Foca Livre 220

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FOCA LIVRE JORNALISMO UEPG | NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2021 | EDIÇÃO 220

Mulheres temem mais assédio sexual nas ruas do que assalto Pesquisa feita pelo Foca Livre com 30 moradoras de Ponta Grossa indica que 86% delas têm mais medo de sofrerem assédio sexual do que serem assaltadas; 56% das entrevistadas já foram vítimas de importunação sexual no ônibus ou carros de aplicativo p.8

ANA CAROLINA BARBATO

MAUS-TRATOS

Guarda Municipal de PG registrou 236 denúncias de violência contra animais em 2021. No Paraná, até maio foram 4,8 mil registros p.4

ECONOMIA

SOCIEDADE

GERAL

SAÚDE

Alta no preço da carne muda hábitos de consumo; famílias buscam opções mais baratas, como frango e porco p.3

Atendimento a moradores de rua cresce em PG; média passou de 64 em 2020 para 74 em 2021 p.5

Número de jovens assassinados salta em PG; em 2021 foram 12 mortes, contra 10 em 2020 e oito em 2019 p.10

Por ano, câncer de próstata mata mais de 15 mil homens no país; 65 mil descobrem ter a doença p.12


OPINIÃO

02

EDITORIAL

ENSAIO

Ano novo, vida nova!

Esta seção apresenta fotografias feitas pela equipe do jornal Foca Livre. O tema da edição 220 é o Natal.

O Foca Livre chega à última edição de 2021 com notícias da UEPG e de Ponta Grossa. Este número, por causa da pandemia, também foi feito de maneira remota. Mas o próxi‐ mo, se o coronavírus estiver controlado e se a expectativa de volta às aulas em fevereiro se mantiver, deverá ser feito presencialmente, nos laborató‐ rios do campus central da uni‐ versidade. E mais: é provável que seja entregue aos leitores, além das plataformas digitais, no formato impresso. Imprimir o jornal é um dos maiores de‐ sejos da equipe que faz o Fo‐ ca. O registro em papel, além das lições de cor da impres‐ são, tem um quê de histórico. Afinal, o papel foi o primeiro material em que as notícias fo‐ ram impressas e passaram a circular entre as pessoas. Aprendizados. Realizar a produção de um jornal de ma‐ neira completamente remota tem sido um dos maiores desa‐ fios que a equipe do Foca já enfrentou. Perdemos o olho no olho de uma entrevista, passa‐ mos longas horas sentados na frente de computadores e não sentimos o frio na barriga de um dia de fechamento cheio de abraços aliviados. Porém, no processo ganhamos aprendiza‐ dos que levaremos para o resto de nossas carreiras. Apesar de todos os contratempos, a tur‐ ma 35 conseguiu entregar

o melhor para dar continuidade à história do Foca Livre. Fo‐ ram três edições feitas total‐ mente no modo remoto. A última alcançou 4 mil acessos em dois dias, um marco inesquecível. Destaques. Nesta edição, você confere matérias de Edu‐ cação, Economia, Cidades, Am‐ biente, Sociedade e Geral. Dentre os destaques está o au‐ mento de denúncias de maus­ tratos contra animais e o cresci‐ mento da população de rua em Ponta Grossa. Há também uma pesquisa exclusiva feita pelo Foca sobre importunação sexu‐ al em Ponta Grossa. Trazemos relatos de famíli‐ as que, diante do aumento do preço da carne reduziram o consumo. Contamos sobre a cri‐ ação de museus na cidade. Na Educação, este número fala so‐ bre o novo ensino médio e cotas para negros nas intituições de ensino superior. Reclamações sobre a trin‐ cheira de acesso à BR­376 e a controversa obra na praça Hil‐ da Roedel também são desta‐ ques. Na saúde, o destaque é o câncer de próstata, que afeta 29% dos homens no país anual‐ mente. Agradecemos por acom‐ panhar nossa jornada pelo Jornalismo feito de casa, por uma equipe que aprendeu como nunca a superar as adversida‐ des. Boa leitura e até o ano que vem, com um novo percurso: o retorno ao presencial!

MARIA LUIZA PONTALDI

ANA CAROLINA BARBATO

VINICIUS SAMPAIO

MARIA LUIZA PONTALDI

EXPEDIENTE Editoras - executivas: Helena Denck, Valéria Laroca e Victória Sellares Editor de diagramação: Matheus Gaston

Foca Livre é o jornal-laboratório do curso de Jornalismo da UEPG E-mail: uepgfocalivre@gmail.com Departamento de Jornalismo UEPG - Campus Central - Praça Santos Andrade, n° 01 - Centro CEP: 84010-330 - Ponta Grossa/PR Telefone: (42) 3220-3389

Edição de texto: Ana Moraes, Bettina Guarienti, Carolina Olegário, Carlos Eduardo Mendes, Isadora Ricardo, Leriany Barbosa, Jornal produzido e editado na Lilian Magalhães, Lincoln Buch, Mariana Gonçalves, Mariana Real e disciplina “Núcleo de Redação Integrada I” William Brasil Professores responsáveis: Cândida de Oliveira (MTB16767-RS) e Diagramação: Amanda Martins, Ana Carolina Barbato, Carlos Solek, Jeferson Bertolini Cassiana Tozati, Catharina Iavorski, Notícias integradas com a Janaina Cassol, Kathleen Schenberger, Lucas Ribeiro, Maria disciplina “Produção e Edição de Textos Jornalísticos II” Eduarda Ribeiro, Maria Luiza Pontaldi, Tamires Limurci e Vinicius Responsável: Prof. Muriel Emídio Pessoa do Amaral (MTB 6963 - PR) Sampaio Edição de imagens: Ana Luiza Bertelli Dimbarre Heryvelton Martins Repórteres: Consulte a autoria das reportagens diretamente na página da notícia

Projeto gráfico integrado com a disciplina "Design em Jornalismo" Responsável: Prof. Maurício Liesen (MTB 2666 - PB)

CAROLINA OLEGÁRIO


ECONOMIA

03 JANAINA CASSOL

COMÉRCIO

Lojistas esperam alta nas vendas de fim de ano HERYVELTON MARTINS

Consumo insuficiente de proteína animal, um dos reflexos da alta no valor, pode causar déficit alimentar

PONTA GROSSA

Elevação no preço da carne altera hábitos de consumo ANA LUIZA BERTELLI DIMBARRE JANAINA CASSOL

“O preço da comida aumenta e o salário continua o mesmo. Faze­ mos redução e tentamos comer menos carne para não gastar.” Es­ se é o relato de Marta Lemes da Rosa, mãe de dois filhos e servi­ dora pública. O marido de Marta foi afastado do trabalho durante a pandemia por fazer parte do grupo de risco, o que afetou a renda mensal em sua casa. Marta aponta que em função da alta no preço dos alimentos, a carne bovina, por exemplo, já não faz mais parte da alimentação da família. A fim de substituir a carne vermelha, a servidora precisou optar por outras proteínas ani­ mais, como os cortes de baixo va­ lor nutricional de frango e de porco, além de embutidos. “Você ia no mercado, comprava R$100 de carne e passava o mês. Hoje, este valor não dá nem para a se­ mana. Estou cortando a mortadela em pedaços e fritando para ficar parecido com o bacon”, destaca. Outra solução encontrada por Marta foi consumir ovos, legumes e frutas no dia a dia. É o mesmo caso de Antônio Pereira Barbosa. Aposentado, Barbosa deixou de ingerir cortes vermelhos e precisou optar por outros alimentos a fim de conse­

guir sustentar a sua casa. “Se eu opto por comprar carne, faltam os outros alimentos que nos susten­ tam, como o arroz, feijão e verdu­ ras. Churrasco aqui em casa nós já esquecemos, não temos condições de fazer. Buscamos comprar o frango inteiro, por exemplo, para aproveitar tudo”, relata. Inflação. Segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumi­ dor Amplo (IPCA), as carnes acu­ mularam alta de mais de 22% entre os meses de junho de 2020 e setembro de 2021. Em outubro, os valores dos cortes caíram em 0,31%, mas a diferença ainda não é sentida no bolso do consumidor. De acordo com o economista João Adolfo Stadler Colombo, a variação dos preços se deve ao aumento nos custos de outros se­ tores que influenciam tanto na produção, quanto no transporte e na refrigeração desses alimentos, como a ração, o combustível, a energia elétrica e a água. Além disso, a alta do dólar e as exporta­ ções dos cortes também contribuí­ ram para encarecer o mercado. Para além destes fatores, os produtores de gado brasileiro têm maiores interesses em vender os cortes ao mercado internacional, a fim de lucrar mais. “Enquanto há grupos econômicos beneficiados com a conjuntura atual, ocorre um declínio na qualidade de vida de

