Caderno Rural

Page 1

MAIO DE 2021

Arte e tradição no cultivo dos porongos PÁGS. 4 E 5

Tabaco

Dicas para cuidar das mudas nos dias frios

PÁG. 3

Grãos

Unidade da Afubra recebe mais de 500 mil sacas de soja

PÁG. 6

Vila Palanque Reforma do posto de saúde deve ser concluída até julho

PÁG. 7


editorial Venâncio Aires é o segundo município gaúcho com maior número de propriedades no meio rural - atrás, apenas, de Canguçu. O número, além de evidenciar a importância da agricultura para o município, também é um indicativo da relevância do interior para a economia, para a cultura, o turismo e o esporte. Logo, reforça a prioridade editorial das notícias de interior nas páginas da Folha do Mate. Com o objetivo de fortalecer a presença no interior de Venâncio, onde reside boa parte dos assinantes do impresso, o jornal lança um novo produto: o Folha Rural. Com divulgação mensal, o caderno especial pretende ampliar a cobertura no meio rural, destacando histórias de quem vive no interior, as demandas das comunidades e aspectos do dia dia do campo. Esta primeira edição já dá uma amostra do quão diversificado e potente é nosso interior. Destaca o tabaco, carro-chefe do setor primário, o mercado de grãos e o artesanato com porongo, além de iniciativas de turismo, investimentos em saúde e tradições culinárias. Boa leitura! EDIÇÃO

Juliana Bencke juliana@folhadomate.com.br

expediente Edição: Juliana Bencke Foto de capa: Roni Müller Criação de Anúncios: Scheila Ferreira, Luana de Andrade e Rodrigo Kist Departamento comercial: Édipo de David, Julio Hoffmann, Kinha Heck, Lunara Reiter e Paula Carvalho Projeto Gráfico e Diagramação: Luana de Andrade Empresa Jornalística Folha do Mate Ltda CNPJ 98.597.719/0001-56

2

PELO INTERIOR

15 DE MAIO DE 2021 - FOLHA DO MATE

Rosana Wessling rosana@folhadomate.com.br

Podas das mudas Os fumicultores de Venâncio e região já preparam a safra 2021/22 e os resultados de safra cheia começam agora com os cuidados nos canteiros. A Jaqueline Taiane Theis, 20 anos, e o Lucas Ariel Bergmann, 22 anos, de Centro Linha Brasil, realizaram a segunda poda das mudas nesta semana. Segundo a agricultora, com o frio, as mudas tendem a crescer mais lentamente, e o tabaco vai para a lavoura em junho. “As mudas estão crescendo rápido, talvez com a vinda do frio, vão dar uma ‘acalmada’ no crescimento”, frisou. Já tive relatos de orientadores de que, em Vale Verde, alguns produtores arriscaram e transplantaram as primeiras mudas na segunda-feira, 10. Cada vez mais, os agricultores querem fugir do

Arte com porongos A semana que passou foi repleta de pautas diferentes. Tive a oportunidade de conhecer pessoas que plantam o porongo e dele fazem arte e uma fonte de renda. A artesã Andreia Schwendler, de Linha Arroio Grande, descobriu no porongo o fascínio pela arte e hoje confecciona lindos trabalhos e, além disso, ministra cursos em Venâncio. Já o alemão do Palanque, como Flávio Mallmann é conhecido, planta o porongo e, nas horas vagas, confecciona cuias e pegadores de erva -mate, além de uma linda térmica para levar água fresquinha para a lavoura. Nas páginas 4 e 5, você confere dicas desses dois agricultores para fazer o artesanato, cultivar o porongo ou até

Bodas de Cobre Os assinantes da Folha do Mate Egon Erno Werner, 82 anos, e Bronilda Werner, 80 anos, completam 61 anos de casados na próxima sexta-feira, 21. Devido à pandemia, o casal não poderá comemorar as Bodas de Cobre com festividades, mas celebram a união com os filhos, netos e bisnetos. Os agricultores de Linha 17 de Junho têm quatro filhos, oito netos e três bisnetos. A homenagem é dos filhos Ernani e esposa Elaine Werner, Clécio e esposa Ilse Werner, Jair e esposa Marceli Werner, e Luis e esposa Roseli Schmidt; dos netos Daniel, Marcos, Michele, Ana Paula, Thaís, Lucas e Thales; e bisnetos Carolina, João e

DIVULGAÇÃO

JAQUELINE E LUCAS ESTÃO NA SEGUNDA SAFRA JUNTOS

calorão e da estiagem. Boa sorte a todos os fumicultores e que o tempo colabore para uma safra cheia. RONI MÜLLER

O ALEMÃO DO PALANQUE PREPARA AS CUIAS DE FORMA MANUAL E ARTESANAL

mesmo plantar e fazer a própria cuia. No registro fotográfico do colega Roni Müller, o alemão do Palanque explicava-me o processo artesanal para a fabricação das cuias. Te convido a ler a matéria.

