Revista Youth - Youth Magazine

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ILUSTRAÇÃO: NEFOWS Y UTH

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COLUNAS 08 EDITORIAL PROLOGUE

revista

O momento mais bonito da vida é a frase que originou o sentido desse projeto, mas antes de começarmos a falar sobre ele, gostaria de trazer para você caro leitor a indagação “Qual foi o seu momento mais bonito da vida? ou melhor “Qual seria o seu momento mais bonito da vida?” Em um ano no qual travamos mais uma vez o inesperado, trilhar esse caminho ao invisível não foi fácil, não é mesmo? Falo isso para você, mas essa voz ecoa dentro de mim.

10 be EM BUSCA DA

FELICIDADE… ETERNA? O contexto nas novas tecnologias faz com que sejamos acostumados a comparação e a avaliação dentro e fora das redes sociais. Somos comparados e comparamos, avaliados e avaliamos quase que o tempo todo, o que pode influenciar em nossa felicidade. Mas você consegue defini-la? Ela é uma palavra difícil de ser conceituada e dentro da literatura, muitos autores têm diferentes visões do que é de fato.

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12 GEEK HABEMUS NOVA GERAÇÃO

Os próximos dez anos já estão garantidos. Pelo menos no que se trata de consoles. Com a confirmação do lançamento do PlayStation 5 e dos modelos Xbox Series S e Series X para novembro de 2020, uma nova camada de grandes títulos, novas formas de gameplay e de histórias chegam ao mercado. O início de geração costuma ser ligeiramente mais lento, mas as desenvolvedoras e publishers já preparam o terreno.

YO U T H Publisher, Gabrielly Guimel Editor, Gabrielly Guimel Diagramação, Gabrielly Guimel Publicidade, Gabrielly Guimel Revisor, Cibele Buoro

14 fanfic COISAS QUE VOCÊ VAI PRECISAR FAZER, CASO QUEIRA PUBLICAR UM LIVRO

Público alvo: Embora pareça uma coisa óbvia, muitos escritores deixam isso passar despercebido, mas, mais do que ter seu livro numa prateleira ou na versão física você precisa descobrir quem são os seus leitores.


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MAPA D ILLUSTREA YOUTH INDICA: GUUS DESIGN

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Vante

vante o perigo amarelo nos dias atuais

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Falar sobre militância não precisa ter idade, Hugo Katsuo é bacharel em Cinema&Audiovisual da UFF (Niterói) e com apenas 21 anos já se lançou como diretor e criador dos documentários “O Perigo Amarelo nos Dias Atuais” (2018) e “Batchan” (2020).

Pers

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vante mulheres por 63 trás das lentes O mercado fotográfico está em processo para a diversidade e esse desenvolvimento vem da pressão social a empresas, partida principalmente por mulheres.

visionair cubes o campeonato brasileiro de e-sports Corinthians é o vencedor do campeonato mundial de Free Fire Battlegrounds 2019. A modalidade faz parte do universo milionário dos e-sports (esportes eletrônicos).

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Visionair 6 JAN A MAR 2021

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visionair bora fazer um bem bolado? Uberização no mundo do trabalho é o fenômeno estudado pela sociologia afim de esclarescer as circunstâncias trabalhistas que está a mercê de não ter um valor fixo de mercado.

22 persona o ring das redes sociais Seria injusto comparar a juventude do passando e a do presente quando se fala de exigências. A cibercultura e o ciberespaço criaram mecanismos que tem deixado os jovens um pouco menos tolerantes e pacientes em relação a redes sociais.


DA YOUTH

Ma City

Há quem diga que uma imagem vale mais que mil palavras, mas e se ela for um desenho?

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40 persona bangtan boys uma boyband incomum A expansão da indústria popular sul-coreana é algo cada vez mais notável desde a sua popularização a partir dos anos 90. A chamada Hallyu, onda do entretenimento sul-coreano, vem tomando cada vez mais espaço na indústria ocidental.

ma city construindo futuros no museu do amanhã

ego tendências primavera verão 2021

Dentre as coisas mais legais que eu fiz nesse ano de 2020, foi ter ido ao Museu do Amanhã, na Praça Mauá, Rio de Janeiro. O museu que tem o formato de vitória régia foi projetado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava.

Em um estudo dos analistas de design da WGSN apontam algumas propostas de tons e texturas afim de causar um sentimento de equilíbrio nesse tempo de pandemia. O case destaca a junção de quatro sentimentos.

32 ego a moda futurista (a) gênero Antes de abordarmos a desconstrução de peças para falar sobre moda futurista, feita de tecidos tecnológicos, precisamos identificar a problemática de base que parte de um conceito “peças femininas precisam ser esculturais e peças masculinas precisam ser estruturadas”.

Ego youth

sona

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PROLOGUE Por Gabrielly Guimel, editora-chefe

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momento mais bonito da vida é a frase que originou o sentido desse projeto, mas antes de começarmos a falar sobre ele, gostaria de trazer para você caro leitor a indagação “Qual foi o seu momento mais bonito da vida? ou melhor “Qual seria o seu momento mais bonito da vida?” Em um ano no qual travamos mais uma vez o inesperado, trilhar esse caminho ao invisível não foi fácil, não é mesmo? Falo isso para você, mas essa voz ecoa dentro de mim. E eu Gabrielly Guimel, a quem voz fala tive uma infância, adolescência bastante instável, passei por inúmeras escolas e agora faculdades, para mim a mudança ao inesperado era rotina e o que mais me doía era a impossibilidade de criar laços, fincar as minhas raízes em algum lugar fértil e crescer. Mesmo você que não possa ter tido as mesmas experiências

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que eu, já se sentiu sozinho desse jeito? A sensação de solidão, aquele pensamento único que percorre a adolescência, do tipo ninguém me entende, ninguém sente como eu, sou eu contra o mundo. Acho que esses sentimentos são alguns dos mais comuns quando vamos falar sobre juventude. Em contra partida a esse turbilhão de emoções queremos ser ouvidos, queremos que as pessoas ao nosso redor nos entendam, queremos falar por nós mesmos e isso me lembra a frase do líder da banda BTS RM (nossa reportagem de capa) em seu discurso na ONU em 2018 “Eu gostaria de perguntar a todos vocês: Quais são seus nomes? O que anima vocês e o que faz seus corações baterem? Me digam suas histórias, eu quero ouvir suas vozes e ouvir suas convicções. Não importa quem você seja, de onde você venha, sua cor de pele, sua identidade de gênero, apenas fale! Encontre seu nome e sua voz, falando por si próprio.” Nessa reportagem de capa eu conto um pouquinho a vocês o crescimento incomum da boyband que em seu início era considerada um caso perdido. A origem da temática desse projeto percorre por três eras da banda (The Most Beutiful Moment in Life: Young Forever, Wings e Map of the Soul) no qual eu tento criar uma narrativa através das reportagens afim de tratar o tema geral que é a juventude e um possível processo de ressignificação dessa fase dentro de uma estética futurista “YOUTH a revista dos jovens do futuro”. Então abordamos o sentimento da juventude eterna que permeia por conflitos em busca de encontrar o seu verdadeiro eu. Foram criados nomes para as editorias dentro dessa temática como por exemplo Persona para comportamento que além da reportagem especial apresentamos “O Ring das Redes Socias” para falarmos sobre cultura do cancelamento. Em Ego para moda, “A Moda Futurista (A) gênero” para você leitor que está à procura de saber mais sobre propostas de vestuário que não são femininos, nem masculinos. Ou “Tendências Moda Primavera Verão 2021” onde abordo sobre estamparia, sustentabilidade, tecidos tecnológicos e até dicas para você que queira montar um negócio na área e não sabe por onde começar. A Editoria de Cultura, Vante, fica por conta de “Mulheres Por Trás das Lentes”, o poderoso olhar feminino que pode capturar sensações humanas e até causar cura para quem está do outro lado da câmera. “O Perigo Amarelo nos Dias Atuais” é uma entrevista com o cineasta Hugo Katsuo que vai falar sobre o termo que originou a militância asiática no


EDITORIAL Brasil, em um documentĂĄrio imperdĂ­vel. Em Visionair, editoria de economia criativa temos “CUBES: Campeonato UniversitĂĄrio Brasileiro de E-sportsâ€? e “Bora Fazer um Bem Bolado?â€? sobre o fenĂ´meno sociolĂłgico da uberização e e-commerce. “A Youth Indica: Guus Designâ€?, em Illustre, onde podemos ver que a arte e o ativismo, caminham juntos. Ma City, para turismo, “Construindo Futuros no Museu do AmanhĂŁâ€?, onde conto a minha visita ao museu mais futurista do Rio de Janeiro. AlĂŠm de tudo isso convido pessoas incrĂ­veis para escrever sobre psicologia na coluna Be, com Bianca Sassi. A jornalista e escritora Jordana Blue Beene em Fanfic e meu amigo tambĂŠm jornalista Diogo Fernandez na coluna Geek sobre cultura nerd. Muita coisa nĂŁo? rs Esse projeto foi feito debaixo de muito esforço e carinho para vocĂŞs. O jornalismo ĂŠ o meu projeto de vida e espero que vocĂŞs sintam um pouquinho disso a cada virada de pĂĄgina đ&#x;˜Š Ele nĂŁo teria acontecido sem o apoio do B-Armys AcadĂŞmicas que me deu todo o alicerce de pesquisa para a reportagem principal. Uma ressalva para a minha amiga jornalista Ester Santana que investiu seu tempo e dedicação a mim “Amiga se eu pudesse construiria um monumento em agradecimento a vocĂŞâ€?. Escrevo tudo isso bastante cansada, mas com lĂĄgrimas de alegria por estar chegando na reta final. Obrigada UNIP, Campinas, Roni Muraoka por ter sido o meu guia nesse processo de construção editorial da revista, alĂŠm de toda a inspiração estĂŠtica que aprendi com vocĂŞ em histĂłria da arte “Bauhaus estĂĄ chorando em seu tĂşmulo artĂ­stico agoraâ€?. (NĂŁo sei se percebeu mas fiz uma misturada de referĂŞncias) A Professora, mestre, conselheira, Cibele Maria Buoro que sempre me lembra “Gabi começa pelo fato relevanteâ€? jornalista nĂŁo explica. Aprendi a ser uma boa profissional com vocĂŞ, obrigada de coração por nĂŁo ter desistido de mim. VocĂŞ me faz lembrar que o bom jornalismo ĂŠ feito por mulheres. A todxs as pessoas do Brasil e do mundo que toparam participar dessa revista meu muitĂ­ssimo obrigado. Aos meus amigxs da vida, eu amo vocĂŞs. Que a YOUTH possa de alguma forma confortar e reavivar a esperança, a alegria nesse perĂ­odo da juventude que ĂŠ o mais bonito da vida. Boa Leitura a todxs! Y UTH

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EM BUSCA DA FELICIDADE… ETERNA? Por Bianca Sassi, psicóloga clínica, palestrante e apaixonada pelo ser humano

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contexto nas novas tecnologias faz com que sejamos acostumados a comparação e a avaliação dentro e fora das redes sociais. Somos comparados e comparamos, avaliados e avaliamos quase que o tempo todo, o que pode influenciar em nossa felicidade. Mas você consegue defini-la? Ela é uma palavra difícil de ser conceituada e dentro da literatura, muitos autores têm diferentes visões do que é de fato. Para o filósofo Sócrates a felicidade seria o bem da alma, que só poderia ser alcançada por uma conduta justa e virtuosa, já para o também filósofo Mário Sérgio Cortella, não é algo contínuo, só podemos percebê-la por sua ausência e para o médico Sigmund Freud, o não sofrer, nesse contexto, seria feliz quem

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obtém o prazer intenso e a ausência do sofrimento. A grande questão aqui é que a felicidade é algo individual e totalmente subjetivo, o que faz uma pessoa feliz pode não ser a mesma coisa para uma outra, a felicidade não é constante, ela é fluida. Existem dias em que esse sentimento estará presente e em outros, não. Então por quê as pessoas buscam por ela a todo momento? É exatamente essa pergunta que temos que analisar para desconstruir, dentro de nós mesmos e da sociedade, a imagem de que ser feliz é algo que deva ser alcançado diariamente e o tempo todo. Vou te trazer um cenário, tente imaginar junto comigo: Você acorda se sentindo um pouco pra baixo, sem muito ânimo, com um sentimento de tristeza e um vazio no peito. Pega o celular e começa a ver o Instagram... Vai rolando o feed e tudo que vê são fotos e vídeos de pessoas sorridentes e em lugares paradisíacos. Enquanto que você ainda nem levantou da cama e está de pijama. Conforme passa o feed, vai se sentindo mais deprimido e tenta distrair a mente, manter pensamentos positivos, mas isso não funciona e então você acaba se frustrando por não conseguir mudar sua forma de se sentir gerando aí uma angústia e uma comparação com a vida alheia. Se identificou? Pois saiba que


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você não está sozinho nessa. O perigo das redes sociais como o Instagram é de iniciar ali uma comparação com a vida do outro e gerar a conclusão de que a sua vida não é tão boa quanto a de quem você segue, aquele famoso “a grama do vizinho é mais verde”, mas não se engane, pois a grama pode ser mais verde porque é artificial, na internet as pessoas se mostram como querem e não, necessariamente, como são no dia a dia, afinal o que gera conteúdo, curtida e views é justamente a maquiagem das imperfeições e a venda de uma vida perfeita repleta de felicidade e sorrisos. O escritor Oscar Wilde certa vez disse que “a vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida”, no entanto, existem diversas críticas sociais que são expressadas através da arte. A exemplo disso temos músicas, grafite, contos literários, danças e séries como Black Mirror, onde no episódio Nosedive nos deparamos com a vida de Lacie e sua tentativa incansável de adquirir pontuações cada vez melhores na rede social da trama. A vida da personagem se baseava nas avaliações que lhe eram concedidas por usuários e ela acreditava que quanto maior, mais feliz poderia se tornar chegando a assumir uma

bem não estar bem o tempo todo. Tudo bem você estar pra baixo. Tudo bem não estar animado sempre. Está tudo bem. E sabe por que? Você é um ser humano e como tal, existem diversos sentimentos dentro de você, todos fazem parte do processo de viver. Então ao invés de tentar afastar esses sentimentos ditos negativos e buscar por essa felicidade eterna e irreal, veja o que pode aprender com eles. Não se cobre demais, aceite sua vulnerabilidade, sua tristeza, tenha paciência consigo e veja como esses momentos podem ser proveitosos para sua auto análise e amadurecimento. Até a mais linda árvore tem seu período sem folhas para se renovar e florescer mais tarde, assim é a vida. Abrace o seu processo.

Black mirror “nosedive” fOTO REPRODUÇÃO: NETFLIX

“É exatamente essa pergunta que temos que analisar para desconstruir, dentro de nós mesmos e da sociedade, a imagem de que ser feliz é algo que deva ser alcançado diariamente e o tempo todo.”

identidade fabricada de constante positividade, calma e felicidade com o objetivo de ascender socialmente. O que não condizia com sua realidade, já que, ao decorrer do episódio vemos sua verdadeira face. Ao analisar Nosedive, podemos perceber grandes semelhanças com nossa vivência, o que mais vejo nos atendimentos psicoterapêuticos e na sociedade em geral são pessoas em busca de uma felicidade irreal, uma felicidade que é vendida a cada rolar de feed no Instagram e uma negação ou vergonha de assumir o outro lado da moeda: a tristeza, o desânimo. Portanto o episódio não foge de nossa realidade e por isso, nesse caso, temos a arte imitando a vida para trazer uma crítica e reflexão sobre nossos atos. Vou te contar uma coisa: Tudo

“Nosedive” é o primeiro episódio da terceira temporada da série antológica de ficção científica britânica Black Mirror. Estrelado por Bryce Dallas Howard, Alice Eve, Cherry Jones e James Norton, o episódio se passa em um futuro onde uma menina se torna impopular na mídia social. A vida em sociedade depende do bom status nas redes sociais, e Lacie tem a oportunidade perfeita de crescer ao ser convidada por sua amiga de infância para ser madrinha em seu casamento elitista. No entanto, primeiro ela precisa conseguir chegar lá. fONTE: sINOPSE nETFLIX

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HABEMUS NOVA GERAÇÃO Por Diogo Fernandez, jornalista

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s próximos dez anos já estão garantidos. Pelo menos no que se trata de consoles. Com a confirmação do lançamento do PlayStation 5 e dos modelos Xbox Series S e Series X para novembro de 2020, uma nova camada de grandes títulos, novas formas de gameplay e de histórias chegam ao mercado. O início de geração costuma ser ligeiramente mais lento, mas as desenvolvedoras e publishers já preparam o terreno com nomes de franquias de peso. Mas para isso, há um preço. E em dólar. Anunciados na frente, os consoles da Microsoft dessa geração – Xbox Series S e Series X –, chegam por US$ 299 e US$ 399, respectivamente. A diferença de 100 dólares está no 12 JAN A MAR 2021

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hardware mais poderoso do Series X. A promessa, porém, é de que ambos os produtos estão preparados para garantir a geração em qualquer dos modelos. Enquanto no PlayStation 5 da Sony, os modelos com o mesmo hardware, mas com diferenças nos modelos, um sem o leitor de blu-rays – rodando os jogos apenas em formato digital – e um outro com esse recurso, custarão US$399 e US$499 cada. Nesta nona geração a Nintendo segue seu caminho a parte, com o seu já lançado Nintendo Switch em 2017 e vai muito bem agradando seu nicho de jogadores que seguem se aventurando com grandes títulos como The Legend of Zelda: Breath of the Wild – vencedor do Jogo do Ano em 2017 – e Super Mario Odyssey, também concorrente ao prêmio naquele ano. Voltando ao ponto, com as variações de moedas de cada nação, ficam as expectativas de quanto custará ao bolso um novo console numa época onde a própria indústria de videogames revisa os seus preços, aumentando em mais US$ 10 o custo final. Antes os jogos custavam próximo do que era cobrado nos anos 1980. Nessa posição, o Brasil costuma


GEEK sofrer mais para dar conta do hobby considerando os impostos e a cotação mal-humorada do dólar.

