Estudo Técnico - Redirecionamento das exportações

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Assessoria Econômica

ESTUDO TÉCNICO

22 de outubro de 20 25

Oscar André Frank Junior Economista -Chefe oscar.frank@cdlpoa.com.br (51) 3017 -8031

Houve redirecionamento das exportações gaúchas para outros destinos em função do tarifaço americano ?

Sumário executivo: a Assessoria Econômica da CDL Porto Alegre empregou uma metodologia para avaliar se existem indícios preliminares de redirecionamento das exportações do Rio Grande do Sul para outros países por conta do tarifaço promovido pelos Estados Unidos em 10 grupos de produtos: tabaco, armas e munições, veículos, borracha, obra s de pedra, ferro / aço, móveis, calçados, madeira / carvão vegetal e alumínio. Nos sete primeiros , encontramos evidências de desvio para mercados alternativos, embora somente em quatro (tabaco, veículos, ferro / aço, e móveis) o efeito foi relevante, compensando parte relevante ou de forma integral as perdas relativas aos embarques com destino aos EUA.

Introdução: em 2025, os Estados Unidos adotaram uma série de sobretaxas às importações, justificadas por motivos de segurança nacional. As medidas combinaram tarifas setoriais – destinadas a produtos como aço, alumínio, automóveis, cobre, madeira e móveis –e uma tarifa recíproca de 10% sobre todos os países. Especificamente para o Brasil, uma ordem executiva editada em julho acrescentou 40 pontos percentuais à tarifa recíproca “base” , totalizando 50%. Algumas categorias, no entanto, seguem sujeitas às tarifas setoriais específicas, que substituem essa taxa geral.

Alíquota efetiva média por UF: antes do início da efetiva aplicação junto ao Brasil , cerca de 700 mercadorias acabaram figurando numa lista de exceções, ou seja, o aumento de custos nos referidos casos seria apenas o da tarifa recíproca (10%). Essa estrutura gerou efeitos heterogên eos relevantes do ponto de vista geográfico e setorial. A fim de ilustrar este ponto, c alculamos para cada uma das Unidades da Federação a alíquota efetiva média, utilizando como ponderadores o grau de importância dos artigos nas respectivas pautas de exportação para os EUA entre janeiro e setembro de 2025 Logo , quanto m aior é a participação d os itens de maior valor afetados pelo tarifaço americano , maior é o resultado. De acordo com as regras vigentes, o Rio Grande do Sul aparece entre os mais prejudicados , com alíquota média de 44,7%, acima , portanto, da média nacional (34,6% )

Assessoria Econômica

Estimativa da a líquota efetiva média das exportações para os EUA por Unidades da Federação (Em % )

Fonte: CDL POA , com base na SECEX

Elaboração: AE/CDL POA.

No gráfico abaixo temos o cruzamento entre a alíquota efetiva média de cada estado e a respectiva variação das exportações de 2025 (acumulado de janeiro a setembro) em relação ao mesmo período de 2024 Os resultados sugerem que quanto maior a primeira, maior o impacto do ponto de vista de recuo dos embarques.

Alíquota efetiva média X variação das exportações (acumulado de janeiro a setembro de 2025 em relação ao mesmo período de 2024) para os EUA por Unidades da Federação (Em % )

Econômica

Quais os indícios de redirecionamento do comércio para outros países?

Embora a relação entre tarifas e exportações possa parecer direta, identificar o efeito isolado das sobretaxas é um desafio do ponto de vista econômico. Os dados de comércio exterior refletem resultados agregados, influenciados por diversos fatores atuando simultaneamente. Cabe ressaltar que as tarifas alteram simultaneamente preços e quantidades , afetando tanto a oferta quanto a demanda. Por exemplo, as empresas exportadoras mais produtivas tendem a absorver parte do incremento dos custos , com o objetivo de manter sua participação no mercado 1 Consequentemente, o impacto visível sobre os preços e quantidades finais comercializadas diminui. Em contrapartida , tarifas elevadas costumam levar à interrupção d as relações comerciais entre compradores e fornecedores, de modo que as rupturas são difíceis de reverter no curto prazo 2

