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Ler, aprender... para Ser

Peço licença para terminar soletrando a canção de rebeldia que existe nos fonemas da alegria: canção de amor geral que eu vi crescer nos olhos do homem que aprendeu a ler. Thiago de Mello Canção para os fonemas da alegria

Pensando sobre a necessidade do conhecimento para a vida, pus-me a refletir sobre o ato de ler e suas consequências para a existência do ser humano. Afinal, ser leitor é muito mais que uma relação com a palavra, é um ato que extrapola o texto e se projeta no mundo. É por isso que todo diálogo com a palavra resulta numa interlocução com a realidade e sua complexidade. Essa reflexão começou com a leitura do poema Canção para os fonemas da alegria, do escritor Thiago de Mello, que abre esta apresentação. Os versos do poeta falam do poder libertador do ato de ler – que é, na verdade, um ato de compreensão do mundo e da própria vida. Convenço-me a cada dia de que a leitura é uma necessidade existencial. Pergunto-me: Como viver sem ler? Sem aprender? Sem se construir e sem aprimorar-se? O conhecimento é mais do que uma necessidade ditada pelas necessidades profissionais e sociais, é uma condição para a existência. Uma pessoa que não estuda é alguém condenado a ser

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escravo da ignorância e dos outros. Todo aquele que lê desenvolve aptidões e capacidades que o tornam diferente. São inúmeros os exemplos que ilustram a força transformadora da leitura. Quem aprende a amar os livros e o saber se distingue pelo senso de responsabilidade, pela consciência social e atitude generosa em relação ao próximo. Além de ter o entendimento necessário para exercitar sua cidadania de forma consciente e participativa. Esse sentido e sensibilidade conduzem esses espíritos, iluminados pela sabedoria, a uma postura de compaixão e compromisso com a vida, com a justiça e a possibilidade de construção do novo. Ler, aprender... são experiências definitivas na vida do ser humano e da sociedade. Lemos para viver, para sentir prazer e encontrar um sentido para o nosso existir. O que pode ser mais prazeroso que a leitura de um belo texto? Ou mais revelador que a força iluminadora de um poema, de um livro? A verdade é que aprender é uma

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das maiores felicidades da vida e uma das experiências mais importantes que o ser humano pode vivenciar. A aprendizagem é uma condição para Ser: ser Gente, Homem, Mulher, Cidadão... No Amazonas, pela sua geografia particular e pelas distâncias, grandes são os desafios para proporcionar a crianças, jovens e adultos reais oportunidades de aprendizagem. Buscando contribuir nesse processo, o Projeto Igarité adota uma metodologia inovadora e materiais que permitem integrar os conteúdos das disciplinas, como este Caderno de Cultura do Amazonas. Esta introdução à cultura amazonense será uma ponte para que os estudantes tenham um entendimento melhor de nossa realidade. Desejo que os conhecimentos contidos neste pequeno baú de saber contribuam para o crescimento intelectual e para o fortalecimento de uma certeza: de que só por meio da aprendizagem e do conhecimento é

possível realizar ideais e ajudar nossa terra, nosso país e o planeta – nossa casa – a serem melhores. E, para testemunhar o meu amor pelo chão amazônico em que nasci, faço dos versos do compositor parintinense Chico da Silva, no poema Amazonas, um louvor a este lugar e sua gente: Eu amo esse rio da selva Nas suas restingas, meus olhos passeiam O meu sangue nasce de suas entranhas E nos seus mistérios, meus olhos vagueiam E de suas águas sai meu alimento Vida, fauna, flora, é meu sacramento. (...) Tudo isso me faz com que eu não te deixe Amazonas, Amazonas, meu amor! Que a leitura deste caderno de cultura da pátria das águas seja, portanto, uma viagem de prazer e muitas descobertas. Então, boa viagem! Tenório Telles É escritor, professor e autor de A derrota do mito e do CD-ROM O Amazonas em sua literatura

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ViLancete doS trêS rioS Um remanso de panema poesia nada pequena. Entre rios, encachoeirado, desce entre um delta intrincado, desce vazio de peixes, desce deserto de pássaros, é rouxinol de sonora glória maior que a dos homens, Rio Negro mar de estrelas quando a noite vem sem lua e corre a igara serena, um remanso de panema poesia nada pequena. Já outro é de festa intensa e de compleição imensa, rico de peixes e povo de pássaros sempre novo, a cada dia que passe,

a cada dia que vença, Solimões rio que desce sob o sol duro, dourado, ao som de uma brisa amena, um remanso de panema poesia nada pequena. Depois os dois se debruçam amplos sobre um palco aberto, celebram o eterno anelo das águas negras, das águas e das águas amarelas, misturam-se após o diálogo amazônico, Amazonas, mar dulce em delta de amargo sobre o mar, canção suprema, um remanso de panema poesia nada pequena. (Elson Farias, 1976, p. 41-42 )

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o que é C ap í t u l o 1

cultura?

Na sua origem latina, a palavra cultura refere-se à ação de cuidar, tratar, reverenciar. São diversas as compreensões de cultura: na agricultura refere-se ao cultivo da terra; na biologia quer dizer o cultivo de células e tecidos vivos.

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No dicionário, a palavra cultura apresenta vários significados. Ela pode ser entendida como “a atividade artística ou intelectual e os trabalhos produzidos por estas atividades”; ou “o desenvolvimento das faculdades sociais, morais e intelectuais através da educação”. Cultura pode também ser sinônimo de “um estilo de expressão artística ou social peculiar a uma sociedade.” E ainda designar “um alto grau de gosto e refinamento adquirido através de treino intelectual.” Os antropólogos definem cultura da seguinte forma: conjunto sistemático de representações, símbolos, ideias, valores, crenças, saberes e expressões de criatividade. Para eles, cultura é também o conjunto de normas, de regras, de padrões de conduta, de modos de adaptação à natureza e de instituições que ditam as normas sobre como as pessoas devem se relacionar e se organizar para conviver, produzir e garantir sua sobrevivência. O sentido de cultura que queremos ressaltar neste caderno é o da cultura como herança social: são vivências, conhecimentos e práticas sociais que vão sendo transmitidas de geração em geração. Portanto, tudo o que

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Na sua origem latina, a palavra cultura refere-se à ação de cuidar, tratar, reverenciar. São diversas as compreensões de cultura: na agricultura refere-se ao cultivo da terra; na biologia quer dizer o cultivo de células e tecidos vivos. Caderno de cultura do Amazonas

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criamos – todos os modos de fazer, de pensar, de se relacionar característicos de uma sociedade – é cultura. Cultura é também a totalidade das formas de explicar a origem da vida e de construir o abrigo, o templo ou a cidade. Envolve os padrões de comportamento de uma comunidade, as artes, as crenças e os valores que aprendemos com os nossos pais, familiares e com quem nós convivemos e trabalhamos. A cultura se faz de processos sociais dinâmicos conectados a um sistema de relações entre os indivíduos, e desses com a natureza. Ela é, portanto, o traço que caracteriza a singularidade de um povo, de uma sociedade, de uma região e garante, face ao processo mais amplo de globalização, a construção da identidade.

Antropólogos Os antropólogos estudam a origem e o desenvolvimento físico, social e cultural dos grupos humanos e o comportamento das pessoas. Identidade Toda vez que olho o rio deslizando lentamente em busca do mar Ouço o eco da saudade dos meus pais dos meus avós ressoando em mim... Minha parte nordestina querendo voltar Mas ao entrar na canoa Uma voz bem lá do fundo soa, dizendo não vá É o som de todas as tribos tamborilando meu peito... Minha parte índia querendo ficar Daí olhando pro rio com sede de identidade Entendo que na vontade de partir e de ficar o meu ser caboco é o encontro das duas águas: metade rio, metade mar. (Celdo Braga 2001. P. 19)

Canoa Tronco escavado a ferro e fogo que ganha nas águas o prumo da quilha o destino da proa Um toque de arte um ciclo da vida uma nave cabocla (Celdo Braga 2001. P. 13)

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e a cultura brasileira? A cultura brasileira formou-se a partir das contribuições dos povos indígenas, europeus e africanos que se conjugaram aqui nesse território, criando uma cultura distinta e plural. Ela é composta de bens de natureza material e imaterial, as quais constituem um precioso patrimônio cultural que todos precisam conhecer, valorizar, difundir e preservar.