CUSTO BRASIL Em dezembro de 2013, o site americano Polygon fez uma matéria se perguntando com certo ar de incredulidade porque o gamer brasileiro Paulo “Lord Eternal” Campos pagou 4 mil reais em um PlayStation 4. O preço oficial na época era de fato inacreditável, considerando a cotação do dólar por volta de três reais. E tão inacreditável quanto era alguém arcar com esse preço. Pulando para 2020, o modelo mais caro do PlayStation 5 custará quase R$ 5 mil, fazendo novamente a tabelinha “versão do console/grana”. Dessa vez, entretanto, o dólar está mais ainda nas alturas e o valor atual é quase um alívio. Estimava-se que o console ultrapassaria a barreira dos 6, talvez chegando ao assustador 7. Previsivelmente, a pré-venda no Brasil foi um sucesso. Gigantes como a Amazon e outras lojas menores apostando em preços também menores – o famoso mercado cinza que tanto prospera e continuará a prosperar no país – começaram a mover suas peças e o final do ano promete ser feliz para quem conseguiu guardar algum dinheiro neste ano de crise moral, econômica e sanitária. E as desenvolvedoras garantem que valerá a pena o investimento.

no lançamento. O salto de evolução do gameplay ou do poder gráfico seguem ficando cada vez mais sutis, ainda mais numa transição de gerações. Não se nota uma diferença tão impressionante como houve do Super Nintendo para o Nintendo 64, por exemplo. Mas ela está presente. E o diabo está nos detalhes. O Demon’s Souls original, lançado no PS3 em 2009, retorna mais de dez anos depois totalmente reformulado e encantando os fãs do gênero criado pela empresa japonesa From Software. A repaginada feita pelas mãos da desenvolvedora americana, famosa pelos seus remakes, Blue Point Games é talvez o mais aguardado jogo desse primeira leva. Olhando para trás, contudo, ainda há uma imensa base instalada da geração

que fica. O PlayStation 4 e o Xbox One X além disso possuem uma boa lenha para queimar e alguns jogos ainda aguardam para serem lançados. Certos títulos, inclusive, ganharão update nos próximos consoles. Restam ainda uns bons anos onde ambos os lados receberão atualizações e novos títulos. Mas em algum momento há a ruptura e os novos consoles passam a ser os atuais. E as desenvolvedoras passam a trabalhar exclusivamente para eles. Mas para isso falta algum tempo ainda e programar-se é sempre o melhor conselho. A espera ansiosa pelo preço acabou, resta apenas trilhar o caminho até chegar lá e começar o novo ciclo. Até daqui a dez anos.

fOTO REPRODUÇÃO: SITE OFICIAL PLAYSTATION

LANÇAMENTOS E BACKLOG Títulos aguardados como Demon’s Souls Remake, Assassin’s Creed Valhala, Gears Tactics, Spider-Man: Miles Morales e entre outros chegarão logo

fOTO REPRODUÇÃO: SITE OFICIAL XBOX

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COISAS QUE VOCÊ VAI PRECISAR FAZER, CASO QUEIRA PUBLICAR UM LIVRO Por Jordana Blue Beene, jornalista, ilustradora, autora do livro Para o Garoto de Daegu

° 1 ESCRITA

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Público alvo: Embora pareça uma coisa óbvia, muitos escritores deixam isso passar despercebido, mas, mais do que ter seu livro numa prateleira ou na versão física você precisa descobrir quem são os seus leitores. Isso serve para qualquer gênero: ficção, romance, suspense, fantasia, poesia, fanfic, etc. Todo gênero tem um público e você precisa descobrir qual é o seu! Mesmo dentro das fanfics, porque não significa que só porque ‘fulano’ é fã de

artista ‘X’, ele vai ler sua fanfic. Você precisa cativar o seu leitor. Isso é o mais importante, você precisa mostrar para ele que aquilo que você escreve é diferente e bom para que ele pare e queira ler! 2° Descubra o seu tipo de escrita: Assim como músicos, pintores, desenhistas e outros artistas, o escritor também tem a sua característica, a gente chama isso de “assinatura literária”, cada escritor tem sua maneira


FANFIC de escrever, e o leitor ele vai se identificar com seu trabalho de acordo com sua escrita. Ela é a sua vitrine. Pode ser a história mais boba, se você tiver uma escrita que cative, pessoas irão parar para ler! Ninguém lê aquilo que é igual, e embora eu não seja nenhuma especialista, como leitora eu percebo que o mercado literário está um tanto saturado com os mesmos enredos, tanto de livros quanto de fanfics e obras digitais. Então encontre seu diferencial, que o leitor vai te encontrar! 3° Clichê, mas escreva aquilo que você gostaria de ler: Talvez você já tenha lido/escutado isso por aí, mas essa é a maior verdade, você é o seu primeiro crítico e também o seu primeiro leitor, então se você teve um ‘’plot’’ e você pensou “poxa, eu realmente leria isso!”, então saiba que essa é a história que você precisa escrever! Muito provavelmente seu leitor tem o “paladar literário” semelhante ao seu, é algo que vocês têm em comum, então essa é a sua maior aposta, porque vocês gostam dos mesmos gêneros, invista nisso, porque será mais confortável para você como autor, já você escreverá sobre algo que tem propriedade, e o seu leitor terá uma leitura prazerosa porque ele está lendo aquilo que procura (Mas isso não quer dizer que você não deve se aventurar em outros gêneros!). Vocês dois se beneficiam! Legal, né? Então escreva só aquilo em que se sentir bem escrevendo, porque se nem você sente vontade de continuar desenvolvendo a história, porque teu leitor iria querer ler? Aposta mais naquilo que você gosta! 4° Fanfic x Original: Mesmo que o fato de ser original possa pesar bastante para editoras, acredite, as

fanfics também tem um peso literário enorme! Principalmente se tratando do nosso atual mercado literário, então não se sinta mal por escrever fanfics, lembre-se que grande parte dos livros tanto best-sellers e os novinhos que acabaram de chegar nas prateleiras um dia já foram fanfics também! Todo escritor tem alguém em quem o inspira, então não se sinta ofendida (o) quando alguém te chamar de escritor de fanfics. E para quem escreve originais, você já tem grande parte do caminho andado, então tudo o que você precisa fazer é finalizar seu livro e notar o que ele tem de novo para que as pessoas e editoras leiam aquilo! Mas lembrem-se: uma fanfic pode sim, se tornar algo original! Afinal, você criou aquele ambiente e deu personalidade a aqueles personagens, mesmo que eles tenham sido inspirados em alguém. Aquele universo é seu!

PUBLICAÇÃO INDEPENDENTE X PUBLICAÇÃO POR EDITORA 5° Publicar por uma editora: Antes de mandar seu livro para uma editora é fundamental que ele esteja escrito até o final, porque embora você tenha a ideia e tenha escrito alguns capítulos, infelizmente, nenhuma editora para pra analisar algo que não foi finalizado, já que ela não tem garantia nenhuma de que um dia você terminará aquilo. Elas trabalham com prazos, então autor, você precisa entregar tudo prontinho! Mesmo que eles analisem teu livro e digam que é melhor alterar tal parte ou acrescentar algo (isso pode acontecer), mas se você já tem o livro pronto, ao mexer, ele não perde a essência nem o ponto inicial da história que você criou! Além do que,

isso torna mais fácil mexer na história pois finalizada, você já sabe o rumo que ela vai tomar. 6° Book Proposal: Já ouviu falar dele? Não? Pois anota ele aí, porque se você quer ter mais chances de publicar por uma editora, ele vai ser essencial! O Book Proposal é uma “ferramenta” que facilita muito o trabalho dos agentes literários e das editoras, porque com as informações que você coloca ali ele vai analisar mais rapidamente o conteúdo do seu livro e vai dizer se ele está apto ou não para ser publicado naquela editora! Aqui segue alguns elementos fundamentais que deve se colocar no book proposal: • Quem é o autor (se tiver pseudônimo, especifique!) • Um contato (Número de telefone e e-mail) • Um breve resumo sobre sua obra. • Uma breve descrição de seu personagem principal (ou dos personagens principais). • O que te levou a escrever o livro e porque ele é importante? Qual a relevância que ele tem para a sociedade? Qual o diferencial dele? • Se existir obras que você se inspirou, o ideal é que você especifique quais são, mesmo que não sejam da editora que está analisando seu livro! Pois, baseada nessas obras, ela pode analisar a aceitação do mercado literário sobre o tema! • Se você tiver o livro publicado em alguma plataforma e ele tiver uma boa quantidade de leituras, mostre isso! A editora ficará ainda mais interessada se ver que você já tem um público! Mas mantenha sempre em mente que: números não alteram a qualidade do seu livro! • Resuma todos os capítulos do Y UTH

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seu livro em pequenos parágrafos, isso facilita no desenvolver do interesse da editora na sua história, ela literalmente curte um “spoilerzinho”! •Por fim, anexe o seu livro completo. 7° Publicação independente: Essa daqui tem sido a saída de muitos escritores, já que o maior desafio em relação às editoras muitas vezes é o custo! Mas não significa que os custos desta também não sejam altos, são sim. Lembre-se que é você quem está investindo. Então você vai precisar de saber se você tem publico o suficiente para publicar um livro e fazer ele ser vendido. Então quanto mais leituras seu livro tiver, mais chances ele tem de vender. Baseado na visão que eu tenho do Wattpad, eu indico que seu livro tenha pelo menos 5k de leituras, ter menos do que isso não significa que seu livro não seja bom, só significa dizer que ele ainda está em início de carreira, afinal ninguém começa com 1k, 3k, 10k de leituras, isso é algo que vem a medida que você vai escrevendo/ postando. Então leve o tempo certo para fazer seu nome e sua obra conhecida, porque você vai precisar de visibilidade. Esse é o maior desafio desta publicação, para conseguir isso mais facilmente, você 16 JAN A MAR 2021

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que há dentro do seu livro. Mesmo que o leitor já tenha lido, muitas vezes a capa é o que faz com que o leitor compre! Ela desperta o interesse. Então não pode ser qualquer pessoa para esse serviço, porque será alguém que precisará calcular a lombada do seu livro de acordo com o número de páginas e a gramatura do papel que você utilizará para imprimir, e ainda precisa fazer com que ele seja visualmente atraente. Por isso, não contrate qualquer pessoa, e não pegue imagens da internet, além de já estarem sendo utilizadas em várias coisas, ainda existe a questão dos direitos autorais! • Diagramador: Depois que seu livro estiver pronto, esse é o profissional que irá montar o miolo, ajustar página por página, colocar a numeração e no formato para que a impressão saia na ordem certa! NÃO DIAGRAMEM NO WORD, PELO AMOR DO BOM DEUS! As margens do Word não servem para impressoras profissionais de grandes demanda de livros! Porque elas precisam de margem de impressão, e o word não conta com essa funcionalidade, além do mais, o tamanho do miolo pode terminar desproporcional para a capa!

para o garoto de daegu fOTO DIVULGAÇÃO: CEDIDA POR JORDANA

“Você precisa cativar o seu leitor. Isso é o mais importante, você precisa mostrar para ele que aquilo que você escreve é diferente e bom para que ele pare e queira ler”

pode divulgar seu livro em plataformas alternativas como twitter, instagram, blogs, etc. Mas interaja com pessoas do seu nicho de escrita. Não tente divulgar em lugares que não tem o perfil do que você escreve! Depois que você já tem público e o livro completo, agora você precisa de PLANEJAMENTO, isso aí, agora que teu livro tá pronto planeje como vai publicar, calcule os custos, veja o que vai precisar, e faça uma pesquisa de público para saber quantas pessoas em média estão interessadas em comprar seu livro, para que você não saia no prejuízo. Já fez isso tudo? Agora você precisa dos serviços para tornar o seu livro físico! Esses serviços serão essenciais, porque eles são o que vão trazer a qualidade visual e o profissionalismo do seu livro. Então você vai precisar de alguns profissionais pra te ajudar, caso você não saiba desenvolver essa parte. Esses profissionais são: • Revisor: (Alguém com o domínio MUITO bom em português!) porque por mais que sua escrita seja boa, sua vista cansa, e como você já leu aquele livro muitas vezes, sempre vai ter algo que passará despercebido. • Capista: essa é a pessoa que vai fazer teu leitor ficar curioso sobre o

As coisas são divididas entre antes e depois dele. As coisas são divididas entre o garoto que sonhava com música e o garoto que se tornou mundialmente famoso, enquanto eu permaneço aqui. fONTE: sINOPSE amazon


FANFIC

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GUUS DESIGN A YOUTH INDICA O ARTISTA:

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á quem diga que uma imagem vale mais que mil palavras, mas e se ela for um desenho? No sentido de arte digital a ilustração do designer de Belo Horizonte, Gustavos Santos Fonseca, de 24 anos, mais conhecido como Guus Design nas redes sociais, é 18 JAN A MAR 2021

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usar a sua mídia com o propósito de passar uma mensagem. A vontade de desenhar vem de berço, desde de criança a paixão pela arte era presente no seu desenvolvimento como pessoa. Logo quando teve que assumir a responsabilidade de se tornar um profissional, o design logo subiu para a sua cabeça. “Foi aí que eu parei e pensei, quero ser ilustrador, e até então também eu encontrei o design que caminham juntos comigo lado a lado”. Beber de referências do mundo é muito bom, mas para ele se mergulhar no repertório de artistas nacionais é muito melhor. Gus diz que possui contato com muitos artistas negros brasileiros que lhe dão dicas e conselhos nos quais aplicam em suas artes. “Tenho contato com quase a maioria e a gente troca informações e

fOto reprodução: @guusdesign instragram

tudo mais, eu tento absorver tudo o que eles passam para mim”. Seu sonho no futuro é ter a oportunidade de trabalhar com designer de moda americano Virgil Abloh, dono da marca de street wear de luxo, Off-White e atual diretor artístico de


fOto divulgação: @guusdesign instragram

ILLUSTRE

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a arte do antifa Jovens que são e que não são engajados em movimentos raciais pelo mundo conheceram em 2020 a história do norte americano, George Floyd. O movimento chamado Black Lives Matter “Vidas Negras Importam” comoveu o coração daqueles que sofrem do racismo estrutural instaurado na sociedade estadunidense e em outros países também. Lembrando que este é um movimento ativista internacional com origem na 20 JAN A MAR 2021

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fOto divulgação: @guusdesign instragram fOto divulgação: @guusdesign instragram

vestuário masculino da Louis Vitton. Algumas curiosidades sobre o designer é que ele entrou no mundo da moda após um estágio na Fendi (casa de moda italiana) em 2009, junto ao rapper Kanye West onde os dois começaram uma colaboração que lançaria a carreira de Abloh a partir da fundação da Off-White que ocorreria três anos depois. Outro fato também, foi que a revista Time o nomeou como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2018. Voltando para o jovem, a cultura de rua e a representatividade são o seu maior “barato” onde ele coloca a representatividade e o empoderamento negro nas suas ilustrações. “O meu público que são de pessoas negras, gostam do meu trabalho, onde busco sempre mostrar nos meus desenhos que pessoas negras podem estar em tudo e qualquer lugar”. A cabeça que “borbulha” com as ideias, as vezes precisa dar uma pausa e filtrar o que está processando. Buscar pautas relacionadas a política e engajamento social são algumas de suas fontes de inspiração, onde usa a sua arte como uma mídia de voz. “Para poder dizer o que eu estou sentindo e levar informação para essa galera que não tem tanta informação assim”. Para clarear a sua mente em momentos de bloqueio criativo, o mineiro, fOto reprodução: site oficial blm tenta se distrair através de meios que não utilizam desenhos como séries, filmes, ou ler algumas informações. Ao longo do tempo, Gustavo foi percebendo que os seus desenhos foram amadurecendo de antes que desenhava “só por desenhar”, agora seus desenhos possuem um propósito maior.


ILLUSTRE

fOto reprodução: @guusdesign instragram

comunidade afro-americana que campanha contra a violência direcionada às pessoas negras. Iniciado em 2013 pela hashtag #BlackLivesMatter nas redes sociais após a absolvição de George Zimmerman na morte a tiros do adolescente afroamericano Trayvon Martin. A história de George impactou e gerou muitas revoltas principalmente no movimento antifascistas, onde Gustavo e mais um grupo de amigos em campanhas nas inter webs criaram ilustrações sobre esse tema em um mix de sentimentos de revoltas e tristezas pelo ocorrido. “Essa ilustração que eu fiz foi uma pantera negra que é um símbolo da representatividade negra, com uma cabeça de porco na mão representando a polícia”. Não adianta se revoltar com aquilo que vem de fora se não mudamos o que vem de dentro, reflete o jovem. Para chegarmos à mudança temos que nos reiterar das circunstâncias que permeiam o nosso meio. “Uma das coisas que eu levo muito nas minhas ilustrações são os meus posicionamentos políticos, eu acho que eu tenho que passar essa mensagem sabe, falar o que está errado e o que está certo”. A arte como mensagem é o pensamento do futuro, no qual Gustavo usa dessa filosofia no seu trabalho como forma de o deixar mais original, consistente e interessante.

