Voz de Nazaré

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BELÉM, DE 4 A 10 DE JANEIRO DE 2013

Vida Primavera do mundo Padre Idamor da Mota Jr. (idamorjr@yahoo.com.br)

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o artigo anterior falávamos do conceito de ‘Paternidade Responsável’ e da prática da abstinência que ela exige para que a mesma aconteça. Para reforçarmos ainda mais a importância da abstinência, mesmo na vida do casal, precisamos aprofundar um pouco mais a relação que existe entre amor e castidade. Já mencionamos anteriormente da dificuldade que alguns casais expressam em seguir os ensinamentos da Encíclica Humanae Vitae. A dificuldade talvez esteja no fato de que muitos acharem que a continência periódica para evitar a gravidez tornas e u m e m p e c i l h o p a ra expressarem um ao outro seu amor. Mas a pergunta que se faz aqui é “de que amor estamos falando”? De um amor verdadeiro e autêntico conforme o desígnio divino ou de um “amor” que busca somente compensação no prazer e na luxúria? É preciso então que se faça uma reflexão para se possa qualificar esse amor. Uma coisa é certa, todos nós, casados ou não, sabemos da dificuldade que vem da luta interna que travamos para se viver um amor verdadeiro. E essa luta vem exatamente do conflito entre amor e luxúria. Mas o Papa João Paulo II adverte que, se a intimidade sexual é apenas resultado da luxúria, ela não é amor. Muito

Teologia do Corpo - Amor e Castidade pelo contrário, é uma negação do amor. Eis aqui uma linha muito tênue que existe entre as duas realidades. O próprio Papa afirma que “aquilo que chamamos de amor, quando o submetemos a um exame crítico minucioso, não passa de uma forma de ‘usar’ a outra pessoa” (Amor e Responsabilidade, p. 167). Aq u i r e s i d e u m d o s grandes problemas que experimentamos em nossa sociedade atual. O fato de que muitas pessoas não conseguirem mais distinguir um verdadeiro ato de amor de um ato de luxúria. E os falsos conceitos disseminados pela mídia reforçam ainda mais isso. A expressão “fazer amor” coloquialmente usada, é um exemplo disso. Ela simplesmente reduz o amor, em todas as suas dimensões, a um ato puramente genital e luxurioso. E cada vez mais as pessoas perdem o sentido do amor numa sociedade massivamente ‘genitalizada’ onde o mesmo é simplesmente reduzido a um momento de prazer genital. Daqui desse simples exemplo, dá para se ter uma ideia de como nossa sociedade tem perdido a contemplação da beleza do

amor humano tal qual fora criado por Deus. Os contraceptivos, por e x e m p l o , e n t ra m a q u i t a m b é m c o m o g ra n d e s protagonistas desse cenário de obscuridade que se encontra nossa sociedade. Se perguntarmos:”para que servem os contraceptivos”? A pergunta mais óbvia é:”para evitar a gravidez”. Mas se perguntarmos novamente, por que se busca incessantemente “evitar a gravidez” utilizando-se de contraceptivos? No meio de tantas possibilidades de respostas existe uma que está no centro da questão. A contracepção tem como principal objetivo poupar o homem e a mulher modernos da dificuldade de se viver a abstinência sexual. Porque, simplesmente, essa palavra ‘abstinência’ foi banida do vocabulário moderno. Daí, podermos entender que os contraceptivos foram criados

justamente por causa do conceito d e ‘ s e xo l i v re ’ que se difundiu l a rg a m e n t e n a sociedade a partir d a “ r e vo l u ç ã o sexual”, que pregava que todos deviam buscar maximizar o prazer sexual da forma que quisessem e da forma que pudessem. Mas dentro dessa “novidade” da “revolução”, restava ainda um problema. A possibilidade de uma gravidez indesejada. Portanto, os contraceptivos foram criados para justificar a entrega total das pessoas à luxúria e não à busca do verdadeiro amor. Dentro desse panorama que vivemos hoje, os conceitos de ‘domínio de si’, ‘continência’, ‘abstinência’, ‘castidade’, parecem coisa de outro mundo e sem valor algum dentro da realidade pansexualista da sociedade. Mas para nós, crentes e tementes a Deus, isso deve ser prova de nosso amor e fidelidade ao plano de vida que Ele tem preparado para nós. Primeiramente, devemos levar em conta que a abstinência elevada ao nível de castidade

não pode ser entendida como algo negativo ou repressivo, mas como algo extremamente positivo e libertador. E ela é libertadora porque o domínio de si nos livra da nossa tendência de apenas querer “usar” os outros como objetos de nosso prazer e gratificação. É libertadora porque nos mostra que não vivemos como os animais, sem o uso da razão e guiados somente pelos instintos. É libertadora porque, sem o domínio de si, só nos resta duas alternativas: “ou o homem comanda suas paixões e obtém a paz, ou se deixa subjugar por elas e se torna infeliz” (CIC 2339). Dentro dessa perspectiva, a castidade, como domínio de si, passa então a ser oferta e louvor a Deus. Algo que se consegue somente através de esforço, renúncia, ascese. Algo que não reprime, mas liberta, porque entra na própria dinâmica da paixão de Cristo por nós. Ela entra na própria morte e ressurreição de Cristo. Isto significa que ao morrermos para a luxúria, nascemos para o verdadeiro amor. Quando a luxúria morre em nós, o amor autêntico ressuscita. O autor é mestre em Bioética e Diretor do CCFC

Na próxima semana, “Escutando o Coração”, com Ir. Lourdes Silva, fsp

Palavra de vida Chiara Lubich

“I

de, pois, aprender o que significa: Eu quero misericórdia e não sacrifícios”. (Mt 9,13; cf. Os 6,6) “... Eu quero misericórdia e não sacrifícios”.

