Mono flavia marques(issuu)

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significação da cidade e se assumem protagonistas outros, é que o sentido de pensar a cidade parece se perder. Então, “como propor 23 projetos numa cidade que parece já ter perdido o sentido?”. Pode ser um desabafo de Ângelo Bucci e é desse mesmo arquiteto que pode ser extraída uma exemplificação. O material escolhido para ver a cidade de São Paulo, nessa ocasião, é uma imagem de satélite, que faz algo “impossível” ao congelar, ao mesmo tempo, centenas de milhares de fragmentos espaciais fotografados em um mesmo momento e os juntando, de tal modo, que parece que esse globo, espacialmente constituído por uma esfera, se torne um grande plano. O arquiteto toma essa imagem ainda como uma imagem noturna, onde quer explicar através dos pontos de iluminação a fragilidade do material. A imagem estática com todas essas luzes, na cidade de São Paulo, não faz perceber a movimentação das mesmas, em decorrência dos deslocamentos e, não faz enxergar ou ouvir conversas e passos que estão presentes na calçada. As luzes de maneira estática podem nortear a compreensão da totalidade de áreas mais ricas do planeta, que se utilizam em maior grau de uma técnica universal, podem enxergar núcleos urbanos e ocupações sem infra-estrutura. Entretanto, são as mesmas luzes que, vistas ao longe, fazem coibir ausência de luzes que estão sob esses pontos, coibindo as cotas baixas e os baixios dos viadutos. Essa conclusão da observação da totalidade, por exemplo, se não conferida e comparada a uma escala aproximada pode ocultar retratos de desigualdade urbana em áreas tão próximas. São desigualdades que podem estar sendo coibidas porque o material não evidencia o eixo vertical da cidade, que é constituinte vital da espacialidade paulista. A isso competem as áreas que estão sob as infra-estruturas urbanas dos planos horizontais mais altos da cidade, os espaços que ficam a deriva embaixo dos viadutos de ligações de cotas em níveis. Da interpretação pode ser retirada a noção de totalidade a fim da apreensão das espacialidades quantitativas e de conexões que bairros e infra-estruturas configuram, para com isso, seguir para um novo recorte. Esse novo processo pode ser constituído de novos papéis ou novas fotografias, conquanto que não mais sejam aéreas ou distantes. A importância de ser deixada de lado a possibilidade do olhar por cima do ambiente, como único processo, é vital para que o olhar nos dois eixos

23. BUCCI, Ângelo. São Paulo, razões da arquitetura. Da Dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes, p. 15. POSTURAS DOS PROCESSOS do fragmento à totalidade | do temporal ao espacial.

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