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Você conhece as marcas dos carros?
Qual é a marca do teu carro?
Com fusões e aquisições, as marcas mudam de dono e de sobrenome, mas não perdem a sua identidade
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Um conhecido me disse, uma vez, que tinha dois automóveis ingleses, mas que passou a ter, de uma hora para outra, dois carros norte-americanos, e agora tinha dois chineses. Não, ele não trocou de carro, eram sempre os mesmos dois modelos originalmente ingleses, cujas marcas haviam trocado de donos por, pelo menos, duas vezes. E, com isso, de nacionalidade.
Brincadeiras e pequenos exageros à parte, a história tem fundamento, uma vez que os carros ingleses em questão eram das marcas Jaguar e Land Rover, que foram compradas em 1999 pela norte-americana Ford e vendidas à indiana Tata Motors em 2008. E tem mais: antes de ser da Ford, a Land Rover pertenceu ao grupo alemão BMW. No caso dessas duas icônicas marca inglesas, apesar de pertencerem atualmente à holding indiana, elas mantêm todas as características de suas marcas originais e seus modelos continuam a ser produzidos em sua terra natal, a Inglaterra, sob o chapéu de uma subsidiária local de nome Jaguar Land Rover.





Se essa historinha pareceu ser complicada, vamos conhecer histórias de mudanças de controle de outras grandes empresas de automóveis, no decorrer do tempo. A começar pela mais antiga de todas, a Daimler, dona da marca MercedesBenz. Começou em 1886, com Karl Benz, que se juntou a Gottlieb Daimler em 1926, formando a Daimler-Benz. O nome Mercedes já era usado por Daimler desde a virada do século e passou a ser MercedesBenz desde a fusão das duas empresas, em 1926.
Em 1998, a Daimler comprou as marcas pertencentes ao grupo norteamericano Chrysler, formando a DaimlerChrysler, que durou até 2007, quando a empresa repassou essas marcas para o grupo italiano Fiat. Em 2002, a Daimler criou a marca Smart, em parceria com a fabricante de relógios Swatch (SMART = Swatch + Mercedes-Benz + Art) e passou a fabricar os pequenos automóveis de dois lugares na França, em parceria com a também francesa Renault. A partir deste ano de 2022, a Daimler AG mudou seu nome para MercedesBenz Group AG.



As grandes marcas norteamericanas de automóveis também têm seu vai-e-vem de grupos, parcerias e fusões. Ford e General Motors são os maiores grupos e também os mais conhecidos. Começamos com a Ford, que tem uma longa e interessante história, porém mais fácil de entender do que a da General Motores, bem mais complexa.
Henry Ford já havia construído alguns protótipos com seu nome desde 1896, mas foi em 1903 que ele criou a Ford Motor Company. Além dos carros com a marca Ford, o grupo mantinha também as marcas de maior luxo Mercury e Lincoln. Outras marcas foram incorporadas ao grupo nos anos 80 e 90, como a japonesa Mazda, a inglesa Aston Martin, a Jaguar e a Land Rover. Aqui no Brasil a Ford comprou a marca brasileira Troller e, finalmente, adquiriu a sueca Volvo.
A Ford era, então, um grande grupo com muitas marcas icônicas que iam, aos poucos, perdendo a sua identidade, enquanto a empresa perdia dinheiro. Os carros da Jaguar, por exemplo, não passavam de modelos comuns da Ford com a marca inglesa. Foi quando eles resolveram se livrar de todas essas marcas e focar nos modelos Ford e Lincoln.
O grupo Ford já teve muitas marcas, mas agora está apenas com a Lincoln







