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Oconceito de Rede Pampa surgiu quando a praça foi criada pelo presidente da empresa, Otávio Gadret. Ele traduzia a marca do gaúcho no nome Pampa. Eu sempre brinco que o Rio Grande é feito de Pampa e tem esse conceito de convivência com o RS, com as nossas coisas. Nada melhor que traduzir assim, o nome de uma empresa essencialmente gaúcha. O nome Rede Pampa ficou muito bem colocado e mostra claramente a que veio, para falar dos gaúchos e não só para o nosso estado, pois fala para todos aqueles que têm acesso à Rede Pampa, em qualquer lugar do planeta. As redes sociais nos favoreceram muito nesse sentido e hoje nós registramos ouvintes, telespectadores e leitores em todas as partes do mundo. Nós recebemos mensagens de todos os lugares do mundo. Isso parecia tão longe de nós há 20, 30 anos atrás e hoje é uma coisa, absolutamente, corriqueira. Nós não nos surpreendemos quando chega alguma coisa da Islândia, pois estamos sendo ouvidos de lá. Estamos sendo assistidos na China, também. Algo comum, como se tivéssemos manifestações de pessoas que estão na Grande Porto Alegre, por exemplo.
Atualmente, o seu nome é um dos mais prestigiados entre os mais diversos políticos, além disso, mais recentemente, o senhor tem sido reconhecido por sua intensa aproximação com o Governo Federal. Duas características que agregaram ainda mais prestígio a sua trajetória no jornalismo. Conte-nos um pouco sobre sua jornada?
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Eu costumo dizer que a nossa profissão pode remeter ao poder, ou como qualquer outra profissão que também se traduza em poder. Essa questão de ter uma determinada visibilidade, como a proporcionada pela TV Pampa, onde eu ocupo um dos seus principais espaços, é uma visibilidade que pode trazer prestígio, mas também pode trazer problemas. Então, tu estás sempre no limiar entre as vi-


sões das pessoas que te assistem. Se tu deres uma opinião, no pluralismo em que vivemos será saudável, nós procuramos mostrar o pluralismo no programa, o problema é o dualismo. Se tu és de A, és contra B, se for de B tu és contra A. Hoje, as coisas funcionam assim, tu dizes alguma coisa favorável ao Bolsonaro, é considerado bolsonarista, ou da tropa de choque. Se disseres alguma coisa em relação ao PT, tu és petista, ou lulista. Este cuidado nós temos, procuramos ter e dar a opinião, mesmo na interlocução com os debatedores do Pampa Debates. Nós precisamos nos libertar de qualquer injunção política e eleitoral, ou mesmo aquele raciocínio que
as pessoas têm em relação ao que tu dizes. Então, tu não podes ter medo de ser chancelado disso ou daquilo, o que importa é a tua consciência aos olhos do mundo e na visão de quem te analisa. Tu tens que ficar com a consciência tranquila. Estamos vivendo um momento muito conturbado no jornalismo, as ameaças de processos por dano moral são como uma espécie de nuvem que paira na nossa cabeça, que podem trazer tempestades, causando dissabores. No programa Pampa Debates, nós sentimos isso pulsar muito forte. É como se tivéssemos uma espada na cabeça. É preciso fazer jornalismo e ser o comunicador, que as pessoas esperam que tu sejas, sem temor, sabendo quais os teus limites. Por exemplo, no caso do STF, que é tão criticado, dizem horrores sobre a nossa Suprema Corte, procura se analisar o comportamento dos ministros, ou no judiciário dos desembargadores ou procuradores do MP. Tu podes analisar a decisão da autoridade, mas não pode faltar com o respeito. Se ela está no cargo, algum mérito teve. As decisões podem ser avaliadas, pesadas e criticadas. O que não pode acontecer é atacar o personagem que lá está. Isso, tu não podes fazer, pode até entender que ele tem um viés esquerdista ou direitista, que seja mais pelo social, ou que tenha um comportamento mais capitalista, mas sempre tendo cuidado para não atacar as pessoas diretamente. Acho que o respeito é preponderante e, na medida em que tu respeitas, será respeitado também. É isso que nós temos que ter em conta. É fundamental que a gente possa ter independência e sair de cabeça erguida sem que as pessoas também ataquem sua maneira de ser e proceder na tua vida privada. Vamos analisar o Paulo Sérgio Pinto na televisão, nos seus comportamentos e suas posições, mas nunca o que eu faço no cotidiano privado. Vale para qualquer político também. Essa postura sempre procurei ter, ao longo da minha vida, respeitando os outros para ser respeitado. Eu acho que isso, com a carreira mais próxima do fim do que do meio e do início, nem se fala. O que eu consegui ter ao longo da vida, tem muito a ver com respeitar as pessoas e dar liberdade pra quem está no programa falar o que pensa.