ARQUIVO PESSOAL

Venâncio no Vale Agrícola A reportagem que circulou no dia 1º de maio nas páginas da Folha do Mate falando sobre o Backofen, o forno de pedra, teve uma grande repercussão nas redes sociais. A dona Carmem Schuch, de Linha Maria Madalena, ficou famosa. Muitas pessoas se identificaram com a cultura ou recordaram de momentos da infância. Quem também se encantou com a história da Carmem foi a jornalista Eliza Maliszewksi, do Vale Agrícola de Rio do Sul, Santa Catarina, e do portal Agrolink. Ela e o cinegrafista Marcel Oliveira estiveram em Venâncio Aires no último sábado, 8, visitando a agricultora. Carmem ensinou a receita do pão de água para a reportagem, que vai ao ar nos próximos dias no canal do Vale Agrícola no YouTube e Facebook. O Vale Agrícola aproveitou o dia em Venâncio e também conversou com Jorge Reckziegel, de Linha 17 de Junho, para contar da experiência do tabaco fora de época. É a Folha do Mate mostrando a diversidade do interior, a cultura de Venâncio Aires e pautando nosso município em outros estados. DIVULGAÇÃO

BRONILDA E EGON WERNER CELEBRAM BODAS DE COBRE NA PRÓXIMA SEMANA

Matheus. Vida longa ao casal, com muita saúde e união.

CANAL VALE AGRÍCOLA ESTEVE EM VENÂNCIO AIRES NO ÚLTIMO SÁBADO GRAVANDO REPORTAGENS COM DOIS AGRICULTORES DO MUNICÍPIO


3

FOLHA DO MATE - 15 DE MAIO DE 2021

Mudas de tabaco nos canteiros e os cuidados com o frio ROSANA WESSLING

O ditado já diz que ‘para uma boa safra de tabaco, é necessário cuidar das mudas’, ainda mais nesta época, quando os dias mais curtos, a queda de temperaturas ao anoitecer e o amanhecer gelado anunciam a aproximação do inverno. Nesta fase, em que os fumicultores estão com as mudas de tabaco nos canteiros, cada um no seu ciclo, de acordo com a região da propriedade e o tempo previsto para o transplante, é fundamental observar práticas de manejo que irão proteger as mudas e garantir bons resultados na hora de levá-las para o solo. Os 27 anos de experiência como orientador agrícola da Alliance One, fizeram com que Luiz Carlos Kunzler, 55 anos, apostasse em diversificar na atividade, com a criação de um banco de mudas em sua propriedade em Linha Estância Nova. Hoje, ele concilia os cuidados com os

Dicas 1

temente o nível de água, completando para 10 centímetros de lâmina quando necessário, para evitar o congelamento das mudas;

2

A alternativa de Kunzler serve de alento para produtores que perdem mudas por temporal, granizo, geada ou

Manter os canteiros bem fechados:

o ideal é antecipar o horário de fechamento, antes do sol se pôr, para o sol PRODUTOR LUIZ KUNZLER, AO LADO DO ORIENTADOR AGRÍCOLA DA ALLIANCE ONE, CRISTIAN ALEX BENCKE, COM BANDEJAS DE MUDAS ADENSADAS

canteiros e com a lavoura, afinal ele cultiva cerca de 60 mil pés de tabaco. Com a experiência de produzir mudas há cerca de 15 anos, Kunzler, o orientador agrícola que presta assistência na proprie-

dade, Cristian Alex Bencke, e o supervisor agrícola da Alliance One, Claudionor Turchiello, listam uma série de dicas para os produtores protegerem e cuidarem das mudas de tabaco.

Kunzler aposta em um banco de mudas Após anos de trabalhos como orientador agrícola, há cerca de 15 anos, Luiz Carlos Kunzler buscou alternativas para diversificar na fumicultura e iniciou com um banco de mudas, na propriedade em Linha Estância Nova. “Naquela época a própria empresa incentivou que os orientadores tivessem essa opção de reserva de mudas. Como eu era orientador, vi essa necessidade nitidamente, e surgiu a oportunidade de fazer essa reserva e ter um banco de mudas”, explica.

