, também conhecida como “erva-sal”. Hoje, a receita não mudou muito, exceto pela adição da batata - o ingrediente chegou à Rússia pelas mãos de Pedro, o Grande, na virada dos séculos 17 e 18. Até o século 19, as pessoas costumavam congelar a sopa e levá-la em viagens no inverno. Em sua versão mais completa, a base da sopa consiste de cinco tipos de ingredientes: repolho, carne (geralmente bovina, mas em algumas regiões também são usados outros tipos e, por vezes, até peixe), raízes (cenouras, raiz de salsa), especiarias (cebola, aipo, alho, endro, pimenta e folhas de louro) e algum complemento ácido (na sopa preparada com repolho em conserva, o toque é dado pela salmoura, enquanto a que leva repolho fresco costuma utilizar a “smetana”, ou creme de leite azedo, com a qual é servida à mesa); no caso da “schi verde”, usa-se a azedinha.

Ingredientes: • 500 g de carne bovina; • 500 g de repolho; • 1 cenoura; • 1 ou 2 cebolas; • 1 colher de sopa de extrato de tomate (ou 1 ou 2 tomates frescos); • 3 batatas • 2 colheres de sopa de óleo; • 1/2 maço de ervas aromáticas a gosto (por exemplo, salsinha); • 1 ou 2 folhas de louro, a gosto; • Alho a gosto (de dois a quatro dentes); • Pimenta a gosto; • 1/2 colher de sopa de sal.

pare os outros legumes: corte a cebola em cubos e rale a cenoura. Quando o caldo estiver pronto, retire a carne e corte-a em fatias. Aqueça uma frigideira, despeje óleo e refogue a cenoura e a cebola em fogo médio por um a dois minutos. Acrescente o extrato de tomate (ou os tomates frescos pelados e picados). Refogue a mistura por mais cinco a sete minutos, mexendo sempre. Em seguida, corte o repolho em tiras, e as batatas, em cubos. Coloque-os no caldo e leve para ferver. Adicione então a cebola, a cenoura e os tomates e deixe a sopa ferver por mais 15 a 20 minutos em fogo brando. Acrescente a carne em fatias ao caldo pouco antes do fim do cozimento. Se quiser, pode-se também pode adicionar ervas aromáticas picadas e/ou alho espremido com sal.

-69°C É a temperatura mais baixa já registrada na cidade de Verkhoiansk, que tem apenas 1.150 habitantes

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oposta à pretendida são muito comuns aqui. Aliás, assisti uma vez a um vendaval que deslocava um micro-ônibus estacionado na rua e o arrastou até que se chocasse contra o muro de uma garagem. Por sorte, eu estava dentro de casa naquele momento. Mas uma câmera digital com características especiais para invernos rigorosos que comprei sobreviveu por apenas duas horas na cidade de Khabárovsk, onde a temperatura chegou a -29ºC.

Homem x natureza

Sem folga até março De certa feita, em uma tarde de domingo, fui jantar na casa de um amigo. Mas não imaginava, então, que deveria ter levado minha escova de dentes: tive que passar os três dias seguintes enclausurado ali com ele e mais seis pessoas. A nevasca foi muito intensa e tanta neve se amontoou na porta de entrada que a bloqueou. Tivemos que esperar

a polícia local vir nos resgatar e retirar a neve da entrada do edifício. Então, dizia-se que parte da população se deslocava através de túneis escavados na neve.

Ano Novo. E mais neve. Para alguns, a melhor parte do inverno é a celebração do Ano Novo. E os dez dias de férias que se seguem à data no país. É quando tudo fica fechado, de faculdades a bancos, escritórios privados e repartições públicas. Só continuam funcionando hospitais e serviços de emergência. O Extremo Oriente russo permanece imerso em estado de semitorpor até março, quando a palavra “primavera” começa a ser proferida com esperança - ainda que não haja indícios perceptíveis da estação que, teoricamente, inicia-se. O que alguns chamam de primavera ali poderia facilmente ser um inverno rigoroso em muitas partes do mundo. Vivi quatro invernos por lá, quando retornei à minha quente Índia. Mas, após sete anos, trocaria com prazer uma bela praia por uma escapada para o reino do gelo.