a Matriz os povos da floresta “O espanto europeu na América tropical foi a indianidade, esta outra humanidade canibal e gentil que, longe dos mundos de então, se fizera a si mesma com o só propósito de existir curtindo a vida. Era o povo da floresta, ritmo das árvores gigantescas, das águas sem fim e de seus peixes inumeráveis, dos pássaros mil, e de toda sorte de bicho com os quais aprendera a conviver deixando-os viver.” (Ribeiro; Moreira Neto 1992. P. 23)

os povos lusitanos “O português foi a cal jesuítica e o óleo genésico que argamassaram o saibro índio e o cascalho negro na edificação do Brasil. Foi o nervo dessas carnes e desses ossos que, a partir de seu punhadinho de gente, se multiplicou, prodigioso, lusitanizando o mundo, numa façanha inverossímil de tão grandiosa, impossível de se pensar, se não tivesse sido feita.” (Ribeiro; Moreira Neto 1992. P. 43)

“[...] ainda nos associa à Península Ibérica, a Portugal especialmente, uma tradição longa e viva, bastante viva para nutrir, até hoje, uma alma comum, a despeito de tudo quanto nos separa. Podemos dizer que de lá nos veio a forma atual de nossa cultura; o resto foi matéria que se sujeitou mal ou bem a essa forma. (Holanda 1963. P. 15)

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os povos da África “(...) o negro teve uma importância crucial, tanto por sua presença como massa trabalhadora que produziu quase tudo que aqui se fez, como por sua introdução sorrateira mas tenaz e continuada, que remarcou o amálgama racial e cultural brasileiro com suas cores mais fortes.” (Ribeiro 1995. P. 114)

A cultura brasileira foi fundada nessa matriz e se apresenta como o resultado das interações entre esses diferentes povos, sociedades e nações. Assim, a partir da diversidade e da criatividade da matriz social brasileira, a Amazônia vai construindo a sua cultura e a sua história, tomando formas singulares e específicas de sua região.

Patrimônio material Aquele que é concretamente percebido, que é visível, como a arquitetura, a paisagem, os lugares, as obras de arte, as relíquias históricas. No Amazonas, atualmente são quatro os bens tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), todos em Manaus: o Teatro Amazonas, o Reservatório do Mocó, o Mercado Municipal Adolpho Lisboa e o conjunto arquitetônico e paisagístico do Porto. E onde a arquitetura é rarefeita, entra a exuberância da paisagem e do saber fazer ancestral, como o da técnica indígena na construção de canoas em troncos de árvores, arquitetura adaptada à dinâmica das águas e o das bordadeiras dos grupos de Ciranda e de Cangaço, que recontam universos culturais pelas mãos.

Patrimônio imaterial Compreende as expressões de vida, práticas, conhecimentos, técnicas e tradições que comunidades, grupos e indivíduos, em todas as partes do mundo, recebem de seus ancestrais e transmitem aos seus descendentes. É um outro conceito de registro de memória. memória “Às vezes um pajé, tomando um recém-nascido nos braços, canta e dança a alegria de ter visto aqueles olhos. Depois dá à criança o nome de um ancestral que passou por aqui há 4 mil anos e voltou no olhar daquela criança para ensinar cantos, ritos e cerimônias antigas. O olho daquele menino é como a água do rio que passa todas as manhãs por ali. Não é a mesma, mas traz sempre a mesma memória. Nosso monumento mais antigo não é nenhum edifício ou pirâmide. É a nossa memória.” (Krenak 1992, P.)

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o que é cultura amazônica? A Amazônia se destaca como uma das mais importantes áreas bioculturais do mundo. É a região de maior floresta tropical contínua, guardando não só uma fabulosa reserva de espécies botânicas, medicinais, industriais e frutíferas, de animais e de aves, como também de água. No convívio com a floresta, as pessoas vão aprendendo o manejo das plantas e dos animais no seu meio ambiente, criando florestas culturais. A ocupação do homem na floresta amazônica, com suas atividades de trabalho, costumes e crenças, gera um sistema de vida com características bem próprias da região. A grande diversidade biológica da Amazônia propicia uma relação entre os homens, e desses com a natureza, que se manifesta nas terras firmes e ribeirinhas, águas, rios e igarapés, e faz nascer uma cultura distinta e plural: a cultura amazônica.

estados que compõem a Amazônia legal

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Amazônia A Amazônia brasileira, formada pela bacia do rio Amazonas, possui em torno de 5 milhões de quilômetros quadrados. É formada pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Roraima, Rondônia, Tocantins e a parte ocidental do Maranhão. São enormes reservas de água, combustíveis fósseis, insumos agrícolas e minerais. Na Amazônia existem cerca de 4 mil espécies de árvores, com destaque para a castanheira e a seringueira. Existem produtos vegetais decorativos (vitória-régia), medicinais e alimentícios (guaraná e castanha). Os recursos minerais existentes são o alumínio, o caulim, o cobre, o cromo, o chumbo, o zinco, o estanho, o ouro, o salgema e o urânio. Dentre os recursos energéticos, destacam-se o petróleo, o carvão e o gás. Segundo o site do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), a Amazônia abriga uma infinidade de espécies vegetais e animais: 1,5 milhão de espécies vegetais catalogadas; três mil espécies de peixes; 950 tipos de aves; e ainda répteis, anfíbios e mamíferos. Entre os animais que habitam a floresta, a maior parte é de insetos, mesmo não sendo tão famosos quanto os coloridos papagaios e araras. A Floresta Amazônica também abriga grande variedade de macacos e, em seu trecho alagado, são comuns os mamíferos aquáticos como o peixe-boi, a lontra e os botos, e répteis como os jacarés, quelônios e a jiboia amazônica.

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Os saberes dos povos da floresta se apoiam em tradições e em práticas de experimentação. Não existe um saber que não seja vinculado à prática: a caçada, o marisco, a agricultura e o corte da seringa. Aprender a cultura amazônica é conhecer a ecologia e o manejo das espécies que habitam seus rios e florestas, saber seu potencial e seus usos, bem como reconhecer os hábitos e práticas das comunidades locais. E é assim que a cultura amazônica se traduz pela infinidade de expressões, que caracterizam a pluralidade cultural da região, tão rica quanto a biodiversidade, um patrimônio da humanidade, fundamental para a sobrevivência da vida no planeta. Essa pluralidade cultural se traduz nos povos, nas línguas, nas crenças, no trabalho, na criação de artefatos ou instrumentos. A relação dos povos com a floresta tropical recortada por rios exuberantes cria uma intimidade com as águas, que é uma referência cultural de identidade e origem.

Florestas culturais Resultam da relação dos povos indígenas com a floresta. Os diferentes sistemas florestais criados a partir desta relação desenvolvem-se por meio de inúmeras formas de intervenção humana que explicam a presença e a distribuição de certas espécies em territórios ocupados no passado e no presente. Esses sistemas florestais fazem parte do patrimônio cultural dos povos indígenas. Ecologia É uma área específica do conhecimento humano que estuda as relações dos organismos uns com os outros e com todos os demais fatores naturais e sociais que compreendem seus ambientes.

Manejo Nos dicionários, manejo significa ato ou efeito de manejar, lidar, administrar. É a manipulação, a prática, o manuseio. Na Amazônia os povos da floresta não são simples extratores, eles têm todo um manejo criado para tirar seu sustento da floresta e dos rios. Por exemplo, existem mais de 250 tipos de mandioca/macaxeira graças ao manejo, ao domínio da botânica. Biodiversidade É a “soma de todos os produtos da evolução biológica: variação genética, riqueza de espécies, diversidade de sistemas naturais.”

Por exemplo, existem na Amazônia 1,5 milhão de espécies vegetais reconhecidas, que correspondem a 10% das plantas existentes no mundo. Povos À cultura original dos povos indígenas somam-se as influências culturais dos portugueses, espanhóis, africanos, ingleses, italianos, sírio-libaneses, japoneses, norte-americanos, judeus e, ainda, nordestinos e gaúchos.

Línguas

No Estado do Amazonas há mais de 60 línguas faladas por uma população de 87 mil pessoas, que pertencem a 62 etnias diferentes, formando a maior comunidade indígena brasileira.

Mesmo que o Brasil tenha exercido grande influência nas mudanças ocorridas na Amazônia, não acabou com as suas peculiaridades. As trocas entre ambas as culturas são muitas, mas ainda encontramos uma cozinha, uma literatura, uma música da Amazônia.

(Cunha, Almeida 2002, P. 33)

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e a cultura do amazonas ? Para conhecer o Estado do Amazonas, é necessário entender o sentido presente nas relações entre a natureza e as pessoas, compreender como as condições naturais moldam a ação humana, e verificar como estas ações também vão moldando a natureza.

