MAGNO E SEUS DIÁLOGOS COM AS PERCEPÇÕES ÍNFIMAS
Bete Gouveia 01
Discorrer sobre a obra de Montez Magno é sempre um desafio, pois sempre o vemos atuando nos intervalos entre ambiguidades que viabilizam a criação de narrativas controversas.
Admitindo que este artista costuma transitar por diversos temas em sua longa trajetória de produção artística, não pretendemos, deste modo, restringir o sentido de ambiguidade aos aspectos apresentados puramente através dos temas das obras e sim através do seu conteúdo. 02
Ressaltamos que esse agrupamento de trabalhos, cuidadosamente distribuídos no interior dos espaços expositivos da Galeria Marco Zero, apenas perfaz um somatório de cerca de 10% do acervo de autoria do artista, que preferiu, não sem sacrifícios, optar por construir uma obra vasta ao longo de aproximadamente sete décadas, ao invés de pulverizá-la no mercado de arte. Contudo, esse pequeno recorte de obras, em sua maioria inéditos em conjunto numa exposição, é passível de ganhar narrativas peculiares que dão a dimensão
da sua imensa possibilidade de gerar pensamentos e, deste modo, criar infinitas pluralidades de discursos.
Este é o motivo pelo qual, para essa exposição ora apresentada, optamos por conceber a distribuição de uma centena de obras em espaços distintamente pontuados por três grandes eixos que se entrecruzam.
Há, portanto, um eixo de matriz solar, composto por cores exuberantes, saturadas e luminosas, que trava diálogo com a ordem espontânea da geometria popular nordestina, composto pelas séries Barracas do Nordeste, Fachadas do Nordeste, Colchas de Retalhos e Tacos.
Contrariamente, o segundo eixo, que abriga as séries Tantra, Negra e Portas de Contemplação, concentra uma luminosidade rebaixada e difusa, menos precisa, e por isso silenciosa e introspectiva, cujos limites dos planos lineares se tornam duvidosos para nós; nos convidam ao infinito, ao vazio, e guardam a dimensão do sagrado.
No terceiro eixo, que se encontra distribuído no piso superior da galeria, evidenciamos um conjunto de obras que se aproxima de um tipo de diálogo mais sutil e enigmático que, emanado de objetos, desenhos, pinturas, projeções e outras obras sem uma classificação específica, nas quais algumas, apesar da sua forte marca autoral, travam diálogos com o universo de alguns artistas históricos e outros autores para além do campo das artes visuais, a exemplo das suas Notassons, em que o artista joga com elementos visuais inseridos em pautas musicais para compor música aleatória, ou em suas Quatro Esta-
ções, em clara homenagem a Vivaldi. Num outro trabalho seu, da série Cidades Imaginárias, aproxima-se do olhar de Italo Calvino nas suas narrativas sobre as viagens de Marco Polo nas suas Cidades Invisíveis.
Ainda nesse mesmo recinto superior, incluímos o seu trabalho Canto à Liberdade, uma projeção que dá nome à exposição, justamente em alusão ao compromisso do artista com a sua própria autonomia em relação a quaisquer dogmas no campo de atuação do artista. E, comungando com esta obra, apresentamos outras que levam em conta diálogos com artistas de naturezas distintas, como Rodchenko, Joseph Cornell, Malevich, Ad Reinhardt, Duchamp, entre outros. Em cada um desses trabalhos, Montez extrapola e reflete sobre os limites das artes visuais, e nos convoca a uma experiência mais alargada sobre as coisas do mundo, visto tratar-se de experiências fronteiriças, experiências que lidam diretamente com o contraditório. Neste sentido, chamamos atenção para uma obra da série intitulada Microplanos que, justamente pela sua singeleza e austeridade, reconhecemos nela aspectos que nos remetem à sua complexidade.
De acordo com o seu autor, Montez Magno, os microplanos aludem a um enigmático termo, o infra-mince, que foi concebido pelo artista francês Marcel Duchamp para se referir ao campo das operações sutis, ou ao quase imperceptível.
