REDACÇÃO: ANTONIO GARRIDO, PAULO SARASATE E MARIO DE ANDRADE
artigo de fundo ! ORA, escrever Vocês estão louquinhos !
Artigo de fundo lá o quê... Eu vou é contar uma história que aconteceu. O Mário de Andrade foi dormir em Soure. E sahiu no trem da R.V.C. E porque é inverno e tudo está verde, elle foi com a cabeça de fóra da janella do vagão. A chaminé da locomotiva fazia de chuveiro de São João: faiscas, faiscas, faiscas, no escuro da noite. Veiu bater um carvão no olho arregalado do Mario. E elle chegou em Soure de olho inchado. E queria que todo mundo lhe tirasse o argueiro. Eu varri com um capulho de algodão o olho do Mario – e nada... Elle cerrava as palpebras e dizia, cearensemente: – Tirou não... Foi quando a Tetê se propoz a tirar o argueiro. E pegou da palpebra do Mario, mandou que elle se assoasse tres vezes e rezou alto: << Co r r e , c o r r e , c a va l l e i r o Pe l a p o r t a d e S ã o Pe d r o Va e d i z e r a S a n t a L u z i a Que me tire esse argueiro Co m a p o n t i n h a d e s e u d ê d o . >>
O Mario ficou radiante. O argueiro sahiu. Ficou na ponta do dedinho de Santa Luzia. Ah ! Tetê ! Se Santa Luzia me tirasse uma brasa que está queimando meu coração... A. G
Passem muito bem!
FOLH A MODE R NI S TA DO
CEARÁ
ESTE E’O PRIMEIRO NUMERO E CIRCULOU NO DIA 7 DE ABRIL DE 1929
F O RTA L E Z A
Parece que estou vendo aquella gentinha, de pelle eriçada, grilando contra ella. Berrando. Zurrando. Cuspindo desaforos sobre <<Maracajá >>. Mas o diabo é que a revista não foi feita pra elles. Danemse. Mordam-se. Sapateiem. E estarão pregando no deserto... Uma coisa nós pretendemos. E havemos de conseguir: desprezar impiedosamente os remoques de vocês. Todo mundo deve saber a quem me refiro. Porque eu não poderia arremetter contra os pequenos. Contra os humildes que não entendem o modernismo. Eu me refiro é áquella outra casta. A’ casta sensaborona dos literatos. Ah! os literatos... Como elles não vão enticar com a gente ! Que tremenda não vae ser a sua guerra ! Estou a adivinhar-lhes a birra, o enfezamento e a malcreação. P au l o S
Os que se dizem passadistas, por exemplo, – e elles enchem a bocca com esse nome! –, vão pintar os canecos contra nós. Somos uns malucos. Uns doidos. E apontarão logo pra cima da gente com o dr. Odorico de Moraes. O director do Hospicio. Mas que se ha-de fazer? Todo movimento libertario tem surgido assim. Entre pedradas. Entre assobios. Coberto de apodos. Tal foi com o naturalismo e o parnasianismo, nas letras. Tal foi com as doutrinas de Ferri na criminologia. Aliás, isso é uma lei muito antiga de sociologia.A história apenas se repete, como diria o sr. João Ribeiro. Porque já no tempo de Galileu era assim. E com um aggravante: em vez de assobio, fogo. * * * Fiquem, pois, certos os passadistas cá da terra: nós, os de <<Maracajá >>, não os enxergaremos. E passem muito bem. Bôa noite! arasate
Supplemento literario do O POVO.
Sae aos domingos