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A cultura amazonense se derrama nas águas dos rios e igarapés, se impregna nas regiões ribeirinhas, se revela nas aldeias e cidades e finca raízes na terra preta arqueológica (TPA).

Amazonas A lenda das amazonas, presumíveis mulheres guerreiras encontradas na foz do rio Nhamundá, remonta a imagens de um mundo de mistérios e seres fantásticos: mulheres de um só seio (tendo sido o outro extirpado para ajudar no manuseio do arco e a flecha), carregando meninas geradas por homens que, consumada a concepção, eram mortos ou devolvidos ao local de origem. A essa lenda o rio e o estado devem seu nome.

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A cultura se tece por uma base social – o povo e sua relação com a natureza – e torna-se registro na história que vai se construindo. A cultura amazonense se derrama nas águas dos rios e igarapés, se impregna nas regiões ribeirinhas, se revela nas aldeias e cidades e finca raízes na terra preta arqueológica (TPA). É no espaço social de paisagem humanizada que se integra e se forja a cultura do Amazonas. O território amazônico é um espaço marcado por lutas, desafios, resistências, e também pela convergência da mistura. No século XVI, quando os conquistadores chegaram a esse território, encontraram uma sociedade dinâmica com um sofisticado domínio sobre o ecossistema.

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Resistência Durante a primeira metade do século XVIII, desenvolveu-se uma intensa guerra contra o colonialismo português. À frente dessa guerra estava o chefe Ajuricaba da região do Vale do Rio Negro, que resistiu durante anos ao domínio português. Ajuricaba se tornou um símbolo da luta e da resistência no Amazonas. Terra preta arqueológica (TPA) É uma terra escura, encontrada em pequenas áreas, em geral de dois a três hectares, com diferentes materiais arqueológicos, indicando que grupos culturais distintos habitaram esses sítios. Nesses solos há grande concentração de substâncias orgânicas que apresentam elevados teores de cálcio, carbono, magnésio, manganês, fósforo e zinco, que tornam a terra fértil. Lutas Durante 50 anos, os Mura lutaram contra os portugueses. Eles tinham aprendido a não se apresentar de peito aberto contra as armas de fogo; organizavam rápidos ataques ou emboscadas e eram exímios arqueiros [...]. “Os primeiros anos da Independência do Brasil foram de lutas cruentas no Amazonas. A falência do mercantilismo extrativista somente seria decretada em campo de batalha, pelos revolucionários da Cabanagem.” (Souza, 1994)

É possível dizer que a população amazônica encontrou um estilo singular de resistência. Esse estilo é “[...] uma demonstração de superioridade cultural, pode ser chamado de [...] leseira [baré], que é a leseira amazonense, mas especificamente de Manaus, daí o baré. [...] Ela pode ser uma forma aguda de esnobismo ou uma ironia. Ela é às vezes pacífica, outras vezes ostensiva, mas nunca rápida demais a ponto de ferir o ritmo de banzeiro, que é o ritmo regional.” (Souza, 1994. P. 124-125) Mistura Algo de muito profundo aconteceu na formação do povo da Amazônia que aponta para o nascimento de uma civilização original, sustentada demograficamente pelos novos amazônidas: os caboclos amazônicos.

Cabanagem A Cabanagem (1835-1840) foi uma revolta na qual negros, índios e mestiços se insurgiram contra a elite política e tomaram o poder na então província do Grão-Pará, que englobava os atuais estados do Pará, parte do Amazonas, Amapá e Roraima. Entre as causas da revolta encontram-se a extrema pobreza das populações ribeirinhas e a irrelevância política a qual a província foi relegada após a independência do Brasil. A denominação “Cabanagem” remete ao tipo de habitação da população ribeirinha, espécie de cabanas, constituída por caboclos, indígenas e escravos libertos. (Chiavenato, 1984) Ajuricaba “Ajuricaba foi posto a ferros junto com outros guerreiros e transportados para Belém, onde seriam vendidos como escravos. Foi então que o grande líder manau fez o gesto que lhe deu entrada na História e no coração do povo da Amazônia [...] Ajuricaba pulou da canoa de seus opressores para as águas da memória popular, libertando-se dos grilhões e ressuscitando como um símbolo de coragem, liberdade e inspiração.” (Souza 1994. P. 63) Caboclo Essa palavra é derivada do Tupi caá-boc, “tirado ou precedente do mato”.

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como a cultura do amazonas se expressa? Existem algumas maneiras de se conhecer a cultura de um lugar. Uma delas é levantar informações oficiais que trazem algumas referências importantes, como a forma de governo, as leis instituídas; a produção cultural, as políticas públicas de educação. Por exemplo, podemos consultar o sistema educacional para saber o número de alunos escolarizados, o índice de analfabetismo, e quantas escolas existem na região. Além dessas referências, podemos consultar os indicadores demográficos, geográficos e econômicos. Também é possível conhecer os dados da produção econômica e as riquezas do lugar, relacionar os investimentos na área de educação e cultura e, assim, traçar um perfil sociocultural dos habitantes. Através dessas informações é possível compreender como se apresenta a cultura de um lugar e como essa sociedade constrói sua identidade cultural.

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Informações Oficiais O Amazonas é o mais extenso estado do Brasil, com uma superfície de 1.558.987 km2. Grande parte dele é ocupada por florestas – é o estado mais preservado do país, com 98% de sua cobertura florestal original. E a outra parte, pela água – o estado é banhado pela bacia hidrográfica amazônica, que responde por aproximadamente 20% da água doce do planeta. Cerca de 60% da superfície do Amazonas se situam abaixo de 100 metros; no entanto, é também no Amazonas que se encontra um dos pontos mais elevados do Brasil, o pico da Neblina, com 2.993,78 m. Cortado pela linha do equador em sua porção setentrional, o clima é equatorial úmido, com temperatura média anual de 26ºC. O estado do Amazonas limita-se a leste com o Pará, ao norte com Roraima e a Venezuela, a oeste com a Colômbia e o Peru, e ao sul com Acre, Rondônia e Mato Grosso. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, a população do estado era de 3.480.937 habitantes, sendo que 1.802.525 habitantes viviam nadecapital. Caderno cultura do Amazonas

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O principal produto extrativo é a borracha, explorada principalmente nas margens dos afluentes do rio Amazonas, Madeira, Purus e Juruá. Outros produtos locais são: a castanha-do-pará, as gomas não elásticas e a piaçava, cuja exploração ainda se faz de maneira insuficiente. As possibilidades de extração mineral vêm-se ampliando e o estado dispõe de ferro, manganês, linhita, cassiterita, petróleo e gás natural. Os solos de várzea são utilizados para as culturas da juta, da mandioca e do guaraná (as três superando, em valor de produção, a cultura da borracha); essas mesmas áreas ainda são aproveitadas para a criação de bovinos. FONTE: Portal do Governo do Estado do Amazonas.

Borracha Os índios Omágua chamavam de “hevé” uma matéria flexível, fabricada a partir da coagulação do leite de uma árvore (e porque os portugueses usavam o material para fazer seringas, a árvore foi chamada de seringueira). [...] De 1847 a 1860, a borracha em pelas atinge o primeiro lugar na pauta de exportação, para crescer e devorar as outras atividades e instaurar um período de “sensacionalismos” e construções suntuosas. [...] O ciclo da borracha promoveu o desenvolvimento de uma cultura diferente, que misturava tradições lusitanas já instaladas com um novo conjunto de influências importadas. (Souza, 1994).

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O Amazonas é o mais extenso Estado do Brasil, com uma superfície de 1.558.987 km2. Grande parte dele é ocupado por florestas – é o Estado mais preservado do país, com 98% de sua cobertura florestal original. Caderno de cultura do Amazonas

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Praticamente todas as atividades fabris do estado concentram-se na cidade de Manaus, que conta com estabelecimentos de beneficiamento de borracha, castanha-do-pará e madeira, moinho de trigo e tecelagem de juta, e a refinaria de petróleo de Manaus, que, além de capital político-administrativa do estado, desempenha também, em relação ao comércio e aos serviços, as funções de capital regional para uma vasta área da região norte, pois é porto internacional e centro industrial. Outras maneiras de se conhecer como a cultura se expressa é descobrir como se revelam os ritmos, os sons, os cheiros, os sabores, o jeito de ser, de pensar, de fazer as coisas, o modo como as pessoas se relacionam umas com as outras, como praticam suas crenças. Um bom exemplo é observar o jeito como as pessoas celebram as festas: manifestações distintas uma das outras, como o ritual da Moça Nova, do Alto Rio Solimões, o Festival Amazonas de Ópera, em Manaus, e o carnaval de rua que ocorre em quase todas as cidades do estado.

