LUZ INSURGENTE UM ATO DE (R)EXISTÊNCIA
Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie para obtenção do título de arquiteta urbanista.
Gabriela de Miranda Papi Orientador: Paulo Emílio Buarque Ferreira
São Paulo, Novembro de 2022
Aos que lutam pela arquitetura, pela arte e pela educação enquanto instrumentos de transformação.
Você é o único representante do seu sonho na face da terra
Se isso não fizer você correr, chapa eu não sei o que vai
Emicida
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, que com tanta sensibilidade me questionaram, desde o início, sobre a função social que eu exerceria em minha profissão. E, com tanta luta e esforço, me proporcionaram a oportunidade de ingressar na universidade.
À minha irmã, maior companheira de vida e inspiração a acreditar e lutar pelos meus sonhos. Companheira, também, pelos acasos da vida, de jornada acadêmica, me fortaleceu diariamente dentre tantas inconstâncias e, com imensa alegria, fechamos juntas esse ciclo.
Ao Paulo, que com tanto alento me acolheu durante toda essa caminhada, de maneira leve, instigante, divertida e inspiradora. Ao Antonio, pela oportunidade de me aproximar das questões deste trabalho e, com tanta sabedoria e afeto, querido companheiro de pesquisa, dos sentimentos do mundo, e de luta. Ao Silvio, Sergio, Marcelo e demais professores que somaram em toda minha construção acadêmica.
Ao Mosaico e aos cacos que, de maneira muito acolhedora, me aproximaram de uma outra perspectiva e me deram luz para acreditar em uma outra forma de agir, através de processos mais humanos, horizontais e participativos.
Às amigas, amigos e ao meu namorado, que se tornaram uma verdadeira família e levo para além do curso. Obrigada pela ternura, convívio e trocas que tornaram esse ciclo mais leve, alegre e acolhido.
Como nos disse Emicida somos os únicos representantes dos nossos sonhos na face da terra, mas, com cada uma e cada um de vocês, essa caminhada se tornou e se torna diariamente muito mais iluminada.
Por fim, agradeço ao Fórum Mundaréu da Luz, ao teatro Mungunzá e aos demais coletivos que de maneira muito digna batalham pela justiça social.
Que os momentos de esperança, em ações coletivas, sejam a nossa energia presente, como um convite permanente à resistência.
ABSTRACT
This work proposes an investigation on the possibility of an artist occupation experiment linked to the fight and operation of territorialized groups seeking emancipation and reduction of damage on people in vulnerable social situation through art and education. This topic comes to light from an active approach with the Fórum Mundaréu da Luz, through Mosaico EMAU, and with the region of Luz/Santa Ifigênia/Campos Elíseos, in downtown São Paulo, which allowed the opportunity for a more effective contact with the territory, as well as with the associations and social movements linked to the activity of the Teatro de Contêiner Munguazá.
From that, the work discusses a brief historical contextualization around the urban conflicts that involved the origination development of the neighborhood, the rise of segregationist public policies, the housing market and violet actions by the State; later on, it discloses reports from the approach with the local insurgent movements and with their action-reaction, which emerge from the connections with institutions, associations and social movements, and lead to ways of resisting, staying and discussing the use of space. Lastly, desires are presented and connected to the possibilities of artist occupation project in support of the theater’s activity, which is composed by three lines: the craft, the free time and the housing.
Among these questions, discussions surrounding project methodology and territory dispute strategies are raised, making the work rely on the development of a new social-spatial order that approach the fight and the struggle from the perspective of solidarity and cooperation.
Keywords: Occupation. Art. Theater. Territorialization. Collective project. Luz.
RESUMO
Este trabalho propõe uma investigação sobre a possibilidade de uma experimentação de ocupação artística vinculada à luta e atuação de grupos territorializados que buscam emancipação e redução de danos de pessoas em situação de vulnerabilidade social, através da arte e da educação. Esta pauta surge a partir de uma aproximação ativa com o Fórum Mundaréu da Luz, através do Mosaico EMAU, e com a região da Luz/Santa Ifigênia/Campos Elíseos, no centro de São Paulo, que possibilitaram a oportunidade de um contato efetivo tanto com o território, quanto com os coletivos e movimentos sociais vinculados à atividade do Teatro de Contêiner Mungunzá.
A partir disso, o trabalho discute uma breve contextualização histórica acerca dos conflitos urbanos que envolveram a formação do bairro, o avanço de políticas públicas segregacionistas, do mercado financeiro e de ações violentas do Estado; em um segundo momento apresentam-se relatos acerca da aproximação com os movimentos insurgentes do território e com suas ações-reações, que emergem a partir de vínculos com instituições, coletivos e movimentos sociais, e desencadeiam formas de resistir, permanecer e discutir a produção do espaço; por fim, são apresentadas derivas e desejos relacionadas às possibilidades de um projeto de ocupação artística em apoio à atividade do teatro, que se compõe a partir de três eixos: o ofício, o tempo livre e a moradia.
Dentre essas questões são colocadas discussões que envolvem metodologia de projeto e estratégias de enfrentamento territorial, de modo que aposta-se na construção de uma outra ordem socioespacial que se aproxime da luta e do embate a partir da perspectiva da solidariedade e da cooperação.
Palavras-chave: Ocupação. Arte. Teatro. Territorialização. Projeto coletivo. Luz.
SUMÁRIO
A flor e náusea
Luz insurgente (R)existências
aproximações
Desejos e derivas A luta continua
considerações finais
01 introdução
05
11 21
02 contexto histórico 03
04 ocupação
39 59 105
A FLOR E A NÁUSEA INTRODUÇÃO
01
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A FLOR E A NÁUSEA
Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta. Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo? Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre: Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Vomitar esse tédio sobre a cidade. Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado. Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los? Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal. Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista. Porém meu ódio é o melhor de mim. Com ele me salvo e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego. Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem. Seu nome não está nos livros. É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde e lentamente passo a mão nessa forma insegura. Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se. Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
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Carlos Drummond de Andrade
Vivemos um momento de exacerbada crise. Crise global do capitalismo que estira colapsos sociais, ambientais e econômicos em todas as dimensões da vida. Crise que produz injustiças e desigualdades e que, também por isso, nos faz questionar, imaginar e propor novas práticas de resistência para conseguir existir. Vivemos um tempo em que, diante de uma pandemia mundial causada pela COVID-19, onde a aposta/desejo era da necessidade de construção de pactos sociais coletivos, capazes de responder a uma demanda de enfrentamento de mundo em escala e necessidade global, vimos, após dois anos, não somente uma esquizofrenia das relações sociais, que atacaram diretamente nosso entendimento sobre práticas de planejamento urbano como a urgente necessidade de lutar e, por isso mesmo pensar em colocar como pauta a descolonização do próprio futuro.
Vivemos um tempo em que a violência é anunciada entre espoliações e expulsões urbanas cotidianas. O Estado revela diariamente uma de suas facetas mais cruéis ao avançar desenfreadamente sobre direitos de dignidade humana, como o despejo de milhares de pessoas de seus lares. Só na cidade de São Paulo, entre março de 2020 e dezembro de 2021, pelo menos 2.719 famílias foram removidas e 197.368 famílias foram ameaçadas de remoção (OBSERVATÓRIO DE REMOÇÕES, 2022).
A região dos Campos Elíseos, centro de São Paulo vem sendo alvo da ação contínua e cada vez mais violenta do Estado, onde, em 2017, foi movida a primeira grande ação de remoção e demolição pelo governo, em que dois quarteirões inteiros foram removidos de forma sistêmica e ilegal (LABCIDADE, 2021). Desde então a região é alvo de uma violência anunciada. Não somente anunciada, como escancarada em repressões cotidianas, através de uma necropolítica que promove ações como a que vimos em maio deste ano, em que a movimentação de uma grande ação policial na Praça Princesa Isabel espalhou a concentração de pessoas em situação de rua e em uso abusivo de drogas pelo centro da cidade (LABCIDADE, 2022).
Em contrapartida, uma articulação entre movimentos sociais, entidades, laboratórios de pesquisa, partidos políticos e parlamentares, pulsou campanhas tanto em nível local qual nacional, como a campanha #DespejoZero, a fim de suspender despejos e remoções de famílias vulneráveis e pessoas em situação de rua. O Observatório de Remoções, da FAUSP, completou este
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ano 10 anos de observação e mapeamento das ações de ameaça e resistências contra remoções na região metropolitana de São Paulo e, o Fórum Mundaréu da Luz, constituído em 2017 por diversos grupos e instituições – como laboratórios e escritórios modelo de arquitetura e urbanismo, história social e psicologia de universidades, companhias e coletivos culturais, ONGs e movimentos organizados, núcleos especializados e moradores –, também atua na região dos Campos Elíseos com o objetivo de enfrentar as precariedades e vulnerabilidades sociais do território.
A partir de uma aproximação e experiência prática com a região e com estes grupos territorializados, através do Grupo de Trabalho Observatório, do Escritório Modelo de Arquitetura do Mackenzie –Mosaico EMAU – no início deste ano (2022), e do desenvolvimento de uma Iniciação Científica com o tema “Sobrevidas: espaços insurgentes em tempos de violência urbana”, com orientação e contribuições do professor Antonio Fabiano, que se incorpora neste trabalho, elenca-se a Luz/Santa Ifigênia/Campos Elíseos como área de estudo e projetação.
A aproximação foi feita a partir de uma nova pauta colocada na região, mais especificamente relacionada à atual ação do Teatro de Contêiner Mungunzá que, desde 2016, vem se constituindo como um forte agente no território e como um espaço sociocultural. Esta nova pauta é paralela ao anúncio de uma nova violência. Se por um lado o mercado imobiliário avança ligeiramente, removendo pessoas de suas casas para implantação de projetos habitacionais da Parceria Público Privada (PPP), do outro vemos uma ostensiva ação policial deslocando e espalhando o fluxo que se concentrava na praça Princesa Isabel, de modo que ambas revelam uma forte violação de direitos humanos.
Formado por um núcleo de artistas que compõe a Companhia de Teatro Mungunzá e por seu desejo de constituir um espaço físico para abrigar as atividades culturais e sociais do teatro, o grupo realizou um mapeamento dos terrenos públicos ociosos na cidade de São Paulo. O terreno público destacado no mapa, a seguir, localizado entre a Rua dos Gusmões, dos Protestantes e General Couto de Magalhães, no coração do Campos Elíseos, se encontrava em desuso e foi ocupado pelo grupo em meados de 2016, sendo esta a quadra de experimentação e intervenção projetual, que se apresentará adiante neste trabalho.
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1. Teatro de Contêiner 2. Ocupação 3. Nova intervenção 4. Jardim da Luz 5. Pinacoteca 6. Estação da Luz 7. Museu da Língua Portuguesa 8. Memorial da Resistência
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LEGENDA
IMPLANTAÇÃO URBANA ESC. 1:1000
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ELEVAÇÃO LESTE
Frente ao cenário da covid-19 no Brasil e do fechamento das atividades culturais, o teatro enfrentou tanto uma situação de isolamento social quanto também do cuidado sociocultural com a população do bairro, veiculando ações de direitos humanos em um território de imensa vulnerabilidade social e de extremo avanço das políticas de violência. Tais ações visavam não somente um enfrentamento de uma crise de ofício, como também a redução de danos através da arte, da cultura, e da educação. Se por um lado, as políticas públicas se mostram ineptas e agem de maneira extremamente genocida, do outro, os movimentos insurgentes constituem lutas, resistências e ativismos em direção a uma sobrevida digna.