Você se lembra quando foi que Jesus disse estas palavras? Ele estava à mesa e alguns publicanos e pecadores tinham se sentado junto dele. Notando isso, os fariseus presentes perguntaram aos seus discípulos: “Por que vosso Mestre come com os publicanos e pecadores?” E Jesus, ao ouvir essas palavras, respondeu:

“Ide, pois, aprender o que significa: Eu quero misericórdia e não sacrifícios”.

Ao citar essa frase do profeta Oseias, Jesus mostra que lhe agrada o conceito nela contido; com efeito, é a norma de seu próprio comportamento. Ela exprime a supremacia do amor sobre qualquer outro mandamento, sobre qualquer outra regra ou preceito. Este é o cristianismo: Jesus veio dizer que Deus quer de você, antes de tudo, o amor para com os outros – homens e mulheres –, e que essa vontade de Deus já tinha sido anunciada nas Escrituras, como demonstram as palavras do profeta. Pa ra c a d a c r i s t ã o o a m o r é o programa de sua vida, a lei fundamental de suas ações, o critério

de seu comportamento. O amor deve prevalecer sempre sobre qualquer outra lei. Mais ainda: o amor aos outros deve constituir, para o cristão, a base sólida que lhe permite legitimamente cumprir todas as outras normas. “... Eu quero misericórdia e não sacrifícios”.

Jesus quer o amor. E a misericórdia é uma expressão do amor. Ele quer que o cristão viva assim, antes de mais nada porque Deus é assim. Para Jesus, Deus é, acima de tudo, o misericordioso, o Pai que ama a todos, que faz nascer o sol e cair a chuva sobre os bons e sobre os maus. Uma vez que ama a todos, Jesus não tem receio de relacionar-se com os pecadores; e desse modo nos revela quem é Deus. Portanto, se Deus é assim, se Jesus é assim, você também deve nutrir os mesmos sentimentos. “... Eu quero misericórdia e não sacrifícios”.

“...não sacrifícios”. Se você não tiver amor pelo irmão, o seu culto não agrada a Jesus. Ele não acolhe a sua oração, a participação na Eucaristia, as ofertas que você pode fazer, se tudo isso não brotar do seu coração em paz com todos, rico de amor para com todos. Você se lembra daquelas palavras

tão marcantes que Jesus disse no Sermão da Montanha? “Portanto, quando estiveres levando a tua oferenda ao altar e ali te lembrares que o teu irmão tem algo contra ti, deixa a tua oferenda diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão. Só então, vai apresentar a tua oferenda” (Mt 5, 23-24). Essas palavras lhe dizem que o culto mais agradável a Deus é o amor ao próximo, amor que deve ser também colocado como base do culto a Deus. Se você quisesse dar um presente a seu pai, mas estivesse brigado com seu irmão (ou seu irmão com você), o que seu pai lhe diria? “Faça primeiro as pazes; depois pode vir com o seu presente”. Mas isso não é tudo. O amor não é só a base da vivência cristã. Ele é também o caminho mais direto para ficar em comunhão com Deus. É o que dizem os santos, testemunhas do Evangelho que nos precederam; é o que experimentam os cristãos que vivem a própria fé: quando ajudam os irmãos, principalmente os necessitados, aumenta a sua devoção, torna-se mais forte a união com Deus; eles percebem que existe um vínculo entre eles e o Senhor, e é isso que dá mais alegria às suas vidas. “... Eu quero misericórdia e não sacrifícios”.

Então, como você poderá viver esta

nova Palavra de Vida? Não faça discriminação entre as pessoas que têm contato com você, não marginalize ninguém, mas ofereça a todos tudo o que puder dar, imitando Deus Pai. Recomponha os pequenos ou grandes desentendimentos que desagradam ao céu e amarguram a sua vida. Não deixe que o sol se ponha – como diz a Escritura (cf. Ef 4,26) – sobre a sua ira, seja contra quem for. Se você agir desse modo, tudo o que fizer agradará a Deus e permanecerá para a eternidade. Não importa se você trabalha ou descansa; se brinca ou estuda; se faz companhia aos filhos ou passeia com a sua esposa ou o seu marido; se você reza, se está se sacrificando, ou se está cumprindo as práticas religiosas próprias de sua vocação cristã... Tudo, tudo, tudo será matéria-prima para o Reino dos Céus. O Paraíso é uma casa que se constrói aqui e se habita na outra vida. E se constrói com o amor. CHIARA LUBICH

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em junho de 1996. Publicada originalmente em março de 2003. Palavra de vida é um trecho do evangelho comentado por Chiara Lubich, fundadora do movimento dos Focolares. Ela é traduzida em 96 línguas e idiomas, e atinge milhões de pessoas no mundo inteiro.


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