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Também devemos lembrar o modo de fabricação de objetos utilitários como cestas de fibra de arumã do Alto Rio Negro, os utensílios de uso pessoal como anéis, pulseiras, colares de sementes de jarina, os cocares de penas e plumas coloridas e as pinturas no corpo, assim como a profusão de cores, sons, ritmos na tecnologia do Boi de Parintins, que se transforma em enredos e coreografias da mitologia amazônica e nos rituais como o da Tucandeira. Ainda podemos observar a interferência do homem na paisagem natural amazonense, que cria relações de sustentabilidade com o meio ambiente. Tudo isso expressa a singularidade da identidade cultural amazonense. Manaus Em 1967 foi criada a Zona Franca de Manaus (ZFM) com o objetivo de estimular o desenvolvimento da cidade. Trata-se de uma área de livre comércio, em que não são cobrados impostos de importação sobre os produtos comprados no exterior. Integra a ZFM um Polo Comercial, para incrementar o comércio local; um Polo Agropecuário que abriga projetos voltados a atividades de

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produção de alimentos, agroindústria, piscicultura, turismo, entre outras; e um Polo Industrial, com mais de 450 indústrias de alta tecnologia, sobretudo do ramo eletrônico avançado, que se beneficiam das facilidades de importação de peças e componentes de aparelhos eletroeletrônicos, gerando mais de meio milhão de empregos. Esse polo é considerado a base de sustentação da ZFM.

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Vamos agora conhecer um pouco mais das gentes desse estado, das suas crenças, comidas, festas e da sua arte. Gentes A ocupação humana do atual território do estado do Amazonas começou, provavelmente, por volta de 10.000 a.C., quando tribos vindas do Hemisfério Norte – especializadas em caça, pesca e coleta de frutas e sementes – instalaram-se na calha do rio Amazonas e de seus afluentes. FONTE: Portal do Governo do Estado do Amazonas.

A população desse estado é fortemente constituída de caboclos. As florestas amazônicas se constituem em grande medida a partir da ação das sociedades indígenas e da mistura dos povos das florestas, as populações ribeirinhas, os caboclos, de quem vive com o pé na água e da gente que vive nas cidades. Na parte que diz respeito ao território amazonense, a presença negra não teve a mesma influência que sabemos com relação ao resto do Brasil. (Monteiro, 1977).

Ocupação humana No princípio, o mundo não existia. Aí apareceu uma mulher: a Avó do mundo. Depois vieram cinco trovões que nós chamamos de avôs do mundo, que fizeram a luz, os rios e as futuras humanidades. Vendo a Avó do Mundo que os trovões não souberam como fazer direito a humanidade, ela se transfigurou e surgiu o bisneto da humanidade do mundo, que a chamou de tataravó do Mundo. Esta disse ao bisneto: faça a humanidade e eu hei de te guiar. (Pãrokumu Kehíri, 1995). Nordestinos “[...] as matrizes culturais índio-caboclas foram cedendo espaço e economia, nos beiradões e nos centros dos seringais e castanhais, ao novo grupo ‘cearense’ e depois aos ‘gaúchos’, ficando cada vez mais isolados nas suas reservas e malocas, ou nos seus sítios e roçados dos baixos rios.” (Benchimol 2009. P. 26).

No entanto, há grande número de nordestinos e seus descendentes, que vieram para o estado, atraídos pelo apogeu da borracha. Além dos portugueses, também entram na composição social japoneses, sírio-libaneses e espanhóis, formando um pequeno, mas economicamente ativo, contingente de estrangeiros, que se dedicam principalmente a comércio e serviços.

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“Somos os depositários de uma cultura herdada de duas bandas étnicas, e os beneficiados da civilização injetada nos trópicos.” (Monteiro, 1977. P. 32).

No Amazonas nasce uma cultura solidária, meio portuguesa e meio indígena, que é a civilização cabocla. No estado, encontram-se dezenas de grupos indígenas. E essa dualidade indígena-cabocla fez muito uso e transformou em tradição três elementos: o rio, a várzea e a floresta. O rio é usado como meio de transporte, fonte de água e viveiro, entre outros, enquanto as terras de várzea são utilizadas como base do trabalho agrícola nos roçados, formando o sistema regulador do plantio, da colheita e da pesca em função da dinâmica das cheias e vazantes dos afluentes e rios. Já a floresta serviu para fornecer suprimento de caça, frutos, alimentos, remédios, madeiras e cipós. crenças As sociedades estabelecem ritmos em suas vidas que vão variando entre trabalhos e festas, rotinas e ritos, ocasiões comuns e períodos extraordinários. Exprimem suas crenças e cultos variados na convivência com as pessoas nas procissões, peregrinações, encontros, cultos, rituais e comemorações. As tradições (do latim traditio, “ação de trazer, transmitir”) mantêm viva a crença nas narrativas e criaturas mitológicas que povoam e assombram a região amazônica. A origem comum de umas e outras costuma ser indígena, mas há variações em enredos e personagens conforme o lugar – cada um dando a cor local a essas histórias do patrimônio folclórico da Floresta amazônica. A animais da floresta são atribuídas propriedades mágicas: figuram nas lendas pássaros como o urutau (“ave-fantasma”, em guarani) e o uirapuru; o boto se faz homem para engravidar as moças; a boiuna ou cobra grande abalroa e arrasta para longe os barcos dos pescadores. Há ainda seres inclassificáveis como o Curupira, a Iara, sereia do rio, e o mapinguari, monstro de dois metros de altura e boca na barriga.

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Grupos indígenas Apurinã, Arapaso, Banawa-Yafi , Baniwa, Bará, Barasana , Baré, Deni, Desana, Diahui, Flexeiros, Hi-Merimã , Hixkaryana, Isolados do Rio Prado, Jamamadi, Jarawara , Juma, Juriti-Tapuia, Kaixana, Kambeba, Kanamari, Kanamanti, Karapanã, Katawixi, Katuena, Katukiana (Pedá Djapá), Katukina-Pano , Kaxarari, Kaxinawa, Kubeo, Kokama, Kulina Pano, Kuripako, Madiha-Kulina Maku, Makuna, Marubo, Matis, Matsé, Miranha, Mawé, Mawyana, Mayá, Miriti-Tapuya, Munduruku, Mura, Mayoruna , Parintintin, Paumari, Pirahã, Piratapuya, Sateré-Mawé, Siriano, Tariana, Tenharim, Tikuna, Torá, Tsohom Djapá, Tuyuka, Wai-Wai, Waimiri-Atroari, Wanano, Warekena, Witoto, Yanoma mi, Yepamahsã-Tukano, Zuruaha . Crenças No dicionário, crença é definida como estado, processo mental ou atitude de quem acredita em pessoa ou coisa; fé, em termos religiosos; convicção profunda; opinião manifesta com fé e grande segurança. Curupira Conta-nos a lenda que o curupira é um grande defensor da floresta. É um ser de forma humana, pequeno, com os cabelos cor de laranja, que tem os pés virados para trás e vaga pela mata zelando pelas árvores e animais. Volta-se contra qualquer um que queira caçar apenas por prazer, ou desmatar a floresta sem propósito. Por outro lado,

é amigo dos que vivem na mata sem agredi-la. Para atrapalhar os que não agem com boas intenções ecológicas, o curupira tem muitas artimanhas. Pode assombrá-los com seus gritos agudos, açoitá-los, tornar-se invisível e aparecer em vários lugares, até fazer com que aqueles que tentam contra a vida na floresta percam o rumo. Curupira – Muito obrigado – disse o Curupira –, você me fez reviver, não vou continuar lançando a minha maldição sobre você. Agora quero convidá-lo para visitar a minha casa. – Pois eu vou, sim – disse o caçador. A casa do Curupira era muito bonita, e no terreiro havia todas as espécies de animais de caça, alguns aleijados de tiro de espingarda, alguns mortos, alguns curados e outros quase já sem vida. – Está vendo todos esses animais? Quando vocês caçam com arma de fogo acontece isso com eles. A maioria morre porque não consigo salvá-los. Eles vêm feridos para cá, à procura de remédios, e eu é que tenho que cuidar deles. Peço a vocês que, quando forem caçar, matem de uma vez, não os deixem assim feridos e não atirem à toa, pois eles sofrem muito desse jeito. Era como se estivessem num hospital de animais. Chegavam bichos doentes de todos os lados. Ao ver aquilo, o caçador ficou com pena, arrependimento, e se desculpou com o dono das caças. (Yamã, 2004. P. 56).