A partir desse contexto, este trabalho se desdobra em um processo projetual que envolve uma metodologia de aproximação com uma demanda real ligada ao território, de maneira paralela à atividade e atuação do Mosaico – que será melhor apresentada especificamente no capítulo 3. No entanto, se por um lado a presença ativa que tivemos com o grupo - reuniões semanais, visitas constantes, levantamentos, e debates com a população do bairro - fomentou uma vivência e entendimento intensos
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acerca de como um projeto poderia ser proposto naquele território, do outro, foi necessário reconhecer um certo limite entre o tempo real e o processo do TFG. Ou seja, é como se tivéssemos que reconhecer que era necessário também apostar em uma certa utopia, para que o projeto se desenvolvesse com maior liberdade no tempo acadêmico.
Assim, com grande inspiração em Lina Bo Bardi, que adota uma flor de mandacaru como um símbolo de conexão entre o velho e o novo nos vãos das passarelas do Sesc Pompéia, o projeto também incorpora, com muita ética e respeito, uma transição entre as pré existências e a nova intervenção. Muito além da conexão literal, a flor é escolhida pela arquiteta como um símbolo de resistência em meio a um momento em que a democracia brasileira começava a florescer diante de uma ditadura militar. O mandacaru, ainda que em meio aos tempos mais árduos de seca do sertão nordestino, é capaz de florescer. Como disse Drummond, lembremos que, dentre tantas náuseas, existem flores furando o asfalto, o tédio, o nojo, e o ódio. Sob essa mesma esperança, acreditemos na arquitetura enquanto instrumento de transformação, que floresce da resistência, do comum e do enfrentamento.
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02
LUZ INSURGENTE CONTEXTO HISTÓRICO
1986 Abertura dos processos de tombamento pelo CONDEPHAAT
1995 Programa Monumenta
1997 Operação Urbana Centro
2002 Plano Diretor Estratégico da Cidade de São Paulo 2003 Estatuto da Cidade
Nova
Lei de Incentivos Seletivos Operação Limpa Operações Força-Tarefa
1998
22
2005
ESTADO REDES LOCAIS
GESTÕES 1989-1992 | Erundina 1993-1996 | Maluf 1997-2000 | Pitta 2001-2004 | Marta 2005-2008
MUNICIPAIS 1989 início oficial do tráfico e consumo do crack Criação do “É de lei”
Luz 1998 Reforma Pinacoteca 1999 Reforma da praça Julio Prestes e da Sala São Paulo
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Polo
2017
| FEV. 2017 - DEZ. 2021
2016
2022 2017 2009 Lei de Concessão Urbanística 2011 PPP Habitacional Casa Paulista 2006 Museu da Língua Portuguesa Demolição das primeiras quadras Operações Força-Tarefa Criação do CAI Nova Luz 2009 Ocupação Mauá 2007 2011 Operação Sufoco 2014 Programa de
2018
2020
| Serra/Kassab 2009-2012 | Kassab 2013-2016 | Haddad 2017-2020 | Doria/Covas 2021-2024 | Ricardo Nunes
2007
Luz
Criação do Fórum Mundaréu da Luz Ação de remoção e de demolição pelo governo nos Campos Elíseos REMOÇÕES
Instalação do Teatro de Contêiner Mungunzá
Aproximação do Mosaico com a pauta atual do Teatro
Braços Abertos Criação do Instituto Luz do Faroeste
Constituição dos coletivos A Craco Resiste e Tem Sentimento Início das atividades do coletivo Birico
Operações Limpeza
O Centro de São Paulo, assim como outras grandes cidades brasileiras, enfrentou diversas transformações entre o século XX e os dias atuais, que decorreram principalmente, do deslocamento das classes dominantes para outras regiões da cidade. A atuação do poder público seguiu a expansão da centralidade e da reprodução de forças do capital, que resultaram em uma popularização da região central, atrelada, ideologicamente, a uma ideia deterioração ou degradação dessas áreas (KARA, 2010). Inúmeros planos urbanos foram criados em torno da ideia de conter e converter os impactos da degradação ambiental, da expansão e urbanização da metrópole, dos sistemas de mobilidade, da industrialização e da alta exploração e espoliação das formas de trabalho (PETRELLA, 2017).
A análise das iniciativas entre o poder público e privado para o centro, entre a década de 90 e os dias atuais, revela que, de maneira geral, tais aproximações atravessaram gestões. Muitas propostas e intervenções não surgiram para enfrentamentos reais das questões pungentes, mas como um mascaramento que se construía sob um discurso de recuperação do patrimônio histórico e da ativação de equipamentos culturais, que visavam atender aos grupos de maior renda e desencadear mudanças socioespaciais. Com enfoque na região da Luz, Santa Ifigênia e Campos Elíseos, serão apresentados aspectos gerais que perpassam pela formação dos bairros, legislações urbanas, habitação e o estigma em torno do uso abusivo de drogas.
O território do Centro chega aos anos 90 segmentado e carregado de complexidades sociais - expressões da desigualdade que estrutura o espaço da cidade. Nele, coexistem situações de extrema precariedade social, como os cortiços; e setores de grande vitalidade econômica, localizados entre as maiores concentrações de postos de empregos da cidade. Durante o dia, um intenso fluxo de pessoas circula pelos espaços públicos, atraindo um número considerável de vendedores ambulantes, integrantes da gama de trabalhos informais localizados no Centro. Há, na região, um grande estoque de imóveis vazios, reflexo da saída de parte dos setores terciário e residencial. A existência destes imóveis contrasta com a ampla infraestrutura urbana da região, e, sobretudo, com o déficit habitacional da cidade e a localização periférica das moradias de baixa renda (KARA, 2010).
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Até os anos 90, a movimentação de capitais na região perpassou tanto pela ascensão das economias em curso, como o avanço da cultura cafeeira, do açúcar e, em seguida, da industrialização, quanto pela implementação das redes de transporte, que ligavam o centro e o interior do estado por rodovias e ferrovias. A Inauguração da Estação da Luz consolidou um intenso fluxo de pessoas e produtos na região, que levou a uma ocupação diversificada entre comércios, habitações, pequenos hotéis, e galpões de manufaturas.
É a partir da elevada chegada de (i)migrantes, na década de 70 que começaram a surgir os primeiros cortiços e pensões, de maneira que a região começa a perder o interesse administração pública, que estava mais concentrada nas grandes obras viárias e no mercado imobiliário em áreas mais valorizadas. Assim, Santa Ifigênia começa a se caracterizar por vias mais estreitas, com edificações no alinhamento, habitações de diversas tipologias, cortiços superlotados, pensões, e pela atividade de prostituição, tornando a região uma zona de meretrício com hotéis baratos, botequins e com concentração de “marginais”, que formavam o “Quadrilátero do Pecado” e a “Boca do Lixo” – maior reduto da prostituição paulistana (COELHO, 2010). É nesse contexto que a região ficou famosa também como o polo da produção cinematrográfica mais importante para o cinema paulista, chamada de Cinema Marginal. Em um momento de avanço de repressão da censura durante a ditadura militar, a Boca do Lixo se transformou em uma espécie de baluarte para os cineastas transgressores.
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Fig. 4 - Cinema Marginal
Nota-se então, entre os anos 70 e 80, a acentuação de uma crise social, marcada pela piora da qualidade de vida local, das condições de moradia, e o começo de uma política higienista. De um lado, se encontravam situações insalubres e precárias dentro das habitações e, do outro, se buscava manter uma certa ambiência urbana através da manutenção de fachadas das edificações, que compunham uma certa condição social ao bairro. Ou seja, já se nota aí o princípio de uma reação social que será extremamente agravado à frente em relação aos conflitos na região.
No final da década de 90, os conflitos sociais são potencializados com a disseminação oficial do tráfico e do consumo de crack pelo Brasil. Este cenário, que envolvia desde crianças e adolescentes, se desenvolvia principalmente nas ruas Vitória e Guaianases, se estendendo até meados da Rua Mauá. É nesse momento que, a partir de um estigma do poder público, da população e da imprensa, que a região da Santa Ifigênia passa a ser conhecida como “Cracolândia”, vista como território de promiscuidade e de ilegalidade, de criminalidade e prostituição. Assim, passa-se a vincular facilmente o espaço do bairro à probreza, à violência, e a um antro de marginalidade (COELHO, 2010).
É dentre essas complexidades que, a partir da década de 90, surge um discurso de “revitalização” da região central, acompanhado de políticas púbicas que apostavam na atração do setor privado. Nesse contexto, começa a ser idealizada a formação de um polo cultural na região da Luz, em que a implantação de equipamentos culturais era uma das iniciativas para potencializar o interesse do setor privado no centro, em torno da ideia de uma transformação socioespacial.
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Fig. 5 - Estação da Luz
O AVANÇO DOS PLANOS
Em 1986 o CONDEPHAAT abre processos de tombamento da Santa Ifigênia e dos Campos Elíseos, em busca de um resgate da importância histórica e urbanística do bairro. Durante a década de 90, se iniciam então reformas e obras pontuais no Bairro da Luz, acompanhadas de um discurso político que “regenerariam” áreas degradadas do bairro e trariam vitalidade, desenvolvimento comercial e melhorariam as condições de conservação e limpeza tanto para do entorno, quanto do miolo do bairro. Assim, a região da Luz se tornou o principal alvo de políticas implantadas em âmbitos federais, estaduais e municipais, onde foram lançados, projetos denominados de “âncoras culturais”, como a Sala São Paulo, a restauração do antigo DOPS, a Pinacoteca do Estado, e o Museu da Língua Portuguesa.
No âmbito federal cresciam os estímulos à participação da iniciativa privada em projetos culturais, através de leis de incentivo fiscal e da assinatura de um convênio entre o Governo Federal e o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID – que resultou no Programa Monumenta, em 1995. Já no que diz respeito ao Governo Estadual, as intervenções mais estruturais começaram em 1996, em parceria com a CPTM, através do programa “Projeto Integração Centro” – projeto do Plano Integrado de Transportes Urbanos (PITU), da Secretaria do Estado - que vem provendo a integração entre o sistema de metrô e as linhas ferroviárias, bem como sua modernização. Após essas obras de integração, a Estação da Luz volta a ser a principal estação da cidade, como um dos maiores pontos de conexão do sistema de transporte público metropolitano.
Posteriormente, em 1999, a Estação Júlio Prestes foi transformada no complexo cultural da Sala São Paulo e recebeu a sede da Secretaria de Estado da Cultura. O projeto foi controverso pois, apesar de se implantar como um importante equipamento cultural, apresentava um certo isolamento e limitação do acesso do público pelo transporte público. A praça Júlio Prestes também foi totalmente reformada pela arquiteta Rosa Kliass. Com um discurso de “facilitar o controle do espaço e melhorar a segurança”, a arquiteta propôs muretas e previu uma esplanada em frente à estação, o que não permitia mais o atravessamento e transformava o espaço em uma praça fechada.