Nível da água: verificar frequen-

doenças, ou para aqueles que plantam tabaco mas realizam outra atividade e não têm tempo de produzir as mudas. “O trabalho do Kunzler é fundamental para o safreiro, o pedreiro ou aquele que não tem o tempo para se dedicar aos cuidados que as mudas no canteiro exigem pois concilia outra atividade”, salienta o supervisor agrícola da Alliance One, Claudionor Turchiello. O produtor acompanha de perto a tecnologia das sementes que hoje são estudadas em Passo do Sobrado, no Centro Global de Pesquisa, Desenvolvimento e Difusão da Alliance One. “É todo um estudo para ter a semente ideal. São cerca

de seis a dez anos”, comenta Turchiello. Além de mudas prontas para o plantio ou repique, Kunzler cita que percebe uma grande procura por bandejas de mudas adensadas. “No ano passado, vendi duas mil bandejas. Cada uma tem cerca de quatro mil mudas.” O produtor comercializou cerca de um milhão e meio de mudas prontas para o transplante em 2020 e nove milhões de mudas para repique no mesmo período. “As vendas ocorrem em Venâncio Aires, municípios da região e outras localidades como Anta Gorda, Fontoura Xavier, Segredo, Sobradinho, entre outras”, complementa o produtor rural.

ainda aquecer as mudas na ‘piscina’;

3 Se necessário, fazer o uso de uma camada extra de proteção. Existe um tecido específico, o talagarca remeey, que pode ser utilizado abaixo das lonas. As empresas costumam distribuir esse material no pedido, mas os produtores o encontram também nas agropecuárias;

4 Evitar podas drásticas e podas quando existe a possibilidade de geadas;

5 Além disso, a orientação também vale para o famoso veranico - quando ocorre um dia de muito calor após dias frios. O produtor precisa estar atento para evitar doenças.

REPORTAGEM

Rosana Wessling rosana@folhadomate.com.br


4

15 DE MAIO DE 2021 - FOLHA DO MATE

Porongo: da fabricação de cuias ao artesanato FOTOS RONI MÜLLER

O carro-chefe na propriedade de Flávio Antônio Mallmann, 52 anos, em Vila Palanque, na divisa com Linha Grão-Pará Baixo, é o aipim. No entanto, é nas horas vagas que o produtor usa da criatividade para elaborar artesanalmente itens de decoração e cuias com porongos cultivados anualmente. Segundo Mallmann, a produção de 2021 foi baixíssima. Os porongos não se desenvolveram como ele projetava em função do clima, mas em anos anteriores a colheita foi cheia, assim, o agricultor armazenou-os e continua trabalhando. Tudo começou em 2016. Ele conta que participou da 14ª Fenachim, quando ganhou algumas sementes de porongo e decidiu plantar. “Meus pais sempre cultivavam o porongo, mas as sementes que ganhei na Fenachim eram de porongo especialmente para fabricação de cuias, foi aí que me interessei. Eu sempre plantava por diversão, por gostar e para manter essa tradição. Fazia tocas para passarinhos, mas o porongo não era específico para cuias”, comenta. Após dedicar cuidados e um tempo especial para as sementes que ganhou,

o produtor colheu 30 porongos de duas sementes na primeira safra. “Quando colhi aqueles porongos, eu vi que eram específicos para fazer cuias e comecei a fazer na mão mesmo. Quando sobrava um tempinho eu tava mexendo nos porongos”, cita. Na 15ª Fenachim (2019), o agricultor já levou suas cuias e uma delas fez sucesso. “Fiz uma maior, um porongo grosso, mas liso, perfeito. Todo mundo queria tomar meu chimarrão”, brinca Mallmann.

SEGREDOS

O agricultor compartilha alguns segredos para cultivar os porongos. “Plantar um pé de porongo não é só jogar a semente e esperar para colher. Antigamente era mais fácil, mas hoje precisa estar o tempo todo na lavoura, cuidando para as pragas não invadirem”, destaca. As sementes, geralmente, vão para a terra em agosto e setembro e cada variedade tem seu tempo até a colheita – algumas cinco meses, outras três. “É bom tirar o porongo verde da cerca. Mas o caule, o ‘rabinho’, como a gente chama, precisa estar seco. Depois é só deixar secar na sombra e limpar as manchas que ficam no porongo.”