famílias mais pobres, visto que não ocorrem reajustes na renda.” Houve uma alta demanda no mercado brasileiro diante do con­ sumo das carnes de frango e de porco, o que contribuiu para a es­ cassez dos cortes e aumento do valor. “Para essas pessoas que desde antes da pandemia já passa­ vam por momentos difíceis, agora elas se encontram em condições subumanas, recorrendo a ossos, tripas ou aquilo que consiga pro­ ver qualquer fonte de proteína”, descreve Colombo. Nutrição. Segundo a Organi­ zação Mundial da Saúde (OMS), o consumo diário de proteína de­ ve ser de 0,8 a 1,5g por quilo de cada pessoa. Apesar de poder substituir a carne pela proteína ve­ getal, as substâncias que com­ põem a de origem animal são mais completas nos aminoácidos essenciais e não são produzidas pelo organismo. “Quando não é ingerido carne, é preciso atentar­ se aos baixos níveis de vitamina B12, vitamina D, ferro, zinco e ômega 3. Caso contrário, as pes­ soas entram em vulnerabilidade alimentar”, destaca a nutricionista Danila Gavron. Uma alternativa, é ingerir grandes quantidades de alimentos de origens vegetais, co­ mo lentilhas e amêndoas. Porém, o preço desses nutrientes também pesa no bolso do consumidor.

As festividades que marcam o fim de ano devem gerar também uma retomada econômica favorável às empresas e ao comércio de Ponta Grossa. Durante a pandemia de Covid­19, o número de vendas foi bastante reduzido e, após a vaci­ nação, a expectativa é de alta nas vendas dos comerciantes. Bruna Lincon Freire é dona de uma loja de presentes. A lojista lembra que no Natal do ano pas­ sado as vendas foram boas, mas espera vender mais em 2021, uma vez que as festas de fim de ano estimulam as compras. A empre­ sária destaca que já percebeu nos clientes uma vontade de presente­ ar os familiares. “Os clientes vêm numa empolgação, querem saber quando vamos enfeitar a loja para o Natal, querem começar logo as compras de fim de ano”, afirma. Ricardo Dias Bueno, dono de uma loja de móveis na cidade, não vê a hora de enfeitar a loja para atrair os clientes às compras. O comerciante avalia que as ven­ das devem ser cerca de 70% a mais quando comparadas ao mes­ mo período do ano passado. “De pouco em pouco as vendas sobem e normalmente no Natal acontece o maior aumento”, detalha. Cenário. O presidente do Sindicato dos lojistas de Ponta Grossa (Sindilojas), José Loureiro Neto, está otimista com a atual si­ tuação. A expectativa é grande, ainda mais quando pesquisas apontam que o Natal deve injetar mais de R$ 70 bilhões no comér­ cio em todo país. “Em Ponta Grossa estamos em ritmo de reto­ mada econômica, com as famílias voltando às compras”, afirmou. O cenário natalino favorece o movimento neste final de ano em Ponta Grossa. Devem ser investi­ dos R$ 800 mil para enfeitar a ci­ dade com o tema ‘Sonho de Cristal para a noite de Natal – Parque do Lago de Olarias’. O parque é prioridade e deve receber enfeites especiais. Somados a aproximadamente R$ 200 mil destinados à decoração natalina do Centro da cidade, os investi­ mentos com enfeites para o “Natal Iluminado de Ponta Grossa” giram em torno de R$ 1 milhão.


04

AMBIENTE ANA CAROLINA BARBATO

ABASTECIMENTO

Moradores reclamam da água ofertada pela Sanepar HELENA DENCK

Em Ponta Grossa, animais domésticos sofrem negligências e agressões

MAUS-TRATOS

Denúncias de violência contra animais crescem 111,6% no Paraná ANA CAROLINA BARBATO

Nos primeiros cinco meses de 2021 o número de denúncias de maus­tratos a animais domésticos aumentou 111,6% no Paraná em comparação ao mesmo período de 2020, segundo dados do Disque Denúncia 181. O número foi de 2.298 para 4.864. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP­PR), a confiança na ferra‐ menta e a facilidade para denunci‐ ar são um dos fatores que contribuíram para o aumento. Em Ponta Grossa, a Guarda Municipal registrou 161 denúnci‐ as ano passado e 236 neste ano; o que revela um aumento de 46,6%. Até o momento, em 2021, a Polí‐ cia Civil fez 221 atendimentos e 12 prisões em flagrante na cidade. Na maioria dos casos, os maus­ tratos acontecem por negligência domiciliar, quando o dono deixa de alimentar e dar água para o animal. Após o resgate, os ani‐ mais são encaminhados para as ONGs que atuam na cidade. Durante este ano, a ONG SOS Bichos atendeu 25 animais que sofreram maus­tratos; muitos chegam desidratados e desnutri‐ dos. Segundo a funcionária, Clau‐ dete Santos, o crescimento das denúncias não se dá pelo aumento

da violência em si, mas por outro motivo. “Acreditamos que au‐ mentou pela maior divulgação das formas de denúncia”. Para Ana Paula Miléo, volun‐ tária na ONG, a mudança das leis direcionadas aos cães e gatos tam‐ bém contribuiu para o aumento de denúncias. “As pessoas passam a ter mais consciência da proibição da crueldade e passam a denunci‐ ar, e aqueles que tratam os ani‐ mais de forma errada pensam mais antes de serem agressivos”. De acordo com Ana Paula, parte dos agressores não chegava a ser preso antes da mudança na Lei em 2020, e agora isso mudou. Lei. Aprovada em 29 de se‐ tembro do ano passado, a Lei 14.064 prevê o aumento das penas relacionadas a maus­tratos aos animais quando se tratar de cães ou gatos. A pena varia de multa a reclusão, e varia de dois a cinco anos e pode aumentar caso ocorra a morte do animal. Antes, as pe‐ nas eram válidas para crime de maus­tratos e violência contra qualquer tipo de animais. Denúncia. Basta ligar para o número do Disque Denúncia 181, Guarda Municipal pelo 153, ou Polícia Militar pelo 190. Se possível, a denúncia deve ser feita com foto e vídeo do animalzinho.

Habitantes de diferentes bairros de Ponta Grossa falam sobre a fal‐ ta de qualidade da água que rece‐ bem em suas casas. As reclamações surgiram depois de denúncias so‐ bre a presença de microcrustáceos na água fornecida à população da cidade em outubro. O fato gerou a abertura de um inquérito pelo Mi‐ nistério Público do Paraná para investigação do ocorrido. Os mo‐ radores relatam ainda que a colo‐ ração e o odor estão estranhos, além de terem mais gastos com a limpeza de caixas d’água e difi‐ culdade em realizar atividades bá‐ sicas do cotidiano, como lavar as roupas, por conta das impurezas encontradas na água. Ofelia D’Alves, moradora do bairro Nova Rússia, demonstra in‐ dignação com a qualidade da água que tem recebido em sua casa nos últimos tempos. Ofelia afirma que está com medo de consumir a água por conta da coloração escu‐ ra e da presença dos microcrustá‐ ceos. “Não me sinto segura em tomar essa água, ninguém da casa está ingerindo ela, nem mesmo meus bichinhos”, explica a mora‐ dora, que agora tem que comprar água separadamente para o consu‐ mo. Ela conta ainda que ativida‐ des comuns do dia a dia, como lavar roupas, foram dificultadas pela presença desses organismos que prejudicam, inclusive, a ma‐ nutenção e limpeza do equipa‐ mento doméstico, já que o filtro da máquina de lavar acumula toda a sujeira da água e fica obstruído. Além dos moradores da No‐ va Rússia, outros bairros sofrem com a péssima qualidade da água. Vanessa Edling, moradora do