No âmbito municipal, foi aprovada, em 1997, a Operação Urbana Centro, em que, em parceria com o poder público e a iniciativa privada, a Prefeitura criou um instrumento legal para promover
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Fig. 6 - Planos da Luz
Hachuras amareladas e alaranjadas: Renovação Urbana, 1974; Luz Cultural, 1984; Polo Luz, 1996.
Magenta: Monumenta, 2002; PRIH-Luz, 2004.
Roxo e azuis: Concessão Urbanística Nova Luz, 2012; PPP Casa Paulista, 2014; PIU/MP700, 2016.
Fonte: PETRELLA, , 2017.
intervenções urbanas na cidade. O principal objetivo desta Operação era atrair investimento imobiliários, turísticos e culturais para a região central.
O que estes planos apresentavam em comum era um alinhamento acerca da recuperação do patrimônio histórico, da modificação da imagem local, atração de um público diferente e do financiamento conjunto do poder público e da iniciativa privada, que remetiam ao projeto Polo Luz (1996) e Luz Cultural (década de 80). Nota-se que, até os anos 80, o principal agente de elaboração, implantação e financiamento dos projetos era o poder público; já nos 90, o papel do setor privado ampliou-se progressivamente, de modo que passava a assumir também a função de gestor (KARA, 2010).
A partir desta intensa transformação que perpassa a área de estudo, destacam-se alguns eixos para serem mais aprofundados, visto que apresentam grandes e maiores impactos de intervenção urbana na região, traçando possibilidades e condicionantes que serão colocadas em questão. São eles: o Projeto Nova Luz, as Parcerias Público Privadas e as operações de limpeza para a dita “Cracolândia”.
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Fig. 7 - Demolição da quadra com manutenção do edifício tombado ao centro
PROJETO NOVA LUZ
Lançado em 2005, pela Prefeitura de São Paulo, sob a prerrogativa de revitalizar e requalificar a região em torno da Estação da Luz, mais precisamente da região conhecida como “Cracolândia”, o projeto previa a criação de incentivos fiscais para empresas privadas se instalarem na região e investir nas ruas que se apresentam degradadas há décadas. O prefeito da época, José Serra, lançou então o Programa de Incentivos Seletivos, prevendo a criação de um polo de comércios e serviços através do investimento para implantação e modernização de empresas, bem como empreendimentos residenciais, na região.
Em 6 de setembro de 2005 foi publicado no Diário Oficial que a área era considerada de utilidade pública, onde se previa a desapropriação e intervenção urbanística através da demolição de diversos imóveis para possibilidade de revitalização urbanística, totalizando a demolição de 11 quadras e 750 imóveis (COELH0, 2010).
A primeira fase do Incentivo Fiscal previu intervenção em 23 quadras, com certa de 1500 imóveis, em que os recursos para desapropriações foram liberados pela Prefeitura. No final da década de 2007 foram demolidas as duas primeiras quadras, onde se previa a construção da Subprefeitura da Sé e da Secretaria de Serviços. A área total do Projeto Nova Luz alcançava pelo menos 225 hectares.
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Ainda em 2005, a prefeitura lançou a Lei de Incentivos Seletivos, que concediam incentivos fiscais para atrair novas empresas de comércios e serviços em cerca de 1500 imóveis da Santa Ifigênia, com objetivo de criar um “polo tecnológico”. Nesta mesma linha, o projeto Nova Luz propunha a desapropriação de uma área de 270.000m² que, apesar de não ter sido aprovada integralmente, desapropriou terrenos para construção da nova sede da Subprefeitura da Sé, da Guarda Civil e da Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Município (PRODAM), com recursos do BID e da OUC. Os edifícios localizados nos terrenos entre as ruas General Couto de Magalhães, Protestantes e Mauá foram demolidos em outubro de 2007.
A maior aproximação entre a política pública e o mercado imobiliário no centro ocorreu em 2009 com a Lei de Concessão Fig. 8 - Demolição em 2006 | Antes Fig. 9 - Demolição em 2006 | Depois
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Fig. 10 - Demolição em 2006 | Antes Fig. 11 - Demolição em 2006 | Depois
Urbanística, que delegava à iniciativa privada a autorização para usar uma série de instrumentos urbanísticos em obras de (re) urbanização. Esta lei gerou polêmicas jurídicas e manifestações entre os comerciantes e entidades da sociedade civil, que se preocupavam com despejos e aumento de aluguéis.
As incoerências do projeto, inclusive, caminhavam no sentido oposto a uma política pública ampla, integrada, e que visava um desenvolvimento para a cidade.
Claramente foi um programa que, antes de buscar encarar a vulnerabilidade social da região, buscou criar uma nova imagem para o bairro, ideia sob a qual foram erguidas inclusive bandeiras eleitorais para Jose Serra e Gilberto Kassab, que, no entanto, visavam atrair a iniciativa privada e não atender as demandas sociais.
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O ESTIGMA DO CRACK
É desde os anos 90 que a região do Campos Elíseos e Santa Ifigênia passa por uma estigmatização e alarde por parte da imprensa, sendo chamada de “Cracolândia”. A implantação dos equipamentos culturais e as ostensivas ações policiais na chamada “Cracolândia” não levaram alcançaram nenhuma transformação socioespacial como previam. Se antes, a aposta da transformação urbana se dava através das “âncoras culturais”, a partir de 2005 essa máscara cai, dando lugar à truculência de ações de “limpeza social” (KARA, 2010).
Sob o discurso de transformar a região na “Nova Luz”, foram elaboradas uma série de ações que envolveram desde a regulamentação de instrumentos urbanísticos, até as ostensivas e truculentas “forças-tarefa” da polícia. Em 2005, a “Operação Limpa” abateu como alvos usuários e traficantes de drogas, a pirataria, imigrantes ilegais, estrangeiros, prostitutas, e estabelecimentos considerados indesejáveis – como camelôs, ferro-velho, bares, hotéis.
Entre 2005 e 2008 foram realizadas doze operações de limpeza na região, denominadas “operações-força-tarefa”, administradas por Gilberto Kassab, com o intuito de combater a criminalidade, o tráfico, a prostituição e os imóveis sem alvará de funcionamento. Kassab afirmava que a Cracolândia não existia mais, em momento em que as ações policiais, assistenciais, de demolições e anúncios de novos projetos permaneciam intensos. O resultado foi o espalhamento da concentração para outras áreas da cidade, e as notícias da época revelavam um verdadeiro estado de “guerra-civil” entre moradores, comerciantes e as pessoas em situação de uso abusivo de drogas (KARA, 2010) - movimento que vimos acontecer várias e várias vezes, inclusive no início deste ano.
Somente em 2009 que é anunciado um programa para redução de danos na região. O “centro de Atenção Integral – CAI Nova Luz”, proposto na região dos Campos Elíseos, propunha atendimento à população em situação de rua e de dependentes químicos, através do acolhimento em questões de higiene, alimentação, saúde, documentação, trabalho, educação, cultura e arte. No entanto, o projeto ficou apenas no papel e, durante este período, não houve nenhuma outra ação deste sentido pela Prefeitura na região.
Uma iniciativa parecida só seria retomada em meados de 2014 durante a gestão de Fernando Haddad, com o Programa de Braços Abertos que encarava a questão como uma questão social
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de fato, a partir da perspectiva de redução de danos através de saúde, moradia, trabalho, renda e alimentação.
O programa, no entanto, foi desmontado logo no início da gestão Dória, em 2017, de maneira que ainda no mesmo ano a população voltou a ser dispersada com a repressão policial, que oscilava entre bombas e demolições. Tais políticas, além de retomarem ao caráter higienista do programa Nova Luz, passaram a associar também a ideia da internação compulsória em massa. Entre 2017 e 2018, levantamentos do Observatório de Remoções revelaram que foram realizadas cerca de 50 operações na região pela polícia militar, com uso de gás lacrimogêneo e cacetadas. Em média, somam cerca de uma operação por semana, sendo que as ações de “limpeza” da área acontecem cerca de três vezes ao dia.
É clara a intenção do poder público em promover o policiamento ostensivo da área e divulgar resultados positivos. A mudança da sede da Guarda Civil Metropolitana para a Nova Luz configurou-se ação prioritária logo no início do projeto, a fim de “reduzir a violência na região”. Fica claro também o entendimento por parte de dirigentes políticos (e de parte da sociedade) de que o problema da droga ainda é visto como mero caso de polícia, mais do que uma questão de fragilidade e instabilidade social. Assim, as ações e programas sociais para a área, além de tímidos e tardios, quase não recebem atenção e repercussão. (COELHO, 2010).
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Fig. 12 - Ação Policial nos Campos Elíseos
Fig. 13 - Perímetros da legislação urbana x avanço das remoções
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PPP E HABITAÇÃO
A pauta da promoção de habitação por parte do setor público surge como questão no centro em meados da década de 90, em um momento em que se consolidam as más condições das moradias coletivas, o aumento do número de imóveis ociosos e o subaproveitamento da infraestrutura consolidada. A questão dos cortiços foi enfocada durante a gestão Erundina (1989-1991), mas a habitação de interesse social nunca tinha sido priorizada até então.
A ocupação dos imóveis vazios na região central pelos movimentos de moradia começava a colocar o território em disputa, exigindo elaboração de políticas públicas que promovessem o direito à cidade e o cumprimento da função social dos imóveis subutilizados. É nesse mesmo momento, que a questão da moradia no centro passa a ser encarada também por outros setores da sociedade civil, sendo discutida dentro das universidades, por professores, estudantes, militantes e técnicos.
A partir dos anos 2000, passariam a ser implantados programas habitacionais voltados para a região central, como o Programa de Atuação em Cortiços (PAC), o Programa de Arrendamento Residencial (PAR), e o Programa Morar no Centro. Dentre esses foram criados também o Programa de Locação Social e de Bolsa Aluguel.
Em 2002, O novo plano Diretor Estratégico de São Paulo definiu a área da Luz como uma Zona Especial de Preservação Cultural – ZEPEC –e criou uma Zona Especial de Interesse Social - ZEIS 3 - no miolo da Santa Ifigênia, que previa a promoção de Habitações de Interesse Social e de Habitações do Mercado Popular nesta área. No caso das ZEIS, a legislação prevê a constituição de Conselhos Gestores, compostos por representais de moradores e do poder Executivo, que devem participar da elaboração do plano de urbanização e de sua implementação, acompanhados de assessoria técnica, jurídica e social à população moradora.
A criação da Parceria Público-Privada (PPP) Habitacional tem objetivos de, a partir de uma concessão administrativa, oferecer projetos e implantação de Habitações de Interesse Social (HIS) e Habitações de Mercado Popular (HMP), através da reforma de imóveis existentes ou novas construções. Prevê também a implantação de infraestruturas, equipamentos e serviços coletivos, e a prestação de serviços relacionados à pré e pós ocupação, como gestão condominial e provimentos da função da moradia. Em 2011 foi apresentada a
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PPP Habitacional Casa Paulista, pela Secretaria da Habitação, que previa a oferta de 10.000 unidades habitacionais na área central da cidade (PETRELLA, 2017).
