À Primeira Vista | Folha de Sala

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À PRIMEIRA VISTA

(Prima Facie)

24 JUL - 10 AGO

QUINTAS A SÁBADOS ÀS 21H M/14

texto Suzie Miller | encenação Tiago Guedes | com Margarida Vila-Nova

tradução Ana Sampaio | cenário Catarina Amaro | desenho de luz Nuno Meira | sonoplastia Carincur assistente de encenação Luís Araújo | figurinos Rita Alves | agradecimentos João Tavares

produção Força de Produção

SINOPSE

Simultaneamente um poderoso monólogo e um thriller jurídico de cortar a respiração, À PRIMEIRA VISTA (PRIMA FACIE) é uma das mais reconhecidas peças dos últimos anos. Uma examinação incisiva sobre poder, consentimento e lei que arrecadou vários prémios e nomeações, destacando-se os Tony, Lawrence Olivier, What’s on Stage, Drama Desk, Evening Standard e Australian Writers’ Guild.

Teresa é uma brilhante jovem advogada. Proveniente de uma família humilde de classe trabalhadora, trilhou a sua ascensão por exclusividade do seu próprio mérito e trabalho, estabelecendo-se como uma dotada advogada de defesa. Defende, contrainterroga e ganha caso após caso consecutivamente. Um evento inesperado obriga-a a confrontar as linhas onde o poder patriarcal da lei, o ónus da prova e a moral divergem, num cruzamento onde a emoção e a experiência colidem com as regras do jogo.

Prima Facie estreou em 2019 no Griffin Theatre, em Sydney; fez uma digressão pela Austrália em 2021; foi apresentado no West End de Londres em 2022 e chegou à Broadway em 2023. Em 2020 ganhou o prémio Australian Writers’ Guild Award for Drama, o David Williamson Award for Outstanding Theatre Writing e o prestigiado Major Australian Writers’ Guild Award em todas as categorias de teatro, cinema e televisão. Em 2022 foi nomeado para cinco prémios Lawrence Olivier, tendo arrecado o de melhor peça e melhor actriz; para 4 Tonys em 2023, onde Jodie Comer ganhou, mais uma vez, o galardão de melhor actriz. No mesmo ano o espectáculo foi nomeado para mais de 20 prémios, tendo sido reconhecido com o de melhor peça e melhor actriz nos What’s on Stage e o de melhor actriz dos Drama Desk e Evening Standard ©

NOTA DA AUTORA

(Redigido aquando da estreia no West End, em Londres, em Abril de 2022.)

Prima Facie - Expressão jurídica latina que significa: À primeira vista.

A ideia subjacente a Prima Facie tem estado na minha cabeça desde os meus tempos na faculdade de Direito, anos antes de me ter tornado dramaturga. Estava lá à espera que eu arranjasse coragem para escrever, e do ambiente social certo para haver espaço para ela. À luz do movimento #MeToo, a peça Prima Facie pôde finalmente ser concretizada. Anos de prática como advogada de direitos humanos e defesa criminal reforçaram o meu questionamento feminista e as minhas interrogações acerca do sistema jurídico, porque embora acredite firmemente que “inocente até prova em contrário” é a base dos direitos humanos, sempre senti que a sua aplicação em casos de agressão sexual servia mais para minar do que para defender qualquer ideia de justiça real.

Faço notar que a peça vem com um aviso para quem estiver a ler ou a assistir a uma representação: incluir pormenores da agressão sexual no centro da história permite-nos ver de que maneira a lei reformula a experiência de uma mulher num crime horrível contra a pessoa humana.

O sistema jurídico é moldado pela experiência masculina, os casos são decididos por gerações de juízes homens e as suas normas estabelecidas por gerações de políticos do sexo masculino, num contexto em que as mulheres foram em tempos classificadas como propriedade dos seus maridos,

pais e irmãos. Por isso, a legislação sobre a agressão sexual está desajustada da experiência real vivida pelas mulheres. A questão da inocência/culpa centra-se em saber se o (normalmente) homem acredita razoavelmente que o consentimento estava ou não a ser dado pela (normalmente) mulher. São sempre as vítimas, (normalmente) mulheres, que são “julgadas”, interrogadas e obrigadas a reviver a sua experiência humilhante, e depois postas em causa acerca dos motivos que as levaram a denunciar um crime hediondo contra a sua pessoa. No entanto, e significativamente, a investigação demonstrou que as pessoas simplesmente não acreditam nas mulheres que testemunham em casos de agressão sexual! Mesmo outras mulheres.