Ao alargarmos o entendimento do termo infra-mince este não comporta um significado literal, uma vez que, proveniente do Francês, através da conciliação de duas palavras (infra:
abaixo de; e mince: fino, delgado), não nos soa completamente traduzível. O próprio Duchamp nunca deixou claro o seu significado, somente o viabilizando através de exemplos pontuados ao longo da sua vida que formam ao todo 65 operações em forma de sentenças e jogos linguísticos; afirmações que aludem ao universo das pequenas percepções ou ao quase perceptível. São, portanto, exemplos de operações infra-minces: o calor de um assento que acaba de ser deixado; o crescimento dos cabelos e das unhas; o fumo do tabaco mesclado ao odor da boca que o exala; a troca entre o olhar e o que se oferece ao olhar.
As obras que compõem a série Microplanos aludem a esse tipo de operação na medida em que Montez Magno, evidencia apenas as bordas de transição entre dois planos, numa clara homenagem a esse misterioso termo duchampiano. Justamente por conta dessa evidenciação das margens, ao invés do plano, os microplanos ganham instabilidade em relação à sua classificação material/espacial, pois são passíveis de serem nomeados como objetos, ou como pinturas, móbiles, ou ainda como instalação. Tais incertezas, relativas à sua manifestação material, estão intrinsecamente relacionadas a um problemático relacionamento com o espaço destinado à sua exibição, em quaisquer possíveis categorias que possam vir a ser classificados.
Para exibi-los de modo adequado, contamos com o apoio da Galeria Marco Zero, que não mediu esforços para esse feito. Assim, sua apresentação em projeção holográfica foi a proposta escolhida mais próxima da sua essência invisual.
Essa problemática, por sua vez, nos leva a pensar sobre sua relação controversa entre a expressão como abstração geométrica e a própria experiência duchampiana. Assim, cabe questionarmos até que ponto, por exemplo, os microplanos levam em consideração a questão da linguagem como enunciado. Assim, dos microplanos surge a questão: até que ponto seus aspectos estruturais preponderam como forma?
Esses paradoxos reciprocamente verdadeiros se ancoram basicamente no território da percepção e da imaginação, coerentemente vinculados à noção de infra-mince. Portanto, embora deslocados da particular experiência duchampiana, os microplanos nos trazem à luz outras possíveis ramificações que o termo infra-mince sugere. Neste sentido, o filósofo José Gil, em seu trabalho sobre as pequenas percepções 03 , expõe indiretamente a questão dos infra-minces ao expor uma reflexão sobre aquilo que quase não se percebe, localizando o termo “quase” como uma situação de passagem, ou seja, se referindo ao que se localiza “entre” e admitindo que esse mesmo espaço de passagem, “entre-dois”, localizado entre os contrários é o espaço da imaginação, responsável pela abertura da obra, visto que, em arte, não cabe a total afirmação nem o seu contrário, a completa negação, duas situações que implicariam no fechamento quanto à fruição da obra.
Essa essencial invisualidade presente nos microplanos perpassa pelo projeto poético de Montez, independentemente
dos eixos temáticos visitados pelo artista, do tipo de suporte utilizado por ele, ou ainda do seu diálogo fortemente marcado pela construção geométrica, que escapa ao rigor das primeiras vanguardas internacionais. Deste modo, aproxima-se de um tipo de geometrismo mais tênue e intimista, mais além da mera ocularidade. Esses aspectos podem ser percebidos na totalidade das obras dessa mostra, a exemplo de trabalhos, como San Juan de la Cruz, Eldorado dos Carajá s ou alguns das séries Tantra e Barracas do Nordeste, que dialogam respectivamente com o budismo tântrico, a paisagem e a cultura popular nordestina, e que deste modo provocam antagonismos entre sua nomeação e a sua manifestação, porque se localizam entre o visual e o invisual, conceitos agudamente explorados pelo teórico Carlos Vidal. 04
Para mim, na qualidade de artista, professora e pesquisadora que vem acompanhando a trajetória de Montez desde a década de 1980, devo a esse contato, a essa amizade, o desenvolvimento das minhas pesquisas e publicações. 05
Sou grata pela oportunidade que tive de realizar essa curadoria de um artista tão significativo para mim e para a arte pernambucana e brasileira, e cuja obra é múltipla e intrigante; intrigante porque é sobretudo permeada pelo enigma dos intervalos de passagem, suspensos, sutilmente abertos ao contraditório, que nos fazem despertar para a problemática central no tocante às operações no âmbito da arte: sua intrínseca dicotomia.