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A estas crenças, mistura-se a fé nos santos padroeiros. Não existe hoje, “nas práticas religiosas cristãs cultivadas pelo povo, nenhuma feição pura”. (Monteiro, 1977. P. 191). No Amazonas é marcante a presença de práticas religiosas originárias da mistura entre os rituais de herança indígena e as práticas da religião cristã.

comandam a vida. De fato, eles são a própria vida: banhos, água de beber, fonte de alimento.

costumes A identidade cultural se traduz em hábitos e costumes, falas e gestos, sabores e cheiros que fazem parte do cotidiano dessa gente. É o que se aprende no convívio e no domínio da natureza, quando esses povos tiram das florestas e dos rios os alimentos, os remédios, os sonhos e os mitos. É o legado que hoje se expressa no gosto do tucumã, do uixi, da pupunha, do mari-mari, do açaí e do ingá-cipó. E no uso de ervas, da copaíba, do mastruz, da mangarataia, do açafrão e do xarope de jatobá. Frutos e ervas que, ao serem usados pelas pessoas, passam a dar o gosto da cultura.

Por que os Tariano tinham um corpo bonito e muito duro?

O amazonense tem a vida cotidiana estreitamente relacionada com a natureza. É a natureza que dita o ritmo do tempo: o rio, o pôr e o nascer do sol, quando e a que horas fazer as coisas - as pessoas sabem usar a natureza, valorizar a base de sua existência. A relação com a água é muito física. Os rios são vias de comunicação, são escoadouros de riqueza e estradas naturais por onde as pessoas percorrem seus caminhos. Você se nomeia pela água a que você pertence: eu sou do Juruá, eu sou do Alto Rio Negro. A referência, a autoatribuição é aquática. A cultura do Amazonas está totalmente ligada à água. Os rios

identidade cultural “é uma riqueza que dinamiza as possibilidades de realização da espécie humana ao mobilizar cada povo e cada grupo a nutrir-se de seu passado e a colher as contribuições externas compatíveis com a sua especificidade [...].

“Vamos pro banho!” - significa ir ao igarapé, onde as pessoas podem se banhar. O amazonense toma dois, três banhos por dia, e nos fins de semana ainda é um costume muito forte ir se banhar nos igarapés.

“Tomavam banho com Miñapõ’rã de manhã bem cedo e isso lhes dava força e sabedoria. Quando alguns jovens iam ser iniciados, deviam ficar muito tempo na água. Quando os seus corpos ficavam bem duros (músculos enrijecidos pelo rio) e não aguentavam ficar mais, o instrutor (amõayeriwahti) os tirava dali e os colocava na margem do rio. [...]” (Tariano, 2002, p. 128)

[...] A cultura é um diálogo, intercâmbio de ideias e experiências, apreciação de outros valores e tradições; no isolamento, esgota-se e morre.” (UNESCO, Declaração do México, 1985)

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Costumes “[...] não se foge às solicitações de uma rede para a sesta ou de um prato de mujanguê. Não excluem da parafernália doméstica nem a urupema nem a cuia. Não torcem o nariz ao paxicá de tartaruga nem ao tacacá. Não esquecem ser o guaraná a bebida nacional amazonense de origem sagrada e ao mesmo tempo medicinal e refrescativa, antigamente de largo consumo na Europa.” (Monteiro, 1986, P. 50) Uso de ervas “A caminho do barco, entramos no mercado, perto do porto. As pequenas barracas de madeira exibiam cachos de pupunha, bananas das grandes, tucumãs... as deliciosas frutas daqui. Numa delas, nem frutas nem verduras, só garrafas com bebidas feitas de ervas de todos os tipos. Para todos os males, dizia o vendedor. E para quem tivesse fé na cura das plantas. Eram as garrafadas, um mundo de infusões vindo da floresta. [...]”

Água “Água dos seus igarapés antigos que desapareceram. Dos igarapés que ainda cortam, mas não separam, senão unem, as diferentes partes da cidade. Igarapé de Manaus, igarapé dos Quarenta, igarapé do São Raimundo, igarapé do Tarumãzinho. Mas sobretudo das águas desse poderoso afluente do Amazonas que banha a nossa cidade, a cuja beira ela nasceu e ao qual já os índios, seus mais antigos navegantes, deram o nome de Rio Negro.” (Mello, 1984, P. 85)

(Ferreira, 2000, P. 19-20) Caderno de cultura do Amazonas

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artes No Amazonas, a arte se junta à técnica e, em grande parte, é essencialmente utilitária. A arte amazonense traz a forte herança dos povos indígenas, que concebem obras de grande refinamento técnico e estético e assim produzem cerâmicas, trançados, plumários e entalhados em madeira, englobando um grande número de artefatos de uso cotidiano e ritual. A arte amazonense também se expressa na fabricação de barcos, verdadeiras obras de arte e de técnica, além de meio de transporte e instrumento de subsistência das populações. O fazer dos barcos regionais demonstra a criatividade da cultura cabocla, vinda de práticas de homens e mulheres que vivem na região, e dos saberes passados de geração em geração, ao longo de séculos. comidas A cozinha vai se moldando às características de cada território, e formando o mapa culinário em função da sua fauna e flora. A culinária do Amazonas tem a marca da terra, dos rios, da floresta, e por isso é tão diversificada. São centenas de pratos e quitutes. A base do rancho é o peixe, que varia segundo a safra. O que não muda no cardápio é a farinha de mandioca – o amazonense não senta à mesa sem ela. O açaí é o acompanhamento mais usado.

Arte É a capacidade criadora de expressar ideias, sensações e sentimentos e é também atividade, ofício, profissão, engenho, habilidade. Trançados As fibras e cipós mais usados em tecelagem e trançados são uacima, aninga e caraguatá. A de maior durabilidade é a fibra extraída da palmeira tucum. São feitos chapéus, redes de pesca e de dormir, sandálias, bolsas para senhoras, tapetes, artigos de uso e decorativos. A região do Rio Negro tornou-se famosa pela produção de cordas, espanadores, vassouras, rolos de fio. Há ainda as redes de tucum simples ou tecidas com penas de aves e ornadas com motivos regionais. (Monteiro, 1986).

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Barcos Entre os principais tipos que circulam nos rios do estado existem: a canoa, que é construída em madeira e usada para viagens curtas com o auxílio do remo, pode ser considerada uma extensão do corpo humano, e seu uso traduz a intimidade com a realidade da região; a rabeta, que é uma canoa com adaptação de um motor de baixa propulsão na proa; a voadeira, barco a motor muito veloz; o recreio, usado como meio de locomoção e para o escoamento de mercadorias; a catraia, hoje mais usada para a venda de lanches às pessoas que estão em embarcações maiores; o batelão, construído em madeira, sem fechamento nas laterais, com a única parte coberta centrada no motor.

Técnica A arquitetura dos barcos é adaptada à hidrodinâmica das águas. O movimento das águas é observado para que o barco tenha sustentação, equilíbrio e rapidez. Muitos desses barcos ainda saem das mãos dos mestres carpinteiros, que guardam a arte de projetar e ainda hoje trabalham no machado, na enxó e no traçador.

Mandioca Além dos saberes, da alegria e de muitas outras contribuições, os povos indígenas contribuíram com a prática do cultivo e do consumo de diversas raízes, como, por exemplo, a mandioca. A farinha da mandioca é muito usada na alimentação cotidiana em todo o Brasil. “[...] os índios (de fato, provavelmente as índias) do passado desenvolveram uma tecnologia sofisticada, baseada no uso do ralador, do tipiti, do cumatá, que transforma uma planta extremamente venenosa em vários produtos importantes como beiju, a farinha, a tapioca e até o caxiri, dentre outras coisas.” (Neves, 2006, p. 7)

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A arte amazonense também se expressa na fabricação de barcos, verdadeiras obras de arte e de técnica, além de meio de transporte e instrumento de subsistência das populações.