Atrelada à oferta de habitações, as PPPs buscam também de certa forma a “requalificação” urbana considerados degradados e depreciados, de modo que devem promover aumento da oferta de trabalho, consumo e de renda na área central, otimizando a utilização dos equipamentos públicos e diminuído a “fragilidade” urbana. No caso da PPP Casa Paulista, foram definidas áreas de intervenção a partir de perímetros urbanos e lotes específicos que, no caso da região da Luz, referem-se à região a Nova Luz e da dita “Cracolândia”.
No entanto o problema central da PPP é o fato de que ela não se destina à maioria da população que já reside na região, que tem um acesso limitado e reduzido às novas moradias, que se destinam a outras faixas de renda, a fim de viabilizar economicamente os empreendimentos. Ou seja, nota-se um interesse em contribuir para a possibilidade de substituição populacional e gerar uma gentrificação, através do interesse público, da instrumentalização do Estado e do espaço, que deveriam, na verdade, assegurar a permanência dos atuais moradores.
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As diretrizes não previram o reassentamento das famílias impactadas pela intervenção, nem o oferecimento de alternativas habitacionais aos moradores afetados pelas remoções. Também não foram previstas exigências de comprovação de que a indenização oferecida para as famílias seria suficiente para elas permanecerem na própria região. Além disso, para ocupar os imóveis da PPP, o edital aponta a necessidade de comprovação “por qualquer meio lícito” que o interessado trabalhasse na área central. No entanto, esta prerrogativa funciona como uma grande artimanha contra os trabalhadores informais, que não possuem comprovação do posto de trabalho e compõe uma parcela significativa na região.
Estes planos operam por um duplo movimento: de escassez e de expansão. Como escassez, entende-se a monopolização de um determinado perímetro urbano, que é assegurado por parcerias público-privada constituídas a partir de licitações e contatos. Elas formam um consórcio composto por agentes imobiliário (projetistas, construtoras, incorporadoras), agentes financeiros (bancos, fundos de pensão, ações, papéis de dívida) e Estado. Através da renovação urbana (desconstrução, reconstrução, construção) buscam captar rendimentos econômicos decorrentes do potencial construtivo adicional, acentuado pela diferenciação metropolitana, e da centralização da propriedade, desapropriações e demolições. Como expansão, entende-se a mercantilização de políticas e serviços públicos antes associados a «políticas sociais». Neste sentido, a habitação de interesse social, equipamentos e serviços coletivos, espaços e infraestruturas públicas, passam a figurar como objetos de disputa pelo mercado (PETRELLA, 2017)
Fig. 15 - PPP Hospital
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Fig.
- Ocupação x imóveis da PPP Habitacional
Pérola Byington
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(R)EXISTÊNCIAS APROXIMAÇÕES
A definição da Santa Ifigênia e dos Campos Elíseos como território de estudo se deu a partir de uma aproximação do Mosaico EMAU (Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie) com o Fórum Mundaréu da Luz e com o Observatório de Remoções, da FAU USP, desde 2017. O trabalho anterior a esta pesquisa foi base para uma série de discussões junto com a população que resultaram em uma proposta urbanística e social para a região da Luz, que compõe o Campos Elíseos Vivo¹.
A experiência do Fórum Mundaréu da Luz, criado em 2017 e que agrega universidades, ONGs, entidades, coletivos teatrais, institutos de pesquisa, assessorias técnicas e movimentos sociais entre outros agentes, a partir do processo de construir uma proposta com os moradores – batizada como Campos Elíseos Vivo – apontou possibilidades para quem mora e quem vive nas ruas. O projeto de habitação considerou qualidades ambientais, patrimônio histórico, morfologia urbana, estratégias econômicas, e, essencialmente, os modos de vida, as maneiras como as pessoas construíram suas formas gregárias, solidárias e espaciais. O projeto garantiria a permanência de todas e todos e a perspectiva do amparo, com moradia e programas de saúde, trabalho e renda para as pessoas que enfrentam o drama da violência, dada pelo uso do crack e, essencialmente, implementada pelo Estado, que coloca seu aparato repressor para violentar as pessoas mais fragilizadas. (FABIANO JUNIOR; RUBANO, 2022)
O trabalho coletivo realizado no território perpassou por processos de imersão territorial, divido em levantamentos qualitativos que envolvem 4 eixos: (i) moradoras e moradores do bairro, avaliando renda, composições familiares, tempo de moradia e aluguéis; (ii) comerciantes, (iii) o “fluxo”, em que foi feita uma abordagem sobre os serviços de assistência social e de saúde; e (iv) edificações. Em seguida, foram apresentadas propostas que potencializavam a produção habitacional, na escala do bairro, das quadras, e do entorno; modalidades de atendimento, com questões sobre locação social, hotel social, casa própria, moradia terapêutica, comércio local, oficinas compartilhas, moradias imediatas e emergenciais, espaços de convivência compartilhados, e a potencialização de ações de coletivos culturais; e tipologias de projeto, com alternativas habitacionais para as famílias ameaçadas de remoção. Por fim, foram apresentadas estratégias de viabilidade econômica e financeira sobre o projeto.
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¹ disponível em: https://polis.org.br/wp-content/uploads/2020/03/completo_caderno-plano-alternativo-luz-r09-2018-04-10_web1-1.pdf
HABITAÇÃO
USOS COLETIVOS CLAREIRAS
Fig. 16 - diagramas Campos Elíseos Vivo
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Dentre essas premissas, buscou-se provar que seria possível construir cerca de 3.500 unidades habitacionais, espaços comerciais e equipamentos públicos - número suficiente para atender tanto às famílias do bairro quanto para atrair novos moradores para a região central - utilizando apenas terrenos e imóveis vazios, subutilizados e já notificados pelo poder público, se apoiando em instrumentos do próprio Plano Diretor Estratégico de São Paulo, sem precisar demolir prédios históricos e remover a população local que já vive e trabalha há décadas no bairro.
O projeto, que teve como foco central 3 quadras compreendidas entre a Alameda Cleveland, Rio Branco, Ruas Glete e Helvética, com trechos das Alamedas Dino Bueno e Barão de Paranapiacaba, foi apresentado para o poder público no início de 2018. No entanto, no dia 14 de março de do mesmo ano, a justiça determinou a remoção de 200 famílias que moravam nas quadras. Apesar de ser considerada, pelo Plano Diretor, como uma Zona Especial de Interesse Social, que deveria ser destinada para a melhoria das condições habitacionais, o despejo tinha como objetivo a construção da PPP do Hospital Pérola Byington.
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Fig. 17 - Croqui Campos Elíseos Vivo Fig. 18 - atividade com moradores para o projeto Campos Elíseos VIvo
“Não é só uma questão de saúde, é a recuperação da Nova Luz”, declarou o ex-governador João Doria, em 2019. Em setembro deste ano, foi inaugurado oficialmente o Hospital da Mulher, em substituição ao Pérola Byington.
A ordem de desapropriação desta área simplesmente ignora o fato de o espaço ser uma ZEIS. Ela nunca poderia ter sido determinada sem a criação de um conselho gestor com moradores da quadra. (...) A Bolsa Aluguel é uma solução provisória que, no caso, não resolve o problema das famílias, em curto prazo. Recebendo 400 reais por mês, essas pessoas não conseguem viver nem mesmo na periferia, e acabam indo para as ruas ou ocupações no centro da cidade, piorando o problema. Precisamos aproveitar melhor os espaços que já temos e que atualmente estão ociosos, utilizando o conceito chave-a-chave, em que uma pessoa só deixa sua casa se tiver uma nova moradia para onde ir (KLINTOWITZ, 2018).
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Fig. 19 - VIsita Mosaico | Imagem autoral
A retomada da atuação do Mosaico, através do GT Observatório, em parceria com o Fórum Mundaréu da Luz, se deu no início deste ano a partir de uma nova pauta colocada na região vinculada ao Teatro de Contêiner Mungunzá. O trabalho se deu através de aproximações com o território em momentos diversos: inicialmente, foi feita uma visita à área, em fevereiro de 2022, acompanhada de uma primeira conversa. Em seguida, foram organizadas reuniões intercaladas, ora somente com o Mosaico, ora em conjunto com os demais coletivos do bairro, a fim de desenvolver o projeto de maneira coletiva. Durante as conversas foi possível perceber que, atualmente, o trabalho do Teatro se articula no bairro junto com uma rede de coletivos e artistas que buscam construir ações e possibilidades de emancipação através da arte e da educação – Tem Sentimento, Birico Arte, Paulestinos, Badarós, Pagode na Lata, Ilú Obá De Min – e que, de maneira comum, demandam por um espaço em que pudessem concentrar suas atividades.
Em paralelo a isso, ao lado da quadra ocupada pelo Teatro, encontra-se um prédio em desuso que, durante a década de 50 funcionava como um antigo hotel. A pauta atual então, nasce a partir da possibilidade de ocupação deste edifício através de uma experimentação de ocupação artística.
A partir disso, foram levantadas leituras importantes sobre esta hipótese de atuação, como (i) os limites e possibilidades do território; (ii) o desenrolar burocrático em relação ao poder público e à situação do prédio; (iii) a articulação entre moradia, arte, educação e geração de renda; e (iv) o lastro de possibilidades para projetar perspectivas e transformações.
O contexto atual sobre as cenas abertas do crack, na região dos Campos Elíseos, é o anúncio de um país que se encontra em convulsão. Uma grande ação policial na praça Princesa Isabel, em maio deste ano, espalhou a concentração de pessoas em situação de rua e de uso abusivo de drogas pelo centro da cidade de São Paulo. A cidade então, que é hoje o maior cenário de negócios, se apresenta também como o grande cenário das violências cotidianas, o que nos faz questionar – e lutar – sobre uma ideia, cada vez mais abstrata, de dignidade humana e sua restrição dos direitos humanos apenas para os que são considerados “humanos direitos” (LEITE apud SOLON, 2019).
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Tal discussão acompanha o desenvolver deste trabalho ao passo em que, de maneira extremamente atual, nos apresenta a região como um potencial espaço de experimentação e discussão sobre a atuação coletiva, a partir de redes de solidariedade e resistência, frente a tal cenário devastadoramente genocida, provedor de violações de direitos humanos e de políticas de morte.
Através então da compreensão das dinâmicas reais, aposta-se na construção de um projeto-ação como instrumento de transformação e emancipação, e na produção de um debate sobre a importância do espaço territorial como ferramenta de tensão das políticas públicas ineptas.
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Fig. 20 - Conversa com os coletivos no Teatro de Cointêiner
Fig. 21 - Ato da CIA Mungunzá na Praça das Artes | Imagem autoral
PRIMEIRA APROXIMAÇÃO
No dia 17 de fevereiro de 2022 foi realizada uma reunião, no local do Teatro, com participação de Aluízio Marino (Labcidade), Ananda (Birico Arte), Antonio Fabiano (Mackenzie), Átila (Birico Arte), Gabriela Papi (Mackenzie) e Marcos (CIA Mungunzá de Teatro).