c Série Tantra 1984 | Acrílica sobre madeira | 161 x 181 cm
Série Tacos 1994 Óleo sobre madeira de demolição 14 x 22,5 x 3,5 cm Série Tacos 1986 Óleo sobre madeira de demolição 14 x 23,5 x 3,5 cm Série Tacos 1994 Óleo sobre madeira de demolição | 14 x 25 x 3,5 cm Série Tacos 1994 Óleo sobre madeira de demolição | 14 x 25,8 x 3,4 cm
Série Fachadas do Nordeste 1994 Acrílica sobre cartão 37,6 x 50 cm Série Tacos 1994 Óleo sobre madeira de demolição | 14 x 26,5 x 3,5 cm Série Tacos 1994 Óleo sobre madeira de demolição | 14 x 26 x 3,5 cm
1994 | Acrílica sobre cartão | 39,5
50,1 cm
Série Fachadas do Nordeste
x
A ARTE LIVRE DE MONTEZ MAGNO
Itamar Morgado 06
Artista plural, Montez Magno coloca sua criatividade a serviço de múltiplas formas de expressão artística. Poeta, pintor, escultor, performer, com incursões nos campos de música experimental, videoarte, tradução e crítica de arte, o espírito independente de Montez sempre o manteve alheio a manifestos, correntes ou de participações em coletivos de artistas, preferindo processar, a seu modo, os eflúvios contemporâneos da arte internacional .
Foi com essa autonomia que, a partir de meados da década de 1950, o jovem pintor pernambucano contrapôs-se à tradição figurativista local e adotou a perspectiva geométrica em suas composições. Esse viés construtivo abriu caminho para participações nas primeiras bienais internacionais de São Paulo, rendeu uma bolsa de estudos no Instituto de Cultura Hispânica de Madri e aproximou-o, no Rio de Janeiro, de um grupo de artistas que se tornariam expoentes do movimento neoconcreto brasileiro.
Sobre a prática desses artistas, o crítico de arte Mário Pedrosa (seu conterrâneo de Timbaúba) afirmou que “colocavam, acima de tudo, a liberdade de criação”.
Liberdade é a palavra-chave para descrever a inventividade de Montez que, a partir de um ponto distante do eixo hegemônico do Sudeste, renunciou à zona de conforto da estética figurativa dominante representada pelo Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife e rompeu as fronteiras da temática regional para embarcar na linguagem construtiva, sem dobrar-se ao rigorismo da geometria formal.
Não por acaso, depois de sete décadas de efetiva produção, sua obra singular continua desafiando os esquemas classificatórios dos manuais da Academia e vem obtendo reconhecimento cada vez maior dentro e além das fronteiras geográficas do Estado.
Em Canto à Liberdade, que ocupa os dois pavimentos da Galeria Marco Zero, estão evidenciados eixos importantes de sua trajetória, como as luminosas séries Fachadas e Barracas do Nordeste, uma abordagem estético-social baseada no colorismo ingênuo da arquitetura popular e das feiras do interior do Nordeste brasileiro.
Do geometrismo solar de Barracas, somos transportados à atmosfera contemplativa das séries Negra e Tantra, ambas lunares, inspiradas no imaginário da espiritualidade oriental, que convivem ecumeni-
Série Fachadas do Nordeste 1994 Acrílica sobre cartão | 39,6 x 49,1 cm |
camente com as obras da série Cruciforme, Portas de Contemplação e Homenagem a San Juan de la Cruz, revelando as indagações metafísicas de um artista reflexivo, que não conhece barreiras na busca de sua própria transcendência.
Revolucionário no emprego de suportes e materiais, Montez não nega a influência da antiarte de Marcel Duchamp e sempre esteve atento às interações da arte com a tecnologia.