bairro Palmeirinha, afirma que há tempos sente um cheiro forte de cloro na água que chega até sua casa. “Não sei se o cloro é utiliza‐ do em alta quantidade por causa da sujeira da água, mas é um chei‐ ro muito forte”, explica. Vanessa ainda conta que, após os períodos de falta de água, é comum ela vol‐ tar com uma aparência de barro, com muita sujeira, e demora longo período para ficar com a coloração e odor normais. Larissa Strack, moradora do Jardim Pontagrossense, passa por situações ainda mais graves, pois a falta de qualidade na água afe‐ tou a sua saúde e a des seus parentes. Ela afirma que toda a fa‐ mília começou a ter diarréias e dores de cabeça frequentes, e que só melhoraram quando eles para‐ ram de ingerir a água da torneira. “Estamos no prejuízo, pois além de estarmos comprando água de fora, teremos que pagar pela água contaminada e limpar a caixa d’á‐ gua”. Larissa conta que também sente um cheiro forte na água e o compara com o cheiro químico dos produtos de limpeza. Pronunciamento. A Sanepar, empresa que realiza o tratamento e a distribuição da água em Ponta Grossa, por intermédio de sua as‐ sessoria de imprensa, afirma que são seguidos todos os procedi‐ mentos obrigatórios pela legisla‐ ção para assegurar a qualidade da água distribuída para a população. A empresa declara ainda que o problema dos microcrustáceos desconhecidos já foi solucionado por meio da adoção de medidas operacionais envolvendo o trata‐ mento e a distribuição de uma água segura e própria para consumo nos lares da cidade. ANA CAROLINA BARBATO

Devido impurezas, ponta-grossenses evitam consumir água da torneira


SOCIEDADE

05

POBREZA

Atendimento à população em situação de rua em PG aumenta 15% entre 2020 e 2021 LUCAS FELD/LENTE QUENTE/2019

CATHARINA IAVORSKI

Para quem vive em Ponta Grossa é perceptível o aumento de mora‐ dores de rua ou pessoas em situa‐ ção de rua. De acordo com dados do Centro de Referência Especia‐ lizado para População em Situa‐ ção de Rua (Creas/Pop) e da Abordagem Social de Ponta Gros‐ sa, instituições públicas de auxílio à população vulnerável, 775 aten‐ dimentos foram realizados em 2020, uma média de 64 pessoas eram atendidas por mês. Entretan‐ to, entre janeiro e junho de 2021, o número de assistências passou para 74 ao mês, o que representa um aumento de 15,6% nos atendi‐ mentos realizados pelo Creas. Segundo o responsável da ONG Anjos da Noite, que presta atendimento à população de rua, Lucas Malaquias, é possível notar esse crescimento ao se considerar as pessoas que transitam por Pon‐ ta Grossa, mas que não ficam na cidade. “É muito comum que es‐ sas pessoas morem fora durante algumas estações do ano e depois retornem para Ponta Grossa, por exemplo, no verão é mais fácil conseguir alguma fonte de renda no litoral”, explica Lucas. De acordo com a Prefeitura de Ponta Grossa, não é possível

Os homens compõem cerca de 90% da população de rua em Ponta Grossa

afirmar se houve um aumento de moradores de rua, visto que não há um levantamento de dados es‐ pecíficos sobre o tema. "Sem um levantamento de dados, não temos como afirmar com certeza se esse aumento foi de moradores de rua ou pessoas em situação de rua",

declara a assessoria da Prefeitura. Perfil. Antes da pandemia, era comum ver pessoas em situação de rua em pontos específicos da cidade, como nos sinaleiros das avenidas no centro de Ponta Gros‐ sa. Entretanto, a presença de mu‐ lheres é mais comum nessas

regiões. Segundo Lucas Malaqui‐ as, elas não são muito vistas em outros pontos da cidade. "Quanto mais se afastar da região central, maior a tendência de encontrar mais homens”, comenta. Lucas assinala que, em Ponta Grossa, cerca de 90% da popula‐ ção em situação de rua são ho‐ mens. A técnica responsável pela organização da Casa da Acolhida, Francieli Ramos Padilha, confir‐ ma. "Os homens são quase 100% do público atendido, eles sempre buscam uma oportunidade no mercado de trabalho ou ajuda para internamento em comunidade te‐ rapêutica", comenta a técnica. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, o aumento da pobreza ge‐ rada pela pandemia no Brasil atin‐ giu 9,5 milhões de pessoas somente em agosto de 2020. Em fevereiro de 2021, 27 milhões de pessoas foram para a faixa da po‐ breza. A alteração no perfil socio‐ econômico da população, indica um agravamento da vulnerabilida‐ de e a falta de alternativas. “Eram pessoas que já estavam em uma situação complicada, seja a situa‐ ção de pobreza ou de miséria, e na pandemia elas perderam o pouco que tinham. Morar na rua, às ve‐ zes, acaba sendo a sua única op‐ ção”, observa Lucas Malaquias.

EDUCAÇÃO ESPECIAL

Crianças autistas adaptam rotina na pandemia MARIA EDUARDA RIBEIRO

Para crianças que apresentam Transtorno do Espectro Autista (TEA), manter a própria rotina é fundamental. Elas possuem facili‐ dade de fazer as mesmas coisas, nos mesmos horários e do mesmo jeito. Durante a pandemia, no en‐ tanto, muitos autistas que frequen‐ tavam terapias com psicólogos, fonoaudiólogos e psicopedagogos tiveram que parar o tratamento presencial. Outros estímulos fo‐ ram criados e alteram a rotina. Em Ponta Grossa, há mais de um ano, algumas associações que atendem pessoas com TEA vivem em um contexto atípico para de‐

senvolver atividades com os autis‐ tas, como é o caso da Associação de Proteção aos Autistas (Apro‐ aut) que atende 83 usuários em uma de suas unidades. A entidade deixou de receber as pessoas e precisou se adaptar para que a ro‐ tina e as atividades fossem manti‐ das nas casas dos autistas. Catarina Candia é neuropeda‐ goga e técnica de artes na Apro‐ aut. Ela revela que a associação tem realizado um trabalho especí‐ fico com base na rotina de cada autista, para continuar o acompa‐ nhamento pedagógico. “Muitos autistas não sabem falar, então nós fizemos painéis didáticos com figuras de atividades do dia a dia

de cada um como escovar os den‐ tes, comer, tomar banho e brincar para ajudá­los a identificar essas ações e começar a verbalizar.” Um dos principais desafios é adaptação dos lares, conforme as demandas de entretenimento e atenção que uma pessoa com TEA exige. Para Catarina, é necessário que os pais se dediquem, da mes‐ ma forma que os profissionais se inovam para garantir qualidade de vida aos pequenos, nesse tempo que os tira da zona de conforto. Dedicação. Fabíola Dalla La‐ na é esteticista, mas atualmente é mãe em tempo integral do Mi‐ guel. Seu filho, de apenas cinco anos, é autista e frequentava regu‐

larmente um centro terapêutico até que as aulas foram paralisadas. Para Miguel não sofrer com atra‐ sos no desenvolvimento, Fabíola se dedicou a realizar pequenas ati‐ vidades para ajudá­lo na hora de identificar as cores, números, ani‐ mais e outros tipos de comandos. “As principais atividades do Mi‐ guel são feitas para que ele acabe estimulando mais a sua coordena‐ ção, compreensão e fala, já que ele é uma criança não verbal”, explica a mãe. Com isso, Miguel está se tornando capaz de compre‐ ender e também de realizar suas tarefas necessárias do cotidiano, apesar da pouca interação social vivida causada pela pandemia.


UEPG

06

JOSÉ GABRIEL TRAMONTIN/LENTE QUENTE/2013

EDUCAÇÃO

Conselho aprova retorno às aulas presenciais em 2022 CAROLINA OLEGÁRIO

Em 2013, ingresso por raça foi discutido em reunião com presença de alunos

INCLUSÃO

Cotas para negros auxiliam no acesso à universidade MARIANA GONÇALVES

A criação de políticas públicas e ações afirmativas facilitou a entra‐ da de pessoas negras no ensino superior. A Lei de Cotas, sancio‐ nada em 2012, reserva 50% das vagas de universidades e institu‐ tos federais para estudantes auto‐ declarados negros, indígenas e alunos da escola pública. Na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), o processo de implantação da Política de Co‐ tas iniciou em 2005, com a cria‐ ção de um Grupo de Trabalho para discutir a democratização do acesso à universidade pública. Atualmente, 50% das vagas do vestibular são reservadas para es‐ tudantes de escolas públicas e destas, 10% são para negros. Apesar dos avanços, o acesso ao ensino superior não se deu de forma igualitária em todas as áre‐ as. Estudantes negros ainda são sub­representados em cursos co‐ mo medicina, direito e engenhari‐ as. Segundo a Assessoria de Comunicação da UEPG, em 2021, apenas 12 estudantes negros estão matriculados no Setor de Ciências Biológicas e da Saúde. No setor de Ciências Jurídicas, seis, e no Setor de Engenharias, Ciências Agrárias e de Tecnologia, cinco.