Diversão na geladeira do mundo Em algumas regiões da Rússia, as temperaturas são tão baixas que congelam até a vodca. Mas, usando-se a roupa certa, os moradores locais e turistas conseguem sobreviver e até pasmem! - divertir-se. Roupas térmicas, luvas, “válenki” (as tradicionais botas de feltro), chapéus e casacos de pele ajudam a manter o calor

- e até o estilo. Entre as atividades mais populares da estação estão o esqui na montanha e a patinação no gelo. Descer as montanhas cobertas de neve sobre esquis descarrega uma alta dose de adrenalina! Já para as crianças, não falta neve para garantir a diversão: bonecos e guerra de montinhos são obrigatórios.

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CIDADES CAMPEÃS DE FRIO

Iakutsk. A cidade diamantífera tem cerca de 300 mil habitantes. Algumas de suas atrações são as casas sobre palafitas (devido ao solo congelado) e os mamutes dispostos em museus. Norilsk é uma cidade fechada desde 2001 só é possível adentrá-la com permissão do governo. É um dos povoados mais frios e desfavorecidos da Sibéria, em termos ambientais. Apesar disso, nascida da mineração metalúrgica nos anos 1920, tem hoje 175 mil habitantes. Dikson é um dos assentamentos mais setentrionais do mundo e conta com ínfimos 670 habitantes. Foi batizada em homenagem ao pioneiro sueco do Ártico, Oscar Dickson. Verkhoiansk tem população de cerca de 1.000 pessoas. Recebeu oficialmente o título de polo do frio no país - apesar da disputa acirrada com Oimiakon. Dudinka, com 22 mil moradores, abriga o porto mais setentrional da Rússia, no rio Ienissei, de extrema importância para o escoamento da produção mineradora do país.

LORI/LEGION MEDIA

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Modo de preparo: Coloque a carne em uma panela, cubra com água e leve ao fogo até a fervura. Em seguida, cozinhe o caldo em fogo baixo por cerca de uma hora. Para o caldo ficar cheio de aroma, pode-se também acrescentar pimenta-do-reino e folhas de louro. Enquanto o caldo cozinha, pre-

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ELENA SAFONOVA

É realmente assombroso que a vida siga normalmente na região, apesar de as nevascas serem um fenômeno comum. Enquanto lá estive, a calefação central nunca parou de funcionar, o fornecimento de água (quente e fria) era contínuo, 24 horas por dia, assim como o de eletricidade. Os habitantes locais também se preparavam para chegar pontualmente ao trabalho, inclusive nas condições mais adversas. Mas, naquele período, a natureza também conseguiu interromper as atividades desses persistentes humanos. O aeroporto de Iujno-Sakhalinsk, por exemplo, foi fechado uma vez porque havia tanta neve caindo que era impossível limpá-la. Acostumado a casos de expiração de vistos entre os estrangeiros presos na região pelo mau tempo, o departamento de imigração tinha até autoridade para estendê-lo por motivos de “tempestade de gelo”.

As nevascas também afetam o tráfico das balsas que conectam a Rússia continental com a ilha de Sakhalina. A temporada de pesca no gelo, muito comum ali, é aberta quando os blocos de gelo flutuante chegam ao sul e endurecem nas camadas superiores do mar de Okhotsk. E quando o gelo marinho se solta do litoral e fica à deriva, são de praxe as notícias sobre pescadores encalhados no mar. Lembro-me de uma vez em que o Ministério para Situações de Emergência teve de resgatar mais de 600 pescadores que se deslocavam de forma rápida e desesperadora para o Japão sobre um gigantesco bloco de gelo solto.

Priátnogo appetita!

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