Com as projeções de Canto à Liberdade e a representação holográfica de Microplanos , que reinterpreta filosoficamente as micropercepções duchampianas , prestamos justo tributo a um artista que, ao aproximar-se da casa dos 90 anos, continua sendo, efetivamente, um homem de seu tempo. c
Série Fachadas do Nordeste 1996 | Acrílica sobre cartão | 39,8 x 49,7 cm
Série Fachadas do Nordeste
1994 Acrílica sobre cartão 40 x 50 cm
Série Fachadas do Nordeste
1994 Acrílica sobre cartão 40,3 x 50,1 cm
Série Fachadas do Nordeste
1996 Acrílica sobre cartão 40 x 50,1 cm
Série Fachadas do Nordeste
1994 Acrílica e lápis aquarelável sobre cartão 40,3 x 50,2 cm
1977 | Óleo sobre tela | 110 x 293 cm
Série Barracas do Nordeste
MONTEZ MAGNO – INVENTÁRIO, CATALOGAÇÃO E CURADORIA
Bartira Ferraz Barbosa 07
O PROJETO
Um grande mapeamento da obra do artista pernambucano Montez Magno teve início, em julho de 2022, através do projeto MONTEZ MAGNO - Inventário, Catalogação e Curadoria 08 . Com o apoio do artista, o projeto buscou levantar os caminhos trilhados por sua mente de ideias pulsantes. Em etapas diferentes da pesquisa, alguns métodos foram aplicados para realização do arrolamento e da indexação das obras disponibilizadas em seu acervo privado. Na etapa, constituída pela catalogação, pelo estudo, pela produção de textos e pela curadoria para essa exposição, foi possível a criação de banco de dados alimentado com dados advindos da pesquisa. Portanto, a partir dos trabalhos de catalogação das obras guardadas por Montez em seu acervo, o projeto ganhou forças extraordinárias e possibilidades de desdobramentos para a realização da pesquisa histórica sobre a sua trajetória de vida, uma trajetória inquieta e produtiva, notada por críticos de arte, acadêmicos e curadores atentos à sua obra multifacetada.
Com seis meses de pesquisa sobre temas relacionados à sua produção e exposições realizadas, percebemos tratar-se de uma obra autobiográfica marcada por uma visão contemporânea baseada em estudos e observações feitas pelo artista no Brasil e em viagens pelo mundo. As obras da série Morandi e da série Barracas do Nordeste podem exemplificar suas experiencias nos diferentes espaços culturais vivenciados pelo artista com infância e juventude marcadas pela vida cultural em Pernambuco, pela poesia paterna, por estudos com apoio materno e pelas pinturas artísticas de uma tia. Em 1954 Montez ingressa na Escola de Belas Artes, no Recife, para aprofundar suas leituras e técnicas artísticas. Seus primeiros trabalhos vão ser desenhos e pinturas, produzidos na década de 1950. Predominando os trabalhos abstratos entre os raros trabalhos figurativos que aprofunda na sérieThânatos, em exposição no ano de 2010, no Institutode Arte Contemporânea da Universidade Federal de Pernambuco, Montez desenvolve deze-
nas de séries imprimindo sua personalidade observadora e introspectiva e torna sua arte conhecida no Brasil e em alguns países da Europa, da África e da América Latina. O mapeamento sobre a sua participação em exposições de arte revelou um total de 95 mostras das quais 10 % somam as exposições individuais e 90% as exposições coletivas. Entre as exposições individuais destaca-se a sua primeira realizada no ano de 1957, no IAB- Instituto de Arquitetos do Brasil, em Recife. Nela, Montez exibe pinturas abstratas produzidas com óleo, areia e pó de serra sobre tela. Essa primeira exposição individual também é a sua primeira exposição artística. A que impulsionou seu nome no mercado de arte recifense e para outras exposições de seus trabalhos, predominando o eixo Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Portanto, somando as exposições nacionais e as internacionais, a pesquisa revelou um total de 95 exposições reliazadas, entre o ano de 1957 e o ano de 2023, com destaque para a década de 1960. A década que contou com 33 exposições ou 1/3 de todas elas soma-
das. A pesquisa ofereceu dados qualitativos e quantitativos com base nas 13 mostras realizadas na década de 1950, nas 33 exposições na década de 1960, nas 15 para a década de 1970, nas 10 exposições realizadas na década de 1980, nas 10 mostras para a década de 1990, em apenas uma realizada na década de 2000, nas 9 exposições na década de 2010 e nas 4 exposições realizadas na década de 2020, contando com essa da Galeria Marco Zero. Em um voo sobre as diferentes exposições realizadas pelo artista, observamos que entre os trabalhos expostos nas mostras de arte entre 1957 e 2023, o artista Montez preferiu expor a sua produção de pintura, deixando desenhos e objetos em segundo plano.