“A fabricação da cuia é um processo manual” Para fabricar uma cuia, o agricultor comenta que o serviço é bastante demorado, ainda mais quando isso ocorre de forma totalmente artesanal. Apesar de existirem ferramentas e inúmeras técnicas, Mallmann não abre mão do trabalho manual que executa. “Você precisa ter criatividade, paciência e vontade de fazer as coisas. Daí dá certo.” Após o porongo estar seco, o agricultor lava-o bem, tira as manchas,

corta para tirar as sementes e inicia o processo de brocar a cuia. “As cuias que a gente compra têm pouca espessura, mas as minhas não. Isso não dá chimarrão bom se não é bem feito”, enaltece. Após finalizar a cuia, Mallmann coloca água quente até a borda com quatro colheres de erva-mate. “Deixo parado de um dia para o outro, para curar a cuia.” Ele repete o processo por cerca de quatro dias, até a cuia ficar completamente esverdeada por dentro.

MALLMANN PLANTA UMA VARIEDADE DE PORONGO EXCLUSIVA PARA A FABRICAÇÃO DE CUIAS

Curiosidades

Artesanato

Conhecido por diferentes nomes, como cabaça,

Além de cuias, o agricultor fabricou pegadores

calabaça, purunga ou caxi, o porongo é uma

de erva-mate com os porongos menores e uma

espécie não convencional pertencente à família

‘térmica’, um porongo adaptado, inclusive

Cucurbitaceae, a mesma da abóbora, da bucha

com tampa, para levar água fresquinha para a

vegetal e do chuchu. Nativa do continente afri-

lavoura. “A água fica geladinha, não esquenta.”

cano, a Lagenaria sicerariaa, como é conhecida cientificamente, teve disseminação de suas sementes pelo mundo por meio das correntes oceânicas.


5

FOLHA DO MATE - 15 DE MAIO DE 2021

O fascínio pela arte no porongo A versatilidade do porongo encantou a artesã Andréia Soares Schwendler, 47 anos, que pinta e decora as variedades que cultiva. Hoje, a moradora de Linha Arroio Grande já cultiva cinco espécies e trabalha há quatro anos com o porongo.

Cada trabalho varia de acordo com o desenho. “Tem peças que levo duas horas, como cada galinha. Mas tem trabalho que levo bem mais. Nunca cuidei, mas é o que mais gosto de fazer”, destaca ela, que começou a pintar por conta e depois realizou cursos para se especializar. Hoje, a moradora de Arroio Grande já ministra cursos para artesãos interessados. O trabalho mais vendido são as casinhas para passarinhos. “Eu amo o que eu faço, sou a p a i xo n a d a p e l a pintura no porongo. Ainda não tem a venda que eu esperava, por isso concilio com outras atividades como restaurações, costura e outros itens.”

“Quando comecei, eu comprava de um produtor do Palanque os porongos. Depois, minha mãe plantou um pezinho e deu 60 porongos, vi como era fácil e, a partir de então, comecei a plantar os meus porongos”, conta. A n d ré i a c u l tiva as variedades apenas para seu artesanato. “Plantava e m c a d a c a n to da propriedade PREPARO uma espécie, mas Após colher o como nos não porongo e deixar temos tanta tersecar, Andréia cora, não dá muito loca-o de molho na certo. O correágua em temperato é cultivar com tura ambiente e, distância de um com um esfregão quilômetro cada, de aço inox, tira as para não mistucasquinhas e imrar. Então agora, purezas por fora. a cada ano, plan“Só lixo quando é to uma variedade ANDRÉIA SCHWENDLER necessário.” e guardo”, expli- Artesã Segundo ela, o ca. segredo é aproveiApós colher os tar o formato do porongos ainda verdes, a artesã guar- porongo e usar da criatividade. “O da eles no galpão, em ambiente seco e trabalho que mais gostei de fazer foi onde as peças peguem o sol da manhã. o flamingo. Logo quando olhei para “Eu sempre gostei do artesanato, mas o porongo, imaginei que a curvatura tenho um fascínio pelo porongo, é ele seria ideal para o que planejei.” O item que me diz o que vou fazer. É só usar serve de decoração na sala onde ela a criatividade”, garante. passa o dia a dia trabalhando, e é o

“A internet serve de inspiração, mas uso minhas ideias, adapto e crio minhas peças. Quando vou colher o porongo, já imagino o que eu posso produzir, o que vou pintar. Sou fascinada pelo que faço.”

ARTESÃ USA CRIATIVIDADE PARA PINTAR PERSONAGENS NOS PORONGOS DECORATIVOS

PARA ANDRÉIA, O FLAMINGO FOI O TRABALHO QUE ELA MAIS GOSTOU DE PINTAR

xodó. “Esse eu não vendo, ele serve de inspiração”, observa ela, que comercializa os itens na Casa do Artesão de Venâncio Aires e pelas redes sociais @ artes_dadeia.