As diversas marcas que pertenceram à General Motors
Já a General Motors tem uma história bem complicada, inclusive com confusões nos nomes e nos responsáveis pelo grupo. A GM foi fundada em 1908 por William Durant, que era presidente da Buick, que, em pouco tempo, incorporou ao grupo as marcas Oakland, que foi rebatizada de Pontiac, Rapid Motor Vehicle Company, atual GMC, a Oldsmobile e a Cadillac. Apenas dois anos depois, ele foi demitido de sua própria empresa e se associou a Louis Chevrolet, criando a marca mais conhecida do grupo, atualmente. Com o sucesso da Chevrolet, Durant comprou a General Motors, em 1916, e, quatro anos depois, foi novamente demitido de sua empresa. Mas aí a GM acabou se tornando a maior fabricante de automóveis do mundo, ultrapassando a Ford em 1931 com as marcas Chevrolet, Oldsmobile, Buick, Pontiac, Opel, Vauxhall e Cadillac. Em 1984, é criada a marca Saturn, para tentar concorrer com as marcas japonesas que começavam a dominar o mercado norteamericano com seus modelos compactos.
Em tempos mais recentes, a General Motors incorporou muitas outras marcas, como a sueca Saab, em 1989, e a Hummer, em 1999, e encerra a produção das marcas Oldsmobile, em 2004, e Pontiac, em 2008. Em 2017, a GM vendeu a Opel e a Vauxhall para o grupo PSA, que já reunia Peugeot e Citroën.

Paralelamente, o grupo Fiat se juntou com o grupo Chrysler e formou a FCA. E, finalmente, em 2020, a FCA se juntou com a PSA, que já reunia as marcas Peugeot, Citroën, Opel e Vauxhall, formando a Stellantis, com as marcas Fiat, Abarth, Alfa Romeo, Chrysler, DS, Dodge, Jeep, Ram, Opel, Citroën, Lancia, Maserati e Vauxhall.
A Chrysler também tem sua história. Walter Chrysler fundou a sua empresa em 1925 e incorporou as marcas Dodge, DeSoto e Plymouth. Nos anos 70, a Chrysler comprou a American Motors, que era dona da marca Jeep.


O maior grupo, no entanto, é o Volkswagen, cuja principal marca, a própria Volkswagen, merece uma edição inteira para contar a sua história. Depois de se firmar com o Sedan, que depois passou a chamar Fusca (no Brasil), e com as variações de carroceria utilizando o icônico motor refrigerado a ar, a Volkswagen cresceu verticalmente e, em 1964, adquiriu o grupo Audi/Auto-Union, que também tem a sua própria e interessante história. Isso forneceu à VW a tecnologia dos motores refrigerados a água que ela tanto precisava para crescer ainda mais.
As marcas que atualmente compõem o Volkswagen Group AG são a Audi, a Porsche, a NSU (sem produtos atuais), a espanhola Seat, a tcheca Škoda, a inglesa Bentley, a italiana Lamborghini e a francesa Bugatti. Também faz parte do grupo a Ducati, tradicional marca italiana de motocicletas. A Audi é outra das marcas que merece uma história à parte, uma vez que ela representa a atualização da Auto-Union, que, por sua vez, era a união de quatro outras grandes marcas alemãs, a Horch, a NSU, a Wanderer e a antiga Audi (daí o símbolo dos quatro anéis).


Finalmente, o grupo Renault, que reúne as marcas Renault, Nissan e Mitsubishi, trazendo, de quebra as marcas Dacia, da Romênia, Datsun, do Japão, e Infinity, uma subsidiária que produz modelos de maior luxo, à semelhança do que faz a Lexus, do grupo Toyota, a Acura, da Honda, e a Genesis, da Hyundai.
Podemos notar que a maioria dessas transações, principalmente as mais recentes, juntam e separam empresas, mas mantém as marcas praticamente preservadas. São poucas as exceções, como, por exemplo, a MG, cuja bonita história já contamos aqui, na edição no 23, mas que foi comprada por um grupo chinês que passou a produzir modelos atuais na China, com pouca ligação com a sua tradição. Diferente da marca Volvo, que foi comprada por um grupo chinês mas seus modelos continuam a ser produzidos na Suécia, ou da Mini e da RollsRoyce, que hoje pertencem ao grupo