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curiosidades • Participou de várias feiras de artes e cultura pop pelo país. • Já expos em feiras e também dá palestras • Em Belo Horizonte já se apresentou no Espaço Quebra (um espaço destinado a artistas que funciona como uma galeria de arte), Palco Hip Hop (evento destinado a dança de rua, onde tem apresentações de dança e batalhas e expos com uma lojinha de arte) • Feira requebra (onde reuniu artistas da cidade) • Expos no dia nacional dos quadrinhos da cidade. • Participou da Feira de literatura curupira. • São Paulo no Cobertura Nerd (artistas de todo país expondo, palestras e feiras) • Foi convidado para falar em um podcast chama REP MODA E TALK

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O RING DAS REDES SOCIAIS Por Gabrielly Guimel

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eria injusto comparar a juventude do passando e a do presente quando se fala de exigências. A cibercultura e o ciberespaço criaram mecanismos que tem deixado os jovens um pouco menos tolerantes e pacientes em relação a redes sociais e essa nova forma de convívio com o diferente. “A juventude do passado e a juventude de hoje, cada uma delas, tem características específicas, desafios e lutas distintas”, diz o jornalista, mestre e doutor pela Unicamp, Fábio Ormaneze. A cultura do cancelamento nas redes sociais tem dado uma falsa impressão de que é mais simples excluir uma pessoa ou ideia da sua vida, de 22 JAN A MAR 2021

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encontrar pessoas que pensam igual a você, criando-se bolhas “se torna difícil sair, ouvir o outro, compreender o outro e ter acesso as outras possibilidades de compreensão”. Essas bolhas como cita Fábio, são uma criação característica da cibercultura e em um dos seus efeitos foi a cultura do cancelamento, o internauta se acomoda nos seus ciclos pessoais, com os mesmos pensamentos, opiniões e ideias, “pessoas que convivemos digitalmente”, porém quando não se encontra o modo de pensar semelhante, ocorre essa exclusão, “é um modo muito fácil de lidar com as frustrações”. Para a formanda em psicologia, Alicia Lana Mesquita, 22 anos, Ceará, entende-se como cultura do cancelamento o ato de “banir” alguém das redes sociais, da vida, círculo de amizades, após a pessoa ter cometido erros. A estudante do Centro Universitário Christus, reflete que


PERSONA “cancelar é uma forma rápida e aparentemente fácil de lidar com o erro das pessoas, mas não dá a elas a chance de corrigir esses erros e aprender novas formas de lidar com aquela situação ou semelhantes”, diz Alicia. De acordo com o dicionário australiano Macquarie, a “cultura do cancelamento” foi eleita o termo do ano de 2019. Todo o movimento se iniciou a partir da mobilização de vítimas e assédios sexuais através da hashtag #MeToo, campanha das atrizes de Hollywood contra esses atos no cenário do cinema mundial. Desde então o movimento se desdobrou por meio desses boicotes, como nas palavras do estudante de Publicidade e Propaganda da Estácio de Sá, Gabriel “A cultura do cancelamento gira em torno de boicotar e, ou de apontar pessoas, marcas ou empresas que tenham posturas preconceituosas”. Normalmente, diz ele, o real cancelamento vem a partir de uma fala e/ou atitude que seja ofensiva para alguma minoria. Mas que infelizmente muitas pessoas nas redes tem banalizado demais essa atitude. Ela tem seus benefícios quando por exemplo, uma pessoa identifica um difusor de notícias Fake News, dados e informações analistas que podem prejudicar a relação da qualidade da informação. Então, nesse caso você pode claramente “cancelar” uma pessoa que divulga esse tipo de conteúdo ou alguém que coloca imagens preconceituosas, posicionamentos sensacionalistas “não vejo isso como algo

ruim, é pelo contrário, acho que é o que precisa de fato ser feito”, afirma Ormaneze. Um caso bastante citado entre os entrevistados foi o da cantora Anitta e sua falta de posicionamento político em 2018, no qual preferiu não apoiar e nem se opor a ninguém. Sua postura acabou sendo confundida com um apoio ao então candidato Jair Bolsonaro, alvo do movimento “Ele Não”. “Como é que eu vou ter uma posição se eu não entendo nada do que estão pedindo para eu ter uma posição?” disse em entrevista ao programa do Pedro Bial em maio desse ano. Para o jovem Igor Cerqueira, 19 anos, Campinas, a cultura do cancelamento é um ato falho que a militância criou para diminuir a pessoa que errou. O universitário de Publicidade e Propaganda da Anhanguera é um pouco mais radical e diz que ela não pode ser usada para o bem, porque é uma cultura falha “as pessoas têm o direito de errar e reconhecerem seus erros”, reflete o jovem. Fábio propõe que sempre vale a pena fazer uma reflexão a respeito do que estamos cancelando. Se nós estamos cancelando de fato aquilo que não merece ser visto por se tratar de uma informação falsa, preconceituosa e mesquinha, ou se nós estamos cancelando aquilo que não condiz como a forma que gostaríamos que a sociedade fosse. “A gente tem que levar em consideração que o

fOto divulgação: GERAR MEMES

a cultura do cancelamento Cancelamento virtual (Cancelled Culture) é diferente de trollagem, uma gíria que significa brincar com alguma situação de um jeito cômico, afim de fazer uma pegadinha com o público, ato bem frequente nas redes socias. O ato de cancelar não tem esse tom mais leve e bem humorado. Ele é julgador, incisivo.

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“Transativismo é misoginia” e “Mulheres trans são homens”. “Quando se expõe uma atitude ruim de alguma artista ou personalidade com fontes verídicas”, pode ser usada como uma atitude positiva, diz Mylena Cavalcante, Niterói. Os critérios para cancelar são muitos vai de questões sociais, políticas e até gosto ou opinião pessoal mascarada de boa moral de quem cancela, reflete Cavalcante. Em pergunta a Gabriel se ele cancelou ou já foi cancelado ele afirma que sim “Eu normalmente boicoto aquilo que não represente meus valores, como por exemplo a marca Nike, que já foi inúmeras vezes apontada em escândalos de trabalho escravo”. Onde podemos ver na matéria da BBC Brasil, a Nike juntamente com a Apple vem sido acusadas de exploração “trabalho escravo” do povo uigur, minoria mulçumana chinesa. A Nike afirmou estar “fazendo investigações contínuas com nossos fornecedores na China para identificar e avaliar riscos potenciais relacionados ao emprego de uigures ou outras minorias étnicas”. A Apple também disse que está investigando as acusações. “Não encontramos indícios de trabalho forçado nas linhas de produção da Apple e planejamos continuar monitorando”, afirmou a empresa. Uma comparação que podemos fazer é no ambiente de trabalho, eu como supervisor do meu funcionário, sinto que ele está me incomodando e não está cumprindo bem a sua função, se eu tenho poder sobre ele “ eu como superior,

fOto divulgação: getty images

fOto divulgação: twitter oficial da escritora j.k rowling

relativismo embora seja uma forma de visualizar o mundo, a cultura, ele também tem os seus problemas porque nem tudo pode ser relativizado”, diz Fábio. Outro nome que não deixa de ser falado sobre o movimento nas redes sociais é o da escritora JK. Rowling. A autora britânica de Harry Potter foi acusada de transfobia, após comentários no Twitter sobre “mulheres de verdade”. O ápice do “cancelamento” veio quando foi anunciado que o protagonista de seu novo livro, Troubled Blood, será um assassino em série que em tempos ocasionais se veste de mulher para atrair suas vítimas. “Só que reagir dessa forma, em longo prazo, provavelmente não vai ser positivo pro “cancelador”, “cancelado” e terceiros. Porque quando punimos alguém com duras críticas, desvalorização do trabalho e outras formas, ela pode parar momentaneamente de cometer erros, mas e depois?”, fala Alicia a respeito das reações que acompanham esse cancelamento como, raiva, tristeza ou mágoa. Porém essa reflexão de atitudes não tem sido muito bem percebida na escritora. De lá para cá, o posicionamento da criadora do Harry Potter tem se tornado cada vez mais explícito. A autora postou no Twitter uma foto usando uma camiseta escrita “Essa bruxa não queima”, pertencente a uma loja que, entre seus produtos, comercializa itens estampados com frases incitando ao preconceito como “Ideologia trans invisibiliza mulheres”,

24 JAN A MAR 2021

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PERSONA posso, por exemplo, pedir a demissão dessa pessoa, então a cultura do cancelamento é o equivalente a esses processos, de exclusão, não de separação ou segregação que nós temos fora do cyber espaço”, diz Ormaneze. Fabiano reflete que na cultura do cancelamento, no contexto da cibercultura, ela pode ser compreendida como uma tentativa de ir no cyber espaço e criar atitudes práticas, comportamentais que vislumbram ser similares a vida fora desse espaço, onde na verdade essas atitudes deveriam ser aplicadas. Se uma pessoa me incomoda, nós como seres humanos temos a tendência de evitar, ou em casos mais graves cortar qualquer tipo de vínculo em relação ela “se eu não gosto de uma pessoa, eu paro de segui-la ou se quer gosto começo a seguir”, são esses laços afetivos que diferenciam esses espaços “somos seguidores, não somos pessoas próximas”. São dois lados de uma moeda. Ao mesmo tempo

que essas hashtags são usadas pra causas sociais, como o movimento Black Lives Matter por exemplo, também podem ser usadas pra falar mal de algum artista, tipo “FulanoIsOverParty”, reflete Mesquita. O que sempre vale a pena em se perguntar, é porque tal pessoa ou prática te incomoda tanto, “muitas vezes isso vai te levar uma reflexão, o problema não está propriamente no que a pessoa faz, como ela se posiciona, mas na sua relação com aquela temática, com os assuntos que ela trata”, diz Fabiano que o olhar para isso tudo tem que ser além, não simplesmente positivo ou negativo. Tudo é questão de ponto de vista “antes de julgar os outros a gente precisa olhar pros nossos próprios valores e atitudes. E também entender que nem todo mundo tem esses valores iguais aos nossos”, diz Alicia sobre fazer um parâmetro dos nossos próprios julgamentos.

QUEM VOCÊ SERIA NA CULTURA DO CANCELAMETO? O CANCELADXR? OU CANCELADX?

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fONTo reprodução: ilustração ing lee

O PERIGO AMARELO NOS DIAS ATUAIS youth entrevista o diretor e cineasta hugo katsuo Por Gabrielly Guimel

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alar sobre militância não precisa ter idade, Hugo Katsuo é bacharel em Cinema&Audiovisual da UFF (Niterói) e com apenas 21 anos já se lançou como diretor e criador dos documentários “O Perigo Amarelo nos Dias Atuais” (2018) e “Batchan” (2020). Através de uma entrevista a seis militantes do movimento asiático-brasileiro, o primeiro curta-metragem vai relatar sobre o ativismo e vivência desses corpos, para onde vai essa militância e quais são os seus problemas em uma análise autocrítica. O segundo documentário intitulado “Batchan”, Hugo tem como propósito contar a história de sua avó, Luiza Okabayashi, nipo-brasileira, onde por meio de entrevistas relata o seu encontro com a espiritualidade, trazendo novas percepções sobre diversidade religiosa, estereótipo de ancestralidade, em que o asiático não é um ser “assimilável”, preso a uma cultura. Em entrevista ele conta um pouco sobre o primeiro documentário e outros projetos a seguir.

26 JAN A MAR 2021

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Sobre o perigo amarelo nos dias atuais, por que escolheu esse título? Existe uma página principal no Facebook sobre o movimentário de pessoas amarelas e pessoas asiáticas como um todo na luta antirracista sobre o seu corpo nos processos de racialização. Na tentativa dessa organização, surgiu o perigo amarelo como nome da representação da militância asiática brasileira, não especificamente das que tem os corpos amarelos, mas as que não tem também. A ideologia do perigo amarelo veio do mito que o extremo oriente vai “dominar” e “destruir” a vida ocidental, então a gente viu esse perigo amarelo, nos posicionamos politicamente, colocamos o nosso corpo no debate racial. A gente é esse perigo amarelo, ao mesmo tempo que a gente é movimento, dessa militância, e nos dias atuais ao pensar em conta desse novo perigo a partir das militâncias utilizei como referência uma pesquisadora chamada Márcia Yumi Takeuchi, escritora do livro “O perigo amarelo em tempos de guerra (1939-1949)” onde faço esse paralelo com a obra dela que foi muito importante nessa minha entrada de questões amarelas e asiáticas no Brasil, por tanto achei interessante homenageá-la.


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fONTo DIVULGAÇÃO: ilustração ing lee PARA O Cartaz oficial de “O Perigo Amarelo nos dias atuais” (2018)

Você fala sobre a Ásia e sobre os amarelos. Qual é a diferença? A Ásia é um continente muito grande e diverso, etnicamente e racialmente. No Brasil geralmente nós usamos o termo amarelo a pessoas de ascendência do Leste Asiático para falar sobre chineses, chineses-brasileiros, coreanos, coreanosbrasileiros, japoneses, nipo-brasileiros. Porque por exemplo, um indiano não é amarelo, ele não é lido pela forma como a gente é lido, ele passou por outros processos de racialização, outras formas de racismo, assim como árabes são asiáticos marrons.

O que é a militância asiática no Brasil e como ela surgiu? Então a militância asiática brasileira, vai nascer exatamente a partir de um grupo pequeno de pessoas que começam a discutir questões raciais, e começam pensando em se organizar, e é criada a página o perigo amarelo, e tem um blog também chamado OutraColuna. A partir disso pessoas

amarelas e asiáticas foram se identificando, pessoas asiáticas não amarelas começam a colocar as cotas delas também, e a militância asiático brasileira começa a surgir dessa conscientização de que não somos brancos e precisamos colocar o nosso corpo em um debate racial. E atualmente ela cresceu muito, existe uma conscientização muito maior e a gente está engajado em trazer a pauta sobre a solidariedade antirracista e entender o nosso lugar de privilégios como na maior parte das vezes como a “minoria modelo” e ser solidário com outros grupos étnicos que tem violências raciais muito maiores que as nossas.

Explique melhor sobre essa minoria modelo Vem da questão de ser lido como branco, a gente crê tanto nessa falácia de que nós temos esses tipos de privilégios concedidos a partir dos estereótipos, que passamos a acreditar que algum dia vamos ser tratados como brancos, a gente faz de tudo para alcançar esse branquitude, aderindo ao meio da minoria modelo do tipo nós somos esforçados sim, nós somos Y UTH

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trabalhadores sim, nós somos inteligentes sim, a gente acaba caindo nessas de querer alcançar essa branquitude e sermos tratados como brancos, e principalmente com o corona vírus toda essa minoria modelo foi por água a baixo, ela está ligada muito a questão de embranquecimento também, então a gente adere isso para sermos vistos por menos violências.

Você já sofreu xenofobia ou racismo? Então a gente sofre disso diariamente, todos os dias estamos ouvindo alguma gracinha. Eu nunca sofri violência física, mas já ouvi muita coisa de professores, no ensino médio, por exemplo, um professor de biologia estava comentando sobre algo relacionado a mitose e semiose, aí ele falou assim: “Essas duas células aqui são japonesas,

“Todo estereótipo ainda que seja visto como positivo, ele é violento, porque tira da gente a possibilidade de sermos vistos como um humano, então somos vistos como uma massa homogênea” - Hugo 28 JAN A MAR 2021

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E de professores ou colegas de classe da faculdade? Entre os colegas de classe não, até porque eu comecei um projeto chamado “Corpo preto, corpo amarelo” com a Caroline Meireilles em que a gente começou uma roda de conversa sobre representação e raça no audiovisual, voltado para o corpo negro e para o corpo asiático, fazemos isso nos eventos de “calourada” desde 2018, onde os alunos iniciados já entram conscientizados. Sobre partes de colegas de classe ninguém nunca me falou nada, ou desmereceu o meu trabalho, pelo contrário o pessoal sempre apoiou muito, já os professores entretanto rs, eu já ouvi de uma professora basicamente não saber aquilo que eu estava falando, já ouvi que a minha pesquisa é um zona de conforto. Enfim, os estudos asiáticos brasileiros não são vistos como algo que vale a pena pesquisar no Brasil sabe, por que você está pesquisando asiáticos no Brasil? Porque existem asiáticos brasileiros, fica esse questionamento. Quando a minha amiga foi apresentar uma pesquisa sobre

CORPO PRETO

fOto divulgação: Hugo Katsuo, diretor de O Perigo Amarelo nos Dias Atuais e Batchan. Crédito: Mariana de Lima

as duas são iguais”. Desde disso e também de professores colocando expectativas em mim por conta de ser asiático, ser da minoria modelo. Porém um fato que mais me marcou foi quando uma vez eu vi um post no Facebook, onde tinha um vídeo de pessoas asiáticas matando um cachorro, alguma coisa assim, esse vídeo não tinha sido gravado no Brasil, tinha gravado em outro país asiático e nem era a China, aí nos comentários “Ai esse china tinha que sair daqui, vieram para o Brasil fazer isso”. Então eu e um grupo de pessoas fomos nesse post e pedimos o responsável apagar isso, isso é xenofóbico, e fiz um comentário lá conscientizando que esse vídeo nem tinha sido gravado aqui, nem na China, enfim era preconceituoso e discriminatório. A pessoa que postou me respondeu assim “comedor de cachorro filho da p*ta que fazia parte de uma raça porca e nojenta, sai do Brasil”.


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CORPO AMARELO

a Coreia, perguntaram para ela, porque estudar a Coreia no Brasil? A gente estuda a França, os Estados Unidos, Canadá, tudo, mas Ásia não pode? A respeito desses acontecimentos, e eu me lembro de ter ficado muito mal, mas tive muitas pessoas que me apoiaram muito, minha orientadora foi maravilhosa e aceitou o meu projeto logo de cara, ela me parabenizou muito na banca, outro professor da minha banca me ajudou muito, a pesquisadora Dani Mazur inclusive foi da minha banca também, ela sempre me apoia, me manda referências bibliográficas, tive muitos privilégios e apoios, pois já vi muita gente desistindo de estudos asiáticos porque não conseguiam apoio em lugar nenhum.

Quais foram os feedbacks positivos dos seus trabalhos? Gostaria de citar a exibição do Perigo Amarelo no auditório da ECA da USP, tiveram muita gente, pessoas muito engajadas que fizeram perguntas muito interessantes. Foi um projeto feito por pessoas amarelas da universidade que queriam exibir ele lá. Eu fui muito acolhido pelo grupo de estudos asiáticos aqui no Rio de Janeiro, sempre me chamam para eventos, querem colocar os meus documentários, tenho apoio de muitos asiáticos brasileiros que veem falar comigo sobre o meu trabalho, querem citar o perigo amarelo em teses, dissertações e tccs, então eu acho que tive bastante feedback sim.

fOto divulgação: Trecho da entrevista de Felipe Higa no filme “O Perigo Amarelo nos dias atuais”

acadêmicos sobre isso. A Erica Suzuki foi me apresentada pela minha mãe, eu estava comentando com ela sobre essa questão de fazer um documentário e ela por acaso pesquisou sobre atores nipo-brasileiros e viu uma entrevista da Érica Suzuki falando sobre um caso de discriminação que sofreu durante uma gravação de um comercial, onde ela fala no documentário sobre isso e aí a minha mãe me mandou essa reportagem, eu entrei em contato com a Erica, eu tinha 16 anos quando tive a ideia do documentário, então demorou muito para ele ser feito, e eu entrei em contato com ela, ela topou, e a gravação só foi feita em 2018 quando eu já tinha 18 anos. O Hugo Noguchi foi uma amiga que me apresentou a ele, eu falei desse projeto

conheça, assista

Porque escolheu aquele grupo de militantes para abordar no seu trabalho?

Querem saber mais sobre Hugo Katsuo e os seus projetos?

Bom a Kemi não tinha como não colocar, pois foi ela que começou com tudo isso, foi ela que criou a página do perigo amarelo, e ela é a pessoa que está mais tempo produzindo conteúdos

A página Perigo Amarelo: www. facebook.com/perigoamarelo

Acesse o site: www, hugokatsuo.46graus.com

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documentário, ele é musico, e o Hugo me apresentou a Mariana Akemi que eu conheci virei amigo e ela tinha muitas questões pessoais assim como eu também tinha e a chamei porque eram assuntos importantes a ser falados. A Ing. Lee é uma artista incrível também que eu fiquei bem amigo depois e que tem um discurso muito coerente e um senso político muito forte. O Felipe Hilga dirigiu um documentário LGBTs nipo brasileiros, então achei interessante trazer o recorte LBGT para ele.