Outro efeito comum é o comportamento antecipatório: diante do anúncio de novas tarifas, muitas empresas adiantam contratos e embarques, fazendo com que parte dos ajustes ocorra antes mesmo da entrada em vigor das medidas 3. Por fim, o câmbio também exerce papel compensatório, de tal sorte que a desvalorização da moeda do país atingido pode suavizar parte do impacto ao baratear relativamente as exportações 4 . Como os mecanismos supracitados operam ao mesmo tempo, é difícil isolar os efeito s dos principais canais de transmissão dos choques tarifários sobre os fluxos comerciais

Nosso objetivo com o presente estudo é de buscar evidências preliminares a respeito de um eventual redirecionamento do comércio para outros destinos por parte dos principais setores exportadores do Rio Grande do Sul afetados pela majoração das alíquotas dos EUA . O primeiro passo envolveu a simulação estatística do que teria ocorrido na relação comercial caso o tarifaço americano não tivesse sido implementado. Consideramos, para tanto, a tendência histórica das exportações entre janeiro de 2018 e junho de 20 25 , ajustada por efeitos sazonais e choques pontuais , como, por exemplo, a pandemia d e COVID 19 Essa tendência foi extrapolada para o período entre julho e setembro de 2025, e não apenas para o bimestre entre agosto e setembro de 2025, diante das evidências da literatura econômica de que parte dos embarques foi antecipada em virtude do anúncio das tarifas em julho . Portanto, a comparação entre os dados oficiais e o cenário hipotético sem as sobretaxas nos dá uma ideia do tamanho do impacto associado às novas barreiras comerciais. A tabela abaixo consolida os números , com quedas expressivas nas exportações para os Estados Unidos em diversos setores. Nesse sentido, a coluna “simulação” é o nosso principal resultado, que mostra a diferença percentual entre o valor efetivamente exportado e o valor que seria esperado caso as tarifas não tivessem sido aplicadas . Alumínio, móveis e veículos e aço foram os mais atingidos, pela ordem. Vale salientar que , mesmo os setores cujos dados efetivos apontaram para crescimento em relação a 2024, como calçados,

1 AMITI, Mary; REDDING, Stephen J.; WEINSTEIN, David E. The impact of the 2018 tariffs on prices and welfare. Journal of Economic perspectives, v. 33, n. 4, p. 187 -210, 2019.

2 HANDLEY, Kyle; KAMAL, Fariha; MONARCH, Ryan. Rising import tariffs, falling exports: When modern supply chains meet old -style protectionism. American Economic Journal: Applied Economics, v. 17, n. 1, p. 208 -238, 2025.

3 METIU, Norbert. Anticipation effects of protectionist US trade policies. Journal of International Economics, v. 133, p. 10353 6, 2021.

4 JEANNE, Olivier; SON, Jeongwon. To what extent are tariffs offset by exchange rates?. Journal of International Money and Finance, v. 142, p. 103015, 2024.

Assessoria Econômica

apresentaram desempenho inferior ao estimado por nós, o que fornece indícios de que a trajetória de crescimento seria ainda mais forte na ausência das tarifas.

Exportações de produtos selecionados do Rio Grande do Sul para os Estados Unidos : valores efetivos e simulação (estimativa sem o cenário de tarifaço) (Unidades descritas abaixo )

VALORES EFETIVOS

Acumulado Jan-set 25 (milhões de US$)

SIMULAÇÃO

Elaboração:

Ao considerarmos o desempenho das exportações do Rio Grande do Sul para o resto do mundo (excluindo as vendas para os EUA) , observa -se que a capacidade de reação foi desigual conforme a categoria Os indícios de redirecionamento das vendas são mais fortes em segmentos com maior base global de compradores, ou seja, onde o grau de concentração (última coluna da tabela abaixo, que mede a participação média do principal destino no total exportado pelo produto, incluindo os EUA) é menor . Sob essa ótica, t abaco e veículos se destaca ram, com desvios +38,6% e + 61,3%, respectivamente, indicando a absorção por outros mercados. Ramos como ferro / aço (+9,9%) , móveis (+6,5%) e borracha (+0,8%) também exib iram variações positivas, reforçando a capacidade de adaptação em mercados menos concentrados . Já as simulações para madeira, calçados e alumínio apresenta ram estimativas negativ as, evidenciando perdas líquidas de mercado , mesmo excluindo as exportações americanas .

