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FREEBIKE: Com que idade e como aprendeste a andar de bicicleta? David Rosa: Tinha 3 anos e foi em frente à loja da minha mãe. Acho que ainda tenho a bicicleta, é azul e tem punhos brancos… uma máquina :). FB: Nessa altura já dizias que irias fazer corridas de bicicletas? Já brincavas às corridas com os amigos? DR: Sempre andámos às corridas uns com os outros, eu e os meus amigos durante o Verão passávamos o dia a andar de bike. Tenho um episódio (tinha uns 6/7 anos) em que saí de ao pé da loja da minha mãe e fui a casa dos meus avós sem dizer nada a ninguém (cerca de 5km mas a atravessar Fátima), quando voltei a minha mãe estava num stress brutal a chorar a pensar que tinha sido raptado. FB: Quando viste a primeira bicicleta de btt o que sentiste? DR: A Primeira bike de competição que vi era do meu primo, tinha uma pintura personalizada com umas chamas… até hoje é das bikes mais bonitas que vi. Lembro-me de reparar também nos pedais de encaixe e pensar que aquilo não dava jeito nenhum… (risos). FB: Qual o momento que marca o teu início no mundo do xco? DR: A Primeira coisa parecida que fiz com XCO (não federado) foi no Canadá no Verão de 2000. Estava a visitar primos lá e fui a um clube de BTT. Aluguei uma bike pesadona e entretanto fizeram lá uma competição com os miúdos de lá (éramos uns 15) mas partíamos em grupos separados. Fiz o melhor tempo. FB: Quando começaste já sabias ao nível a que querias chegar? DR: Não. Eu era (e sou) ambicioso, mas não tinha noção de nada. Fui e vou levando as coisas passo a passo, com metas a atingir em determinadas alturas. FB: Até chegares à universidade foi fácil conciliar treinos e estudos? DR: Longe disso. Quando tinha aulas às 9.30 acordava às 6.15 da manhã para sair às 7 e treinava antes das aulas. Após isso voltava a treinar durante a noite. O Inverno de 2003/2004 foi especialmente duro, pois treinava muito e tinha de conciliar isso com os estudos (como não tinha estatuto de alta competição precisava de média). Às vezes adormecia nas aulas. Além disso patrocinadores não abundavam (pelo contrário) e muitas vezes para arranjar um pneu ou gel energético para correr era uma complicação. As pessoas pensam que sempre fui patrocinado com isto ou aquilo, mas mesmo após ter feito

uma época muito boa em 2004 (Júnior) só comecei a ser patrocinado com algum material em 2008. Ainda hoje se quero o melhor muitas vezes o pago do bolso. FB: Quando chegaste à universidade, como é que te dividiste para conseguir fazer o curso e continuar a treinar? DR: Isso foi uma verdadeira complicação. Tive de fazer como os outros, mas sem o estatuto de alta competição (EAC). Ou seja, fazia como os alunos “normais” mas sem épocas especiais para exames (entre outros benefícios) que os alunos com EAC têm. Nos dois primeiros anos foi muito Complicado mesmo, competia só mesmo pelo gosto que tinha pela modalidade e para não perder ritmo, que aliado a lesões (mais em 2006) me deixa com a sensação de dois “anos negros”. FB: Como é o teu dia-a-dia? Só treinas ou divides o tempo com trabalho e teinos? DR: Até Fevereiro dividia entre treino e leccionar Educação Física ao Ensino Básico. A partir daí, como ia estar muitos dias longe e era uma actividade a recibo verde não me compensava (quase pagava para trabalhar), pelo que suspendi actividade. Agora treino e recupero, esta última especialmente importante pois com tantas viagens que tive de fazer (muitas sozinho e com todo o stress inerente a isso) foi uma parte essencial. Para isso acabei por recorrer à quiropatia do Doug St. Martin que ajudou muito. FB: Actualmente bates-te com alguns dos profissionais de nível mundial, presenças assíduas do top10, sendo eles profissionais exclusivamente dedicados às bicicletas, achas

que se fosses profissional irias aumentar a tua prestação? DR: Sim, nomeadamente em Silves quando houve um duelo interessante com o Stephane Tempier (que dispensa apresentações para os entendidos). Eu acho que iria aumentar a minha competitividade sim, mas nem sempre 1+1 é igual a 2 nestas coisas, por isso temos de esperar para ver. FB: Quando é que decidiste que um dia irias representar Portugal nos Jogos Olímpicos? DR: Eu não decidi que iria representar, apenas que o queria. Isso é o sonho de qualquer atleta, mas em 2009 vi que com muito trabalho havia hipótese. FB:Tiveste de alterar a tua vida para o conseguires? DR: Muito, posso dizer que não tenho uma vida normal. Privo-me de muitas coisas, coisas simples mas que só notamos que são importantes quando não as temos. FB: Quem te ajudou mais nesta caminhada? DR: Muitas pessoas. Toda a minha família (Mãe e Pai principalmente), patrocinadores, o meu treinador (Gabriel Mendes), seleccionador (Pedro Vigário) e namorada que me ajudou muito (tratar de viagens, stress de aeroportos, entre outras coisas). Por exemplo, quando vim da Taça do Mundo na África do Sul foi a pior viagem de sempre. Com um erro no voo de ligação fiquei mais 24h no aeroporto de Joanesburgo (numa viagem já de si muito longa com 2 escalas). Quando finalmente cheguei a Portugal, sem bateria no telemóvel, a minha bike não tinha vindo. Estava com uma pilha de nervos como nunca tinha tido. Estava há mais de uma hora lá, prestes a perder a FREEBIKE

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