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Memória
apresentou o Festival RTP da Canção com Carlos Cruz. Em 1973, foi a vez de um programa de entrevistas chamado "No tempo em que você nasceu", ao lado de Artur Agostinho. Outros programas a que o nome de Alice ficou ligado foram, por exemplo, "Sete Folhas", apresentação da programação semanal ao fim da tarde dos sábados, "Directíssimo", "Pontos de Vista", "Jogos sem Fronteiras", concursos vários. Em 1990 foi directora da revista feminina "Guia".
Olhava as câmaras e pensava na avó Houve um tempo em que Alice Cruz odiava fazer trabalho de continuidade. Chegou mesmo a dizer ao presidente da RTP que a locução de continuidade era a morte do artista. E quando Carlos Cruz foi nomeado director de programas esse trabalho passou a ser fascinante. Tinham finalmente um projecto, uma equipa, técnicos e a continuidade tornara-se um desafio permanente. Alice Cruz fez de tudo na RTP e gostava especialmente de fazer locução de filmes. "Nunca fiz questão de aparecer na televisão. Não acho que seja fundamental. Mas faço o que me mandam.", confessou a Alice Vieira (Diário de Notícias, Abril de 1984) E disse ainda: "quando olho para as câmaras penso na minha avó que era uma pessoa de quem eu gostava muito e que estaria a olhar para mim porque se encontrava imobilizada e via a emissão do princípio ao fim."
Intuitiva e apaixonada "Não sei fazer as coisas pela metade. Apaixono-me por tudo o que faço e acho que não tenho grande imagem televisiva. Tenho um certo poder de comunicação e sou intuitiva." Assim era de facto sem contar com o sorriso e o charme que Alice espalhava em seu redor. Uma amiga, Maria Antónia Palla, com quem Alice Cruz trabalhou na produção do programa "Pontos de Vista", numa bela crónica publicada na revista Máxima, traçou-lhe o melhor retrato que uma amiga pode fazer. A certa altura, Maria Antónia escreve: "E, milagre do saber, tudo saía como espontâneo, com aquela simplicidade que imprimia a tudo, soberbamente modesta, inimitável." "Era calorosa e respeitadora da intimi48
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Capa do número 3 da revista Tele-Semana em 1973
dade dos outros e, como ela dizia, entrava em casa das pessoas mas não se sentava ao colo delas." Enfim, Alice Cruz morreu num dia de Verão. Tinha 54 anos e deixou um marido, Rui Romano, um filho, José Luís, arquitecto de interiores, um neto, que não chegou a receber da avó a guloseima prometida. Nas várias entrevistas que deu para revistas e jornais, disse a propósito da morte: "Não me aflige nada, estou perfeitamente preparada para morrer em qualquer altura. Só gostava de deixar as gavetas arrumadas." Como escreveu o jornalista Afonso Praça na revista "Visão", Alice deixou as gavetas desarrumadas e uma saudade enorme nos amigos. n Maria João Duarte