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Por que gostamos da Vespa?
O vôo da Vespa
A história da mãe do scooter atual
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O primeiro protótipo, de 1943, era o MP5, mas ficou conhecido como Paperino, o nome do Pato Donald, na Itália
Não há como contar a história da Vespa sem lembrar que, logo após o término da fábrica, bombardeada pelos aliados. Enrico Piaggio tinha ascendência industrial: seu avô tinha uma segunda guerra, a Itália estava falida e destruída. Entre outros problemas, havia também a questão do transporte pessoal. Foi quando Enrico Piaggio resolveu utilizar um pouco da tecnologia aeronáutica de sua empresa, que fabricava, entre outras coisas, aviões e motores, para ajudar na recuperação de seu país, incluindo a reconstrução da sua madeireira e seu pai, Rinaldo Piaggio, fundou a Piaggio & Co., em 1884, para fabricar locomotivas e vagões de trem. Em 1917, durante a primeira guerra, passou, então, a produzir veículos militares. Com a morte de Rinaldo, em 1938, seu filho Enrico assumiu a empresa e mudou a estratégia, dedicando-se, a partir daí, aos veículos populares.
O primeiro protótipo de uma motoneta surgiu em 1943, projetado por Corradino Ascanio, aquele mesmo que criou o helicóptero moderno. Batizada de MP5 (Moto Piaggio no 5) e apelidada de Paperino (que era o nome do Pato Donald, na Itália), o veículo não ficou ao gosto de Piaggio, que pediu para Ascanio remodelá-la. Foi em 1946, então, que surgiu a versão final da motoneta, agora chamada de MP6, mas que foi imortalizada com o seu nome oficial, Vespa, dado pelo próprio Piaggio. O veículo já tinha as linhas que o consagraram.
A MP6, Moto Piaggio número 6, lançada em 1946, foi a primeira motoneta a ter o nome oficial de Vespa

A primeira versão, que tinha o nome de Vespa 98, tinha motor monocilíndrico de dois tempos de 98 cm3 com 3,5 cv e câmbio de três marchas, podendo atingir a velocidade de 60 km/h. Para provar as qualidades do veículo, em 1947 foi criada a Vespa 98 Corsa, para demonstrações em corridas de estradas. A aventura proporcionou melhorias na Vespa destinada ao público, que, no mesmo ano de 1947, já vinha com o famoso estepe, para minimizar os problemas causados pelo piso dos rudimentares


Novamente, em 1949, nasceu outra Vespa para corridas, desta vez com motor de maior cilindrada, de 125 cm3. E, com ela, mais melhorias na Vespa destinada aos compradores. A estratégia de demonstrar o desempenho da motoneta em corridas foi utilizada até o início dos anos 50, com vários protótipos, um deles específico para recorde de velocidade. Em 9 de fevereiro de 1951, a Vespa Siluro, termo italiano que significa torpedo, atingiu a velocidade de 171,1 km/hora, utilizando um motor especial de dois cilindros e 17,2 cv. No mesmo ano, uma Vespa comum, com pouca preparação, ganhou nove medalhas de ouro na prova “International Six Days”, que durou seis dias.
A Vespa Siluro atingiu a velocidade de 171,1 km/h com um motor de dois cilindros de 17,2 cv







Depois das cenas com Gregory Peck em A Princesa e o Plebeu, Audrey Hepburn passou a pilotar sua própria Vespa
A partir daí, a Piaggio passou a utilizar uma nova forma de divulgação de seus produtos, focado menos no desempenho e mais na funcionalidade. Com um papel de destaque no filme “A Princesa e o Plebeu”, de 1951, com Gregory Peck e Audrey Hepburn, a Vespa realmente começou a ficar popular. Em 1953, a Vespa “U”, de “utilitária”, ganhou farol no guidão (até então ele ficava no para-lama dianteiro) e era vendida por um valor bem mais acessível, para enfrentar a forte concorrência da Lambretta. Isso fez com que, em 1955, a nova Vespa 150 GS, com motor aumentado para 150 cm3, mais potente e silencioso, câmbio de quatro marchas, rodas de 12 polegadas e banco inteiriço, se firmasse definitivamente no mercado. Assim, como a sua concorrente Lambretta, a Vespa se tornou o veículo dos jovens.
Vespa Dalí

Vespa 50

Vespa 90 Super Sprint

Vespa Rally 200
A imagem popular da Vespa 150 era constantemente alimentada por várias ações de marketing. Em 1960, ela foi destaque durante os Jogos Olímpicos de Roma e, no ano seguinte, o mestre do surrealismo, Salvador Dalí, usou uma Vespa como tela e a decorou com alguns pinceladas, seu nome e de sua esposa Gala. Essa Vespa hoje faz parte do acervo do Museu Piaggio.
Decidida a emplacar seu produto definitivamente no mundo dos jovens, em 1963 a Piaggio lançou a Vespa 50, aproveitando uma nova regra do Código da Estrada, que permitia pilotar uma motoneta sem placa, sem carteira de motorista e com apenas 14 anos. Sucesso total: mais de 3 milhões de Vespa 50 foram vendidas.
Baseada na Vespa 50, a 90 Super Sprint talvez seja a mais criativa das versões de série: tinha o estepe no meio das pernas do piloto e, sobre este, um porta-objetos, parecido com um tanque de combustível de motocicleta. Com poucas unidades produzidas, a Vespa 90SS é hoje um item muito raro e valioso, entre os colecionadores.
Nesse período, houve muitas versões diferenciadas da Vespa, com basicamente três tamanhos de estruturas, para três tamanhos de motores, 50 cm3, 125 cm3 e 180 cm3 , este último que depois se tornou a base para aquele que conhecemos muito bem nos anos 80, de 200 cm3 , na Vespa PX 200. O site da Vespa Brasil mostra estas e muitas outras variações de modelos de Vespa.