Como foi o planejamento desse documentário? Ele foi uma loucura rs eu tinha um dinheiro guardado na poupança que a minha mãe tinha guardo para mim, e eu não sabia quanto iria custar isso, então desde o final de 2015 eu acho, estava pensando nessas questões, foi um projeto que ficou muito na minha cabeça até conseguir colocar ele em prática, estava com essa vontade, só não tinha ideia de como fazer, aí eu tinha um diretor chamado Arthur Felipe Fiel me chamou para participar de um filme gay como assistente de produção e eu fiquei muito próximo dele e comentei sobre esse projeto ele também é produtor, além de diretor e roteirista, ai ele falou “Hugo, escreve esse projeto que te ajudo a fazer”, ai eu escrevi o projeto direitinho e tal isso no final de 2017, em dezembro desse mesmo ano mandei o projeto, Ai ele me disse assim, ok depois do carnaval de 2018 a gente grava, ai a gente gravou tudo, o Arthur é incrível, ele conseguiu equipamento barato, montou uma equipe, conseguiu as passagens das pessoas, ajudou a gente em locação, alimentação, ele viabilizou o projeto, praticamente assim, se dependesse de mim eu nunca teria feito brinca rs, e no final de fevereiro a gente gravou. Foi ele que me impulsionou e o documentário existe graças a ele.

Qual foi o maior desafio? Cara... a insegurança eu acho, porque eu tinha 18 anos quando dirigi ne, foi meu primeiro longa-metragem, terceiro set de filmagem que participava, sendo que um deles tinha sido matéria de faculdade, nem sei se conta, eu estava nervoso, achei que iria dar tudo errado, mas no final deu tudo certo, tem algumas coisas agora que eu mudaria, por causa de cabeça 30 JAN A MAR 2021

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ne, mas eu estava muito inseguro, eu sou uma criança o que eu estou fazendo aqui? Eu tentei deixar muito bem claro uns pontos para que eles não pudessem ser distorcidos.

O seu documentário é para o público brasileiro? Eu acho que ele não é muito palatável, e não por conta de público, mas a linguagem que eu tento fazer é uma linguagem muito formal, clássica, é entrevista basicamente, então eu não sei se ele faria um sucesso comercial, se eu o tivesse lançado em uma sala de cinemas por exemplo, mas tipo, para pessoas que estão envolvidas com militância raciais e que estão envolvidas com militâncias como um todo, pessoas que pesquisam, ele foi bem recebido sim, porque tem muito material para pesquisa ali.

E qual é o maior objetivo da militância asiática no Brasil? Ai eu acho que é desconstruir uma minoria modelo, é uma zona de conforto que parece que as pessoas não estão preparadas para sair, não existe essa solidariedade antirracista se nós não sairmos desse lugar confortável de privilégios, e também uma ala conservadora de nossas comunidades, porque desconstruir uma minoria modelo é desconstruir uma anti negritude, e tem gente que não quer. Porque quando você cola com militâncias raciais não asiáticos você tem certos privilégios, você começa a ser visto como uma ameaça, e tem gente que não quer, essa ameaça é um corpo que quer desestruturar certas coisas, a gente tem esse corpo inofensivo que não tem voz política, mas esse é um corpo que está falando de política, está se colocando em um debate, e está indo contra certas ideologias que oprimem a sociedade como um todo, e isso incomoda, nós vistos como uma ameaça política, vem uma onda de racismo, uma onda de xenofobia, o racismo começa a crescer mais ainda em relação a gente, mas é aquilo a gente tem que voltar a nossa militância não para a gente ficar em um lugar mais confortável que a gente está, mas todo mundo usufrua dos mesmos direitos, se não é uma luta antirracista.


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Fiquem com algumas fotos que eu tirei no em janeiro na minha ida ao Rio <3

A imagem a cima foi tirada no Botofogo Praia Shopping - Rio de Janeiro e ao lado direito na Praia de Piratininga - Niterói, após comer tanto açaí até explodir :)

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A MODA FUTURISTA (A)GÊNERO Por Gabrielly Guimel

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ntes de abordarmos a desconstrução de peças para falar sobre moda futurista, feita de tecidos tecnológicos, precisamos identificar a problemática de base que parte de um conceito “peças femininas precisam ser esculturais e peças masculinas precisam ser estruturadas”, diz o estilista de moda, Evandro Casarin. De acordo com ele, uma peça a gênero, é uma peça que cabe em todas

32 JAN A MAR 2021

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as pessoas e guarda roupas, não obrigatoriamente vislumbrando um estilo, ela tem que incluir variados tipos de corpos e biotipos “a moda a gênero também carrega a essência da indústria da moda, a moda futurista é feita para pessoas magras e na sua totalidade em preceitos de venda, desfiles e coleções lançadas, você só vê o corpo magro sendo beneficiado por que alguém diz que no futuro todo mundo vai ser magro”, completa. Dentre pautas discutidas na internet pelos os jovens, segundo um artigo do News York Times intitulado “Beyond Androgyny: Nonbinary Teenage Fashion” é a diversidade de gênero e a fluidez nas roupas. Em conversa sobre moda a gênero, Wesla Bravo, 25 anos, Americana, vai dizer “Dentro de um mesmo dia posso estar dentro de várias identidades”, afirma. Inteirado sobre o universo fashion e produção têxtil,


fOTO REPRODUÇÃO: WESLA BRAVO INSTAGRAM

EGO segundo ele a identidade transita na possibilidade e tem como preferência não se identificar como nada. “Não sou mulher, não sou trans, não sou binário, sou humane” afirma Wesla. O tom pastel são algumas das tendências apresentadas por essa moda, pois é um conceito que é vendido por conta da neutralidade, outra concepção é a divisão de modelagem de estéticas ditas como masculinas e femininas que precisam ser revistas, “quando se fala sobre coisas a gêneros participase do extremo de que não se pode ter essências ditas como masculinas ou femininas”, o que acaba se resultando em uma linearidade o mais distante possível dessas duas coisas, “cair numa peça quadrada branca, porque é uma coisa a gênero, não é uma verdade”, comenta Casarin. Podemos ver essa proposta de cores na coleção Primavera Verão 2020/ 2021 da Renner, onde ela traz para a temporada peças vibrantes e fluidas. Destaque para os tons pastel ácido, em rosa claro, lavanda, azul natural,

fOTO REPRODUÇÃO: SITE OFICIAL RENNER

NEUTRALIDADE

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fOTO divulgaçÃO: billie eilish |MARC PIASECKI/ GETTY IMAGES

34 JAN A MAR 2021

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verde menta e crus. Na cultura do pop ocidental, a cantora americana Billie Eilish, 18 anos, são alguns dos artistas que saem na frente abordando esses estilos “desconstruídos” como na matéria apresentada pela Harper’s Baazar Brasil. A cantora gosta de abordar em seus discursos a sexualização do corpo feminino e o body shaming (vergonha do corpo). Enraizada musicalmente no hip hop, o visual fica por conta de algumas referências como o street genderless (urbano sem gênero), peças oversized (grande demais), escolhidos pela jovem junto a sua estilista Samatha Burkhart. Algo que Mhanuelle Melissa Bueno de Mello, mana preta, 20 anos, também gosta de adquirir ao seu estilo. O street wear, o urban street com preto, couro e correntes compõe alguns looks da moradora de Americana, São Paulo, não binárie “Eu sou a roupa que a moda quer vender, porém só eu me dou o valor”. A ressignificação da moda através delu veio a partir do entendimento que elu é a informação que complementa uma peça. As pessoas olham, analisam, se confundem e questionam, mas o fator final, o julgamento decisivo, é o órgão que nasceu e não a roupa que está usando. A moda pode ser de grande motivação para levantar questionamentos que podem gerar influências, consequentemente ao final, trazer uma mudança com naturalidade, diz Bravo, pois no mundo sempre irão existir pessoas diferentes, o que muda são as formas de


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abordagem, linguagem, oportunidade e preparo. A juventude que está mudando o mundo é o caminho, continua, ela é a ferramenta motora que apesar de difícil, pode chegar nos meios corporativos tradicionais regimentados por ideais conservadores que ainda estão no processo de se adaptar ao novo “Os profissionais do ramo passam a imagem de serem desconstruídos e não são, tem muitas pessoas mal intencionadas e preconceituosas”, afirma. O casal de ídolos teens Jaden e Willow Smith estão também na linha dos jovens mais “cools” que desafiam os limites da moda. Em ensaio para a Vogue Korea em 2016 o casal ousou no movimento genderless (sem gênero), onde Jaden posou de saia e tailleur com atitude, mostrando a expressividade na variação de peças “femininas” aplicadas a um corpo “masculino”. Tanto sobre cores, estampa, tipo de tecido, não é sobre o visual, pois ele pode ser muito bem adaptado para todo tipo de pessoa, a moda a gênero tende-se a ser um grande agregador, reflete Evandro. Se pegarmos por exemplo, um paletó blazer preto de risca de giz, ele só será considerado uma peça masculina ou feminina “a partir do momento que a gente tira completamente as estruturas de corte, modelagem, valorização de corpos, partindo do preceito de que corpos são diferentes, a gente tira completamente o masculino e o feminino e é isso que precisa ser fundamentado” para uma peça ser considerada a gênero, afirma.

fOTO divulgação: jaden smith vogue korea 2016

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“O rolê é entender que não é sobre ser é sobre viver” – Manu.

SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO

fOTO REPRODUÇÃO: imagem concedida por manu

FUTURISTA A moda a gênero, complementa Evandro, cresce muito mais nos pequenos criadores para os grandes que se utilizam de peças já existentes e não criam peças absurdas extremamente futuristas sem recorte que ninguém entende como usa e pudesse partir mais para o estilo do Street Style, por que se a faz utilização de peças e independente, se faz parte do guarda-roupa masculino ou se faz obrigatoriamente parte do guardaroupa feminino, a moda gênero ela por si só já existia, é muito mais palpável, e mais simplista só que as pessoas tendem a complicar muito.

Elu conta a história do voguing sendo uma dança de resistência de travestis e de pessoas pretas, no qual trouxe esse cenário para Americana. Habitante de um corpo Nb (Nem feminino, nem masculino), Melissa discorre a liberdade momentânea do ser nesses lugares “É onde as manas usavam aquilo que elas são, as ball homes, montavam os melhores looks, pegavam tudo, para ser tudo o que elas queriam ser por uma noite”. “Pessoas não bináries, não vão negar conhecimento pra você, se você souber perguntar”, finaliza Melissa, falando que o binário deveria ser desconstruído, não quebrado, mas falado com naturalidade assim como falar do não binário também. Não por visibilidade, pois elu já é “viste”, quer falar sobre si e não ser “interrompide”.

fOTO divulgação: FASHION GENDERLESS |anthea Simms 36 JAN A MAR 2021

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fOTO divulgação: paper london 2016


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CONSTRUINDO FUTUROS NO MUSEU DO AMANHÃ Por Gabrielly Guimel

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entre as coisas mais legais que eu fiz nesse ano de 2020, foi ter ido ao Museu do Amanhã, na Praça Mauá, Rio de Janeiro. O museu que tem o formato de vitória régia foi projetado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava e custou em sua obra cerca de 230 milhões de reais, com o apoio da Fundação Roberto Marinho. De acordo com o seu portal

oficial, o Museu do Amanhã busca através de ciências aplicadas explorar as oportunidades e desafios que a humanidade poderá enfrentar nos próximos anos a partir de óticas da sustentabilidade e da convivência. Além de todo o impacto arquitetônico e cultural que ele oferece, a primeira experiência com o museu é logo na recepção quando o visitante recebe um cartão chamado IRIS, ali eu vi o processo de globalização no mundo. Outra coisa super interessante em se poder fazer um passeio nesses lugares e principalmente em época de férias no Rio é essa integração mundial que a cidade oferece. Desde a fila de entrada, aos corredores e salas de realidade Y UTH

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CIÊNCIA

virtual, você brasileiro, divide a sua experiência com inúmeras pessoas, de variadas partes do globo. É um sentimento de compartilhamento da humanização, somada com a proposta de conscientização ambiental, de uma forma muito realista e sincera. A IRIS, como falei na entrada, é um tipo de inteligência artificial, um assistente cognitivo que visa responder as perguntas dos visitantes e também formular perguntas. Ela percorre todos os stands de exposição do museu e em forma de cartão, o visitante o passa por lugares específicos, é uma maneira de motivar ao longo da amostra uma reflexão sobre o nosso papel na sociedade, o agir para uma amanhã mais consciente, tolerável e sustentável. No primeiro andar passamos brevemente por todas as áreas, Amanhãs, Atrio, Terra e Contexto, painéis com conteúdo informativos, para quem quiser ler e absorver com calma levaria mais uns dois dias para isso. Experimentações de sentidos, o museu traz sensações ligadas a natureza e ao corpo humano, o ver, o tocar, o sentir, o analisar. Essa ideia de globalização como falei interiormente, vem do museu também em abordar a diversidade, seja ela étnica, racial, cultural, religiosa dentre outras. Os cinco painéis de Led no segundo andar dão o convite para a Exposição Principal da amostra, Cosmos, Terra, Antropoceno, Amanhãs e Nós, foram elaborados por um time de mais de 30 consultores brasileiros e estrangeiros de variadas áreas. Imagens de destruição ambiental, poluição, dados e estatísticas se juntam ao grande questionamento da humanidade retratados nos painéis “De onde viemos? Quem somos? Onde estamos? Para onde vamos? Como queremos ir?”. Lembro-me quando estudei redação e editoração para o web, o professor dizer um termo chamado “experiência do usuário” e é isso que por meio a tecnologia, o Museu do Amanhã vai trazer essa sensação completamente imersiva, aliando o futurismo da tecnologia a uma reflexão sobre as realidades que estão acontecendo com o nosso planeta. Para quem tiver a oportunidade de ir algum dia, fica essa dica. Informações sobre o Museu do Amanhã acesse o site oficial.

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CONSCIÊNCIA


fOTO divulgação: todas as imagens foram tiradas pelo autor

MA CITY

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QUEM EU DE

BANGTAN BOYS UMA

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EVERIA SER?

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fOto reprodução: youtube series “burn the stage”

A BOYBAND INCOMUM


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expansão da indústria popular sul-coreana é algo cada vez mais notável desde a sua popularização a partir dos anos 90. A chamada Hallyu, onda do entretenimento sul-coreano, vem tomando cada vez mais espaço na indústria ocidental. O BTS, como maior expoente dessa expansão, tem sido o nome mais falado quando nos referimos ao K-Pop. Contudo, será que os sete artistas realmente fazem parte dessa indústria? De acordo com a coluna da Billboard “BTS’ Most Political Lyrics: A Guide to Their Social Commentary on South Korean Society”, a música e a política andam juntas e na indústria da cultura pop sul-coreana não é diferente, principalmente porque as estrelas “idols” são incentivadas a participarem de eventos ligados ao governo de seu país. Porém, mesmo conectados às questões políticas, esses artistas raramente abordam assuntos polêmicos em suas músicas, normalmente relacionadas à romance, festas e, ocasionalmente, amizade e vida diária. Mas com faixas

e significados socioeconômicos, o BTS se distancia dos demais ídolos, e se apresenta como uma banda que aborda esses assuntos com regularidade, incorporando em suas letras críticas à sociedade da qual fazem parte . O início das boybands, segundo a linha histórica do fenômeno datada pelo site Barbershop Harmony Society, começou no século XIX. Na época, quartetos de barbearia uniam suas vozes e se apresentavam a capella para o público. Essas bandas, desde a formação, cantavam sobre a temática do amor voltada para a música pop. De acordo com uma matéria da Forbes Brasil, os Estados Unidos e a Inglaterra foram durante 60 anos os incubadores desse tipo de grupo: desde os originais Beatles (1960), passando pelo *NSYNC de Justin Timberlake nos anos 90, até à produção de 2012 do “X-Factor” britânico, o One Direction, fazendo com que esses grupos de rapazes cantores tenham rendido milhares de dólares anuais mundialmente. Porém, um mercado de entretenimento vem despontando na briga pela indústria fonográfica mundial chamado K-Pop. E por mais que este ritmo seja muita das vezes atrelado a um gênero musical, ele é constituído por uma indústria, encabeçada por uma hierarquia de empresas — as chamadas Big 3 (em português traduzido com “as três grandes”): YG Entertainment, JYP Entertainment e SM Entertainment. Por isso, quando falamos a respeito da indústria cultural e seu sentido de reprodutibilidade, é preciso entender e discutir o valor artístico aplicado a ela. No caso do país do leste-asiático, o

suga, 27 anos fOto divulgação: HQ | 2015.09.20 - All Force One © SU CAN FLY

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PERSONA confucionismo figura como uma filosofia extensamente relevante, que impacta, inclusive, nas práticas empresariais. Nas palavras da jornalista e organizadora de eventos Ana Luiza Gomes, as tendências e modas seguidas por empresas menores são ditadas pelas Big 3. “Se, por exemplo, a SM Entertainment lançar um MV (music-video) com certos tipos de cenário, figurinos, maquiagens, etc., todas as outras empresas menores irão seguir essa tendência”, explica a jornalista. Gomes, que teve mais de 12 mil curtidas em um tweet sobre seu TCC de análises dos clipes do BTS, diz que essas grandes empresas atuam como propulsoras de cultura. “Seguir essa fórmula pode ser considerada uma forma de respeito por aquilo que veio anterior a ela”.