REPORTAGEM

Rosana Wessling rosana@folhadomate.com.br


Felipe Hickmann felipehickmann@hotmail.com

Desenvolvimento rural Por muito tempo, as melhores oportunidades de trabalho estavam concentradas nas grandes cidades. Pois bem, chegou a hora da interiorização do desenvolvimento. Nos últimos anos, o setor agropecuário aqueceu a economia brasileira, além de amenizar os efeitos de inúmeras crises político-econômicas. Embora o número de produtores rurais tenha reduzido nas últimas décadas, o setor continua empregando um quarto da população brasileira, seja através de empregos diretos ou indiretos, como, por exemplo, agroindústrias, frigoríficos, entre outros. O novo rural está conseguindo combinar o avanço tecnológico com geração de emprego e renda. Inúmeras oportunidades, com carteira assinada, sendo criadas pelo interior do país. Os preços agrícolas estão nas alturas, é verdade. E isso auxilia muito, também é verdade. No entanto, a modernização do campo não é algo de agora. A partir da porteira das fazendas, surgem fortes cadeias produtivas que vem construindo um novo Brasil longe do litoral. Mas nem tudo são flores, temos muita coisa a melhorar. Os problemas de infraestrutura são reais, com estradas esburacadas e ferrovias quase que inexistentes. Como levar a produção agrícola até os portos sem perder parte da produção? Muito difícil. Sem contar a dificuldade de armazenar grãos em plena safra, sem ficar à mercê de intermediários. Trazendo um pouco a discussão para os Vales do Rio Taquari e Rio Pardo, onde a agricultura é, na sua grande maioria, de base familiar, temos um outro problema: a necessidade de diversificação da produção. Problema este que pode se tornar uma oportunidade, se bem aproveitado. O meio rural de hoje não é o mesmo das gerações passadas. A inovação tecnológica do campo impôs certos desafios, como a necessidade de qualificação da mão de obra e busca por constante aprendizado. Além disso, a desigualdade no campo nunca foi tão grande. E sabe o que vem aumentando essa desigualdade? A internet. Ou melhor, a falta de internet: um a cada quatro brasileiros não tem acesso à internet. Um desafio que coloca os mais pobres e os moradores de áreas rurais em desvantagem. Nos dias de hoje, quem não tem acesso à internet está praticamente fora do mercado de trabalho. Bom, e quais seriam as oportunidades para Venâncio e região? A diversificação da produção é importante, sem dúvidas. Aves e suínos vêm ganhando espaço. Nesse sentido, o Centro Vocacional Tecnológico (CVT) de proteína animal vem bem a calhar, sem falar da importância das cooperativas da região, como Languiru e Dália. Além disso, parcerias público-privadas com as Universidades da região serão interessantes para qualificar a mão de obra, além de atender as demandas da comunidade local. De modo geral, o agro não pode mais ser considerado uma “atividade primária”, como no passado. Há uma mudança de paradigmas que deve ser considerada, repleta de oportunidades.

6

15 DE MAIO DE 2021 - FOLHA DO MATE

Família Werner entrega parte da soja na Unidade de Grãos da Afubra ROSANA WESSLING

A produção de grãos tem conquistado os holofotes nos últimos anos e, em Venâncio Aires, não é diferente. Atualmente, a cotação da saca da soja de 60 quilos já atinge R$ 166,40. A época é da soja safrinha e a família Werner, de Linha 17 de Junho, já realizou a colheita de algumas lavouras na semana. Para o produtor Clécio Luis Werner, 54 anos, os resultados são animadores. “O cenário está desenhando uma boa safrinha. Vai ser a melhor dos últimos tempos”, projeta. Werner, o filho Marcos, o genro Fernando Becker e o funcionário Marciel Rodrigues plantaram 130 hectares de soja safrinha e 138 hectares na soja safra. Na safra, a venda teve uma nova oportunidade que trouxe mais agilidade na hora da colheita. Cerca de 52% da safra de soja foi comercializada para a Unidade de Grãos da Afubra, em Rincão del Rey, em Rio Pardo. “No início, a gente levava para Canoas, mas quando a unidade da Afubra entrou em operação, recebemos o convite e logo na primeira carga que levamos gostamos do atendimento e da agilidade”, explica o produtor. Além do preço valorizado, Werner destaca outros diferenciais da unidade. “Não tem fila para descarregar, assim, a gente consegue voltar antes para a lavoura com o caminhão e o serviço rende mais. E está entre um dos melhores valores da região, sem contar a proximidade para nós de Venâncio”, comenta. Cerca de quatro mil sacos da safra de soja foram entregues pela família Werner à Afubra. “Eu sei de vários produtores da região que agora na safrinha também querem vender pra lá. De certa forma, a gente começou e influenciou mais agricultores”, salienta o agricultor de Linha 17 de Junho. Werner está na expectativa de conseguir comercializar a safrinha também na Unidade da Afubra, mas comenta que isso depende de espaço nos silos. Além disso, a família irá plantar os primeiros 64 hectares de trigo nesta safra de inverno e também projeta comercializar o grão para a Afubra.

