Breno Cortella Especial 12 anos

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INFORMATIVO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS | 2005-2016 FEVEREIRO | 2016

MARIO SERGIO CORTELLA E BRENO FALAM SOBRE ÉTICA, POLÍTICA, EDUCAÇÃO E ESPERANÇA

O vereador e seu tio filósofo gravaram um “Papo de Família” que resultou numa série de vídeos que está no nosso canal no YouTube, abaixo você confere um resumo dessa conversa

B

reno: Tenho a impressão de que uma parte da minha geração não tem grande apreço pela democracia. Isso me preocupa bastante. MARIO SERGIO: O que alguns não têm, Breno, é um afeto pela democracia, afinal de contas ela parece um encargo e não um patrimônio. Isto é, democracia dá trabalho. E tê-la, no nosso país, que tem 515 anos, mas não tem 30 anos ainda de democracia, hoje parece uma coisa muito óbvia. Mas para que acontecesse, muita gente teve que fazer um esforço imenso. Essa falta de afeto pela democracia, não é que a juventude não queira participar é que acha que foi e sempre será assim. Infelizmente as duas coisas não são verdade. Uma democracia tem que ser cuidada no dia a dia, porque ela pode deixar de ser e ter que ser reconstruída de novo. Por isso, a gente precisa ter uma postura compreensiva e dizer ao jovem que a democracia não é um encargo, é um patrimônio histórico que a gente não pode abrir mão. Breno: Uma das coisas que eu percebo é uma relação distante entre representantes e representados. Muitas pessoas não se sentem parte do processo político e se afastam. MARIO SERGIO: O que é lamentável. Há uma frase clássica, você conhece, né, Breno, que diz: “Os ausentes nunca têm razão”. A representatividade é a capacidade de poder gerir por nós aquilo que é nosso. A coisa pública não é aquilo que não é de ninguém, é aquilo que é de todo mundo, e os representantes meus estão lá para tomar conta daquilo que é meu, mas não é só meu porque a vida é em “con-domínio”, nós vivemos juntos. Por isso não dá para supor que a democracia se fortaleça com a ausência de pessoas ou o desânimo. É preciso insistir.

Breno: Muito se fala sobre escândalos de corrupção e você tem um olhar otimista sobre os malfeitos que são descobertos. MARIO SERGIO: Como um juiz da Suprema Corte Norte Americana dizia: “o sol é o melhor detergente”. Se você quiser limpar alguma coisa, coloque no sol e, portanto, ilumine. Nós temos, hoje, no Brasil, uma situação que me dá uma alegria cívica. Nunca na nossa história nós tivemos a condição de olhar a cena de algo que era ou que já existia, ou que existiu e a gente não quer que exista. Esses subterrâneos podres que contaminam a nossa vida e vão produzindo uma hemorragia da nossa capacidade coletiva de vida. Esse tipo de gangrena precisa ser colocado às claras, para poder ser limpa, para poder a fazer a assepsia e, se necessário, lancetar e fazer ali uma sutura. Claro que tudo isso produz um desconforto. Seria muito bom fingir que não existe, como muitos fizeram durante muito tempo, ou dizer: “bom, o que eu posso fazer? A vida é assim...” Bom, o que eu posso fazer é não admitir que isso aconteça e não descomprometer o conjunto da vida por conta de tudo isso. Breno: Uma narrativa da ética na política ganha força, mas será que isso está somente no campo público e sobre políticos? MARIO SERGIO: Não. No dia a dia, por exemplo, você tem pequenos delitos cotidianos. A pessoa que esquece, por exemplo, que ética não é cosmética. Não é uma coisa que a gente usa de fachada,. É aquele que acha um horror quando alguém pratica um desvio, mas ele mesmo, se puder, compra produto pirata, ou tem carteira de estudante falsa. Os agentes públicos são mais visados porque estão sob uma série de normas. É mais fácil capturar o desvio de um agente público. Mas

precisamos de cautela para não achar e dizer “tá vendo, política é assim, mas o cidadão também é”. Qual a conclusão perigosa? Então vale tudo. E que é assim mesmo. Não, é ao contrário! Se uma parte dos políticos assim o é e uma parte dos cidadãos assim o é, necessário então que a gente não seja, nem no público, nem no privado. Breno: Você tem falado sobre o papel da família na Educação, especialmente sobre aquilo que as pessoas confundem como responsabilidade da escola. MARIO SERGIO: Algumas pessoas acharam que bastaria colocar os filhos na escola que faríamos a educação deles. Nós não fazemos a educação. Fazemos uma parte da educação, que a gente chama de escolarização. A tarefa da educação é da família de maneira direta e de forma subsidiária do poder público. A escola faz a escolarização. Não dá para terceirizar a educação dos filhos. Ter filhos dá trabalho e não é só o trabalho de parto. É uma questão de responsabilidade. E ele supor que a família entregue para a escola seus filhos e que num

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tempo de 5 horas, em uma sala de 30 crianças ou jovens, além de ensinar matemática, português, história, educação para o trânsito, educação contra a droga, educação sexual, educação religiosa, educação física, educação artística, fornecer merenda, ajudar fazer trabalho escolar, além de tudo, ainda se faz a formação que a família precisa fazer? Lamento! É necessário que a família assuma sua responsabilidade. Isso não significa que a escola não apoie a família, mas a escola não tem a responsabilidade que a família tem. Breno: O importante é todo mundo fazer algo e não ficar esperando que o outro faça, não é mesmo, tio? MARIO SERGIO: Nisso vale a ideia de esperança ativa que Paulo Freire falava. É aquela que vai buscar e não aquela que espera, que fica sentado imaginando que as coisas vão acontecer dizendo “o que eu posso fazer?”, “aqui é assim”, “não tem saída”. Aí é que não terá mesmo! Martin Luther King lembrava isso: “O que me preocupa não é o ruído dos maus, mas o silêncio dos bons”.


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