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PAPO CABEÇA

UM BRINDE À VIDA: DESVENDANDO AROMAS E SABORES

UMA OBRA DO ACASO OU UM PRESENTE DOS DEUSES ANTIGOS? A HISTÓRIA DO VINHO É REPLETA DE LENDAS E VERSÕES CURIOSAS. TUDO AO REDOR É TRANSMITIDO PARA A UVA, TRAZENDO COMPLEXIDADE A ESSA BEBIDA TÃO FASCINANTE. CONSIDERADO UM ALIMENTO VIVO, EM CONSTANTE EVOLUÇÃO, O VINHO DESPERTA PAIXÃO EM QUEM SE PROPÕE A DESVENDAR SEUS MISTÉRIOS. PARA APRENDER UM POUCO MAIS SOBRE ESTE MUNDO, A FV CONVERSOU COM A SOMMELIER MONIRA REGINATTO MANICA, FORMADA PELA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SOMMELIERS (ABS) DE BENTO GONÇALVES, NO RIO GRANDE DO SUL.

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Flash Vip: Vamos iniciar a conversa entendendo mais sobre a profissão de sommelier e o que ela faz.

Monira Reginatto Manica: Muitas pessoas me perguntam a diferença entre enólogo, sommelier e enófilo. O enólogo é formado em Enologia, é quem produz o vinho e lida com toda a parte química do processo. O sommelier é quem vai vender o vinho, quem aprende sobre os vinhos para repassar ao consumidor. Mas o sommelier não lida apenas com varejo, ele é responsável por elaborar a carta de vinhos de um restaurante, por exemplo, harmonizações em jantares, construção de adegas tanto para pessoa física quanto para supermercados e lojas especializadas também. E o enófilo é o entusiasta, quem gosta e aprecia o vinho.

Escutamos com frequência as pessoas se referirem a certas variedades de uvas quando estão escolhendo o vinho de determinados países. Existe mesmo isso, de ter uma uva predominante de cada região?

Isso se dá pelo terroir – que é a junção do clima, solo e fatores que vão influenciar em como a uva se adapta naquela região. Então, por exemplo, a uva Malbec se adapta bem ao solo da Argentina, por isso que naquela região associamos a essa variedade. A mesma coisa com o Tempranillo na Espanha ou o Carménère no Chile. É o tipo de uva que se adaptou melhor naquele clima e solo, mas isso não quer dizer que não há outros vinhos bons nesses países ou que essas uvas são exclusivas deles. No Brasil, por exemplo, temos um solo bem variado, então não temos uma uva específica que nos dê esse reconhecimento. As uvas se adaptam bem aqui, mas nos destacamos muito pelos espumantes, é a nossa referência, que já nos rendeu prêmios mundiais. E é muito bom ver o Brasil se destacando, por ser um país novo neste mundo. O mundo do vinho é algo que está sempre mudando, sempre se atualizando.

Uma estimativa da Ideal Consulting mostrou que o brasileiro consumiu, em média, 2,64 litros de vinho per capita em 2021, enquanto os argentinos chegaram a 30 litros e os portugueses a 69 litros cada. Então dá para dizer que o vinho ainda não é tão popular por aqui.

Um dos motivos de tomarmos menos vinho por aqui seria por causa do valor – que chega ao consumidor final

“Assim como os vinhos evoluem, o paladar também precisa evoluir para degustar certos rótulos. (...) Só provando que vai descobrir o que você gosta, não há certo ou errado”

com um preço muito elevado, tanto pela importação quanto pelas taxas e impostos – e também por não termos essa cultura tão forte de beber vinho. Faz pouco tempo que temos lojas especializadas, serviço de vinho nos estabelecimentos, restaurantes que vendem em taça, enquanto no chamado “velho mundo” se consome vinho desde sempre. Desde a época dos egípcios se produzia vinho. Então eles estão aprimorando as técnicas há milhares de anos, com uma produção mais complexa e intensa. Na Itália, por exemplo, o vinho não é classificado como uma bebida, mas sim um alimento, e é muito comum tomar uma taça de vinho para acompanhar a refeição, em qualquer horário.

Esse parece ser um mundo de muitas regras, desde a taça correta para cada tipo até como identificar aromas primários e secundários. Então como fazer para ser um bom apreciador de vinho?

Assim como os vinhos evoluem, o paladar também precisa evoluir para degustar certos rótulos, por isso existem os vinhos de entrada nas vinícolas, que são mais leves. Uma pessoa que não é tão acostumada a beber pode não gostar de um vinho mais complexo, vai achar muito forte e difícil de apreciar. E é degustando que se aprende. Só provando que vai descobrir o que você gosta, não há certo ou errado, é muito pessoal. O seu conhecimento gastronômico e a sua memória olfativa vão influenciar também na sua degustação. Você nunca vai identificar o aroma de lavanda em um vinho se você nunca sentiu o cheiro de lavanda, por exemplo. Só pela cor já é possível saber se o vinho é jovem, qual o teor alcoólico, se passou por madeira e mais uma série de fatores. A degustação não é apenas no paladar, mas no visual e nos aromas também. É muito estudo envolvido.

E quais seriam as dicas básicas para não errar na hora de escolher o vinho?

Se você for comprar em supermercados, opte por vinhos jovens – por questões de armazenamento. Porque os vinhos de safras mais antigas precisam de certos cuidados de armazenamento, como estar na horizontal – para que a rolha seja umedecida e evite a entrada de oxigênio, o que vai influenciar no vinho –, em local com pouca incidência de luz, que não tenha pessoas mexendo o tempo todo nele, protegido de outros aromas, para que ele não sofra com oxidação e outros problemas. Caso esteja começando, busque uvas mais leves, como Pinot Noir e Gamay para tintos, e Chardonnay e Sauvignon Blanc para brancos. E beba! Não fique guardando para depois.

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