A primeira aproximação ocorreu tanto a partir da visita ao prédio que, antigamente, funcionada como um hotel e hoje se encontra em desuso, quanto com a dinâmica de funcionamento do espaço ocupado hoje pela Companhia. O Teatro de Contêiner Mungunzá, como já adianta o nome, se compõe em uma estrutura formada por 10 contêineres marítimos, que articulam entre si o palco, espaço para plateia, bilheteria, sanitários, lanchonete, camarins e áreas técnicas. Na área externa da quadra encontram-se demais estruturas, também de contêiner, que foram constituídas após algum tempo de ocupação. Em complemento às atividades do Teatro, então, existe, de um lado, um conjunto composto por uma sala multiuso no térreo, e acima, um estúdio musical e audiovisual acima, que abriga reuniões e atividades de grupos diversos de artistas, ativistas,
educadores, assistência social, saúde e movimentos de moradia da região – nossa primeira conversa foi realizada neste espaço. Do outro lado, adentrando a quadra do Teatro e em proximidade com o edifício citado, encontra-se mais 1 contêiner ocupado pelo Birico Arte, um coletivo artístico e escola gráfica, e mais 2 contêineres ocupados pelo coletivo Tem Sentimento, ateliê de costura formado por mulheres cis e trans.
O contexto de enfrentamento da pandemia no Brasil e no mundo, levou ao isolamento social e ao fechamento das atividades comerciais e culturais. Vimos um cenário de desempregos, de remoções de famílias de seus lares, e do aumento de pessoas passando fome. Um cenário de enlarguecimento das desigualdades sociais, principalmente em regiões de grande vulnerabilidade social como a Santa Ifigênia e o Campos Elíseos. Foi nesse momento que vimos também importantes respostas sendo construídas e articuladas em direção a uma sobrevida digna. Buscando reduzir e minimizar danos causados pela situação
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Fig. 22 - espaço externo do teatro Imagem autoral
da covid-19, o Teatro de Contêiner Mungunzá articulou uma rede de fortalecimento aos coletivos e trabalhadores da região. É nesse momento que o grupo expande os espaços citados acima, abrigando as atividades da costura e da arte, e incorporando não somente um suporte emergencial e solidário para redução e minimização de danos, como também a geração de renda, autonomia e emancipação para estas mulheres e artistas. Dentro então da lógica de uma política outra e de uma economia colaborativa e solidária, foram confeccionadas máscaras e foram distribuídas refeições, cestas básicas e kits de higiene para a população em situação de rua e moradores do bairro.
Visando ampliar e valorizar esta lógica de uma micropolítica que se molda em torno do coletivo e que busca a desburocratização do acesso à arte e à educação, através da possibilidade de ocupação dos espaços ociosos do edifício em desuso ao lado do Teatro, é que se constitui a pauta da nossa primeira reunião.
FÓRUM MUNDARÉU DA LUZ
Após essa conversa, fizemos uma reunião com o Fórum Mundaréu da Luz, em 22 de fevereiro de 2022, via zoom. Estiveram presentes membros do poder público, coletivos artísticos, companhias de teatro, instituições de ensino e pesquisadores do fórum.
Esta reunião colocou em pauta a iniciativa do projeto e possibilidade de ocupação artística como um primeiro ponto de reverberação de uma ação de resistência na região. Foi levantada a importância do reconhecimento dos limites e possibilidades territoriais, de maneira que poderíamos a partir disso elencar diretrizes organizadoras que abraçassem, sem negar, o território, reconhecendo sua fluidez e articulando questões habitacionais, culturais e de redução de danos.
A primeira questão colocada foi o desenrolar burocrático do edifício em relação à Prefeitura, visto que ele foi desapropriado durante o projeto Nova Luz e existe a possibilidade de seus documentos terem sido extraviados. O que se sabia então, até esse momento, era apenas que as fachadas do edifício foram tombadas.
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Fig. 23 - Horta hidropônica do teatro | Imagem autoral
Fig. 24 - Protesto contra a ação policial na Praça Princesa Isabel
Fig. 25 - Protesto contra a ação policial na Praça Princesa Isabel
Outra questão discutida, apresentada pelo Instituto Luz do Faroeste, foi o avanço na fome na região e a possibilidade de projeto para uma cozinha coletiva, como uma política acolhimento à população vulnerável do bairro.
Ano passado vimos, em um mesmo momento, o número de bilionários e de pessoas passando fome aumentar. Dados de vida que, hoje, revelam cerca de 3 a cada 10 pessoas no Brasil convivendo com algum tipo de insegurança alimentar, e 15,4 milhões de pessoas passando fome, segundo relatório das Nações Unidas (Insegurança alimentar afeta 61 milhões no Brasil, diz ONU – Folha de São Paulo, julho de 2022).
A partir de então, dividimos, dentro do Fórum, 3 grandes frentes de atuação: (i) trâmites burocráticos; (ii) recursos financeiros; e (iii) possibilidade de projeto para ocupação do edifício. É nesta terceira frente que iniciamos, a partir do Mosaico, a nossa experimentação.
Voltamos a nos encontrar com o Fórum em dia 21 de junho de 2022, no espaço do Teatro. Estiveram presentes moradores do bairro, membros dos coletivos locais, do poder público, da comissão de direitos humanos, instituições de ensino e pesquisadores.
No dia 15 de maio foi mobilizado um ato em que centenas de pessoas se reuniram em protesto contra a violência das ações policiais com a população vulnerável da região conhecida como Cracolândia. O ato de denúncia foi organizado pelo movimento Craco Resiste, que denuncia e resiste à ação violenta da polícia e à “campanha de terror”
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estabelecida pela prefeitura de São Paulo desde 2016 (Ato em São Paulo pede o fim da violência policial na Cracolândia – Brasil de Fato, maio de 2022). A conversa começou através do resgate deste ato, em torno da pauta da necessidade de mobilizar uma nova estratégia comunicacional para enfrentamento dos desafios atuais na região.
“Vão passar o rolo compressor e a gente vai continuar gritando”, disse um dos moradores no bairro e usuário, logo no início da conversa, reiterando em seguida a importância da questão racial dentro do massacre relatado. Em dezembro de 2019, um estudo da Unifesp traçou o perfil de quem vive na região em situação de uso do crack, chegando à estatística de que 76,8% são negros ou pardos.
Foram levantadas questões como a capacidade do Estado de tomar o território e em contrapartida, a urgente necessidade de potencializar as frentes ligadas à redução de danos através da arte e da cultura na região, como de fortalecer o debate sobre direito à cidade, melhoria habitacional e o acesso a infraestruturas básicas. É como se a cidade fosse um verdadeiro tabuleiro, em que a militarização avança de um lado, o mercado imobiliário do outro, e o que nos resta é a urgente necessidade de criar um curto-circuito neste embate de políticas protofascistas e higienistas.
Sob a luz de uma contra-narrativa então, são levantadas hipóteses de resistência, em que se destacam: (i) o registro audiovisual da repressão pelas ações violentas da polícia militar e da guarda civil municipal contra usuários e pessoas em situação de rua; (ii) a ocupação das ruas em ações coletivas, mobilizando a presença de mais ativistas e moradores nas audiências públicas, de maneira que exista uma escuta real sobre o território, contornando manobras desleais de uma política sem ética em curso; (iii) o desenvolvimento de uma agenda de políticas públicas para as novas candidaturas, com estratégias mais humanas de atuação na região; e (iv) a cartografia dos principais parceiros territoriais, ou seja, principais ruas, esquinas e pontos de apoio no território que poderiam dar suporte aos registros audiovisuais, dentre os quais destacaram o Bar da Nice e o Teatro Faroeste.
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ENCONTROS MOSAICO
Entre abril e novembro de 2022 foram realizadas reuniões, praticamente semanais, com a participação de Antonio Fabiano, professor do Mackenzie, e com as alunas e alunos Gabriela Papi, Isabela Do Val, Joel Lucas e Rafael Trigo. As reuniões foram intercaladas entre momentos de debate e projetação do grupo, que aconteciam no Mackenzie, e entre construções coletivas com os coletivos e moradores do bairro, que aconteciam no Teatro.
Em torno da ideia de um projeto-ação que aproximasse a pauta colocada de uma atuação no território, começamos a desenvolver desenhos e debater intenções, derivas e desejos. Dentre elas surgiram questões sobre a produção dos espaços e, dentro de uma cidade financeirizada, quais seriam os espaços que nos interessariam. Atrelado a isso, levantamos tanto uma hipótese de distribuição de programa, como também de metodologia de intervenção no espaço. Em sintonia com a lógica de ocupação dos movimentos de moradia, elencamos cinco diretrizes essenciais para garantir uma segurança de adentramento do edifício: (i) providenciar guardacorpos para a escada, de maneira a garantir uma segurança mínima para acesso aos pavimentos superiores; (ii) fechamento das janelas com uma vedação adequada, também visando uma segurança de circulação entre diferentes níveis, visto que esta se encontram ao lado da escada; (iii) manutenção e revestimento dos pisos da escada; (iv) instalação de rede elétrica; e (v) instalação de rede hidráulica.
Em paralelo, foram levantadas ações transversais que já começam a ser feitas durante os períodos contínuos de discussão, a fim de potencializar a ocupação do edifício e inclusive levantar recursos financeiros, como (i) a limpeza dos ambientes, (ii) ocupação visual através de colagens e lambes, demonstrando uma intenção e início do uso dos espaços pelos coletivos artísticos; (iii) instalação de guarda-corpo nas escadas até o segundo pavimento, desenvolvido por uma serralheria local e instalada no térreo no próprio edifício (já finalizado); (iv) uma vaquinha virtual para arrecadação de recursos e continuidade da instalação do guarda-corpo até o último pavimento (já finalizado).
Novas ações começam a ser delineadas, como: (i) a organização de “eventos-mutirão”, que podem ocorrer no espaço do Teatro, movimentando pessoas, para a arrecadação de recursos;
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(iii) desenvolvimento de oficinas, conversas coletivas e/ou aulas públicas, em parceria com instituições, como o Sesc Bom Retiro; e (iii) o estudo e mapeamento de materiais descartados no bairro como uma possibilidade de reuso em uma ação projetual.
Grupos de atuações foram feitos: mutirões de limpeza, produção de reparos no prédio, organização para arrecadação de verba, campanhas de conscientização, peças gráficas e audiovisuais de denúncias de violência na área e eventos para fortalecimento de comércio e eventos locais.
No caso do Mosaico, os encontros têm como propósito desenvolver o projeto arquitetônico de ocupação do prédio.
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Fig.
26 - Diagrama de parceiros
Fig. 27 - VIsita Mosaico | Imagem autoral
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Fig. 28 - Diagrama de diretrizes Mosaico
Fig. 29 - Lambes do coletivo Birico | Imagem autoral
DESEJOS E DERIVAS OCUPAÇÃO
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As ações apresentadas anteriormente – entre possibilidades de atuações independentes e as de caráter coletivo – visam cruzar forças, criar relações de cooperação, reconhecimento e apoio entre os envolvidos. Sobre as hipóteses de programa, as discussões do Mosaico sempre propuseram uma lógica de construção quanto de distribuição espacial participativa e coletiva, ou seja, articulando entre si espaços de uso coletivo e de habitações, entendendo suas especificidades, mas garantindo um pacto social em torno de um denominador comum.
Dentre estas dinâmicas de desejo e possibilidades de apropriação dos espaços, foram levantadas referências que, através de seu programa, possibilitam uma certa experiência urbana voltada para uma “produção de cultura”, como o Sesc Pompeia, de Lina Bo Bardi.