A CASA ATELIER
Quando da abertura da Casa Atelier para o início do projeto, os curadores nela encontraram centenas de obras. Construido no quintal de sua residência, desde o ano de
1986, o atelier − o locus da materialização da vida artística de Montez − ainda estava intacto. Ele constituía o espaço de produção e de guarda de obras executadas pelo artista nas últimas 4 décadas. Conta Myrian, sua esposa, que por todos os cômodos da Casa Atelier as obras foram tomando, ao longo do tempo, os espaços, do piso ao teto. O casal sempre acompanhou as visitas de pesquisadores à Casa Atelier; Olívia Mindelo a visitou para a escrita da biografia de Montez Magno, publicada pela CEPE, em 2018; Bete Gouveia passou a frequentar o atelier do artista na década de 1980, e tem publicado um artigo acadêmico em 2011, textos para catálogos de exposições, e uma dissertação de mestrado, em 2012; Itamar Morgado se aproximou do artista para realizar estudo publicado em 2011; Clarissa Diniz e Paulo Herkenhoff lá estiveram para pesquisar e publicar livro em 2010. A pesquisa histórica aponta ser a última Casa Atelier do artista Montez Magno, localizada no bairro de Casa Forte, no Recife, a sucessora de
casas anteriores como a localizada na rua de São Bento, em Olinda, na década de 1960.
A Casa Atelier de Casa Forte deu suporte ao artista por mais tempo que as outras, proporcionando produção de trabalhos artísticos produzidos entre o século XX e o século XXI. Em processo de observação e escuta, em momentos com Montez e Myrian, ainda é possível sentir a presença da Casa Atelier como sendo parte de todas as obras. Seus espaços, também, significaram abrigo para 6 mil volumes da biblioteca com livros escolhidos por seus donos, uma cozinha e um jardim. A Casa Atelier faz parte de um passado composto de ricas possibilidades exploradas pelo artista e sua esposa, presente nos novos caminhos para o futuro de suas obras.
Na sua trajetória na Casa Atelier Montez Magno parece ter vivido em meio às suas obras em silêncio e sem holofotes. Seu trabalho artístico se funde a uma vida voltada para estudos envolvendo a contemplação da natureza, da arquitetura urbana e da rural,
dos sentimentos humanos e da luz refletida nas cores. Na úmida cidade do Recife, ele passou parte significativa da sua infância e da idade madura.
A Casa Atelier esteve sempre à espera de pesquisadores, de curadores e de diálogos com a vida cultural brasileira. Por isso, talvez, o artista tenha aceito o Projeto Montez Magno: Inventário, Catalogação e Curadoria e seus desdobramentos com exposições e venda de obras. Desta vez, o acervo com mais de 1000 obras de sua autoria, incluindo sua obra poética, e os 6000 livros de sua biblioteca, foi disponibilizado pelo artista, já prestes a completar 90 anos.
CASA ACERVO
MONTEZ MAGNO
O local do coração e da mente do artista Montez Magno transformou-se em um grande quebra-cabeça para os pesquisadores e os curadores dessa exposição. A catalogação do acervo pedia a cada obra
fichada e escolhida, para essa montagem, uma especial atenção de restauradores que necessitavam da transferência das obras do acervo da Casa Atelier para um novo espaço amplo e arejado. Assim, graças à criação de um espaço para a execução do restauro, da catalogação e do estudo das obras do artista Montez Magno, o acervo foi sendo transferido da Casa Atelier para a casa alugada pelo projeto Montez Magno: inventário, catalogação e curadoria, chamada Casa Acervo. Casa que, hoje, abriga o maior conjunto de obras do artista composto por diferentes coleções. As obras transferidas da Casa Atelier para a Casa Acervo trabalhadas pelas equipes de pesquisa, de restauro e de curadores, foram sendo inventariadas para posterior catalogação das coleções de pinturas, de desenhos, de esculturas e de objetos. Dessas, mais de 100 obras foram escolhidas pela curadoria para essa mostra na Galeria Marco Zero. Com apoio do artista, quando em visita à Casa Acervo, as obras restauradas e as catalogadas são
passadas em revista possibilitando observações e complementações de detalhes importantes para o processo de restauro e o de pesquisa.
Montez Magno, nascido no ano de 1934, na cidade de Timbaúba, hoje, tem na Casa Acervo um espaço dedicado a estudos de suas obras e de sua história profissional. Um artista em especial diálogo com seu tempo que entendeu a Casa Acervo como espaço de pesquisa e de restauro mas, também, como espaço de guarda, de preservação e de laboratório do seu trabalho que comemora 70 anos de estudos, iniciados na Escola de Belas Artes, no Recife.
