Camboriú & Balneário - A História das Duas Cidades - Isaque de Borba Corrêa

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uma situação de dubiedade que não foi previamente calculada. Transferindose a Sede de Camboriú para a Vila do Garcia, implicaria uma coisa fundamental sobre a qual os políticos não pensaram: a obrigatoriedade da mudança dos nomes das localidades permutadas. Por mais incrível que pareça, nenhum dos lados pensou nisso antes e, agora, não estavam mais dispostos a perder os nomes originais da Sede anterior e posterior. A população do Garcia, composta em sua maioria por pessoas com esse sobrenome, com razão, não aceitaram suprimi-lo do nome do arraial que fundaram. Nem os Garcia queriam suprimir esse nome para se chamar de Camboriú, nem muito menos as pessoas da Barra, estavam dispostas abrir mão do um topônimo charmoso como Camboriú, para se chamar por um mísero acidente geográfico: “barra de rio”. À medida que o tempo ia passando, o Garcia ia crescendo e a ideia da mudança recrudescia. Quem ditava as regras desse, processo nesse período, era uma elite política que comandava a atividade agrícola. O interior de Camboriú apresentava um futuro promissor como poucos municípios poderiam oferecer. Detinha um vale fértil, com um rio espetacular, com um porto muito bem avaliado para escoar seus produtos. Contra essa força não havia resistência que segurasse. Do outro lado, quanto mais se falava em mudar a Sede do município, mais o povo da Freguesia (Barra) se indignava com a possibilidade iminente de perder o status de Sede para um arraial. A tradição reza que o município que fica na sua foz, leva o nome do rio. Camboriú tornou-se numa exceção nesse sentido. A transferência da Sede foi trágica para Barra. Morreu gente por causa disso e muitos saíram machucados. Houve muita briga, discórdia e desentendimentos entre parentes e partidários de ambas as correntes que passaram a se odiar. O episódio da morte de Manoel Anastácio, coincidência ou não, foi nessa época. Sua morte foi creditada, por quase toda a população, às imprecações do Padre João Rodrigues de Almeida, por causa da mudança da Sede. O Cabo Henrique Bernardes, que conhecemos em avançada idade, contou-nos em gravação: “Se arrependimento matasse eles tinham morrido tudo!” – Referindo-se ao medo que o povo sentiu após a morte de Manoel Anastácio:

Só não devorveram a Barra com vergonha. Ficaram tudo com medo desse Padre João”.

Mas agora o ato político já estava feito. O senhor Leopoldino Souza, por ocasião das comemorações do Centenário de Camboriú, chegou a escrever várias folhas de caderno acerca da História do município. Sobre a mudança da Sede, assim se expressou:

O Padre João veio pra Camboriú pra buscar os livros - mas Manoel Anastácio não quis devolver. Então ele desceu de seu cavalo encheu o homem de 188


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