Algumas vespas curiosas


vespa 150 t.A.p. O exército francês encomendou, em 1956, essa vespa equipada com uma arma de 75 mm. Foram produzidas 600 unidades dessa vespa vespa 150 com side-car A versão com carrinho lateral é de 1948
vespa 50 com pedais Foi vendida na França em 1970, para se adequar a uma legislaçãoda época


vespa 100 sport A grande lanterna traseira foi necessária para a vespa entrar no mercado norte-americano vespa 50 special revival em 1991, uma edição especial de 3.000 unidades revivendo a vespa de 1963



Linha de montagem da Vespa na fábrica de Pontedera, na Itália, no início dos anos 50
Antes dessa Vespa brasileira mais famosa, no entanto, a Piaggio já havia estado no país por outras duas vezes, a primeira em 1958, fabricando os modelos M3 e M4, de três e de quatro marchas, pela empresa fluminense Panauto, até 1964, e a segunda vez pela B. Forte, empresa sediada em Manaus, AM, produzindo a Vespa 150 Super, a Vespa 50, a Vespa Primavera 125, a Vespa 150 Sprint e a Vespa Rally 200, de 1974 até 1981. Só então é que a Caloi se associou à Piaggio para fabricar a linha PX 200, de 1986 até 1990.
Depois disso, algumas Vespas do modelo PX, que já conhecíamos, chegaram ao Brasil importadas da Índia pela Brandy e produzidas pela Bajaj. Algumas delas ainda rodam por aí e quase não se nota a diferença em relação às brasileiras. A partir do ano 2000, algumas Vespas modernas, com motores de quatro tempos e transmissão automática – ou seja, a cara dos scooteres atuais que a maioria já conhece bem –, foram importadas de forma independente, mas a Piaggio voltou ao Brasil oficialmente em 2016, justamente para voltar para esse segmento que cresce a cada ano. Atualmente a Piaggio tem em sua linha Vespa os modelos de 125 cm3 e 150 cm3 Club, Notte, Classic e uma versão comemorativa de 75 anos, completados no ano passado. l

A partir de 1958, a Vespa M3 e a M4 eram montadas pela Panauto, no Rio de Janeiro. Abaixo, o anúncio da época




MiNhA históriA COM A vespA


Aquela vespinha italiana foi boa companheira na estrada, apesar da chuva intensa. Na cidade, só a passeio
Ainda criança, eu era apaixonado por carros e motos. Corridas, também. Mas ficava incomodado quando via fotos de corridas de motonetas. “isso é só para padeiros”, eu pensava, lembrando do simpático português que vinha em minha casa todos os dias trazendo sonhos e pães doces. ele tinha uma Lambretta com um cesto enorme na frente. Nenhum tipo de motoneta não era tão bacana quanto uma motocicleta, mas pensávamos assim porque não conhecíamos a história. Nem os veículos. Comecei a ver melhor Lambrettas e vespas quando fui ver uma prova de rua de motocicletas em Araraquara, em 1969. O mecânico da Ducati com a qual meu pai corria, o sisudo Cataldi, nos acompanhou na estrada com uma Lambretta, pois não cabia mais um na cabine de nossa picape Ford F-100 twin-i-Beam. “Corajoso”, ouvi comentários. Fui dar importância para aquele gesto muitos anos depois, quando a piaggio estava chegando ao Brasil pela terceira vez. em 1985, antes de começar a fabricar a vespa pX 200 em Manaus, em parceria com a Caloi, eles me enviaram uma versão italiana, para avaliação. Na manhã em que a vespa chegou na redação, estávamos, como de costume, planejando onde fazer as fotos. tinha que ser em um local bem legal, afinal, a vespa era a novidade e iria para a capa. ibirapuera, Cidade Universitária, precisávamos de um lugar diferente. Foi quando, em tom de brincadeira, o fotógrafo disse bem alto: “pão de Açúcar!” topei na hora, mesmo com a recusa do próprio autor de ideia, dizendo que não falava a sério. Azar dele, teve que me acompanhar com uma simplória Agrale sXt 16.5 até o rio de Janeiro, enquanto eu ia na frente com a rainha daquela edição. Foram 440 km de chuva torrencial. saímos na hora do almoço, jantamos uma bem carioca pizza com ketchup em Copacabana, dormimos e voltamos. e mais chuva. A sorte é que a foto com o pão de Açúcar ao fundo foi feita com sol. A vespa virou minha amiga. veio a versão nacional e eu sempre estava com uma. Até comprei uma vespa M4 1963, daquelas primeiras, montadas no rio de Janeiro. O triste fim dessa vespa foi triste mesmo: um dia, desmontei para pintar e nunca mais montei. Quinze anos depois, a vendi, em caixas, para o tio Josias.




A vespa virou minha amiga, sob sol ou sob chuva. Mas nunca consegui terminar aquela vespinha M4 de 1963