Rir é o melho rremédio

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Rir

é mesmo o

melhor remédio

Interação entre acadêmicos da área da saúde e pacientes do Hospital Universitário ajuda na humanização profissional


I

magine um hospital. A primeira imagem que vem à cabeça é a de um local silencioso, sisudo, rodeado por profissionais da saúde e pacientes. Mas agora, pense nesse mesmo espaço mais colorido e interativo. O que parece hipotético, torna-se realidade a partir do trabalho voluntário de acadêmicos de Medicina, Enfermagem e Fisioterapia, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), campus de Campo Grande. O grupo, que atende pelo nome de “Rir é o Melhor Remédio”, realiza aos finais de semana visitas ao Hospital Universitário (HU). Caracterizados de palhaços de hospital com nariz vermelho, maquiagem, mas sem tirar o jaleco - os integrantes interagem com cada paciente, brincam, arrancam gargalhadas e criam situações mais leves no ambiente hospitalar. Criado em 2010, “Rir é o Melhor Remédio” é um projeto de extensão da Faculdade de Medicina (FAMED), e tem como objetivo a humanização dos profissionais da saúde. Em 2014 o projeto contou com a participação

Ao entrar no hospital os palhaços dão vida aos corredores

Grupo preparado se organiza para entrar no hospital


O preparo da caracterização é um momento de integração entre os próprios acadêmicos

de 44 alunos, sendo quatro coordenadores acadêmicos, Ana Caroline dos Santos, Isis Ortiz, João Monfardini e Pedro Jannuzzi, e 40 estudantes que atuavam como palhaços de hospital. No primeiro semestre de cada ano ocorre a preparação dos voluntários a partir de capacitações que são oferecidas pelos coordenadores do projeto e profissionais que trabalham com a parte artística, que envolve a construção do palhaço, como por exemplo, professores de teatro e palhaços profissionais. Há também a prática de biossegurança, para evitar a transmissão de doenças entre os pacientes durante as visitas, o que inclui o aprendizado de higienização das mãos na entrada e saída dos quartos. No segundo semestre a carga horária do projeto aumenta devido às visitas ao hospital. As reuniões se estendem ao longo do ano com encontros semanais, onde são efetuadas dinâmicas e trocas de experiências entre os participantes do projeto. Por motivos de biossegurança e espaço nas clínicas, os participantes se dividem em grupos para as visitações. Antes de entrarem ao hospital,

Gabriela Rossini (esquerda) e Nádia Milani se transformam em Dra. Bibi Rossinanti e Dra. Pingoleti


De porta em porta os palhaços de hospital despertam interesse nos pacientes e acompanhantes

se reúnem na região da FAMED e reservam 30 minutos para a caracterização, momento em que cada um constrói o seu próprio palhaço, a fim de não associar a parte da tristeza ao seu personagem. “O palhaço tem aquele negócio do olhar, de descobrir, tem aquele jeito de andar, tem a posição que ele entra no personagem dele. Você se libera muito quando você é palhaço, você é totalmente você”, diz um dos coordenadores do projeto, Pedro Jannuzzi. A entrada ao hospital é feita em cortejo, que passa pelos corredores da Clínica, Ortopedia e Pediatria, onde os palhaços atuam. Violões são usados para cantar uma versão sutilmente modificada da música “Oração” da A Banda Mais Bonita da Cidade. Após a passagem pelas portas dos quartos, se dividem em subgrupos que variam entre três e quatro integrantes e entram nos quartos. A interação deve ocorrer não apenas com o paciente, mas também com seu acompanhante. Há casos em que eles oferecem resistência às brincadeiras propostas, por exemplo, por

questão de desconforto ou dores. “Por mais que haja resistência do paciente, a política nossa é nunca ignorá-lo ”, afirma Pedro Jannuzzi. Existem situações em que os pacientes não desejam participar das brincadeiras, mas conversar e contar como é a vida deles. Nesses casos, o palhaço torna-se mais ouvinte. “Você tenta fazer com que naqueles minutinhos singelos a pessoa fique feliz. Que ela fale de qualquer outro assunto que não seja a dor dela ou o quanto ela está sofrendo”, explica o estudante de Medicina e palhaço de hospital, Tulio Dias. Porém, há quartos em que a interação flui facilmente, devido a receptividade do paciente. “Nós precisamos não só dos remédios, precisamos de alegria também. No começo estava bem deprimida, mas hoje não. Com a ajuda dos palhaços a gente fica bem mais feliz”, relata Elizangela Brandão, 38 anos, hospitalizada no HU. O projeto que visa a melhora e o bem estar dos pacientes, procura também capacitar profissionais da saúde, para que possuam diferencial em seu atendimento, tornando-


É necessária a permissão dos pacientes para que os palhaços de hospital possam entrar nos quartos


Juan apresenta Ă Dra. Bibi Rossinanti os brinquedos que levou ao hospital


Ao entrar no quarto, Dr. Drops se viu diante de um desafio: alegrar João Vitor, que de início não queria interagir. Foram necessárias algumas tentativas para que ele se soltasse e mostrasse seus brinquedos

os mais humanizados e menos mecânicos. O projeto “Rir é o Melhor Remédio” busca formas de “quebrar” a impessoalidade na assistência ao hospitalizado. “O Rir proporciona isso, estar perto de uma pessoa, sem qualquer cobrança técnica da patologia. Como uma forma de você entender a pessoa para depois entender a doença”, afirma Tulio Dias. Aprendizados sobre como dar atenção e observar o hospitalizado são vivenciadas nas visitas, o que auxilia na meta do projeto, que é fazer com que os participantes reflitam sobre suas experiências e sua formação profissional. Segundo a também coordenadora do projeto, Ana Caroline dos Santos, é possível perceber exemplos de bons e maus profissionais dentro do ambiente hospitalar. A humanização se beneficia por uma boa relação entre médicos e pacientes, o que promove uma melhora na condução do tratamento,

suscitando reações satisfatórias. Os pacientes ficam mais comunicativos depois das visitas dos palhaços de hospital. “A maioria dos pacientes da nossa enfermaria são crônicos. Eles ficam internados bastante tempo. Percebese depois das visitas que alguns pacientes interagem com um pouco mais de facilidade. Os mais jovens reagem melhor a esse tipo de abordagem. Os idosos quando deprimem demoram um pouco mais pra reagir”, explica o médico residente da Clínica no HU, Solino Neto.

Texto e fotos por: Nayla Brisoti Barbeta (naylabbarbeta@gmail.com)


“Você tenta fazer com q minutinhos singelos a pesso Que ela fale de qualquer o que não seja a dor dela ou está sofrendo”, Tulio


que naqueles oa fique feliz. outro assunto o quanto ela o Dias


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