Questões estruturais como a dificuldade na conclusão do ensi‐ no fundamental e médio, o pre‐ conceito e a discriminação institucionalizados são alguns dos motivos que afastam estudantes negros dos cursos de graduação. Direito. Joelsio de Jesus Pe‐ reira da Silva, que ingressou na UEPG em 2020, é um dos poucos estudantes negros no curso de Ci‐ ências Biológicas. Ele conta que quando prestou vestibular cogitou utilizar cotas para alunos de esco‐ la pública, mas voltou atrás. “Eu senti que precisava utilizar [a cota para negros] porque é um direito meu. Eu como negro tenho direito de ter uma cota e de usufruir dela. Ser negro no Brasil não é fácil, e ver que uma universidade propor‐ ciona essa oportunidade é muito legal”. Para Joelsio, a falta de di‐ vulgação dessas vagas é o princi‐ pal responsável por seu não preenchimento na universidade. Ione da Silva Jovino, Pró­ Reitora de Assuntos Estudantis (PRAE) da UEPG, explica que a importância das cotas não mudou desde o início dos anos 2000. “A importância está em aumentar o número de negros na graduação e ampliar seus números em cargos que antes não eram alcançadas pe‐ la falta de formação.”

A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) retoma as ativida‐ des presenciais dos cursos de gra‐ duação e atividades de extensão em 7 de fevereiro de 2022. A Re‐ solução número 2021.14, aprova‐ da pelo Conselho Universitário (COU) no mês de novembro, pre‐ vê a exigência de documento que comprove a vacinação contra a Covid­19 para permanecer nas de‐ pendências da universidade. Em nota, o Sindicato dos Do‐ centes da UEPG (SindUepg) re‐ gistra preocupação quanto às medidas de segurança para a volta. “É dever de uma instituição que produz ciência estabelecer com clareza quais são os procedi‐ mentos cientificamente funda‐ mentados para o retorno seguro”. O sindicato propõe melhorias nas áreas acadêmico­pedagógica, de biossegurança e de infraestrutura. Estudantes. Consulta da Pró­ Reitoria de Assuntos Estudantis

(PRAE) mostra que 58,5% dos acadêmicos sentem­se seguros pa‐ ra o retorno presencial e 36,5% preferem retornar no próximo ano letivo, em maio de 2022. Um de‐ les é o Carlos Andrei Gross, aca‐ dêmico de Direito, que se preocupa com estudantes em fase de conclusão de curso, pois mui‐ tos retornarão à cidade para ape‐ nas dois meses de aula. A estudante de Educação Fí‐ sica Ana Caroline Stanisloski é fa‐ vorável ao retorno e considera que o ensino remoto dificulta o apren‐ dizado. “Está na hora de frequen‐ tar a universidade. Com a pandemia, saímos prejudicados pelo fato de não podermos apren‐ der na prática”, lamenta. A resolução prevê que os equipamentos de proteção individual necessários ainda serão definidos, assim como as medidas a serem tomadas em caso de noti‐ ficação de infecção por Covid­19 na universidade ou aumento nas taxas de transmissão do vírus.

ENSINO SUPERIOR

Parceria permite que presos prestem vestibular em PG VICTÓRIA SELLARES

Um convênio assinado entre a Pe‐ nitenciária Estadual de Ponta Grossa, Cadeia Hildebrando de Souza e a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) permite que detentos prestem vestibular e ingressem no ensino superior. O acordo possibilitou a participação de 72 presos, 66 homens e seis mulheres, no último vestibular de primavera da instituição. Ana Lúcia Kulcheski, peda‐ goga do sistema prisional, conta que além da oferta do ensino su‐ perior há alteração no modelo de pena. “Quem está na Cadeia Pú‐ blica ou Unidade de Segurança e for aprovado terá a oportunidade de ser transferido para a Unidade de Progressão, desde que atendam às condições necessárias para cur‐ sar a graduação presencialmente no retorno às aulas, durante o cumprimento de sua pena”. A pedagoga destaca que o

convênio sinaliza uma perspectiva diferente de futuro, e um novo ca‐ minho depois do cumprimento da pena. De acordo com Ana Lúcia, a preparação dos participantes foi realizada individualmente com apostilas doadas por cursos prepa‐ ratórios do município. Critérios. As instituições pri‐ sionais realizam uma seleção para avaliar quem está apto para parti‐ cipar. No caso dos que se enqua‐ dram no sistema de segurança, considera­se o comportamento e o tempo de pena a cumprir. São in‐ dicados os indivíduos que tenham um ano ou menos de sentença. Para Edson Luís Marchinski, da Coordenadoria de Processos de Seleção da UEPG, o convênio oferece uma oportunidade de res‐ socialização. “A UEPG, através da Pró­reitoria de Assuntos Estu‐ dantis fará o acolhimento dos que se tornarem calouros para serem bem atendidos e recebidos no am‐ biente da universidade.”


Educação

07

FORMAÇÃO

Novo Ensino Médio passa a valer em 2022 nas escolas públicas e privadas do Brasil ARILSON SCHENBERGER/DIVULGAÇÃO

KATHLEEN SCHENBERGER

O Novo Ensino Médio (NEM) deve começar a valer de forma obrigatória para estudantes do primeiro ano do ensino médio em 2022. Essa proposta de ensino aumenta a carga horária na escola de 800 para 1.000 horas anuais. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), a nova grade curricular deve destinar 60% das aulas para contemplar a Base Nacional Comum Curricular e 40% para itinerários formativos. Os itinerários formativos são um conjunto de disciplinas, ofici‐ nas, projetos, núcleos de estudo, focados em preparar o jovem para o mercado de trabalho. Sendo divididos em quatro áreas do conhecimento, são elas Matemáti‐ ca e suas Tecnologias, Linguagens e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Apli‐ cadas. O estudante deve escolher dois itinerários, acompanhados de formação técnica e profissional, para aprofundar os estudos. De acordo com o MEC, nenhuma disciplina será excluída, e de forma complementar, os estu‐ dantes serão orientados a criar um projeto de vida para estimular responsabilidade e dialogar sobre

Novo sistema será implantado em todos os anos do ensino médio até 2024

os projetos pessoais. O Ministério reforça que o objetivo principal do NEM é possibilitar que os alunos saiam com o diploma do ensino médio e curso técnico. Preparação. Em Ponta Grossa as escolas se preparam para iniciar o próximo ano letivo com

o novo sistema. Segundo o Nú‐ cleo Regional de Educação (NRE), todas as escolas, públicas ou pri‐ vadas, devem seguir este modelo. A coordenadora do NEM no mu‐ nicípio, Luciana Cristina de Sou‐ za, destaca que para aumentar a carga horária será implantada a

sexta aula nas escolas. Além disso, todas as escolas devem ofertar os itinerários na própria instituição. “Os itinerários são concomitantes e não haverá necessidade do alu‐ no se deslocar de uma escola para outra, todos terão acesso a itinerá‐ rios diferentes”, ressalta. Luciana salienta que apesar da nova dinâmica no ensino, as escolas possuem estrutura para aplicar os itinerários e nenhuma instituição pública passa por refor‐ mas em função do NEM. Segundo Luciana, os diretores e pedagogos de cada escola no Paraná já passa‐ ram por treinamento diretamente com a Secretária da Educação e do Esporte (Seed­PR) e devem auxiliar os professores na adapta‐ ção ao novo sistema. A mudança agrada alguns alunos, como é o caso de Yasmin Caroline Schmidt, aluna do 9º ano no Colégio Estadual Dorah Go‐ mes Daitschman. Ela destaca que a escola já passou pelas principais mudanças para o próximo ano. Yasmin afirma que levará algum tempo para se adaptar ao aumento da carga horária, mas acredita que a mudança é positiva. “Pode ser que melhore o aprendizado signi‐ ficativamente, pois acredito que a escola vai dar mais atenção aos alunos”, reforça Yasmin.