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Não são poucos os pratos que são servidos com piracuí, uma espécie de farinha feita de peixe seco socado no pilão. Há ainda o tacacá – papa de goma – a que se juntam o tucupi, um dos molhos tradicionais da Amazônia, o jambu e camarões secos. O tambaqui pode ser servido em postas fritas ou cozidas em caldo, assado na brasa ou na folha da bananeira. Tem ainda o desfiado de pirarucu acompanhado com arroz de pupunha. Isso sem falar na pescada recheada ao forno com farofa de farinha de mandioca, no jaraqui frito, nas sardinhas e no pacu. E ainda na caldeirada de tucunaré, no bodó ao tucupi. Como sobremesa, pode-se escolher o creme de cupuaçu, de araçá-boi e bolo de banana-prata e o pão de açaí para serem servidos com café. E as escolhas vão mais além, pois as dezenas de frutas podem ser servidas em bolo, pudim, doce, geleias, compotas, cremes, mousses, salames. Só do cupuaçu tem-se ainda sorvete, refresco, vinho, licor e chocolate. Tudo isso e muito mais é o sabor do Amazonas. Pupunha A pupunha foi a primeira palmeira domesticada pelos povos amazônicos, há mais de nove mil anos. Produz frutos ricos em amido e, cozida, é

uma importante fonte de energia. O fruto é muito popular, consumido no desjejum ou no lanche; é um alimento essencial da alimentação amazonense.

Frutas Os povos indígenas domesticaram no mínimo 47 espécies frutíferas na Amazônia. Hoje muitos hábitos alimentares tradicionais que trazem forte identidade indígena saíram de dentro de casa e dos quintais. O sanduíche de tucumã, o x-caboclinho e a banana pacovã frita, com pão, fazem parte do cardápio de inúmeros cafés regionais. Coisas mais refinadas, como o pirarucu de casaca, antes só encontradas nas festas de aniversários, agora já podem ser encontradas em restaurantes de Manaus.

pirarucu de casaca 1. Colocar de molho o pirarucu por 3 horas para tirar o sal. 2. Cortar o pirarucu em filé de 10 cm e lavar numa água de limão, deixando-o de molho por 1 hora. 3. Enxugar o pirarucu e fritá-lo no azeite de oliva. 4. Depois de fritá-lo, desfiar em tiras pequenas. 5. Cozinhar as batatas e cortá-las em rodelas. 6. Cozinhar os ovos e cortá-los em rodelas. 7. Cortar as bananas em tiras e fritá-las. 8. Colocar a farinha de uarini de molho no leite de coco, para fazer uma farofa úmida e soltinha. 9. Fazer o molho, cortar à moda caseira o tomate, pimentão, cebola, cheiro verde, repolho, alho. Colocar as verduras cortadas numa caçarola, juntamente com legumes, uvas passas, azeitonas inteiras sem caroço, o pirarucu frito e desfiado em tiras, 250 ml de azeite de oliva, 2 colheres de sopa de suco de limão, pimenta do reino a gosto, sal a gosto, 2 colheres de sopa de massa de tomate e 200 ml de água. Depois de juntar todos os ingredientes na caçarola, levar para refogar em fogo brando.

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10. Quando o refogado estiver macio, apagar o fogo. Colocar em camadas num prato refratário: farofa, pirarucu, refogado e banana frita. Enfeitar com ovos cozidos e azeitonas e levar ao forno brando para corar. Caderno de cultura do Amazonas

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Festas No Amazonas, o sagrado e o profano se misturam nas festas. O calendário religioso sinaliza as datas e manifestações coletivas, que se estendem por todo o ano e manifestam-se por todo o estado nos folguedos e festejos dos santos padroeiros, nas festas juninas e nas quermesses domingueiras. Entre as festas populares religiosas, destacam-se a de Santo Antônio de Borba e a procissão fluvial no rio Amazonas, no dia de São Pedro. Ainda é comum, nas cidades do interior do estado, acender fogueiras durante os dias de celebração dos santos do mês de junho. Em todo o estado, as festas populares são motivos para a criação de um cenário que vai envolver a música e a dança e que são manifestações expressivas da cultura amazonense. A Ciranda, por exemplo, é uma dança trazida do Nordeste, que apresenta, em sua origem, pares de brincantes em uma plantação. O enredo da dança mostra que é necessário matar o pássaro Carão, que ameaça destruir a safra. A apoteose da Ciranda, no Amazonas, acontece na cidade de Manacapuru, durante o mês de agosto. Três grupos disputam acirradamente o troféu de campeão: Flor Matizada, Guerreiros Mura e grupo Tradicional.

Sagrado e profano A origem de muitas manifestações culturais se encontra nas festas religiosas. Por isso, durante o mês de junho, a par da celebração de Santo Antônio, São João e São Pedro, acontece a maioria das apresentações de grupos populares locais. No auto de boi-bumbá, por exemplo, observa-se a presença de um padre, encarregado de benzer o boi e fazê-lo ressuscitar. Durante o Festival de Parintins, é comum os grupos em disputa levarem para a

Dança “[...] A dança surgiu, foi criada pelos Diroá. Quer dizer, foram os Diroá que inventaram, criaram (ñakahsanëkõ) as danças e os cantos. Depois, as outras etnias os imitaram, dando às danças, aos cantos, uma forma própria. Os Diroá inventaram as danças em Yaipihkanawidohka. Kapidowenidohka é o primeiro cântico que cantaram e dançaram. Não ficam somente cantando e dançando, mas vão conversando ao mesmo tempo. Dançam, cantam, conversam, contam a história dos Diroá. Quando dançam, vão cantando os kapiwaya, contando ao mesmo tempo a história do povo.” (Tariano, 2002. p. 122)

arena da apresentação (o Bumbódromo) a imagem de Nossa Senhora do Carmo, padroeira da cidade. Festas populares Trazida por migrantes nordestinos, a festa do boi-bumbá rapidamente se espalhou por todo o Amazonas. Atualmente, tem o espetáculo maior na cidade de Parintins, onde, no final do mês de junho, dois grupos rivais, o Garantido (de cor vermelha) e o Caprichoso (de cor azul), disputam o título de campeão. Caderno de cultura do Amazonas

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Já o Festival dos Peixes é uma singular manifestação cultural que acontece em Barcelos, primeira capital do Amazonas, envolvendo dois “cardumes”: o Acará-Disco e o Cardinal. À semelhança do que acontece em Parintins e em Manacapuru, os dois grupos se apresentam buscando o título de campeão.

manifestação Cultural Outra manifestação cultural tradicional, a da Moça Nova, é realizada anualmente pelos Tucanos. No dia da lua cheia, a moça entra no cubículo construído com folhas e madeiras e fica protegida pelas tias maternas. Os tambores tocam sem parar até que surgem da mata dois índios mascarados de macaco, os inimigos. Eles saltam no meio dos convidados, gesti-

culando muito, rondando o cubículo e batendo um bastão no chão, mas a moça é defendida pelas vigias. Após três dias e três noites de festa e de danças, um velho índio informa que o perigo já passou e que os inimigos foram embora. A moça nova é então libertada pelos seus pais. Pintada de azul com saiote vermelho, cocar de penas coloridas na cabeça, começa então a dançar junto com os outros.

À semelhança das festas de Parintins e Manacapuru, no Festival de Peixes de Barcelos também há uma competição entre dois grupos rivais pelo título de campeão. 32

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Qual é o jeito amazonense de ser e de fazer? Todas as gentes do estado, dos anônimos aos mais conhecidos, vêm tecendo por meio das mais variadas formas de expressão a cultura do Amazonas, como mostramos ao longo desse caderno. E ainda há aqueles que expressam essa cultura no jeito de ser e de fazer: a música, a poesia, o teatro, a ficção. teatro A Paixão de Ajuricaba, cena primeira (trecho) coro - Se o amor não foi, ó Deus, por que me sinto assim? - E se amor foi, que natureza vã o condenou? - Se o amor é bom, por que não veio o perdão? - Se o amor é mau, eis algo muito estranho! Pois o tormento e a adversa causa que veio de muito amar e sofrer, aumentou naquele condenado como a sede aumenta no sedento. E todos nós que sentimos sede, quanto mais amor sentimos, mais vontade de beber alimentamos. E ele que se queimou no próprio desejo, por que então lamentar a sorte benfazeja do mártir acorrentado no suor da luta, brilhando como tocha, farol e roteiro? Por quê? Por quê? Perguntas! Perguntas! Ó Morte viva! Ó Infâmia! Ele que perdido está pelo esquecimento e quase encoberto pela lenda na memória, ó herói, nenhum favor necessitas pelo teu sangue real derramado, somente nós, os pobres desgraçados, hoje de um herói precisamos. Do seu gesto passado e lembrado, que um poder mais forte e injusto destruiu, nós pedimos, ó senhor Deus dos oprimidos, voltai a face deste homem para a terra, para que seja a graça de seus filhos. A dupla desdita de Ajuricaba aqui contamos, até quando a nossa voz for permitida, infeliz filho do rio Negro, rei dos Manau, e de como ele sofreu, quando, amando ternamente, quis defender dos abusos seus súditos. [...]”