Big Hit Entertainment

2005. Mesmo com o lançamento de ídolos ao mercado com o apoio da JYP, levou um tempo até que as receitas começassem a crescer. A luta fez com que Bang e o cochefe executivo Yoon reavaliassem suas estratégias. Por isso, foram feitas uma série de pesquisas e análises na tentativa de responder as perguntas : “O que é um ídolo? O que é este negócio em que nos metemos? Quem são os fãs, e quais são suas características?”. A jornalista Ester Santana, 23 anos, que trabalha para um jornal de economia e finanças, diz ser uma grande entusiasta da Big Hit Entertainment. Ela conta que as empresas sul-coreanas são conhecidas internacionalmente por serem extremamente competitivas e por terem um histórico de práticas desleais, muitas vezes fomentando um ambiente empresarial tóxico. “Isso só me faz admirar ainda mais a Big Hit e como eles conseguiram

ilustração: nefows

A atual empresa multimilionária, e responsável pela criação do maior boygroup do mundo, BTS, teve o seu começo humilde. Em um estudo de caso intitulado “Big Hit Entertainment and Blockbuster Band BTS: K-Pop Goes Global”, conduzido pela Universidade Harvard, o CEO Bang Hyu Shik PD contou sobre o processo de fundação da sua empresa. Bang, que nos anos 90 havia se juntado a JYP como compositor e produtor, quis se aventurar por conta própria e estabeleceu a Big Hit Entertainment em

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esse espaço. Tiveram que arrebentar a janela, porque não havia espaço para entrar pela porta”, diz, referindo-se ao período em que a Big Hit lutou para se inserir no mercado do entretenimento. O trabalho de pesquisa desenvolvido pela empresa durou três dias e foi chamado por Bang de “workshop”. Nele, executivos analisaram e discutiram conclusões sobre as mais amplas perspectivas do mercado. Um dos tópicos mencionados foi sobre o uso de tecnologias digitais, que reúnem pessoas, mas que ao mesmo tempo as fazem se sentir isoladas. “E por isso, precisávamos encontrar uma maneira de ajudá-las, inspirá-las e curá-las” explica ele. A partir daí surgiu a missão da companhia “Bit Hit Entertainment: Music and Art for Healing”, em português traduzido como “Bit Hit Entertainment: Música e Arte para Curar”. “Estudamos o sistema estereotipado de ídolos do K-Pop e como ele pode ser desenvolvido em um modelo de negócios sustentável”, afirma Bang. Essa nova abordagem mudou praticamente todos os aspectos que a empresa trouxe para seus artistas e para o mercado. Uma cultura corporativa saudável foi instaurada, promovendo uma relação de confiança entre os artistas e os seus fãs. Yoon também acrescentou: “Nós enfatizamos a noção de ‘vencer juntos’. Queremos quebrar uma prática da indústria que é muito hierárquica, onde os artistas estão no fundo”. Um exemplo prático dessa decisão foi a iniciativa de não utilizar títulos honoríficos – uma característica do idioma coreano que distingue a faixa etária dos oradores – para chamar os artistas de dentro da Big Hit. A prática, incomum dentro da indústria mais ampla, demonstra a valorização que a

fOto divulgação: facebook bighit entertainment

m o n m a e r d e r o m o n m a e r d e r o m o n m a e dr e r o m o n m a e r d more

rm, 25 anos 44 JAN A MAR 2021

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Big Hit deu aos seus artistas.

fOto divulgação: bighit entertainment gravação do álbum dark n wild

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r o m o n m a e r d e r mo o n m a e r d e r o m o n m a e r d e mor MuSICALMENTE FALANDO

fOto divulgação: bang shi hyuk ceo bighit entertainment

Os Bangtan Boys aka Escoteiros à Prova de Balas tiveram o desenvolvimento da sua popularidade um pouco diferente do que já estamos acostumados quando falamos das bandas ocidentais. E é nesse sentido que Padma, músico com especialização em “música mundial e culturas”, tenta definir os fatores de maior diferenciação do grupo sulcoreano nas duas principais indústrias da atualidade: a ocidental e a do leste asiático. É a história. Escritor do blog Aladpama Music, em conversa com ele, pedi permissão para primeiramente citar um dos seus artigos intitulado “Why BTS Isn’t K-pop” , “Porque o BTS não é K-pop” em português, antes de entrarmos em sua perspectiva sobre os processos de composição e produção do grupo. Em seus estudos sobre música clássica do leste asiático vista como gênero, ele fala sobre a forma como o grupo de sete artistas aplicou a essência da música tradicional coreana em suas canções. Na época do imperialismo, a Coreia do Sul foi marcada por opressão, dor e tristeza. E essa dor, em coreano, chamasse han, narrada nas histórias tradicionais como P’ansori – uma música de enfrentamento à realidade dura vivenciada pelo povo. A jornalista Ana Luiza lembra que um dos motivos pelos quais o grupo não fez sucesso ilustração: nefows Y UTH

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fOto divulgação: bts connect nova iorque |naver e dispatch

ilustração: nefows

de imediato em seu país foi devido aos assuntos abordados por eles nas músicas. Um país com um dos mais altos índices de suicídio no mundo e com uma sociedade tradicional não estava preparado para discutir temas tão delicados como saúde mental, violência, abuso, desigualdade, entre outros. Lúcio Costa, formado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), diz que seu fascínio pela cultura asiática começou desde pequeno. Na faculdade, ele estudou o tema mais a fundo, concluindo seu curso com foco na história do Japão. O primeiro contato que Lucio teve com a cultura asiática foi assistindo desenhos animados japoneses, mais conhecidos como animes. Segundo ele, naquela época, se alguém lhe perguntasse o que era cultura 46 JAN A MAR 2021

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fOto divulgação: black swan mv photo sketch | facebook bighit entertainment

asiática, ele descreveria como sendo a cultura japonesa. “Essa conexão estava no que eu mais consumia deles: a arte. Eram os contos, folclore, história e música. Era uma expressão cultural, e por mais distante e remoto que os povos sejam um do outro, cria-se uma conexão através da beleza, da semelhança e também do que é diferente do outro”, afirma. Ao longo do curso, Lucio passou a se interessar por outros países como China e Coreia, e por mais que existissem elementos semelhantes aos do Japão, como a relação de hierarquia social, havia pontos que marcavam as diferenças entre esses países. Em uma análise técnica musical do álbum Map of the Soul: Persona, do boygroup BTS – baseado no aclamado livro Map of the Soul Persona: Our Many Faces do psicanalista Murray Stein – o produtor e youtuber do canal Tá Na Capa, Júlio Victor, fala sobre os elementos sonoros que compõem o disco. “A grande questão para mim sobre o Map of the Soul, quando penso no diálogo com o Jung, é que a primeira camada de assimilação do álbum não está relacionada somente a um mapa da alma, e sim aos grupos de K-pop. A pluralidade que existe no fato de serem principalmente vocais como


BTS, onde se tem vários integrantes que desempenham papéis, funções e estereótipos diferentes e como cada um aponta numa direção, se relacionando com a estruturação da psique humana através dos arquétipos”, afirma o produtor. Segundo Victor, a intro de Persona, música que nomeia o disco, traz um senso crítico e uma maturidade para encarar e duvidar da realidade, daquilo que achamos sobre nós mesmos e do que as pessoas pensam sobre nós. Tudo isso cantado de “uma maneira muito realista, sincera e nada romantizada”. Para o músico Padma, o processo de produção musical do BTS é uma ótima representação do que as pessoas buscam atualmente na música moderna. “O estilo de produção é limpo e repleto de muitos elementos interessantes, tudo é montado de uma forma holística e suave. O BTS faz uso de alta tecnologia. Um bom sistema de alto-falantes e bons fones de ouvido permitirão que você ouça muitas coisas que talvez não tenha notado com um equipamento mais básico”, compartilha. Contudo, segundo o músico, o principal destaque da produção musical do BTS é o uso de instrumentação real junto aos sons produzidos digitalmente. “Músicas como “ON” e “Black Swan” contêm amostras de instrumentos reais. “ON” tem samples de instrumentos de banda marcial e “Black Swan” tem um arranjo de cordas inteiro para a versão orquestral. Isso é o que eu acredito ser um gayageum* na versão regular”, conta, dizendo acreditar que essas canções demonstram o quanto sons de instrumentos reais podem ser gravados e incorporados na produção musical moderna, continuando a soar como algo novo.

fOto divulgação: invictus

PERSONA

jimin, 25 anos Y UTH

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*Gayageum ou Kayagum é um instrumento musical de origem coreana bastante assemelhado às cítaras. Normalmente tem 12 cordas e seu nome significa instrumento de cordas.

O sucesso de fora para dentro Em 2014, Camila Favário estudou Design Gráfico na Coreia do Sul, na Universidade Hanyang. Ela conta que o ambiente universitário era extremamente difícil, ainda mais por ser uma estrangeira. Apontando os momentos mais difíceis de seu intercâmbio, Camila cita o ranking que classificava os melhores estudantes e promovia uma competição assídua entre os alunos. “Lá, existe um ranking de melhores alunos que competem por bolsa na faculdade, pois na Coreia o ensino é muito caro”, explica Favário. Apesar de ser uma estudante bolsista, Camila não tinha o propósito de ir ao país tirar a vaga dos demais. Para explicar melhor o clima competitivo, ela cita o sistema de pontuação de ensino adotado no país. “A nota não pode ser igual. É um sistema deles de 0 a 100, por vírgula, com decimal. Você não tirava 97,8, por exemplo. Você tirava 97,66 e eles 97,68, ficando em uma posição acima da sua”. Em entrevista ao programa americano Build Series no Youtube, o cantor Eric Nam mencionou um evento especial envolvendo o BTS. Ele recordou

de quando estava apresentando um programa todo em inglês (After School Club) sobre K-Pop para os fãs internacionais. Nele, vários idols, dos calouros até os veteranos, eram entrevistados. Segundo Eric Nam, em entrevista com o BTS, os sete artistas desabafaram: “Cara, é muito difícil. Aqui na Coreia tem muita competição, é muito difícil sobreviver como um grupo”. Na época, a boyband hoje internacionalmente famosa havia recém lançado os primeiros álbuns e era pouco conhecida dentro da Coreia do Sul. Os pequenos astros em desenvolvimento queriam ascender ao sucesso, se tornar pessoas internacionais e trabalhar com gente importante. “Eles focavam em coisas que não eram da perspectiva de um grupo de K-pop. É como as pessoas internacionais os veem”, diz Eric. Inicialmente, a indústria do K-pop foi originada do J-Pop, o pop japonês. Então, era comum artistas sul-coreanos crescerem no próprio país e se expandirem para países como Japão ou China. Porém, muito dinheiro e investimento eram necessários para isso. Para contornar a falta de recursos, a gravadora Big Hit decidiu investir em realitys shows. Um desses, o Rookie King, era um programa feito para grupos que acabaram de debutar, transmitido na Coreia e o outro, o American Hustle Life, gravado nos Estados Unidos. A jornalista Ana Luiza retrata algumas das dificuldades enfrentadas pelo grupo no início. “Logo nesse fOto divulgação: necessarily_

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PERSONA reality em 2014, a gente conseguiu ver o BTS fazendo shows nos Estados Unidos, pedindo para que as pessoas fossem assistir a apresentação deles, o que era algo muito triste de se ver”, conta. “O Brasil foi um dos primeiros países a serem visitados em uma tour. O grupo foi tão bem recebido que causou um sentimento de gratidão que eles não esquecem até hoje”. Por causa dessa popularidade gradual — de fora para dentro da Coreia do Sul — as pessoas começaram a se perguntar quem eram aqueles garotos. O cantor Eric Nam, um dos que acompanharam o desenvolvimento dos sete, diz perceber o quanto eles cresceram, mas continuam os mesmos na essência, apesar da enorme popularidade. “Eles foram tomando conta do mundo e agora são gigantes. Mas é muito legal ver como eles se desenvolveram como um time e quando eu os vejo, eles ainda são humildes, trabalhadores e encorajam uns aos outros”, finaliza Eric ao Build Series.

asiática no mundo. Segundo ele, esse processo de masculação e visão do corpo asiático é advindo do orientalismo. A recepção do povo asiático durante o período de imigração foi minada pelos homens norte-americanos na tentativa de impedir que muitos homens amarelos formassem suas famílias. Essa ideologia tinha como objetivo ferir a honra desses homens e mulheres asiáticas, dificultando também o processo de desenvolvimento da cidadania no país. “Muitas mulheres e muitos homens tiveram sua cidadania negada, pois a cidadania estava ligada à maternidade. Você não tinha direitos e nem poder de exercer funções políticas”, explica Katsuo. Continuando a história, as

Masculinidade E Racismo

ilustração: nefows

jungkook, 23 anos

Conversando acerca da recepção da cultura popular sul-coreana no Ocidente geográfico, Hugo Katsuo, fala mais sobre o racismo amarelo no Brasil. O cineasta da Universidade Federal Fluminense veio narrar para gente um pouco do processo histórico da imigração amarela nos Estados Unidos (Ato a Exclusão a Chineses de 1882) e como ela ajudou a construir o sentido da masculinidade

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fOto reprodução: facebook bighit entertainment

oportunidades de emprego do homem amarelo apareciam para trabalhos considerados femininos e, por causa disso, homens asiáticos eram vistos como menos homens. A caricatura do homem asiático na indústria do entretenimento ajudou a difundir essa ideologia. “Tudo ocorre em torno disso, pois a gente consome esses produtos de Hollywood. Aqui no Brasil, no quesito da racialização, a gente também acaba tendo essa visão”, afirma Hugo, que em sua tese de mestrado dissertou sobre a tentativa de definir uma raça através da criação de estereótipos. Essa ideologia aplicada ao K-pop faz com que os corpos dos homens amarelos sejam vistos como desprovidos de uma masculinidade hegemônica, que é uma masculinidade branca ocidental. Segundo essa visão, idols são enxergados como afeminados, andrógenos ou até mesmo assexuados. “Enquanto para um homem negro acontece o extremo oposto, nesse contexto, o homem asiático é homem de menos. O homem negro vai ser homem de mais, que beira a selvageria, é agressivo e o homem branco está no meio. Se ele não está nem em um extremo, nem em outro, então ele é a masculinidade ideal, que não é tão agressiva, másculo, mas também não é tão afeminado” afirma Katsuo. A respeito do racismo amarelo no Brasil, Hugo aponta dois fatores. “Existem dois mitos no Brasil que eu acho que a gente precisa urgentemente desconstruir. O primeiro mito é o da democracia racial, de que não existe racismo no Brasil. O segundo é o de que brasileiro recebe todo mundo de braços abertos”, afirma.

ORIENTALISMO É um termo polissêmico utilizado tanto para definir os estudos orientais, quanto para designar sua representação, imitação ou mistificação, segundo uma visão eurocêntrica de determinados aspectos das culturas orientais. Edward W. SAID, em seu livro “Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente”, vai falar na sua tese que o “Ocidente” inventou o “Oriente” por meio do exoticismo literário e científico. Autores ocidentais agruparam povos e nações distintas do norte da África, dos países árabes, da Pérsia e do subcontinente indiano em um só “balaio”. Contextualizando com a ideia homogênea de que o continente asiático seja um só e todos são iguais.

V, 24 anos 50 JAN A MAR 2021

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ilustração: nefows

PERSONA Katsuo cita as leis anti-imigratórias (1937-1953) durante a Era Vargas na Teoria do Etiquetamento (1930-1945) no país, que foi marcada por discursos xenofóbicos, além de apresentarem um viés de eugenia racial e uma política de embranquecimento. “Existe um artigo que falava que não era permitida a entrada de asiáticos e africanos, e um livro chamado “Imigrante ideal: O Ministério da Justiça e a entrada de estrangeiros no Brasil (1941-1945), do escritor Fábio Koifman”. A cultura do racismo e da xenofobia amarela no Brasil começou antes da imigração asiática amarela para cá, quando já existia possibilidade do fim da escravidão. O Brasil precisava de uma mão de obra que fosse um elemento transitório do trabalho escravo e do trabalho livre e, por causa disso, usaram os imigrantes chineses para essa função. Segundo Katsuo, os imigrantes também foram cotados em debates que elencavam a possibilidade deles também trabalharem em regime de semi servidão. Em 1850, quando já se falava acerca de abolir a escravidão, os fazendeiros buscavam novas formas de substituir a mão de obra escrava negra. “Alguns queriam a entrada dos imigrantes aqui, pois os achavam superiores às pessoas negras e indígenas. Por outro lado, tinham pessoas que achavam que iriam acabar degenerando a integridade do país”, explica. Os termos em pauta eram “os desejáveis e os indesejáveis”. Sendo os primeiros, grupos mais brancos que deveriam embranquecer o país e os segundos, não brancos do ponto de vista racial, ou seja, negros e amarelos. Os amarelos, inclusive, foram descritos assim pela revista Ilustrada: A popularíssima Revista Ilustrada, que Joaquim Nabuco uma vez descreveu como “a Bíblia da abolição dos que não sabem ler”, denunciou Sinimbu como um “apologista”, queixandose: “Como se os pretos já não fossem o bastante, [agora] teremos os amarelos!” (Lesser, 2001).

Para Hugo Katsuo, a xenofobia amarela no Brasil foi alimentada pelas teorias raciais. “Nessa ideia de criação da identidade nacional, se coloca o amarelo como estrangeiro, a triangulação racial dos exércitos americanos, o mito das três raças, os negros, os brancos e os indígenas. Você não inclui nesse estado nação pessoas amarelas”. A jovem paulistana Sojin, de 19 anos, compartilha sua experiência sobre como o corpo amarelo é visto como estrangeiro por não possuir fenótipos de brasilidade. “Eu, minha família, parentes e amigos coreanos já ouvimos muitas vezes “japas”, “voltem para a terra de vocês”, conta. De ascendência coreana, diz que desde pequena sentia a diferença no tratamento que os professores davam para ela e para outras crianças da turma em que estudava. Sojin conta que experimentou o mesmo tratamento com colegas e pessoas no cotidiano. “As pessoas acham que isso não tem nada de mais, mas quando você “brinca” de puxar os olhos para imitar um asiático é MUITO desrespeitoso”, afirma. Outro evento compartilhado por ela aconteceu no início da pandemia causada pelo novo coronavírus, enquanto estava indo trabalhar. “Um dia, quando estava indo para o trabalho, entrei no metrô e uma senhorinha olhou para mim da cabeça aos pés e falou para amiga dela: tem uma chinesinha atrás de você”, conta Sojin, dizendo que, logo em seguida, a senhora pegou a jaqueta, cobriu o nariz e a boca e ficou a encarando o restante da viagem. Ser parte de uma boyband global também não faz o BTS imune ao preconceito. Um dos incidentes de xenofobia protagonizados pela mídia internacional, por exemplo, aconteceu durante o programa de TV australiano “20 to One”. Na ocasião, os apresentadores Erin Molan e Nick Cods fizeram comentários desrespeitosos e racistas, apresentando o grupo como o “One Direction da Coreia do Sul sobre o qual você nunca ouviu falar”. Em uma das falas Nick Cods disse: “na primeira vez que eu ouvi que algo coreano havia explodido na América, fiquei preocupado. Então entendi que poderia ter sido pior. Mas não muito pior”. Erin Molan acrescentou: “eles são o primeiro ato coreano a ter o número 1 na América, o que é ainda mais impressionante porque apenas um membro da banda fala inglês”. Em 24 de fevereiro de 2020, o apresentador do “The Howard Stern Show” da rádio SiriusXM, Howard Stern, falava sobre o coronavírus quando relembrou a visita que o BTS fez em 21 de fevereiro. Segundo ele, em reação a visita do Y UTH

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j-hope, 26 anos

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grupo seu escritor Sal Governale disse: “Não há como esses caras não terem o coronavírus”. Na mesma hora, o apresentador Howard Stern acusou-o de ser racista e o produtor Gary Dell’Abate respondeu, dizendo: “Cada celebridade que passa pela porta do SiriusXM está viajando por todo o mundo, não apenas os asiáticos”. A notícia repercutiu e acabou sendo publicada na Weverse Magazine, plataforma de comunicação oficial do grupo promovida pela gravadora Big Hit.

