Expressão 2019/4

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Coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara foi um dos principais envolvidos na elaboração do Plano Nacional de Educação (PNE), instituído pela Lei n. 13.005/2014, e que determina metas na área até 2024. Um dos especialistas que sempre se posicionou contrário à modalidade de Ensino a Distância, Cara explica à Expressão por que considera inadequado o sistema não presencial de educação.

Cesar Nakashima/Divulgação

“EAD É SUBPRODUTO DE UMA PRECARIZAÇÃO”

Para Daniel Cara, o sistema EaD deve apenas ser adotado em casos especiais

Expressão: Já observamos universidades que há pouco tempo mostravam resistência a esse mode­ lo e que hoje estão aderindo de forma convicta como opção. Daniel Cara: É que educação a distância gera resultados econômicos: massifica o processo, reduz custos e gera interesse econômico baseado no próprio sistema, em termos de hardware e software. É uma modalidade que gera interesse empresarial muito grande. O problema é que todas essas preocupações são alheias à qualidade da Educação.

Expressão: Hoje a modalidade consolidada de ensino, a Educação a Distância, é um sistema controverso. Na opinião do senhor, quais os prós e contras desse sistema? Daniel Cara: A Educação a Distância obrigatoria­ mente deve ser uma exceção. É uma legalidade da Educação, mas que não substitui educação presencial, que é sempre mais vantajosa, porque parte significativa do processo cognitivo se dá Expressão: Há cursos EaD que têm avaliação na relação entre professor e aluno. A Educação muito boa, até maior que a Distância é importan­ presenciais. Como isso é te quando não há possível? con­ dição de garantir Daniel Cara: Primeiro de nenhuma educação A educação a distância tudo, numa avaliação EaD, pre­sen­cial, como em nunca a avaliação é muito suáreas remotas ou em deve ser obrigatoriamente perior à de modelos presencondições muito difíuma exceção ciais. Normalmente, quando ceis. Nesse sentido é isso acontece, é que o curso que ela se dá como alpresencial era tão ruim que ternativa. Estratégias de não faria nenhuma diferença EaD também podem a presença ou EaD. A questão concreta é que para ser utilizadas quando você tem alunos com cursos a qualidade da educação é necessária a relação entre muito específicos com autonomia de pensamenprofessor e aluno. EaD pode ter resultados positivos, to, como pós-graduação, especialização, quando só quando é complemento educacional. se tem a base na área em que se atua. Esses são os dois casos: nas absolutas exceções ou como comExpressão: Ainda assim, o senhor reconhece que plemento. EaD acaba sendo uma opção em alguns casos... Daniel Cara: A Educação a Distância é um subproduExpressão: O senhor não acredita que a mo­ to de uma precarização. Por exemplo, uma região que dalidade poderia ser aplicada em algum curso eu conheço bem, a Amazônia profunda: é uma região específico de graduação? inóspita onde não se tem acesso; é difícil construir Daniel Cara: Considerando a realidade da gradua­ escola; a mobilidade da obra é muito difícil, etc. Aí, ção brasileira, creio que não existe essa possibilicurso de formação de professores se dá por Educação dade. Diria até mais: graduação no mundo todo a Distância, mas, infelizmente, os resultados não são não deveria ser por Educação a Distância. Embons. É a educação possível, não aquela que a gente bora seja Educação Superior, muitas vezes alunos tem de se pautar pela qualidade, mas é em situações chegam na universidade sem a autonomia cognimuito excepcionais que cabe (EaD). tiva que se esperava.

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