A oportunidade de desenvolver um projeto extensionista - que incorporasse tais ações, levantamentos e encaminhamentos que
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Fig. 30 - Vista
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aconteciam de maneira paralela no Escritório Modelo - foi marcada por um processo inquietante, no qual foi necessário reconhecer uma certa disparidade entre o tempo real em que os processos aconteceram no território e o tempo acadêmico. De um lado, o desejo de desenvolver um projeto que pudesse de fato ser construído naquele espaço, do outro, a deriva por uma certa utopia, que permitia maior liberdade nos desenhos.
Dentre tantos questionamentos, dúvidas e inconstâncias, o projeto buscou incorporar uma relação que respeitasse os modos de vida já existentes, articulando a produção de uma mão de obra local, com materiais de baixo custo e de fácil acesso na indústria, repensando as relações urbanas entre o espaço cultural público e a cidade. A partir disso, serão apresentados 3 eixos estruturantes do projeto, bem como as respectivas referências que auxiliaram na condução dos desenhos: (i) o ofício, o tempo livre e a moradia; (ii) artífices e (iii) a poética da luz.
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01. entrada do teatro 02. área de espetáculos 03. sanitários 04. lanchonete 05. marcenaria e serralheria 06. pintura 07. ateliê de costura 08. ateliê de artes gráficas 09. vendas e exposições 10. horta coletiva 11. playground 12. varanda 13. camarins 14. sanitários 15. oficinas e cursos 16. terraço 17. estúdio de música 18. cozinha coletiva 19. lavanderia coletiva 20. refeitório 21. biblioteca | trabalho 22. multiuso | reunião 23. ateliê compartilhado 24. residência | 2 a 4 pessoas 25. residência | 2 pessoas 26. residência | 3 a 4 pessoas 27. solário | lazer
LEGENDA
TÉRRE0 | 0.00 0 2.50 5.00m
09 09 09 07 08 11
09
01 02 03 04 05 06 09
10
Fig. 32 - Sesc Pompeia; Fig. 33Sesc Pompeia; Fig. 34 - Sesc Pompeia; FIg. 35 - CIC do Imigrante
O OFÍCIO, O TEMPO LIVRE E A MORADIA
Com o objetivo de desburocratizar a produção artística, o acesso da população local a ela e firmar parceria com as redes de coletivos e trabalhadores da região, a intervenção propõe uma articulação entre a atividade do teatro e um novo pavilhão, que se distribui entre o térreo como uma grande fábrica de cultura e cenários.
A implantação nasce a partir de um alinhamento com a própria quadra e o teatro, que é ancorado ao projeto através da criação de uma rua interna. Esta se estabelece tanto como um eixo de fruição, como de retroalimentação entre atividades que se complementam, ou seja, é como se, a partir dela, as pessoas que frequentam o teatro se sintam convidadas a conhecer o pavilhão, e vice-versa.
O pavilhão, por sua vez, é composto por oficinas de marcenaria, serralheria, pintura, costura, e artes gráficas – atividades que já são abrigadas atualmente na quadra do teatro pelo Tem Sentimentocoletivo de costura formado por mulheres cis e trans – Birico Arte – coletivo artístico e escola gráfica – e um serviço de serralheria local.
A partir disso, os espaços se articulam ora entre a própria oficina de trabalho, ora entre eixos de fruição internos, que funcionam como espaços livres voltados para eventuais exposições e vendas de produtos fabricados no local. Em alguns trechos deste pavilhão, onde as oficinas permitem um pé direito mais baixo, é projetado um mezanino, que prevê a ampliação do espaço para áreas de ensino, onde seria possível fomentar cursos relacionados às atividades de produção citadas.
Nos demais trechos, as paredes são mais baixas, e se compõe como pequenos e grandes casulos, dependendo do uso, dentro do grande galpão.
Além dos espaços do ofício que se concentram no térreo, o projeto prevê a ocupação do edifício antigo como uma ocupação artística, com o objetivo de oferecer espaços de moradia temporária para trabalhadores, coletivos e grupos artísticos.
A circulação vertical no edifício é prevista a partir da manutenção da escada existente - com anexação de guarda-corpo e reforma dos pisos - e do acoplamento de um elevador, para circulações gerais e de acessibilidade.
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Referências
USOS CIRCULAÇÃO HORIZONTAL FRUIÇÃO
TEMPO LIVRE
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TEMPO LIVRE
MORADIA OFÍCIO TEATRO ESCADA ELEVADOR
01. entrada do teatro 02. área de espetáculos 03. sanitários 04. lanchonete 05. marcenaria e serralheria 06. pintura 07. ateliê de costura 08. ateliê de artes gráficas 09. vendas e exposições 10. horta coletiva 11. playground 12. varanda 13. camarins 14. sanitários 15. oficinas e cursos 16. terraço 17. estúdio de música 18. cozinha coletiva 19. lavanderia coletiva 20. refeitório 21. biblioteca | trabalho 22. multiuso | reunião 23. ateliê compartilhado 24. residência | 2 a 4 pessoas 25. residência | 2 pessoas 26. residência | 3 a 4 pessoas 27. solário | lazer
LEGENDA
MEZANINO | +2.60 0 2.50 5.00m 15
12 14 13 15
A
01. entrada do teatro
área de espetáculos
sanitários
lanchonete
marcenaria e serralheria
pintura
ateliê de costura
ateliê de artes gráficas
vendas e exposições
horta coletiva
playground
varanda
camarins
sanitários
oficinas e cursos
terraço
estúdio de música
cozinha coletiva
lavanderia coletiva
refeitório
biblioteca | trabalho
multiuso | reunião
ateliê compartilhado
residência | 2 a 4 pessoas
residência | 2 pessoas
residência | 3 a 4 pessoas
| lazer
As unidades habitacionais se compõem de maneira diversificada, onde podem ser ocupadas por uma, duas, três e/ou quatro pessoas - se compostas por beliches - somando no total 12 unidades que se distribuem em 3 pavimentos.
Visando uma reconstrução do espaço do encontro e do espaço comum, as moradias contam com o apoio de um sanitário por unidade e os demais espaços são propostos com o uso compartilhado, entre o primeiro e o segundo pavimento. Neles se encontram uma cozinha e lavanderia coletiva, e os demais espaços de lazer e convívio – uma pequena biblioteca para estudo/trabalho, uma área multiuso para eventuais reuniões/conversas, um estúdio de gravação e música, um ateliê compartilhado, mas com caráter íntimo que os ateliês do térreo.
É interessante notar que a cobertura do pavilhão se estende no primeiro pavimento como um grande terraço que cruza o edifício e extrapola os seus dois lados, conectando a quadra como um todo.
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27. solário
CORTE
09 09 16 15 07 15 08
Este elemento, além de estabelecer uma forte relação de conexão entre o velho e o novo, também revela uma intençao de, como dizia Paulo Mendes da Rocha, amparar a imprevisibilidade da vida.
É um espaço onde as relações do cotidiano acontecem, onde se estabelece uma relação visual direta com a rua. Pensando nisso, este espaço pode ancorar desde um uso local quanto também um uso mais amplo, se abrindo para a cidade. Ou seja, pode funcionar como uma praça elevada de uso público; um grande espaço de festa; pode fomentar eventos abertos, como os almoços da Ocupação 9 de Julho, e eventos culturais; pode funcionar como espaço de diálogo, rodas de conversa, e atividades educacionais; e pode, inclusive, se articular às atividades e espetáculos do próprio teatro, funcionando como uma grande arena ao ar livre.
A ideia é que, a partir de princípios de uma economia solidária e criativa, a criação deste e dos demais espaços do projeto, seja capaz de trazer autonomia, geração de renda em uma escala micro, cultura e educação para a população do bairro.
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27 24 24 24 21 09 16 15 05 09 06
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01. entrada do teatro 02. área de espetáculos 03. sanitários 04. lanchonete 05. marcenaria e serralheria 06. pintura 07. ateliê de costura 08. ateliê de artes gráficas 09. vendas e exposições 10. horta coletiva 11. playground 12. varanda 13. camarins 14. sanitários 15. oficinas e cursos 16. terraço 17. estúdio de música 18. cozinha coletiva 19. lavanderia coletiva 20. refeitório 21. biblioteca | trabalho 22. multiuso | reunião 23. ateliê compartilhado 24. residência | 2 a 4 pessoas 25. residência | 2 pessoas 26. residência | 3 a 4 pessoas 27. solário | lazer
LEGENDA
1 PAVIMENTO | +4.80 0 2.50 5.00m 16 17 20
16 18 19
01. entrada do teatro 02. área de espetáculos 03. sanitários 04. lanchonete 05. marcenaria e serralheria 06. pintura 07. ateliê de costura 08. ateliê de artes gráficas 09. vendas e exposições 10. horta coletiva 11. playground 12. varanda 13. camarins 14. sanitários 15. oficinas e cursos 16. terraço 17. estúdio de música 18. cozinha coletiva 19. lavanderia coletiva 20. refeitório 21. biblioteca | trabalho 22. multiuso | reunião 23. ateliê compartilhado 24. residência | 2 a 4 pessoas 25. residência | 2 pessoas 26. residência | 3 a 4 pessoas 27. solário | lazer
LEGENDA
2 PAVIMENTO | +7.85 0 2.50 5.00m 21 22 23 23
22 12 12
Fig. 44 - VIsita Mosaico | Imagem autoral
CORTE B 01. entrada do teatro 02. área de espetáculos 03. sanitários
lanchonete
marcenaria e serralheria
pintura
ateliê de costura
ateliê de artes gráficas
vendas e exposições
horta coletiva
playground
varanda
camarins
sanitários
oficinas e cursos
terraço
estúdio de música
cozinha coletiva
lavanderia coletiva
refeitório
biblioteca | trabalho
multiuso | reunião
ateliê compartilhado
residência | 2 a 4 pessoas
residência | 2 pessoas
residência | 3 a 4 pessoas
solário | lazer
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ARTÍFICES
Através destes princípios, o projeto é proposto de maneira participativa e horizontal, se aproximando da lógica de ATHIS, na qual, a partir das aproximações com o território, foi possível entender suas demandas e operações reais. As redes de suporte, solidariedade e resistência que se articulam ali buscam esfumaçar o muro entre a arte a e a vida, através de um novo modus operandi, que se revela na nova intervenção através da minimização das relações excludentes do edifício com a cidade e da proposta de uma abertura e conexão do projeto com a rua.
A partir de referências que, de maneira muito inspiradora, respeitam realidades e materialidades locais, com senso de economia e ao mesmo tempo conforto, buscando gastar o mínimo para obter o máximo, como dizem Lacaton & Vassal, buscou-se um processo de desenvolvimento que sustentasse uma certa ética de intervenção na conexão do velho edifício e o novo pavilhão proposto. É necessário reconhecer ainda que a arquitetura popular apresentar pouca aceitação nos meios mais formais, e muitas vezes um repertório construtivo limitado aos produtos disponíveis no mercado, como telhas metálicas, painéis de madeira, perfis de aço etc. No entanto, é possível introduzir esses elementos em um novo contexto atribuindo significados e configurações inusitadas e instigantes (ANDRADE; MORETTIN, 2016).