Bangtan style, premiações e charts no ocidente Bangtan Sonyeondan, “Bulletproof Boy Scouts”, ou numa tradução livre, “escoteiros à prova de bala”. De acordo com o integrante J-Hope, o nome significa que o grupo deseja bloquear os estereótipos, críticas e expectativas que estão apontadas para os adolescentes. No entanto, em 2017, o nome ganhou um novo significado: Beyond The Scene, ou “por trás das cena”, como parte da nova identidade global da banda. A tentativa de encontrar felicidade no processo, citada pelo líder RM, pode ser vista na própria trajetória do grupo desde sua estreia, em 13 de junho de 2013, com a canção “No More Dream” e seu rap agressivo.

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Porém, além do rap, o grupo explora diversas facetas de gênero. Segundo o músico Padma, “eles mudaram completamente o paradigma da música popular com a redefinição do termo pop. Termo este historicamente associado ao mainstream branco, onde pessoas de cor raramente foram consideradas superestrelas, sendo Michael Jackson uma grande exceção”, explica. “Anteriormente, a identidade do leste asiático nunca tinha sido relacionada ao estrelato pop global. Hoje, o BTS percorre uma ampla variedade de gêneros e não adere aos requisitos da música pop definidos pelo Ocidente”. “Por exemplo, ter um álbum “pop” com fortes faixas de rap (como UGH em Map of The Soul: 7) é extremamente diferente do mundo pop, onde o espaço sonoro de um álbum é geralmente contínuo, com poucas ou nenhuma mudança de gênero”, afirma o músico. Algo que o produtor Júlio Victor também vai falar da canção Dionysus do álbum Map Of The Soul:7. “A música que mais me surpreendeu e eu mais gostei é a Dionysus porque ela tem esse lance muito influenciado pelo rock como um todo e eu acho que ela quebra, dois pontos. O primeiro de ter a figura de uma divindade ocidental em um grupo oriental, isso mostra tanto o aspecto do globalismo que o BTS tomou a ponto de se valer de referências de fora e comunicar com isso”, diz. “O segundo é o próprio estereótipo do arquétipo que Dionísio representa, como isso faz uma balança ao estereótipo do homem asiático, o homem mais contido, tímido, que está mais relacionado a um componente cerebral de inteligência”. Dionísio, conta Victor, é uma divindade absolutamente carnal que

fOto divulgação: 2seokforyook

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jin, 27 anos Y UTH

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não tem o aspecto do pensamento consciente. Ele representa um lado das divindades mais instintivas. “Gosto dessa quebra de paradigma, e ela aparece musicalmente também, porque você não tem uma sonoridade puramente pop, você tem uma sonoridade de banda, uma sonoridade que envolve integrantes gravando instrumentos, trazendo uma energia que está para além da sensibilidade, mas também faz parte dela o festejar, o sanguíneo, o instintivo, só que mais mais solto, menos planejado”, conclui. Para a jornalista e escritora de cultura coreana Camila Monteiro, o fato do líder RM ter sido o início do grupo influenciou na qualidade artística de toda a produção da banda. “A rap line faz sempre isso e acabou influenciando a própria vocal line a produzir conteúdo autoral também”, diz. Em mercados onde um grande número de compositores estão envolvidos na produção de uma faixa musical, muitas das vezes a canção pode acabar se perdendo no meio do caminho. “No BTS, não podemos falar que não existe muita gente compondo. Não é simplesmente uma pessoa que escreve e grava. Contudo, é surpreendente como o grupo mantém uma estrutura e padrão de produção de música mainstream, que também envolve pessoas e engrenagens, mas consegue entregar um produto final em que essa sonoridade não é tão massificada”, explica. “A própria estrutura de ser um grupo permite isso, o que talvez um cantor solo não tivesse, com tantas letras e espaço. Quando se envolve vários cantores, quando se é necessário produzir muitas linhas e gerar protagonismos diversos, a profundidade quanto ao leque de conteúdo em sua totalidade só aumenta e apresentados pelo grupo, passou do raso”. Em 2018, em entrevista para o Grammy Museum, Suga disse ter cuidado ao falar do pop-coreano como gênero, pois, segundo ele, o K-pop não pode ser classificado dessa forma. Para ele, uma abordagem melhor seria “conteúdo integrado”. “O K-pop 54 JAN A MAR 2021

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inclui não apenas a música, mas as roupas, a maquiagem, a coreografia… Todos esses elementos meio que se amalgamam em um pacote de conteúdo visual e auditivo, que acho que o diferencia de outras músicas ou talvez de outros gêneros. Novamente, como eu disse, ao invés de abordar o K-pop como seu próprio gênero, acho que abordá-lo como esta integração de diferentes conteúdos seria melhor”. A visão do rapper também foi manifestada em outras ocasiões. Ainda no início deste ano, em entrevista ao Record Academy, Suga afirmou: “Acho que é cada vez menos significativo dividir a música em gêneros agora”. O pensamento é compartilhado por outros membros do grupo. Quando questionados sobre o processo criativo adotado por eles e os gêneros musicais explorados em Map Of The Soul: 7, Jungkook, V, J-Hope responderam: “O gênero é BTS. Esse é o gênero que queremos fazer e a música que queremos. Um novo gênero”. O produtor Júlio diz perceber o quanto as letras do BTS conseguem se distanciar da linguagem geralmente usada no mainstream para falar sobre assuntos do cotidiano, como relacionamentos. “Eu percebo que em seven, o BTS se distanciou um pouco da linguagem usada pelo mainstream. Na era Love Yourself isso já estava acontecendo, algo mais introspectivo. Porém, em Map of the Soul, isso ficou na esfera do que é o pensamento, da vontade e não na esfera do relacionamento de uma pessoa com a outra, falando fisicamente sobre alguém. O álbum tem essa camada de reflexão, mais psicológica, subjetiva, o que não é comum dentro do pop”, explica. Como produtor, Júlio tem seu parecer a respeito do gênero. “Eu acho que o pop se atém abaixo do volume da letra. É pouca letra em uma música, principalmente no refrão. Coisa que não ocorre neste álbum, pois ele tem muita letra mesmo”. Para ele, o volume de informação é um ponto crucial quando se compara o conteúdo lírico produzido, pois faz com que as letras tenham mais aprofundamento e tratem de assuntos menos efêmeros. “A partir disso, entra a camada de falar sobre a própria personalidade, de tentar entendê-la dentro da questão dos medos, da aceitação, da saúde mental, do que se está perdendo, do que se quer encontrar e se permitir”, reflete. Subcategorias é algo que já vem aparecendo esporadicamente quando falamos de premiações estadunidenses. Nomes como VMA, Billboard Awards e Grammy são referência de sucesso no mercado fonográfico ocidental. O sucesso de Dynamite, simultaneamente no top Hot 100 da Billboard e no Global 200, é reflexo disso. O BTS foi


fOto divulgação: as manchetes dos principais jornais da coreia do sul © noire_studio_min_suga_suga_leveyrini

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o primeiro ato totalmente sul-coreano a chegar no topo da lista de 100 melhores, que reúne os artistas mais tocados nas rádios, além de dados de vendas no país. Dynamite foi o primeiro single do grupo cantado totalmente em inglês. O BTS já vinha alcançando os principais charts com canções cantadas em coreano, porém ascendeu ao topo ao interpretar uma canção na língua “universal”. Apesar do estrondoso alcance, à agência de notícias Reuters, o líder RM compartilhou um pouco de como o grupo internacionalmente bem-sucedido se sente quando o assunto é Grammy. “Somos como aliens para a indústria musical americana, então, não sabemos se há um lugar para nós ou não. O Grammy não é como o Billboard Hot 100, não são números. Então, não sabemos o que acontece, mas ainda sonhamos com um Grammy, uma apresentação solo ou uma indicação. É como um dos nossos últimos sonhos”, disse. Desde 2017, os Bangtan Boys têm sido indicados para categorias que não se enquadram com seus valores musicais, como a Top Social Artist, que mede a popularidade na internet, ou a Best K-pop. A publicitária Luana Delvito, de 23 anos, diz perceber o quanto o grupo tem sido usado como “token” para atrair espectadores. “Quando se trata de premiações ou quando o artista está indicado a alguma categoria social, claramente é apenas uma estratégia de marketing para aumentar o engajamento e audiência do programa”, afirma. “Apesar de ser uma forma de inclusão de outros artistas, a indústria americana acaba segregando e, no final, não inclui o BTS de verdade”. Segundo o YouGov Omnibus, 50% dos americanos em 2018 disseram que “podem curtir” uma música cantada em um idioma que não entendem. Padma, como músico, acredita que a música popular

sempre foi associada ao Ocidente devido o idioma inglês ser referência de língua “universal”, bem como uma língua cantada em grande parte dos sucessos do pop. Entretanto, com o BTS, isso mudou completamente, pois eles demonstraram que uma estrela pop pode cantar em qualquer idioma e ainda assim ser global. “A presença do idioma coreano não impede o BTS de se conectar com milhões de pessoas ao redor do mundo, incluindo os Estados Unidos e Reino Unido, onde a música pop que não seja cantada em inglês é frequentemente mantida fora do sistema”, declara o músico. Em uma transmissão ao vivo de fãs, J-Hope, um dos integrantes do BTS, explicou abertamente sua preocupação por não saber falar inglês. Segundo o rapper, caso seu inglês fosse melhor, seria muito mais divertido fazer entrevistas e se comunicar com outros artistas nos EUA. “Mas pense bem”, disse ele em coreano para 5,5 milhões de fãs. “Mesmo que eu não saiba falar o idioma, posso me comunicar com outras pessoas. A sinceridade sempre funciona. Por qualquer meio”. Catharina é bailarina de diversas modalidades como ballet, jazz, contemporâneo e diz se conectar com o grupo através da arte e do design. “Todo o cuidado que eles têm na concepção de imagem vai além, pois o cenário aliado a música consegue estabelecer uma conexão capaz de tocar as pessoas mesmo elas possuindo culturas diferentes”, compartilha. A produção do Bangtan fez com que a jovem Catharina experimentasse as músicas em diferentes tons e sentimentos. “Era algo que me tocava que nem um abraço em alguns momentos, e em outros, me fazia sentir muito animada. Isso reavivou minha vontade de dançar” reflete. E Padma como alguém que estudou dança em várias culturas, considera o estilo de apresentação do BTS como um dos fatores distintivos do grupo entre essas duas grandes indústrias. “A indústria ocidental é muito sônica (auditiva) Y UTH

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e digital. O som é o aspecto mais importante nas músicas, pois o consumo delas são realizadas em espaços digitais, como plataformas de streaming e rádio. Performances e videoclipes ajudam a impulsionar isso, mas na maioria das vezes, os visuais são complementares ao conteúdo sonoro principal”, explica ele. Mesmo que vejamos as performances e visuais adicionados diretamente nas apresentações de dança do leste asiático, “com o BTS, as performances se tornam uma ferramenta usada para transformar a natureza, o estilo e a sensação de uma música sempre que o grupo deseja dar uma nova dimensão à ela”, diz Padma. As representações de padrões de comportamentos, sentimentos e de expressões faciais retratados nas eras musicais do BTS são, segundo Júlio Victor, o diferencial do grupo dentro do K-pop. “É um grupo bem autoral. Principalmente na estrutura das músicas, onde você acaba tendo a performance solo se relacionando com a letra, melodia e toda essa experiência do arquétipo de cada integrante”, diz o produtor. Padma também concorda com essa visão. Segundo ele, a coreografia é um fator chave para entender como a música é executada, contribuindo diretamente na criação de impacto no

público. “O BTS muda conscientemente o estilo de performance dependendo da era e do estilo da música apresentada. Contudo, esse tipo de uso de performance é raro na indústria ocidental e por isso a ênfase permanece em streams, rádio, ou em elementos da música encontrados no espaço digital, ao invés do espaço performático”, afirma o músico.

Army é o Novo Punk o e BAA na Reuters A.R.M.Y = sigla para Adorable Representative M.C of Youth, ou “Adorável Representação da Juventude” em português, é a base de 22 milhões de fãs do BTS pelo mundo. Um levantamento realizado pela agência de notícias Reuters, por exemplo, mostrou que o septeto não é um grupo desconectado. Eles possuem um ecossistema semiestruturado no Twitter, com acompanhamento diário de notícias, votações e charts. No Youtube, um encontro bimestral realizado pela gravadora do BTS para analisar estratégias de negócios costuma receber milhões de visualizações, com pessoas interessadas em acompanhar cada passo da empresa do grupo. O ARMY costuma

match a million No dia 5 de junho de 2020, a organização da justiça racial, Black Lives Matter confirmou uma doação de U$ 1 milhão de dólares do grupo sul coreano e da sua gravadora, Big Hit Entertainment. O ARMY, não satisfeito após a notícia ser divulgada, se organizou em campanha através da hashtag #MatchAMillion e arrecadou mais de U$ 2 milhões em apenas 25 horas.

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quebrar recordes de mídias sociais e hashtags para celebrar as conquistas e divulgações de músicas e videoclipes da banda. Com muita frequência, bases de fãs são vistas como uma aglomeração de pessoas obsessivas, que ocasionalmente realizam algum tipo de ação coletiva. A jornalista Ana Luiza, que apresenta eventos lotados para fãs de K-pop, diz se entristecer com essa generalização. “É muito frustrante para mim ver os portais de notícia abordando o BTS como uma histeria. É como se eles fossem irrelevantes e só fizessem sucesso por atrair adolescentes do sexo feminino”, explica, afirmando que além do BTS ser um grupo de homens que deu muito certo, todos são artistas, músicos e compositores esforçados, que estudam muito para embasar seu trabalho musical de forma coesa e relevante. Uma notícia publicada no portal Metro Seoul’s, por exemplo, mostra o que os membros do BTS fizeram durante a quarentena. Segundo a publicação, os jovens artistas aproveitaram a pausa imposta para continuar seus estudos de pós graduação na Universidade Cibernética Hanyang. Os três membros mais velhos, RM, Suga e J-Hope, haviam enfrentado uma entrevista on-line em março de 2019 e foram aceitos para cursar um MBA em Publicidade e Mídia. Já Jimin e V, integrantes mais novos, seguiram os passos de seus amigos de banda e ingressaram no mesmo curso em setembro deste ano. Apesar dos sete anos de existência do grupo, esta não foi a primeira vez que o BTS mergulhou de cabeça no ensino superior. Jin, o membro mais velho, já é formado em Estudos de Cinema na Universidade Konkuk, enquanto RM, Suga, J-Hope, Jimin e V se formaram em Transmissão e Entretenimento na


Universidade Cibernética Global. E não é só o grupo de sete artistas mundialmente reconhecidos que se aventuraram no ensino especializado. Conhecer a faixa etária do público que acompanha o BTS ajuda a entender outra faceta do fandom ARMY. Dados da Reuters mostraram que a força do ARMY se deve em grande medida a sua demografia diversa. Segundo a agência, uma parte cada vez maior do público está na casa dos 40 anos ou mais, o que significa que possuem mais renda disponível. Um grupo de pesquisa brasileiro chamado BAA (B-armys Acadêmicas) foi citado pela agência de notícias como um time de pesquisadores do Brasil que estudam o BTS academicamente. Integrantes do projeto chegaram a aparecer nas notícias de alguns dos principais jornais do país, como Jornal Extra, R7, Yahoo e também no portal sobre a ondacoreana Brazil Korea. Reunindo material educativo, análises, podcasts e dicas sobre como começar uma pesquisa, o BAA é formado por 27 integrantes de diferentes regiões do Brasil. Em entrevista com a co fundadora e idealizadora do projeto Juliana Follador, de 22 anos, formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Santa Cecília, ela compartilha como tudo começou. “Eu pensei sobre o projeto a partir do momento que vi o que todos estavam passando dificuldades quanto às pesquisas acadêmicas. Separados nós estávamos com muita dificuldade de seguir, por isso criamos uma rede de suporte para auxiliar uns aos outros”, explica a arquiteta. Juliana, que tirou nota máxima em sua monografia sobre o grupo intitulada “Arte, Arquitetura e Cenografia – Proposta Cenográfica de MAP OF THE SOUL: PERSONA”, também teve o post que fez no Twitter viralizado e chegou a receber diversas propostas de trabalho no dia da banca. Thyago Teixeira, 22 anos, é graduando de Letras Português, Inglês e Literaturas pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e membro do BAA. Atualmente, ele está desenvolvendo seu TCC, cujo tema é “Análise Semiótica e suas relações com Blood Sweat and Tears”, música do BTS. Seu interesse em começar a estudar o grupo se deu em abril de 2019, no comeback de Persona, quando diz ter pensado: “eu preciso viver isso academicamente”. Thyago conta ter passado por um momento de absorção intensivo da banda, no qual resumiu sete anos de conteúdos e produções em menos de 12 meses. Após as pesquisas, encontrou na era de Wings seu lugar, onde conseguiu traçar toda a linha do Bangtan Universe (BU), na cabeça. “Os professores foram me ajudando a conseguir os textos do Demian, de Semiótica e Renascimento, e fui vendo que tinha

ifoto divulgação: army pinterest

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Projeto “Army Help the Pantanal” arrecadou mais de 50 mil reais em apoio aos desastres ambientais causados por queimadas no pantanal, R$30 mil em apenas duas semanas.

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como construir alguma coisa, porque aparecia cada vez mais referências”, compartilha o universitário.