DIVERSIFICAÇÃO

A Unidade de Grãos da Afubra iniciou as atividades em março. Segundo o diretor-presidente da Agro Comercial Afubra Ltda., Romeu Schneider, em 35 dias de operação, a unidade completou a capacidade de 502 mil sacas. “Como foi nossa primeira experiência, imaginávamos que levaria um tempo maior para completar a capacidade. Mas a colheita também foi mais rápida, o clima colaborou”, observa. Com alguns problemas no porto, o recebimento foi maior que o escoamento e a unidade lotou. Por isso, a Afubra já está se organizando para ampliar o espaço e construir mais três silos. “A expectativa é de termos mais 300 mil sacas à disposição na próxima safra de soja”, projeta. Schneider ressalta que a Unidade de Grãos surge como apoio à diversificação - uma das linhas de trabalho defendidas desde a fundação da Afubra. “A diversificação sempre foi um ponto chave na nossa discussão. E nós, além de incentivar isso, precisamos dar opção de mercado, já percebemos que cada vez mais os grãos vêm ganhando espaço

CLÉCIO WERNER DE LINHA 17 DE JUNHO VENDEU A SOJA DA SAFRA NA UNIDADE DE GRÃOS DA AFUBRA

e os produtores não plantam mais só o tabaco. Nós precisamos estar preparados para absorver esse mercado dos grãos”, ressalta. Nesse primeiro momento, a unidade recebeu a soja, mas já se projeta para receber o milho e o trigo dos associados e clientes das regiões da Matriz (Santa Cruz do Sul) e das filiais de Venâncio Aires, Candelária e Cachoeira do Sul. Além de projetar a ampliação na Unidade em Rincão del Rey, a Afubra estuda a instalação, também, em Arroio do Trigre. “Nós até já temos uma possível área”, frisa Schneider. Além disso, Camaquã pode receber uma unidade. “Lá já percebemos que o forte é o arroz, tem uma tendência na cultura. Estamos em fase de estudo.”

Tecnologia • A unidade possui um calador pneumático rápido e seguro, por meio do qual o grão chega por sucção até o laboratório, aparelhado com equipamentos digitais. Conta com duas balanças automáticas de 30 metros da Toledo para agilizar a pesagem dos caminhões. • O fluxo segue com duas moegas equipadas com tombadores de 22 metros e 80 toneladas e acessórios extras de segurança, da SAUR. • A descarga nas moegas de 7 mil sacos é de 600 toneladas/hora e segue para duas máquinas de pré-limpeza rotatórias, agilizando o esvaziamento das mesmas.

REPORTAGEM

Rosana Wessling rosana@folhadomate.com.br


7

FOLHA DO MATE - 15 DE MAIO DE 2021

Saberes e Sabores

Posto de saúde de Palanque deve reinaugurar em julho RONI MÜLLER

Polenta de farinha de milho ralado GLENO KONZEN FISCALIZA AS OBRAS POR MEIO DA COMISSÃO DE SAÚDE E ESTÁ SATISFEITO COM O ANDAMENTO

Apesar da expectativa inicial de reinauguração na próxima terça-feira, 18, dentro da programação de aniversário dos 130 anos de Venâncio Aires, o posto de saúde de Palanque não deve reabrir na próxima semana. Isso porque a unidade, que passa por reforma, está na fase dos acabamentos finais. Conforme o prefeito e secretário da Saúde de Venâncio Aires, Jarbas da Rosa, a obra será finalizada entre o fim de junho e o início do mês de julho. “Não estamos com a obra atrasada, no contrato da empresa construtora a data final é dia 2 de julho”, explica. Enquanto isso, os atendimentos do posto de saúde seguem sendo realizado na Casa Paroquial. Na localidade atende, agora, a médica Marcela Martin Solon de Pontes, contratada através do programa Mais Médicos. Além de trabalhar em Vila Palanque, a profissional atua em Linha Travessa, que conta com o atendimento médico no salão Gigante da Travessa, todas as terças-feiras à tarde, até acontecer a reforma da unidade.