A partir então dessas premissas, foram desenhados painéis compostos por serralherias e encaixes simples, que, assim como os guarda-corpos instalados na escada, poderiam ser executados por um serralheiro local. Dentro da ideia e do cuidado de garantir uma porosidade, ou seja, misturar o que “está dentro” com o que “está fora”, esses painéis são compostos ainda por uma telha metálica trapezoidal perfurada. Além de permitir a entrada de luz e ventilação natural, este tipo de telha cria uma relação com a materialidade do próprio teatro, que é composto pelas telhas metálicas do container.
Os painéis se distribuem tanto pelo térreo quanto pelos demais pavimentos do edifício. No primeiro caso, são instalados de maneira pivotante, permitindo aberturas e cruzamentos entre a rua e o pavilhão, e, quando necessário, podem ser fechados, mas ainda permitindo uma relação visual. Nos demais pavimentos, são articulados a varandas metálicas, também desenhadas com perfis metálicos leves, presumindo fácil execução e anexação ao edifício.
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Referências
Fig. 45 - Guarda-corpo; Fig. 46Eco Farm; Fig. 47 - SEBRAE Brasília; FIg. 48 - Teatro de Contêiner
VARANDAS
STEEL DECK
PILARES E VIGAS METÁLICOS INSOLAÇÃO
ESTRUTURA COBOGÓ
BRISES
PIVOTANTES
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Fig. 52 - Serralheiro do teatro | Imagem autoral
ADIÇÃO
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3 2 4 5
DEMOLIÇÃO 1. elemento vazado 2. esquadrias 3. varanda metálica 4. perfil metálico 5. telha perfurada 1
Fig. 55 - Painel pivotante; Fig. 56Parque Guingle; Fig. 57 - Cobogó FIg. 58 - Universidade Bordeaux
A POÉTICA DA LUZ
A ideia de fazer uma intervenção no edifício através de um retrofit sempre buscou que, de alguma maneira, sua identidade histórica e estrutural também fosse mantida. A partir disso, surge a ideia de manter o esqueleto de concreto que compõe as lajes, pilares e vigas, as duas fachadas laterais - que são tombadas - e de vazar as demais paredes, que hoje configuram grandes empenas cegas.
Assim, o vazio criado ganha uma nova dimensão com inúmeras possibilidades de intervenção. A partir do objetivo de permitir maior entrada de luz e de ventilação natural nos espaços internos, estes vazios ganham uma composição a partir do desenho de elementos metálicos que, de maneira leve, se encaixam e demarcam visualmente a pré-existência e a nova intervenção.
Analisando a insolação incidente, optou-se pela utilização de um cobogó na fachada sul, que recebe iluminação indireta e abriga as circulações horizontais em todos os pavimentos. Já na fachada norte, as varandas metálicas são articuladas à anexação dos mesmos painéis em telha trapezoidal perfurada que se distribuem pelo térreo, mas, nesse caso, eles compõem brises de correr. A ideia destes painéis nos pavimentos superiores é que, de maneira dinâmica, possibilitem um filtro da entrada de luz, mas que ainda sim garantam uma translucidez.
Ao lado, são explorados ensaios sobre a entrada de luz em dois ambientes: primeiro, em um espaço de moradia, voltado para a fachada norte; no segundo caso, uma área de oficina, localizada no térreo, com entrada de luz pelas fachadas leste e oeste. Em ambos os casos são analisados dois horários do dia, em diversos períodos do ano.
No caso dos painéis que se distribuem no pavimento térreo, vale ressaltar que, além da fachada, foram acoplados painéis internos, alinhados às paredes rebaixadas que compõe os espaços de ofício, ateliês e oficinas. Pensando em questões de privacidade e de conforto térmico para esses espaços de trabalho, os painéis neste caso são recebem um fechamento com placas de MDF, que retém melhor a entrada de calor.
Assim, os casulos podem ser abertos para a rua ou fechados, por exemplo, em dias frios ou em momentos que se necessite de espaços mais íntimos.
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Referências
21.03 - 09h 21.03 - 15h 21.06 - 09h 21.06 - 15h 23.09 - 09h 23.09 - 15h 21.12 - 09h 21.12 - 15h
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Fig. 67 - Aberturas existentes | Imagem autoral
21.03 - 09h 21.03 - 15h 21.06 - 09h 21.06 - 15h 23.09 - 09h 23.09 - 15h 21.12 - 09h 21.12 - 15h
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01. entrada do teatro 02. área de espetáculos 03. sanitários 04. lanchonete 05. marcenaria e serralheria 06. pintura 07. ateliê de costura 08. ateliê de artes gráficas 09. vendas e exposições 10. horta coletiva 11. playground 12. varanda 13. camarins 14. sanitários 15. oficinas e cursos 16. terraço 17. estúdio de música 18. cozinha coletiva 19. lavanderia coletiva 20. refeitório 21. biblioteca | trabalho 22. multiuso | reunião 23. ateliê compartilhado 24. residência | 2 a 4 pessoas 25. residência | 2 pessoas 26. residência | 3 a 4 pessoas 27. solário | lazer PLANTA
LEGENDA
0 2.50 5.00m 24 24 26
TIPO | 3 PAV. +10.95 | 4 PAV. +14.10 | 5 PAV. +17.30
26 25 12 12 12 12
01. entrada do teatro 02. área de espetáculos 03. sanitários 04. lanchonete 05. marcenaria e serralheria 06. pintura 07. ateliê de costura 08. ateliê de artes gráficas 09. vendas e exposições 10. horta coletiva 11. playground 12. varanda 13. camarins 14. sanitários 15. oficinas e cursos 16. terraço 17. estúdio de música 18. cozinha coletiva 19. lavanderia coletiva 20. refeitório 21. biblioteca | trabalho 22. multiuso | reunião 23. ateliê compartilhado 24. residência | 2 a 4 pessoas 25. residência | 2 pessoas 26. residência | 3 a 4 pessoas 27. solário | lazer
LEGENDA
COBERTURA | +20.55 0 2.50 5.00m 27 27
Fig. 79 - VIsita Mosaico | Imagem autoral
CORTE C
entrada do teatro
área de espetáculos
sanitários
lanchonete
marcenaria e serralheria
pintura
ateliê de costura
ateliê de artes gráficas
vendas e exposições
horta coletiva
oficinas e cursos
estúdio de música
cozinha coletiva
lavanderia coletiva
ateliê compartilhado
residência | 2 a 4 pessoas
residência | 2 pessoas
residência | 3 a 4 pessoas
solário | lazer
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playground
varanda
camarins
sanitários
terraço
20. refeitório 21. biblioteca | trabalho 22. multiuso | reunião
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Fig. 81 - VIsita Mosaico | Imagem autoral
ELEVAÇÃO NORTE
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DETALHE 01 02 03 05 04 06 07 07 07 08 09
LEGENDA
01. estrutura metálica 02. guarda corpo metálico 03. grid metálico 30x30cm 04. peril IW metálico 10x10cm 05. tirante em aço 06. viga de concreto 07. tubo de alumínio seção quadrada 50mm 08. painel de correr em telha de aço trapezoidal perfurada 09. trilho de correr fixado no brise 10. painel pivotante em MDF 11. painel fixo em telha de aço trapezoidal perfurada 12. painel pivotante em telha de aço trapezoidal perfurada 13. alvenaria 14. viga metálica 15x15cm 15. painel wall 16. pilar metálico 15x15cm 17. escada metálica 18. fundação 19. trilho painéis pivotantes 20. contrapiso em concreto 21. imperbeabilização
21 15 19 16 15 14 13 12 11 10 17 18 20 19
Fig. 40 - Headmark Museum
ELEVAÇÃO SUL
A cobertura do pavilhão cria uma relação interessante com a arquitetura existente, de maneira que, como nas referências, ela se apresenta como um novo elemento que atravessa o edifício antigo mas sem encostar diretamente nele. Ou seja, a partir do detalhe anterior, nota-se que o encontro entre as lajes é desalinhado, de maneira que a passarela é levemente elevada e sobreposta à laje de concreto do primeiro pavimento.
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Fig. 41 - Mandacaru Lina Fig. 42 - Sesc Pompeia
05 A LUTA CONTINUA CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fig. 84 - VIsita Mosaico | Imagem autoral
As aproximações deste trabalho e o encerramento deste ciclo me trouxeram inúmeras lembranças sobre os enfrentamentos e crises que eu tinha em relação à escolha da minha atuação profissional. Os sentimentos do mundo sempre me tocaram e, de alguma maneira, dentre as minhas questões mais íntimas, algo também clamava para que eu pudesse retornar os meus privilégios para um mundo que enfrenta diariamente diversos colapsos sociais. Estes questionamentos então sempre me acompanharam ao longo de toda a jornada acadêmica e, ao longo desse ano, me deparei com a seguinte indagação da arquiteta Raquel Rolnik sobre “o que os pensadores acadêmicos podem fazer para diminuir a distância entre o pensamento crítico e a ação transformadora?”
De uma maneira acolhedora e enérgica, me ocorreram mais lembranças sobre as diversas oportunidades que tive, ora através dos grupos de extensão, de pesquisa, do coletivo feminista, dos encontros estudantis, ora do próprio Mosaico, de me conectar com enfrentamentos reais de mundo, enfrentamentos da vida cotidiana, que se engajam em outras bases pautadas na solidariedade, na horizontalidade, na coletividade, e no comum.
A partir disso, as exposições deste trabalho, que já se encontrava em curso, reafirmaram para mim dois grandes sentidos: a possibilidade de relatar uma experiência prática em que a arquitetura pulsa como um instrumento de transformação, contra a lógica da mercantilização da vida e dos projetos hegemônicos; uma a arquitetura que investiga vivências urbanas que lutam pela reformulação de uma outra ordem socioespacial, em busca da construção coletiva, capaz de gerar pressão e tensão diante da imposição de políticas públicas, muitas vezes, conturbadas; uma arquitetura que, quando articulada de maneira propositiva aos territórios e aos atores sociais, é capaz de manifestar a importância da projetação espacial e se apresentar de maneira consistente como insumo para outras lutas, dissolvendo as fronteiras entre o ativismo e a academia.
Por outro lado, vi também uma oportunidade para que, de maneira muito pessoal, fosse constituída e reiterada uma postura de vida em que o meu próprio horizonte e os meus próprios sonhos não se deixassem ser perdidos ou cooptados diante de um mundo que também, muitas vezes, nos faz desacreditar. Quando pensamos na possibilidade de um futuro alternativo, Ailton Krenak (2020) nos atenta que teremos que estar reconfigurados para poder circular e habitar esse mundo, de maneira que se conseguirmos encarar isso, o que vivemos hoje não será apenas uma crise, mas uma esperança fantástica e promissora. Assim, encaro este trabalho e este momento de vida não como um encerramento, mas como uma verdadeira continuidade de uma luz de esperança que insurge entre tantos atos de (r)existências.