Música Porto de Lenha Porto de Lenha Tu nunca serás Liverpool Com uma cara sardenta e olhos azuis Um quarto de flauta Do alto Rio Negro Pra cada sambista-paraquedista Que sonha o sucesso O sucesso sulista Em cada navio, em cada cruzeiro Em cada cruzeiro Das quadrilhas de turistas. Zeca Torres e Aldísio Filgueiras

poesia Rondel do cupuaçu cupuaçu és soberano do pomulário americano num cofre pardo guardas com ciúmes raros sabores vivos perfumes urna selvagem, ubre silvestre, moreno seio, tanta delícia tua curva crosta retém no meio Luís Bacellar

Marcio Souza Caderno de cultura do Amazonas

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Ficção Cidade Ilhada “[...] Geraldo Pocu, compadre e ajudante do velho, parou no vão da porta e nos mostrou uma paca esquartejada e os dentes de um javali. Outros animais caçados já estavam no quintal. O velho desabotoou a camisa e suspirou: Vocês não vão acreditar... Dessa vez não é história de boto... Eu vinha de Santarém, onde vendi muita coisa, parando aqui e ali, nos beiradões do rio Tapajós. Passei por Juruti Velho, naveguei pela ilha do Vale, depois subi até Parintins e seus arredores. Ainda tinha uns fardos de mercadoria para marretar: carretéis, peças de chita e morim, roupa feminina, candeeiros, galochas e alpercatas. Em Parintins a concorrência era feroz: mouro contra mouro, e uns marreteiros do Maranhão, que navegavam naquelas freguesias. Ia subir o paraná do Ramos, quando vi o Princesa Anaíra, motor bonito e poderoso, atracado na rampa do Mercado, perto do restaurante Barriga Cheia. O nome do barco me atraiu, eu conhecia o comandante. Olhei para a cabine e lá estava o Dalberto, caboclo musculoso e ex-cabo de polícia, filho do rio Tapajós. Um paraense da gema, desconfiado e de poucas palavras, mas coração de noviça: deixava o povo pobre viajar de graça. E era homem valente, doido de tanta coragem: enfrentava de mãos vazias os brutos com peixeira na cintura. Um velho amigo, o Dalberto. E isso desde 1953, quando salvou crianças e mães na grande enchente que afogou povoados inteiros. Naquele ano ele comprou muita coisa: tecidos, sapatos, toalhas de mesa, véu e grinalda, tudo para a festa do casamento dele, lá em Nhamundá. Não pude ir à festança, mas até hoje, em qualquer beira de rio, o pessoal comenta a fartura do jantar e a beleza da mocinha noiva. Anaíra, o nome dela.” (HATOUM, 2009, p. 46)

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os estatutos do Homem (ato institucional permanente) Artigo I

Fica decretado que agora vale a verdade, que agora vale a vida, e que, de mãos dadas, trabalharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II

Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III

Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV

Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único

O homem confiará no homem como um menino confia em outro menino.

Artigo V

Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo Caderno de cultura do Amazonas

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porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.

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Artigo VI

Fica estabelecida, durante os séculos da vida, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII

Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII

Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama sabendo que é a água que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX

Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X

Fica permitido a qualquer pessoa, a qualquer hora da vida, o uso do traje branco.

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Artigo XI

Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII

Decreta-se que nada será obrigado nem proibido. Tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único

Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.

Artigo XIII

Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.

Artigo Final

Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem. (Mello, 2009, p. 25-28)

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Hino do amazonas

A música é do maestro amazonense Cláudio Santoro e a letra, do poeta Jorge Tufic Alaúzo. O Hino do Amazonas resultou de um concurso público e foi instituído em 1980.

Nas paragens da história o passado é de guerras, pesar e alegria, é vitória pousando suas asas sobre o verde da paz que nos guia. Assim foi que nos tempos escuros da conquista apoiada ao canhão, nossos povos plantaram seu berço, homens livres, na planta do chão. Amazonas, de bravos que doam, sem orgulho nem falsa nobreza, aos que sonham, teu canto de lenda, aos que lutam, mais vida e riqueza. Hoje o tempo se faz claridade, só triunfa a esperança que luta, não há mais o mistério e das matas um rumor de alvorada se escuta. A palavra em ação se transforma e a bandeira que nasce do povo liberdade há de ter no seu pano,

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os grilhões destruindo de novo. Amazonas, de bravos que doam, sem orgulho nem falsa nobreza, aos que sonham, teu canto de lenda, aos que lutam, mais vida e riqueza. Tão radioso amanhece o futuro nestes rios de pranto selvagem, que os tambores da glória despertam ao clarão de uma eterna paisagem. Mas viver é destino dos fortes, nos ensina, lutando, a floresta, pela vida que vibra em seus ramos, pelas aves, suas cores, sua festa. Amazonas, de bravos que doam, sem orgulho nem falsa nobreza, aos que sonham, teu canto de lenda, aos que lutam, mais vida e riqueza.

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Bandeira do amazonas O azul e o branco estão sempre presentes nas bandeiras real, imperial e republicana do Brasil e em quase todos os escudos e bandeiras estaduais e municipais. Na bandeira amazonense, ao branco e azul soma-se o vermelho, exatamente para que fosse levada aos campos de combate em Canudos, no ano de 1897, pelo batalhão militar amazonense, que se integrou às forças dos demais estados naquela luta. No retângulo azul da bandeira do Amazonas estão 25 estrelas em prata que simbolizam o número de municípios existentes em 4 de agosto de 1897, na época do embarque das tropas para Canudos. No centro do retângulo azul há uma estrela de primeira grandeza, representando a capital do estado, Manaus. As estrelas simbolizam os municípios de Borba, Silves, Barcelos, Maués, Tefé, Parintins, Itacoatiara, Coari, Codajás, Manicoré, Barreirinha, São Paulo de Olivença, Urucará, Humaitá, Boa Vista, Moura, Fonte Boa, Lábrea, São Gabriel da Cachoeira, Canutama, Manacapuru, Urucurituba, Carauari e São Felipe do Juruá. FONTE: Portal do Governo do Estado do Amazonas

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Neste caderno, apresentamos alguns aspectos da cultura do estado do Amazonas, mas ainda há tantas e tão ricas maneiras de ser e de fazer a cultura amazonense... Paramos por aqui. Cabe a vocês, agora, mostrar e dizer como o povo amazonense, à sua maneira, constrói sua identidade cultural, enriquecendo, assim, a cultura brasileira.

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referências BENCHIMOL, Samuel. Amazônia: Formação Social e Cultural. 3. ed. Manaus: Editora Valer, 2009. BRAGA, Celdo. Água e Farinha. 3. ed. Manaus: Edição do autor, 2001. CAPOZZOLI, Ulisses. Amazônia: tesouros. São Paulo: Duetto Editorial, 2008. CHIAVENATO, Júlio. Cabanagem: o povo no poder. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984. CUNHA, Manuela Carneiro da; ALMEIDA, Mauro Barbosa (orgs). Enciclopédia da Floresta. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. DAMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Sala, 1984. FARIAS, Elson. Imagem. Rio de Janeiro: Conquista; Manaus: Academia Amazonense de Letras, 1976. FERREIRA, Lúcia Rocha. Solimões: Diário de uma viagem. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 2000. FUERTADO, Rogério (org.) Scientific American Brasil. São Paulo: Duetto Editorial, 2008 . (Coleção Amazônia. Origens) HATOUM, Milton. A cidade ilhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