Denunciar o crime, suportar todos os atrasos do tribunal, comparecer a uma acusação, ser contrainterrogada e amesquinhada publicamente nos meios de comunicação social exige uma coragem extraordinária. Também não é um processo curto e, ironicamente, revela uma imensa fé na justiça do sistema. Mas será que o sistema jurídico merece esta fé? Ou será que silencia ainda mais as mulheres? Como é que a sociedade e, por conseguinte, a lei evoluíram para reformar esta área do Direito?

Quando Prima Facie foi encenado pela primeira vez no Griffin Theatre – uma companhia australiana de teatro de autor, houve uma noite especialmente dedicada a mulheres juristas. O público era composto por mulheres juízes, advogadas de defesa e acusação de vários níveis, solicitadoras e mulheres políticas dos parlamentos estaduais e federal da Austrália. Todas nós, mulheres. Na minha qualidade de uma das criadoras, sentei-me no palco depois da peça. O que se seguiu foi uma longa e emocionante discussão que se desenrolou perante mim numa autêntica intersecção entre arte e mudança social. Ainda nessa semana, os membros da Comissão de Reforma Legislativa assistiram também a uma matiné. Nessa mesma semana, tivemos também a presença de algumas escolas masculinas em grupos acompanhados por professores e pais. A compaixão e a curiosidade expressas no final foram um sinal de esperança para as gerações futuras.

A protagonista de Prima Facie, Tessa Ensler1, é uma advogada criminal de sangue novo, viciada no jogo

da lei, cheia de vontade de justiça social e lutando pelo que acredita ser o lado bom.

Pode não ter frequentado as melhores escolas, nem vir das melhores famílias, mas foi a melhor aluna do seu curso e tem todas as grandes firmas de advogados a quererem que trabalhe para elas, oferecendo-lhe o que quiser. No entanto, Tessa opta por lutar nas trincheiras com os casos mais difíceis, sempre do lado da defesa, desconfiando da polícia e dos seus truques. e jogando honestamente dentro das regras da lei.

O sistema jurídico implica que temos de acreditar que as regras são sagradas e que o nosso próprio papel é apenas uma pequena parte de um jogo maior. O que acontece quando se sobe na hierarquia, jogando segundo essas regras e se começa a perceber que algumas delas são, na verdade, flexíveis, quebradiças? E nem sempre justas?

Tessa é agora uma estrela, mas a sua cuidadosa tentativa de lidar com as partes discricionárias deste mundo começa a parecer perigosa, e ela é apanhada entre a própria vida e as suas convicções. Subitamente empurrada para uma situação em que é ela que tem de testar o sistema, Tessa descobre que as paredes desta estrutura aparentemente inatacável em que confiava começam a desmoronar-se e que não há nada seguro a que se agarrar. No entanto, para Tessa, ver a lei como ela é, uma construção humana imperfeita, em constante evolução com as mudanças sociais, liberta-a para encontrar a sua voz e convocar-nos a todos a agir. Quando esta peça recebeu o prestigiado prémio nacional, o Griffin Theatre Award em 2018 (e depois o igualmente prestigiado Overall Major Award da Australian Writers’ Guild, bem como o Drama Award, da mesma agremiação, e ainda o David Williamson Award em 2020), isso provou-me que as histórias das mulheres são realmente importantes.

1Nome da protagonista na versão original do espectáculo

As pessoas que se seguem contribuíram de forma significativa para a edição britânica de Prima Facie e estoulhes extremamente grata: a juíza Angela Rafferty; o juiz Murray Shanks; Daniele Manson; Kate Parker; Monica Bhogal e toda a gente do The Schools Consent Project; a Detetive Superintendente Clair Keland; Julia Kreitman, Tanya Tilet e a equipa da The Agency London; a minha agente Zilla Turner da HLA Australia; e Matt Applewhite e Sarah Lisa Wilkinson da Nick Hern Books.