Quando visita a Casa Acervo, Montez volta suas memórias a várias camadas do passado e nos mostra que seu coração e sua mente estão em movimento entre o passado e o presente, rumo ao futuro. Essa exposição na Galeria Marco Zero tem essa energia do movimento contínuo da sua obra em busca de diálogos. A série Negra, nunca antes exposta, e outras como a série
Barracas do Nordeste, série Thânatos, série
Portões e série Branca, nos ajudam a perceber as múltiplas temáticas de um poeta pintor que nos leva do calor de cores fortes e alegres aos espaços claros sem contornos demarcados a nos tirar do chão. Várias facetas de um dos maiores artistas plásticos de Pernambuco, com trajetória artística das mais intimistas sobre o culto do tempo e das representações do espaço ligadas à memória, à preservação e à socialização da arte em Pernambuco, podem ser conferidas nessa exposição na Galeria Marco Zero.
c
1998 Óleo sobre tela | 127 x 144 cm
Série Barracas do Nordeste
1984 | Esmalte
e óleo sobre tela | 148 x 219 cm
Série Barracas do Nordeste
sintético
01 Artista visual, professora e pesquisadora da Universidade Federal de Pernambuco. Seu campo de interesse é voltado às percepções ínfimas a partir do Infra-mince duchampiano.
02 Nesse sentido nos amparamos na afirmativa do artista Júlio Pomar, “o assunto não é o conteúdo, é um pretexto, e mais nada. O conteúdo é a síntese dialética entre o tema e a experiência pessoal e vivida do artista. Ela manifesta-se na forma, vive nela, é exaltado por ela”. (POMAR, 2014, p. 241).
03 O trabalho ao qual me refiro intitula-se A Imagem-Nua e as Pequenas Percepções: estética e metafenomenologia, Lisboa, Relógio D’Água 2005.
04 Carlos Vidal Tenes, autor de Invisualidade da pintura, uma história de Giotto a Bruce Nauman. Lisboa: Fenda Edições, 2015.
05 Entre elas, o livro de nossa autoria, intitulado, Os microplanos de Montez Magno e os infra-minces de Duchamp: a hipersensível vastidão de um ínfimo intervalo. Recife: IM. Editor, 2015.
06 Itamar Morgado é mestre em Artes Visuais pela UFPE/UFPB
07 Bartira Ferraz Barbosa é Professora Titular do Departamento de História da UFPE e do PPGH/UFPE, realizou Doutorado na USP, em 2004, concluiu o Pós-doutorado na Universidade de Salamanca, em 2011, e o Pós-doutorado na Universidade de Barcelona, em 2016. Trabalha como pesquisadora do Laboratório de Pesquisa Histórica da UFPE, onde coordena projetos ligados à memória, a acervos e a documentos históricos e artísticos, desde 2005. Como consultora do Escritório de Patrimônio, História e Arte, ela elaborou o Projeto Montez Magno: Inventário, catalogação e curadoria, do qual coordena a equipe de pesquisa histórica.
08 Projeto criado em julho de 2022, em parceria entre a Galeria Marco Zero e o Escritório de Patrimônio, História e Arte - EMA.
Série Barracas do Nordeste 1984 | Óleo e acrílica sobre madeira | 160 x 160 cm
Série Barracas do Nordeste 1984 | Esmalte sintético e óleo sobre tela | 149 x 219 cm
Série
1985 | Óleo sobre tela | 110 x 145 cm
Barracas do Nordeste
Série Barracas do Nordeste 1985 | Óleo sobre tela |
92 x 150 cm
Série Barracas do Nordeste 1984 | Óleo sobre tela | 100 x 160 cm
