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Manuel Viegas Guerreiro, Boers de Angola - 1957 Por Maciel Santos e Luísa Martins
Manuel Viegas Guerreiro Boers de Angola - 1957
Maciel Santos* e Luísa Martins**
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Abiografia de Manuel Viegas Guerreiro já é conhecida, assim como a globalidade do seu trabalho antropológico e etnográfico em Portugal e nas antigas colónias portuguesas de Moçambique e Angola. Dessa experiência em África resultaram dois trabalhos de fundo: um sobre os Macondes (juntamente com Jorge Dias e Margot Dias) – Os Macondes de Moçambique: Sabedoria, Língua, Literatura e Jogos (vol. IV, 1966) – e outro sobre os Bochímanes – Bochímanes !Khü de Angola (1968). O etnógrafo contactou ainda com outras populações dos territórios moçambicano e angolano, nomeadamente as minorias potencialmente dissidentes. Assim surgira o relatório sobre os denominados Boers ou Afrikaners de Angola. A missão etnográfica liderada por Jorge Dias àqueles territórios foi, como se sabe, um projecto das Missões de Estudos das Minorias Étnicas do Ultramar Português. Como tal, tratava-se de observar cientificamente mas sempre de acordo com prioridades politicamente orientadas. Enquanto a Missão de Estudo das Minorias Étnicas do Ultramar Português estava em Moçambique, coube a Viegas Guerreiro a viagem até ao sul de Angola. É muito provável que lhe tenha cabido a responsabilidade dessa viagem uma vez que esse território já lhe seria familiar. Nos anos de 1949 e 1950 Guerreiro tinha lecionado no liceu Diogo Cão, na cidade então designada por Sá da Bandeira (Lubango). Além disso, esse regresso a Huíla terá igualmente tido a utilidade de permitir recolha de material para a sua futura tese sobre os Bosquímanos de Angola. O conjunto das visitas feitas no quadro da Missão de Estudos foi de curta duração. Sabe-se que para o contacto com os Bochímanes, a presença efetiva do investigador junto deste povo se resumiu a dois meses, sendo que parte do tempo foi perdido a tentar localiza-los. A visita à comunidade boer fez-se em Outubro de 1957, de acordo com as legendas
* Centro de Estudos Africanos, Universidade do Porto ** CIDEHUS - Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades, Universidade de Évora
MANUEL VIEGAS GUERREIRO: O PERCURSO E A FILOSOFIA DE UM ANTROPÓLOGO E HUMANISTA
das fotografias que Manuel Viegas Guerreiro tirou às famílias dessa comunidade. Tudo indica que estes encontros terão sido também muito breves. As próprias observações sobre o seu objeto de estudo foram, neste caso, ligeiras e, por vezes, lacunares - o que também demonstra o circunstancialismo destas observações, muito provavelmente periféricas nos interesses de Viegas Guerreiro na altura. Os Boers ou Afrikaners, uma minoria étnica instalada no sul de Angola, descendentes dos que, no início da década de 1880, tinham realizado o trek desde o Transvaal. O relatório confirma o enquadramento político do inquérito: mais do que um estudo de tipo monográfico, Viegas Guerreiro deveria avaliar o tipo de relação que mantinham com os seus vizinhos portugueses e africanos e particularmente com a administração portuguesa. Através de várias observações de carácter pessoal e político, Viegas Guerreiro manifesta-se negativamente sobre o grau de integração destes Boers em Angola, concluindo pela grande plausibilidade de mais um êxodo em direção ao Sudoeste Africano. Boers de Angola - 1957 dando seguimento à coleção Experiências de África, série Manuel Viegas Guerreiro, é uma publicação em coedição do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto e da Câmara Municipal de Loulé, que conta com a colaboração do Centro de Investigação Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora e da Fundação Manuel Viegas Guerreiro. De acordo com o padrão da coleção, a estrutura do livro inclui três partes. A primeira é um estudo de contexto: explica a génese do trabalho de Angola de Viegas Guerreiro, os seus itinerários e sintetiza o que se sabe sobre a comunidade Boer do sul de Angola até ao momento em que foi descrita pelo etnólogo. A segunda parte inclui, com notas críticas, os documentos que pela primeira vez se publicam – a transcrição do manuscrito que serviu de base ao relatório e a reprodução deste, que constituiu um capítulo do Relatório de Estudo sobre as Minorias Étnicas do Ultramar Português. Nesta segunda parte, incluem-se também 29 fotografias originais do autor sobre os Boers. A terceira parte - materiais de apoio - pretende contribuir para uma melhor compreensão desta documentação e contém: cartografia baseada nos itinerários e informações de Manuel Viegas Guerreiro e dos Boers, um glossário, um índice toponímico e uma lista bibliográfica (sobre esta missão bem como sobre os boers de Angola).
MANUEL VIEGAS GUERREIRO BOERS DE ANGOLA - 1957










CAPÍTULO III
Documentos históricos e sua salvaguarda
PEDRO FÉLIX é coordenador da Equipa Instaladora do Arquivo Nacional de Som, membro dos centros de investigação INET-md e do IHC, ambos da UNL. Colaborou com o Museu do Fado onde coordenou e desenvolveu o programa de digitalização do espólio fonográfico. Integrou a equipa responsável pela produção da candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade (UNESCO). Tem organizado vários arquivos de som privados e colaborado com entidades públicas e privadas no tratamento de espólios fonográficos. Tem realizado trabalho de gravação, digitalização, restauro e masterização de áudio. Concebeu e coordenou o projecto europeu HeritaMus.