Exportações de produtos selecionados do Rio Grande do Sul para o resto do mundo: valores efetivos e simulação (estimativa sem o cenário de tarifaço) (Unidades descritas abaixo )

VALORES EFETIVOS

SIMULAÇÃO

Assessoria Econômica

Fonte: CDL POA , com base na SECEX
AE/CDL POA
Fonte: CDL POA , com base na SECEX Elaboração: AE/CDL POA.

O tabaco é o exemplo mais evidente . En quanto as exportações para os EUA recuaram fortemente, o estado ampliou embarques para a Indonésia e a Suíça.

Exportações gaúchas de tabaco para os principais destinos em 2025 (Em milhões de US$ e variação % )

No sentido oposto, as armas e munições exibiram margem de realocação reduzida, dada sua alta concentração de mercado nos Estados Unidos e a ampla regulação . Apesar d a ligeira alta nas vendas para outros destinos, o volume adicional é insuficiente para compensar a queda nas exportações para os EUA.

Exportações gaúchas de armamentos para os principais destinos em 2025 (Em milhões de US$ e variação % )

Fonte: CDL POA , com base na SECEX

Elaboração: AE/CDL POA.

A tabela final com os resultados consolidados mostra que, dos 10 setores analisados, sete conseguiram redirecionar suas vendas após o aumento das tarifas americanas (tabaco, armas e munições, veículos, borracha, obra de pedra, ferro / aço, móveis). Todavia, somente em quatro (tabaco, veículos, ferro / aço e móveis) o movimento foi relevante, de modo que a compensação para o resto do mundo superou ou ficou próxima das perdas verificadas para os EUA. Já em calçados, madeira / carvão vegetal e alumínio, não percebemos indícios de realocação.

Fonte: CDL POA , com base na SECEX
Elaboração: AE/CDL POA.

24 Tabaco

64 Calçados

93 Armasemunições

Tabela final: as e vidências de redirecionamento de comércio nas exportações do Rio Grande do Sul em 2025 por setor (Em milhões de US$ e variação % )

ESTADOS UNIDOS

Acumulado2025 (milhõesde US$)

Variaçãoem relaçãoaocenário s/tarifaço (milhõesde US$)

RESTODOMUNDO

Acumulado2025 (milhõesde US$)

Variaçãoem relaçãoaocenário s/tarifaço (milhõesde US$)

Houve redirecionamento ?

Foi relevante?

44 Madeiraecarvão vegetal

87 Veículos

40 Borracha

68 Obrasdepedra

73 Ferro eaço

94 Móveis

76 Alumínio

Fonte: CDL POA , com base na SECEX

Elaboração: AE/CDL POA.

Esses resultados sugerem que o impacto das tarifas não foi uniforme. Produtos com demanda internacional diversificada parecem ter obtido mais sucesso no redirecionamento de ao menos parte das exportações dos Estados Unidos para o resto do mundo , enquanto aqueles dependentes de nichos regulados e com poucos compradores sofreram perdas líquidas. O padrão observado é coerente com a literatura sobre comércio internacional, segundo a qual choques tarifários tendem a afetar mais intensamente cadeias produtivas co ncentradas, onde a substituição de mercados é limitada no curto prazo.

Quais as limitações do estudo? As estimativas aqui apresentadas capturam o efeito total sobre as exportações. Ou seja, combinam variações de quantidade e preço, incluindo repasse parcial das tarifas, choques sobre o câmbio, demanda, estoques e ajustes contratuais . A conjunção dos fatores pode confundir a leitura d a variação dos dados efetivos em relação ao quadro hipotético sem a majoração das alíquotas Além disso, esse cenário foi obtido p ela extrapolação da tendência observada desde 2018, com correção sazonal, mas os resultados são sensíveis à escolha do referido período O uso de dados agregados por produto também pode mascarar mudanças na composição das exportações dentro de cada setor e eventuais exceções tarifárias. Por esses motivos, os resultados devem ser interpretados como evidências iniciais de redirecionamento de comércio, a serem confirmadas por análises m ais detalhadas e com séries mais longas.

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