Série Barracas do Nordeste 1999 Óleo sobre tela 129,5 x 146,5 cm Sem título 1988 Óleo sobre cartão 25 25 cm Sem título 1988 Óleo sobre cartão 25 x 25 cm Sem título 1988 Óleo sobre cartão 25 25 cm Sem título 1988 Óleo sobre cartão 25 x 25 cm Sem título 1988 Óleo sobre cartão 25 25 cm Sem título 1988 Óleo sobre cartão 25 x 25 cm
Série Barracas do Nordeste 1985 | Óleo sobre madeira | 179,5 x 159 cm
Série Barracas do Nordeste 1973 | Óleo sobre madeira | 159,5 x 220 cm
Estudo para o 4º Ciclo – Série Barracas do Nordeste
1993 | Técnica mista sobre cartão | 100 x 80 cm
Estudo para o 4º Ciclo – Série Barracas do Nordeste
1993 | Acrílica e pastel oleoso sobre cartão | 79,3 x 99,5 cm
Tríptico 1970 | Óleo sobre tela | 129 x 186 cm | 129 x 128,5 cm | 129 x 186 cm
Série Tantra 2003 | Óleo sobre tela | 168,5 x 168,5 cm
– Série Tantra 2005 | Acrílica, tinta metálica e bastão óleo sobre tela | 220 x 159,5 cm
Lingan
Sem título
pastel
eucatex
76
Sem data | Objeto | Pedra sobre madeira de demolição | 29,5 x 20 x 16 cm Lingan – Série Tantra 1987 | Acrílica e
oleoso sobre
| 112 x
cm
1981 | Acrílica e pastel oleoso sobre eucatex | 106 x 77 cm
1974 | Óleo e pastel oleoso sobre eucatex | 100 x 80 cm
Lingan – Série Tantra
Lingan – Série Tantra
– Série Tantra 2003 | Acrílica, massa corrida e pastel oleoso sobre tela | 136 x 121,5 cm
Lingan
– Série Tantra 1974 | Óleo sobre cartão | 100 x 80 cm
Lingan
Kirklos 1969 Tinta vinílica e pastel oleoso sobre tela 86 x 86,5 cm Mesa Tantra 1972 Pedras, metais e madeiras Dimensões variáveis Série Tantra 1970 Tinta vinílica sobre tela 86,5 x 86,5 cm
Série Negra 1962 | Óleo sobre tela | 93 x 77 cm Série Negra 1962 | Óleo sobre tela | 95,5 x 78,5 cm
Série Negra 1962 | Óleo sobre tela | 59 x 56 cm Série Negra 1962 | Óleo sobre tela | 59 x 56 cm Série Negra 1962 | Óleo sobre tela | 60,5 x 57,5 cm
Figuras de Preto 1989 Óleo sobre tela 171 x 110 cm Homenagem a São João de La Cruz – Série Portas de Contemplação 1974 Óleo e bastão óleo sobre cartão betumado 175 121 cm Série Portas de Contemplação 1988 Óleo e lápis de cera sobre cartão betumado 180 115 cm Série Portas de Contemplação 1988 Óleo e lápis de cera sobre cartão betumado 186 121,5 cm
Série Portas de Contemplação 1987 | Óleo e lápis de cera sobre cartão betumado | 177 x 120 cm Colcha de Retalhos 1981/82 | Apropriação | 220 x 150 cm
Escultura manipulável 1970 | Lâminas de metal e madeira | 87 x 61 x 17 cm Grande Fachada do Nordeste 1994 | Acrílica e pastel oleoso sobre tela | 122 x 275,5 cm
2015 | Acrílica sobre lona de caminhão reciclada | 200 x 200 cm
2015 | Acrílica e bastão óleo sobre lona de caminhão reciclada | 200 x 200 cm
Sem título
Sem título
Sem título 2015
sobre lona de caminhão reciclada | 202
208 cm
1996
e
sobre tela
137
190 cm
| Acrílica
x
A San Juan de la Cruz – Série Portões
| Acrílica
tinta metálica
|
x
Eldorado dos Carajás – Série Portões 1996 | Acrílica e lápis de cera sobre tela | Díptico, 172 x 111 cm cada Proun II 2012 | Acrílica, lápis de cera e lápis grafite sobre tela | 150 x 210 cm
Sem título 2005 Acrílica e lápis grafite sobre tela 140 x 275 cm Cubo Branco 2008 Acrílica e lápis de cera sobre tela 208 x 202 cm Série Quadrados 2008 Acrílica, pemba e lápis de cera sobre cartão 80 x 80 cm Série Quadrados 2008 Acrílica, pemba, lápis de cera e caneta hidrográfica sobre cartão 80 x 80 cm
