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Adeus Chicão Ravacci

Lucas Ravacci (assistente social/ professor universitário/escritor)

Na noite da última quinta feira, 23 de fevereiro de 2023, fomos tristemente surpreendidos com a notícia do falecimento de nosso muito amado primo Chicão Ravacci, após curtíssimo período de enfermidade. Ainda contagiado pelos dias felizes do carnaval, ao ser notificado em nosso grupo familiar, confesso-lhes que custei a acreditar. No primeiro momento julguei tratar-se de uma “fake news”, uma informação equivocada ou até mesmo uma confusão de nomes, tal qual ocorrera com um outro familiar nosso, meses anteriores. Mas, em busca de informações mais seguras, recebi a resposta que entristeceu por completo o coração: morrera o grande Chicão.

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A verdade é que o Chico era uma pessoa com um alto astral contagiante, dessas que a gen- te achava que nunca fossem morrer e, realmente, não queríamos mesmo que morresse. Foi um ser humano fantástico, um professor admirável e uma alma generosa. Bem humorado, não perdia a oportunidade de fazer boas piadas, tirando-nos várias gargalhadas em momentos felizes e tristes, literalmente, não havia tempo ruim para ele. Todos os bons adjetivos do vocabulário da língua portuguesa combinavam perfeitamente com ele, afinal era uma pessoa que sabia viver bem a vida com tudo e com todos.

Nascido em 10 de março de 1951, foi batizado Francisco Ravacci Neto em homenagem ao avô paterno, que era irmão de meu bisavô Mário, ambos vindos da Itália em 1897. Seus pais foram Orlando Ravacci e Maria

Conceição Ravacci, casal de grande atuação humanitária em Itapetininga. Foi um dos discípulos da freira beneditina Madre Maura Caixeiro, no grupo para jovens “Caminho”, onde conquistou grandes amizades e formação cristã de grande devoção. Casou-se com Eloisa Apareci- da Assis Lopes Vieira Ravacci, o grande amor de sua vida, mas, não tiveram filhos; viveram intensamente um para o outro, até a partida dela, que abalou-o profundamente. Era meu primo, consanguíneo e grande amigo. Pela grande diferença de idade não convivemos o tanto que eu gostaria, mas, o suficiente para que se estabelecesse uma grande simpatia e afeto de minha parte por sua pessoa, sobretudo, pelos inúmeros fins de tarde na Padaria São Francisco, onde sentávamos para tomar nossas bebidas e falarmos sobre diversos assuntos familiares, acadêmicos, sociais, profanos, engraçados e históricos. Quando eu precisava perguntar-lhe algo, mandava uma mensagem de whatsapp com a indagação, recebendo dele sempre a mesma resposta: “Luca, estarei na padaria a partir das 18h, apareça lá para a gente conversar”. Fazia questão do encontro, do diálogo, do abraço, da convivência e das boas gargalhadas, ocasiões estas, que renderam-me muitas memórias.

Psicólogo de for- mação, um dos que eu mais admirava como profissional, era absolutamente modesto, espontâneo e humilde, porém, dono de um alto grau de sabedoria. Foi uma grande referência no serviço público pela atuação comprometida e dedicada, bem como, por sua grande influência na luta pela oferta do tratamento psiquiátrico humanístico, sendo um dos pioneiros na defesa desse direito na política pública de saúde. Professor universitário como eu, ofereceu-me sempre valorosos conselhos para atuação em sala de aula, demonstrando sua preocupação com o futuro da acadêmia, a necessidade da produção literária científica e o compromisso ético-político das profissões das Ciências Humanas. Plantou sementes fecundas em sua jornada de docente, o que ficou evidente para nós ao observarmos nas redes sociais, as tantas manifestações de apreço oferecida por seus alunos com emoção e gratidão, recordando sua didática no ensino da psicologia da educação, a história de Kamala e Amala e os métodos da psicologia behaviorista.

Foi um verdadeiro mestre! Ao partir assim, rapidamente e sem aviso prévio, ecoam em minha cabeça seus bordões mais repetidos: “Que marvadeza”, “nem Freud explica”. E tendo que aceitar a fatídica despedida, o alento que nos é dado em toda essa vivência, foi muito bem expressado na afirmativa de uma de suas grandes amigas, Maria Teresa Espolaor, “A morte de Chicão não deixa um vazio, deixa um jardim de boas memórias”. Que Deus o tenha recebido!