CAPRICHO

O presidente da Comissão de Saúde e morador da localidade, Gleno Luiz Konzen, 63 anos, elogia o envolvimento da Administração e Secretaria Municipal de Saúde na reforma e ampliação do posto de saúde de Vila Palanque. “Serão diversas salas com atendimento diário de médicos e outros serviços como odontologia”, afirma. O aposentado destaca a expectativa e a ansiedade dos moradores da localidade para a conclusão da obra. “Nossa vila está crescendo e a demanda de atendimentos também”, completa.

Atendimento Depois de finalizada a obra do posto de saúde de Vila Palanque, os atendimentos serão de segunda a sexta-feira, das 7h30min às 16h30min, sem fechar ao meio-dia, com atendimento médico de 20 horas e 40 horas de atendimento de Enfermagem.

Comunidade recebe ações de descentralização neste sábado Em razão do aniversário de 130 anos do município, neste sábado, 15, a Administração Municipal leva para Vila Palanque a programação de descentralização. A localidade receberá a edição especial do programa ‘Tua vida melhor’, com ações de saúde, solidariedade e meio ambiente. As atividades ocorrerão no ginásio da comunidade do sexto distrito, das 8h30min às 11h30min. Liderados pelo prefeito Jarbas da Rosa e a vice-prefeita Izaura Landim, setores das secretarias de Desenvolvimento Rural e de Infraestrutura e Serviços Públicos aproveitarão a oportunidade para se aproximar da comunidade. Além disso, acompanhando os protocolos sanitários autorizados, haverá brinquedos do Sesc, arrecadação e distribuição de roupas da Campanha do Agasalho, distribuição de mudas de árvores frutíferas e reco-

lhimento de lixo eletrônico. Outra oportunidade serão os serviços da saúde, especialmente com aplicação de vacinas contra a Covid-19 e a gripe, conforme os grupos prioritários de cada campanha. Além disso, testes de glicose também poderão ser feitos. A proposta da descentralização iniciou no sábado passado, 8, em Vila Mariante, e está prevista para acontecer, novamente, no dia 22, em Vila Arlindo, e no dia 29, em Vila Deodoro.

DIFICULDADE: Média TEMPO DE PREPARO: Uma hora RENDIMENTO: Para seis pessoas RECEITA: Véra Lúcia Schwingel Wagner O milho é uma das culturas mais cultivadas pela agricultura familiar brasileira, principalmente para a subsistência. Ela é a base da alimentação nas pequenas propriedades rurais. Precisamos valorizar mais essa produção, pois, tudo o que cultivamos na propriedade pode ser utilizado com criatividade, tornando nossa alimentação mais rica e mais saborosa. Pensar em resgatar receitas antigas, junto com suas histórias e suas memórias, é um dos objetivos do projeto de ‘Resgate de saberes e sabores’. Véra Lúcia Schwingel Wagner, atual presidente do Clube de Mães São Judas Tadeu de Linha Picada Mariante, nos ensina a fazer uma polenta de farinha de milho ralada, receita esta, que remete ao tempo de sua infância. Como sua família residia longe do moinho, sua mãe ralava o milho ainda louro para fazer a farinha, e, com isso, fazia também pão, pamonha, cuscuz e a tradicional polenta, cuja receita é bem aceita por usa família até hoje.

Ingredientes - 1 litro de água - ½ kg de farinha do milho louro, já ralada e peneirada - Sal a gosto - 1 colher rasa (sopa) de banha

Modo de preparo Colocar a água em uma panela e levar ao fogo. Com a água ainda fria, colocar a banha e o sal. Mexer para misturar bem. Aos poucos, ir colocando a farinha na água e mexendo. Deixar ferver e mexer seguidamente até desgrudar do fundo da panela, assim, estando no ponto para ser servida.

