O Mensalão maculou a república

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na uma mudança do processo histórico mundial, caracterizado por uma subjetividade das massas que se pode condicionar e dirigir num sentido ou noutro, mas não se pode suprimir”.1 O conceito de revolução passiva em Gramsci seria assim a abertura para uma nova concepção de política que deveria ser colocada em prática de forma produtiva e com capacidade de intervenção naquele novo cenário por meio da inquirição e da exploração analítica e prática das suas contradições. A revolução passiva não seria assumida por Gramsci como um programa político, mas se configuraria como a referência analítica e o instrumento de conhecimento mais importante de toda a sua obra. Por meio dela se poderia compreender não apenas o movimento da transição para a ordem burguesa, mas também sua universalização, ultrapassando a interpretação de que esses processos históricos teriam como paradigma o caso clássico da revolução francesa. Por outro lado, após o impacto da revolução bolchevique, tudo indicava que o avanço do socialismo em perspectiva mundial, ao contrário de toda perspectiva voluntarista, se apresentaria obedecendo a uma “fortuna assemelhada às revoluções passivas da burguesia no século XIX, no contexto histórico contemporâneo em que a guerra de movimento cedia lugar à de posição” (VIANNA, 1997, p. 49). O deslocamento era claro: a “guerra de posição” seria “o complemento da ‘revolução passiva’” (VACCA, 2012, p. 129) e, nesse sentido, estaria descartada da perspectiva gramsciana a reversão de “uma revolução passiva em ‘ativa’”. O problema para o movimento comunista tornava-se, portanto, mais complicado: era preciso “mudar a chave da direção do transformismo” em curso. E, “nessa mudança de chave, a possibilidade de uma tradução do marxismo como uma teoria da transformação sem revolução ‘explosiva’ de tipo francês” (VIANNA, 1997, p. 78-79). Revolução passiva, guerra de posição e hegemonia passam então a compor o eixo central da reflexão gramsciana nos Cadernos e isso significaria, em termos teóricos, a ultrapassagem definitiva da estratégia de “guerra de movimento”. As implicações em relação à Revolução Bolchevique tornavam-se evidentes. Para Gramsci, a Revolução Bolchevique havia sido o último caso de êxito da transformação de uma “revolução democrática” em “revolução proletária” por meio da “guerra de movimento”. Em função dos acontecimentos que indicavam uma “mudança de época”, os próprios conceitos que norteavam o movimento comunista internacional deveriam ser revistos. E o pró1 Esse pequeno artigo é profundamente devedor de G. Vacca, Vita e pensieri di Antonio Gramsci, Roma: Einaudi, 2012, em organização pela Contraponto/FAP, com tradução de Luiz Sérgio Henriques.

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Alberto Aggio


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