Em sua opinião, até que ponto a dissonância do Governo Estadual com o Governo Federal pode influenciar nos resultados políticos que realmente importam? De que forma os gaúchos ganham ou perdem com este embate?
Nós sempre falamos de alinhamento dos astros, o RS sempre esteve na contramão da história. Nós tínhamos um tipo de governo na União e outro aqui. Nós olhamos para trás, quando ocorreu o alinhamento dos astros e nós tínhamos, por exemplo, o Tarso Genro de governador e o PT na presidência. Tinha um alinhamento dos astros e isso trouxe algum benefício para o RS? Nada de diferente de quando não tínhamos. A pessoa que está no poder aqui, deve ser respeitável, competente e se impor no Governo Federal. Se ela for omissa, uma pessoa que descumpre leis, enfim que cria um enfrentamento desnecessário do ponto de vista político e ideológico, essa pessoa vai se dar mal e o RS também vai se dar mal. Precisamos ficar antenados com isso, não é porque aqui temos uma pessoa com um determinado tipo de comportamento e outra em Brasília com outro tipo, que o Rio Grande do Sul vai ser
prejudicado. Na eleição, em determinado momento, o Leite aderiu ao Bolsonaro e depois, em função dessa pandemia, a guerra da saúde contra a economia, ou da economia contra a saúde, com acusações mútuas, houve o rompimento. Na hora de vir os recursos eles vieram, chegou o momento de distribuir as vacinas, elas chegaram. Seria diferente se nós tivéssemos governos alinhados depois dos enfrentamentos que nós tivemos? Não seria. Talvez, se fossemos alinhados com o Governo Federal na sua total abrangência, nós passaríamos como bonzinhos e isso tem que ser raciocinado. Eu nunca vi o RS ser negligenciado por falta de alinhamento.
Como o senhor analisa a recorrente desarmonia entre os três poderes, em nosso país?
Eu venho de um tempo que as jurisprudências eram predominantes, com tantos anos de democracia, com a Constituição de 1988, que é uma colcha de retalhos. Um político que foi ministro do Supremo, da Defesa, da Justiça e parlamentar, me disse uma vez: “Queres aprovar uma lei no congresso nacional? Adjetiva o máximo essa lei, engabela os interesses dos congressistas. Com essa lei aprovada, vira uma colcha de retalhos e ela vai para um advogado, que vai escolher o retalho que melhor servir.” Quando nós temos leis assim, fica difícil estabelecer um consenso, só funciona por jurisprudência. Vamos analisar a Constituição, criada em 1988. De 1988 até 2020, será que nós não tivemos condições de ter jurisprudência em todas as áreas, em todos os fatos? Será que isso não pode ser determinante para todos os julgamentos? A jurisprudência é esquecida sempre e só é lembrada quando é do interesse de alguém. Não conseguimos estabelecer o princípio da jurisprudência, que resolveria essas questões. Enquanto isso não se resolver, nós vamos continuar tendo esse embate do Executivo com o Judiciário, do Judiciário com o Parlamento, do Parlamento com o Executivo e assim continua. Haverá um enfrentamento total, porque as ideologias são colocadas em tudo, até nas ações que são levadas para o Judiciário. As leis passam por uma aprovação bastante duvidosa e nós ficamos criticando o juiz. Não é certo. O juiz se baseia em leis e as leis nem sempre passam por uma depuração moral e ética.
O senhor se considera um bolsonarista?