Gostaria de agradecer muito pessoalmente ao produtor Jamies Bierman, ao encenador Justin Martin e à atriz Jodie Comer; e à equipa original de Lee Lewis e Sheridan Harbridge.

Os meus agradecimentos vão também para a minha maravilhosa família, Robert, Gabriel e Sasha Beech-Jones, que nunca deixam de me apoiar e ficam entusiasmados com cada nova peça, e para a minha querida mãe, Elaine Doreen Miller, que perdi mesmo antes da estreia desta peça e que foi a minha inspiração original para viver uma vida preenchida e grande.

Por último, agradeço também às mulheres que partilham as suas histórias e àquelas que escrevem histórias de mulheres. Em particular, gostaria de agradecer à brilhante Eve Ensler (também conhecida como V), uma dramaturga, defensora dos direitos humanos e uma inspiração permanente.

Suzie Miller

SUZIE MILLER

Suzie Miller é uma dramaturga e argumentista contemporânea, vencedora de diversos prémios internacionais. Gosta de histórias humanas complexas que frequentemente versam a injustiça. Trabalha em Londres, no Reino Unido, e em Sydney, na Austrália, mas a sua obra tem sido apresentada em todo o mundo. Tem formação em direito e ciência dos direitos humanos, e licenciou-se em dramaturgia no National Institute of Dramatic Art, na Austrália.

Prima Facie estreou em 2019 no Griffin Theatre, em Sydney; fez uma digressão pela Austrália em 2021; foi apresentada no West End de Londres em 2022; e em 2020 ganhou o prémio Australian Writers’ Guild Award for Drama, o David Williamson Award for Outstanding Theatre Writing e o prestigiado Major Australian Writers’ Guild Award em todas as categorias de teatro, cinema e televisão.

Outros prémios incluem: o National Griffin Theatre Award (2018); o Western Australian Premier’s Award for Excellence in a Theatre and Film Script (2016); o Kit Denton Award for Writing with Courage (2009): o Overall Excellence Award for Outstanding Playwriting do New York Fringe Festival (2008); o Australian Writer’s Guild Award for Radio Play Writing (2013); o Inscription Award, que incluiu uma mentoria com o dramaturgo norteamericano Edward Albee (em 2006 e 2009).

Outras obras teatrais de Suzie Miller: para o Theatre503, Londres, SOLD; para o Griffin Theatre, Sydney, Caress/ Ache; para o Griffin Independent, Sunset Strip; para a Black Swan State Theatre Company, DUST; para o La Boite Theatre, The Mathematics of Longing e Medea; para o Performing Lines WA, Overexposed; para o Perth International Arts Festival e a Sydney Opera House, Driving into Walls e Onefivezeroseven; para a Queensland Opera, Snow White (libreto); para o Ransom Theatre, na Irlanda do Norte, e para os Seymour Centre/Riverside Theatres, Transparency; para a Sydney Opera House, Cross Sections

Outras obras apresentadas internacionalmente incluem: para o Edinburgh Festival e o Lemon Tree Theatre, na Escócia, Velvet Evening Séance; para o Theatre Gargantua, no Canadá, The Sacrifice Zone; para o Cherry Tree Theatre, em Nova Iorque, e o Assembly Rooms, em Edimburgo, Reasonable Doubt

Teve encomendas ou efectuou residências em diversos teatros, incluindo o National Theatre Studio, em Londres; o National Theatre of Scotland; a Sydney Theatre Company; o Malthouse Theatre, na Austrália; a Griffin Theatre Company, na Austrália; a Jerwood Foundation/Cove Park Artists’ Residency, na Escócia; o Theatre Gargantua, no Canadá, e o La Boite Theatre, na Austrália.

Acualmente, está a trabalhar para o Malthouse Theatre, a Sydney Theatre Company, a Griffin Theatre Company e ainda a Neal Street Productions e a Jonathan Church Productions, em Londres.

Suzie Miller está também a escrever adaptações cinematográficas das suas peças para a Bunya Productions e a Participant Media, nos EUA, bem como uma comédia romântica original para a Hoodlum Entertainment e a Heiress Films; está a desenvolver uma série de televisão original, Creatures of Mayhem para a Matchbox Pictures/NBN; Beechmont para a Synchronicity e está a adaptar o romance Bruny de Heather Rose para Sue Maslin e Charlotte Seymour, da Film Art Media.