BANGTAN UNIVERSE

fOto divulgação: site oficial webtoon save me

O BTS Universe é um universo expandido que inclui diversos clipes, vídeos curtos, livros, webcomic e games. Também conhecido como The Most Beautiful Moment in Life — Hwa Yang Yeon Hwa, o que originou a sigla HYYH — o “universo” conta a história de sete amigos, interpretados pelos membros do grupo, que enfrentam as dificuldades da vida. Enquanto crescem, eles lidam com temas como suicídio e abuso, além de depressão e ansiedade. Estudioso das temáticas e narrativas transmidiáticas que o grupo aborda, Thyago explica, através do olhar literário, o significado desse “universo”. “São intertextos que irão falar sobre a representação da jornada de uma juventude. Tanto na forma, quanto na linguagem, um texto pode ser verbal e não verbal, gestual e até sonoro. Todos esses fatores envolvem um processo de significação e mensagem, construindo em uma narrativa. As letras das músicas vão dizer coisas sobre a narrativa, o visual, as vestimentas, os conteúdos, os games, as notas, tudo isso vai compor o BU”. Para a jornalista Ana Luiza, esse foi um dos principais motivos para o trabalho do grupo se tornar global. “A narrativa levada pode não ser considerada uma inovação, mas a estratégia foi. Você não vê uma história ser contada no álbum “x” e ela morrer no álbum seguinte, por exemplo. Ela apenas vai evoluindo e amadurecendo”. A jornalista diz acreditar que essa “tacada de mestre” só funcionou por já estar na essência de cada um dos sete artistas. O estudante de letras da UFRRJ conta que o Bangtan Universe busca retratar as fases da vida humana, independente de qual a etapa a pessoa esteja. “É um universo que abrange desde a infância até a vida adulta através da lente do jovem. São vistos questionamentos, problemáticas, polêmicas sobre o mundo, a sexualidade, o certo ou errado, questões de respeito. Essas narrativas, identificadas nas letras e nos mvs (music videos), tratam acerca da responsabilidade de ser uma criança ou um adulto e aproveitar o tempo, investir em você, se aceitar, se amar, se respeitar e enfrentar tudo isso enquanto se é jovem”. Para ele, a narrativa do BTS contempla a acessibilidade. “Você sendo uma pessoa de mais idade, um jovem adulto, pai, mãe ou profissional, existe espaço para todos, mas claro que na figura do jovem existe uma 58 JAN A MAR 2021

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“Então quando falamos sobre o momento mais bonito de nossas vidas, talvez você possa pensar no seu próprio momento mais bonito de novo. […] Muitos jovens estão sofrendo. Tentando arranjar um emprego, […] estamos desistindo de inúmeras coisas. Mas mesmo nesse período de transição, você pode pensar que felicidade não é algo que você deve conquistar. Você ainda pode se sentir feliz durante o processo de conquistar algo.”, RM sobre a juventude na era de (The Most Beautiful Moment In Life “O Momento mais Bonito da Vida, HYYH).”

representação especial”, reflete Teixeira.

Jovens do Futuro e Orgulho da Coreia Mas o BTS não vive só do entretenimento ou das ciências humanas. O grupo adentrou nas editorias de economia da Coreia e do jornalismo internacional. A empresa Big Hit, de onde o grupo faz parte, abriu o mercado de ações ao IPO, tendo o maior nível de investimentos na Coreia do Sul desde o ano de 2017. Além de pautas de economia, o grupo foi capa do The Hollywood Reporter, a respeito do show da turnê Speak Yourself na Arábia Saudita no dia 11 de outubro de 2019. Para o líder RM, esta foi uma decisão difícil a ser tomada. “Eu não diria que foi fácil, mas nós fomos convidados oficialmente [pelo príncipe saudita Mohammad bin Salman]”, afirma Namjoon. Para Jimin, o que importa, na verdade, são os fãs. “Se tem um lugar que as pessoas querem que a gente vá, nós iremos. É como nos sentimos”, afirmou. BTS foram os primeiros artistas estrangeiros a performar em um estádio no reino saudita. Neste caso, o King Fahd

Stadium. O evento também marcou a primeira vez, desde 2017, em que mulheres foram autorizadas a assistir a uma performance nesse tipo de local. Conversei com a jornalista Ester Santana para saber mais sobre como o reino saudita está utilizando o entretenimento para diversificar sua economia. Com mais de 11 milhões de barris exportados todos os dias, o reino da Arábia Saudita é o segundo maior produtor mundial de petróleo, detendo aproximadamente 16% das reservas comprovadas no mundo, de acordo com dados publicados no anuário estatístico da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A fim de diversificar a economia e reduzir a enorme dependência do petróleo, o reino anunciou que investirá US$ 64 bilhões no desenvolvimento de sua indústria de entretenimento para a próxima década. “Esse investimento, conhecido como Visão 2030, faz parte de um programa de reforma social e econômica e irá oferecer subsídios, promover festivais e incentivar as famílias a gastarem em cultura e entretenimento”, diz Ester. A formanda complementa que de uma visão moralista, que censurava músicas e impedia as pessoas de consumirem entretenimento, o reino da Arábia Saudita passou a vislumbrar um possível mercado e começou a investir nele. Iniciativas parecidas também são adotadas por outros países como a China, que busca utilizar seu “soft power” para firmar sua presença no restante do mundo. O órgão cultural chinês conhecido como Hanbam vem desenvolvendo estratégias para fazer o mandarim se tornar uma segunda língua global, tal qual o inglês. “Obviamente, precisamos levar em conta que países como Arábia Saudita e China não são muito atrativos para os jovens tanto por serem países em desenvolvimento quanto pelo sistema rígido adotado por eles”, ressalta Ester. Após o período de guerra, a Coreia do Sul utilizou o entretenimento como uma das forma de reerguer o país e diversificar sua economia. Segundo a jornalista, em 2005, a Coreia criou um fundo de US$1 bilhão de dólares só para o K-pop. Atualmente, é estimado que o BTS sozinho movimente um capital de mais de US$3,7 bilhões, direta e indiretamente, todos os anos e destaca “a Coreia consegue essa abrangência em grande medida por criar laços de familiaridade, uma ponte entre as práticas e os costumes asiáticos com as práticas e os costumes ocidentais”, afirma. Y UTH

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CUBES

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Por Gabrielly Guimel

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Corinthians é o vencedor do campeonato mundial de Free Fire Battlegrounds 2019. A modalidade faz parte do universo milionário dos e-sports (esportes eletrônicos) “O mercado brasileiro de e-sportes no Brasil já é algo bem estabelecido, o jogador profissional já tem uma base para receber, tanto como jogador, social media em grandes times”, diz Kimberly Mello, CEO do CUBES (Campeonato Universitário Brasileiro de E-sportes). De acordo com pesquisas realizadas pelo Market Report, da Newzoo, globalmente, o mercado movimentou US$ 1,1 bilhão em 2019 e deve se aproximar do US$ 1,5 bilhão este ano. Outro levantamento, desta vez realizado pela PWC,


fOto divulgação: nobbru corinthians

VISIONAIR

projetou o potencial do setor. Segundo a pesquisa, o mercado de games no país deverá crescer 5,3% até 2022. Apenas com jogos para celulares, as receitas do segmento subirão de US$ 324 milhões para US$ 878 milhões nos próximos 3 anos. O Brasil é 13º maior mercado de games do mundo, mas, se as projeções forem confirmadas, deverá estar entre os 10 primeiros no futuro próximo. Nomes que já conhecemos em times tradicionais como Flamengo, Corinthians e Santos de uma maneira positiva, tem investido no segmento com equipes de diversos jogos considerados e-sports, explica Lucas, designer do clube Green Owls da Universidade de Brasília. O funcionamento das equipes é feito através de organizações,

divididas em repartições desse nicho como por exemplo, dirigentes, atletas, designers, coach, cita Lucas. “Você recebe como jogador profissional e todas as pessoas que trabalham nessa equipe também, como a KaBum, patrocinada pela loja de tecnologias e games” do mesmo nome, diz Mello. Nobru 19 anos, foi o jogador do Corinthians responsável por trazer o prêmio para a casa, consagrando-se no World Series como MVP (termo de abreviação para “Most Valuable Player”, que significa “Jogador Mais Valioso” em tradução livre), do torneio e agora melhor jogador na modalidade Free Fire no Brasil e no mundo. Além do troféu, a equipe na época faturou a maior parte da premiação total de US$ 400 mil (R$ 1,67

milhão). A competição teve mais de 2 milhões de visualizações simultâneas mundialmente e se tornou a maior audiência da história do YouTube.

CUBES, MODALIDADES E LEAGUE OF LEGENDS A importância do papel do CUBES no cenário do e-sports no Brasil é que “somos uma instituição voltada ao universitário e jovens talentos que estão sendo formados”, além da experiência deles nesse cenário outro fator importante é “nós servimos como porta de entrada para os universitários ao cenário profissional”, conversa Mello. Em cobertura de 17 a 20 estados Y UTH

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fOto divulgação: facebook cubes

no Brasil, o CUBES, é uma organização que cuida e organiza diversos campeonatos, transmissões, além de trabalhar nas modalidades desde as mais antigas como FIFA a League of Legends, também são responsáveis por criar conteúdo para o universitário gamer. Através dessas experiências, fazemos com que o universitário aprenda de forma divertida e consiga vislumbrar a possibilidade de chegar no cenário profissional “trabalhar com e-sportes como profissão e viverem de e-sportes”. Então, reflete Kimberly que a organização tem esse papel funcional e também de inspiração. O público que consome e atua nos e-sports é jovem, mas nem tanto, tem dos “17 até 30”, diz Henrique

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VISIONAIR

Caster, narrador de League of Legends. “Todos os públicos podem consumir e atuar no es-ports. Quanto a consumir, vejo que muitos pais ou avôs acompanham filhos ou netos em eventos ou assistindo transmissões, dessa forma todos conseguem acompanhar os times, novidades no cenário e os diversos jogos, afirma Lucas. Pelo menos no League of Legends quem lidera nas competições são os países China e Coréia do Sul “duas regiões que possuem títulos recentes no mundial”, conta Caster. No Brasil fica por conta do CbLol ser a principal competição do jogo eletrônico “o campeonato nacional até esse ano no caso não tinha o circuito desafiante, como se fosse uma série B que dava ingresso” mas agora, o campeonato vai deixar de ser um circuito e virar uma franquia. Para o designer Lucas, cada jogo possui a sua região dominadora, no caso do League of Legends, as ligas asiáticas dominam no jogo, enquanto no Counter Strike a região europeia “Os Estados Unidos têm se tornado muito forte no quesito investimento e movimentação de capital, por ter equipes bem estruturadas”, afirma. Além do CbLol, outras modalidades se fazem presente no cenário brasileiro como CBCS e Clutch (CS) e Liga Brasileira de Free Fire (FF) “Hoje eu vejo como referência os seguintes times: LOUD, INTZ, Team Liquid, Rensga, Pain e Team One por criarem diversos tipos de conteúdo nas redes sociais e conseguirem engajar com seus torcedores de uma forma bem fluída”, ressalva o designer. Quanto aos jogadores:, Lucas destaca brTT, Fallen e Nobru, pelo tamanho do seu público e por conseguir influenciá-los. O Campeonato Universitário Brasileiro de e-sports que já teve a oprtunidade de fazer parceira com a Red Bull conversa sobre como essas empresas veem os e-sports como investimento “a Red Bull vem dado muita atenção para o e-sportes, eles patrocinaram jogadores como o Yoda e o Cami de Lol, a maioria da galera que acompanha esse cenário esportivo de League of Legends, já ouviu falar deles”, diz a CEO. A

principal vertende da empresa são os esports radicais “Porém, por causa do crescimento desse segmento eles viram a necessidade de expandir e começaram a investir”, diz Kimberly, citando o torneio Red Bull Player One como exemplo.

feminismo no e-sports Existe um preconceito até os dias de hoje quando vamos falar da falta de representatividade de mulheres dentro do CB LoL. As figuras femininas que tentaram assumiam no máximo cargos como os de suporte dos times “Devido a essa rejeição as pessoas passaram a tomar iniciativa, criando um cenário feminino, no qual esse ambiente, por enquanto, ainda não é muito reconhecido pelas desenvolvedoras de games”, diz Kimberly, ao contar que existem times que são completamente femininos justamente para oferecer oportunidades para essas jogadoras, “existem inúmeros projetos como os de streams, nessa tentativa de inclusão”, afirma O CUBES faz parte dessa luta, ressalva a CEO “Nós tentantos criar essa interação, porque percebemos dentro do cenário universitário uma maioria massiva de homens, depois que lançamos o campeonato feminino de Lol, conseguimos encontrar mais de 100 garotas participando dos campeonatos” conta e complementa que a organização tem planos de oferecer mais modalidades femininas, afim de trazer esse suporte e confiança para as participantes. Por isso estamos tentando criar esse cenário preparado para que elas tomem confiança “Tem muitas mulheres que são presidentes, representantes de times como a Nath a frente da Cardinals e a Dani da Fire,” e finaliza Kimberly dizendo que a maioria das mulheres tem receio de entrar nesse universo por causa do machismo que acontece no meio.

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MULHERES POR TRÁS DAS LENTES

Por Gabrielly Guimel

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mercado fotográfico está em processo para a diversidade, diz Yasmin Oliveira, estudante de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal Fluminense, e afirma que esse desenvolvimento vem da pressão social a empresas, partida principalmente por mulheres.

pessoas reais

“Não isso não é um corpo real, isso não representa mais a gente. Por que eu vou comprar algo que não está sendo representado corretamente por um público que é real?”, relata Yasmin. Segundo relatórios da World Press Photo, menos de 20% dos profissionais atuantes são mulheres. Oliveira conta que através dessas iniciativas, o espaço anteriormente ocupado por homens, está se alargando para mulheres. “As mulheres não tinham tanto espaço na fotografia quanto os homens, e agora estão ganhando muito mais espaço”. E a modelo e amiga da fotógrafa, Carolina Clarkson, também de Niterói, Rio de Janeiro, é um pouco do 64 JAN A MAR 2021

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fOTO REPRODUÇÃO: yasmin oliveira


VANTE

fOTO REPRODUÇÃO: PERFIL YASMIN OLIVEIRA

fOTO REPRODUÇÃO: YASMIN OLIVEIRA

resultado desse desenvolvimento. A jovem de 23 anos, com vitiligo, fala do seu relacionamento com a fotografia que começou de forma despretensiosa e cresceu ao ponto de ser convidada para modelar pelas marcas C&A e Daylus. “Por conta dessas fotos, alguns fotógrafos passaram a me fazer propostas”, fala Clarkson. História iniciada em um ensaio com Oliveira, resultou não somente ao agrado do público como relata Carolina, mas em algo mais profundo, uma cura. Yasmin conta que quando começou a fotografar nenhuma das duas tinham muita experiência e que as manchas na pele da amiga eram muito presentes. O fator de aceitação da crônica desencadeou um processo curativo na jovem. Traumas emocionais e estresse, podem estar entre os fatores que desencadeiam ou agravam a doença, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia. “As manchas começaram a ser vistas por ela como algo positivo, como

algo que realmente faz parte dela e elas simplesmente pararam de aumentar” mudando totalmente sua forma de enxergar esse tipo de arte, afirma Yasmin. A mensagem que se pretende passar através das fotos, vai depender do ensaio e a forma como o fotógrafo conecta a arte e a história de cada um, diz Bianca Oliveira. A fotógrafa carioca conta que a realidade apresentada em uma fotografia pode ser subjetiva, pois ela está sendo retratada através do olhar que o fotógrafo quer registrar do momento, personagem, pessoa, objetos ou paisagem para o público. “A fotografia é uma super ferramenta, você pode retratar pessoas de cores, corpos, culturas diferentes, como forma de registro, artística e jornalística”, diz Bianca. Falando sobre essa subjetividade e abordagem de sentidos, Yasmin dialoga em seus conceitos a sensibilidade de passar emoções internas e pessoais, como ansiedade, síndrome do pânico, sensações de liberdade ou sufoco. “É incrível quando é possível, transcrever sentimentos em imagens, eu quero que alguém olhe para uma foto minha e não veja só o que tá ali, sempre tem algo a mais”, reflete Yasmin.

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INSTAGRAM, FOTOGRAFIA E HASHTAGS Em matéria para o jornal Extra, segundo o analista de mídias digitais, Cassio Pastrana, para ter um bom engajamento nas redes sociais, dentre elas o Instagram, o internauta precisa estar por dentro do uso correto das ferramentas oferecidas por ela. “Uma das principais responsáveis pelas descobertas de páginas são as hashtags. Localizadas na aba “Explorar”, muitas pessoas procuram por usuários ou conteúdos etiquetados” conta Pastrana. Constituindo essa rede afunilada de buscas de conteúdo, Yasmin vai falar que através das hashtags foram criadas uma rede de fotógrafas mulheres, onde o usuário encontra os trabalhos postados por elas nessa ferramenta. Além disso, você pode se conectar com outras pessoas que compartilham a mesma ideia de arte que a sua. “Com a internet tudo isso se tornou muito mais fácil, até porque com as tags, você tem uma possibilidade maior de se conectar com pessoas do mesmo nicho fotográfico que o seu, eu acho que isso revolucionou a fotografia”, fala Oliveira.

hashtags usadas por yasmin #vscocam #creative_portraits #sob_lenses #folk_system #collectivetrend #PortraitPage #pursuitofportraits #portraitmood #featuremeofh #postthepeople #of2humans #DiscoverPortrait #vsco #vscobr #folkportraits #portraitvision #portraitsystem #chasinglight #brasilfolk #pfunder10k #worldofportraits #visualsoflife #postthepeople #featurecreature #underratedgrams #expofilm #igersmasters #huntgram #quietthechaos 66 JAN A MAR 2021

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VITILIGO, MODELO E REPRESENTATIVIDADE Passar camadas de maquiagem e usar roupas compridas, eram algumas das maneiras de Carolina Clarkson, 23 anos, esconder as suas manchas dos olhares das pessoas que a achavam diferente. No fundo ela não queria ser notada. Portadora do vitiligo (doença caracterizada pela perda da coloração da pele), teve momentos de questionamento, “Lembro que me perguntava a Deus porque ele me escolheu para ter essas manchas”, diz Carolina. Modelo de forma orgânica, os ensaios que começaram com Yasmin despontaram para grandes oportunidades de trabalho, como sair na coleção Jeans Muito Eu + Inverno Muito Eu da C&A 2020. “Desde pequenininha sempre comprei na C&A, usei da sessão infantil até a seção adulta, então me ver nas lojas, no site, ver os meus amigos me vendo nos lugares, mandando fotos para mim prestigiando de alguma forma, tudo isso é muito gratificante”, diz a modelo sobre o ensaio ser também uma marca pessoal na sua vida profissional. Carolina relata que o vitiligo apareceu na sua pele quando ela tinha nove anos de idade como uma pequena macha perto do pescoço. Na época quando foi aos médicos, os mesmos não conseguiriam fazer um diagnóstico concreto do caso alegando uma possível alergia. Porém, aos doze, as manchas começaram a ficar maiores e percorrer para

fOTO REPRODUÇÃO: vogue itália

fOTO REPRODUÇÃO: CAMPANHA DA COLEÇÃO Jeans Muito Eu + Inverno Muito Eu da C&A 2020 Y UTH

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fOTO REPRODUÇÃO: yasmin oliveira

fOTO REPRODUÇÃO: olhares livres 68 JAN A MAR 2021

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VANTE o resto do corpo, quando novamente buscou assistência médica. E foi nessa fase que se conseguiu realizar um diagnóstico “ele não foi nem um pouco gentil, falou como se fosse algo muito simples e mesmo que hoje eu entendendo que seja, na época uma pré-adolescente, sem conhecimento sobre o que era, depois de ter ido a tantos médicos, foi um baque”. Aceitar a beleza natural e o seu corpo faz parte da personalidade de Clarkson, hoje a jovem modelo é referência para outras pessoas que estão enfrentando a doença. “Eu acho que como mulher negra isso se potencializa, é tão difícil ver mulheres pretas ocupando certos espaços, sendo bem aceitas pela sua aparência, além de todo o preconceito, então outras mulheres pretas com vitiligo ou não também se espelham em mim, assim como eu espelho em outras mulheres pretas”, diz Carolina. Sobre racismo e estereótipos na moda ela fala que no mercado plus size é comum ter modelos de quadris largos, cintura fina e pouca barriga, sendo a maioria brancas de cabelos loiros, como se fosse um padrão estabelecido dentro desse segmento, relembrando também o magro “ao mesmo tempo que o plus size desconstruiu, ele também vem construindo”.