AULA EM CASA

Educadores criticam homeschooling no Paraná LUCAS RIBEIRO

O Paraná é o primeiro estado bra‐ sileiro a regulamentar o homes‐ chooling como opção educacional para alunos da educação básica (ní‐ veis infantil, fundamental e médio). A norma permite aos pais e res‐ ponsáveis optar pelo ensino domi‐ ciliar com supervisão e aplicação de avaliações periódicas sob a res‐ ponsabilidade dos próprios órgãos do sistema de ensino, mas educa‐ dores criticam a medida. O projeto de lei número 179/2021 foi apro‐ vado pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (ALEP) em 15 de setembro, com 38 votos fa‐ voráveis e oito contrários, e sanci‐

onado como Lei 20739 pelo gover‐ nador Ratinho Junior em outubro. A justificativa do projeto é que o homeschooling garante um ensino de qualidade e segurança para aqueles que optarem pelo método. No entanto, o professor adjunto do Departamento de Edu‐ cação da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Érico Ribas Machado, explica que as instituições educacionais já detém estrutura e capacitação para ga‐ rantir a segurança e o ensino dos alunos. “Os âmbitos profissionais são altamente planejados e exigem o máximo de qualidade daqueles que desejam trabalhar nos proces‐ sos escolares”, comenta.

Efeitos. Estudiosos debatem ainda as consequências na vida adulta daqueles que optarem pelo ensino domiciliar. A professora de pedagogia da UEPG, Márcia Bar‐ bosa da Silva, ressalta a importân‐ cia da convivência entre os alunos na preparação para a vida adulta. Márcia destaca que o convívio nas escolas entre os alunos é uma das melhores maneiras de desenvolver as experiências sociais, já que os mesmos estarão lidando com di‐ versas situações no ambiente. “Novas experiências podem auxi‐ liar a criança. Todas as vezes que o cérebro se depara com situações diferentes, ele desenvolve cami‐ nhos para lidar com a situação”,

explica a professora. A professora de Sociologia, Gilmara da Luz Pereira, destaca a desigualdade presente no homes‐ chooling. Ela explica que o ensino remoto foi um meio encontrado para suprir as necessidades trazi‐ das pela COVID­19, mas que sua continuidade através do ensino domiciliar é apenas para uma es‐ fera social. “É para uma classe que tenha condições financeiras, que possa dar um suporte bom pa‐ ra seus filhos e filhas”, diz. Além disso, Gilmara aponta que muitos alunos frequentam as escolas não apenas para fins estudantis, mas também como meio de suprir suas necessidades, como a alimentação.


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Diversidade

VIOLÊNCIA

Mulheres relatam episódios de assédio e importunação sexual em Ponta Grossa AMANDA MARTINS

AMANDA MARTINS

O assédio e a importunação sexu‐ al estão se tornando as principais causas do medo de mulheres ao saírem de suas casas para realizar suas atividades cotidianas. Atual‐ mente, em Ponta Grossa, diversas mulheres afirmam possuir mais medo de serem assediadas do que assaltadas. Um levantamento rea‐ lizado pela equipe do Foca Livre com 30 mulheres, na faixa etária de 16 e 43 anos, constatou uma grande vulnerabilidade na segu‐ rança de mulheres de diferentes classes sociais e ocupações. Inde‐ pendentemente do horário, 80% das participantes da pesquisa ale‐ gam já ter sido seguidas na rua por homens em carros, motos, bi‐ cicletas e até mesmo a pé. As abordagens variam entre pergun‐ tas de cunho íntimo, palavras e ações obscenas ditas e realizadas em transporte público. O maior índice de casos de assédio ou importunação sexual atualmente ocorre em meios de transportes públicos e privados. Situações como toques não permi‐ tidos, elogios excessivos e olhares maliciosos ocorreram com pelo menos 17 mulheres. A descrição mais comum são os toques reali‐ zados sob a alegação de ônibus

lotado e muitas das vítimas não recebem ajuda. Impunidade. A dificuldade em obter justiça fica mais comple‐ xa conforme a gravidade do caso aumenta. Fabielle Zander, empre‐ endedora, conta que não sofreu apenas assédio enquanto voltava do trabalho para casa. “Eu acabei sofrendo violência sexual em um terreno baldio próximo àminha casa, eu gritei e fui ouvida por um vizinho, mas [ele] não quis se me‐ ter nisso”, conta a empreendedo‐ ra. Fabielle expõe que chamou a polícia e fez um boletim de ocor‐ rência, mas o autor do crime nun‐ ca foi indiciado. As ocorrências de violência não se limitam apenas a agresso‐ res desconhecidos. Júlia Silva, es‐ tudante de 18 anos, conta que sofreu importunação sexual en‐ quanto era menor de idade e mo‐ rava na casa de seu pai. “Um primo dele tentou me agarrar na porta de casa, dizendo que só iria embora quando ele tivesse o que queria”, relata a jovem. Ela conta também que ao relatar o ocorrido ao seu pai, não teve apoio. Importunação. Outra víti‐ ma, que não quis se identificar, conta que aceitou uma carona de um conhecido de sua mãe, mas durante o trajeto, ele parou no es‐

tacionamento de um mercado e começou a agarrá­la. O homem passou a mão pelo corpo da víti‐ ma que teve suas roupas rasgadas. “Eu só consegui sair após me de‐ bater por uns 15 minutos, quando ele se assustou com uma pessoa que passou por perto”, relembra. A jovem relata não ter denunciado o assediador devido às diversas ameaças, além do medo da falta de apoio e da reação de sua mãe. Aproximadamente 90% das mulheres vítimas de assédio e im‐ portunação sexual, entrevistadas durante a pesquisa, relatam que não buscaram ajuda e não realiza‐ ram uma denúncia formal por me‐ do de ameaças feitas pelo autor do crime, além da falta de incentivo de familiares e/ou amigos, falta de credibilidade ao contar o ocorrido, pela culpa que a situação desenca‐ deia ou pelo assediador ser al‐ guém da família. De outras 10% que realizaram a denúncia, apenas um dos casos acabou sendo julga‐ do pela justiça. Denúncia. Para denunciar situações de assédio sexual, importunação sexual ou qualquer outro tipo de violência contra a mulher, entre em contato pelos números (42) 3309­1300 ou dis‐ que 180. Contate os órgãos res‐ ponsáveis. Denuncie.

NATAL

Comunidade LGBT+ reclama de discriminação CASSIANA TOZATI

Com a chegada das comemora‐ ções natalinas, a celebração da fa‐ mília ganha destaque. Este contexto tradicional de união no âmbito familiar, entretanto, muitas vezes não abarca pessoas da co‐ munidade LGBTQIAP+ que fi‐ cam sujeitas à exclusão ou constrangimentos no Natal. De acordo com o Disque 100 ou Dis‐ que Direitos Humanos, o tipo mais comum de violência contra as pessoas LGBTQIAP+ no Brasil é a discriminação, seguido por vi‐ olência psicológica. Uma estudante bissexual da UEPG, que não quis ser identifi‐

cada por não ter se assumido para a família, diz que as festas natali‐ nas das quais participa são tradici‐ onais: reúnem­se todos os familiares, muitas vezes levam acompanhantes e ao final da noite as mulheres lavam a louça. “O ambiente me incomoda. Me preo‐ cupa o fato de que se minha famí‐ lia soubesse quem eu realmente sou, eu não fizesse parte disso.” A estudante afirma que a maioria de seus parentes acredita não ser uma realidade ter uma pessoa LGBTQIAP+ na família. Além disso, muitas vezes seus fa‐ miliares usam termos ofensivos como “boiolas” para se referir aos integrantes da comunidade. “Já

falaram que não aceitariam essas pessoas na família e a expulsari‐ am de casa”, afirma. Por esses motivos, ela diz ter medo da rejei‐ ção da família e não tem coragem de se assumir. Nas festas de final de ano, ela conclui que não se sente como si mesma, mas sim como uma imagem que os famili‐ ares têm dela. Constrangimento. Além de constrangimento, existem casos de exclusão de pessoas assumidas e o rompimento de contato com a família. A coordenadora do Grupo Renascer Ponta Grossa, destinado ao acolhimento de pessoas da co‐ munidade LGBTQIAP+, Débora Lee, explica que a exclusão é uma

realidade para muitas mulheres travestis e transexuais. “Dificil‐ mente fico sabendo de brigas e constrangimentos, até mesmo por‐ que a nossa população não está no seio familiar”, relata. Débora avalia que muitas dessas pessoas encontram alternativas para não passarem as festas natalinas sem a companhia de ninguém. Conforme o Disque 100, xin‐ gamentos, injúria, hostilização e humilhação são alguns exemplos do que a comunidade enfrenta. No cenário natalino, geralmente hete‐ rocisnormativo, onde as normas giram em torno da heterossexuali‐ dade e cisgeneridade, este tipo de violência é evidente.


