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Ian Butler

Historicamente, o value tende a funcionar por ciclos. A julgar pelo que se está a produzir no mercado desde que em novembro do ano passado a Pfizer anunciava a sua vacina contra o COVID-19, tudo parece indicar que estamos perante o que é o novo ponto de inflexão para um estilo de investimento que em 2020 viveu o seu pior ano face ao growth. Ian Butler tem muito claro que o que estamos a ver é apenas a ponta do iceberg, o início de um movimento muito maior.

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NER T PAR

COGESTOR DO JPM EUROPE STRATEGIC VALUE FUND

UMA DINÂMICA PARA O VALUE QUE SE PRETENDE QUE CONTINUE

O mercado europeu disfrutou de um gap muito forte, tendo subido mais de 55% desde os mínimos de março de 2020. Isto viu-se impulsionado pela previsão de uma forte recuperação económica ajudada pela posta em marcha das vacinas contra o COVID-19. Neste contexto, as empresas cíclicas comportaram-se melhor do que as defensivas, o que, em geral, é típico nas recuperações económicas. “Enquanto o impulso do crescimento económico continuar a acelerar-se esperamos que esta dinâmica continue”, afirma.

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á muito tempo que o value não disfrutava de um momento tão bom. Desde que a 9 de novembro a Pfizer anunciou ter encontrado a vacina contra a COVID-19, as empresas englobadas dentro deste estilo de investimento protagonizaram um forte rally bolsista que, segundo Ian Butler, “poderá apenas ser a ponta do iceberg”. Essa é uma das razões pelas quais o JPM Europe Strategic Value se converteu numa das grandes apostas da J.P. Morgan AM para investir este ano.

Tal como explica o cogestor do fundo, com Selo FundsPeople 2021, pela classificação Blockbuster, historicamente o value tende a funcionar por ciclos. “É fácil esquecer-se do período de sete a oito anos vivido desde princípio de 2000, quando o value superou o growth em aproximadamente cerca de 90%. Agora, o movimento que temos visto poderá ser o início de algo muito maior, sobretudo tendo em conta que se produz depois da queda mais longa da história (quase 14 anos) e o pior ano para o value (o vivido em 2020)”, recorda o especialista.

Na sua opinião, existem muitas razões pelas quais continua a ser positivo relativamente ao value. “Continua a existir um enorme e coordenado estímulo fiscal em todo o mundo, que se dirige geralmente para as áreas mais cíclicas do mercado, onde se enquadram as empresas value, cujos lucros, para além disso, estão a recuperar”. Acrescenta que começaram “a ver o regresso da inflação; o posicionamento continua a ser extremo, com muito poucos investidores expostos ao value; as diferenças de valorização (entre os títulos baratos e os mais caros) continuam a ser elevadas na Europa...”.

No contexto atual, Butler gosta especialmente dos bancos. “Embora se tenham valorizado e o seu price-to-book tenha passado do mínimo de 0,5 vezes alcançado em setembro para as 0,8 vezes a que se movem atualmente, resta espaço para que continuem a avançar”. O potencial para que ofereçam importantes retornos é claro. “O setor está a ver melhorias nos seus lucros e existe a possibilidade de que estes sejam muito mais elevados graças ao aumento das margens, à medida que as taxas começam a subir e as curvas de yields se tornam mais pronunciadas”. O cogestor também destaca a atratividade que representaria se o BCE levantasse no final do ano as restrições ao pagamento de dividendos, ou inclusive, as operações de M&A que estão a acontecer no setor. “Mostram que o regulador pode estar mais disposto a permitir a consolidação no mercado, mas também que os bancos estão a começar a alocar o seu capital de forma mais eficiente”, analisa.

A PUREZA, GRANDE MOTIVO DE ORGULHO

Desta forma, no atual contexto sentem especial interesse pelos fabricantes de automóveis. “O setor experimentou importantes melhorias de lucros este ano. Estes subiram mais do que os preços das ações, pelo que tendo em conta a relação preço-lucro vimos que se tornou mais barato em 2021, apesar de ser um dos setores com maior rentabilidade. Ainda há uma importante margem de valorização em grande parte do setor”.

O European Strategic Value foi lançado em fevereiro de 2000. Um dos aspetos de que mais se orgulham na equipa é da pureza do estilo do fundo. “O nosso enfoque disciplinado garante que o produto sempre proporcionará aos clientes uma exposição pura ao value a todo o momento, independentemente de onde nos encontramos ou cremos que nos encontramos no ciclo. Ou seja, não haverá variação de estilo”.

Nos últimos três anos produziram-se alguns movimentos verdadeiramente dramáticos no mercado, assim como algumas rotações de estilo muito significativas. O value obteve uma rentabilidade inferior em 2018 e 2019. O ponto culminante face ao growth foi em 2020. “Como

“O FUNDO TENDE A SAIR-SE ESPECIALMENTE BEM NOS MERCADOS VALUE”

fundo puro de estilo value, este pano de fundo supôs um importante vento contra para a rentabilidade relativa da estratégia, que nesses três anos foi praticamente plana face ao índice de referência”, reconhece Butler.

Dito isto, o fundo experimentou uma forte recuperação desde março do ano passado, mantendo-se fiel aos seus princípios. “As yields foram particularmente fortes desde que em novembro começou a rotação para o value, o que demonstra, uma vez mais, que o fundo tende a comportar-se especialmente bem nos mercados de valor”, sublinha.

O cogestor destaca que aproveitam ao máximo os amplos recursos da equipa de Ações Internacionais da J.P. Morgan AM, tanto no que respeita aos seus colegas gestores, como quanto ao exército de analistas com o qual conta a entidade americana. “Isto permite-nos analisar um grande número de títulos. Trata-se de um fundo que investe em todo o tipo de empresas, inclusive as empresas de pequena e média capitalização, nas quais as anomalias de valorização costumam ser maiores”, afirma. Um factor que “tem sido chave para que, desde a sua criação, tenhamos sido capazes de superar o índice de referência em mais de cerca de 4% anualizado e ter superado o MSCI Europe Value naqueles anos em que o estilo value superou o growth”, conclui.