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LISTA DE FIGURAS
Fig. 01 - Flor de mancacaru | Produção autoral p. 01
Fig. 02 - Elevação leste | Produção autoral p. 16-17
Fig. 03 - Implantação urbana | Produção autoral p. 18-19
Fig. 04 - Cinema Marginal - desconhecido | Disponível em http://www. artecines.com.br/cinema-marginal-e-a-boca-do-lixo-movimentoscinematograficos-002/ p. 25
Fig. 05 - Estação da Luz - desconhecido | Disponível em https://histormundi. blogspot.com/2016/01/imagens-historicas-19-estacao-da-luz.html p. 26
Fig. 06 - Planos da Luz - Guilherme Petrella | Disponível na tese A fronteira infernal da renovação urbana em São Paulo: região da Luz no século XXI. 2017. - p. 28
Fig. 07 - Início das demolições na luz. Ao centro, edifício tombado que permanece. 26 de outubro de 2007 - desconhecido | Disponível na tese Processos de intervenção urbana: bairro da Luz, São Paulo. 2010. - p. 29
Fig. 08 - Situação anterior às demolições. julho de 2006 - Márcio Coelho | Disponível na tese Processos de intervenção urbana: bairro da Luz, São Paulo. 2010. - p. 30
Fig. 09 - Situação posterior às demolições. fevereiro de 2010 - Márcio Coelho | Disponível na tese Processos de intervenção urbana: bairro da Luz, São Paulo. 2010. - p. 30
Fig. 10 -Situação anterior às demolições. julho de 2006 - Márcio Coelho | Disponível na tese Processos de intervenção urbana: bairro da Luz, São Paulo. 2010. - p. 31
Fig. 11 - Situação anterior às demolições. fevereiro de 2010 - Márcio Coelho | Disponível na tese Processos de intervenção urbana: bairro da Luz, São Paulo. 2010. - p. 31
Fig. 12 - Policial aborda frequentador da cracolândia na rua Helvétia, centro de SP. 27 de maio de 2022 - Danilo Verpa | Disponível em https://www1. folha.uol.com.br/cotidiano/2022/05/policia-civil-deflagra-nova-operacao-nacracolandia.shtml
Fig. 13 - Mapa com perímetros da legislação urbana x avanço das ações de remoção. base Geosampa | Produçao autoral p. 34
Fig. 14 - Ocupação x PPP. setembro de 2022 | Imagem autoral p. 36
Fig. 15 - PPP Hospital Pérola Byington - desconhecido | Disponível em https:// mundareudaluz.wordpress.com/
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Fig. 16 - Diagramas elaborados para o projeto Campos Elíseos Vivo. 2018Fórum Mundaréu da Luz | Disponível em https://polis.org.br/publicacoes/ campos-eliseos-vivo-resumo-executivo/
Fig. 17 - Croqui elaborado para o projeto Campos Elíseos Vivo. 2018 - Fórum Mundaréu da Luz | Disponível em https://polis.org.br/publicacoes/camposeliseos-vivo-resumo-executivo/
Fig. 18 - Atividade em conjunto com a população do bairro durante o projeto Campos Elíseos VIvo. 2018 - Fórum Mundaréu da Luz | Disponível em https:// polis.org.br/publicacoes/campos-eliseos-vivo-resumo-executivo/
Fig. 19 - Visita do Mosaico ao prédio da ocupação. setembro de 2022 | Imagem autoral p. 44
Fig. 20 - Conversa com os coletivos no espaço do Teatro de Contêiner. junho 2022 - Aluízio Marino | p.46
Fig. 21 - Ato da CIA Mungunzá na Praça das Artes . outubro de 2022 | Imagem autoral p. 47
Fig. 22 - Playground / Espaço externo do teatro. setembro de 2022 | Imagem autoral p. 48
Fig. 23 - Horta hidropônica do teatro. setembro de 2022 | Imagem autoral p. 49
Fig. 24 - Protesto contra ação policial na praça Princesa Isabel. maio de 2022 - desconhecido. | Disponível em @cracoresiste p. 50
Fig. 25 - Protesto contra ação policial na praça Princesa Isabel. novembro de 2022 - desconhecido | Disponível em @cracoresiste p. 51
Fig. 26 - Diagrama de parceiros (extra)territoriais desenvolvido para o Mosaico | Produção autoral p. 53
Fig. 27 - Corredor com instalçao de lambes pelo coletivo Birico Arte. setembro de 2022 | Imagem autoral p. 55
Fig. 28 - Diagrama de diretrizes elaborado pelo Mosaico. junho de 2022Aluizio Marino | p. 55
Fig. 29 - Lambes espalhados pelas paredes do edifício como símbolo de ocupação visual. setembro de 2022 | Imagem autoral p. 56-57
Fig. 30 - Vista 1 | Produção autoral p. 60-61
Fig. 31 - Planta do térreo | Produção autoral p. 62-63
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Fig. 32 - Rua Sesc Pompéia - desconhecido | Disponível em https://portal. sescsp.org.br/ p. 64
Fig. 33 - Ateliês e oficinas Sesc Pompéia. julho de 2013 - Marco Antônio | Disponível em https://portal.sescsp.org.br/ p. 64
Fig. 34 - Biblioteca Sesc Pompéia. julho de 2022 | Imagem autoral p. 64
Fig. 35 - Diagrama de usos | Produção autoral p. 65
Fig. 36 - Diagrama de circulação | Produção autoral p. 65
Fig. 37 - Croqui | Produção autoral p. 66-67
Fig. 38 - Planta do mezanino | Produção autoral p. 66-67
Fig. 39 - Corte A | Produção autoral p. 68-69
Fig. 40 - Diagrama explodido sobre possibilidades de usos do térreo e do mezanino | Produção autoral p. 72-73
Fig. 41 - Planta do 1 pavimento | Produção autoral p. 74-75
Fig. 42 - Planta do 2 pavimento | Produção autoral p. 76-77
Fig. 43 - Escada e instalação do guarda-corpo. setembro de 2022 | Imagem autoral p. 78
Fig. 44 - Corte B | Produlçao autoral p. 79
FIg. 45 - Guarda-corpo instalado até o útimo pavimento do edifício. setembro de 2022 | Imagem autoral p. 80
Fig. 46 - Eco Farm Visitor Center - Shengliang Su | Disponível em https:// divisare.com/projects/265945-vector-architects-eco-farm-series-visitorcenter p. 80
Fig. 47 - SEBRAE Brasília - Nelson Kon | Disponível em https://www.archdaily. com.br/br/01-402/sede-do-sebrae-gruposp p. 80
Fig. 48 - Telhas do Teatro de Contêiner. setembro de 2022 | Imagem autoral p. 90
Fig. 49 - Diagrama de estrutura | Produção autoral p. 81
Fig. 50 - Diagrama de insolação | Produção autoral p. 81
Fig. 51 - Croqui | Produção autoral p. 82-83
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Fig. 52 - Serralheiro trabalhando no edifício ocupado. setembro de 2022 | Imagem autoral p. 84
Fig, 53 - Diagrama de demolição | Produção autoral p. 85
Fig. 54 - Diagrama de adição | Produção autoral p. 85
Fig. 55 - Painel pivotante - Maíra Acayaba | Disponível em https://www. archdaily.com.br/br/01-42224/fotografia-e-arquitetura-maira-acayaba p. 86
Fig. 56 - Cobogós do Parque Guingle - Nelson Kon | http://www.nelsonkon. com.br/parque-guinle/ p. 86
Fig. 57 - Cobogó Lean House Baan Ing Gaya - Teerachai Leesuraplanon | Disponível em https://divisare.com/projects/381637-teerachai-leesuraplanonlean-house-baan-ing-gaya p. 86
Fig. 58 - Universidade de Bordeaux Lacaton & Vassal - desconhecido | Disponível em https://www.subtilitas.site/post/645878236690120704/lacatonvassal-management-sciences-university p. 86
Fig, 59 - Estudo de insolação no dormitório em 21.03 às 9h | Produção autoral p. 87
Fig. 60 - Estudo de insolação no dormitório em 21.03 às 15h | Produção autoral p. 87
Fig. 61 - Estudo de insolação no dormitório em 21.06 às 9h | Produção autoral p. 87
Fig. 62 - Estudo de insolação no dormitório em 21.06 às 15h | Produção autoral p. 87
Fig. 63 - Estudo de insolação no dormitório em 23.09 às 9h | Produção autoral p. 87
Fig. 64 - Estudo de insolação no dormitório em 23.09 às 15h | Produção autoral p. 87
Fig. 65 - Estudo de insolação no dormitório em 21.12 às 9h | Produção autoral p. 87
Fig. 66 - Estudo de insolação no dormitório em 21.12 às 15h | Produção autoral p. 87
Fig. 67 - Aberturas existentes atualmente no prédio ocupado. setembro de 2022 | Imagem autoral p. 88
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Fig, 68 - Estudo de insolação nas oficinas do térreo em 21.03 às 9h | Produção autoral p. 89
Fig, 69 - Estudo de insolação nas oficinas do térreo em 21.03 às 15h | Produção autoral p. 89
Fig, 70 - Estudo de insolação nas oficinas do térreo em 21.06 às 9h | Produção autoral p. 89
Fig, 71 - Estudo de insolação nas oficinas do térreo em 21.06 às 15h | Produção autoral p. 89
Fig, 72 - Estudo de insolação nas oficinas do térreo em 23.09 às 9h | Produção autoral p. 89
Fig, 73 - Estudo de insolação nas oficinas do térreo em 23.09 às 15h | Produção autoral p. 89
Fig, 74 - Estudo de insolação nas oficinas do térreo em 21.12 às 9h | Produção autoral p. 89
Fig, 75 - Estudo de insolação nas oficinas do térreo em 21.12 às 15h | Produção autoral p. 89
Fig. 76 - Croqui | Produção autoral p. 90-91
Fig. 77 - Planta tipo do 3, 4 e 5 pavimentos | Produção autoral p. 92-93
Fig. 78 - Planta da cobertura | Produção autoral p. 94-95
Fig. 79 - Visita de campo do Mosaico ao edifício ocupado - junho de 2022 | Imagem autoral p. 96
Fig. 80 - Corte C | Produção autoral p. 97
Fig. 81 - Visita de campo do Mosaico ao Teatro de Contêiner - setembro de 2022 | Imagem autoral p. 98
Fig. 82 - Elevação norte | Produção autoral p. 99
Fig. 83 - Detalhe ampliado em escala 1:50 | Produção autoral p.100-101
Fig. 84 - Headmark Museum de Sverre Fehn - desconhecido | Disponível em https://www.atlasofplaces.com/architecture/hedmark-museum/ p. 102
Fig. 85 - Elevação Sul | Produção autoral p. 103
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Fig. 86 - Flor de Mandacaru como símbolo de conexão entre as passarelas e o edifício de Lina Bo Bardi, no Sesc Pompeia - André Dorigo | Disponível em https://www.facebook.com/702408533207830/posts/2812084472240215/ p. 103
Fig. 87 - Passarelas encontrando o edifício de Lina Bo Bardi, no Sesc Pompeia - Victor Tsu | Disponível em https://artreview.com/lina-bo-bardi-toreceive-posthumous-golden-lion/ p. 103
Fig. 88 - Visita do Mosaico ao edifício ocupado, escadas, guarda-corpo e lambes colados nas paredes. setembro de 2022 | Imagem autoral p. 106
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