CIDADES LILIAN MAGALHÃES

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PONTA GROSSA

Moradores reclamam de obras na praça Hilda Roedel LERIANY BARBOSA

Estragos na via de acesso ao Contorno Leste indicam falta de manutenção

OBRAS

Via deteriorada afeta trânsito na trincheira de acesso à BR-376 LILIAN MAGALHÃES

Em setembro de 2020, a Secreta‐ ria do Estado e a CCR RodoNorte construíram uma trincheira para melhorar o fluxo de veículos na entrada da área urbana de Ponta Grossa, ligando o bairro Santa Bárbara ao Contorno Leste da BR­376. Inaugurada em junho de 2021, a via ainda recebe ajustes de iluminação e de sinalização e, mesmo com pouco tempo de uso, já se encontra deteriorada. Segun‐ do moradores do Santa Bárbara, os órgãos públicos não procura‐ ram vistoriar a condição do local que necessita de manutenção do asfalto para garantir um trânsito seguro, visto que aumentou a cir‐ culação de veículos pesados. Sheila Bley, moradora e dona de comércio no bairro, afirma que nenhum órgão da Prefeitura visi‐ tou o bairro para analisar o trecho da avenida Tocantins conectado diretamente à trincheira. “Moro na avenida há 20 anos e nunca ha‐ via pensado em ir embora, mas hoje a ideia é inevitável”. Sheila comenta que o perigo também afeta os pedestres, que precisam ter atenção redobrada para desviar dos buracos na rua, agravado pela falta de sinalização horizontal. José Nilton Nascimento, mo‐

rador da região, diz que a manu‐ tenção do asfalto seria ideal para sustentar o fluxo. “Os funcionári‐ os das indústrias se sentem inco‐ modados porque os caminhões ocupam toda a via, alguns deles estacionam e atrapalham o que deveria ser um fluxo dinâmico. As calçadas também foram destruí‐ das, mas ninguém veio arrumar”. Manutenção. Responsável pela obra da trincheira, Sebastião Neto, da secretaria CCR Rodo‐ Norte, diz que o trecho foi libera‐ do antes dos ajustes finais, como a instalação de postes de ilumina‐ ção e placas indicativas, para facilitar o fluxo o mais rápido possível. Ele esclarece que melho‐ rias na infraestrutura fazem parte da obra. Porém, Neto alega que a responsabilidade pela manutenção da via urbana, a partir da avenida Tocantins, cabe à Prefeitura. Em nota às demandas dos moradores para a produção desta matéria, a Prefeitura, através da Secretaria de Serviços Públicos, informa que a situação da rua será avaliada após visita de técnicos ao local em novembro. “Temos o nú‐ mero fixo 156 e também contato via e­mail que protocola os ques‐ tionamentos e demandas dos mo‐ radores, e estaremos vistoriando a área em breve”, afirma.

A Praça Hilda Roedel, localizada no bairro Ronda, passa por refor‐ mas de revitalização. Pela propos‐ ta apresentada à Prefeitura de Ponta Grossa, cerca de um terço do local foi cedido à Paróquia Santa Rita de Cássia para que um estacionamento fosse construído. As obras iniciaram em setembro e têm gerado discussões por parte da vizinhança que alega não ter sido consultada pela paróquia nem pela prefeitura. Os frequentadores da praça pensaram que o local seria revita‐ lizado, mas, até o momento, so‐ mente as obras do estacionamento foram iniciadas. Segundo mora‐ dores, a prefeitura não divulgou as negociações com a paróquia e trâmites que a autorizam a fazer a revitalização do local. Izabel Philipovsky é uma das moradoras do bairro que está in‐ comodada com as obras. Segundo a cidadã, a prefeitura não explicou como foram as negociações. “Fui até a prefeitura para saber sobre o trâmite e entender porque não foi realizada uma audiência pública com os moradores, para que todos fossem consultados sobre o pro‐ cesso de revitalização de um local que é público”, explica. Por esse motivo, Izabel coleta assinaturas dos moradores da Ronda para um abaixo­assinado com intuito de mostrar que não houve nenhuma consulta à vizinhança. O engenheiro da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Pla‐ nejamento, Mário Rochinski, re‐ vela que acompanhou a obra assim que a documentação do re‐ querimento foi protocolada atra‐ vés do parecer técnico e jurídico.

Rochinski informa que não houve um estudo de impacto de vizi‐ nhança pela prefeitura, mas afir‐ ma que o estacionamento será público e não apenas para uso da Paróquia Santa Rita de Cássia. Negociações. O diálogo so‐ bre a revitalização da Praça Hilda Roedel aconteceu em agosto de 2020, quando representantes da paróquia e da Associação de Pais e Amigos do Basquete (ASPA) se uniram para apresentar uma pro‐ posta à Prefeitura. A princípio, o objetivo era realizar melhorias no local, incluindo plantações de ár‐ vores e colocação de bancos. A proposta de revitalização contem‐ plava ainda reformas na quadra esportiva, mas essas melhorias ainda não saíram do papel. Quanto ao estacionamento, a solicitação inicial incluía a ampli‐ ação do número de vagas para veículos, pois metade da Rua Re‐ pública do Peru, uma via do bair‐ ro, já serve de estacionamento para fiéis e moradores. Após ne‐ gociações, a prefeita Elizabeth Schmidt cedeu o processo de revi‐ talização do local à paróquia, des‐ de que as obras fossem custeadas pela Igreja. A implementação ini‐ ciou quando a Secretaria Munici‐ pal de Meio Ambiente de Ponta Grossa autorizou a retirada de cer‐ ca de oito árvores da praça. O tesoureiro voluntário da Paróquia Santa Rita de Cássia, Dario Inacio, explica que o objeti‐ vo das reformas realizadas na pra‐ ça é acolher não somente fiéis, mas também toda a comunidade. “O projeto conta com a revitaliza‐ ção do espaço de lazer e de arbo‐ rização, onde serão colocados novos bancos, tudo para fazer bom uso da praça”, afirma. LERIANY BARBOSA

A revitalização, iniciada em 2020, causa transtornos a moradores do bairro


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geral

CORRESPONDÊNCIA

Paraná é o terceiro Estado do país com maior número de ataques de cães contra carteiros VALÉRIA LAROCA

A antiga rivalidade entre carteiros e cães, comum no imaginário so‐ cial, é um problema recorrente que afeta o trabalho da categoria. O Paraná é o terceiro estado do Brasil com o maior número de ataques de cães aos profissionais de serviços postais. Entre 2017 e 2021, foram 202 acidentes desta natureza, de acordo com a sede estadual da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Em Ponta Grossa, profissio‐ nais registraram formalmente cin‐ co ataques, dois deles em 2018 e três em 2019. A ECT obtém os dados a partir da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e destaca que a instalação incorreta das caixas de correspondência é um dos principais motivos dos acidentes com cães. Experiências. Carteiro há 13 anos em Ponta Grossa, Cleber Luiz Lopes explica que os bairros mais afastados, onde não há cer‐ cas ou muros, são os mais suscetí‐ veis a acidentes. “A primeira vez que fui mordido estava colocando a carta dentro da caixa de corres‐

pondência e um cachorro surgiu e mordeu minha mão, precisei ir ao hospital fazer curativo e tomar va‐ cina antitetânica”, relata. Um caso grave, segundo Cleber, envolveu uma colega que foi mordida na barriga e precisou ficar dois me‐ ses afastada do trabalho. Outro carteiro, que prefere não ser identificado, conta que muitos incidentes ocorreram nos seus 21 anos de profissão. Em um deles, um cão de pequeno porte conseguiu passar a cabeça pela grade do portão e furou seu pole‐ gar direito. O carteiro precisou de atendimento médico. Adestrador. De acordo com o adestrador de cães, Leandro Stelle, apesar de algumas raças possuírem um instinto natural de ataque, diversos fatores estimulam essa reação. “Os cães reconhecem gatilhos, como os sons das motos, os cheiros, movimentos bruscos. Se alguma vez ele latiu para al‐ guém chegando perto da residên‐ cia e essa pessoa recuou, ele vai entender que o que está fazendo é correto e repetir”. Leandro salien‐ ta que o medo também estimula: o cão se sente ameaçado e, como

PORTAL PERIÓDICO/ARQUIVO

Caixa de correio afixada incorretamente causa grande parte dos acidentes

defesa, ataca os empregadores. Prevenção. Para evitar aci‐ dentes, os Correios orientam que a caixa de correspondência deve ser instalada entre 1,20 e 1,50 me‐ tro do chão e sempre ter a abertu‐ ra direcionada para a rua. O adestrador também cita

medidas que podem ser tomadas pelos tutores dos animais. “Mos‐ trar para os cães que estes traba‐ lhadores não representam uma ameaça, ao invés de deixar latir, recompensar com um petisco. O portão de casa é estimulante e pe‐ rigoso, é preciso retirá­los dali”.