Natureza Morta Gótica 1988 | Óleo sobre cartão | 94 x 95 cm Alquimia 1981 | Óleo sobre cartão | 122 X 105 cm |
Relógio de Sol 2015 | Acrílica e madeira sobre eucatex | 80 x 89 cm |
Série Cidades Imaginárias 1972 | Objeto | Mármore e madeira | 10 x 28 x 24 cm | MAC-Recife [fragmento] 2000 | Objeto | Madeira e plástico | falta medidas |
Microplano 2007 | Acrílica sobre madeira compensada | 28,5 x 21 cm x 6 mm Microplano 2007 | Acrílica sobre madeira compensada | 28,5 x 21 cm x 6 mm
O Pneu de Dunlop 2007 | Acrílica, bastão óleo e lápis grafite sobre tela | 172 x 115 cm Celebração de Duchamp Sem data | Madeira e roda de bicicleta de metal | 90 x 90 x 90 cm
Natureza morta Sem data Quadro/Objeto Isopor, régua de plástico madeira de demolição 40 40 x 12 cm Outono 1973/74 Quadro/Objeto Colagem, folhas secas e madeira de demolição 72 x 64 x 6 cm Paisagem Lunar 1973 Quadro/Objeto Madeira, cortiça e betume 67,5 58 cm Sem título Sem data Quadro/Objeto Estopas de polimento colorido 140 96 x 5 cm
Sem título
Sem data | Quadro/Objeto | Carpete de fibras sintéticas | 56 x 47 cm
Álbum Notassons
1970 - 1992 | Livro de artista | Impressão offset sobre papel | 34 x 24 cm
Série Madrigais 2009 | Carimbo e caneta hidrográfica sobre papel | 78 x 56 cm Homenagem a Rodchenko 2007 | Objeto | Acrílica sobre madeira | 10 x 21 x 22,5 cm
Sem data | Dados de borracha sobre base espelhada | 3 x 32 x 23 cm
Sem data | Objeto | Fuso de madeira e barbante | 10 x 40 x 15 cm
Sem título
Sem título
Espiral de Arquimedes 2000 Objeto Rosca sem fim de moedor industrial sobre base de madeira 30 11 cm Nuvem 1977/23 Objeto Algodão e arame sobre pedra abrasiva 10 x 15 5 cm Sem título Sem data Objeto Cubo de madeira 6,5 6,5 6,5 cm Sem título Sem data Objeto Pente, termômetro e fita métrica sobre madeira de demolição 28 x 8 x 11 cm
Torres 2000 | Objeto Parafusos sobre madeira | 12 x 22 x 20 cm
1992 / Impressão offset sobre canvas / Dimensões 29,7 x 42cm
Sonata para o ôlho e ouvido – 5° parte
1970 / Impressão offset sobre canvas / 29,7 x 42cm
Barcarole Grandville
CRÉDITOS GERAIS
CURADORIA
Bete Gouveia
Itamar Morgado
PESQUISA
Bartira Ferraz
Bete Gouveia
Itamar Morgado
ASSISTENTES DE PESQUISA
Paulo Victor de A. Brito
Stephanie Alencar
EXPOGRAFIA
Bete Gouveia
Itamar Morgado
Paulo Victor de A. Brito
BANCO DE DADOS
Olga Barbosa
PROJEÇÃO EXTERNA, ANIMAÇÃO & HOLOGRAFIA
Retinantz -
Arte, Cultura e Tecnologia
VÍDEO
Guilherme Bota
FOTOGRAFIAS
Diego Nigro
Paulo Higor Nunes
DESIGNER, PROJETO GRÁFICO & DIAGRAMAÇÃO
Pedro Alb Xavier
PERFORMANCE
MUSICAL
REGÊNCIA, FLAUTA E SAX
BARÍTONO Henrique Albino
MEZZO-SOPRANO SOLISTA
Surama Ramos
SOPRANO Sue Ramos
TENOR Marcelo Cabral
BARÍTONO Rodrigo Lins
CLARINETE, CLARONE E PÍFANO
Ângelo Lima
VIOLA DE ARCO Raquel Paz
VIOLONCELO Rodrigo Prado
PERCUSSÃO Nino Alves
RESTAURAÇÃO
Patricia de Azevedo Corrêa & Equipe
Ariel Venegas Carneiro
Elizabeth Miranda Botelho
Walas Fidelis
Raissa Iumatti
Iramarai Vilela de Freitas
Kesea Karina A. de Oliveira
Pérside Omena & Equipe
Renato Júnior da Silva
Luiz Augusto B. da Silva
Diego de Moraes Silva
APOIO LOGÍSTICO Edyanne da Silva Lira
montez magno CANTO À LIBERDADE seg à sex — 10h—19h ∕ sáb — 10h—17h ∕ @galeriamarcozero Av. Domingos Ferreira, 3393 ∕ Boa Viagem, Recife - PE, 51020-035