BMW mas mantém suas unidades fabris na Inglaterra.
A brincadeira de relacionar as nossas tão conhecidas marcas de automóveis vai longe, podendo ser acrescentadas famosas marcas e empresas que já não existem mais nessa relação. Mas aí já é assunto para uma outra edição. l
As parcerias brasileiras
Também tivemos várias formas de fusões e associações
Além das compras e vendas de marcas entre as grandes empresas do ramo automobilístico, há também as diversas formas de parcerias, as vezes apenas trocando tecnologias, às vezes misturando componentes de cada marca e compartilhando plataformas. Ou carros inteiros, até.
É o caso da nossa Autolatina, que, nos anos 80, uniu, no Brasil, as grandes rivais Ford e Volkswagen, em um tipo de casamento até então inimaginável. Daí saíram automóveis Ford com motor VW e versa-vice, e novos modelos que compartilhavam carroceria e parte mecânica, mas com marcas separadas e acabamentos diferenciados, como o VW Santana e Ford Versailles ou o Volkswagen Apolo e o Ford Verona.
As uniões, no entanto, começaram muito antes, anteriores, até, à nossa indústria nacional. A Simca do Brasil, por exemplo, fabricou por aqui, desde 1959, um automóvel originalmente produzido pela Ford francesa, o Vedette. Aqui, ficou famoso como Simca Chambord.
A Willys Overland do Brasil fabricou aqui o Jeep Universal, que depois passou a ser propriedade da American Motors e, absorvida pela Chrysler, mudou de sobrenome. Aqui, o Jeep foi fabricado pela Ford, que comprou a Willys, que, para não perder o domínio do nome, passou a chamar sua picape Pampa, derivada do Ford Corcel, de Jeep. No fim, o tão querido utilitário ficou mesmo com a Chrysler.



Nos anos 60, a Willys passou a fabricar no Brasil o Renault Dauphine, sob licença dessa marca francesa, assim como o Willys Interlagos, um dos nossos mais queridos carros esporte. E o Aero Willys, sedã da marca norteamericana, passou a ser produzido aqui depois que a matriz norteamericana desistiu do modelo. Em 1963, o Aero Willys passou a ter uma carroceira moderna, projetada por designeres brasileiros.
Há, ainda, o caso da Fábrica Nacional de Motores, empresa estatal que fabricava, no Rio de Janeiro, os caminhões FNM (conhecidos por FêNêMê) e passou a produzir um Alfa Romeo italiano com o nome JK.



O ano de 1967, no Brasil, foi marcado pelas aquisições. A Volkswagen comprou a Vemag, que fabricava o DKW, e encerrou a produção de seus modelos, que tinham motor de três cilindros dois tempos e tração dianteira. A Simca foi comprada pela Chrysler, que ainda manteve os modelos Esplanada e Regente em produção, até lançar aqui a linha Dodge (Dart e Charger). Logo depois, com a compra da Chrysler pela Volkswagen, o Dodge Polara saía, na Argentina, com a marca VW e os caminhões Dodge abriram mercado para os caminhões Volkswagen. E, finalmente, nesse mesmo ano, a Ford comprou a Willys, encerrando a produção dos modelos Renault e trocando o sobrenome dos outros modelos, que viraram Ford Aero, Ford Rural e Jeep Ford. A picape derivada da perua Rural passou a chamar Ford F-75, entrando para a tradicional família “F” de picapes da.
Os veículos originalmente Willys sobreviveram até 1972, convivendo com os produtos Ford, e o caso mais interessante dessa fusão foi o do Ford Corcel, lançado em fins de 1968: era um projeto Renault, para suceder o Gordini, que veio “de presente” para a Ford na compra da Willys. Não parecia, mas tornou-se um enorme sucesso. l

Chrysler e Ford mantiveram os produtos das marcas absorvidas, Simca e Willys, por algum tempo, antes de encerrar a sua produção, mas a Volkswagen tirou o DKW do mercado imediatamente. Isso mesmo tendo feito uma campanha dizendo que faria com que o DKW ficasse ainda melhor. Manteve o motor traseiro refrigerado a ar e acabou com o dianteiro a água, mas acabou voltando a essa configuração poucos anos depois, com o VW Passat