é bonito e te faz único Clarkson traz uma mensagem motivadora em atitude de atenção, carinho e solidariedade. Nas palavras dela, se pudesse, abraçaria e seguraria nas mãos de todos aqueles que tem a doença e não sabem como reagir ou com quem contar. “Olharia nos olhos de cada uma delas e diria: está tudo bem, o vitiligo é uma condição de pele muito tranquila, não é nada além de estético, tudo que a gente tem que fazer é passar mais protetor solar e fora isso não causa nenhum problema na gente”. Seu sentimento é que essas pessoas se sintam confortáveis no seu corpo “fazer com que elas normalizem suas peles”, porque no final de coisas, é bonito e te faz único. O conhecimento do corpo são fatores importantes para o enfrentamento da doença “está aparecendo umas manchinhas aqui, então eu não estou tão legal, tem que ver o que é isso”, conta como acha incrível essa forma de comunicação entre os sentimentos e reações, “queria que todas as pessoas pudessem olhar para essa perspectiva também e entender isso “ uma maneira de comunicação com você.

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SENSIBILIDADE E TEATRO A sensibilidade de fazer uma boa foto vem pela intuição e vontade, diz a fotógrafa carioca Bianca Oliveira, “se eu e mais três pessoas fomos fotografar um mesmo objeto ou pessoa, cada foto vai sair totalmente diferente”, ela não tem como ser medida, é uma ação singular. Apaixonada por teatro, Bianca, conta que algumas de suas inspirações artísticas são advindas de ilustrações, bordados e pinturas. Algo que Yasmin também utiliza como parâmetro em suas fotos “Às vezes eu precisava de uma referência de pintura corporal que eu não tinha e não encontrava em lugar algum, então comecei a ser a minha própria referência na pintura através da fotografia”. O ensaio mais significativo para Bianca foi inspirado no filme “O Rei do Show”, o longa retrata o cenário do circo e como as pessoas que trabalhavam nesse lugar eram consideradas “diferentes”. Tendo esse conceito em mente, usou dessa temática para contar sobre a história das pessoas, “o foco foi a parte interna, o que elas viviam ou viveram”, cada uma com a sua, não somente numa estética exterior, mas com um sentido semântico do interior de cada modelo exposto ali.

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TENDÊNCIAS PRIMAVERA VERÃO 2021 Por Gabrielly Guimel

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m um estudo dos analistas de design da WGSN apontam algumas propostas de tons e texturas afim de causar um sentimento de equilíbrio nesse tempo de pandemia. O case destaca a junção de quatro sentimentos que estruturam essa percepção do consumidor ao isolamento: medo, resiliência, resistência e otimismo. E para a moda não seria diferente “Como designer de estampas, e nascida no Rio de Janeiro, onde o mercado de estampas, principalmente de moda praia, é muito forte, a primeira resposta que me veem à mente é uso de estampas para passar esses 4 sentimentos e, também, para fazer uso das texturas visuais e paleta de cor escolhida, afirma a designer Ana Isabela, Vancouver, Canadá. “Deve-se criar ambientes e produtos relaxantes, projetados para aliviar o estresse e a ansiedade” diz Carla Buzasi, diretora executiva da WGSN, em entrevista ao relatório de Future Costumer 2022. Apesar de estar atrelada a sensações positivas e cores vibrantes, conta Ana, a estamparia também pode ser usada para retratar momentos históricos e religiosos, “Alexander McQueen e Dolce & Gabbana nos mostram, críticas sociais ou passam emoções menos agradáveis, como medo e tristeza. Ideias que podem remeter a esses sentimentos são uso de texturas craqueladas, objetos murchos, quebrados, borrados, 72 JAN A MAR 2021

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EGO fOTO DIVULGAÇÃO: coleção creative bunny, ana isabela

lágrimas etc., depende da criatividade do artista/designer”.

SUSTENTABILIDADE “A estamparia digital, é uma forma mais sustentável, mais rápida e mais econômica de imprimir em tecido do que silkscreen ou cilindro”, afirma Ana Isabela. A designer conta que os dois últimos métodos citados, só valem a pena serem usados se a estampa for produzida em alta metragem, pois o processo de gravar cilindros e telas para cada cor custa muito caro, limitando o uso a empresas de grande porte. Fora disso, os itens usados na produção de estampas de silkscreens e cilindros, além de demandarem gasto excessivo de água, são descartados logo após o uso, e a química das tintas contem poluentes prejudiciais ao ambiente. “Com períodos prolongados de isolamento, a natureza e sua vitalidade terão um apelo claro, mas a tecnologia também será celebrada, à medida que as conexões por meio de ferramentas digitais se tornam necessárias. As principais tonalidades da nova estação refletem essa dualidade, indo dos tons orgânicos aos artificialmente aprimorados”, diz Jenny Clark, diretora de cores da WGSN, também ao relatório. “Graças aos avanços tecnológicos, na estamparia digital é necessário apenas 10% de produtos químicos para realizar a impressão, sendo que os resíduos gerados são usados apenas com a limpeza das cabeças de impressão, diz Ana Isabela, nada mais é do que uma grande impressora capaz de imprimir em tecido, tanto de fibras naturais quanto sintéticas. Elas são capazes de estampar, aproximadamente, 30 metros de tecido por minuto, proporcionando tempo para realizar um acabamento mais detalhado. Outra vantagem é que não existe limitações de metragem, tornando este método mais viável para empresas de pequeno e médio porte.

TECNOLOGIA A nanotecnologia também está sendo inserida nesse contexto, potencializando a qualidade dos produtos. Como resultado, vemos novos tecidos inteligentes sendo apresentados, itens como revestimentos com filtro solar e de raios UV, tecnologia antimosquitos, antiodor, antibactericida

etc, aponta a desginer Ana Isabela. Não diria que é uma inovação tecnológica, mas um novo processo de produção. “ Algumas marcas como a eShakti, Art of Where, Printful e Printfy fazem sua produção on demand, ou seja, eles só produzem quando há demanda”, conta. Este método de produção é completamente sustentável, pois não há desperdício de material, não há necessidade de ter estoque e, consequentemente, preocupação com aluguel de espaço, além do custo de investimento também ser menor e mais seguro.

EMPREENDORISMO Para artistas ou designers que querem montar o próprio negócio, mas não tem capacidade de produzirem por si mesmo, Ana Isabela dá dicas como sites como Art of Where, Printful, Printfy, Threadless são vantajosos pelo método print on demand e dropshipping. O que isso quer dizer? Que além deles terem um vasto catálogo de produtos (camisetas, casacos, leggings, toalhas, roupa de cama, cadernos, mochilas, eco bags, canecas, adesivos etc), onde o artista pode escolher qual opção quer usar para imprimir sua arte, eles também são responsáveis pela parte de envio do produto para o consumidor. “Não há necessidade de cálculo de frete, de gasto com Y UTH

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fOTO DIVULGAÇÃO: todas as imagens estão na pasta ego no pinterest

materiais de envio (como caixas, envelopes, etiquetas e papeis de embrulho), pois são estes sites que lidam com esta parte”, afirma. Acredito que esta é uma ótima forma para pessoas que queiram começar seu próprio negócio, seja para ter uma renda extra ou para virar autônomo, mas que não tenham capital suficiente ou que tenham medo de investir e não saberem se vai render ou não.

ORQUÍDEA

SENTIMENTOS NAS CORES Em parceria com a Coloro, a WGSN investiu em um estudo para apontar quais serão as tendências de tons para a primavera/ verão 2021, baseado nesses sentimentos.

FLOR DE ORQUÍDEA É a primeira cor da lista, ela aparece em uma tonalidade mais escura do magenta. A cor será usada para tentar passar sensações de positividade, sinceridade e respeito. Os looks usados pela flor de orquidea devem surgir em visuais

AZEITE

monocromáticos e de festas.

azeite Azeite é a segunda cor da lista, uma variação do verde que costuma aparecer em composições militares. A cor simboliza a esperança, a força e a longevidade. O tom dominará as roupas de trabalho, lingeries, calçados e acessórios.

MANTEIGA A cor pastel manteiga continua como tendência vista no outono/ inverno. De acordo com o levantamento, o tom desperta criatividade, otimismo e a prosperidade. A variação clara do pigmento amarelo estará nos segmentos read-towear e loungewear, surgindo na alfaiataria e em lingeries.

SORVETE DE MANGA A quarta cor do relatório é a sorvete de manga, união entre o laranja e o amarelo. É o ponto de energia da estação. O tom 74 JAN A MAR 2021

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vibrante aparece em roupas de banho, peças esportivas e estampas.

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AZUL ATLÂNTICO Eleita a cor do ano pela Pantone o azul atlânctico é uma variação do classic blue. Reconfortante, o tom evoca a cor do oceano aos céus. Ele pode ser usado em composições monocromáticas e sofisticadas.

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BORA FAZER UM BEM BOLADO?

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berização no mundo do trabalho é o fenômeno estudado pela sociologia afim de esclarescer as circunstâncias trabalhistas que está a mercê de não ter um valor fixo de mercado, diz Shirley Torquato, professora e mestre em ciências do consumo. Várias profissões estão buscando através das redes sociais uma forma de minimizar as perdas causadas pela pandemia como vendas de produto geral, entrega de alimentos e até curosos dentro dessa plataform, então a juventude tem uma maior facilidade de para lidar com essa situação atual, complementa a professora.

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Ser jovem e empreendedor é o barato do momento e o melhor, estamos na época ideal para isso. Segundo dados do IBGE o Brasil se encontra em um bônus demográfico, é isso mesmo, a maior parte da população brasileira atualmente é composta por pessoas da mesma idade que eu e você. O nosso país atualmente possui 50 milhões de jovens e o aumento da população dessa faixa etária começou lá em 2010 e terá seu auge agora em 2020. Continuando com os dados do IBGE, esse “plus” de gente na nação é o resultado da queda de fecundidade das mulheres brasileiras. Na década de 60, a taxa de era de 6,3 filhos por mulher, esses números foram caindo de 5,6 (1970), 2,9 (1991), 2,4 (2000) e 1,9 em 2010. A novidade não para por aí, a nossa expectativa de vida também aumentou de 62,5 anos em 1980 para 75,2 anos em 2015. As oportunidades de crescer profissionalmente e construir um futuro promissor mudaram de perspectiva desde o boom da internet. A tecnologia se aliou ao jovem como uma ferramenta amiga da geração z que


VISIONAIR

nasceu já com o desenvolvimento e aplicabilidade dela no seu dia a dia. De acordo com o índice da MCCENET (Comitê de Métricas da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico) revelou que em junho de 2020 as vendas online aumentaram 137, 35% por causa da pandemia iniciada em março desse mesmo ano. Cerca de 89% da população entre 9 a 17 anos é usuária de Internet no Brasil. A informação foi coletada da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2019, em junho pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), por meio do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). A conectividade a rede de informações tornaram o jovem condutor da sua própria vida, mais além, vivemos no um tempo em que qualquer um que possa ter um dispositivo eletrônico ligado a essa mesma rede, pode se tornar aprendiz nato de infinitas capacitações profissionais sem sair de casa. Devido a chegada a pandemia no Brasil o e-commerce se apresenta como uma ferramenta de venda e compra online que trouxe um novo cenário no comércio eletrônico brasileiro afirma André coordenador do Comitê de Métricas da camara-e. net e diretor executivo do Compre & Confie ao site E-commerce Brasil. O vasto campo de estimativas oferecidas pela internet trouxe um sentimento de possibilidades. Temos hoje uma geração que entende conceitos básicos de marketing, engajamento, balanceamento de

fOnte: gráfico do centro regional de estudos para o desenvolvimento da sociedade da informação (cetic br)

“80% da população da web fez uma compra online” E-commerce Brasil

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lucros aliadas a uma visão criativa. Apresentamos a iniciativa de Lucas Danni, morador de Maricá, Rio de Janeiro que começou seu negócio oferecendo pães artesanais delivery para os moradores da sua cidade. O “Grano” é uma loja virtual que tem ganhado espaço no empreendimento local entre os maricaenses. Danni começa contando a sua história de como o seu perfil do instagram ganhou visibilidade através de um outro feito por uma digital influencer. “Onde comer em Maricá” é um portal de gastronomia que divulga os negócios da cidade em um só lugar. Ele complementa que normalmente entre os moradores de Maricá era comum residir na cidade e ter empreendimentos em outros lugares como Niterói, Rio de Janeiro e São Paulo. Houve-se então uma expansão de investimentos na cidade onde as pessoas estão deixando de abrir os negócios fora para investir nos de dentro. “Está começando a explodir, gastronomicamente e turisticamente”, complementa Lucas. Como o jovem não é “bobo, nem nada” já se aprontou para fazer uma parceira com a Dadá Ferreira, enviando seus mimos toda a semana para ela e em troca a mesma posta sua loja na rede social. “Agora pensa na qualidade de engajamento do perfil dela, não são somente 10 mil pessoas aleatórias, são 10 mil maricaenses, são pessoas que procuram consumo de gastronomia na cidade”, afirma Danni. E ele tem mais um agravante, continua, na cidade existem somente duas padarias deliverys, a dele e a de um

concorrente, no qual já tratou também de fazer amizade com o dono, um termo de parceria, onde um não rouba os clientes do outro. “O cara é um baita chefe de cozinha, trabalhou no Projac, trabalhou no Copacabana Palace e foi chefe da rede Arcor de hotéis”, fala Lucas. E ainda lhe dá dicas de cozimento de diferentes tipos de pães. Nessa brincadeira o jovem deixou de entregar seus produtos somente via What’app para amigos, conhecidos e colegas de bairro, entregando agora para a cidade inteira. A visão de empreendimento não percorre apenas a Lucas, mas a sua namorada Camila Carpenter também. Ela diz que viu uma oportunidade de ter uma renda extra no qual não sabia exatamente o quê. Foi “a confeitaria que me escolheu”. Assim como Lucas, Carpenter tem um delivery só que de bolos e chocolates, a “Boludos Doceria”. Moradora de Niterói, as entregas são feitas em Santa Rosa, São Francisco e Icaraí. Para ela o maior desafio de abrir um empreendimento desse segmento são as burocracias e o fato de trabalhar sozinha em casa. “Coloco todo o meu amor em cada bolo. Acredito que meu esforço para o perfeccionismo são meu diferencial” complementa Camila.

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para casar. “Então juntei alguns clientes freelas e sai do emprego. Na semana seguinte abri meu MEI e comecei a investir na minha empresa”, conta Mateus. Não ter clientes fixos era o seu maior medo, porém, ele fala que com o tempo entendeu que isso era uma bobagem, já que se você tiver um serviço e produto de qualidade inevitavelmente obteria clientes. Mas que sem dúvidas ultrapassar essa barreira foi seu maior desafio. Variação do seu nome Melchior o nome da empresa foi inspirado nos três reis magos da história cristã no qual um deles era chamado de o Rei Luminoso. Fascinado por criatividade, e bem energético, atrelou essas características ao significado resultando em um nome incomum. Surgindo a Chispa (faísca, fagulha, lampejo) com o símbolo de raio, fazendo a alusão a ideologia do seu empreendimento, com apenas um lampejo, uma chispa de criatividade um negócio/marca pode ser transformado. Sobre sua opinião ao mercado atual ele diz: “É cíclico e muito positivo para o meu segmento. Saber se estruturar agora, com uma demanda grande é essencial para saber lidar com uma gestão de poucos clientes”. Belchior finaliza dizendo que o seu objetivo atual é continuar auxiliando empresas a definirem identidades visuais sólidas e fortes no mercado.

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Sobre o bônus demográfico no país ela conta que acredita que os jovens de hoje em dia têm muita garra para empreender e que no futuro a economia irá girar em torno desses pequenos negócios, já que isso tem crescido nos últimos anos. Em dica para aqueles que gostariam de abrir um negócio no próximo ano, ela diz começar é o ponto mais importante: “Estude, faça networking e valorize o seu trabalho! Entenda o produto que você tem e onde você quer chegar e o que pode fazer para atingir seus objetivos”, finaliza. E como todo bem bolado é preciso ter uma divulgação de qualidade nas redes sociais, para isso, conversei com o Mateus Belchior da Chispa Design que como Lucas e Camila abriu o seu negócio só que para a área de criação de marcas e social media. De uma maneira muito inteligente elabora os designers através da técnica Naming, processo de escolha do nome para uma empresa, produto ou serviço que possa estabelecer uma relação direta com o posicionamento com a marca. A partir disso Belchior cria do zero a identidade visual e ideias de slogans. A Chispa surgiu no sentido de expansão, o jovem conta que estava indo bem na agência que trabalhava, mas via a necessidade de ganhar mais porque estava se estruturando

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FIM DA PRIMEIRA EDIÇÃO 80 JAN A MAR 2021

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