PROJETO UM RESGATE DE SABERES E SABORES REPORTAGEM

Luana Schweikart luanas@folhadomate.com.br

Viviane Röhrs - Extensionista rural social da Emater/RS-Ascar de Venâncio Aires


CONTEÚDO PUBLICITÁRIO

8

15 DE MAIO DE 2021 - FOLHA DO MATE

Um recanto de suculentas em Linha 17 de Junho FOTOS CASSIANE RODRIGUES

Ibramate celebra execução de Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Erva-mate Reuniram-se no dia 13 de maio, na sede do Instituto Brasileiro da Erva-Mate - Ibramate, em Ilópolis, os representantes das entidades representativas dos polos ervateiros Alto Taquari, Alto Uruguai, Missões/ Celeiro, Nordeste Gaúcho e Região dos Vales. O encontro teve por objetivo homologar os prestadores de serviços formalizando, assim, a execução do Termo de Colaboração FPE nº 2365/2020, assinado recentemente com a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural – SEAPDR e dar início ao respectivo Plano de Trabalho, que tem por objetivo promover a execução de Programa de Desenvolvimento e Inovação da Cadeia Produtiva da Erva-mate. Entre outras atividades, o programa abrangerá ações voltadas à atividades de prospecção de mercados, realização de pesquisas e desenvolvimento de inovações tecnológicas voltadas à cadeia produtiva, nas atividades de produção agrícola, indústria e comercio, sempre em sinergia com o desenvolvimento dos demais estados produtores do Brasil (SC, PR e MS). Também estão previstas ações de divulgação do Ibramate, produtos e cultura da erva-mate. Entre elas, a novidade fica com a realização da Festa da Colheita da Erva-Mate - 2021 e Semana Estadual da Erva-Mate conforme previsto no Calendário Oficial do Estado. A Festa, que ocorrerá anualmente e de forma itinerante nos polos regionais, terá sua primeira edição no próximo dia 24 de maio, em Ilópolis, e contará com a presença de autoridades locais e estaduais, entidades e instituições e sociedade civil. Com transmissão ao vivo à partir das 14h30 min pelo Facebook da Prefeitura Municipal de Ilópolis, a Festa da Colheita da Erva-Mate já tem o calendário definido: 2022 em Venâncio Aires; 2023 em Novo Barreiro; 2024 em Erechim; e em 2025 em Machadinho. O evento acontece com a presença de um grupo restrito de convidados, respeitando os protocolos de enfrentamento à Covid-19.

CLÁUDIA E SÉRGIO MÜLLER APOSTARAM NA PRODUÇÃO DE SUCULENTAS

Nos últimos anos, o turismo rural ganhou evidência em Venâncio Aires, com o incentivo da Administração Municipal para que os empreendedores apostassem na área, por meio de ações para levar o público ao campo. Em diferentes localidades e de variadas formas, seja para atrair a um ponto turístico ou comercializar produtos, empreendedores rurais apostam nesta nova forma de atuação no meio rural. Em Linha 17 de Junho, Cláudia e Sérgio Müller montaram um jardim de suculentas. A produção começou pequena há cerca de três anos, como um hobby. Agora, eles recebem clientes de diferentes municípios. Além da aquisição das plantas, o público é levado até o local pela beleza do espaço. No ano passado, a propriedade ganhou um nome: Jardim Secreto das Suculentas. Por meio da rede social Facebook, eles fazem contatos e divulgação do trabalho. “É muito legal, além da venda das plantas é um espaço para troca de ideias, as pessoas gostam de vir até aqui para um passeio em meio à natureza”, comemora. Atualmente, são 350 variedades de suculentas disponíveis, a maioria delas cultivada no local. “Eu pretendo chegar a 600, gosto muito do que faço, tenho um carinho muito grande por cada muda que cultivo”, completa. Quando começou a produzir suculentas, Cláudia também apostou nas pimentas. “Tenho alguma coisa ainda e isso também traz muita gente até aqui”, conta. No entanto, devido a uma perda grande que teve com a geada há alguns anos, decidiu se dedicar mais às suculentas e aos cactos. “Tudo começou quando minha filha queria uma ideia de presente para uma colega e eu sugeri de fazer um terrário. Me apaixonei por isso e hoje estou sempre buscando uma novidade para oferecer”, compartilha.

MUDANÇA

Sérgio ajuda a esposa no cultivo de suculentas há pouco mais de um ano. Após 38 anos de exercício na profissão de cabeleireiro, teve que deixar

a tesoura na gaveta devido ao início da pandemia de coronavírus. Como tem problemas cardíacos, Müller foi orientado pelo médico para evitar o contato com muitas pessoas. “No início, estranhei ficar só em casa, mas no interior sempre tem o que fazer”, reforça. Além de auxiliar nas suculentas, ele também cuida da horta para consumo da família e criação de gado e galinhas.

Atrativos A propriedade da família também conta com muitos pés de árvores frutíferas, principalmente bergamotas, o que é também é atração para os turistas que vão até o local. As visitas podem ser agendadas pelo telefone (51) 99932-2591.

ESPAÇO CHAMA A ATENÇÃO PELA BELEZA E ATENÇÃO AOS DETALHES

REPORTAGEM

Cassiane Rodrigues cassiane@folhadomate.com.br


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.