TIAGO GUEDES

REALIZADOR E ENCENADOR PORTUGUÊS

Dos seus primeiros trabalhos como realizador destacam-se a curta-metragem “Acordar” (2001), a sua primeira longa-metragem “Coisa Ruim” (2005) e a longa-metragem “Entre os Dedos” (2008), co-realizadas com Frederico Serra. Para televisão realizou as séries “Odisseia”, “Os Boys” e “Noite Sangrenta”. Adaptou duas das peças de Tiago Rodrigues para o cinema, a curta-metragem “Coro dos amantes” (2014) e a longa-metragem “Tristeza e Alegria na Vida das Girafas” (2019). Nesse mesmo ano realizou “A Herdade” (2019), partilhando a autoria do guião com Rui Cardoso Martins. O filme fez parte da Competição Oficial do Festival de Cinema de Veneza e do TIFF em Toronto, e foi o candidato português aos Prémios Goya e aos Óscares 2020. Em 2020, realiza o primeiro projeto português para a plataforma de streaming Netflix, uma série de 10 episódios - “Glória”. Em 2022, de novo com Tiago Rodrigues, escreve e realiza o filme “Restos do Vento”, que estreou e fez parte da Seleção Oficial do Festival Internacional de Cannes.

No ano de 2023 adaptou o livro Diálogos com Leuco de Cesare Pavese, para uma série de 19 episódios e uma longa metragem a que chamou “Diálogos Depois do Fim” e teve a sua estreia no Festival Internacional de Roterdão em 2024. Neste momento encontra-se na fase de pré-produção do seu proximo filme, a adaptação dos livros Trilogia de Jesus do escritor J.M. Coetzee.

O teatro é outra das áreas que marca o percurso profissional de Tiago Guedes, tendo encenado peças de Peter Handke, Dennis Kelly, Henrik Ibsen, David Harrower e Martin McDonagh.

© RODRIGO LEUCÁDIO

MARGARIDA VILA-NOVA

Margarida Vila-Nova começou cedo o seu percurso como actriz e é como actriz que se tem destacado junto da crítica e tem construído um percurso sólido em televisão, teatro e cinema. Recentemente deu os primeiros passos como realizadora: a sua primeira curta, “PÊ” estreou em 2022 no Festival Curtas de Vila do Conde. Em 2024 regressou novamente à competição do festival com a estreia da segunda curta-metragem de sua autoria e realização “Penélope”. Em teatro destacam-se entre, as produções dirigidas por João Pedro Mamede, “Novo Mundo”; Ignácio Garcia “Reinar depois de Morrer” e “Não Come Nem Deixa Comer”; António Pires - na companhia do Teatro do Bairro - “A Morte de Romeu e Julieta” e “Macbeth” de Shakespeare, “Say It with Flowers” de Gertude Stein, entremuitas outras.

Em televisão tem regularmente papéis de destaque em diversos sucessos exibidos na TVI e SIC, mas é nas séries que mais se tem destacado nos últimos anos, ao lado de realizadores como Ivo Ferreira na série “Sul” ( RTP e HBO) Marco Leão e André Santos em “Luz Vermelha” (RTP) , Patrícia Sequeira n’ “O Clube” (Opto e SIC), João Nuno Pinto em “Causa Própria” (RTP e HBO). Mais recentemente, em 2023, participou nas séries “Matilha” realizada por João Maia e “Irreversível” de Bruno Gascon. Os primeiros passos no cinema foram dados com João Mário Grilo na longa metragem “A Falha” e o seu percurso foi marcado por João Botelho com quem filmou “A Corte do Norte”, “O Fatalista”, “Corrupção” e “Desassossego”. Nos últimos dois anos rodou o filme “Fogo-Fátuo” de João Pedro Rodrigues e “O Jovem Cunhal” de João Botelho. Esteve no Brasil a filmar “Um Lobo Entre os Cisnes” de Helena Varvaki e Marcos Schectman, após ter terminado a rodagem de “Ouro e Cinza” de Salomé Lamas no final do ano passado.

© MIGUEL ÂNGELO

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