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HOLANDA, Sérgio Buarque De. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. KRENAK, Ailton. In: CAMARGO, Pedro; MANSUR, Alexandre. A convivência com a grande mãe. Entrevista com Ailton Krenak. Revista Ano Zero, n. 10. Rio de Janeiro: Editora Ano Zero, fevereiro 1992. MELLO, Thiago de. Faz escuro mas eu canto. 23. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. ______. Manaus: amor e memória. Rio de Janeiro: Philobiblion, 1984. MONTEIRO, Mário Ypiranga. História da cultura amazonense. Manaus: Governo do Estado do Amazonas, 1977. ______. Aspectos da cultura amazônica. Separata da Revista do Conselho Estadual de Cultura do Amazonas, Manaus, n. 1, 1986. NEVES, Eduardo. Arqueologia da Amazônia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. PÃROKUMU, Umúsia (Firmiano Arantes Lana); KEHÍRI, Tõrãmu (Luiz Gomes Lana). Antes o mundo não existia: mitologia dos antigos Desana-Kêhíripõrã. 2. ed. São João Batista do Rio Tiquié: UNIRT, 1980; São Gabriel da Cachoeira (AM): FOIRN, 1995. RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. _____________; MOREIRA NETO, Carlos. A fundação do Brasil: testemunhos 1500-1700. Petrópolis: Editora Vozes, 1993. SOUZA, Márcio. Breve história da Amazônia. São Paulo: Marco Zero, 1994. ______. Amazônia e Modernidade. Revista Estudos Avançados. v.16 (45). São Paulo: IEA/USP, 2002. ______. A Paixão de Ajuricaba. 2. ed. Manaus: Editora Valer / Prefeitura de Manaus / Edua, 2005. TARIANO, Ismael. Mitologia Tariana. Manaus: Editora Valer / IPHAN, 2002. TORRINHO; Aldísio Filgueiras. Porto de Lenha. Rio de Janeiro: GRAVADORA, 1990. TIPO DE DISCO: CD, LP? YAMÃ, Yaguarê. O caçador de histórias: Sehay ka’at haría. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

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referências na web amazonas. Site oficial. 2009. Disponível em: http://www.amazonas.am.gov.br/pagina_interna.php?cod=14 Acesso em: 10 out. 2010. amazonas. Site oficial http://www.amazonas.am.gov.br/amazonas.php. Acesso em 30 de novembro de 2010. panorama da palavra www.panoramadapalavra.com.br/poeta_da_vez61.asp Acesso em 21 de dezembro de 2010. Hino do amazonas www.amazonas.am.gov.br/pg-amazonas.php?cod=135 Acesso em 21 de dezembro de 2010. declaração do México www.icomos.org.br/cartas/Declaração_do_Mexico_1985.pdf Acesso em 21 de dezembro de 2010. ecossistema amazônico http://www.ibama.gov.br/ecossistemas/amazonia.htm http://www.ibge.gov.br/7a12/conhecer_brasil/default.php?id_tema_menu=1&id_tema_submenu=12 Acesso em 23 de dezembro de 2010. Línguas faladas no amazonas http://www.amazonas.am.gov.br/pg-amazonas.php?cod=127 Acesso em 23 de dezembro de 2010. informações oficiais http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=215&id_pagina=1 http://www.ibge.gov.br/censo2010/primeiros_dados_divulgados/index.php?uf=00 http://www.ibge.gov.br/censo2010/primeiros_dados_divulgados/index.php?uf=13 Acesso em 23 de dezembro de 2010.

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FicHa tÉcnica concepção e Supervisão pedagógica Vilma Guimarães coordenação de conteúdo Ana Cristina Loureiro Jurema consultoria de conteúdo Marcos Frederico Kruger Aleixo coordenação pedagógica Célia Farias Tereza Farias Maria De Fátima Gabriel coordenação do projeto Flávia Moletta equipe de Material impresso Sandra Portugal (coord.) Anne Rocha Cláudia Picanço Daniele Menezes Gerlane Rodrigues José Henrique de Oliveira consultoria Jurídica Vanusa Silva apoio operacional Janice Trigo Liana Sarmento projeto Gráfico Inventum Design impressão SOL Gráfica

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aGradeciMentoS Alfredo Jatobá, Celdo Braga, Cristina Estevão, Dario Vizeu, Etelvina Garcia, Geraldo Pantaleão Pinheiro, Lúcia Rocha, Luís Balkar, Luísa Hugarte, Otoni Mesquita, Robério Braga, Roberto Evangelista, Tenório Teles, Thiago de Mello, Zeca Torres.

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crÉditoS de iMaGenS

©dorival Moreira | SambaPhoto Guaraná torrado.

©Leonide príncipe Alegoria Festival Folclórico de Parintins.

©Fotosearch Floresta tropical.

©Leonide príncipe

©Leonide príncipe

©Leonide príncipe Orquídea Galeandra Devoniana

©Leonide príncipe

©Leonide príncipe Festival Folclórico de Parintins.

©Leonide príncipe Pimenta

©Leonide príncipe Macaco Guariba ou Bugio.

©dorival Moreira | SambaPhoto Palácio Rio Negro, Manaus.

©Leonide príncipe Abiu (Lucuma caimito).

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©Silvestre Silva | SambaPhoto Fachada de casa no Amazonas.

©Leonide príncipe Folha de embaúba.

©roberto Setton | SambaPhoto Crianças brincam na beira do Rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira.

©Leonide príncipe

©Juvenal pereira | SambaPhoto Canoas.

©Leonide príncipe Arquipélago Anavilhanas

©isabela Lyrio | SambaPhoto

©Leonide príncipe Orquídea Alacallis Cyanea.

©isabela Lyrio | SambaPhoto Pulseiras de sementes de açaí.

©Leonide príncipe Flor da Vitória-Régia.

©Leonide príncipe Palmeira de buriti.

©Guanabaratejo Comunidade Komixiwë, Santa Isabel do Rio Negro.

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©Guanabaratejo Santa Isabel do Rio Negro

©dorival Moreira | SambaPhoto Artesanato indígena, Parque Ecológico do Janauari, Manaus.

©Leonide príncipe

©Leonide príncipe Detalhe da Cúpula do Teatro Amazonas, Manaus.

©Leonide príncipe Boi Caprichoso Festival Folclórico de Parintins.

©Leonide príncipe Pica-pau de topete vermelho.

©Leonide príncipe Arredores do Teatro Amazonas à noite.

©Leonide príncipe Parauacu branco (Pithecia albicans)

©Leonide príncipe

©Leonide príncipe Ecoturismo: escalada em árvore em floresta tropical.

©Leonide príncipe Guaraná

©Leonide príncipe Festival Folclórico de Parintins.

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©Leonide príncipe

©Leonide príncipe Araras Canindé (Ara Araruna).

©Guanabaratejo Santa Isabel do Rio Negro.

©Leonide príncipe | Acervo cultura AM Brincantes dos bumbás.

©Leonide príncipe | Acervo cultura AM Garimpeiro.

©Leonide príncipe

©Leonide príncipe Guaraná em barra sendo ralado na língua de pirarucu.

©Leonide príncipe Arara vermelha (Ara macao).

©Leonide príncipe Galo-da-serra (Rupicola rupicola).

©ruth Vallim Vitórias-régias.

©Leonide príncipe Frutos amazônicos.

©Leonide príncipe Onça.

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©Leonide príncipe

©Guanabaratejo Santa Isabel do Rio Negro.

©Leonide príncipe Pajé Festival Folclórico de Parintins.

©Leonide príncipe Festival Folclórico de Parintins.

©Leonide príncipe

©Leonide príncipe Festival Folclórico de Parintins.

©Leonide príncipe

©Leonide príncipe Boi Caprichoso Festival Folclórico de Parintins.

©Guanabaratejo Comunidade Aldeia Tabuleiro, Santa Isabel do Rio Negro.

©Guanabaratejo Santa Isabel do Rio Negro

©Leonide príncipe Pitanga.

©Guanabaratejo Comunidade Komixiwë, Santa Isabel do Rio Negro

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©Guanabaratejo Comunidade Komixiwë, Santa Isabel do Rio Negro.

©Guanabaratejo Comunidade Komixiwë, Santa Isabel do Rio Negro.

©Leonide príncipe Vista noturna do Teatro Amazonas e arredores, Manaus.

©Leonide príncipe

©Felipe Goifman | SambaPhoto Barcos no rio, Manaus.

©Guenter Fischer | Keystone Bandeira do estado do Amazonas sobre o Rio Negro.

©Guanabaratejo Comunidade Komixiwë, Santa Isabel do Rio Negro.

©Guanabaratejo Comunidade Komixiwë, Santa Isabel do Rio Negro

©Guanabaratejo Comunidade Komixiwë, Santa Isabel do Rio Negro.

©Guanabaratejo Comunidade Tabuleiro, Santa Isabel do Rio Negro

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©Guanabaratejo Aldeia Komixiwë, Santa Isabel do Rio Negro

©Guanabaratejo Comunidade Komixiwë, Santa Isabel do Rio Negro

©Guanabaratejo Comunidade Tabuleiro, Santa Isabel do Rio Negro

©Leonide príncipe | Acervo cultura AM Artesanato - Cestaria

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O Caderno de Cultura do Amazonas foi uma publicação idealizada e produzida pela Fundação Roberto Marinho em parceria com o Governo do Estado do Amazonas, em junho de 2011.

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