Karoline destaca que para re‐ solver o problema da reincidência criminal é necessário que as peni‐ tenciárias disponham de um pro‐ grama de ressocialização, o qual vise oportunizar a educação e a inclusão no mercado de trabalho. Coelho salienta que buscar incluir os ex­detentos em um meio social diferente do qual eles são originários seria essencial pa‐ ra a não reincidência. “Se a pes‐ soa que cometeu crime sair do presídio e voltar ao mesmo local, onde estão postas as mesmas cir‐ cunstâncias que fizeram ela come‐ ter o crime, a probabilidade é que ela volte a delinquir”, destaca Co‐ elho. Para a pesquisadora, é im‐ portante entender que os delitos não são puramente criminais, mas acontecem a partir de problemas sociais, como desemprego e falta de acesso à educação. Porém, no Brasil, só ocorre a repreensão, o que não soluciona o problema da violência. “O Estado deveria esta‐

belecer direitos sociais básicos, ao invés de se preocupar apenas em reprimir. Isso reduziria a crimina‐ lidade, mas não iria extingui­la.” Realidade. Uma fonte que não quis ter sua identidade revela‐ da conta que teve um primo assas‐ sinado neste ano em Ponta Grossa. Ela relata que o primo era um jovem de classe baixa e tinha envolvimento com drogas. “Uma hora a conta chega. Infelizmente ao jovem da periferia o caminho mais acessível para conseguir uma renda é o das drogas. Mas o mínimo deslize é fatal.” A fonte afirma que o primo não foi incen‐ tivado a frequentar a escola e cresceu em um ambiente onde o caminho natural levava ao crime. O rapaz assassinado tinha passa‐ gem pela polícia, mas mesmo após deixar a prisão voltou a co‐ meter crimes. O jovem tinha pen‐ dências com o tráfico de drogas, e como não conseguiu quitá­las acabou pagando com a vida.

VIOLÊNCIA

Assassinato de jovens cresce em PG em 2021, indica polícia CARLOS EDUARDO MENDES

O número de homicídios dolosos, quando há intenção de matar, cresceu em Ponta Grossa entre ja‐ neiro e outubro de 2021. De acor‐ do com dados obtidos pela reportagem, o município teve 47 casos no período, e até o final do ano pode ultrapassar a marca de 2020, quando ocorreram 54 homi‐ cídios. Em 2019, foram 48 homi‐ cídios. O problema se agrava quando se considera o número de jovens assassinados. Só neste ano, ocorreram 12 homicídios de jo‐ vens com menos de 21 anos, o que supera os oito casos de 2019 e os 10 de 2020. Segundo o chefe da 13ª Sub‐ divisão Policial de Ponta Grossa,

Nagib Nassif Palma, a maioria das vítimas jovens eram homens que estavam envolvidos com o tráfico de drogas. Outro dado do perfil das vítimas, conforme Palma, é que se tratam de pessoas com pas‐ sagem pela polícia por envolvi‐ mento com o tráfico ou que usavam tornozeleiras eletrônicas. A pesquisadora da área dos Direitos Humanos, professora Ka‐ roline Coelho, afirma que o perfil das vítimas mais jovens coincide com o da maioria dos presos no Brasil. “Esses jovens são geral‐ mente mais pobres e, além de não terem oportunidades de estudo e emprego, crescem em um meio onde o crime é algo naturalizado. Isso gera a chamada cultura do crime”, explica.


GERAL

11 CARMEN RAQUEL CUNHA E SILVA/DIVULGAÇÃO

DENGUE

Chuva e água parada geram alerta em PG CARLOS SOLEK

Fotografias, medalhas e outros objetos históricos serão expostos no Memorial do Basquete no ano que vem

MEMÓRIA

Projetos de novos museus crescem em Ponta Grossa MARIA LUIZA PONTALDI

Arte sacra, ciências naturais e his­ tória do basquetebol são temas contemplados em pelo menos três propostas para novos museus em Ponta Grossa. As iniciativas vi­ sam aproximar o público de sua própria história, disponibilizando acervos com obras, coleções e objetos já existentes entre outros itens que estão sendo angariados. Além disso, buscam transformar locais abandonados ou sem uso em lugares de memória. Duas das novas propostas de museus espe­ ram abrir os espaços para visita­ ção do público no próximo ano. Além de um local religioso, a Catedral de Ponta Grossa pode se tornar uma atração museológi­ ca. A ideia de criar o Museu da Catedral surgiu de um grupo de jovens há alguns anos. “Em 2019 o pároco nos incentivou e então reunimos um grupo para organi­ zar o acervo”, comenta Bruno Mansani, administrador do futuro Museu da Catedral. Este acervo estava guardado em uma das sa­ las do prédio, impossibilitando a visitação. O local destinado a comportar as obras sacras é o subsolo que, desde a construção, nunca havia sido utilizado. A or­ ganização do museu ficará a car­ go da Pastoral do Patrimônio e Assuntos Culturais, mas terá a

participação de outros paroquia­ nos. “Utilizamos os valores arre­ cadados com os ingressos das visitas para investir no museu, além de doações”, diz o adminis­ trador. A ideia inicial era deixar o museu pronto para o aniversário de 200 anos da paróquia, em 2023, mas o processo está parali­ sado e sem previsão de término devido à pandemia da Covid­19. Ciências naturais. No almo­ xarifado do campus de Uvaranas da Universidade Estadual de Pon­ ta Grossa (UEPG), será a sede do Museu de Ciências Naturais. “A ideia desse museu é apresentar o acervo que a UEPG já tem há muitos anos seguindo princípios museológicos”, afirma Antônio Liccardo, coordenador do museu. A iniciativa partiu de um projeto de extensão que ofertaria visitas aos laboratórios da instituição. “Tínhamos alguns anos de prática de receber visitantes, então nos juntamos para erguer essa ideia de museu”, explica. De acordo com Liccardo, o acervo foi organizado a partir de doações, coleções pes­ soais de pesquisadores e coleções científicas dos laboratórios da UEPG. A equipe é composta por seis alunos, além de professores voluntários. No momento, o mu­ seu está sendo organizado e estru­ turado, com previsão de abertura para o mês de março de 2022.

Idealizado pela ex­jogadora de basquete Carmen Raquel Cu­ nha e Silva, o projeto Memorial do Basquete de Ponta Grossa sai­ rá do papel. “Tudo começou com um grupo de amigos percebendo que vários troféus, revistas e jor­ nais estavam largados em ginási­ os e salas abandonadas”, explica Carmen, atualmente presidente da Associação do Memorial do Bas­ quete de Ponta Grossa. O acervo do Memorial é composto por bo­ las de basquete, medalhas, foto­ grafias, selos, flâmulas e troféus doados pela Liga Desportiva de Ponta Grossa e por ex­atletas do município, além de itens adquiri­ dos por leilões pela internet. No momento, a associação busca apoio para encaminhar a primeira parte do projeto, uma pesquisa mais aprofundada de acervo em outros locais da cidade, como o Museu Campos Gerais. Depois, a associação segue para a segunda parte: captar recursos pa­ ra começar a idealizar a execução do projeto. Por depender da deter­ minação de um espaço físico, a expectativa é que o Memorial abra em 2022. “Queremos fazer isso de uma forma que a comunidade possa visitar, reconhecer tudo o que já aconteceu e ainda acontece no basquete em Ponta Grossa, pois a história não se acaba, ela perpetua”, finaliza Carmem.