A questão de ser bolsonarista ou não, lulista, cirista, entre outros, causa embates. Os termos que levam “ista” estão equivocados, nós votamos em determinadas pessoas e não é pelo “ista”, porque parece um negócio meio religioso, uma atitude de fanáticos. Eu não gosto dos “istas” pelo fanatismo, que as expressões com “ista” impõem. Não é o meu caso, não sou um fanático nem por homens, nem por instituições. O que eu na realidade vejo é o homem, eu não tenho o fanatismo por homens, nem por mulheres, para deixar
bem claro, nem por “qualquer outro gênero. Observo a questão da honestidade, da competência das pessoas, porque o incompetente causa tanto ou mais mal, que o corrupto ou desonesto. O mal para nação é uma coisa absurda. Então tu tens que analisar a pessoa, eu não voto em partido e nem me apaixono por pessoas. Eu já disse isso no ar, que votei no Bolsonaro, porque entendi que, naquele momento, era o melhor candidato. Existem muitas coisas que o Bolsonaro pensava e mudou, que eu pensava igual e não mudei com ele, continuo pensando do mesmo jeito. Acho que o Bolsonaro pensou certo na questão da economia. Ele pensou certo, a economia que se organizou mal. Ele faz poucas reuniões ministeriais,
mas isso necessitaria de planejamento, precisaria de um discurso único de todos, todos deveriam estar imbuídos da mesma finalidade, que deveria ser democraticamente decidida pelo presidente e seu primeiro escalão. Faltou planejamento para isso, a ideia de não arrebentar com a economia é ótima. O presidente começou a se comunicar na saída do Alvorada, pelas lives, que é um direito dele também. Isso o ajudou do ponto de vista organizacional? Não, mas do ponto de vista eleitoral é um prato cheio. Ainda acho que erramos em fechar a economia, nós tínhamos que ter mantido tudo aberto, proporcionalmente ao tamanho das empresas, o número de clientes e funcionários. É isso que deveria ter sido feito e o presidente pensava assim. Ele organizou isso dessa forma? Não, as discordâncias são nesses aspectos. Ele tem grandes ideias, mas muitas vezes Não sou o senhor da razão ou o dono da verdade, eu tenho o meu pensamento, que pode ser discutido com qualquer um, não tem problema nenhum. Respeito às demais pessoas, acho que cada um tem o direito de ser e pensar o que quiser elas são mal executadas, outras vezes nem são colocadas em prática. Ele é um homem bem intencionado, um líder nato, é um condutor de rebanhos e tem toda a chance de ganhar, enfrentando qualquer um. Ele arrumou neste período de governo uma série de inimigos. Os ex-bolsonaristas são uma legião e ele enfrentou tudo isso. Enfrenta o judiciário e assim ele faz com tudo. Votei no Bolsonaro e não sou daquelas pessoas que aplaudem o presidente por qualquer coisa.

Mas então, como o senhor se definiria politicamente?
Eu não sou um homem de esquerda, vou votar naquela pessoa que tiver mais perto dos meus ideais. Como eu tenho os meus ideais, que são liberais e capitalistas, obviamente tenho que procurar um candidato que esteja nessa direção, daquilo que penso, que é o melhor horizonte para o futuro do Brasil. Não sou o senhor da razão ou o dono da verdade, eu tenho o meu pensamento, que pode ser discutido com qualquer um, não tem problema nenhum. Respeito às demais pessoas, acho que cada um tem o direito de ser e pensar o que quiser, o que não tem o direito é de usar os seus cargos para usufruir do dinheiro público de forma privada, sem criar oportunismo para se locupletar. Isso é o pior dos males que se tem, candidato com esse tipo de direcionamento de compreensão do Estado e dos recursos que vem da sociedade, sou frontalmente contrário. Daqui a pouco, a esquerda pode ter um luminar; por exemplo, a China que é tão criticada tem o regime forte e enérgico, é de esquerda do ponto de vista político, mas ela é uma economia de mercado excelente. A China é um Estado comunista e capitalista, só funciona o capitalismo lá, porque o Estado manda e entendeu a importância do capitalismo. Quando nós tivermos homens de esquerda, que pensam dessa forma, veremos outro Brasil. A solução está no capitalismo, no liberalismo e nas reformas necessárias. O Brasil precisa e já fez uma reforma trabalhista, mas poderia ser mais impactante, onde o Ronaldo Nogueira e o Michel Temer abraçaram. Pena foi o que aconteceu com Temer, no assunto Joesley, no Jaburu. Senão o Temer teria feito um excelente governo, como o Itamar Franco fez. A pergunta que vão fazer é se o Temer é um homem de direita? O partido é de centro. O MDB foi migrando para o centro e hoje tem pessoas de várias matizes, tem centro direita, tem centro esquerda e os petistas, que não tinham partido na época, eram do MDB. Essa evolução a esquerda brasileira não acompanhou, em vez de se espelhar no comunismo chinês, eles odeiam a China, porque ela tem o mercado capitalista. Esse é o problema. No dia em que eles entenderem melhor a China como um Estado capitalista, nós vamos ter outra esquerda.