Após período de chuvas intensas, a dengue preocupa autoridades, profissionais da saúde e moradores da cidade. O Boletim Epidemioló­ gico de Dengue do Paraná, do dia 30 de novembro, informa 19 noti­ ficações de casos suspeitos de dengue em Ponta Grossa desde agosto, data do início do período epidemiológico 2021/2022. Com as chuvas, os focos do mosquito aumentam devido ao acúmulo de água parada em locais ao ar livre. Segundo a Prefeitura de Ponta Grossa, os casos estão controlados, mas a campanha de prevenção da doença, por meio de agentes comunitários que devem vistoriar locais e informar a popu­ lação, será intensificada neste final de ano para evitar a propagação do mosquito transmissor da dengue. Prevenção. O infectologista Isaías Cantoia Luiz, especialista em saúde pública, explica que as altas temperaturas e as chuvas de verão são favoráveis para o surgi­ mento do mosquito aedes aegypti, vetor da doença. “Muitas pessoas têm calhas e piscinas que não são limpas, caixas d’água sem cober­ tura, o que deve ser evitado, já que é suficiente para que o mosquito se reproduza”, reforça. Isaías aler­ ta que o mosquito circula na re­ gião, já que cidades como Castro, Telêmaco Borba e Sengés possu­ em casos confirmados. “É impor­ tante que todos os moradores da região evitem formação de cria­ douros do aedes”, ressalta. Sintomas. A universitária Ra­ faela Fernanda Oliveira, 19, con­ traiu dengue em 2019. Ela apresentou sintomas graves e foi hospitalizada por quatro dias. “A semana em que contrai a dengue foi terrível, tive fortes dores de ca­ beça, febre e náuseas. Nunca me senti tão mal a ponto de ser inter­ nada”, conta a estudante. Segundo o Ministério da Saúde, a dengue pode causar fe­ bre alta, dores intensas, dores de cabeça, mal­estar e manchas ver­ melhas no corpo infectado. Os es­ tágios da doença podem levar a internação e até a morte. Além disso, o mosquito pode transmitir outras doenças como febre amare­ la, zika vírus e chikungunya.


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SAÚDE

DOENÇA

Câncer de próstata, o segundo mais comum entre os homens, mata 15 mil por ano no país TAMIRES LIMURCI

Com campanhas de conscientiza­ ção sobre a saúde do homem, o mês de novembro é mundialmente denominado como Novembro A­ zul. A campanha sobre o câncer de próstata tem o intuito de cha­ mar a atenção para a prevenção e o tratamento da doença. Contudo, os exames preventivos devem ser realizados ao longo do ano. O câncer de próstata apresen­ ta a segunda maior incidência de cânceres em homens, sendo o pri­ meiro o câncer de pele, corres­ pondendo a um risco estimado de 62 novos casos a cada 100 mil ho­ mens. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a es­ timativa feita para o triênio 2020­ 2022 é que surjam, anualmente, 65.840 novos casos. O câncer de próstata causa é responsável por cerca de 15 mil óbitos anuais, sendo a segunda maior taxa de mortalidade por câncer que atinge homens no Brasil. A doença é um tumor que afeta a glândula localizada abaixo da bexiga e que envolve a uretra. Segundo a Secretaria da Saúde do Paraná, os sintomas iniciais mais comuns são dificuldade em urinar, presença de sangue na urina, de­ mora para começar e terminar de

urinar com a diminuição do jato de urina e a necessidade de ir ao banheiro diversas vezes. Além disso, em casos de doenças benig­ nas da próstata, pode ocorrer um aumento de tamanho da área e/ou inflamação na próstata, sendo co­ nhecida como prostatite. Em Ponta Grossa, o coorde­ nador da Atenção Primária, Thia­ go Bueno, explica que uma das maiores dificuldades encontradas é a falta de adesão dos homens por vergonha ou pela falta de cos­ tume em procurar um especialista. Conforme informações da Prefei­ tura Municipal de Ponta Grossa, em 2021, houve 24 mortes relaci­ onadas a neoplasia maligna da próstata. “O homem só não possui uma taxa maior de mortalidade, quando comparado com as mu­ lheres, na faixa­etária de 80 anos porque muitos acabam não che­ gando nessa idade”, comenta. Paciente. O agricultor José Antônio*, 42, descobriu o tumor na próstata em junho de 2021, en­ tretanto, sintomas como inchaço e dores na hora de evacuar ocorriam desde maio. Ao acreditar ser he­ morroida, José se automedicou. Somente após ir ao médico e re­ alizar exames de toque, a doença foi confirmada. “Tive muita sorte de ter descoberto cedo, mas me

sinto culpado de não ter ido ao médico antes, pois grande parte disso foi receio de fazer o exame de toque", afirma. O agricultor, que hoje faz radioterapia cinco di­ as da semana, com cerca de sete dias de pausa, revela que por con­ ta da vergonha, ainda não contou para todos os seus amigos e fami­ liares sobre o seu diagnóstico, po­ rém está determinado a incenti­ var os amigos a fazerem o exame para se previnirem da doença. "Existe muito preconceito com ir ao médico, principalmente para um exame retal. Toda vez que comento com alguns dos meus amigos sobre, sou chamado por apelidos pejorativos e começam as brincadeiras e provocações". Tratamentos. Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) o­ ferece todas as modalidades de tratamento de forma integral e gratuita, seguindo indicações de um médico especializado. A dura­ ção do exame leva, em média, cerca de cinco minutos. O Minis­ tério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS) não re­ comendam a realização de exa­ mes homens que ainda não te­ nham completado 40 anos de ida­ de e que não estejam apresentan­ do sintomas da doença. *Nome fictício a pedido da fonte.

TAMIRES LIMURCI

PSICOTERAPIA

Procura por atendimento cresce na pandemia ISADORA RICARDO

Devido ao isolamento social reco­ mendado para conter a pandemia, grande parte das pessoas perdeu vínculos afetivos e a proximidade física. Os possíveis impactos e­ mocionais gerados no contexto tornaram o atendimento psicológi­ co necessário, fazendo com que os consultórios e clínicas de psi­ coterapia registrassem aumento na procura. Além do atendimento presencial, os profissionais da á­ rea passaram a atender com mais frequência de forma online. O psicólogo Derek Kupski, que já trabalhava com o formato online, salienta que o avanço dos

casos da Covid­19 levaram os pacientes a ficarem com receio do deslocamento até a clínica. Por isso, a procura pelo atendimento online cresceu. “Eu noto um des­ gaste maior para manter a concen­ tração do paciente, já que os estímulos ficam restritos ao que se escuta e vê na tela, mas nada que comprometa a eficácia’’, relata. Derek afirma que a busca pela psicoterapia online aumentou em 250% no seu consultório. Mas, desde o mês de agosto, os núme­ ros se estabilizaram. A psicóloga Letícia Madurei­ ra acredita que um dos principais motivos para o aumento na pro­ cura é a necessidade de aprender a

lidar com situações e emoções que antes não eram tão neces­ sárias, como o luto, o isolamento e transtornos psicológicos. Pela superlotação na agenda, casos de urgência, como os de pessoas com pensamentos suici­ das ou ansiedade em graus eleva­ dos, estão sendo encaminhados para outros colegas de profissão. Iniciativas. A crise financei­ ra no período da pandemia difi­ cultou o acesso ao serviço. Porém, existem projetos que oferecem atendimento gratuito, como o Am­ bulatório de Saúde Integrativa, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Através do Pro­ jeto Inspire, são realizadas rodas

de terapia comunitária online, gra­ tuitas e abertas para a comunida­ de. Desde junho de 2021, o Am­ bulatório, que tem parceria com o Centro de Valorização à Vida (CVV), recebeu 2500 inscrições. Para atendimentos psicoló­ gicos individuais, há duas profis­ sionais contratadas para prestar acompanhamento à comunidade. A coordenadora do ambulatório, Milene Zanoni, destaca que as de­ mandas de saúde mental já eram amplas antes da pandemia, mas que se estenderam devido à crise. “A ideia do ambulatório é gerar autonomia, promover autoconhe­ cimento e trabalhar com formas de autocuidado’’, explica.


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